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Augusto Cezar Cozer

_____________________________________________________ OAB-ES 11.682

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ___ª


VARA CÍVEL DE VILA VELHA - COMARCA DA CAPITAL - ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO

PROCESSO NOVO
(Assistência Judiciária Gratuita)

ADELIANE ANACLETO RANGEL, brasileira, casada,


supervisora, inscrita no CPF sob o nº 056.935.647-46 e ESTEVAO DE OLIVEIRA
RANGEL, brasileiro, casado, consultor de vendas, inscrito no CPF sob o nº
008.064.247-02, ambos residentes e domiciliados a Rua Emydio Ferreira
Sacramento, 117, apto 402, Ataíde, Vila Velha - ES, CEP: 29.119-030, vem à
presença de Vossa Excelência, com o devido acatamento e respeito, por seu
Advogado, AUGUSTO CEZAR COZER, inscrito na OAB/ES sob o nº. 11.682, Tel.:
(27) 9-9962-3662, com escritório na avenida Carlos Lindenberg, 550, Glória, Vila
Velha / ES, onde recebe intimações e notificações, propor

AÇÃO ORDINÁRIA DE DESFAZIMENTO DE RELAÇÃO CONTRATUAL,


DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE CLÁUSULAS C/C REEMBOLSO DE
PARCELAS ADIMPLIDAS E REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS
(COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA)

em face da Empresa MASB 20 EMPREENDIMENTO IMOBILIÁRIO LTDA, pessoa


jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº. 09.722.415/0001-43, com
sede na Avenida Raja Gabáglia, nº. 1.060, Gutierrez, Belo Horizonte - MG, CEP
30.441-070, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas:

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I - PRELIMINARMENTE

Da Assistência Judiciária Gratuita

Inicialmente, conforme declaração em anexo, os autores


afirmam sob as penas da Lei e de acordo com o art. 4° e seu parágrafo 1° da Lei
1.060/50 com a redação introduzida pela Lei n.7.510/86, serem juridicamente
necessitados, não tendo condições financeiras para arcar com as despesas de
custas processuais e honorários advocatícios, sem prejuízo do próprio sustento ou
de sua família, sendo, portanto, beneficiários da gratuidade de justiça, indicando
este subscritor como seu patrono, que desde já declara aceitar o encargo.

Da Competência do Foro de Domicilio dos Autores

Preliminarmente requerem os autores a anulabilidade da


cláusula contratual de eleição do foro de competência. Prelecionam os ilustres
doutrinadores que há que se entender cláusulas abusivas como sendo aquelas que
estabelecem obrigações iníquas, acarretando desequilíbrio contratual entre as
partes e ferindo os princípios da boa-fé e da eqüidade.

Conforme disposto no artigo 51 do CDC, tais cláusulas


são nulas de pleno direito, e não operam efeitos.

Com evidência, as relações entre os Requerentes e a


Requerida possuem natureza consumerista. Portanto, tem inteira aplicação, no
deslinde desta demanda, o Código de Defesa do Consumidor.

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Desta feita, nos termos do inciso I, do art. 101 do código


consumerista, a ação pode ser proposta no domicilio dos Autores, senão vejamos:

Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do


fornecedor de produtos e serviços, sem prejuízo do
disposto nos Capítulos I e II deste título, serão
observadas as seguintes normas:

I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor;

Isto posto, por se tratar a presente exordial de ação de


responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, a propositura da ação
poderá ser realizada no foro de domicilio do autor, conforme art. 101, inciso I do
Código de Defesa do Consumidor.

II - DOS FATOS

Os Requerentes são pessoas honradas, de bom nome,


cidadãos, cumpridores de seus direitos e obrigações, pautando sua vida sempre
pela observância de rígidos princípios éticos e morais.

E após visitarem o stand de vendas da requerida junto a


obra do Empreendimento Happy Days Manguinhos, os Requerente firmaram
Contrato Particular de Promessa de Compra e Venda junto a Requerida para
aquisição do apartamento nº 805, da Torre Praia, do Empreendimento Happy Days
Manguinhos, situado no Distrito de Carapina, no município da Serra-ES, no valor de
R$ 215.240,04 (duzentos e quinze mil duzentos e quarenta reais e quatro
centavos).

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No ato da assinatura do contrato foi efetuado o


pagamento da entrada no valor de R$4.200,00 (quatro mil e duzentos reais), com
30 e 60 dias foram pagos mais 02 parcelas no valor de R$3.030,00 (três mil e trinta
reais) cada, em 04/12/2012 foi pago uma parcela única de R$2.880,00 (dois mil
oitocentos e oitenta reais), e também foi pago mais 10 parcelas mensais no valor de
R$720,00 (setecentos e vinte reais) cada, restando a ser pago o valor de uma
parcela única no valor de R$ 22.708,00 (vinte e dois mil setecentos e oito reais),
que conforme negociação seria inclusa junto com o financiamento de R$172.192,00
(cento e setenta e dois mil cento e noventa e dois reais), conforme doc. anexo.

Acontece que passados os primeiros pagamentos


negociados em contrato, a requerida deveria emitir os boletos para pagamento das
parcelas mensais acordada, e foi neste momento que se iniciaram os dissabores
dos autores.

O primeiro boleto chegou com atraso superior a 04


meses da data combinada, sendo que neste interstício de tempo, os autores
realizaram vários contatos com a Requerida através de ligações e e-mail, na
tentativa de conseguir os boletos para pagamento das parcelas mensais. (doc.
anexo)

Outrossim, neste mesmo período os requerentes foram


notificados por e-mail pela própria requerida, solicitando o pagamento das faturas
em aberto. E a resposta aos e-mails dos autores, com o envio de boletos para
pagamento?_Essa não chegou. Então como pagar ??? ABSURDO!!!

Aproveitando o mesmo e-mail de cobrança, os


requerentes solicitaram os boletos para o pagamento, e que fosse concedido
desconto de correção, juros, encargos e multa aos mesmos devido a falha no envio
da cobrança por parte da requerida. Contudo para desespero dos autores o pedido
não foi atendido e os mesmos pagaram todo o valor em aberto com correção, juros,
encargos e multa.

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E o martírio se perdurou pelas demais parcelas, o boleto


não chegava no endereço dos requerentes pelo correio e nem por solicitação via e-
mail, e apesar das incontáveis reclamações, a requerida não resolvia a situação,
obrigando os autores a pagar correção, juros, encargos e multa.

Tem-se que a compra do imóvel foi planejada pelos


autores em função da chegada da segunda filha do casal, pois a requerente
Adeliane estava em seu 7º mês de gravidez, e os requerentes esperavam que já
estivessem morando em seu novo apartamento antes do nascimento da criança.

Como o prazo previsto para término das obras e entrega


do apartamento deveria ser em 30 de junho de 2013, os requerentes que já
possuíam crédito pré-aprovado, buscaram a Instituição Bancária para que fosse
providenciado a liberação do valor a ser financiado, porém devido a falta de
liberação do HABITE-SE, que somente foi liberado em 30 de dezembro de 2013, o
Banco não pode formalizar o financiamento do imóvel.

Com a liberação do HABITE-SE em 30/12/2013, os


requerentes tentaram novamente junto ao Banco a liberação do financiamento, e
mais uma vez foram surpreendidos pelo descaso da Requerida, que ainda não
havia providenciado a AVERBAÇÃO, e por este motivo mais uma vez não foi
possível a liberação do financiamento.

Importante frisar Excelência, que na negociação para a


compra do referido imóvel o Requerido nada informou a respeito da liberação dos
documentos necessários por parte da Construtora Requerida para que houvesse a
liberação do financiamento, pelo contrário as informações raramente eram
fornecidas e sempre destoavam da realidade.

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Outrossim, os requerentes necessitavam mudar para


este imóvel o mais breve possível, visto que a gestação da requerente Adeliane
avançava pelo 7º mês, e o novo apartamento seria bem mais próximo ao local de
trabalho da mesma, evitando assim percorrer uma longa distância, equivalente a 90
km entre a residência atual e o trabalho da autora gestante.

Ocorre que diante de tantos aborrecimentos gerados


pela Requerida, agravado pelo descaso da mesma em providenciar a
documentação necessária a liberação de financiamento bancário, todo o projeto de
mudança dos autores foi frustrado, o que resultou em sérias complicações
emocionais e fisiológicas à requerente gestante Adeliane, atingindo diretamente a
sua gestação.

O dano foi tão grave que a requerente necessitou de se


afastar do trabalho por 14 dias sobre a necessidade de repouso médico absoluto,
com risco de perda da gravidez. E devido ao estado de sério risco, e uma iminente
necessidade de interrupção da gestação por ato não programado, o médico da
requerente também receitou a injeção de corticoide para que houvesse uma
aceleração na formação do pulmão e demais órgãos do bebê, para que o mesmo
não viesse a óbito.

Além das complicações gestacionais, as injeções de


corticoides provocaram diversos efeitos colaterais e ainda o aumento da massa
corporal da requerente em 14 quilos, mas foram fundamentais para evitar óbito do
bebê que felizmente nasceu com saúde.

Diante do calvário acima narrado, e agora já tendo


nascido a segunda filha dos requerentes, mas ainda sem a liberação do
financiamento devido a falta do HABITE-SE e da AVERBAÇÃO, o casal continuava
sem poder usufruir de seu novo imóvel.

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Já cansados de tanto sofrer e totalmente frustrados com


o malfadado negócio, os requerentes decidiram fazer o Distrato do contrato,
fazendo comunicação a Requerida para que fosse apurados os valores já pagos e
os mesmos fossem devolvidos aos autores.

Pasme Excelência!!! A requerida fez os cálculos para


Distrato e o mesmo era negativo em R$185,08 (cento e oitenta e cinco reais e oito
centavos) para os requerentes. ABSURDO!!!

Observa-se que os Requerentes na tentativa de


solucionar o problema em questão buscaram todas as maneiras possíveis para
resolver o conflito, e diante da postura adotada pela Requerida não encontraram
outra forma a não ser ajuizar presente ação para ter seus direitos garantidos.

A vasta prova documental juntada, que este Patrono já declara


serem autênticas, conforme previsão do artigo 365, IV do Código de Processo Civil,
mostra que os fatos narrados são verdadeiros e a lamentável situação em que os
Requerentes se encontram devido às atitudes da Requerida.

III - DO DIREITO

Hodiernamente, é inconteste a natureza da relação


jurídico-material que se estabelece ente as partes, qual seja: relação jurídica de
consumo. A aplicabilidade, portanto, das disposições do Código de Defesa do
Consumidor para o caso concreto, é inevitável.

O Código de Defesa do Consumidor (Lei nº. 8.078, de 11


de setembro de 1990) é bem claro e conciso no que se refere aos direitos básicos
do consumidor, conforme se extrai de seu Art. 6º, inciso VI:

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“a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais


e morais, individuais, coletivos e difusos”.

Cumpre ressaltar, que o fornecedor de serviços


responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos
causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação de serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas, conforme se pode verificar no
artigo 14 do CDC:

“Art. 14. O fornecedor de serviços responde,


independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por
defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como
por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
fruição e riscos.
§ 1º. O serviço é defeituoso quando não fornece a
segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-
se em consideração as circunstâncias relevantes, entre
as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se
esperam;
III - a época em que foi fornecido.
§ 2º. O serviço não é considerado defeituoso pela adoção
de novas técnicas.
§ 3º. O fornecedor de serviços só não será
responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4º. A responsabilidade pessoal dos profissionais
liberais será apurada mediante a verificação de culpa.”

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O artigo 83 do Código de Defesa do Consumidor dispõe:

“Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses


protegidos por este Código são admissíveis todas as
espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e
efetiva tutela.”

O artigo 29 do CDC equipara a consumidor todos


aqueles que se encontram às práticas que descreve:

Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte,


equiparam-se aos consumidores todas as pessoas
determináveis ou não, expostas às práticas nele
previstas.

Concluímos, que consumidor não é apenas aquele que


adquire ou utiliza produto ou serviço, mas também todas as pessoas expostas às
práticas previstas no Código de Defesa do Consumidor.

Entende a Jurisprudência Majoritária que o consumidor


lesado não é obrigado a esgotar as vias administrativas para poder ingressar com
ação judicial, mas sim, pode fazê-lo imediatamente após deflagrado o dano.

Mesmo assim, os Requerentes, conforme visto a epígrafe,


fizeram jus a uma conduta parcimoniosa e amigável com a Requerida e procuraram
resolver administrativamente seu direito, porém, devido à falta de eficiência da Ré
para resolução do conflito, as tentativas apenas geraram mais perturbação e
desgaste emocional.

Diante de tal situação os Requerentes não encontraram


outra forma a não ser ajuizar presente ação para ter seus direitos de consumidores
garantidos.

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É notória a falha de procedimento da Requerida e com


isso, deve assumir pelos danos decorridos e ainda, ser a rigor penalizada a fim de
não reincidir sobre os mesmos erros com outras pessoas.

No caso em tela, ocorreu o Ato Ilícito previsto no artigo


186 do Novo Código Civil, segundo o qual:

“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência


ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem,
ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

O artigo 927 do Novo Código Civil cuidadosamente


regula a matéria:

“Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano
a outrem, fica obrigado a repará-lo”.

Posto isso, postula coerentemente a Requerente por


requerer indenização por danos morais caracterizados pelos fatos narrados.

IV - DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR


(DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA)

O Código de Defesa do Defesa do Consumidor


estabelece, como consumidor, "toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza
produto ou serviço como destinatário final".

Trata-se de relação de consumo, onde evidencia-se que


os Requerentes caracterizam-se por serem consumidores finais do serviço
oferecido, e a Requerida como prestadora/fornecedora de serviços, subsumindo-se
a presente relação pela Lei nº. 8.078/90.

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Os Requerentes apesar de acostarem aos autos provas


que acreditem serem suficientes para a demonstração da verdade dos fatos ora
narrados, para a condução deste exímio Juízo à formação de seu livre
convencimento, protesta pela inversão do ônus da prova, pois considera ser a
medida da boa administração da Justiça e do exercício de seus direitos, conforme
disposição do Código de Defesa do Consumidor:

Lei nº 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor)


– Art. 6º São direitos básicos do consumidor: (...) VIII – a
facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a
inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo
civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação
ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências".

No presente caso, conforme os documentos carreados,


tanto é verossímil a alegação dos Requerentes, bem como resta demonstrada a sua
hipossuficiência, não cabendo, assim, a aplicação do inciso I do artigo 333 do
código instrumental, por prestígio ao princípio da especialidade das leis.

A inversão do ônus de provar tem, como objeto, equilibrar


a relação de consumo mediante tutela do Estado ao consumidor, reconhecendo-lhe
a condição de parte prejudicada e hipossuficiente.

Neste sentido, o entendimento dos tribunais:

"Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo


Apelação Cível nº 240.757-2
9ª Câmara Civil
Apelante: Fábrica de móveis São Luiz (fornecedor)
Apelado: Roberto Arantes Godoy (consumidor)
Ementa: PROVA – Ônus – Inversão – Cabimento – Ação de obrigação de fazer –
Existência de verossimilhança nas alegações do autor – Provas do adimplemento

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não apresentadas pelo requerido – Inaplicabilidade do artigo 333, inciso I, do


Código de Processo Civil, em face da prevalência do artigo 6º, inciso VIII, do Código
de Defesa do Consumidor, por ser norma específica.
Acórdão: Acordam, (...) por votação unânime, negar provimento ao recurso (...) A
requerida, em momento algum, apresentou provas de seu adimplemento. Sendo o
caso em tela referente à ‘relação de consumo’, a ela caberia o ônus de provar suas
alegações. Nesses casos, inaplicável o artigo 333, inciso I, do Código de
Processo Civil, em face da prevalência do artigo 6º, inciso VIII, do Código de
Defesa do Consumidor, por ser norma específica".

E, na mesma toada, a compreensão do Superior Tribunal de Justiça:

"Superior Tribunal de Justiça


Recurso Especial n º REsp 637.608/SP
Relator: Carlos Alberto Menezes Direito
Ementa: Inversão do ônus da prova. Código de Defesa do Consumidor. Honorários
do perito. Precedentes da Terceira Turma e Súmulas nºs 7 e 297.
1. O Código de Defesa do Consumidor alcança a relação entre o devedor e as
instituições financeiras nos termos da Súmula nº 297 da Corte.
2. O deferimento da inversão do ônus da prova com base na hipossuficiência
foi feito considerando a realidade dos autos, o que está coberto pela Súmula nº
7 da Corte.
3. Esta Terceira Turma já decidiu que "a regra probatória, quando a demanda
versa sobre relação de consumo, é a da inversão do respectivo ônus. Daí não
se segue que o réu esteja obrigado a antecipar os honorários do perito;
efetivamente não está, mas, se não o fizer, presumir-se-ão verdadeiros os fatos
afirmados pelo autor" (REsp nº 466.604/RJ, Relator o Ministro Ari Pargendler, DJ de
2/6/03). No mesmo sentido, o REsp nº 443.208/RJ, Relatora a Ministra Nancy
Andrighi, DJ de 17/3/03, destacou que a "inversão do ônus da prova não tem o
efeito de obrigar a parte contrária a arcar com as custas da prova requerida
pelo consumidor. No entanto, sofre as conseqüências processuais advindas
de sua não produção". Igualmente, assim se decidiu no REsp nº 579.944/RJ, de
minha relatoria, DJ de 17/12/04, no REsp nº 435.155/MG, de minha relatoria, DJ de

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10/3/03 e no REsp nº 402.399/RJ, Relator o Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, DJ


de 18/4/05.
2. Recurso especial conhecido e provido, em parte".

Desta maneira, por serem verossímeis as alegações dos


Requerentes, conforme as provas conduzidas aos autos, e pela sua condição de
hipossuficiência em relação à Requerida, é a presente para que se inverta o ônus
da prova, em benefício dos Requerentes.

Resta patente a situação de hipossuficiência e


vulnerabilidade dos Requerentes em face da Requerida, bem como, da situação
narrada na presente exordial, fazendo-se necessária a aplicação da inversão do
ônus da prova, conforme determinado pelo artigo 6º, VIII, do Código de Defesa do
Consumidor.

V - DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR


(DECLARAÇÃO DE NULIDADE DE CLÁUSULAS ABUSIVAS)

No presente caso, sem qualquer dúvida, temos uma


relação de consumo e, por consequência, o contrato objeto desta ação deve ser
absolutamente regido pelos artigos 46 a 54 do Código Brasileiro de Proteção e
Defesa do Consumidor, em conformidade com todos os postulados da Teoria Geral
do Direito do Consumidor inserta nos artigos 1º a 7º do CDC.

A implicação prática de tal fato é, entre outras, que: são


nulas de pleno direito as cláusulas com vantagem manifestamente exageradas; são
nulas de pleno direito as cláusulas que transfiram os riscos do negócio ao
consumidor. É assim que se expressa o CDC, ex textus:

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Art. 51 - São nulas de pleno direito, entre outras, as


cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de
produtos e serviços que:

I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a


responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer
natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia
ou disposição de direitos. Nas relações de consumo
entre o fornecedor e o consumidor-pessoa jurídica, a
indenização poderá ser limitada, em situações
justificáveis;

II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da


quantia já paga, nos casos previstos neste Código;
[...]

IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas,


abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem
exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a
eqüidade;

É sabido que o Código de Defesa do Consumidor


abraçou no seu artigo 6º, VI o princípio básico do consumidor consubstanciado na
“efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos e difusos”, de sorte que em sintonia com o princípio constitucional de que
ninguém é obrigado a associar-se ou deixar de associar-se a qualquer grupo, infere-
se que ao se desvincular de determinada entidade o indivíduo deve, de imediato,
receber aquilo que lhe é devido, sob pena de violação do princípio que veda o
enriquecimento sem justa causa.

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É incontroverso o direito assegurado aos requerentes de


pleitear a rescisão contratual por descumprimento contratual da empresa requerida
e de ter o direito a reembolso das parcelas efetivamente pagas, corrigidas
monetariamente, além da reparação pelos danos morais sofridos.

Ademais, é do Tribunal da Cidadania o seguinte


enunciado de súmula 35:

INCIDE CORREÇÃO MONETARIA SOBRE AS


PRESTAÇÕES PAGAS, QUANDO DE SUA
RESTITUIÇÃO, EM VIRTUDE DA RETIRADA OU
EXCLUSÃO DO PARTICIPANTE DE PLANO DE
CONSORCIO.

Nesse caso, o comportamento da requerida, na


qualidade de fornecedora, revela potestatividade, considerado abusivo tanto
pelo CDC (art. 51, IV) quanto pelo Código Civil (art. 122). Vejamos, a propósito,
alguns arestos pátrios:

PROCESSO CIVIL – RESCISÃO DE CONTRATO – CONSÓRCIO - DEVOLUÇÃO


IMEDIATA DE QUANTIAS PAGAS – INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS –
INDEFERIMENTO. 1. Em princípio, havendo pedido de rescisão por parte do
cooperado, a negativa da cooperativa em fazer acordo com este último não dá
ensejo ao pagamento de quantia a título de danos morais, tanto mais quando não
há controvérsia no que se refere à rescisão da avença, ficando pendente, tão-
somente a forma de restituição dos valores já pagos pelo consumidor. 2. Sendo
reconhecido ao cooperado o direito de se retirar do grupo a qualquer tempo, é
procedente a pretensão de devolução imediata das quantias pagas, não havendo
justificativa aceitável para se diferir o cumprimento da obrigação pela cooperativa
para período posterior ao encerramento oficial do grupo ou mesmo que os valores
sejam pagos de forma parcelada. (Apel. Cív. Nº 2004.01.1.110851-6; Órgão
Julgador: Terceira Turma Cível do TJDF; Relator: Des. José de Aquino Perpétuo;
julgado em: 19 de setembro de 2005).

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CIVIL. CONSÓRCIO. LONGO PRAZO DE DURAÇÃO. RETENÇÃO INDEVIDA DO


DINHEIRO DO CONSORCIADO. 1. Afigurando-se por demais onerosa a cláusula
que prevê a devolução dos valores recebidos do consorciado excluído ou desistente
após o encerramento do plano, de longa duração, deve-se assegurar a este a
restituição imediata das quantias pagas, sob pena de homenagear-se o
enriquecimento sem causa da administradora, que tem em seu prol cláusula que lhe
permite a substituição do desistente por outro, com o pronto recebimento das
quantias quitadas pelo excluído. 2. Cabe à administradora, tão-somente, a retenção
das quantias referentes às taxas de adesão e de administração. 3. Considerando
que houve sucumbência recíproca, as custas serão rateadas, meio a meio, entre as
partes e cada qual arcará com os honorários dos causídicos por elas contratados. 4.
Recursos do autor e do réu providos, em parte. (Apel. Cív. 2002 01 1 037034-5;
Órgão Julgador: 2ª Turma Cível do TJDFT; julgado em: 22/nov/2004).

No mesmo sentido, confiram-se os precedentes do STJ:

Consumidor. Recurso especial. Rescisão de contrato de compromisso


de compra e venda de imóvel. Incorporadora que se utiliza de sistema
de "auto-financiamento". Devolução das parcelas pagas pelo promitente-
comprador, já descontado o valor das arras, apenas após o término de toda a
construção. Aplicação dos princípios consumeristas à relação jurídica.
Irrelevância do veto ao 1º do art. 53 do CDC.
Análise prévia do contrato-padrão pelo Ministério Público. Irrelevância.
(...)
- Há enriquecimento ilícito da incorporadora na aplicação de cláusula que obriga o
consumidor a esperar pelo término completo das obras para reaver seu dinheiro,
pois aquela poderá revender imediatamente o imóvel sem assegurar, ao mesmo
tempo, a fruição pelo consumidor do dinheiro ali investido.
(...)
(STJ - REsp 633793/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 07/06/2005, DJ 27/06/2005 p. 378)
RECURSO ESPECIAL - CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA -
RESILIÇÃO PELO PROMITENTE- COMPRADOR - RETENÇÃO DAS ARRAS -

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IMPOSSIBILIDADE - DEVOLUÇÃO DOS VALORES PAGOS - PERCENTUAL


QUE DEVE INCIDIR SOBRE TODOS OS VALORES VERTIDOS E QUE, NA
HIPÓTESE, SE COADUNA COM A REALIDADE DOS AUTOS - MAJORAÇÃO -
IMPOSSIBILIDADE, NA ESPÉCIE - RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO.
1. A Colenda Segunda Seção deste Superior Tribunal de Justiça já decidiu que o
promitente-comprador, por motivo de dificuldade financeira, pode ajuizar ação de
rescisão contratual e, objetivando, também reaver o reembolso dos valores vertidos
(EREsp nº 59870/SP, 2º Seção, Rel. Min. Barros, DJ 9/12/2002, pág. 281).
2. As arras confirmatórias constituem um pacto anexo cuja finalidade é a entrega de
algum bem, em geral determinada soma em dinheiro, para assegurar ou confirmar a
obrigação principal assumida e, de igual modo, para garantir o exercício do direito
de desistência.
3. Por ocasião da rescisão contratual o valor dado a título de sinal (arras) deve ser
restituído ao reus debendi, sob pena de enriquecimento ilícito.
4. O artigo 53 do Código de Defesa do Consumidor não revogou o disposto no
artigo 418 do Código Civil, ao contrário, apenas positivou na ordem jurídica o
princípio consubstanciado na vedação do enriquecimento ilícito, portanto, não é de
se admitir a retenção total do sinal dado ao promitente-vendedor.
5. O percentual a ser devolvido tem como base de cálculo todo o montante vertido
pelo promitente-comprador, nele se incluindo as parcelas propriamente ditas e as
arras.
6. É inviável alterar o percentual da retenção quando, das peculiaridades do caso
concreto, tal montante se afigura razoavelmente fixado.
7. Recurso especial improvido.
(REsp. 1056704/MA – Rel. Min. Massuami Uyeda – T3 – Terceira Turma – j.
28.04.2009).
COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA. RESILIÇÃO PELO COMPRADOR POR
INSUPORTABILIDADE DA PRESTAÇÃO. POSSIBILIDADE. RETENÇÃO SOBRE
PARTE DAS PARCELAS PAGAS. ARRAS. INCLUSÃO. CODIGO DE DEFESA
DO CONSUMIDOR, ARTS 51,II, 53 E 54. CÓDIGO CIVIL, ART.924,I.
[...]
II - O desfazimento do contrato dá ao comprador o direito à restituição das parcelas
pagas, porém não em sua integralidade, em face do desgaste no imóvel devolvido e

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Augusto Cezar Cozer
_____________________________________________________ OAB-ES 11.682

das despesas realizadas pela vendedora, como corretagem, propaganda,


administrativas e assemelhadas...
III – Compreende-se no percentual a ser devolvido ao promitente comprador todos
os valores pagos à construtora, inclusive as arras.
(STJ – Resp.355.818/MG – 4ª T – Rel. Min. Aldir Passarinho Júnior – DJU
25.8.2003, p. 311).

Sobre o tema, afirma Nelson Nery Júnior que:

“O CDC enumerou uma série de cláusulas consideradas abusivas, dando-lhes o


regime da nulidade de pleno direito (art. 51). Esse rol não é exaustivo, podendo o
juiz, diante das circunstâncias do caso concreto, entender ser abusiva e, portanto,
nula, determinada cláusula contratual. Está para tanto autorizado pelo caput
do art. 51 do CDC, que diz serem nulas,"entre outras", as cláusulas que menciona.
Ademais, o inc. XV do referido artigo contém norma de encerramento, que dá
possibilidade ao juiz de considerar abusiva a cláusula que" esteja em desacordo
com o sistema de proteção ao consumidor ". Em resumo, os casos de cláusulas
abusivas são enunciados pelo art. 51 do CDC em numerus apertus e não em
numerus clausus "(Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos
autores do Anteprojeto". Rio de Janeiro: Forense Universitária, 7ª edição, 2001,
pág. 463).

Registre-se, nesta sentido, os comandos insertos no


artigo 4º e 6º do CDC, aplicáveis à presente contenda:

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o


atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade,
saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos,
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
(...)
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos e difusos;

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Augusto Cezar Cozer
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Temos, portanto, que os requerentes invocam em seu


favor nulidade de pleno direito de eventuais cláusulas que contenham data do
ressarcimento, penitência por “supostos” prejuízos causados e a multa, tendo, por
consectário, a repetição do indébito verificado, corrigido monetariamente, não
havendo em se falar de desconto de eventuais despesas administrativas, haja vista
que as mesmas inexistem. Assim, toda a cláusula 8 e seus sub itens estão eivados
de nulidade, pois agride frontalmente os princípios consumeristas.

A imposição de tais cláusulas aos autores é


extremamente abusiva, devendo ser declaradas nulas por esse inolvidável juízo,
uma vez que destoantes do que prescreve o artigo 51, incisos I e IV, pois exoneram
responsabilidade do fornecedor pela sua mora ou descumprimento contratual,
colocam o consumidor em desvantagem exagerada pela inclusão de prazo
indeterminado para a entrega do imóvel e também estabelecem obrigações iníquas,
malévolas e incompatíveis com a boa-fé.

VI - DAS INFRAÇÕES AO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR


COMETIDAS PELA REQUERIDA ENSEJADORAS DE REPARAÇÃO DE DANO

Os fatos são cristalinos, pois a Requerida agiu de forma


desleal, pois os Requerentes foram iludidos e enganados para firmarem o contrato
em questão.

Houve falha na prestação de serviço inerente à venda de


produto e abusos e infrações ao Código de Defesa do Consumidor, gerando, à
empresa Requerida, obrigação de reparar os danos causados aos Requerentes,
com base em seus já referidos artigos 12 e 14, caput, e em conformidade com seus
direitos básicos:

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Augusto Cezar Cozer
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"Lei nº 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor).


Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:
(...)

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos


patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos" –
(seleção do autor).

Isto porque, em primeiro lugar, os Requerentes tiveram


desrespeitados os seus direitos à informação e a ser ouvido: ao se comportar a
empresa Requerida de modo esquivo e obscuro; ao não prestar as informações
solicitadas de forma satisfatória; ao estabelecer e prometer repetidas vezes prazos
para resolver o problema, frustrando os Requerentes sucessivamente; ao passar ao
largo das sugestões dos Requerentes para uma solução tranqüila e pacífica do
conflito, e finalmente, ao simplesmente ignorá-la nos dias que eles tentaram uma
forma administrativa de resolver o problema.

"Lei nº 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor)


– Art. 6º..São direitos básicos do consumidor:
(...)
III - a informação adequada e clara sobre os
diferentes produtos e serviços, com especificação
correta de quantidade, características, composição,
qualidade e preço, bem como sobre os riscos que
apresentem;
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e
abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais,
bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou
impostas no fornecimento de produtos e serviços".

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Augusto Cezar Cozer
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A recusa na prestação de informações, a falta de


transparência da Requerida, e particularmente, a indução dos Requerentes a erro
ao prestar-lhe dados inadequados, controversos e confusos, sem a sua correta
especificação, bem como a elaboração de promessas posteriormente não
cumpridas, enquanto o Código de Defesa do Consumidor estabelece a necessidade
de informações claras e precisas, constitui publicidade enganosa e abusiva. Neste
sentido, a melhor jurisprudência:

"Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo


Décima-sexta Câmara Civil
Apelação cível nº 249.967-2
Ementa: CONTRATO – Prestação de serviços – Anulação cumulada com
declaratória de inexigibilidade de débitos e ressarcimento de danos – Ajuizamento
por consumidor – Autor induzido a erro, por meio de promessa verbal,
posteriormente não cumprida – Verossimilhança na alegação – Artigo 6º, inciso
VIII, do Código de Defesa do Consumidor (...).
Acórdão: (...)por maioria de votos, dar provimento ao recurso (...)
Voto: (...) É sintomático que do contrato impresso pela apelada conste a cláusula n.
11 que diz que a empresa ‘não se responsabilizará por promessas verbais,
eventualmente feitas por seus agentes, obrigando-se, tão-somente pelo
efetivamente impresso no presente contrato que, uma vez assinado, não poderá ser
cancelado em hipótese alguma’ (fls. 15 v.). Este dispositivo contratual deixa no
espírito do Julgador a certeza de que a apelada não se preocupa em eleger
bem os seus representantes, os quais, por isso, podem prometer verbalmente
vantagens para os incautos compradores, promessas estas que jamais serão
cumpridas pela apelada, pois tem ela o cuidado de imprimir a aludida cláusula
que a exime de qualquer responsabilidade. Tem-se até a impressão de que a
política de vendas da apelada é a de dar liberdade verbal de promessas a seus
vendedores, resguardada sua expressa irresponsabilidade contratual por
promessas orais.
Todos estes elementos probatórios não podem ser olvidados pelo Julgador que tem
que ser um homem de seu tempo e julgar de acordo com a sua experiência de
homem comum, usando as denominadas máximas da experiência (...)".

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Isto porque é defeso à Requerida fazer afirmações falsas


ou enganosas, fornecer ou veicular informações do sumo interesse dos
Requerentes sem, no entanto, cumpri-las, bem como juntar dados mínimos para
embasamento da informação fornecida, pois é notório que a promessa vincula o
promitente à sua efetiva consubstanciação: independentemente se foi estipulado
em contrato escrito, ou verbalmente.

"A regra básica nesse tema [regime de


responsabilização] é que aquele que oferta está obrigado
a cumprir a obrigação nos termos propostos. É o
chamado princípio da vinculação, acolhido plenamente
pelo CDC (art. 30). Da oferta duas conseqüências
derivam para o fornecedor: (a) passa a integrar o
contrato e (b) obriga ao cumprimento da obrigação
subjacente, porquanto a aceitação do consumidor
aperfeiçoou o vínculo obrigacional e a relação de
consumo (art. 30). Sem esquecer que o fornecedor é
solidariamente responsável pelos atos de seus
empregados, prepostos, agentes ou representantes".

O que se observa é a prática reiterada de abusos e uma


sucessão injustificada de descumprimento de promessas, conduzindo os
Requerentes ao erro e ao dano moral, prescindindo a Requerida da boa-fé, que
deve necessariamente lastrear as relações de consumo.

"Lei nº 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor)


– Art. 4º. A Política Nacional das Relações de Consumo
tem por objetivo o atendimento das necessidades dos
consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e
segurança, a proteção de seus interesses
econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem
como a transparência e harmonia das relações de
consumo”.

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A conduta da Requerida configura abuso na relação de


consumo, pois não houve preocupação quanto ao respeito à dignidade dos
Requerentes, bem como à sua qualidade de vida. Como visto, seus interesses
econômicos foram lesados e a sua qualidade de vida diminuída. Não houve
transparência ou harmonia na relação, apesar dos esforços dos Requerentes.

Neste mesmo sentido, o aproveitamento da Requerida


sobre a hipossuficiência dos Requerentes merece reprovação por parte do Poder
Judiciário.

Conforme anotação da boa doutrina sobre o tema, é


garantido ao consumidor ser indenizado quando afrontada a sua dignidade, quando
exposto ao constrangimento, quando submetido a estresse indevido, quando sobre
ele se praticam condutas reprováveis pela sociedade, denotando total ausência de
cidadania e de respeito.

Assim, a má prestação do serviço inerente à compra do


imóvel foi fonte de danos aos Requerentes e ao diploma consumerista, de forma
que devem ser integralmente reparados mediante sentença condenatória de
reparação, nos exatos termos dos pedidos formulados nesta peça

De outra parte, Excelência, não resta dúvida da


responsabilidade da requerida para o caso em apreço, haja vista que se utilizou
profissionais habilitados para vender o seu produto. Vejamos, então, o que ordena o
Código Consumerista:

Art. 34 - O fornecedor do produto ou serviço é


solidariamente responsável pelos atos de seus propostos
ou representantes autônomos.

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A propósito, doutrina e jurisprudência são vozes


uníssonas para a responsabilização que se quer implementar, pois se o fornecedor
necessita de representantes autônomos para comercializar o seu produto ou o
serviço, torna-se automaticamente corresponsável pelos atos por ele praticados.
Vejamos:

“A voz do representante, mesmo o autônomo, é a voz do fornecedor e, por isso


mesmo, o obriga.” (ANTÔNIO HERMAN DE VASCONCELOS E BENJAMIN, Código
Brasileiro de Defesa do Consumidor Comentado Pelos Autores do Anteprojeto, 2,
Ed. Forense Universitária, p. 162).
“O fornecedor deve assumir total responsabilidade pelos atos praticados por seus
prepostos, representantes autônomos ou terceirizados, resguardando-se o seu
direito de regresso em face de quem deu causa ao dano sofrido pelo consumidor.”
(JOSÉ LUIZ TORO DA SILVA, Noções de Direito do Consumidor, Ed. Síntese, p.
47).
“A solidariedade do fornecedor perante os atos de seus prepostos (agentes,
corretores, empregados, comissionistas, divulgadores etc), ainda que sejam eles
representantes autônomos, é proclamada materialmente pelo artigo 34 do CDC.”
(HÉLIO ZAGHETTO GAMA, Curso de Direito do Consumidor, 2. Ed. Forense, p.
103).
“A empresa que, segundo se alegou na inicial, permite a utilização de sua
logomarca, de seu endereço, instalações e telefones, fazendo crer, através da
publicidade e da prática comercial, que era responsável pelo empreendimento
consorcial, é parte passiva legítima para responder pela ação indenizatória proposta
pelo consorciado fundamentada nesses fatos.” (STJ – REsp 139.400/MG, rel. Min.
César Asfor Rocha, DJU 25.9.2000, p. 103).
INDENIZAÇÃO. CORRETOR DE SEGUROS. APROPRIAÇÃO INDEVIDA DO
VALOR PAGO PELO SEGURADO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DA
SEGURADORA. ARTIGO 34 DO CDC. O contrato de seguro está protegido pelo
Código de Defesa do Consumidor, erigindo a responsabilidade solidária da
seguradora pelo dano provocado ao segurado em razão da atuação ilícita do
corretor, ex vi do artigo do referido texto legal.” (TJMG, Ap. Cível 310020-1, rel. Juiz
Silas Vieira, j. 22.8.2000).

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Dessarte, a forma mais equânime e justa de resolução


seria o retorno das partes ao “status quo ante”, sendo devida a devolução integral
da importância despendida pela parte autora.

Com respeito à comissão de corretagem, tem-se que a


mesma deve ser paga por aquele que contratou o serviço do corretor de imóveis ou
da imobiliária para intermediar o negócio conforme as suas instruções, não sendo
razoável nem justo que os autores paguem por um serviço que não contrataram.

Nesse sentido é o que dispõe o Novel Codex Civil, in


literis:

Art. 722. Pelo contrato de corretagem, uma pessoa, não


ligada a outra em virtude de mandato, de prestação de
serviços ou por qualquer relação de dependência, obriga-
se a obter para a segunda um ou mais negócios,
conforme as instruções recebidas.

Art. 724. A remuneração do corretor, se não estiver


fixada em lei, nem ajustada entre as partes, será
arbitrada segundo a natureza do negócio e os usos
locais.

Com efeito, usualmente quem paga a comissão


é quem procura os serviços do corretor, como, por exemplo, nos
contratos de compra e venda, o vendedor é quem terá a referida incumbência. A
solução adotada é a mais lógica, visto que aquele que contrata o corretor
é quem deve efetuar o pagamento de sua remuneração, visto que o terceiro não
estabelece nenhuma relação jurídica com este.

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Augusto Cezar Cozer
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Vejamos, a propósito, o que têm decidido nossos


tribunais a respeito do assunto:

PROMESSA DE COMPRA E VENDA - INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA -


UNIDADE HABITACIONAL EM CONDOMÍNIO - ATRASO NA ENTREGA DA
OBRA - CULPA DA CONSTRUTORA - RESCISÃO CONTRATUAL -
DEVOLUÇÃO DAS PARCELAS PAGAS - COMISSÃO DE CORRETAGEM
DEVIDA POR QUEM A CONTRATA - RECURSO NÃO PROVIDO.
Demonstrada a culpa da construtora quanto ao prazo para a entrega da obra,
correta é a decisão que rescinde o contrato e determina a esta a devolução dos
valores pagos pelo compromissário comprador, monetariamente corrigido, desde o
desembolso de cada parcela. A despesa com comissão de corretagem deve ser
suportada pela compromissária vendedora, se ela própria contratou vendedor
comissionado e com ele ajustou o percentual respectivo.
(TJPR - AC 3081205 PR 0308120-5 - Relator(a): Marcos S. Galliano Daros -
Julgamento: 28/02/2007 - Órgão Julgador: 16ª Câmara Cível - Publicação: DJ:
7324).
JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS - RECURSO INOMINADO - CONSUMIDOR -
CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL - COMISSÃO
DE CORRETAGEM - De regra paga pelo vendedor, salvo estipulação clara e
expressa em contrário. Ausência de previsão. Cobrança abusiva pela falta de
informação. Ofensa aos princípios da boa-fé objetiva e da informação (ARTS. 4º,
INCISOS I E III, E 6o INCISO III, DO CDC). Restituição dos valores pagos de forma
simples. Recurso conhecido e parcialmente provido. 1- É indevida a cobrança
de comissão de corretagem da consumidora/adquirente de imóvel se não há
previsão contratual de pagamento do referido serviço, impondo-se a devolução da
quantia vertida a este título. 2- Na hipótese, inexiste nos autos contrato de
prestação de serviço para intermediação de compra e venda de imóvel. E mais, não
consta no contrato de promessa de compra e venda, acostado às fls. 48/58,
previsão expressa acerca do pagamento de quantia a título de corretagem por parte
do comprador. 3- De regra, quem paga a comissão de corretagem é o vendedor,
salvo estipulação clara e expressa em contrário, e na mesma forma em que se
operou o contrato principal de compra e venda. 4- Em homenagem aos princípios

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Augusto Cezar Cozer
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da boa-fé objetiva e da informação, caberia à empresa recorrida, no momento das


tratativas do negócio, alertar o consumidor de que haveria cobrança de comissão
por corretagem, e sua responsabilidade pelo pagamento. 5- Contudo, entendo que
a falta de informação não consiste em má-fé a atrair a devolução na forma dobrada,
devendo esta se processar na forma simples. 6- Recurso conhecido e parcialmente
provido. Sem custas adicionais. Sem honorários advocatícios, à ausência de
recorrente vencido. (TJDFT - Proc. 20110110711554 - (572767) - Rel. Juiz
Demetrius Gomes Cavalcanti - DJe 19.03.2012 - p. 299).
APELAÇÃO CÍVEL. COBRANÇA. COMISSÃO DE CORRETAGEM. 1. De regra, a
comissão de corretagem exige três requisitos básicos: a) a autorização do vendedor
para intervenção do corretor na realização do negócio; b) a aproximação das partes
pela ação do mediador, e c) obtenção de resultado útil, ou seja, concretização da
compra e venda. 2, prova segura acerca da presença dos três requisitos,
demonstrando a exigibilidade da comissão. 3. Apelação sem provimento. Sentença
Mantida.
(TJCE – AC 7590.2003.8.06.00341– Rel. Des. LINCOLN TAVARES DANTAS –
Órgão Julgador: 4ª Câmara Cível – j. 02.05.2008).

Sendo assim, todo o quantum desembolsado pelos


requerentes deve ser ressarcido pela empresa requerida, a título de reembolso,
acrescidos dos juros e correções legais, não restando dúvida, pelos documentos
trazidos à colação, sobre o direito perseguido nesta querela.

VII - DO DANO MORAL

Os fatos demonstram, muito claramente, ânimo de


prejudicar e a consistente e dolosa ação de má-fé da Requerida.

É garantia fundamental o determinado no artigo 5º,


incisos V e X da Carta Magna, que aduz o seguinte:

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“Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
...

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao


agravo, além da indenização por dano material, moral
ou à imagem;
...

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e


a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente
de sua violação;”

A dor moral e o abatimento de ânimo sofrido pelos


Requerentes em decorrência dos fatos narrados, não carece de demonstração
específica, porquanto são deduzíveis. Não se pode negar que para os Requerentes
que são pessoas honestas e prezam pelo bom nome, o fato ocasionou-lhe
perturbações íntimas e aborrecimentos.

Diante de tudo, caracterizou-se o DANO MORAL, de


forma inconteste, ensejando indenização independentemente de qualquer prova.

O dano moral narrado há de ser indenizado.

O dano é caracterizado com a diminuição ou subtração


de um bem jurídico. E o bem jurídico é constituído não só de haveres patrimoniais e
econômicos, mas também de valores morais, quais sejam a honra, a vida, a saúde,
o sofrimento, os sentimentos, a tristeza, o pesar diante da perda de um ente
querido, a integridade física.

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Ensina a boa doutrina que a expressão dano moral


tecnicamente qualifica o prejuízo extrapatrimonial, possuindo um sentido mais
amplo e genérico, pois representa a lesão aos valores morais e bens não
patrimoniais, reconhecidos pela sociedade, tutelados pelo Estado e protegido pelo
ordenamento jurídico.

Não se discute mais, no campo doutrinário e


jurisprudencial, a possibilidade de se buscar a indenização por danos morais, em
face da ofensa à honra e à moral de uma pessoa, até mesmo pela dicção do artigo
5º, incisos V e X, da Constituição Federal.

Sobre Dano Moral a Egrégia Corte do Superior Tribunal


de Justiça entende que:

“Ementa: Dano moral puro. Caracterização. Sobrevindo


em razão de ato ilícito, perturbação nas relações
psíquicas, na tranqüilidade, nos entendimentos e nos
afetos de uma pessoa, configura-se o dano moral,
passível de indenização. (STJ, Min. Barros Monteiro, T.
04, REsp 0008768, decisão 18/02/92, DJ 06/04/1998, p.
04499)”

Os doutrinadores mais modernos já não agasalham


dúvida sobre a indenização dos prejuízos do dano moral puro. Segundo escólio de
Yussef Said Cahali “parece mais razoável, assim, caracterizar o dano moral pelos
seus próprios elementos; portanto, ‘como a privação ou diminuição daqueles bens
que têm um valor precípuo na vida do homem e que são a paz, a tranqüilidade de
espírito, a liberdade individual, a integridade física, a honra e os demais sagrados
afetos’; e se classificando, assim, em dano que afeta a ‘parte social do patrimônio
moral’ (honra, reputação, etc.) e dano que molesta a ‘parte afetiva do patrimônio
moral’ (dor, tristeza, saudade, etc.); e dano moral que provoca direta ou
indiretamente dano patrimonial (cicatriz deformante, etc.), e dano moral puro (dor,
tristeza, etc.).” (“Dano e Indenização”, pág. 7, ed. 1980).

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A Requerida, com demonstração inequívoca de falta de


zelo e descuido profissional, praticou vários atos ilícitos, devendo ser fortemente
condenada pecuniariamente.

No que tange ao dano moral, difícil é avaliar a extensão


do dano sofrido pelos Requerentes, cabendo ao prudente arbítrio deste Juízo, a
determinação do quantum que cumpra a função de reparação do dano e que ao
mesmo tempo, atinja o fim sócio-educativo do instituto da reparação civil, eis que
segundo entendimento pacífico da jurisprudência, a importância não pode ser
irrisória, sob pena de se premiar a conduta lesiva da causadora do dano.

O dever de indenizar surge também sob o enfoque de


uma outra análise, levando-se em conta que a situação em baila trata da quebra de
um contrato firmado entre as partes.

Assim, a penalização haverá de ser suficientemente


pesada, a ponto de inibir futuras reincidências.

VIII - DA RESCISÃO CONTRATUAL

Verifica-se com a narração dos fatos que a Requerida


descumpriram o contrato pactuado entre as partes, pois não cumpriram o que
prometeram/alegaram para os Requerentes.

Mediantes estas considerações, os Requerentes


requerem a rescisão contratual, decretada judicialmente, uma vez que a Requerida
descumpriu o contrato pactuado e não cumpriu o que prometeram/alegaram.

Cumpre ressaltar, que a rescisão contratual deve-se por


culpa exclusiva da Requerida.

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Logo, não deverá incidir nenhuma multa ou qualquer tipo


de ônus contra os Requerentes.

IX - FONTE JURISPRUDENCIAL

A Legislação e a Doutrina são fortemente cristalinas e


determinantes na proteção ao pleito dos Requerentes, também, a Jurisprudência
segue a mesma linha, como se observa abaixo:

“A indenização por dano moral independe de qualquer


vinculação com prejuízo patrimonial ou dependência
econômica daquele que a pleiteia, por estar diretamente
relacionada com valores eminentemente espirituais e
morais” (TJMS – 1ª T. – Ap. – Rel. Elpídio Helvécio
Chaves Martins – j. 03.10.95 – RT 726/369).

“O Código de Defesa do Consumidor estabelece como


direitos básicos do consumidor, entre outros, o acesso
aos órgãos judiciários com vistas à prevenção ou
reparação de danos patrimoniais e morais e a facilitação
da defesa de seus direitos” (TJSP – 11ª C. – Ap. – Rel.
Gildo dos Santos – j. 21.10.93 – JTJ-LEX 150/161).

“O vício do produto ou serviço, ainda que solucionado


pelo fornecedor no prazo legal, poderá ensejar a
reparação por danos morais, desde que presentes os
elementos caracterizadores do constrangimento à esfera
moral do consumidor” (STJ – 3ª T. – REsp. 324.629 –
Rel. Nancy Andrighi – j. 10.12.2002 – RSTJ 186/313).

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“São equiparáveis a consumidor todas as pessoas,


determináveis ou não, expostas as práticas comerciais
abusivas” (STJ – 3ª T. – Resp. 476.428-0 – Rel. Nancy
Andrighi – j. 09.05.2005 – RSTJ 193/336 e JSTJ 193/68).

Os Requerentes não podem estarem sujeitos a uma


situação constrangedora e desrespeitosa, decorrente de ato ilícito sob pena de
prejudicar sua honra perante a sociedade.

De maneira conclusiva, fica claro o verdadeiro


desrespeito da Requerida ao Código de Defesa do Consumidor.

Fica patente, portanto, que a reparação do dano moral


encontra em nossa legislação pátria toda a tutela necessária ao ressarcimento
pretendido pelos Requerentes.

X - DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

Diante dos fatos narrados, da Legislação e da Doutrina,


não resta outra alternativa aos Requerentes, senão requerer a antecipação de tutela
preconizada na Lei.

O instituto da Tutela Antecipada visa garantir a


efetividade da prestação jurisdicional e traz em seu bojo a possibilidade de ser o
provimento de mérito concedido de modo liminar.

Como abaixo se transcreve, somente a título de


ilustração, o artigo 84 da Lei Consumerista autoriza o Juiz a conceder a antecipação
de tutela, e mais, “Sendo relevante o fundamento da demanda” deve o Juiz impor
multa diária para que não haja por parte da Requerida dúvidas em cumprir
imediatamente o designo judicial.

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O artigo 84 do Código de Defesa do Consumidor, Lei nº.


8.078, de 11 de setembro de 1990, aduz o seguinte:

“Art. 84 - Na ação que tenha por objeto o cumprimento


da obrigação de fazer ou não fazer, o Juiz concederá a
tutela específica da obrigação ou determinará
providências que assegurem o resultado prático
equivalente ao do adimplemento.

§ 1º - A conversão da obrigação em perdas e danos


somente será admissível se por elas optar o autor ou se
impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado
prático correspondente.
§ 2º - A indenização por perdas e danos se fará sem
prejuízo da multa (artigo 287 do Código de Processo
Civil).
§ 3º - Sendo relevante o fundamento da demanda e
havendo justificado receio de ineficácia do provimento
final, é lícito ao Juiz conceder a tutela liminarmente ou
após justificação prévia, citado o réu.
§ 4º - O Juiz poderá, na hipótese do § 3º ou na sentença,
impor multa diária ao réu, independentemente de pedido
do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação,
fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.
§ 5º - Para a tutela específica ou para a obtenção do
resultado prático equivalente, poderá o Juiz determinar
as medidas necessárias, tais como busca e apreensão,
remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra,
impedimento de atividade nociva, além de requisição de
força policial.”

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O Código de Processo Civil também autoriza o Juiz a


conceder a antecipação de tutela, conforme se observa no artigo 273 do Código de
Processo Civil:

“O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total


ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no
pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se
convença da verossimilhança da alegação e:
I – haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil
reparação; ou
II – fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o
manifesto propósito protelatório do réu.”

A concessão da Tutela Antecipada faz-se necessária e


conveniente ante o caráter de urgência de tal medida e estão presentes todos os
requisitos ensejadores da liminar, pois é justa sua determinação por Vossa
Excelência.

Para garantir o efetivo cumprimento da tutela específica


acima, espera-se a imposição de multa diária pelo seu descumprimento, a ser
revertida em favor dos Requerentes.

XI - CONCLUSÃO

Acreditando na Justiça para salvaguardar seus Direitos


de Consumidor, origem da presente ação, os Requerentes esperam, de um lado
compensar os sacrifícios e constrangimentos suportados e, do outro, mostrar a
Requerida que seus clientes devem ser tratados com mais atenção, consideração e
respeito.

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Por tudo considerado, será, além de um ato de


justiça, um relevante serviço à cidadania e à defesa do consumidor, posto que
qualquer um que pratique qualquer ato do qual resulte prejuízo a outrem, deve
suportar as conseqüências de sua conduta. É regra elementar do equilíbrio
social. A justa reparação é obrigação que a lei impõe a quem causa algum
dano a outrem.

XII - DOS PEDIDOS

Face ao exposto, requer a Vossa Excelência, a procedência do pedido,


concedendo a prestação jurisdicional na forma dos seguintes pleitos:

1) Os benefícios da Assistência Judiciária, na forma da


Lei 1.060/50, por não ter os Requerentes condições de arcarem com as custas
processuais e honorários advocatícios;

2) Que seja antecipada, parcialmente, a tutela pretendida


para o fim de: A- Inverter o ônus da prova, com respaldo no artigo 6º, inciso VIII do
Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078, de 11 de Setembro de 1990); B-
Cominar obrigação de fazer à Requerida para que ela suspenda imediatamente a
cobrança de qualquer valor relacionado ao contrato em lide , inclusive se abstenha
de incluir o nome dos requerentes nos cadastros pejorativos de créditos; C-
Decretar imediatamente a rescisão do Contrato Particular de Promessa de Compra
e Venda firmado junto à Requerida para aquisição de apartamento nº 805, da Torre
Praia, do Empreendimento Happy Days Manguinhos, situado no Distrito de
Carapina, no município da Serra-ES, no valor de R$ 215.240,04 (duzentos e quinze
mil duzentos e quarenta reais e quatro centavos), sem a imputação de quaisquer
ônus para os Requerentes;

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3) Que seja expedido o competente Ofício Judicial à


Requerida, assinalando-se prazo para o cumprimento dos termos da tutela,
cominando multa diária de R$ 1.000,00 (Um Mil Reais), a ser revertida em favor dos
Requerentes caso não venham acatar a ordem judicial;

4) A citação da Requerida, na pessoa de seus


representantes legais, para responderem aos termos da presente ação, sob pena
de revelia e confissão;
5) A inversão de ônus da prova, com respaldo no artigo
6º, inciso VIII do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078, de 11 de Setembro
de 1990);
6) Declarar nulas todas as cláusulas contratuais que
atentem contra os princípios consumeristas, e especialmente a cláusula 8ª e seu
sub iten 8.3, cláusula 11ª e seu sub iten 11.1 e 11.2, e cláusula 27ª, por serem
abusivas e iníquas, uma vez que destoantes do que prescreve o artigo 51, incisos I
e IV, pois exoneram responsabilidade do fornecedor pela sua mora ou
descumprimento contratual, colocam o consumidor em desvantagem exagerada
pela postergação do reembolso, como também estabelecem obrigações iníquas,
malévolas e incompatíveis com a boa-fé, devendo a empresa ré responder
integralmente pelo método comercial desleal e abusivo imposto no contrato em lide;

7) DECLARAR a rescisão do Contrato Particular de


Promessa de Compra e Venda firmado junto à Requerida para compra do
apartamento nº 805, da Torre Praia, do Empreendimento Happy Days Manguinhos,
situado no Distrito de Carapina, no município da Serra-ES, sem a imputação de
qualquer multa ou ônus para os Requerentes, redundando em mandar ressarcir aos
autores pelos valores de pagamento da entrada no valor de R$4.200,00 (quatro mil
e duzentos reais), as intermediárias de 30 e 60 dias no valor de R$3.030,00 (três mil
e trinta reais) cada, a parcela única de R$2.880,00 (dois mil oitocentos e oitenta
reais), e também as 10 parcelas mensais pagas no valor de R$720,00 (setecentos e
vinte reais) cada, totalizando R$20.340,00 (vinte mil trezentos e quarenta reais),
tudo devidamente corrigido e acrescido de juros desde as datas dos efetivos
pagamentos;

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8) CONDENAR o requerido a pagar aos requerentes,


uma indenização por danos morais (art. 5º. CF/88 c/c arts. 6º, inciso VI, e 14 do
CDC), em montante a ser arbitrado por esse juízo, sugerindo-se, com base na
capacidade financeira das partes e no grau e extensão do dano, o valor
correspondente a 30 (trinta) salários mínimos, como parâmetro mínimo;

9) A condenação da Requerida ao pagamento das


custas processuais, honorários advocatícios na base de 20% (vinte por cento) sobre
o valor da condenação e demais cominações legais;

10) Ao final, que sejam julgados totalmente procedentes


os pedidos constantes na Inicial, em todos os seus termos, tornando definitiva a
antecipação de tutela concedida.

Protesta e requer provar o alegado por todos os meios


de provas admitidos em direito, juntada de novos documentos, perícias,
depoimentos pessoais e inquirição de testemunhas (oportunamente arroladas), e
outras que se fizerem necessárias no decorrer da lide, tudo desde já requerido.

Dá-se à causa o valor de R$ 215.240,04 (duzentos e


quinze mil duzentos e quarenta reais e quatro centavos).

Nesses Termos,
Pede E. Deferimento.

Vila Velha-ES, 13 de junho de 2014.

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