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N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

AO MERITÍSSIMO JUIZ DO TRABALHO DA VARA DO TRABALHO DE PASSO


FUNDO – POSTO MARAU (RS)

PROCESSO : 0020119-88.2023.5.04.0664

REQUERIMENTOS PRELIMINARES

1. REQUERIMENTO EXPRESSO DE APRESENTAÇÃO DE DOCUMENTOS


PELO RECLAMANTE: Requer que seja notificado o Reclamante para que
venha juntar aos autos Cópia da última Declaração de Imposto de Renda, com
a finalidade de comprovar que os mesmos possuem bens e recursos
financeiros que lhe permitem pagar as despesas processuais e os honorários
advocatícios sem prejuízo do sustento de sua família.

BANCO DO BRASIL S/A, sociedade de economia mista sediada


em Brasília (DF) e com agência na cidade de Passo Fundo (RS), por seu advogados
signatários, instrumento de mandato e de subestabelecimento inclusos, com endereço
profissional na Rua Bento Gonçalves, n.º 516, 7º andar, Centro, Passo Fundo/RS, CEP
99010-010, local onde recebe notificações, comparece perante esse Meritíssimo Juízo
para oferecer CONTESTAÇÃO à Reclamatória Trabalhista que lhe move JOSÉ LUIZ
WEILER, mediante as razões que passa a expor.

DA REALIDADE FÁTICA E DO RESUMO DA DEMANDA

O Reclamante foi contratado pelo Banco do Brasil, tendo tomado


posse na empresa como escriturário (posto efetivo) em 14/12/1979 exercendo

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posteriormente suas atividades em diversas agências no decorrer do Contrato de


Trabalho. Quando da sua aposentadoria exercia a função de Gerente-Geral da Unidade

É incontroverso que o contrato de trabalho foi extinto na data de


08/08/2010, por iniciativa do autor face seu pedido de demissão com fins de
aposentadoria junto ao INSS e PREVI.

O processo a que autor refere como base desta atual demanda


de danos materiais, corresponde aos autos 0010135-09.2011.5.04.0662 a qual
reconheceu o direito ao recebimento de horas extras, (assim reconhecidas as
excedentes 6ª hora diária (em decorrência da desconfiguração da função de

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confiança do cargo exercido pelo reclamante), alteração na metodologia de cômputo


de anuênios, e incorporação de verba auxílio-alimentação.

Importante dizer que a demanda subjacente que o autor tenta


validar como “origem“ do direito aqui vindicado foi proposta em 2011, estando em
estágio avançado da liquidação de sentença, com cálculos apresentados pelo

Agora o reclamante propôs a presente ação alegando que há


danos materiais por suposto ato ilícito, a serem reparados pelo Reclamado em razão
do referido processo supracitado, argumentando que as verbas trabalhistas lá
reconhecidas refletiriam no cálculo de seu benefício junto à PREVI.

Para justificar o pedido de indenização, menciona tese fixada em


sede de recursos repetitivos no Superior Tribunal de Justiça (STJ), resp. 1.312.736/RS,
que estabeleceu a possibilidade de “eventuais prejuízos causados ao participante ou ao
assistido que não puderam contribuir ao fundo na época apropriada ante o ato ilícito do
empregador poderão ser reparados por meio de ação judicial a ser proposta contra a
empresa ex-empregadora na Justiça do Trabalho”.

Alega que os repasses do patrocinador deveriam ter ocorrido


voluntariamente na época em que as supostas horas extras foram prestadas, a fim de
compor corretamente a reserva previdenciária e assim majorar sua renda mensal de
aposentadoria.

Razão, contudo, não lhe assiste, conforme será demonstrado


abaixo.

1- PRELIMINARMENTE

1.1- INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA O PEDIDO DE


INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS

Esta Justiça Especializada não tem competência para conhecer


e julgar questões relativas ao complemento de aposentadoria que é a principal questão

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de fundo e, desse modo, não terá competência para analisar questão acessória
envolvendo a previdência, que são os danos materiais, por se tratar de relação
jurídica envolvendo o associado e a respectiva Entidade de Previdência Privada, não
guardando qualquer vínculo com a relação de trabalho dos substituídos. Ausente,
portanto, a “vis atrativa” da Justiça Obreira, prevista no art. 114, da Constituição Federal.

Em razão disso, deve o Juízo declarar-se incompetente para


conhecer do pedido de indenização por danos materiais envolvendo a contribuição à
PREVI, sob pena de intervenção em relação jurídica para a qual não detém
competência jurisdicional.

Ressalte-se, ainda, o julgamento do RE 586.453 (publicado no


DJe 06.jun.2013), com repercussão geral, no qual o Supremo Tribunal Federal
reconheceu a competência da Justiça Comum para apreciar as controvérsias
oriundas de contratos de previdência complementar privada.

Além disso, no RE 1.158.573 cuja decisão foi publicada em


07/11/2018, foi ratificada a incompetência desta especializada para tratar de
contribuições a Entidade Fechada de Previdência, in verbis:

EMBARGOS EM EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM


RECURSO DE REVISTA – REGÊNCIA PELA LEI Nº
13.015/2014 – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO.
CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS A ENTIDADE FECHADA DE
PREVIDÊNCIA PRIVADA. INCIDÊNCIA SOBRE PARCELAS
PLEITEADAS NA EXORDIAL. Hipótese em que se postula o
recolhimento das contribuições devidas a entidade fechada de
previdência privada (PREVI), incidentes sobre os créditos
trabalhistas pleiteados na exordial. Ação ajuizada exclusivamente
em face do empregador, sem que conste da petição inicial

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qualquer pedido atinente à percepção de diferenças de


complementação de aposentadoria.

Inaplicabilidade da diretriz fixada pelo Supremo Tribunal Federal


quando do julgamento do RE-586.453/SE, cuja incidência
restringe-se às “(...) demandas ajuizadas contra entidades
privadas de previdência com o propósito de obter
complementação de aposentadoria (...)” (Tema de Repercussão
Geral nº 190). Aplicação analógica da orientação cristalizada na
Súmula Vinculante 53, segundo a qual ‘A competência da Justiça
do Trabalho prevista no art. 114, VIII, da Constituição Federal
alcança a execução de ofício das contribuições previdenciárias
relativas ao objeto da condenação constante das sentenças que
proferir e acordos por ela homologados’. Precedentes desta
Subseção. Recurso de embargos conhecido e provido (pág. 1 do
documento eletrônico 69)

Veja-se que a decisão proferida pelo STJ e na qual é amparado


o pedido, não se sobrepõe (e nem poderia) à decisão do STF no que tange à
incompetência da Justiça do Trabalho para debater essa matéria.

É o que se depreende do artigo 202, § 2º da Constituição Federal:

Art. 202. (...)

§ 2º AS CONTRIBUIÇÕES do empregador, os BENEFÍCIOS e


as condições contratuais previstas nos estatutos, regulamentos e
planos de benefícios das entidades de previdência privada NÃO
INTEGRAM O CONTRATO DE TRABALHO dos participantes,
assim como, à exceção dos benefícios concedidos, não integram
a remuneração dos participantes, nos termos da lei. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) (grifamos).

Como é fácil perceber, qualquer pedido relacionado a planos de


previdência privada, inclusive contribuições e outras matérias afins que se relacionam

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com os estatutos/regulamentos da PREVI, deve ser debatido e decidido na Justiça


Comum, tendo em vista que essa matéria não integra o contrato de trabalho.

Na inicial, o reclamante alega em síntese, que o pagamento


intempestivo gerou prejuízos ao Autor, que teve seu complemento de aposentadoria
calculado a menor, já que as horas extras não ingressaram, mês a mês, no salário de
participação obreiro no período dos últimos 3 anos da contratualidade.

O plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do


Recurso Extraordinário n.º 586453, decidiu, por maioria dos votos, que compete à
Justiça Comum julgar demandas decorrentes de contrato de previdência complementar
privada.

Nesse julgado, os efeitos da decisão foram modulados, restando


fixado que os processos com sentença de mérito proferida até o dia do julgamento
(20/02/2013) permaneceriam na Justiça do Trabalho.

No julgamento do Recurso Extraordinário 586.453, o STF


proferiu entendimento:

"a complementação de aposentadoria tem como origem um


contrato de trabalho já extinto, e embora a instituição ex-
empregadora seja garantidora da entidade fechada de
previdência, o beneficiário não mais mantém, seja com aquela ou
mesmo com o fundo de previdência, relação deemprego.
Salientou que a relação entre o associado e a entidade de
previdência privada não é trabalhista, por estar disciplinada no
regulamento das instituições (art. 202, § 2º, CF, regulamentado
pelo art. 68 da Lei Complementar 109/2001), sendo inapropriada
a definição da competência em decorrência do contrato de
trabalho já extinto, cabendo à Justiça Comum o julgamento da
causa, ante a inexistência de relação trabalhista entre o
beneficiário e a entidade fechada de previdência complementar.

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É da competência material desta Justiça do Trabalho os reflexos


de horas extras deferidos na reclamatória nas contribuições à
PREVI, sem dúvida.

Cumpre registrar que na ação anterior, citada pelo autor, já foram


deferidos reflexos de horas extras nas contribuições à PREVI, e,
segundo o Banco, tais contribuições foram recolhidas
regularmente na execução da referida ação trabalhista. A
indenização ora pleiteada não tem mais relação com o contrato
de trabalho, mas sim diz respeito ao recálculo de aposentadoria.
Ademais, afirmou o autor que corre ação no STJ de
complementação de sua aposentadoria, cuja "questão pende de
julgamento perante o egrégio Superior Tribunal de Justiça,
perante o julgamento do tema repetitivo 955".

O presente caso enquadra-se na regra geral, competindo seu


exame à Justiça Comum. Nesse sentido o seguinte entendimento do TST:

RECURSO DE EMBARGOS. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA


DO TRABALHO - DIFERENÇAS DE COMPLEMENTAÇÃO DE
APOSENTADORIA - HIPÓTESE EM QUE NÃO FOI
PROLATADA DECISÃO DE MÉRITO ANTES DA DECISÃO DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO Nº 586.453. A controvérsia sobre a
competência desta Justiça do Trabalho para analisar e decidir
demandas cujo objeto esteja relacionado às diferenças de
complementação de aposentadoria foi recentemente dirimida
pelo Supremo Tribunal Federal, que, no julgamento do Recurso
Extraordinário 586.453, proferiu entendimento de que a
complementação de aposentadoria tem como origem um
contrato de trabalho já extinto, e embora a instituição ex-
empregadora seja garantidora da entidade fechada de
previdência, o beneficiário não mais mantém, seja com aquela ou

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mesmo com o fundo de previdência, relação de emprego.


Salientou que a relação entre o associado e a entidade de
previdência privada não é trabalhista, por estar disciplinada no
regulamento das instituições (art. 202, § 2º, CF, regulamentado
pelo art. 68 da Lei Complementar 109/2001), sendo inapropriada
a definição da competência em decorrência do contrato de
trabalho já extinto, cabendo à Justiça Comum o julgamento da
causa, ante a inexistência de relação trabalhista entre o
beneficiário e a entidade fechada de previdência complementar.
Considerando o fato de que referida matéria jamais foi tratada de
forma uniforme naquela Corte, havendo inclusive diversos
processos desta natureza já julgados no âmbito da Justiça do
Trabalho, e para evitar demasiados prejuízos às partes, já que
referidas demandas teriam que retornar à Justiça Comum para
que nova sentença fosse proferida, o Colendo Supremo Tribunal
Federal, em observância aos princípios da celeridade processual
e eficiência (CF, art. 5º, LXXVIII, art. 37, caput), determinou que
os efeitos daquele decisum, com repercussão geral, fossem
modulados a fim de se manter a competência da Justiça do
Trabalho nas situações em que já houvesse sido proferida
decisão de mérito até a data daquele julgamento (20/02/2013).
Recurso de embargos conhecido e provido. (E-ED-ED-ED-RR-
1011-92.2011.5.03.0059, SBDI-1, Relator Ministro Renato de
Lacerda Paiva, DEJT 11/4/2014)

Por essas razões, mantenho a r. sentença no particular.

(TRT10 – RO- PROC. 0001013-86.2017.5.10.0017, Relator:


Elaine Machado Vasconcelos, Data de Julgamento: 04/04/2019,
1ª Turma, Data de Publicação: DEJT 05/04/2019) (grifo nosso)

Da mesma forma entendeu o ilustre magistrado DR. GUSTAVO


CARVALHO CHEHAB no processo n. 0001268-95.2018.5.10.0021:

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(...) No caso dos autos, os pleitos i.a, salvo o i.a.3, i.b, ii e iii
decorrem de pretensão relacionada a reserva matemática,
cálculo autuarial da complementação de proventos e de
diferenças entre o benefício previdenciário pago e o que o
reclamante entende devido, sendo portanto, alcançados pela
decisão do STF.

ACOLHO a preliminar de incompetência da Justiça do Trabalho e


JULGO EXTINTO, sem resolução de mérito, os pleitos i.a (salvo
o i.a.3), i.b, ii e iii.” (g.n.)

Isso posto, considerando que o reclamante pretende é receber


o assessório do principal, cuja incompetência já foi reconhecida pelo STF, pede-
se que Vossa Excelência declare a incompetência absoluta dessa Justiça
Especializada para a apreciação do pleito em questão.

Assim não entendendo, requer desde já, expressa manifestação


sobre a negativa de vigência do art. 68 da Lei Complementar 109 de 2001, bem como
do art. 202, §§2º e 3º da Constituição Federal.

1.2- DO INDEFERIMENTO DA INICIAL POR AUSÊNCIA DE INTERESSE


PROCESSUAL

O interesse processual ou interesse de agir refere-se sempre à


utilidade que o provimento jurisdicional pode trazer ao demandante. Para a
comprovação do interesse processual, primeiramente, é preciso a demonstração
de que sem o exercício da jurisdição, por meio do processo, a pretensão não
pode ser satisfeita. Daí surge a necessidade concreta da tutela jurisdicional e o
interesse em obtê-la (interesse-necessidade).

A necessidade surge da resistência do obrigado no cumprimento


espontâneo do que foi pactuado ou determinado por lei ou ainda em decorrência da
indispensabilidade do exercício da jurisdição para a obtenção de determinado resultado.

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Ou seja: O interesse processual decorre da necessidade


e utilidade do provimento jurisdicional. A necessidade surge na medida em que o
titular do direito lesado ou na iminência de lesão encontra dificuldade para exercê-lo e a
utilidade configura-se na correta aplicação, pelo Magistrado, da norma jurídica
conforme o seu convencimento, bem como no resultado útil do provimento que se
busca.

Tanto é assim que em outras localidades onde a matéria foi


inicialmente debatida, o resultado é o seguinte:

INTERESSE PROCESSUAL. ARTIGO 485/CPC.


Conforme dito pela autora, na exordial, as horas extras e reflexos
"serão obtidas" na referida ação trabalhista que tramita junto a
16ª VTB, resultando daí a pretendida indenização
correspondente ao pagamento das diferenças de aposentadoria
decorrentes da eventual integração de horas extras e reflexos.
Contudo, verifico que o pedido da autora se fundamenta em
evento futuro e incerto.
Nesse sentido, o dispositivo em epígrafe determina que:
Art. 485.O juiz não resolverá o mérito quando:
(....)
VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual;
Com efeito, as horas extras e reflexos que, em tese, poderiam vir
a compor o salário de contribuição está vinculada a evento futuro
e incerto, eis que a matéria ainda se encontra pendente de
definição judicial, via recurso ordinário, cuja lesão se
caracterizaria com o comprovado prejuízo financeiro à parte
demandante, hipótese não evidenciada nos autos.
Além do mais, vislumbra-se ausência de competência desta
Especializada, posto que a autora pretende, na verdade,
revisão de aposentadoria, cambiando o bem da vida
pretendido de indenização ao invés de revisão de

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aposentadoria, em face de entidade complementar de


aposentadoria própria.
Logo, não vislumbro a presença do interesse de agir da
requerente, porquanto não emerge da peça vestibular qualquer
utilidade, do ponto de vista prático, que a tutela jurisdicional
pleiteada possa trazer-lhes.
Por todo o exposto, entendo que inexiste interesse de agir da
parte autora e decido EXTINGUIR O PROCESSO, SEM
RESOLUÇÃO DE MÉRITO, nos termos do artigo 485, VI, do
Código de Processo Civil." (grifamos).
(TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 10ª REGIÃO - 4ª
Vara do Trabalho de Brasília – DF RTOrd 0001100-
47.2018.5.10.0004 - RECLAMANTE: PRISCILA SOUZA DE
OLIVEIRA SAID - RECLAMADO: BANCO DO BRASIL S/A).

O próprio autor apresenta nos autos o Estatuto da PREVI vigente


na época de sua aposentadoria. Neste Estatuto há expressa previsão de contribuição
dos associados sobre a remuneração que será considerada para efeitos de cálculo de
sua complementação de aposentadoria, podendo o contribuinte fazê-lo sem
interferência do empregador, quando achar necessário tal complemento. Todavia, não
o fez o autor.

Nesse caso, faz-se necessária a extinção do processo sem


resolução de mérito, nos moldes do art. 485, VI, do CPC/15 ou ainda inferida a inicial
forte no art. 330, inciso III, do CPC/15.

Ainda, note excelência que o próprio autor sequer demonstrou a


tentativa de buscar seu direito junto a justiça competente, a justiça comum, obviamente
porque o direito não lhe assegura suas pretensões afinal prescritas por completo.

O reclamante foi inerte e deixou de ajuizar ação na Justiça


Comum em prazo hábil a fim de obter eventual posicionamento jurisdicional para
recálculo previdenciário.

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O STJ modulou os efeitos para admitir a inclusão dos reflexos de


horas extras reconhecidas pela Justiça do Trabalho para aqueles que ajuizaram as
demandas até a data de julgamento do Resp. 1.312.736/RS nos seguintes termos:

c) Modulação dos efeitos da decisão (art.927,


§3º, do CPC/2005): nas demandas ajuizadas na Justiça comum
até a data do presente julgamento–se ainda for útil ao participante
ou assistido, conforme as peculiaridades da causa–, admite-se a
inclusão dos reflexos de verbas remuneratórias (horas extras),
reconhecidas pela Justiça do Trabalho, nos cálculos da renda
mensal inicial dos benefícios de complementação de
aposentadoria, condicionada à previsão regulamentar (expressa
ou implícita) e à recomposição prévia e integral das reservas
matemáticas com o aporte de valor a ser apurado por estudo
técnico atuarial em cada caso.

Em verdade, perdida a chance de o reclamante poder ajuizar ação


na Justiça Comum, busca-se indevidamente reparação na Justiça do Trabalho.

Outrossim, há que ressaltar que não há condenação sequer


ao recolhimento de cota de custeio a contribuição privada ou tampouco pedido
referente a complementação de aposentadoria no processo coletivo do qual o
autor invoca direitos decorrentes.

Assim, esvaziada a pretensão autoral.

1.3- ILEGITIMIDADE DO BANCO RECLAMADO – INEXISTÊNCIA DE


RESPONSABILIDADE – OFENSA DIRETA AOS ARTIGOS 5º, INCISOS II E XXXVI, E

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202, PARÁGRAFO 2º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E ART. 265 DO CÓDIGO


CIVIL

A relação jurídica entre a parte autora e a entidade de


previdência complementar, denominada Caixa de Previdência dos Funcionários do
Banco do Brasil (PREVI), decorre de contrato civil, cuja adesão é facultativa. É por meio
desse contrato que a PREVI, com fulcro na Lei 6.435/77, regulamentada pelo Decreto
81.240/78, cujo Estatuto fora aprovado pelo M.P.A.S. por meio da Portaria nº
2.033/04.03.1980, assume o ônus de complementação das aposentadorias dos
funcionários do Banco do Brasil. Em que pese com nova “roupagem”, o que pede a
parte autora, em verdade, é a responsabilização passiva do Banco reclamado, no
tocante ao pleito de complementação de aposentadoria.

A empresa empregadora é responsável tão-somente pelas


obrigações referentes ao contrato de trabalho, bem ainda, pelas contribuições que
incidem sobre o salário para fins de manutenção do status de associado perante a
PREVI. Por outro lado, como já falado, à PREVI, conforme previsão em seu estatuto,
aprovado por seus associados (dentre eles a própria parte reclamante), incumbe o
complemento previdenciário.

Nesse mesmo norte, o complemento de aposentadoria (ou a


cognominada indenização compensatória) não pode ser imposto ao Banco reclamado,
tampouco as parcelas vencidas a este título, sendo o ex-empregador, portanto, parte
ilegítima para responder tais pretensões.

Ressalte-se que a emenda constitucional nº 20/98 pôs fim a


qualquer discussão sobre a matéria, em vista da alteração do artigo 202, parágrafo 2º,
preceituando que, in verbis:

As contribuições do empregador, os benefícios e as condições


contratuais previstas nos estatutos, regulamentos e planos de
benefícios das entidades de previdência privada não integram o
contrato de trabalho dos participantes, assim como, à exceção
dos benefícios concedidos, não integram a remuneração dos
participantes, nos termos da lei.

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Nesse sentido, requer seja declarada a ilegitimidade do Banco


reclamado para arcar com eventual condenação ao pagamento de complemento da
aposentadoria da parte autora, sob pena de ofensa direta aos artigos 5º, incisos II e
XXXVI, 202, parágrafo 2º, ambos da Constituição Federal, e 265 do Código Civil, se
fazendo necessária a extinção do processo sem resolução de mérito, nos moldes do art.
485, VI, do CPC/15, o que fica também requerido.

1.4- INEXISTÊNCIA DE PEDIDO CERTO E DETERMINADO E NÃO INDICAÇÃO DO


VALOR CORRETO – Da Extinção Sem Resolução do Mérito – art. 840, §§ 1º e 2º da
CLT

O reclamante não cumpriu os requisitos legais estabelecidos no


artigo 8401, § 1º, da CLT considerando que não há indicação dos valores pretendidos a
título reparatório pelo alegado dano.

Considerando-se que se trata de indenização, o pedido (e o valor)


deve ser certo e determinado e a quantia atribuída pelo Reclamante (R$ 60.000,00)
não encontra suporte fático ou jurídico porque é um valor aleatório qualquer,
desamparado de qualquer comprovação ou cálculo.

Ora, se nem ao menos o reclamante sabe quanto deve ser


indenizado, tanto que atribui um valor qualquer ao pedido, então temos que o pedido
não é certo, nem ao menos determinado, de modo que não cumpre os requisitos legais.

Destaca-se que a IN 41 do C. TST que dispõe sobre normas da


CLT com as alterações da Lei n° 13.467/2017 e sua aplicação, estabelece no artigo 12
como plenamente aplicável o artigo 840, § 1º, da CLT, devendo ser devidamente
estimado o valor da causa.

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Art. 840 - A reclamação poderá ser escrita ou verbal.
§ 1º - Sendo escrita, a reclamação deverá conter a designação do Presidente da Junta, ou do juiz de
direito a quem for dirigida, a qualificação do reclamante e do reclamado, uma breve exposição dos fatos
de que resulte o dissídio, o pedido, a data e a assinatura do reclamante ou de seu representante.
§ 1o Sendo escrita, a reclamação deverá conter a designação do juízo, a qualificação das partes, a
breve exposição dos fatos de que resulte o dissídio, o pedido, que deverá ser certo, determinado e com
indicação de seu valor, a data e a assinatura do reclamante ou de seu representante.

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Ademais, o processo que é a base do pedido de dano


material do autor, possui toda a documentação necessária para elaboração de
eventuais cálculos, ou seja, a execução da ação subjacente em fase adiantada de
cálculos dá ao autor tem todos as condições de delimitar o valor, mas não faz
porque quer se aproveitar de futura benesse em caso de indeferimento do pleito, ou
majorando valor em caso de deferimento.

Seja qual for a motivação, não lhe cabe arguir sobre a


impossibilidade de se apontar o correto valor a ser indenizado no presente momento
processual. Ademais, o autor refere que o cálculo é complexo para aferir o prejuízo,
contudo invoca o estatuto como origem do direito pugnado, assim o autor tem todos
elementos para cálculo dos valores pretendidos, sendo confesso no que deveria fazer
para apresentação dos cálculos fundamentais para validade da inicial, mas não o fez.

Ora, o autor sabe que deve fazer o cálculo, revela a fórmula, mas
não o apresenta?

Assim, impossível acolher a tese autoral, pois incongruente.

De qualquer forma, para a improvável hipótese de procedência


da demanda, desde já requer seja delimitado o valor de R$ 60.000,00 como o máximo a
ser deferido pelo Juízo, considerando-se que é a quantia delimitada na própria petição
inicial.

Esse é o entendimento do E. TRT10, refletido em Enunciado


sobre a Nova Legislação Trabalhista, in verbis:

Enunciado n.º 11 – PETIÇÃO INICIAL. VALOR DO PEDIDO.


LIMITAÇÃO DA LIQUIDAÇÃO.

A indicação do valor de cada pedido limitará a liquidação em


eventual condenação, nos termos do art. 492 do CPC.

E de acordo com os artigos 322 e 324, combinados com o artigo


492, § único, todos do CPC, o pedido deve ser certo e determinado, assim como a
decisão a ser proferida pelo Juízo, situação que não ocorreu no caso deste processo.

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1.5- DA IMPUGNAÇÃO DO VALOR DA CAUSA – ARTS. 335, III E 351, DO CPC

Conforme já mencionado, foi indicado o valor de R$ 60.000,00.


Este valor não corresponde ao benefício pretendido pelo reclamante, considerando que
este pretende receber reflexos de horas extras conforme pedido principal do processo
referência.

Desse modo, caso não acolhidas as preliminares acima arguidas,


impugna-se desde já o valor da causa, considerando que o valor da ação não
corresponde ao valor do benefício requerido, pelo que se requer que o autor seja
notificado para proceder a correção do valor da causa, nos termos do art. 351 do CPC,
sob pena de extinção do feito sem julgamento do mérito.

1.6 AUSÊNCIA DE VINCULAÇÃO AO PRECEDENTE STJ RESP 1.312.768- RS


Da Inexistência de Identidade Fática – racio decidendi- distinguishing
Artigos 927, §1º e 489, §1º do CPC

Sustenta a parte Reclamante que a possibilidade de pleitear


eventuais créditos referentes à Previ na Justiça do Trabalho está amparada pela
decisão consignada nos autos de Recurso Especial 1.312.736/ RS, a qual entendeu
pelo não cabimento de ação cível contra fundos de pensão para fazer integrar verbas
remuneratórias recebidas em ação trabalhista, cabendo ao empregado demandar na
Justiça do Trabalho eventual reparação.

Contudo, a situação fática da ação trabalhista objeto Recurso


Especial 1.312.736/ RS é totalmente diversa da presente ação. O título executivo
judicial2 ensejador do pleito referente aos reflexos das horas extraordinárias no plano de
previdência privada na Justiça Comum, consignou a ausência de fidedignidade nas
anotações do cartão ponto da trabalhadora, reconhecendo que a mesma laborava
em jornada extraordinária sem a regular anotação.
2
Acórdão referente aos autos de Recurso Ordinário 00585-2008-801-04-00-3, anexo à defesa. Disponível em:
https://www.trt4.jus.br/portais/trt4/sistema/consulta-processual/pagina-processo?numeroProcesso= 00585-2008-801-
04-00-3

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Ou seja, havia ausência dos registros corretos da jornada da


obreira e, por consequência, o inadimplemento das horas extras trabalhadas.

A pretensão autoral objeto das reclamatórias coletivas por seu


turno, buscou a descaracterização da função de confiança na qual a parte
Reclamante foi enquadrada pelo Reclamado, o que a depender do deslinde da lide
poderia ensejar o pagamento de horas trabalhadas como extras, e também a
incorporação de parcelas indenizatórias ao salário, a equiparação com
funcionários do banco central.
Desse modo, não se trata do inadimplemento das horas extras
laboradas pela parte Reclamante, mas de uma suposta alteração contratual lesiva ao
salário obreiro.
Veja, Excelência, a causa de pedir remota utilizada como
fundamento da atual postulação autoral, NÃO versa sobre o inadimplemento horas
extraordinárias pela impossibilidade da correta anotação, ou seja, se difere
integralmente da conjuntura delineada nos autos 00585-2008-801-04-00-3,
tornando-se posterior objeto de apreciação pela Justiça Comum em sede Recurso
Especial 1.312.736/ RS.

Não há como imputar ao reclamado uma conduta ilícita sob um


fato que depende de reconhecimento judicial para ser caracterizado, pois permeado de
controvérsias.
Na lição do professor Luiz Guilherme MARINONI, “o significado de
um precedente deve ser buscado nas razões pelas quais se decidiu de certa maneira
ou nas razões que levaram à fixação do dispositivo” e complementa: “o significado de
um precedente está essencialmente na sua fundamentação”3
Em outras palavras, antes de aplicar determinado precedente a
outro caso concreto, há de se verificar se as situações fáticas apresentam similitudes

3
Marinoni, Luiz Guilherme. Precedentes Obrigatórios/ Luiz Guilherme Marinoni – 4ª Edição ver., atual e ampl. –
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016. Pág.161.

1
N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

capazes de atrair o efeito vinculante do precedente, ocasião em que se vale,


basicamente, da técnica do distinguishing (distinção de precedente), analisando a
“ratiodecidendi” do precedente (precedent case).

No caso dos autos 00585-2008-801-04-00, objeto do Recurso


Especial 1.312.736/ RS citado como precedente, os fatos narrados e a razão de
decidir são diferentes. Demonstra-se:

(...)
A prova dos autos é clara no sentido de que os registros de jornada (fls.
74-146), durante todo o período imprescrito, não retratam o labor
efetivamente cumprido pela reclamante.
As anotações realizadas manualmente (janeiro a novembro de 2003- Fls.
74/84), possuem, em sua imensa maioria, registros invariáveis de horário.
Quanto aos registros eletrônicos, estes contêm rasuras (exemplo das fls.
93, 105, 112,145) e anotações manuais, restando imperiosa a
imprestabilidade dos registros de ponto. Ambas as constatações geram
presunção relativa de veracidade da jornada de trabalho alegada pela autora,
conforme Súmula 338 do TST.

(...)
Assim, ficou demonstrado que os controles de horário não registram
toda a jornada laborada, devendo os mesmos serem considerados
inválidos pela ausência de fidedignidade.

Todavia, da narrativa constante na peça vestibular do presente


caso (instant case), observa-se também que a parte autora indica como ato ilícito
do Reclamado a supressão das horas extras em decorrência da desconfiguração
da função de confiança, do cálculo da complementação de aposentadoria da Previ.
Portanto, a situação fática analisada nos autos das ações
coletivas é evidentemente DISTINTA daquela utilizada como fundamento no RESP
1.312.736/RS. Destarte, não há que falar na aplicação in casu da tese fixada naqueles
autos, tendo em vista que as situações tratadas não comportam nenhum grau de
similitude.

A aplicação de tal precedente, nos moldes autorais, implica na

1
N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

violação direta ao princípio da isonomia, insculpido no art. 5º, da CF, tendo em vista que
se submeteria ao mesmo entendimento casos com contextos fáticos integralmente
distintos.

As razões utilizadas para o encontro da solução são


imprescindíveis para a compreensão racional do precedente e para a sua aplicação (ou
não) ao caso sob julgamento. In casu, o que se verifica é que a razão de decidir do
precedent case e do instant case é, assim como os fatos, diversa.

MARINONI ressalta que no julgamento de recurso especial só há


ratio decidendi quando a maioria do colegiado sustenta um mesmo fundamento ou
uma mesma solução para a questão de direito, de modo que a ratio não se relaciona
com o resultado do recurso, mas com o fundamento que foi resolvido para se
chegar à solução do recurso 4, o que está intimamente ligado à causa de pedir que,
inegavelmente, também é diferente nas situações cotejadas.

Em outras palavras, a parte Reclamante embasa-se no julgamento


do RESP 1.312.736-RS. Contudo, como acima demonstrado, referido julgamento
refere-se aos casos envolvendo sonegação horas extras mediante fraude em ponto
eletrônico.

Sendo assim, a parte autora deveria levar pedidos de eventuais


diferenças de complemento de aposentadoria à Justiça Comum!
Nesse contexto, pede-se vênia para reproduzir recente decisão
proferida pelo Dr. Eduardo Milleo Baracat, Juiz Titular da 9º Vara do Trabalho de
Curitiba nos autos 0000954-81.2019.5.09.00095 em caso análogo ao dos autos :
(...)
Nos termos do art. 926, §2, do CPC, de aplicação subsidiária, o juiz deve
"ater-se às circunstâncias fáticas dos precedentes que motivaram sua
criação".

Em outras palavras, a ratio decidendique é o mesmo fundamento

4
Ibid. pág. 189.
5
Disponível em: https://pje.trt9.jus.br/consultaprocessual/detalhe-processo/00009548120195090009

1
N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

determinante do precedente, deve ser investigada no acórdão que julgou a


RESP 13122736, e não na ementa ou na tese do Tema 955 que, a bem da
verdade, representam apenas uma síntese, ou um resumo, mas não o
precedente propriamente dito.

É importante pontuar que o RESP 1312736/RS foi interposto pela Fundação


Banrisul de Seguridade Social, contra acórdão do TJ-RS que havia dado
provimento à apelação interposta pela outra parte, Francisca EmiliaB ertei
Panziera.

A leitura do voto do E. Relator do RESP 13122736, Ministro Antonio Carlos


Ferreira, demonstra os seguintes contornos do fundamento determinante
daquela decisão (www.stj.jus.br):

(...)

Observa-se em diversas passagens dos votos prevalentes, tanto do Ministro


Antonio Carlos Ferreira, quanto do Ministro Villas-BôasCuevas que a
discussão que envolveu diversos processos, em que eram interessadas várias
entidades de previdência privada, era a inclusão dos reflexos das horas
extras reconhecidas em processos trabalhistas nos cálculos da renda
mensal inicial dos benefícios de complementação de aposentadoria.

Nota-se, conforme frisado no voto do E. Min. Relator, a "tese a ser firmada no


presente julgamento diz respeito às hipóteses em que a verba em questão
(horas extras) não foi paga enquanto vigente o contrato de trabalho, tendo
sido reconhecida a existência de jornada extraordinária em ação autônoma,
da qual a entidade de previdência privada não participou, quando o
participante já se encontrava em fruição do benefício suplementar".

No voto-vista, o E. Min. Villas-BôasCuevaenfatiza o contorno da tese


exclusivamente em relação às horas extras, ao aduzir que, em geral, "os
regulamentos dos planos de previdência complementar podem ser divididos
em três grupos quanto à inclusão das horas extras no salário
contribuição: (i) aqueles que preveem expressamente as horas extras como
objeto do salário de contribuição, (ii) aqueles que são omissos quanto às
horas extras, mas admitem, em geral, verbas de natureza salarial ou
remuneratória (previsão implícita das horas extraordinárias) e (iii) aqueles que
excluem, de forma expressa, as parcelas alusivas às horas extras".

Percebe-se, com clareza, ao longo dos dois votos, o exclusivo escopo de


tratar a integração, apenas, de horas extras nos cálculos da renda mensal
inicial dos benefícios de complementação de aposentadoria de participantes
de diversas entidades de previdência privada, ante as divergências do teor
dos regulamentos das entidades de previdência privada.

Observa-se, ainda, dos dois votos, o cuidado de preservar o teor dos


regulamentos, no sentido de permitir o reconhecimento do direito à reparação
do prejuízo material, desde que haja previsão regulamentar expressa ou
implícita.

2
N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

Ora, o precedente do STJ reconhece que apenas as horas extras -


reconhecidas em processo trabalhista -, quando previstas expressamente ou,
apenas, não referidas no regulamento da entidade de previdência privada,
devem ser inseridas na base de cálculo das contribuições a serem recolhidas.
Oportuna a transcrição no particular do voto do relator, Min. Antonio Carlos
Ferreira:

Em tais circunstâncias, havendo previsão, no regulamento do plano de


previdência privada, de que as parcelas de natureza remuneratória devem ser
inseridas na base de cálculo das contribuições a serem recolhidas (pelo
patrocinador e pelo participante) e ainda servir de parâmetro para o cálculo da
renda mensal inicial do benefício de suplementação de aposentadoria, essas
parcelas (horas extras), uma vez realizado o aporte correspondente, em
regra deverão compor o cálculo do benefício a ser concedido.

Nesse contexto, não resta dúvida de que, no presente caso concreto (no qual
ficou estabelecido pelas instâncias ordinárias haver previsão, no regulamento
do plano, de que as parcelas de natureza remuneratória componham a base
de cálculo das contribuições), em princípio, os valores correspondentes à
remuneração do trabalho extraordinário habitual, no período de apuração
da renda mensal inicial, deveriam ter refletido nas contribuições do
participante e do patrocinador e, de igual modo, ter sido considerados
para a fixação do valor do benefício.

Constata-se, de forma inequívoca, que a ratio decidendi do precedente em


questão é exclusivamente reparação de prejuízo material causado ao
participante pelo seu ex-empregador, por haver sonegado do salário-de-
participação de previdência complementar privada, o valor das horas
extras e reflexos, reconhecido em processo trabalhista, desde que haja
previsão regulamentar expressa ou implícita.

Ora, no caso, o reclamante pretende que o réu seja condenado a indenizá-lo,


como base na referida tese repetitiva, com base em decisão trabalhista,
transitada em julgado, proferida na 0000429-23.2015.5.09.0015, que
reconheceu a natureza salarial do auxílio-alimentação/auxílio refeição.

Inaplicável o precedente nessa hipótese que se limita, repita-se, às horas


extras - reconhecidas em processo trabalhista -, e a nenhuma outra
parcela, mesmo de natureza remuneratória.

Nota-se que, embora tenha havido ato ilícito do reclamado ao não integrar o
auxílio-alimentação/auxílio refeição no salário do autor - conforme reconhecido
na 0000429-23.2015.5.09.0015 -, não se verifica o nexo causal, tampouco o
dano patrimonial, visto que, por força do precedente STJ RESP 13122736,
somente integrariam o salário-de-participação, horas extras reconhecidas em
processo trabalhista.

O precedente do STJ não reconhece que o auxílio-alimentação/auxílio-


refeição integram, mesmo implicitamente, o salário-de-participação do autor.

Saliente-se, conforme assinalado na preliminar de competência material da

2
N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

Justiça do Trabalho, que é incompetente o Juiz do Trabalho para interpretar o


regulamento do reclamado, pois essa interpretação violaria a decisão de
repercussão geral do STF.

A Justiça do Trabalho, para declarar que o auxílio-alimentação/auxílio refeição


integram o salário-de-participação do reclamante deveria necessariamente
interpretar o regulamento da PREVI, para o que, no entanto, é incompetente,
conforme RE nº 586.453/SE, Rel. para acórdão Ministro Dias Toffoli, DJe
5/6/2013.

Assim, em vista do exposto, rejeito o pedido formulado pelo reclamante em


face do reclamado.

(destaques nossos)

Para que não se diga que tal entendimento não é adotado quanto à matérias
objeto dos autos 0020416-05.2017.5.04.0471, observe-se a decisão proferida pela
Juíza do Trabalho Substituta da 14ª Vara do Trabalho de Curitiba, Dra. Patrícia Tostes
Poli, nos autos 0001323-60.2019.5.09.0014, em 11/02/2020, envolvendo diferenças de
anuênios:
(...)
Observa-se em diversas passagens dos votos prevalentes, tanto do Ministro
Antonio Carlos Ferreira, quanto do Ministro Villas-Bôas Cuevas, que a
discussão que envolveu os diversos processos, em que eram interessadas
várias entidades de previdência privada, era a inclusão dos reflexos das
horas extras reconhecidas em processos trabalhistas nos cálculos da
renda mensal inicial dos benefícios de complementação de aposentadoria.
Nota-se, conforme frisado no voto do E. Min. Relator, a "tese a ser
firmada no presente julgamento diz respeito às hipóteses em que a verba
em questão (horas extras) não foi paga enquanto vigente o contrato de
trabalho, tendo sido reconhecida a existência de jornada extraordinária em
ação autônoma, da qual a entidade de previdência privada não participou,
quando o participante já se encontrava em fruição do benefício suplementar".
No voto-vista, o E. Min. Villas-Bôas Cueva enfatiza o contorno da tese
exclusivamente em relação às horas extras, ao aduzir que, em geral, "os
regulamentos dos planos de previdência complementar podem ser divididos
em três grupos quanto à inclusão das horas extras no salário
contribuição: (i) aqueles que preveem expressamente as horas extras como
objeto do salário de contribuição, (ii) aqueles que são omissos quanto às
horas extras, mas admitem, em geral, verbas de natureza salarial ou
remuneratória (previsão implícita das horas extraordinárias) e (iii) aqueles que
excluem, de forma expressa, as parcelas alusivas às horas extras".
Percebe-se, com clareza, ao longo dos dois votos, o exclusivo escopo de
tratar a integração, apenas, de horas extras nos cálculos da renda mensal
inicial dos benefícios de complementação de aposentadoria de
participantes de diversas entidades de previdência privada, ante as

2
N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

divergências do teor dos regulamentos das entidades de previdência


privada.
Observa-se, ainda, dos dois votos, o cuidado de preservar o teor dos
regulamentos, no sentido de permitir o reconhecimento do direito à reparação
do prejuízo material, desde que haja previsão regulamentar expressa ou
implícita.
Ora, o precedente do STJ reconhece que apenas as horas extras-
reconhecidas em processo trabalhista -, quando previstas expressamente ou,
apenas, não referidas no regulamento da entidade de previdência privada,
devem ser inseridas na base de cálculo das contribuições a serem recolhidas.
Oportuna a transcrição no particular do voto do relator, Min. Antonio Carlos
Ferreira:
Em tais circunstâncias, havendo previsão, no regulamento do plano de
previdência privada, de que as parcelas de natureza remuneratória devem ser
inseridas na base de cálculo das contribuições a serem recolhidas (pelo
patrocinador e pelo participante) e ainda servir de parâmetro para o cálculo da
renda mensal inicial do benefício de suplementação de aposentadoria, essas
parcelas (horas extras),uma vez realizado o aporte correspondente, em
regra deverão compor o cálculo do benefício a ser concedido.
Nesse contexto, não resta dúvida de que, no presente caso concreto (no qual
ficou estabelecido pelas instâncias ordinárias haver previsão, no regulamento
do plano, de que as parcelas de natureza remuneratória componham a base
de cálculo das contribuições), em princípio, os valores correspondentes à
remuneração do trabalho extraordinário habitual, no período de apuração
da renda mensal inicial, deveriam ter refletido nas contribuições do
participante e do patrocinador e, de igual modo, ter sido considerados
para a fixação do valor do benefício.
Constata-se, de forma inequívoca, que a ratio decidendi do precedente em
questão é exclusivamente reparação de prejuízo material causado ao
participante pelo seu ex-empregador, por haver sonegado do salário-de-
participação de previdência complementar privada, o valor das horas
extras e reflexos, reconhecido em processo trabalhista, desde que haja
previsão regulamentar expressa ou implícita.
Ora, no caso, o reclamante pretende que o réu seja condenado a
indenizá-lo, em razão de referida tese repetitiva, com base em ação
trabalhista na qual se persegue diferenças de anuênios e reflexos
(0001146-96.2019.5.09.0014).
Inaplicável o precedente nessa hipótese, já que o precedente do STJ
limita, repita-se, às horas extras - reconhecidas em processo trabalhista -,
e a nenhuma outra parcela, mesmo de natureza remuneratória.
Assim, não se verifica o nexo causal, tampouco o dano patrimonial, pois, por
força do precedente STJ RESP 13122736, somente integrariam o salário-de-
participação, horas extras reconhecidas em processo trabalhista.
O precedente do STJ não reconhece que diferenças de anuênios
integram, mesmo implicitamente, o salário-de-participação do autor.
Saliente-se, conforme assinalado na preliminar de competência material da
Justiça do Trabalho, que é incompetente o Juiz do Trabalho interpretar o
regulamento do reclamado, pois essa interpretação violaria a decisão de
repercussão geral do STF já citada.

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N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

A Justiça do Trabalho, para declarar que o anuênio integra o salário-de-


participação do reclamante deveria necessariamente interpretar o
regulamento da PREVI, para o que, no entanto, é incompetente.
(...)
Destaques nossos

Posto isso, tem-se que o precedente invocado pela parte


Reclamante não se aplica ao caso sob judice, o que requer seja declarado por sentença,
devendo, ainda, ser extinto os presentes autos, nos termos do 485, I e art. 330, I,
ambos do CPC.

- DA INSTRUÇÃO NORMATIVA 39 DO TST, ART. 15º:

Além das razões já expostas, importante se faz analisar o


conteúdo do art. 15, da Instrução Normativa 39 do TST, com relevantes
esclarecimentos quanto a aplicação das regras do Novo CPC à Justiça do Trabalho, em
especial no concerne aos precedentes:

Instrução normativa 39 TST, ART. 15:

Art. 15.O atendimento à exigência legal de fundamentação das


decisões judiciais (CPC, art. 489, § 1º) no Processo do Trabalho
observará o seguinte:

I – por força dos arts. 332 e 927 do CPC, adaptados ao


Processo do Trabalho, para efeito dos incisos V e VI do § 1º
do art. 489 considera -se “precedente” apenas:

a) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo


Tribunal Superior do Trabalho em julgamento de recursos
repetitivos (CLT, art. 896- B; CPC, art. 1046, § 4º);

b) entendimento firmado em incidente de resolução de


demandas;

c) decisão do Supremo Tribunal Federal em controle

2
N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

concentrado de constitucionalidade;

d) tese jurídica prevalecente em Tribunal Regional do


Trabalho e não conflitante com súmula ou orientação
jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho (CLT, art. 896,
§ 6º);

e) decisão do plenário, do órgão especial ou de seção


especializada competente para uniformizar a jurisprudência
do tribunal a que o juiz estiver vinculado ou do Tribunal
Superior do Trabalho.

II – para os fins do art. 489, § 1º, incisos V e VI do CPC,


considerar -se-ão unicamente os precedentes referidos no
item anterior, súmulas do Supremo Tribunal Federal,
orientação jurisprudencial e súmula do Tribunal Superior do
Trabalho, súmula de Tribunal Regional do Trabalho não
conflitante com súmula ou orientação jurisprudencial do TST,
que contenham explícita referência aos fundamentos
determinantes da decisão (ratio decidendi).

III - não ofende o art. 489, § 1º, inciso IV do CPC a decisão que
deixar de apreciar questões cujo exame haja ficado prejudicado
em razão da análise anterior de questão subordinante.

IV - o art. 489, § 1º, IV, do CPC não obriga o juiz ou o Tribunal a


enfrentar os fundamentos jurídicos invocados pela parte, quando
já tenham sido examinados na formação dos precedentes
obrigatórios ou nos fundamentos determinantes de enunciado de
súmula.

V - decisão que aplica a tese jurídica firmada em precedente, nos


termos do item I, não precisa enfrentar os fundamentos já
analisados na decisão paradigma, sendo suficiente, para fins de
atendimento das exigências constantes no art. 489, § 1º, do CPC,
a correlação fática e jurídica entre o caso concreto e aquele

2
N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

apreciado no incidente de solução concentrada.

VI - é ônus da parte, para os fins do disposto no art. 489, § 1º, V e


VI, do CPC, identificar os fundamentos determinantes ou
demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a
superação do entendimento, sempre que invocar precedente ou
enunciado de súmula.

Em síntese, denota-se que, somente as decisões tomadas no


âmbito da Justiça do Trabalho ou pelo Supremo Tribunal Federal teriam condão para
firmar precedentes nesta Justiça Especializada.

Diante do exposto, por qualquer ângulo que se olhe resta


prejudicada a pretensão autoral, pelo que se reitera o pedido de extinção da
demanda, nos termos do 485, I e art. 330, I, ambos do CPC.

2- PREJUDICIAL DE MÉRITO – PRESCRIÇÃO BIENAL/TRIENAL

Incontroverso que o Autor deixou de laborar para o BANCO DO


BRASIL S.A. em 08/08/2010.

Com efeito o inciso XXIX do art. 7ª da Constituição Federal estão


prescritos a pretensão quanto a créditos resultantes de relação de trabalho em até dois
anos após a extinção do contrato de trabalho.

Na prescrição bienal não há que se falar em parcial, somente


prescrição total, que se consolidou em 08/08/2012.

No caso, ao atrair a competência para essa Justiça


Especializada, por óbvio há que se aplicar a prescrição inerente a esfera trabalhista, e
se o que se pede em indenização de danos materiais advém da relação de trabalho,
submetendo a atual demanda em agosto/2022, consumada a prescrição.

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N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

Ademais, impossível negar a redação do texto constitucional. A


ação de reparação civil, dentro da relação de emprego está sob a égide da Constituição
Federal no artigo 7º, inciso XXIX.
A Constituição Federal, no art. 7º, inciso XXIX assim delimita:

XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de


trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os
trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após
a extinção do contrato de trabalho;(Griffo nosso)

Sendo assim, impossível se falar em alteração do marco


prescricional, seja qual for o motivo não há que se discutir a literalidade daquilo que foi
previsto pelo constituinte, estando, portanto, prescritas as pretensões autorais, pois
resta consumada a pretensão de ação após decorrido o biênio do fim do contrato de
trabalho prevista no texto da Carta Magna.

A extinção do contrato de trabalho e consequente início de


recebimento da aposentadoria complementar é marco prescricional inalterável, pois, se
diferente fosse, o próprio constituinte teria previsto ressalvas no texto constitucional, o
que não é o caso, não podendo ser em outro sentido a decisão, se não o
reconhecimento da presente prefacial suscitada.

Nesse sentido, foi a decisão proferida pelo Magistrado Federal


da 1ª Vara do Trabalho de Santa Cruz do Sul, em 26 de agosto de 2019, nos autos do
processo número 0020349-65.2019.5.04.0731, vejamos trecho que tratou do presente
ponto, in verbis:

“ ...
O reclamante teve ciência da lesão desde a supressão
da parcela que entende ser componente do salário de
contribuição. Veja que, embora o pedido seja de indenização por
danos materiais, envolveria a análise minuciosa dos
regramentos sobre o salário de contribuição, e, neste caso,

2
N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

imprescindível a participação da entidade de previdência. De


qualquer sorte, o STJ, conforme fundamentos também lançados
na petição inicial, entendeu, recentemente, que não cabe ação
para revisar o salário de benefício pela eventual supressão de
parcelas que deveriam compor a base de cálculo para o benefício,
mas que caberia ao lesado, buscar uma indenização, junto ao
empregador.
E, tratando-se de responsabilidade civil, dentro da
relação de emprego, com lesões sucessivas, diante da
continuidade do contrato, o reclamante tinha até dois anos
após a extinção do contrato para ajuizar eventual ação de
reparação, marco que não foi observado, visto que o contrato
foi encerrado em 19/12/2016 e a ação ajuizada em 07/05/2019.
Acolho a prescrição do direito de ação e determino a extinção
do processo com resolução do mérito, fulcro no art. 7º, XXIX,
da Constituição e 487, II, do CPC
...
ANTE O EXPOSTO, nos termos da fundamentação, em preliminar,
rejeito as arguições de incompetência, carência da ação e inépcia
da petição inicial e, no mérito, julgo determino a EXTINÇÃO DA
AÇÃO COM RESOLUÇÃO DO MÉRITO, pelo reconhecimento da
prescrição total do direito da ação ajuizada por ROSEMIRO
CARVALHO DA SILVA contra BANCO DO BRASIL S/A.”(grifo
nosso)

Conveniente ainda fazer referência a recente decisão em caso da


espécie, proferida junto à 6ª Vara do Trabalho de Porto Alegre, CNJ 0020040-
51.2020.5.04.0006, em que AUTOR: LEONEL MOSCATO ZIQUINATTI e RÉU: BANCO
DO BRASIL SA, onde reconhecida a prescrição total sob seguintes termos:

“O art. 7º, XIXX, da Constituição Federal estipula o prazo


prescricional de cinco anos para os trabalhadores rurais e urbanos,

2
N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho,


enquanto o inciso XXXIV do mesmo dispositivo garante a
igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício
permanente e o trabalhador avulso. Considerando-se, portanto,
que o contrato de trabalho havido entre as partes foi extinto
em 29/12/2016, como visto acima, e que a presente
reclamatória só foi ajuizada mais de dois anos depois —
24/01/2020 —, tem-se que o direito de ação do autor encontra-
se prescrito.
Note-se que, como visto acima no item das preliminares referente
à competência material da Justiça do Trabalho, o direito discutido
nos autos não se confunde com a complementação de
aposentadoria que somente se tornou devida após o
encerramento do contrato de trabalho, mas com diz as
repercussões que supostos descumprimentos do contrato de
trabalho pela empregadora tiveram sobre o benefício de
complementação de aposentadoria, por conta das contribuições
que deixaram de ser recolhidas à entidade de previdência privada
incidentes sobre as parcelas remuneratórias daí resultantes; e,
enquanto direito derivado do contrato de trabalho, a atrair a
competência material da Justiça do Trabalho para o seu exame,
sujeita-se à prescrição quinquenal e à prescrição bienal previstas
na Constituição.
Ao Direito também é atribuída a função de assegurar a
estabilidade e segurança social e jurídica, as quais podem ser
efetivamente detectadas com recurso ao instituto da prescrição
diante de situações fáticas consolidadas pelo decurso do tempo.
Prescrita a pretensão, extingue-se o processo com julgamento do
mérito, relativamente aos pedidos formulados à inicial, na forma do
art. 487, II, do CPC, aplicado supletivamente ao Processo do
Trabalho, por força do artigo 769 da CLT.”

2
N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

Neste diapasão, no caso de aceitarmos que as discussões


das matérias ventiladas devam realizar-se nesta especializada, afastando a
incompetência, temos que por óbvio aplicar ao caso em comento a prescrição
bienal, prevista pelo artigo 7°, XXIX, da Constituição Federal.

E ainda que assim não fosse, caso o entendimento fosse da


aplicação da regra prescricional da justiça comum, temos que a presente ação
apresenta pedido de reparação civil cujo prazo prescricional é de três anos conforme o
Art. 206, §3º, V, do Código Civil.

Portanto, sucessivamente, pelo princípio da eventualidade, insta


consignar que a presente ação apresenta pedido de reparação civil cujo prazo
prescricional é de três anos conforme Art. 206, §3º, V do Código Civil.

Nesta linha, temos que o Código Civil Brasileiro prescreve como


regra geral no instituto da prescrição, em seu Art. 189:

Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual


se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts.
205 e 206 .

Ou seja, por qualquer ângulo que se analise a questão de fundo o


direito da parte Reclamante de buscar aludida reparação encontra-se prescrito.

Sendo certo que a suposta lesão (inexistência de registro e


pagamento de horas extras e inexistência de fidúcia especial no exercício do cargo)
reconhecida dentro do processo nº 0010135-09.2011.5.04.0662, ocorreu pelas
atividades desempenhadas até 08/08/2010, pugna-se para que seja declarada a
prescrição total de todos os pretensos direitos pleiteados no processo.

Destarte, a prescrição começa a correr da violação do direito


vindicado.

3
N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

Trata-se de regra geral imposta pelo CC/2002, a qual veio garantir


mais eficácia na aplicação do instituto da prescrição aos casos concretos, atendendo
aos Princípios da Segurança Jurídica e da Boa-Fé Objetiva.

Este é o entendimento do STJ, exposto em recurso repetitivo a


seguir colacionado:

“TERMO A QUO DA PRESCRIÇÃO: o termo inicial da prescrição


surge com o nascimento da pretensão (actio nata), assim
considerada a possibilidade do seu exercício em juízo. Conta-se,
pois, o prazo prescricional a partir da ocorrência da lesão,
sendo irrelevante seu conhecimento pelo titular do direito”. (REsp
1003955/RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 12/08/2009, DJe 27/11/2009 e REsp 1028592/RS, Rel.
Ministra ELIANA CALMON, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
12/08/2009, DJe 27/11/2009).

Ainda no que se refere à prescrição, necessário destacar que a


causa de pedir que fundamenta a ação decorre, nos dizeres do Reclamante, dos
prejuízos supostamente causados pelo seu empregador em razão de não realizar o
pagamento das horas extras no período devido, o que acarretou a diminuição no valor
do benefício a ser percebido.

Percebam que a ausência de contribuição na época apropriada é


que motivou o pedido de indenização, sendo o recebimento de quantia menor mera
consequência de ato pretérito, invocado como suposto ilícito praticado pelo
empregador.

Assim, a suposta lesão em razão de não poder ter contribuído


ao fundo na época apropriada cessou quando do término do contrato de trabalho
e se “perfectibilizou” quando da concessão do benefício de previdência
complementar, sendo que o montante pago supostamente a menor não pode ser
considerado como prejuízo que se renova mês a mês, mas sim apenas sua
mensuração matemática.

3
N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

Portanto, resta plenamente defensável que o direito à pretensão


reparatória nasce,à luz do art. 189 do Código Civil, a partir da concessão do benefício
previdenciário complementar supostamente inferior.

Para o caso analisado, e justamente por essa razão, a discussão


não pode se dar sob a ótica das súmulas 291 e 427 do STJ, por não ser lícita a
discussão, na Justiça do Trabalho, sobre parcelas de complementação de
aposentadoria (Súmula 291/STJ) ou cobrança de diferenças de valores de
complementação de aposentadoria (Súmula 427/STJ); mas sim de pleito indenizatório
que sujeita à prescrição disciplinada no artigo 7º, XXIX da Constituição Federal e artigo
11 da CLT. (sucessivamente, pelo artigo 206, § 3º, V, do Código Civil).

Tal ilação ressai com mais força do julgamento proferido pela


ministra Dora Maria da Costa junto ao AIRR 156-93.2021.5.13.0024- 8ª turma que
refere o seguinte:

3
N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

E mais, em julgamento proferido pelo ministro Cláudio Brandão


junto ao processo AIRR- 247-70.2020.5.10.0003- 7ª turma, destaca-se o
posicionamento sobre a impossibilidade de se “reconhecer o interesse de agir para o
ajuizamento desta demanda somente surgiria com a prolação do acórdão RE nº
1.312.736 pelo E.STJ em 16/08/2018:

Excelência, tanto a ocorrência da lesão como sua ciência (inequívoca)


estão consubstanciadas em um mesmo momento, ou seja; quando da concessão do
benefício de previdência complementar, que por sua vez ocorre imediatamente após o
desligamento do funcionário dos quadros do Banco.

Aliás, já há entendimento consolidado nos tribunais superiores de


que “o prazo prescricional não pode ser contado da decisão proferida pelo STJ em
repercussão geral, pois essa apenas definiu a competência para julgar a demanda e
não constituiu o direito reparatório.”:

41103632 - PRESCRIÇÃO. INDENIZAÇÃO POR PERDAS E


DANOS. COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA. Tese
fixada pelo Superior Tribunal de Justiça no RESP repetitivo 1.312-

3
N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

736. RS. Actio nata. 1. A autora busca reparação de danos em


razão de prejuízos ocasionados pelo ex-empregador por ocasião
do cálculo do saldamento a ser considerado para efeitos do
benefício de aposentadoria complementar. 2. O Superior Tribunal
de Justiça firmou tese definindo a competência da justiça do
trabalho para apreciar demandas reparatórias de prejuízos
ocasionados pelo empregador no percebimento do benefício de
aposentadoria complementar (RESP repetitivo nº 1.312-736-RS,
com repercussão geral. Tema 955). 3. Ao contrário do que
sustenta a recorrente, o prazo prescricional não pode ser
contado da decisão proferida pelo STJ em repercussão geral,
pois essa apenas definiu a competência para julgar a
demanda e não constituiu o direito reparatório. 4. A actio nata,
como sói acontecer, ocorre com o conhecimento da lesão a ser
reparada e, se o vínculo empregatício já estava extinto
naquele momento, o prazo prescricional é bienal e não
quinquenal. (TRT 24ª R.; ROT 0024996-88.2019.5.24.0071;
Segunda Turma; Rel. Des. Amaury Rodrigues Pinto Junior; Julg.
21/07/2020; DEJTMS 21/07/2020; Pág. 50). (Destaque nosso).

Não há nenhuma causa interruptiva da prescrição. O próprio REsp


1.312.736/RS, invocado pelo Autor, considerou que nas açoes que já haviam sido
ajuizadas perante a Justiça Comum até à época do julgamento (08/08/2018)
seriam admitidos os recálculos do benefício, sacramentando que não havia
nenhum impedimento do Autor até 08/08/2018 em ter buscado a Justiça comum.

Nada obstante, em razão da alegada impossibilidade de buscar na


justiça comum em decorrência de entendimento do STF, poderia ainda ter ajuizado o
protesto interruptivo da prescrição, registrando seus fundamentos de fato antes do
exaurimento do prazo bienal, nos termos da jurisprudência consolidada do TST:

3
N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

Contudo, dada a inércia, consumou-se a prescrição total do direito


de ação. No mesmo sentido já se pronunciou a jurisprudência do TRT da 4ª Região,
conforme ementa que colaciono:

PRESCRIÇÃO TOTAL. INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL.


PREJUÍZOS NA COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA.
Hipótese em que o reclamante busca o pagamento de
indenização pelos prejuízos decorrentes da não consideração
de parcelas deferidas em processo anterior no cálculo de sua
complementação de aposentadoria. Porém, a ação é ajuizada
mais de dois anos depois da rescisão do contrato de trabalho.
A pretensão indenizatória veiculada no presente feito poderia
ter sido cumulada com os pedidos da demanda anterior, já
que se trata de verba decorrente dos direitos vindicados no
processo anteriormente ajuizado. Assim, no caso dos autos,
houve desrespeito ao biênio previsto no art. 7º, XXIX, da CF, o
que leva à prescrição total do direito de ação. Recurso do
reclamado provido para pronunciar a prescrição total do
direito de ação. (TRT da 4ª Região, 4ª Turma, 0020611-
80.2020.5.04.0019 ROT, em 02/06/2021, Desembargador Andre
Reverbel Fernandes - Relator)

Finalmente, vale o registro, ainda, sobre os entendimentos


jurisprudenciais no sentido de que, por analogia, o presente caso mais se assemelha à
hipótese da Súmula nº 326 do C. TST, segundo a qual “A pretensão à complementação
de aposentadoria jamais recebida prescreve em 2 (dois) anos contados da cessação do
contrato de trabalho”, pois, como visto em linhas acima na distinção traçada entre o
direito previdenciário, cuja relação se estabelece entre o trabalhador e a entidade
fechada de previdência complementar, e o direito trabalhista, entre aquele e a
empregadora, no caso dos autos o reclamante pleiteia por complemento de

3
N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

aposentadoria indenizatório contra a ex-empregadora que nunca lhe foi alcançado, e


não acréscimo ao benefício previdenciário de complementação de aposentadoria
corrente de que trata a Súmula nº 327 do TST.

O pedido tratado nesta ação é indenizatório, na relação de direito


material entre ex-empregado e ex-empregador, e não foi afetada pela decisão proferida
pelo STF nos Recursos Extraordinários nº 586453 e 583050. Dita decisão apenas tratou
da relação previdenciária entre o trabalhador e a entidade de previdência fechada
anexa ao contrato de trabalho.

Com efeito, jamais poderia o STJ, na fixação da tese 955 invocada


pelo reclamante na petição inicial, inovar naquela decisão vinculativa antes proferida
pelo STF, sobrepondo-a, quando, pelo contrário, lhe deve observância.

Logo, no que diz respeito ao debate travado nestes autos, a


decisão proferida pelo STJ na fixação da tese 955 em nada inovou no mundo
jurídico, já que, estas questões indenizatórias desde sempre, sem qualquer
divergência jurisprudencial, vêm sendo submetidas à competência da Justiça do
Trabalho independentemente de ações previdenciárias paralelas.

Antes do trânsito em julgado do Tema Repetitivo nº 955 do STJ


não havia impossibilidade de que o reclamante buscar sua pretensão, o que poderia ter
sido feito tanto na Justiça comum quanto na Justiça do Trabalho. A dúvida que à época
existia quanto à competência não encobre o acesso à Justiça, mas tão somente o
dilata, porque o reconhecimento da incompetência tem por efeito a simples remessa
dos autos ao juízo competente (art. 64, § 3º, do Código de Processo Civil.

Ultrapassada a prescrição bienal e total acima alegada, tanto pela


ótica da reparação civil quanto pela trabalhista, o que se admite, somente pelo amor ao
debate, se requer que seja declarada a prescrição de todos os pretensos direitos e

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N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

reflexos que digam respeito aos períodos anteriores a 05 (cinco) anos da data do
ajuizamento da presente ação, por força do art. 7º, inciso XXIX, da Constituição da
República.

3- DO MÉRITO

3.1- DA AUSÊNCIA DE ILICITUDE

O pedido de indenização por danos materiais (lucros cessantes) da


reclamante gira em torno de suposto ato ilícito do reclamado que, segundo defende,
deveria ter realizado o pagamento verbas trabalhistas inferiores ao devido.

Nosso direito assenta a responsabilidade civil subjetiva no dano à


vítima, culpa do agente, nexo causal e conduta ilícita. Faltando qualquer um desses
requisitos, não ocorre o dever jurídico de indenizar.

Somente o procedimento antijurídico, contrário a um prévio dever


de conduta, leva à configuração do “ato ilícito” e à geração da consequente
responsabilidade pelo ressarcimento do injusto prejuízo causado a outrem.

Partindo desse princípio, não há ato ilícito, porquanto inexistiu


procedimento contrário ao direito, considerando que o reclamante somente obteve
direito às parcelas com o reconhecimento judicial, de modo que não se podia exigir do
reclamado naquele momento pretérito conduta diversa.

Nesse sentido é o entendimento já manifestado pelo E. TRT10 em


processo análogo, in verbis:

BANCÁRIO. 7ª E 8ª HORAS. LABOR EXTRAORDINÁRIO.


NÃO PAGAMENTO. RECOLHIMENTOS À PREVI. DANOS
MATERIAIS E MORAIS. O não pagamento puro e simples de
horas extras pode, em princípio, caracterizar-se como ato

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N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

ilícito e, como tal, gerar dever de reparação. Esta


possibilidade não se concretiza no caso do não pagamento da
7ª e 8ª horas trabalhadas pelo empregado bancário como
labor extraordinário, porque a controvérsia envolve
outro fundo de direito, qual seja, o exercício ou não de função
de confiança que, em regra, lastreia as demandas. A favor do
empregador se apresenta o artigo 224, § 2º, da CLT, que
autoriza o labor, sem remuneração extraordinária, da sétima
e oitava horas para o exercício de função de confiança.
Portanto, o não pagamento não configura ato praticado com
dolo ou culpa de forma a atrair a qualificação
de ilicitude capaz de gerar o dever de reparação. Por fim,
constando da coisa julgada a determinação do recolhimento das
parcelas à PREVI em razão das horas extras habituais, não há
prejuízo material ou dano moral a ser indenizado em ação
autônoma. (TRT-10 - RO: 00000246820175100021 DF 0000024-
68.2017.5.10.0021 RO, Relator: Desembargador Dorival Borges
de Souza Neto, Data de Julgamento: 02/08/2017, 1ª Turma, Data
de Publicação: 03/08/2017 no DEJT – Votação Unânime com a
presença dos Desembargadores Dr. Grijalbo Coutinho, Dra. Flávia
Falcão, Dr. André Damasceno e Dr. Paulo Blair- convocado) (grifo
nosso)

Inexiste, portanto, dano ressarcível, quando o desfalque


patrimonial suportado pela vítima se coloca como consequência de ato praticado pelo
agente, como titular de direito subjetivo e potestativo, porque não é apenas a
lesão que estrutura a responsabilidade civil, mas é indispensável a concorrência
de sua “injustiça”.

Sob o mesmo raciocínio, a Seção de Dissídios Individuais do TST


entende ser indevida a indenização a título de reparação nas hipóteses em que não há
caracterização de atitude abusiva por parte do empregador:

3
N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

EMBARGOS DA RECLAMANTE. REVERSÃO DA JUSTA


CAUSA EM JUÍZO. ATRIBUIÇÃO DE CONDUTA DESIDIOSA.
AUSÊNCIA DE PUBLICIDADE. AUSÊNCIA DE ILÍCITO A SER
ATRIBUÍDO À EMPRESA. DANO MORAL INEXISTENTE. A
demissão por justa causa está prevista na lei e encontra-se dentro
do poder diretivo do empregador. Não é apenas o fato de a
empresa dispensar o empregado, mas a atitude abusiva no ato da
dispensa que determinará a existência de lesão à honra e à
imagem do trabalhador, que deve ser provada. A simples dispensa
por justa causa não caracteriza ato ilícito ou abuso do poder
potestativo do empregador, ainda que haja reversão desse ato em
juízo. Necessário, antes de tudo, que tenha havido prejuízo de
difícil reparação em decorrência de ato ilícito. Não havendo tal
constatação, como se depreende da r. decisão proferida pelo eg.
Tribunal Regional, não se caracteriza o dano moral apto a ensejar
necessária reparação. Recurso de embargos conhecido e
desprovido. (RR - 737000-44.2004.5.09.0012)

Nesse sentido, agiu o reclamado no exercício regular do direito nos


termos do artigo 1886, I, do Código Civil, fazendo valer seu poder diretivo nos termos do
artigo 2º7 da CLT.

Tratam-se, assim, de parcelas pretéritas que o reclamado pagou de


boa-fé, dado que a parte reclamante trabalhou e recebeu horas extras. Não houve
demonstração pela reclamante de má-fé do reclamado a ponto de ensejar o
reconhecimento de ação culposa, está indissociável da responsabilidade civil subjetiva,
que é o caso.

6
Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
7
Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da
atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço.

3
N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

À luz dos princípios que regem a responsabilidade civil, não há


como se enquadrar o plano de carreira que regia a organização do Banco reclamado
como uma conduta ilícita a ponto de se tornar passível o pagamento de indenização por
danos materiais ou lucros cessantes.

Tanto assim, que o fato dependeu de uma decisão judicial, ainda


não transitada em julgado, que ainda discute a divergência acerca de sua
obrigatoriedade ao pagamento de 7ª e 8ª horas. Assim mais ainda se confirma que não
há um liame apto a atribuir responsabilidade ao reclamado pela ausência de repasse
das respectivas cotas de contribuição à Previ por ausência de comportamento culposo.

Inexistente, porquanto, o ato ilícito praticado pelo reclamado.

Percebe-se que não há nos autos, repita-se, qualquer indício de


que a reclamante restou prejudicado em razão de ato ilícito praticado pelo Reclamado,
ao revés, certamente receberia crédito expressivo acaso deferido o pleito, inclusive
referente a cota-parte da previdência complementar, conforme será especificado no
tópico relativo “ausência de dano” a seguir.

Desse modo, também por esse motivo, deve ser indeferido o pleito.

3.2- DA AUSÊNCIA DE CULPA OU DOLO

A responsabilidade de que trata o obreiro é do direito comum,


corolário do ato ilícito (art. 927, do C. Civil em vigor), objeto do presente pedido,
decorreria da conduta culposa ou dolosa, sendo, portanto, de ordem subjetiva, ou seja,
subsiste o dever de indenizar somente quando este contribui para o evento danoso de
forma culposa ou dolosa.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187). Causar
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

O dispositivo legal referenciado é de natureza cristalina no sentido

4
N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

de estabelecer a responsabilidade somente nos casos em que tenha agido com dolo ou
culpa, condição essencial para o cabimento da indenização por ato ilícito.

Na jurisprudência a matéria é clara. Em casos como o colocado sub


judice não há a obrigação de indenizar. Vejamos, pois o escólio jurisprudencial abaixo
que bem demonstra tal circunstância, in verbis:

EMENTA - DANO MORAL. INDENIZAÇÃO. PRESSUPOSTOS. A


obrigação de reparar subordina-se a três princípios básicos: "
o erro de conduta do agente, no seu procedimento contrário à
predeterminação da norma, que condiz com a própria noção
de culpa ou dolo; a ofensa a um bem jurídico, seja ela
patrimonial ou não-patrimonial; e a relação de causalidade
entre a antijuridicidade da ação e o dano causado" (CAIO
MÁRIO). Ausente um deles, fenece o pedido indenizatório,
destino também assumido pela postulação, quando a
prestação se impossibilitar em virtude de caso fortuito ou
força maior (CCB, art. 1.058)". Recurso conhecido e
desprovido. (TRIBUNAL: 10ª Região. ORIGEM: 18ª VARA -
BRASÍLIA/DF. 18-0788/2002 NA VARA DE ORIGEM. DECISÃO:
28 03 2003. TIPO: RO NUM: 00788 ANO: 2002. REGIÃO:
10NÚMERO ÚNICO PROC: RO - TURMA: 2ª TURMA.
Recorrente: JOSÉ MARCOS MARTINS DE SOUZARecorrido:
INDÚSTRIA QUÍMICA E FARMACÊUTICA SHERING - PLOUGH
S/ª Juiz Relator : JOSÉ RIBAMAR O. LIMA JUNIOR. Juíza
Revisora : FLÁVIA SIMÕES FALCÃO). (grifo nosso)

Pois bem, resta demonstrado que para a responsabilidade de


natureza reparatória, de direito comum, em casos como o da espécie, necessária se faz
a comprovação por parte da reclamante de que o Reclamado agiu com dolo ou culpa.

Consequentemente, para que seja responsabilizado pela reparação


civil do suposto dano sofrido, mister se faz que seja provada, adequada e
concretamente, que a lesão sofrida pela reclamante adveio do descumprimento de uma

4
N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

norma pelo Reclamado. O ônus da demonstração dessa culpa e do nexo causal é do


autor, pois representam os fatos constitutivos do seu alegado direito. A reclamante,
entretanto, não demonstrou nos autos em que reside a responsabilidade do reclamado
para com o evento ocasionador do evento danoso, e não o fez porque, de fato, não há
nenhuma responsabilidade que lhe possa ser imputada.

O que pretende a reclamante é que o reclamado seja


responsabilizado por fato pretérito cujo direito ainda não existia. Ora, como pode o
reclamado ser culpado por não proceder ao recolhimento previdenciário referente a
direito que nem ao menos foi reconhecido pela na Justiça do Trabalho ( não há
condenação em recolhimentos para Previ) e nem buscado na Justiça cível?

Como se vê, não há ato ilícito ou culpa (umbilicalmente ligada ao


ato ilícito) a serem imputados ao reclamado que agiu de boa-fé, no exercício regular do
direito.

Nesse sentido é o entendimento do E. TRT10 no que se refere ao


exercício regular do direito, in verbis:

RECURSO ORDINÁRIO. DANO MORAL. SINDICÂNCIA


INTERNA. EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO. A reclamada,
empresa pública, encontra-se vinculada a dispositivos legais
impositivos, no que concerne à apuração de fatos reputados
ilícitos, tratando-se, mesmo, de exercício regular de direito,
razão pela qual a instauração da sindicância interna não pode
ser reputada como abusiva. Assim, a despeito dos contornos
da r. decisão a quo, isentando a reclamante de dolo ou culpa,
sindicância emerge lícita, bem como, considerando-se suas
conclusões, a procedimento relativo à cobrança dos valores
indevidamente despendidos, ante a duplicidade do ato; não se
afigurando hipótese de dano moral por ausência de ilicitude a
macular o ato promovido pelo empregador. (TRT-10 - RO:
1091201101810005 DF 01091-2011-018-10-00-5 RO, Relator:

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N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

Desembargador Dorival Borges de Souza Neto, Data de


Julgamento: 19/09/2012, 1ª Turma, Data de Publicação:
28/09/2012 no DEJT) (grifo nosso)

Ainda nessa seara, o entendimento do C. TST ao considerar o


poder diretivo do empregador:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA.


PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI 13.015/2014 E ANTERIOR
À LEI 13.467/2017. 1. HORAS EXTRAS, INTERVALOS
INTERJORNADAS E ADICIONAL NOTURNO. PROVA
DIVIDIDA. ÔNUS DA PROVA. 2. INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS EM RAZÃO REVERSÃO DA JUSTA CAUSA EM
JUÍZO E CONDIÇÕES DE TRABALHO DEGRADANTES.
AUSÊNCIA DOS REQUISITOS CONFIGURADORES DO
DANO MORAL. MATÉRIA FÁTICA. SÚMULA 126/TST A
conquista e afirmação da dignidade da pessoa humana não
mais podem se restringir à sua liberdade e intangibilidade física
e psíquica, envolvendo, naturalmente, também a conquista e
afirmação de sua individualidade no meio econômico e social,
com repercussões positivas conexas no plano cultural - o que
se faz, de maneira geral, considerado o conjunto mais amplo e
diversificado das pessoas, mediante o trabalho e,
particularmente, o emprego. O direito à indenização por dano
moral encontra amparo no art. 5º, V e X, da Constituição da
República e no art. 186 do CCB/2002, bem como nos princípios
basilares da nova ordem constitucional, mormente naqueles
que dizem respeito à proteção da dignidade humana, da
inviolabilidade (física e psíquica) do direito à vida, do bem-estar
individual (e social), da segurança física e psíquica do indivíduo,
além da valorização do trabalho humano. O patrimônio moral da

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N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

pessoa humana envolve todos os bens imateriais,


consubstanciados em princípios. Afrontado esse patrimônio
moral, em seu conjunto ou em parte relevante, cabe a
indenização por dano moral, deflagrada pela Constituição de
1988. Registre-se que a dispensa por justa causa, por si só,
não é motivo jurídico suficiente que viabilize o pleito de
indenização por danos morais, uma vez que está dentro dos
limites legais do poder diretivo patronal a livre contratação
e despedida de trabalhadores, conforme o regime celetista.
A avaliação judicial da dispensa em tais casos, regra geral, em
princípio, enseja, como efeito jurídico próprio, o pagamento de
todas as verbas resilitórias favoráveis, ou, se for o caso, a
reintegração no emprego. Apenas se houver circunstância
adicional grave que manifestamente afronte o patrimônio moral
do trabalhador é que desponta a possibilidade de efeito jurídico
suplementar, consistente na indenização por dano moral. Essa,
contudo, não é hipótese dos autos. Nesse contexto, forçoso
concluir que não foram comprovados os requisitos necessários
para a condenação da Reclamada ao pagamento da
indenização por dano moral em razão da dispensa por justa
causa. Com relação às alegadas condições de trabalho
degradantes, esta Corte tem entendido que ser cabível a
indenização por dano moral em situações que evidenciam a
submissão dos trabalhadores a condições precárias de higiene
e alimentação (...) (TST - AIRR: 106701820155030114, Relator:
Mauricio Godinho Delgado, Data de Julgamento: 21/11/2018, 3ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 23/11/2018)

Assim, resta demonstrada a ausência de culpa ou dolo do


Reclamado, razão pela qual não pode ser responsabilizado por nenhuma espécie de
indenização por ter entendido que a reclamante exerceu função de confiança.

4
N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

3.3- DA AUSÊNCIA DE DANO

Conforme já destacado, o Reclamante quer fazer crer que


obteve dano ao ser beneficiário de condenação em face do Banco Réu nesta Justiça
Laboral, ante o deferimento parcial do seu pedido na ação trabalhista por horas extras
em decorrência da desconfiguração da função de confiança, incorporação da parcela
auxílio-alimentação ao salário, alteração no procedimento de cômpuuto de anuênios.

A parte Reclamante pretende ser indenizada em danos


materiais por suposta impossibilidade de recálculo da previdência complementar,
AINDA QUE SEQUER EXISTA DANO, E SUBSIDIARIAMENTE SEQUER TENHA
BUSCADO A JUSTIÇA COMUM OU MESMO A PREVI PELA VIA ADMINISTRATIVA!

O que pretende o Reclamante é ser reparado por uma


expectativa de direito. Não há, portanto, dano efetivo a ser reparado.

Conforme a letra “d” das teses fixadas na decisão do STJ


referida na própria inicial (processo 1312736/RS) e transcrita na exordial. Caberia a
parte Reclamante as contribuições vertidas ao fundo de previdência em caso de
condenação no processo principal. O que não existiu.
Se, por um lado, as parcelas reconhecidas na referida
reclamatória coletiva, não compuseram o valor da complementação de aposentadoria
pago pelo fundo de previdência, por outro lado, o autor não sofreu as deduções
relativas às contribuições da sua cota-parte para formação da reserva matemática.
Tratando-se de pretensão de reparação de dano material, para apurar a existência de
eventual prejuízo, seria necessário demonstrar, na petição inicial, que os valores
adicionais de complementação a que faria jus superariam as contribuições que
deveriam ter sido por ele vertias ao fundo.

À margem dessa demonstração, inexistente prova do dano


material, ônus a que o autor não se desincumbiu (art. 818, inciso I, da CLT).

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N ÚC LE O J URÍ DI CO P AS SO F UN DO - RS

3.4- DA AUSÊNCIA DE NEXO DE CAUSALIDADE

Não há nexo causal para que o reclamado possa ser


responsabilizado por eventual reparação por dano material.
Isso porque, para que o reclamado possa ser responsabilizado, é
imprescindível o nexo de causalidade entre o evento danoso e o erro de conduta,
questão totalmente alheia ao caso presente, notadamente em relação ao reclamado.
Pelo que se percebe dos fatos narrados e pelos documentos
colacionados, o reclamado apenas tem o dever de cumprir os termos do título executivo
que, diga-se, não previu condenação em complementação de aposentadoria em face
do Banco reclamado.
Por essa razão, não restou demonstrado o nexo causal entre o
comportamento do reclamado e uma NEGATIVA DE REVISÃO DO BENEFÍCIO PELA
PREVI. Aliás, nem ao menos há comprovação de eventual negativa.
Diante disso, pela ausência de nexo causal, não há o que se falar
em dever de indenizar pelo reclamado.

3.5- DO QUANTUM INDENIZATÓRIO

Ante aos argumentos acima, resta comprovado que o Banco


Reclamado agiu dentro da legalidade.
A eventual condenação, o que não se espera, seria traduzida em
potencial ofensa aos artigos 940 e 950 do Código Civil, na medida em que se mostraria
excessiva desproporção entre a suposta culpa e o dano sofrido pela reclamante.
A fixação de valores em prol do autor não pode se desvincular de
elementos de razoabilidade para reparação do dano material. Essa reparação não pode
importar em acréscimo patrimonial, mas, sim, ressarcimento patrimonial.

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Ora, NÃO se pode admitir que o valor enseje


ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA pelo trabalhador.

O reclamante nem ao menos apresenta um demonstrativo de


cálculo onde se evidenciem os valores que pretende receber, ou seja, aporta aos
autos informação descabida de qualquer fundamento. Não pode, dessa forma,
requerer reparação.

Assim, pede-se pela improcedência do pleito indenizatório, ou em


caso de condenação, o que não se espera, postula a empresa Reclamada que esse
seja fixado em conformidade com o que eventualmente ficar comprovado, observando
sempre o critério da razoabilidade e proporcionalidade, sem que tal circunstância
resulte em enriquecimento sem causa do obreiro.

3.6- SUCESSIVAMENTE – CRITERIO PARA FIXAÇÃO – LIMITES DOS APORTES


DO PATROCINADOR – ART. 202, 3º DA CF

Sucessivamente, em caso de condenação ao pagamento de


indenização, requer-se que a quantia a ser paga seja limitada ao aporte que o Banco
reclamado, na qualidade de patrocinador, contribuiu para a reserva matemática da
parte autora, excluindo-se, porquanto, o aporte que foi feito pela reclamante-segurado.

De acordo com o acórdão do C. STJ, citado na preambular, deve


ser respeitada a paridade de contribuições entre o associado (segurado) e o
patrocinador, sendo que o eventual ressarcimento, decorrente de contribuição a menor,
nunca poderá ultrapassar a cota parte patronal, conforme os limites estabelecidos pelo
§3º do art. 202, da CF. Vejamos:

§ 3º É vedado o aporte de recursos a entidade de previdência


privada pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, suas
autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de
economia mista e outras entidades públicas, salvo na qualidade
de patrocinador, situação na qual, em hipótese alguma, sua

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contribuição normal poderá exceder a do segurado.

Ou seja, a metade dos valores base para a composição da reserva


matemática decorrem de contribuições do própria reclamante, de forma que, no máximo,
este faria jus apenas à 50% do valor pretendido – o que já foi inclusive pleiteado em
demanda anterior, sendo indevido qualquer valor adicional, sob pena de enriquecimento
ilícito da reclamante, nos termos do artigo 884 do CCB.

Portanto, como pedido subsidiário, em caso de fixação de


indenização, propugna a observância da paridade existente entre patrocinador e
segurado, bem como que o eventual ressarcimento a ser apurado se limite a diferença
de cota parte patronal, sob pena de contrariedade do disposto no art. 202, §§ 2º e 3º da
CF.
Finalmente, em caso de fixação de indenização, há de ser
considerada que na antecipação da pensão vitalícia em uma única parcela beneficia o
trabalhador, que passa a dispor com antecedência de um montante global, que seria
alcançado, no caso, ao longo dos anos até a data limite com base na tábua IBGE.

BET – BENEFÍCIO ESPECIAL TEMPORÁRIO

O BET, denominado verba P350, foi criado com caráter provisório e


temporário e, dessa forma, não integra efetivamente o complemento, de modo que
não há o que se falar em majoração. O benefício foi instituído no Regulamento do Plano
de Benefícios 1, vigente desde 16.02.2011, para distribuição do superavit pontual e
específico, sem caráter permanente e sem a garantia de patamar mínimo, sendo
calculado mensalmente, correspondente a 20% (vinte por cento) do complemento
PREVI, não considerado sobre o abono anual.

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O Benefício Especial Temporário, foi custeado mensalmente pelo


Fundo de Destinação da Reserva Especial de Participantes e somente foi devido
enquanto existiu saldo suficiente para a cobertura da totalidade dos valores mensais.

Nesse sentido, é indevida a apuração do Benefício Especial


Temporário sobre qualquer aumento de benefício decorrente de ganhos judiciais,
haja vista sua natureza temporária, não prevista no custeio do plano e não
considerada nos cálculos atuarias para a formação do Fundo de Destinação da
Reserva Especial de Participantes, de modo que o reclamante não faz jus a qualquer
tipo de majoração.

3.7- DA IMPUGNAÇÃO AOS PEDIDOS SUCESSIVOS E ACESSÓRIOS

Todos os pedidos do autor estão vinculados ao mesmo fato, de


modo que não sendo devido o principal, ou seja, inexistente culpa, ato ilícito, nexo
causal ou dano, não há o que se falar em qualquer tipo de indenização, pelo que fica
desde já registrada a impugnação também aos pedidos subsidiários da petição inicial.

3.8- DO DESRESPEITO À NORMA DO ART. 373 do CPC

À margem do quanto expendido, há de se notar o complemento


desrespeito à norma processual do art. 373. I, CPC. Realmente, se o autor afirma
que tem direito deve comprovar de forma efetiva a constituição de tal direito, o que não
ocorreu.

Dessa forma, diante da ausência de provas que demonstrem o


direito do autor, deve ser indeferido o pedido.

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3.9- DOS LIMITES DA LIDE – NO CASO DE LIQUIDAÇÃO DOS PEDIDOS NA


INICIAL

No que diz respeito à limitação da condenação aos valores


indicados na inicial, a Instrução Normativa TST Nº 41, DE 21.06.2018, a despeito de
não ter caráter vinculante, fixou parâmetros com intuito de nortear as decisões sobre
temas processuais polêmicos da reforma trabalhista.
Dispôs a IN 41 que para fins do artigo 840, §§ 1º e 2º 8 da CLT o
valor da causa será estimado, observando-se no que couber o disposto nos artigos 291
a 293 do Código de Processo Civil.

O Tribunal Regional da 10ª. Região no Enunciado sobre a Nova


Legislação Trabalhista dispôs, in verbis:

Enunciado n.º 11 – PETIÇÃO INICIAL. VALOR DO PEDIDO.


LIMITAÇÃO DA LIQUIDAÇÃO.A indicação do valor de cada pedido limitará a liquidação
em eventual condenação, nos termos do art. 492 do CPC.

Assim, a despeito dos paramêtros fixados na IN 40 do TST de


natureza não vinculante, a limitação da condenação ao pedido indicado na inicial em
eventual condenação deverá,M ser suscitada na defesa em consonância com os
termos do art. 492 do Código de Processo Civil.

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Art. 840 - A reclamação poderá ser escrita ou verbal.
§ 1o Sendo escrita, a reclamação deverá conter a designação do juízo, a qualificação das partes, a breve
exposição dos fatos de que resulte o dissídio, o pedido, que deverá ser certo, determinado e com
indicação de seu valor, a data e a assinatura do reclamante ou de seu
representante. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017)

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3.10- DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA e DA JUSTIÇA


GRATUITA

De plano impugna-se a declaração de hipossuficiência


apresentada sob Id.046813b. O benefício da Justiça Gratuita, nos termos do parágrafo
3º do artigo 790, deve ser concedido tão-somente para as pessoas que perceberem
salário igual ou inferior a 40% (quarenta por cento) do limite máximo dos benefícios do
regime geral de previdência social, o que não ocorre com o Reclamante, basta uma
breve vista aos extratos do benefício PREVI acostados aos autos, para corroborar, que
o reclamante recebe a quantia limitada pela lei, apenas do INSS, tendo complemento
do valor do benefício:
Agosto de 2022:
Recebimento do INSS R$ 4.676,68
Recebimento Previ R$ 13.960,02

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Conforme folhas de pagamento juntadas aos autos, fica claro


que o autor não se enquadra em tal parâmetro, recebendo muito além do teto do
INSS, pelo que deve ser indeferido tal pedido. Ainda, o autor não demonstra não poder
arcar com as custas do processo, ônus que lhe cabe, ensejando o indeferimento do
pedido obreiro.

Ante isso, não se pode conceber que alguém QUE RECEBE


MAIS DE R$ 15.000,00 (QUINZE MIL REAIS) litigue sob o manto de uma benesse
que deve ser concedida àqueles que comprovem a real necessidade do benefício.

Também vem apresentar impugnação quanto ao pleito de


honorários advocatícios de sucumbência, considerando que se trata de um pedido
acessório, o qual só deverá ser acolhido, caso o principal também o seja.

Ademais, o artigo 791-A da CLT está assim redigido:

“Art. 791-A. Ao advogado, ainda que atue em causa própria,


serão devidos honorários de sucumbência, fixados entre o
mínimo de 5% (cinco por cento) e o máximo de 15% (quinze
por cento) sobre o valor que resultar da liquidação da
sentença, do proveito econômico obtido ou, não sendo
possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa.

Pede-se também que seja observada a alteração promovida pela


lei 13.467/17 (vigência a partir de 11/11/2017), para condenação da parte autora em
honorários no índice de 15% em virtude da sucumbência em caso de improcedência da
ação, e independentemente de deferimento da justiça gratuita em favor da parte
demandante, desde já se impugnando o percentual de 20% constante na inicial.

Em última ratio, que se conceda a sucumbência recíproca, sem


possibilidade de compensação, conforme assim determina o §3º do art. 791-A do CPC,

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caso a ação seja julgada parcialmente procedente, fixando-se o percentual de


honorários, em favor dos patronos da reclamada, sobre a quantia pretendida e não
deferida à parte autora.

No sentido, requer que seja notificado o Reclamante, para que


venha juntar aos autos Cópia da última Declaração de Imposto de Renda própria,
com a finalidade de comprovar que os mesmos possuem bens e recursos financeiros
que lhe permitem sustentar a família, sendo totalmente desprovido de fundamento o
pedido de concessão do benefício da assistência judiciária gratuita;

3.11- DOS DOCUMENTOS ORA ACOSTADOS

Na forma prevista no art. 830, CLT, o advogado do reclamado


declara, sob sua responsabilidade pessoal, que os documentos juntados a esta defesa
são cópias autênticas dos originais.

3.12- DA IMPUGNAÇÃO AOS DOCUMENTOS JUNTADOS PELO AUTOR

Em relação aos documentos juntados pela parte Autora, nenhum


deles induz a qualquer direito quanto a quaisquer de seus pedidos, sendo ampla e
expressamente impugnados.

Impugna-se especificamente a denominada tábua de mortalidade


dos id. 6f1a2d4, eis que não se traduz em documento hábil a demonstrar ao que se
refere o Reclamante, tratando-se meramente de notícia retirada de sítio diverso, sem
citação de fonte ou responsável pelo conteúdo, ainda que supostamente seja a PREVI.
Tais documentos não seguem as disposições do IBGE quanto a tábua de mortalidade
aceita nacionalmente.
Impugna-se também o documento denominado “gastos mensais”
apresentado pelo reclamante, pois desacompanhado de comprovação de pagamentos.

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Impugnados ficam todos os documentos juntados concernentes a


julgamento do REsp 1.312.736-RS , por não se prestarem a fazer prova alguma contra
o Reclamado, tampouco a dar suporte a qualquer pretensão do Reclamante.

4- DOS PEDIDOS

Por todo o exposto, com o costumeiro respeito, pede-se que sejam


acolhidas as preliminares articuladas, determinando-se, assim, a extinção do feito
sem resolução do mérito.

Por todo o exposto, ainda, pede-se que sejam acolhidas as


prejudiciais de mérito, determinando-se, assim, a extinção do feito sem resolução
do mérito.

Não havendo sucesso quanto aos pleitos preliminares, impugna-se


desde já o valor da causa, conforme previsão do art. 337, III, do CPC, considerando
que o valor da ação não corresponde ao valor do benefício requerido, pelo que se
requer que o autor seja notificado para proceder a correção do valor da causa, nos
termos do art. 351 do CPC, sob pena de extinção do feito sem julgamento do
mérito.
Ultrapassados todos os pedidos preliminares, e caso se alcance o
mérito da ação, requer-se que todos os pedidos alinhavados na petição inicial sejam
julgados improcedentes, nos termos deduzidos ao longo dessa peça de defesa.

Mantido o valor da ação em R$ 60.000,00, o que não se espera,


pede-se que seja estabelecido esse valor como o máximo possível para condenação,

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considerando o princípio da adstrição do Juiz aos limites da lide 9 , a fim de trazer


segurança jurídica.

Ainda como pedido subsidiário, em caso de fixação de indenização,


propugna a observância da paridade existente entre patrocinador e segurado, bem
como que o eventual ressarcimento a ser apurado se limite a diferença de cota parte
patronal, sob pena de contrariedade do disposto no art. 202, §§ 2º e 3º da CF,
considerando que a metade dos valores base para a composição da reserva
matemática decorrem de contribuições do próprio reclamante, de forma que, no máximo,
este faria jus apenas à 50 % do valor.

Nessa esteira, ad cautelam, caso Vossa Excelência entenda ser


devida a indenização pleiteada, o que não se espera, pede-se que seja aplicado o
instituto da compensação relativamente aos valores pagos, ainda que posteriores a
esta ação, como a complementação de aposentadoria da previdência privada – PREVI
e benefícios do INSS, tanto para as prestações vencidas quanto para as vincendas,
considerando-se a mesma natureza.

Além disso, em caso de condenação, deve ser reservado o direito do


reclamado em realizar os cálculos de aposentadoria na fase de execução, considerando
os termos do regulamento previdenciário aplicável à época da aposentadoria, bem ainda,
em realizar o pagamento em parcela única, nos termos do parágrafo único do
artigo 950 do Código Civil, com o devido arbitramento do deságio, não
inferior a 30%, levando em voga, para tanto, a antecipação do crédito e o
princípio da razoabilidade.

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Art. 141. O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe vedado conhecer de
questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte.
Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a
parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado.
Parágrafo único. A decisão deve ser certa, ainda que resolva relação jurídica condicional.

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Em caso de improcedência da ação e independentemente de


deferimento da justiça gratuita em favor da parte demandante, requer-se, nos termos do
art. 791-A da CLT, a condenação da parte autora ao pagamento de honorários
advocatícios de sucumbência, no índice de 15% sobre o valor do proveito econômico
requerido na petição inicial, a ser apurado em eventual fase de liquidação, em favor dos
patronos da parte reclamada.

Conforme acima requerido, no ensejo de produção de prova


visando a impugnação ao pedido de AJG, requer seja determinado que o Reclamante
junte aos autos a sua última declaração completa de imposto de renda, sob pena de
indeferimento do pedido.

Finalmente, protesta e requer provar o alegado pelos meios de


prova em direito admitidas, sem qualquer exceção, em especial por juntada de novos
documentos e perícias.

Nestes termos, pede


DEFERIMENTO

Passo Fundo, 24 de abril de 2023.

Lidiane S. Silva Azaf M. Melo Barbosa


OAB/RS 87/931 Estagiário de Direito

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