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Tribunal de Justiça

Gabinete Desa. Elisabeth Carvalho Nascimento

Agravo de Instrumento n. 0810644-35.2023.8.02.0000


Cartão de Crédito
2ª Câmara Cível
Relatora : Desa. Elisabeth Carvalho Nascimento
Agravante : IVETE DOS SANTOS PEREIRA.
Advogada : Michele Carolina Venera (OAB: 26690/SC).
Agravado : Banco Bmg S/A.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE


NEGÓCIO JURÍDICO C/C RESTITUIÇÃO DE VALORES E COMPENSAÇÃO POR DANO
MORAL. DESPACHO QUE DETERMINOU A EMENDA À INICIAL POR REPUTAR
INDISPENSÁVEIS PARA O PROSSEGUIMENTO DO FEITO A COMPLEMENTAÇÃO DE
INFORMAÇÕES E DOCUMENTAÇÕES. INDEFERIMENTO TÁCITO DO PEDIDO DE
INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. PEDIDO DE JUSTIÇA GRATUITA NO PRIMEIRO
GRAU. OMISSÃO. DEFERIMENTO TÁCITO. PRECEDENTES DO STJ. AUSÊNCIA DE
IRREGULARIDADE NA PETIÇÃO INICIAL. INÉPCIA DA INICIAL NÃO
CONFIGURADA, TENDO EM VISTA A AUSÊNCIA DE QUALQUER DAS HIPÓTESES
CONTIDAS NO ART. 330, DO CPC. APRESENTAÇÃO DE EXTRATO BANCÁRIO E
CONTRATO. DOCUMENTOS QUE NÃO SÃO INDISPENSÁVEIS À PROPOSITURA DA
AÇÃO. DEMANDANTE QUE EXPÔS DE FORMA CLARA OS FATOS E
FUNDAMENTOS JURÍDICOS DO SEU PLEITO, BEM COMO APRESENTOU AS
PROVAS COM AS QUAIS PRETENDIA DEMONSTRAR O DIREITO ALEGADO E QUE
ESTAVAM AO SEU ALCANCE, REQUERENDO A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.
DECISÃO REFORMADA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. DECISÃO UNÂNIME.

Nos autos de n. 0810644-35.2023.8.02.0000 em que figuram como parte


recorrente IVETE DOS SANTOS PEREIRA e como parte recorrida Banco Bmg S/A,
ACORDAM os membros da 2ª Câmara Cível, à unanimidade, em conhecer do recurso
para, no mérito, dar-lhe provimento, a fim de conceder a inversão do ônus da
prova e, assim, determinar ao banco agravado que, no prazo da contestação,
colacione cópia do negócio jurídico firmado.

Participaram deste julgamento os Excelentíssimos Senhores


Desembargadores mencionados na certidão retro.

Maceió, data da assinatura eletrônica.

Desa. Elisabeth Carvalho Nascimento


Relatora

Proc. Nº 0810644-35.2023.8.02.0000 - Acórdão, Rel. e Voto TJ/AL - 2ª Câmara Cível A13 1


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Gabinete Desa. Elisabeth Carvalho Nascimento

Agravo de Instrumento n. 0810644-35.2023.8.02.0000


Cartão de Crédito
2ª Câmara Cível
Relatora : Desa. Elisabeth Carvalho Nascimento
Agravante : IVETE DOS SANTOS PEREIRA.
Advogada : Michele Carolina Venera (OAB: 26690/SC).
Agravado : Banco Bmg S/A.

RELATÓRIO
Trata-se de agravo de instrumento interposto por Ivete dos Santos Pereira em
face do despacho proferido pelo Juízo de Direito da 30ª Vara Cível da Capital, às fls.
42/44 da origem, que, nos autos da Ação Declaração de Nulidade Contratual e
Inexistência de Relação Jurídica c/c Repetição de Indébito e Indenização por Danos
Morais ajuizada em desfavor do Banco BMG S.A., assim decidiu:
[...]
Caso sustente que não firmou o contrato, deverá fazer o pedido
alinhado a este tipo de causa de pedir, descrevendo quantas parcelas
foram descontadas indevidamente e apresentando planilha de cálculos
(com as pertinentes atualizações),sendo certo que tal planilha é
fundamental para a correta atribuição do valor da causa. Se possível,
deve comprovar, inclusive, o valor do depósito feito pelo banco
demandado em sua conta bancária, apresentando a este juízo extrato
bancário referente ao mês em que houve o depósito em seu benefício.
Caso permaneça na dúvida, sem saber se firmou, ou não, contrato de
empréstimo com o réu, recomendo que ajuize uma AÇÃO DE
PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVAS (art. 381, CPC), para que
possa delimitar a causa depedir – e o pedido dela decorrente, sob
pena de extinção do feito por inadequação da via eleita.Na posse do
contrato firmado, após análise minuciosa pelo seu diligente
advogado, permanecendo a hipótese de haver qualquer nulidade no
instrumento negocial, deverá trazer aos autos o contrato que pretende
ver anulado, esclarecendo,de forma precisa, qual foi o vício do
consentimento que o acometeu, destacando quais cláusulas reputa
nulas, qual a redação adequada das cláusulas que reputa nulas e qual
o benefício econômico específico que pretende, pois este juízo não
admitirá pedidos genéricos e, menos ainda, causa de pedir genérica.
Deverá a parte autora, ainda, caso opte por uma ação anulatória de
negócio jurídico (na hipótese de vício do consentimento descrito nos

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autos), esclarecer qual o negócio jurídico que pretendia firmar (seria


um empréstimo consignado comum?),comprovando que tinha
margem consignável para firmar outro tipo de contrato que não o
RMC à época da contratação e demonstrando, ainda, o valor que
supostamente fora depositado em sua conta a título de empréstimo,
trazendo aos autos extrato bancário que demonstre o valor que foi
creditado pelo réu em seu benefício. Destaco que este juízo somente
poderá declarar uma inexistência de débitos na hipótese de a parte
autora comprovar que pagou o quantum supostamente depositado em
sua conta, sob pena de se proporcionar o seu enriquecimento sem
causa. De fato, se a parte autora recebeu valores em sua conta
bancária, não se pode declarar uma absoluta inexistência de dívida –
daí a necessidade de a parte autora delimitar o benefício econômico
pretendido com esta ação.
Repiso que a causa de pedir deve estar associada ao pedido, não
seadmitindo que a parte afirme que "não firmou contrato, mas se
firmou, que ele éabusivo". Deve a parte, antes de ajuizar este tipo de
ação, certificar-se da veracidadedos fatos que alega, sob pena de ser
condenada por litigância de má-fé – e a estaaltura reitero a
possibilidade de ajuizamento de ação de produção antecipada
deprova, na forma do art. 381 do CPC, caso a parte autora sinta
dificuldade em obter ocontrato que firmou (ou que não firmou) junto
à entidade financeira demandada.A admissão do processamento da
presente ação, na forma como foi proposta,viola, inclusive, o direito
ao contraditório, pois o réu não tem como se defender decausa de
pedir tão genérica.Pois bem, prossigo neste despacho para solicitar,
ainda, que a parte autoraesclareça qual foi o dano moral que entende
que sofreu, destacando o ato ilícito e onexo causal evitando-se, mais
uma vez, causa de pedir genérica.Toda a (re)adequação da petição
inicial deverá vir acompanhada dedocumentos que a sustentem,
naturalmente, a exemplo de cópia do contrato, planilhade cálculos,
comprovação de que tinha margem consignável para fazer
umempréstimo consignado "simples" na data em que fez o contrato
de RMC, extratosbancários, etc.
Concedo-lhe o prazo de 15 (quinze) dias para a emenda da inicial,
sob pena de extinção do feito sem resolução do mérito por
INÉPCIA (indeferimento da inicial), destacando que o primeiro
juiz da causa é o advogado que asubscreve.

Em suas razões, a agravante relata que agravante "propôs a ação declaratória de


nulidade de ato jurídico, devolução de valores cobrados indevidamente em dobro e

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danos morais" (fl. 3), contudo, o juízo singular, de forma tácita, indeferiu o pedido de
inversão do ônus da prova, determinando que a parte hipossuficiente da relação juntasse
o contrato bancário. Requer, liminarmente, a concessão do efeito suspensivo e, no
mérito, roga pelo provimento recursal, a fim de que a decisão seja reformada para
possibilitar a inversão do ônus probatório.

Não junta documentos.

Às fls. 9/20, esta Relatoria deferiu o efeito suspensivo postulado.

Devidamente intimada, a parte agravada não oferta contrarrazões, consoante


certidão de fl. 27.

É o relatório.

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VOTO
Inicialmente, necessário destacar que quanto à ausência de juntada do preparo
recursal, o art. 99, §7, do Código de Processo Civil, dispõe: "requerida a concessão de
gratuidade da justiça em recurso, o recorrente estará dispensado de comprovar o
recolhimento do preparo, incumbindo ao relator, neste caso, apreciar o requerimento
e, se indeferi-lo, fixar prazo para realização do recolhimento.

Verifico que o agravante, na petição inicial, requereu a concessão dos


benefícios da justiça gratuita, contudo, o juízo de origem não apreciou a questão.

Entendo, assim, que houve deferimento implícito dos benefícios da justiça


gratuita. Isto, porque o Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento de que "a
ausência de manifestação do Judiciário quanto ao pedido de assistência judiciária
gratuita leva à conclusão de seu deferimento tácito, a autorizar a interposição do recurso
cabível sem o correspondente preparo". (AgRg nos EAREsp 440.971/RS, Rel. Ministro
Raul Araújo, Corte Especial, DJe 17.3.2016).

Assim, concedido os benefícios da justiça gratuita na origem, resta


dispensado o preparo recursal.

Merece ser observado que o juízo de origem determinou a emenda da inicial,


indicando os documentos que deviam juntados, com fulcro no art. 321, do Código de
Processo Civil, o qual estabelece que o juiz, ao identificar defeitos e irregularidades
capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará a emenda, “indicando com
precisão o que deve ser corrigido ou completado”.

Note-se que a simples determinação de emenda da inicial representa


pronunciamento judicial com natureza de despacho e, portanto, irrecorrível, no entanto,

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afere-se que, na situação dos autos, restou requerida a inversão do ônus da prova na
petição inicial da demanda, mas que o comando processual de origem, tacitamente,
acabou por indeferi-la.

Ao deixar de se pronunciar sobre a inversão do ônus da prova, o juízo a quo


ponderou que, ainda que deferida, não afastaria a necessidade de juntada de documento
(contrato) que estava sendo indicado como providência da emenda da inicial. Constata-
se que, não obstante tenha, inicialmente, apenas determinado a emenda da inicial, a
ordem de apresentação de documentação que seria de atribuição do banco réu, caso
deferida a inversão, leva ao convencimento de que houve o seu indeferimento, e que,
portanto, há necessidade de apreciação de tal aspecto pelo órgão ad quem.

No mais, verifico estarem presentes os requisitos genéricos extrínsecos e


intrínsecos (cabimento, legitimação, interesse e inexistência de fato impeditivo ou
extintivo do direito de recorrer) de admissibilidade recursal, razão pela qual conheço do
recurso e passo à apreciação das razões invocadas.

Compulsando os autos, constata-se que a recorrente propôs ação visando à


declaração de nulidade de negócio jurídico, alegando que "a empresa requerida vem
fazendo o desconto referente à reserva de margem pela MODALIDADE DO CARTÃO
DE CRÉDITO CONSIGNADO, o qual NÃO FOI CONTRATADO PELA PARTE
AUTORA, uma vez que PLEITEOU EXCLUSIVAMENTE O EMPRÉSTIMO
CONSIGNADO e autorizou o desconto destes valores em seu benefício previdenciário,
entretanto em nenhum momento solicitou, ou utilizou cartão de crédito, a fim de
justificar o desconto de Reserva de Margem para Cartão de Crédito - RMC em seu
benefício previdenciário" (fl. 4 dos autos de origem). Assim, requereu:
a)- Seja determinada a citação da empresa requerida pelo correio, nos
termos do art. 344 do CPC, no endereço supra mencionado para que

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querendo apresente contestação.B)- Seja declarada a nulidade da


contratação de empréstimo via cartão de crédito que justifique os
descontos em folha de pagamento da parte autora através de Reserva
de Margem para Cartão de Crédito - RMC. C)- Seja reconhecido que
a parte autora não solicitou o cartão de crédito, de modo que o envio
de cartão de crédito pela requerida afronta os termos da SÚMULA
532 do STJ.D)- Seja reconhecida a inexistência de solicitação
voluntária de cartão de crédito pela parte autora, e o envio de cartão
de crédito pela requerida, em afronta aos termos da SÚMULA 532 do
STJ. E)- Seja reconhecida a NULIDADE do contrato no que tange
aos descontos mínimos no benefício previdenciário da parte autora
referente ao empréstimo docartão de crédito, tornando a DÍVIDA
ETERNA, uma vez que parte autora NÃO FOI INFORMADA
SOBRE A FORMA DE PAGAMENTO DA OBRIGAÇÃO
PRINCIPAL, eainda que eventualmente apresentando contrato
assinado pela parte autora, foi induzida ao erro ao assinar autorização
destinada ao pagamento mínimo da fatura e aos encargos, o que
implica em PAGAMENTO POR TEMPO
INDETERMINADO,configurando DESVANTAGEM
EXAGERADA, em afronta ao disposto no artigo 51,IV, do CDC,
configurando hipótese de ofensa ao PRINCÍPIO DA
TRANSPARÊNCIA E DO DEVER DE INFORMAR, previstos nos
arts. 4º e 6º, III, do CDC, implicando em NULIDADE da cláusula
contratual.F)- Seja reconhecida a NULIDADE do contrato no que
tange ao cartão de crédito RMC, tendo vem vista tratar-se de VENDA
CASADA em violação ao determinando no art. 39 do Código de
Defesa do Consumidor, implicando em NULIDADE da cláusula
contratual.G)- Seja a requerida condenada a restituir em dobro (art.
42 § único CDC), os descontos realizados mensalmente a título de
Taxa de mensalidades e encargos do Cartão de Crédito em folha de
pagamento da parte autora, inclusive aqueles descontados no decorrer
do processo, devendo ser apurados em liquidação de sentença os
valores a serem restituídos, respeitada a prescrição decenal.H)- Os
valores a serem devolvidos em dobro devem ser acrescidos de
jurosde mora desde a citação e correção monetária desde o
desembolso das parcelas.I)- Sejam julgados procedentes os pedidos
de INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS, condenando-se a
requerida ao pagamento de indenização como ressarcimento da
ofensa à integridade moral, à violação da dignidade sofridos pela
parte autora, no valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) pela
violação dos direitos da parte autora, seja em relação ao todos ou
qualquer um dos fatos abaixo descritos:
i.1)- Desconto indevido em folha de pagamento da parte autora,

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partehipervulnerável que teve reduzidos valores de sua verba


alimentar,passando a sofrer privações que restam comprovados pelos
parcosrecursos recebidos.i.2)- Violação do princípio da transparência
e dever de informar, colocandoo consumidor em desvantagem
exagerada pelo desconto mínimo do valorda fatura do cartão de
crédito, tornando a dívida eterna e maximizando osjuros.
i.3)- Venda casada, em violação ao determinado no art. 39I CDC,
tornandoo negócio nulo, com desconto indevido em folha de
pagamento da parteautora, parte hipervulnerável que teve reduzidos
valores de sua verbaalimentar, passando a sofrer privações que
restam comprovados pelosparcos recursos recebidos.i.4)- Desvio
produtivo, tendo em vista o fato que a parte autora teve que,deslocar-
se para contratar advogado e sofrer as consequênciasemocionais de
mover o presente processo, usando seu tempo (o quetorna-se um fato
ainda mais grave ao considerarmos a idade da parteautora)
exclusivamente por ser ENGANADA pela fornecedora de serviçono
momento da contratação.i.5)- Envio de Cartão de Crédito não
solicitado em violação a Súmula 532do STJ.J)- Os valores fixados a
título de indenização por danos morais devem sofrer aincidência de
juros e correção monetária nos termos das Súmulas 54 e 362
STJ,salientando-se ainda que o termo inicial para a aplicação dos
juros de mora a datado primeiro desconto indevido em folha de
pagamento da parte autora.K)- Seja determinada a inversão do ônus
da prova, nos termos do artigo 6º,inciso VIII, do CDC, determinando
a requerida que traga aos autos cópia do contratode empréstimo que
comprove a contratação de empréstimo consignado namodalidade
CARTÃO DE CRÉDITO, assim como o comprovante de envio do
cartãoao endereço da parte autora, o comprovante de desbloqueio do
cartão e as faturasemitidas desde a contratação do cartão, sob pena de
total procedência dos pedidosda inicial.L)- Requer a condenação da
requerida ao pagamento de honoráriosadvocatícios fixados no valor
correspondente a 20% (vinte por cento) do valoratualizado da causa,
além de custas processuais.
[...]

No despacho ora impugnado, o juízo singular determinou a emenda da inicial,


sob pena de inépcia da inicial, sob o fundamento de se fazia necessário informar
"quantas parcelas foram descontadas indevidamente" e apresentar planilha de cálculos,
bem como indicar o valor do depósito realizado pelo banco agravado, apresentando o
extrato bancário. Acrescentou, ainda: "recomendo que ajuize uma AÇÃO DE

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PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVAS (art. 381, CPC), para que possa delimitar a
causa de pedir – e o pedido dela decorrente, sob pena de extinção do feito por
inadequação da via eleita". Além disso, entendeu que "caso opte por uma ação
anulatória de negócio jurídico (na hipótese de vício do consentimento descrito nos
autos), esclarecer qual o negócio jurídico que pretendia firmar (seria um empréstimo
consignado comum?), comprovando que tinha margem consignável para firmar outro
tipo de contratoque não o RMC à época da contratação e demonstrando". Apontou pela
necessidade de que "a parte autora esclareça qual foi o dano moral que entende que
sofreu, destacando o ato ilícito e o nexo causal".

Concluiu que "toda a (re)adequação da petição inicial deverá vir acompanhada


de documentos que a sustentem, naturalmente, a exemplo de cópia do contrato, planilha
de cálculos, comprovação de que tinha margem consignável para fazer um empréstimo
consignado "simples" na data em que fez o contrato de RMC, extratos bancários, etc".

Em percuciente análise ao caso, verifica-se que o decisum padece de erro, visto


que a parte autora expôs de forma clara os fatos e fundamentos jurídicos do seu pleito,
bem como produziu as provas com as quais pretendia demonstrar o direito alegado e
que estavam ao seu alcance, requerendo a inversão do ônus da prova, considerando que
nega ter firmado contrato de cartão de crédito consignado e, inclusive, aponta
expressamente que pretendia firmar contrato de empréstimo consignado comum.

Além disso, em se tratando de relação de consumo, o pleito da recorrente


encontra respaldo no art. 6º, VIII, do CDC, segundo o qual é direito básico do
consumidor "a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus
da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a
alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de

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experiências".

Nessa conformidade, uma vez formulado, pelo consumidor, pleito de inversão


do ônus probatório, não pode o magistrado abster-se de analisá-lo, sob pena de, assim
agindo, violar a norma de ordem pública acima transcrita.

De mais a mais, o art. 43, também do Código de Defesa do Consumidor,


garante a todos o direito de "acesso às informações existentes em cadastros, fichas,
registros e dados pessoais e de consumo arquivados sobre ele, bem como sobre as suas
respectivas fontes", colaborando a pretensão autoral de imputação à instituição
financeira do ônus de trazer aos autos os documentos essenciais ao deslinde da causa,
constantes em seus registros

Corroborando esse posicionamento, vejamos julgados dos Tribunais Pátrios,


inclusive desta Corte de Justiça:
Agravo de instrumento. Ação revisional e declaratória. Decisão que
determinou a juntada do contrato que se pretende revisar, sob pena de
indeferimento da inicial. Inconformismo. Documento comum às
partes. Possibilidade de exibição incidental. Artigos 396 e seguintes
do Código de Processo Civil. Decisão reformada. Recurso provido
para determinar à ré a juntada do contrato objeto da ação, ficando ao
douto juízo a quo a decisão a respeito do pedido de tutela provisória
contido na inicial, em respeito ao princípio do duplo grau de
jurisdição.1

EMENTA; AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO Extinção do


feito sem julgamento do mérito ante a ausência de documento
indispensável à propositura da demanda Descabimento Ação
revisional de contrato - Tratando-se de ação revisional de contrato
bancário não é indispensável a prévia juntada do instrumento
contratual Possibilidade de exibição de documentos em caráter
incidental, no bojo da própria ação Pedido expresso neste sentido
1
TJSP; Agravo de Instrumento 2022988-54.2018.8.26.0000; Relator (a): Hélio Nogueira; Órgão
Julgador: 22ª Câmara de Direito Privado; Foro de São Vicente - 4ª Vara Cível; Data do Julgamento:
12/3/2018; Data de Registro: 12/3/2018.

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Sentença anulada Recurso provido2.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO REVISIONAL.


SENTENÇA PELA EXTINÇÃO DO PROCESSO ANTE A
AUSÊNCIA DE JUNTADA DO CONTRATO À PETIÇÃO
INICIAL. APELAÇÃO CÍVEL. PRELIMINAR DE NULIDADE DA
SENTENÇA. INDEFERIMENTO DA INICIAL ANTE A
AUSÊNCIA DE DOCUMENTO INDISPENSÁVEL À
PROPOSITURA DA DEMANDA. DESCABIMENTO. TRATANDO-
SE DE AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO BANCÁRIO, não é
indispensável a prévia juntada do instrumento contratual, SENDO
POSSÍVEL A EXIBIÇÃO DO DOCUMENTO NO BOJO DA
PRÓPRIA AÇÃO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
SENTENÇA ANULADA. RETORNO DOS AUTOS À VARA DE
ORIGEM.3

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO COM


PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA. EXTINÇÃO
DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO.
INDEFERIMENTO DA INICIAL POR AUSÊNCIA DE JUNTADA
AOS AUTOS DO CONTRATO CELEBRADO, INDISPENSÁVEL
À PROPOSITURA DA DEMANDA. DESCABIMENTO. AÇÃO
QUE BUSCA REVISAR AS CLÁUSULAS DO CONTRATO
PACTUADO ENTRE AS PARTES. DISPENSÁVEL A PRÉVIA
JUNTADA DO DOCUMENTO AOS AUTOS, PODENDO SER
APRESENTADO NO DECORRER DA AÇÃO. SENTENÇA
ANULADA. RETORNO DOS AUTOS À VARA DE ORIGEM.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. UNANIMIDADE4.

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO.


EXTINÇÃO DA AÇÃO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO.
INDEFERIMENTO DA INICIAL. AUSÊNCIA DE DOCUMENTO
INDISPENSÁVEL À PROPOSITURA DA DEMANDA.
DESCABIMENTO. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO
BANCÁRIO. dispensável a prévia juntada do instrumento contratual,
2
TJSP; Apelação 1015583-09.2017.8.26.0003; Relator (a): Helio Faria; Órgão Julgador: 18ª Câmara de
Direito Privado; Foro Regional III - Jabaquara - 2ª Vara Cível; Data do Julgamento: 27/2/2018; Data de
Registro: 5/3/2018.
3 Número do Processo: 0000840-06.2012.8.02.0051; Relator (a): Des. Pedro Augusto Mendonça de

Araújo; Comarca: Foro de Rio Largo; Órgão julgador: 2ª Câmara Cível; Data do julgamento:
21/06/2018; Data de registro: 03/07/2018.
4 0709088-60.2018.8.02.0001; Relator (a): Des. Otávio Leão Praxedes; Comarca: Foro de Maceió; Órgão

julgador: 2ª Câmara Cível; Data do julgamento: 16/12/2019; Data de registro: 17/12/2019.

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SENDO POSSÍVEL A EXIBIÇÃO DO DOCUMENTO NO BOJO


DA PRÓPRIA AÇÃO. SENTENÇA ANULADA. RETORNO DOS
AUTOS À VARA DE ORIGEM. RECURSO CONHECIDO E
PROVIDO.5

No entanto, além de não ter deferido o pedido de inversão do ônus da prova no


sentido de compelir a instituição demandada a colacionar o instrumento contratual, a
Juíza de primeiro grau determinou a emenda à inicial pelos mais diversos motivos
citados acima.

Portanto, não há como confirmar a postura adotada pelo juízo singular, ainda
que tenha como objetivo afastar o risco de ocorrência de demanda predatória quando, in
casu, a exordial preencheu os requisitos exigidos pelos arts. 319, 320 e 321, todos do
Código de Processo Civil, não havendo o que se falar em emenda à inicial ou no seu
eventual indeferimento.

Não agiu com acerto o juízo de piso ao determinar a emenda à inicial em razão
da ausência de juntada de contrato bancário e, muito menos, da "planilha de cálculos,
comprovação de que tinha margem consignável para fazer um empréstimo consignado
'simples' na data em que fez o contrato de RMC, extratos bancários, etc". Afinal,
incumbe à instituição financeira comprovar os valores eventualmente disponibilizados
na conta bancária do consumidor, bem como todos os valores descontados por ela em
folha de pagamento do agravante, diante da supracitada inversão do ônus da prova,
razão pela qual, seus efeitos merecem ser suspensos.

Diante do exposto, voto no sentido de conhecer do recurso para, no mérito,


dar-lhe provimento, a fim de conceder a inversão do ônus da prova e, assim,

5
Número do Processo: 0721790-09.2016.8.02.0001; Relator (a): Desa. Elisabeth Carvalho Nascimento;
Comarca: Foro de Maceió; Órgão julgador: 1ª Câmara Cível; Data do julgamento: 20/11/2019; Data de
registro: 21/11/2019.

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determinar ao banco agravado que, no prazo da contestação, colacione cópia do


negócio jurídico firmado.

É como voto.

Desembargadora Elisabeth Carvalho Nascimento


Relatora

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