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ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

PODER JUDICIÁRIO
FORUM DE VITÓRIA
SEXTA VARA CÍVEL DO JUÍZO DE VITÓRIA

PROCESSO: 024.040.178.311
NATUREZA: A/AO ORDINÁRIA
AUTOR: GERALDO TEIXEIRA FARIA
RÉU: FEMCO — FUNDACAO COSIPA DE SEGURIDADE
SOCIAL

SENTENCA
Vistos etc.

GERALDO TEIXEIRA FARIA, qualificado as


fls. 03, ajuizaram a presente A+AO ORDINÁRIA, em face
de FEMCO — FUNDA/AO COSIPA DE SEGURIDADE
SOCIAL, qualificado as fls. 03, pelas razões de fato e de
direito aduzidas na petição inicial, requer seja deferido o
beneficio da gratuidade de justiça; seja determinado ao réu
que exiba todos os comprovantes de pagamento do benefício
do autor e, ao final seja, o réu condenado ao pagamento das
verbas devidas ao autor a título de previdência privada,
parcelas vencidas e vincendas, com juros e correções

PRocEsso N. 024.04
'lARA

2 ;
Fts+~~ Q l

monetárias bem como no pagamento das custas, des~esasstatPaai


processuais e honorários advocatícios.
Com a inicial vieram os documentos
acostados âs fls. 05/11.
0 benefício da gratuidade da justiça foi
deferido pelo despacho de fls. 13.
Citado, o Réu: FEMCO - FUNDAÇAO
COSIPA DE SEGURIDADE SOCIAL, o fereceu sua
contestação através da petição acostada âs fls. 16/101,
alegando, em síntese, as preliminares referentes a coisa
julgada, incompetência absoluta; ilegitimidade da parte; da
denunciação da lide e do chamamento ao processo; da
curadoria das Fundações; inexistência da relação de consumo
e, no mérito, alega o desrespeito absoluto da COFAVI ao
pactuado e as medidas tomadas pela FEMCO para proteger os
interesses dos participantes; parecer da Secretaria de
Previdência complementar; impossibilidade de continuar-se
pagando os benefícios ante a situação apresentada; litigância
de má-fé; ocorrência de força maior. Factum principis.
Onerosidade excessiva. Clausula rebus sic standibus. Teoria
da imprevisão; eventual responsabilidade subsidiária da
FEMCO; prescrição e ao final, requer sejam acolhidas as
preliminares argiiidas e, caso superadas, requer a ação seja
julgada totalmente improcedente e ainda, seja o autor
condenado no pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios.
Com a contestação, juntou os
documentos acostado âs fls. 102/488.
Réplica as fls. 491/492.
Audiência de conciliação designada âs
fls. 493.
Vieram-me os autos conclusos.
É o relatório.

DECIDO.

pRocEsso N.'2
~~ -.,5
.,C,

iV'rata-se
de AÇAO ORD~Rki~a
visando a condenação do réu no pagamento das verbas(
devidas ao autor a título de complementação de
aposentadoria.
Julgo antecipadamente a lide porque a
questão é de direito e não desafia a produção de prova em
audiência.
Rejeito a preliminar referente â coisa
julgada; porque, lá na Justiça do Trabalho foi decidida ação
trabalhista relativa a relação de trabalho entre o autor e a
COFAVI, aqui, busca dirimir a controvérsia sobre o direito
do autor de receber a verba da aposentadoria complementar.
Posto isto, rejeito esta preliminar.
Rejeito a preliminar referente a
incompetência absoluta e competência de Justiça Federal;
porque somente é competente a Justiça Federal para processar
e julgar as causas previstas no art. 109, incisos I ao IX da
Constituição Federal e a FEMCO não está inserida nos
dispositivos constitucionais referidos.
Posto isto, rejeito esta preliminar.
Alega o réu a preliminar referente a
ilegitimidade da parte sob o fundamento de que a relação
jurídica, in casu, existe somente entre a COFAVI e o autor,
no máximo com a participação da União no pólo passivo da
demanda, seja na condição de litisconsórcio necessário, seja
na condição de assistente da correta demanda.
Rejeito a preliminar supra; porque a
União não se caracteriza nas condições previstas no artigo 47
do CP C e, logo, não pode assumir a condição de
litisconsórcio necessário. Que interesse teria a União?
Também, a União não pode ser
assistente, por não ter interesse jurídico e não preencher os
requisitos inseridos no art. 50 do CPC.
Posto isto, rejeito a preliminar.
Requer o réu a denunciação da lide e
do chamamento ao processo da COFAVI, alegando que, por
força do estabelecido no convênio de adesão e a teor das

pRocEsso N. 024.04
disposições contidas na Lei 6435/77 e na Lei Complem
109/2001.
¹o há razão jurídica para a
denunciação da lide e nem para o chamamento ao processo;
porque o autor é aposentado e não tem nenhuma relação de
trabalho ou jurídica com a COFAVI. Sua relação processual e
jurídica é diretamente com o réu e, por se tratar de verba de
natureza alimentícia, não pode vincular seu direito ao
interesse de uma empresa falida.
¹o estão caracterizados os requisitos
inseridos no art. 70 e incisos I ao III do CPC.
De outro lado, não há razão jurídica
para o chamamento ao processo da COFAVI; porque ela não
se caracteriza nos requisitos inseridos no art. 77 e incisos I ao
III do CPC; porque o autor é aposentado pelo réu.
Posto isto, indefiro a preliminar
referente a denunciação da lide e do chamamento ao
processo.
Também, não há aqui a necessidade da
Curadoria das funções; porque as partes são capazes, estão
bem representadas e não há interesse público a ser defendido.
Posto isto, indefiro o pedido de
intervenção do Órgão do Ministério Público,
Da prova colhida nos autos, restou
provado que o autor laborou diversos anos para a empresa
COFAVI — CIA FERRO E AÇO DE VITÓRIA e, durante
todo o tempo, sofreu descontos nos seus contracheques,
mensalmente, descontos esses, em favor do réu desta ação,
que é uma entidade fechada de Previdência Privada
patrocinada pela COFAVI e pela COSIPA, para garantir a
complementação das aposentadorias de seus empregados
aposentados pelo INSS.
Ao se aposentar, o autor passou a fazer
jus â suplementação de sua aposentadoria que é justamente a
diferença entre o valor de sua aposentadoria na previdência
social e o valor de seu salário total, quando em atividade,
valor este sempre corrigido, para manter os valores da

pRocEsso N.'
VARA

aposentadoria nos mesmos valores dos funcionários


atividade do exercício de funções iguais, por dir
'to'dquirido
liquido e certo.
A COFAVI faliu e, após a sua falência,
o réu passou a não pagar corretamente a verba de
complementação da aposentadoria do autor, tendo, a final,
suspenso o pagamento da complementação da aposentadoria
devida ao autor.
Em sua contestação, o réu esclarece
que:
"Por serem Entidades Fechadas de
Previdência Complementar, sem fins lucrativos, e por
encontrarem subordinadas a legislação supra mencionada,
têm, assim, como única receita as contribuições mensais
dos participantes (empregados), e as contribuições mensais
das patrocinadoras (empregadoras), conforme a
terminologia utilizada pela ahnea "a", inciso I, do artigo 4,
da referida Lei n. 6435/77.
As entidades fechadas de previdência
complementar, portanto, administram os fundos
constituídos mediante a orientação e a fiscalização do
Orgão Ministerial competente, qual seja, a Secretaria de
Previdência Complementar (cf: artigo 35 da Lei n.
6435/77), contabilizando de forma isolada, as operações
ativas e passivas decorrentes do mesmo, conforme
evidenciam, no caso, os inclusos Pareceres dos Auditores
Independentes e Balanço apresentado pelo Atuário Externo
(documentos anexos).
Tal fato, impede que ocorra a
comunicação entre os fundos de Patrocinadoras diversas,
aflorando, destarte, a inexistência de solidariedade, salvo
na hipótese, e desde que convencionado, de um mesmo
Fundo com Multipatrocinadoras".

pRocEsso N.'2
Muito embora a contabilidade d sp~y
fundos seja feita separadamente, este fato não exime o réu ae
cumprir com suas obrigações sociais assumidas com o
trabalhador; porque este, quando empregado, faz um contrato
com a entidade fechada de previdência complementar,
aderindo ao fundo de previdência social privada
complementar e passa a contribuir mensalmente até se
aposentar. Com sua aposentadoria por tempo de serviço na
Previdência Social Pública, adquire o trabalhador aposentado
o direito líquido e certo de receber a aposentadoria
complementar, encerrando, assim, sua obrigação de contribuir
e, em consequência, tem o direito de receber a
complementação até a morte.
0 fato da empresa contribuinte ter tido
sua falência decretada é irrelevante. 0 direito do trabalhador
já aposentado persiste e, em consequência, persiste o dever de
entidade fechada de previdência complementar de efetuar,
regularmente, os pagamentos da complementação; porque,
quando contratou com o trabalhador não estabeleceu a
condição de suspender o pagamento da complementação da
aposentadoria, caso ocorresse a falência da empresa; logo,
não havendo condição suspensiva, a conseqiiência jurídica é
a o pagamento contínuo da complementação. Saia de onde
sair o recurso financeiro.
A ré, pessoa jurídica de direito privado,
de fins previdênciários, assistenciais e não lucrativos, tem o
dever jurídico de cumprir o contrato que celebra com os
contribuintes, pessoa física, independentemente do que vier a
acontecer com a pessoa jurídica patrocinadora aderente. ¹o
existe a condição do beneficio complementar ser suspenso, na
hipótese de ocorrer a falência da pessoa jurídica
patrocinadora.
Se ela não tem como pagar as
aposentadorias complementares, deverá propor sua própria
falência. 0 fato de ser feita a contabilidade de cada fundo
isoladamente é irrelevante; porque, quem deve pagar a

pRocEsso N.'24.
7 i". 7I
t i,l!

aposentadoria complementar não é o fado; mas a end~


ré.
E, também, irrelevante o fato da
COFAVI ter firmado convênio de adesão com a FEMCO, já
existente a tempos e mantido, unicamente, pela COSIPA e
seus funcionários. 0 certo é que, a partir do momento da
adesão, isto a mais de vinte anos, a ré passou a ser a entidade
de seguridade complementar dos funcionários da COFAVI e,
portanto, com a obrigação de pagar as aposentadorias
complementares dos empregados aposentados, por ter sido
um acordo de vontades livremente contratado pelas partes.
Como j á afirmado, a separação da contabilidade foi
irrelevante; porque uma coisa é o contrato entre a COFAUI e
a FEMCO, outra coisa é a obrigação assumida pela FEMCO
para os trabalhadores. A inadimplência da COFAVI não pode
atingir aos aposentados. Cabe a FEMCO promover a
cobrança dos seus créditos, sem o prejuízo dos aposentados;
porque a aposentadoria complementar tem natureza
alimentícia e ninguém poderá viver seus alimentos.
Ora! Onde estão os recursos da
contribuição dos aposentados durante suas vidas laborativas?
Cadê o patrimônio dos aposentados? Somente o réu poderá
receber.
¹o importa que o fundo tenha
apresentado valor negativo, não foi o funcionário aposentado
que o negativou. Se o réu tem crédito com a COFAVI, cabe a
ele usar da ação adequada e receber seus créditos.
Na verdade, não se trata de relação de
consumo. A relação aqui é de um aposentado, com sua
previdência complementar, da qual se cobra o pagamento de
aposentadoria complementar, sujo crédito se caracteriza como
verba alimentícia que goza de preferência com outros
créditos.
0 réu, somente, estará impossibilitado
de continuar pagando os benefícios da aposentadoria
complementar, no dia em que requerer sua auto falência. Fora
isso, terá que pagar os benefícios devidos a todos os

pRocEsso N.'24.04
k '7j

aposentados; porque as contribuições que os aposenta


pagaram durante o tempo de serviço representam o seu
patrimônio e cabe ao réu descobrir onde está o patrimônio do
autor.
Fica afastado o pedido de litigância de
má-fé; porque o autor está litigando de boa-fé os seus direitos
liquido e certo. Está a procura de verba de natureza alimentar
advindo da renda mensal do patrimônio que formou durante
sua vida de trabalho.
Também, rejeito a tese da ocorrência de
força maior. Factum principis. Onerosidade excessiva.
Cláusula rebus sic standibus. Teoria da imprevisão e faço-o;
porque o réu cumpriu sua parte no contrato, contribuindo
durante sua vida trabalhista e, agora, aposentado precisa
gozar da renda de seu patrimônio.
Nessa linha de pensamento, não causou
o réu onerosidade excessiva e nem outro fenômeno que possa
dar suporte a Teoria da Imprevisão.
Fica, pois, rejeitada a tese da Teoria da
Imprevisão
Em relação ao autor, não vislumbro
responsabilidade subsidiária da COFAVI, quanto ao
pagamento da aposentadoria complementar do autor.
posto isto, rejeito esta tese.
Acolho a tese referente a prescrição
quinquenal de parcelas de complementação de aposentadoria,
com base na Súmula n. 291 do STJ.
Desse modo, considerando que a ação
foi ajuizada em 266/08/2004, estão prescritos todos os
créditos referentes â parcela de complementações anteriores a
26/08/1999.
Acolhida a prescrição quinquenal, fica
rejeitada todos os demais itens da teses exposta pelo réu, por
falta de amparo legal e suporte jurídico.
Revogo o despacho de fls. 493 que
designou audiência preliminar, por ser o ato desnecessário,
após melhor exame.

vaoczsso x.'24.
Posto isto, julgo procedente o pedid
formulado na petição inicial pelo autor, para condenar..o réu
no pagamento das verbas devidas ao título de previdência
privada, parcelas vencidas e vincendas, acrescidas de juros de
0,5% ao mês até 1 1/01/2003 e 1% ao mês a partir desta data e
correção monetária pelo índice do INPC.
Condeno-o, mais, no pagamento das
custas processuais e honorários advocatícios que arbitro em
15% (quinze por cento) sobre o valor da condenação.
Publique-se.
Registre-se.
Int i mem - se.
de 2006.

AZ
TO

pRocEsso N." 024.040. 178.3 1 1

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