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parcial da dívida, determinando, assim, que o réu proceda com a revisão do saldo
devedor do cartão de crédito, implementando o recálculo desta verba conforme contrato
padrão de crédito pessoal consignado da instituição financeira, devendo este utilizar a
taxa de juros mais vantajosa ao consumidor dentre as disponíveis aos clientes para o
produto, e respeitar a margem consignável da parte autora, permitindo-se a
compensação dos valores disponibilizados pelos saques/ compras, devidamente
atualizados, desde que tenham sido utilizados nos 5 (cinco) anos anteriores à
propositura da ação, com o valor do dano material; (iii) condenar a instituição financeira
a reparar os danos materiais, cujo montante aferido será aplicada a dobra pela repetição
do indébito mais os juros de mora, à taxa de 1% a.m. (um por cento ao mês), a contar da
data de vencimento das faturas (art. 397 do Código Civil), e a correção monetária, com
base no INPC/IBGE, desde a data de cada desconto indevido (efetivo prejuízo, súmula
43 do STJ), ambos até o dia da citação, momento a partir do qual deverá incidir
unicamente a taxa Selic; (iv) condenação da instituição bancária na obrigação de pagar
danos morais no importe de R$2.000,00 (dois mil reais), acrescidos dos juros de mora
fixados à taxa de 1% a.m. (um por cento ao mês), a contar da data de vencimento da
fatura mais antiga não atingida pela prescrição (art. 397 do Código Civil c/c art. 161,
§1º do CTN), até a data em que passa a incidir a correção monetária, a partir do
arbitramento da indenização pela sentença, consoante disposto pela súmula 362 do STJ,
passando a ser aplicado unicamente o índice Selic, que compreende tanto os juros
quanto a correção monetária, até o efetivo pagamento e, (v) por fim, condenar o réu no
pagamento das custas processuais e de honorários advocatícios, estes em importe
equivalente a 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação.
Maceió, data da assinatura eletrônica.
Desembargadora Elisabeth Carvalho Nascimento
Relatora
RELATÓRIO
Trata-se de apelação cível interposto por Sueli Moura Costa Ribeiro em face
de sentença proferida pelo Juízo de Direito da 7ª Vara Cível da Capital (fls.230/233), a
qual julgou totalmente improcedentes os pleitos autorais, condenando a parte autora ao
pagamento de custas processuais e honorários advocatícios, estes arbitrados em 10%
(dez por cento) sobre o valor da causa, com exigibilidade suspensa, tendo em vista a
concessão dos benefícios da justiça gratuita.
VOTO
Como dito anteriormente, a relação que envolve as partes diz respeito à relação
de consumo e isso implica dizer que a responsabilidade civil a ser aplicada ao caso em
testilha é a objetiva, por ser a regra estabelecida pelo art. 14 da Lei n.º 8.078/1990, que,
como visto, é a norma de regência a ser aplicada no presente feito, in verbis: "O
fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e
riscos".
In casu, a parte autora aderiu a uma espécie contratual que vem sendo objeto
de diversas demandas junto ao Judiciário, em decorrência da qual a instituição bancária
fornece um cartão de crédito, cujos valores são, apenas em parte, adimplidos mediante
consignação em folha de pagamento.
A par disso, não resta dúvida de que essa espécie contratual revela uma
modalidade costumeiramente denominada "venda casada", prática reprimida pelo art.
39, inciso I do Código de Defesa do Consumidor, de acordo com o qual "É vedado ao
fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: I - condicionar o
Além disso, as diversas demandas que vêm sendo ajuizadas com base nessa
espécie de "contrato de cartão de crédito consignado" evidenciam um fato comum que
não pode ser ignorado, qual seja, o de que, muitas vezes, são firmados por pessoas
idosas, o que significa dizer que as avenças vêm atingindo grupo social hiper-
vulnerável, cuja vulnerabilidade se apresenta em dois aspectos principais: "a) a
diminuição ou perda de determinadas aptidões físicas ou intelectuais que o torna ainda
mais suscetível e débil em relação à atuação negocial dos fornecedores; b) a necessidade
e catividade em relação a determinados produtos ou serviços no mercado de consumo,
que o coloca em situação de dependência em relação aos seus fornecedores".2
Dessa forma, fica clara a violação, por parte da instituição financeira, da boa-fé
objetiva que deve pautar as relações consumeristas. Nesse sentido, é o escólio de Bruno
Miragem, quando assevera que "o princípio da boa-fé objetiva implica a exigência nas
relações jurídicas do respeito e da lealdade com o outro sujeito da relação, impondo um
dever de correção e fidelidade, assim como o respeito às expectativas legítimas geradas
2
MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito do Consumidor 5ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p.
128.
no outro". 3
3
MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito do Consumidor 5ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p.
134.
4 MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito do Consumidor 5ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p.
135.
Entendo que este julgamento não é extra petita/ultra petita por ter convertido
o contrato em empréstimo consignado comum. Ora, se a sentença considera ilegal a
contratação como feita pela instituição financeira, não haveria como julgar
improcedente a demanda e deixar o quanto pactuado. De outra parte, não haveria como
declarar a inexistência da dívida e determinar a devolução de valores porque há prova
da utilização do cartão para saques e compras e ainda alegação de que a parte autora
pretendia obter empréstimo consignado comum, de modo que acolher o pedido de
inexistência de toda a dívida implicaria em enriquecimento sem causa.
5
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. 4. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 387.
Assim, comprovado que houve conduta ilícita perpetrada pelo réu, em virtude
da imposição à parte autora de uma forma de cobrança evidentemente abusiva e em
descompasso com o CDC, porque presentes todos os requisitos do dever de indenizar,
entendo que a indenização por dano moral é devida.
Além disso, sobre o valor que será ressarcido à parte autora (dano moral)
deverá incidir juros de mora à taxa de 1% a.m. (um por cento ao mês), a contar da data
de vencimento da fatura mais antiga não atingida pela prescrição (art. 397 do Código
Civil c/c art. 161, §1º do CTN), até a data em que passa a incidir a correção monetária, a
partir do arbitramento da indenização, consoante disposto pela súmula 362 do STJ,
passando a ser aplicado unicamente o índice Selic, que compreende tanto os juros
quanto a correção monetária, até o efetivo pagamento. Nesses termos:
Código Civil
Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no
seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor.
Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante
interpelação judicial ou extrajudicial.
Dispositivo
43 do STJ), ambos até o dia da citação, momento a partir do qual deverá incidir
unicamente a taxa Selic; (iv) condenação da instituição bancária na obrigação de pagar
danos morais no importe de R$2.000,00 (dois mil reais), acrescidos dos juros de mora
fixados à taxa de 1% a.m. (um por cento ao mês), a contar da data de vencimento da
fatura mais antiga não atingida pela prescrição (art. 397 do Código Civil c/c art. 161,
§1º do CTN), até a data em que passa a incidir a correção monetária, a partir do
arbitramento da indenização pela sentença, consoante disposto pela súmula 362 do STJ,
passando a ser aplicado unicamente o índice Selic, que compreende tanto os juros
quanto a correção monetária, até o efetivo pagamento e, (v) por fim, condenar o réu no
pagamento das custas processuais e de honorários advocatícios, estes em importe
equivalente a 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação.
É como voto.
Desembargadora Elisabeth Carvalho Nascimento
Relatora