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RELATÓRIO
Trata-se de agravo de instrumento interposto por Ivete dos Santos Pereira em
face do despacho proferido pelo Juízo de Direito da 30ª Vara Cível da Capital, às fls.
42/44 da origem, que, nos autos da Ação Declaração de Nulidade Contratual e
Inexistência de Relação Jurídica c/c Repetição de Indébito e Indenização por Danos
Morais ajuizada em desfavor do Banco BMG S.A., assim decidiu:
[...]
Caso sustente que não firmou o contrato, deverá fazer o pedido
alinhado a este tipo de causa de pedir, descrevendo quantas parcelas
foram descontadas indevidamente e apresentando planilha de cálculos
(com as pertinentes atualizações),sendo certo que tal planilha é
fundamental para a correta atribuição do valor da causa. Se possível,
deve comprovar, inclusive, o valor do depósito feito pelo banco
demandado em sua conta bancária, apresentando a este juízo extrato
bancário referente ao mês em que houve o depósito em seu benefício.
Caso permaneça na dúvida, sem saber se firmou, ou não, contrato de
empréstimo com o réu, recomendo que ajuize uma AÇÃO DE
PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVAS (art. 381, CPC), para que
possa delimitar a causa depedir – e o pedido dela decorrente, sob
pena de extinção do feito por inadequação da via eleita.Na posse do
contrato firmado, após análise minuciosa pelo seu diligente
advogado, permanecendo a hipótese de haver qualquer nulidade no
instrumento negocial, deverá trazer aos autos o contrato que pretende
ver anulado, esclarecendo,de forma precisa, qual foi o vício do
consentimento que o acometeu, destacando quais cláusulas reputa
nulas, qual a redação adequada das cláusulas que reputa nulas e qual
o benefício econômico específico que pretende, pois este juízo não
admitirá pedidos genéricos e, menos ainda, causa de pedir genérica.
Deverá a parte autora, ainda, caso opte por uma ação anulatória de
negócio jurídico (na hipótese de vício do consentimento descrito nos
danos morais" (fl. 3), contudo, o juízo singular, de forma tácita, indeferiu o pedido de
inversão do ônus da prova, determinando que a parte hipossuficiente da relação juntasse
o contrato bancário. Requer, liminarmente, a concessão do efeito suspensivo e, no
mérito, roga pelo provimento recursal, a fim de que a decisão seja reformada para
possibilitar a inversão do ônus probatório.
É o relatório.
VOTO
Inicialmente, necessário destacar que quanto à ausência de juntada do preparo
recursal, o art. 99, §7, do Código de Processo Civil, dispõe: "requerida a concessão de
gratuidade da justiça em recurso, o recorrente estará dispensado de comprovar o
recolhimento do preparo, incumbindo ao relator, neste caso, apreciar o requerimento
e, se indeferi-lo, fixar prazo para realização do recolhimento.
afere-se que, na situação dos autos, restou requerida a inversão do ônus da prova na
petição inicial da demanda, mas que o comando processual de origem, tacitamente,
acabou por indeferi-la.
PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVAS (art. 381, CPC), para que possa delimitar a
causa de pedir – e o pedido dela decorrente, sob pena de extinção do feito por
inadequação da via eleita". Além disso, entendeu que "caso opte por uma ação
anulatória de negócio jurídico (na hipótese de vício do consentimento descrito nos
autos), esclarecer qual o negócio jurídico que pretendia firmar (seria um empréstimo
consignado comum?), comprovando que tinha margem consignável para firmar outro
tipo de contratoque não o RMC à época da contratação e demonstrando". Apontou pela
necessidade de que "a parte autora esclareça qual foi o dano moral que entende que
sofreu, destacando o ato ilícito e o nexo causal".
experiências".
Araújo; Comarca: Foro de Rio Largo; Órgão julgador: 2ª Câmara Cível; Data do julgamento:
21/06/2018; Data de registro: 03/07/2018.
4 0709088-60.2018.8.02.0001; Relator (a): Des. Otávio Leão Praxedes; Comarca: Foro de Maceió; Órgão
Portanto, não há como confirmar a postura adotada pelo juízo singular, ainda
que tenha como objetivo afastar o risco de ocorrência de demanda predatória quando, in
casu, a exordial preencheu os requisitos exigidos pelos arts. 319, 320 e 321, todos do
Código de Processo Civil, não havendo o que se falar em emenda à inicial ou no seu
eventual indeferimento.
Não agiu com acerto o juízo de piso ao determinar a emenda à inicial em razão
da ausência de juntada de contrato bancário e, muito menos, da "planilha de cálculos,
comprovação de que tinha margem consignável para fazer um empréstimo consignado
'simples' na data em que fez o contrato de RMC, extratos bancários, etc". Afinal,
incumbe à instituição financeira comprovar os valores eventualmente disponibilizados
na conta bancária do consumidor, bem como todos os valores descontados por ela em
folha de pagamento do agravante, diante da supracitada inversão do ônus da prova,
razão pela qual, seus efeitos merecem ser suspensos.
5
Número do Processo: 0721790-09.2016.8.02.0001; Relator (a): Desa. Elisabeth Carvalho Nascimento;
Comarca: Foro de Maceió; Órgão julgador: 1ª Câmara Cível; Data do julgamento: 20/11/2019; Data de
registro: 21/11/2019.
É como voto.