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AO 5º JUIZADO ESPECIAL DE FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE NITE-

RÓI/RJ.

AUTOS Nº

, já qualificada nos autos, vem respeitosamente, à presença deste juízo, por


intermédio de sua procuradora signatária, tempestivamente, nos termos dos art. 41
e seguintes da Lei 9.099/95, interpor o presente:

RECURSO INOMINADO

em face da respeitável Sentença que julgou improcedente em parte os pedi-


dos formulados nos autos da ação em epígrafe, com as razões anexas, requerendo
que as mesmas sejam remetidas à Colenda Turma Recursal do Egrégio Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro.

Requer ainda, o recebimento do presente recurso sob assistência judiciária, já


que a Autora está impossibilitada de pagar as custas desta ação sem prejuízo de seu
sustento. Em atenção ao princípio da colaboração recursal, requer-se a intimação do
Recorrente para sanar eventual irregularidade que obsta o recebimento do recurso.

Nestes termos, pede deferimento.

Rio Bonito/ RJ para Niterói/RJ, 30 de janeiro de 2024.


EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

COLENDA TURMA RECURSAL

EMÉRITOS JULGADORES

RAZÕES DE RECURSO INOMINADO

RECORRENTE:

RECORRIDO:

I – DA TEMPESTIVIDADE

Considerando ter sido esta patronesse intimada tacitamente da sentença


ora guerreada em 15/12/2023, tornado seu termo a quo em 16/12/2023, e conside-
rando a suspensão e interrupção dos prazos com base no artigo 220, do CPC, tem-
se por tempestivo o presente recurso.

II - DOS FATOS E DA SENTENÇA RECORRIDA

Em síntese, autora foi servidora pública municipal ocupante do cargo de pro-


fessora desde 06/2002, tendo obtido a concessão da aposentadoria em 06/2014, a
qual foi anulada, diante da identificação de acúmulo indevido com outros vínculos
públicos, um no Município de Macaé e outro no município de Niterói.

Ato continuo, optou pelo desligamento junto ao Município de Rio Bonito, a


fim de cessar demanda junto ao TCE/RJ. Tendo por fim, requerido a sua a certidão
com aproveitamento do tempo de contribuição integral porém sendo negada pela
autarquia recorrida. Requerendo assim, a emissão da certidão de tempo de contri-
buição e condenação por danos morais.

Trata-se de Recurso Inominado interposto pela parte Recorrente ante a sen-


tença a quo ID 90273931 às fls. 52, que julgou improcedente em o pedido de inde-
nização por danos morais, nos seguintes termos:
Portanto, diante dos efeitos retroativos decorrentes da anulação da
aposentadoria por ilegalidade do ato, reputa-se perfeitamente cabível
o acolhimento da pretensão inicial concernente à emissão da certidão
de tempo contribuição integral, eis que se trata de hipótese diversa
daquela supramencionada.

Todavia, no que tange ao pedido indenizatório a título de danos mo-


rais, não se verifica prova quanto à existência de ofensa aos direitos
imateriais da parte autora, estando ausentes os requisitos ensejadores
da responsabilidade civil e, por conseguinte, o dever de indenizar.

Pelo exposto, JULGO PROCEDENTE O PEDIDO formulado por GAR-


ROLICI DE FATIMA PEIXOTO DE ALVARENG em desfavor do INSTI-
TUTO DE PREVIDENCIA DOS SERVIDORES MUNICIPAIS DE RIO BO-
NITO, para determinar que o Réu emita a Certidão de Tempo de
Contribuição em que conste o tempo de contribuição/serviço in-
tegral da parte autora, computando-se aquele utilizado para fins
de concessão da extinta aposentadoria; e JULGO IMPROCE-
DENTE O PEDIDO da parte autora quanto aos danos morais, ex-
tinguindo o feito com resolução de mérito, com base no art. 487,
I do CPC.

Com efeito, em que pese o inquestionável saber do eminente Julgador, a


decisão merece reforma, conforme será exposto adiante.

III - DA JUSTIÇA GRATUITA:

A Recorrente pleiteia os benefícios da JUSTIÇA GRATUITA, assegurados pela


Lei nº 1060/50 e consoante o art. 98, caput, do novo CPC/2015.

Infere-se dos artigos supracitados que qualquer uma das partes no processo
pode usufruir do benefício da justiça gratuita. Logo, a Recorrente faz jus ao benefício,
haja vista não ter condições de arcar com as despesas do processo sem prejuízo de
sua mantença.
Mister frisar, ainda, que em conformidade com o art. 99, § 1º, do novo
CPC/2015, o pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado por petição sim-
ples e durante o curso do processo, tendo em vista a possibilidade de se requerer
em qualquer tempo e grau de jurisdição os benefícios da justiça gratuita, ante a alte-
ração do status econômico.

Ainda sobre a gratuidade a que tem direito, o novo Código Instrumentalista


dispõe em seu art. 99, § 3º, que “presume-se verdadeira a alegação de insuficiência
deduzida exclusivamente por pessoa natural”. Assim, à pessoa natural basta a mera
alegação de insuficiência de recursos, sendo desnecessária, num primeiro momento,
a produção de provas da hipossuficiência financeira.

Assim, ex positis, pois, requer-se os benefícios da assistência judiciária gra-


tuita.

IV – DAS RAZÕES PARA A REFORMA DA SENTENÇA

O ponto nodal do debate limita-se ao exame da existência, ou não, do dever


de indenizar recorrida. Isso, sobremaneira, porquanto a sentença guerreada se fun-
damenta na inexistência de dano moral, ocorrendo, tão só, fato trivial do cotidiano
humano.

Prima facie, urge asseverar que a situação em espécie ultrapassa, e muito, o


mero aborrecimento, o simples dissabor. Do enredo, descrito na exordial, da prova
carreada, vê-se que houve longa espera até que pudesse obter a concessão em um
processo judicial para a emissão da certidão de tempo de contribuição que é seu
direito por lei, e ratificado na decisão prolatada nestes autos.

Para além disso, inúmeros outros contratempos e desconfortos, como a quan-


tidade exaustiva de tentativa de solucionar o problema junto autarquia recorrida,
lembrando ainda que a autora trata-se de pessoa idosa.

Assim, inquestionável que isso, per se, converte-se em gravidade, suficiente a


causar desequilíbrio emocional, afetando o bem-estar, máxime com relevante
sofrimento psicológico. Sendo o ensejo de danos morais por todo o abalo sofrido
em meio desta situação desnecessária.

Noutro giro, apesar disso, a recorrida não disponibilizou qualquer suporte. É


dizer, não tivera o mínimo de zelo, de respeito, com todos os servidores deste muni-
cípio. Nesse passo, não se trata, como revelado no decisum, de transtorno do cotidi-
ano. Dessarte, faz jus à reparação por dano moral.

Nessa mesma ordem de ideias, apregoam Flávio Tartuce e Daniel Amorim As-
sumpção Neves, ad litteram:

Assim, deve-se atentar para a louvável ampliação dos casos de dano moral,
em que está presente um aborrecimento relevante, notadamente pela perda
do tempo útil. Essa ampliação de situações danosas, inconcebíveis no pas-
sado, representa um caminhar para a reflexão da responsabilidade civil sem
dano, na nossa opinião. Como bem exposto por Vitor Guglinski, “a ocorrência
sucessiva e acintosa de mau atendimento ao consumidor, gerando a perda
de tempo útil, tem levado a jurisprudência a dar seus primeiros passos para
solucionar os dissabores experimentados por milhares de consumidores, pas-
sando a admitir a reparação civil pela perda do tempo livre...

Nessa esteira, inclusive, é o entendimento jurisprudencial:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. REMESSA NECESSÁRIA. MANDADO DE SEGU-


RANÇA. DIREITO LÍQUIDO E CERTO. OBTENÇÃO DE CERTIDÃO DE TEMPO
DE CONTRIBUIÇÃO. Nos termos dos arts. 5º , LXIX , da CF/88 e 1º da Lei
12.016 /09, conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito lí-
quido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre
que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica
sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade
pública. O impetrante possui direito líquido e certo em obter a Certidão de
Tempo de Contribuição (CTC), nos termos do art. 5º , XXXIV , b , da CR/88 ,
que preceitua como Direito Fundamental de todo cidadão, independente-
mente do pagamento de taxas, a obtenção de certidões em repartições pú-
blicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse
pessoal. v.v REMESSA NECESSÁRIA E APELAÇÃO CÍVEL - MANDADO DE SE-
GURANÇA - EXPEDIÇÃO DE CERTIDÃO DE TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO -
SERVIDOR ATIVO - DIREITO LÍQUIDO E CERTO - NÃO DEMONSTRADO. 1.
A Medida Provisória nº 871 /2019, convertida na Lei 13.846 /2019, alterou o
inciso VI do art. 96 da Lei 8.213 /91, limitando a expedição da Certidão de
Tempo de Contribuição (CTC) por regime próprio de previdência a ex-servi-
dores. 2. A negativa de emissão da Certidão de Tempo de Contribuição
(CTC) a ex-servidores tem como objetivo coibir o aproveitamento do tempo
de serviço trabalhado em um único regime para a concessão de benefícios
em regimes previdenciários distintos. 3. A Certidão de Tempo de Contribui-
ção (CTC) tem a finalidade específica de migrar tempo de contribuição de
um ente público para o outro, ocasionando posterior compensação finan-
ceira entre regimes previdenciários.
MANDADO DE SEGURANÇA. CABIMENTO. NEGATIVA DO ESTADO NO
FORNECIMENTO DE CERTIDÃO DE TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO PARA FINS
DE APOSENTADORIA. ARTIGO 5º , XXXIII , DA CF/88 . DIREITO LÍQUIDO E
CERTO VERIFICADO. SEGURANÇA CONCEDIDA. DECISÃO UNÂNIME. 1.
Trata-se de ação mandamental, na qual a impetrante busca obter Certidão
de Tempo de Contribuição - CTC, nos moldes da Portaria do MPS nº
154/2008, para fins aposentadoria. 2. Denota-se dos autos, que a autora re-
quereu, desde 2018, junto ao órgão competente, a certidão de tempo de
contribuição, a qual não foi fornecida até a presente data, sem apresentação
de qualquer justificativa, O QUE AUTORIZA A UTILIZAÇÃO DO MANDADO
DE SEGURANÇA. 3. Intimados para prestarem informações no presente man-
damus, os impetrados quedaram-se inertes, limitando-se o Estado de Per-
nambuco a aduzir, em síntese, "encontrar-se em curso o procedimento licita-
tório da nova empresa que ficará responsável pela guarda e conservação da
documentação dos ex-servidores estaduais, tão logo seja concluída a licita-
ção, será prontamente emitida a certidão requerida pela impetrante", bem
como haver legalidade na recusa da administração em fornecer certidões,
quando não constar as razões do pedido. 4. A burocracia do sistema interno
do Estado de Pernambuco não pode representar entrave ao fornecimento
da referida CERTIDÃO, tendo, ainda, a proponente apresentado os motivos
da sua solicitação (aposentadoria). 5. É direito de todo cidadão ter acesso às
informações sobre sua pessoa, constante em registros públicos, consoante
previsão constitucional, disposta no artigo 5º, incisos XXXIII e XXXIV b.5. Evi-
denciado o direito líquido e certo à certidão solicitada. 6. Entendimento do
STF. 7. Segurança concedida. 8. Decisão Unânime.

V - DO DANO MORAL

Com efeito, são evidentes os transtornos, a dor e o abalo sofridos pela autora,
obrigando-a a sujeitar-se à via judicial com os percalços e vicissitudes inerentes para
pleitear o seu direito. Ademais, não há que se falar em caprichos ou meros aborreci-
mentos passageiros, já que a conduta da ré, ocasiona uma dor superior àquela que
deve suportar o homem médio, inclusive. Sobre o assunto, vejam-se os seguintes jul-
gados:

“CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DE-


MORA NA CONCESSÃO DE APOSENTADORIA A PROFESSOR DO ENSINO MÉ-
DIO. INEFICIÊNCIA COMPROVADA. DANO MORAL CARACTERIZADO. DEVER
DE INDENIZAR. VALOR RAZOÁVEL. 1. A Responsabilidade objetiva baseia-se na
teoria do risco administrativo, dentro da qual basta a prova da ação, do dano e de
um nexo de causa e efeito entre ambos para surgir o direito à indenização, sendo,
porém, possível excluir a responsabilidade em caso de culpa exclusiva da vítima,
de terceiro ou ainda em caso fortuito e força maior. 2. Hipótese em que a Adminis-
tração levou cerca de um ano e oito meses para deferir o pedido de aposentadoria,
o que se constitui verdadeiro absurdo. Mesmo que o processo tenha apresentado
algum grau de complexidade, como alegado pela União, é evidente que a Autora
não poderia ser obrigada a laborar mais 01 ano e oito meses contra sua vontade,
ainda que tenha sido remunerada para tanto. As supostas dificuldades encontradas
na tramitação do processo concessório (progressão funcional, vínculos diversos,
dentre outros), estão dentro do campo da previsibilidade administrativa, não po-
dendo ser erigidas como justificativa para o ineficiente serviço prestado. 3. Não es-
pecificou a autora a natureza do dano que diz ter sofrido. No contexto dos autos,
deve-se entender que se trata apenas de danos morais, pois os danos materiais,
em casos desta ordem, são devidos a título de lucros cessantes, os quais não foram
alegados e nem provados. 4. O dano moral, por sua vez, restou bem caracterizado,
pois Autora foi obrigada a trabalhar quando já poderia estar em gozo de aposen-
tadoria. A longa duração do processo administrativo causou, por certo, muito mais
que mero dissabor, frustrou a expectativa da servidora em usufruir dos benefícios
de sua aposentadoria, dentre os quais o legítimo descanso pelos vinte e cinco anos
laborados na docência de nível médio, atividade que o próprio legislador consti-
tuinte reconhece como mais penosa. 5. Considerando as peculiaridades do caso,
em que a Autora, professora com proventos de aposentadoria no valor de
R$1.722,17, sofreu grande frustração diante da grave falha do serviço da
União, entendo razoável fixar o valor da indenização a título de danos morais
no importe de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), pois referida quantia não pode ser
irrisória e nem deve ensejar enriquecimento sem causa. 6. Apelação parcialmente
provida.” (TRF 1ª Região, 5ª Turma, AC 200141000032259, Rel. Des. Fed. PEDRO
FRANCISCO DA SILVA, DJ-e 31/07/2009). (grifo nosso)

O art. 5º, XLIX, da CRFB, prevê que é assegurado respeito à integridade física
e moral do preso. O art. 37, § 6º, da CRFB, fixa as balizas da responsabilidade civil do
Estado pelos danos causados aos particulares.

No mesmo sentido, o art. 43 do Código Civil, determina que as pessoas jurídi-


cas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes
que nessa qualidade causem danos a terceiros.

Os citados artigos consagram a responsabilidade objetiva do Estado, ado-


tando a teoria do risco administrativo, de modo que não é necessário a demonstra-
ção de dolo ou culpa para haver o direito à reparação dos danos sofridos da ação
estatal, bastando a demonstração da conduta, o dano e o nexo de causalidade entre
estes.

A doutrina entende que a teoria da responsabilidade objetiva tem aplicação


nos atos comissivos do Estado, sendo que na omissão, entende-se que haveria res-
ponsabilidade subjetiva, devendo o particular demonstrar o dolo ou a culpa estatal.

No entanto, há precedentes dos Tribunais Superiores de que quando a custó-


dia de bens e de pessoas estiverem sob a responsabilidade do Estado, somente será
necessária a demonstração da conduta, o dano e o nexo de causalidade entre estes,
nos moldes da responsabilidade objetiva. Sendo esta, portanto, a teoria a ser apli-
cada nos autos.

VI - DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer-se:

a) A aplicação dos benefícios da assistência judiciária gratuita à Recorrente;

b) O conhecimento e provimento do presente recurso para fins de reforma


em parte da sentença recorrida e julgar integralmente procedente o pedido de DA-
NOS MORAIS no quantum de R$10.000,00 (dez mil reais) formulados na inicial, nos
termos da fundamentação;

c) A condenação da Recorrida ao pagamento de honorários advocatícios su-


cumbenciais.

Nesses termos, pede deferimento.

Rio Bonito/RJ para Niterói/RJ, 30 de Janeiro de 2024.

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