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Número: 123456712.1234.1.12.

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PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL


Órgão julgador: Colatina - 4ª Vara Cível
Distribuição : 10/04/2022
Valor da causa: R$ 29.749,36
Assuntos: Indenização por Dano Material, Indenização por Dano Moral

Partes Procurador/Terceiro vinculado

TÍCIO SILVA SOUZA (REQUERENTE) Filipe vinicius Gumieri Comper (ADVOGADO)

BANCO ZACARIAS S.A. (REQUERIDO) PAULO ROBERTO JOAQUIM DOS REIS (ADVOGADO)

EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 4ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE COLATINA – ES

Proc 123456712.1234.1.12.1234

TÍCIO SILVA SOUZA, brasileiro, casado, qualificado nos termos da ação, vem a presença de Vossa Excelência por
meio de seu advogado, interpor:

RECURSO DE APELAÇÃO
Em face da decisão que julgou parcialmente procedente os pedidos formulados em face ao BANCO ZACARIAS S/A
MANARIA;

Requer, desde já o seu recebimento no efeito suspensivo, com a imediata intimação do recorrido para, oferecer as
contra razões anexas, remetidas ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo para os fins aqui
aduzidos.

Termos em que pede e aguarda deferimento.

Colatina/ES, 21 de junho de 2022

Filipe Vinícius Gumieri Comper


OAB/ES xx.xxxx

RAZÕES RECURSAIS
Apelante: TÍCIO SILVA SOUZA

Apelado: BANCO ZACARIAS S.A.

Processo de Origem: 123456712.1234.1.12.1234

EGRÉGIO TRIBUNAL, COLENDA CAMARA, EMÉRITOS DESEMBARGADORES.

DA TEMPESTIVIDADE

Nos termos dos arts. 219 e 1003, §5º do CPC, o prazo para interpor o presente recurso é de 15 dias úteis, sendo
excluído o dia de começo e incluindo o dia do vencimento nos termos do art. 224 do CPC/15.

Dessa forma, tem-se por tempestivo o presente recurso, devendo ser acolhido.

SÍNTESE DA DEMANDA A SER RECORRIDA


Em fevereiro de 2021 o requerente percebeu que haviam descontos desconhecidos em seu benefício previdenciário
junto à previdência social.

Com dificuldade, o requerente conseguiu agendar um horário no INSS desta comarca para melhor esclarecer os
descontos. Válido informar, que neste momento de pandemia, até o acesso às informações ficaram bastante
difíceis, principalmente para aqueles com menos escolaridade. A partir do extrato de empréstimos consignados o
requerente verificou DIVERSOS EMPRÉSTIMOS realizados no mês de setembro a novembro não solicitados,
conforme depreende da inicial.

Ajuizada a demanda a fim de esclarecer e reparar os atos ilícitos causados pelo banco ré, a parte contestou dizendo
não haver ato ilícito praticado por ela, contudo, trouxe argumentações que não condizem com os documentos
juntados. Expôs que os descontos eram referentes a negociações onde o objetivo era quitação do contrato anterior,
gerando novas parcelas com “melhores condições de juros”.

Expôs ainda que todos os empréstimos e renegociações foram contratadas pelo autor, OCORRE QUE A RÉ JUNTOU
DOCUMENTOS DO AUTOR, DE FORMA REPETIDA (VÊ-SE QUE SÃO DOCUMENTOS IGUAIS EM TODOS OS ANEXOS de
contratos), e informou que foi o mesmo que requereu.

Salienta que o autor é pessoa idosa, analfabeta, sendo seu aparelho de telefone utilizado apenas para ligações,
tendo em vista possuir recursos limitados de tecnologia (celular simples para apenas ligações e SMS).

Destaco que é oportuno e relevante, que, a despeito das assinaturas, que, guarda semelhança com as demais.
Ocorre que não se faz possível extrair de tais documentos a sua correlação com as operações questionadas no
contexto da presente lide, até porque o autor não nega que firmou outros desentendimentos com o réu.

Portanto o requerido não comprovou a real contratação dos empréstimos questionados por parte do autor,
apenas limitou-se a juntar print da tela de seu sistema interno com as informações pessoais do requerente.

Sobre a Sentença, o MM Juiz entendeu:


(...)

As provas documentais e as alegações de ambas as partes são claras e suficientes


para o julgamento da lide, estando o processo apto para a sentença.

A relação é claramente consumerista, o que enseja a inversão do ônus da prova.

Com a inversão do ônus da prova, cabe ao réu provar a inveracidade dos fatos
alegados pelo autor, sob pena de serem presumidos verdadeiros, pois o consumidor é
considerado o “elo frágil” da relação, e por isso merece maior proteção.

Ademais, os fornecedores respondem objetiva e solidariamente por eventos


decorrentes da relação de consumo.

Ressalta-se que prevalece a presunção de boa-fé da parte autora, que não foi
desconstituída pela reclamada (art. 4º, I e II da Lei 8.078/90).

Com efeito, relata a parte autora ter sofrido descontos indevidos em sua
aposentadoria, desconhecendo os supostos empréstimos que os teriam originado.

O requerido sustentou que o requerente anuiu com os empréstimos.

Analisando os fatos articulados pelas partes, bem como as provas produzidas nos
autos, verifico que assiste razão à parte autora. E isto, independentemente da
produção de prova pericial grafotécnica.. Isso porque fácil se constatar certa
divergência entre o documento inserido no ID nº 6773169 e aquela inserida no
“contrato” consoante ID nº 8181485.

Com efeito, o requerido não colacionou aos autos qualquer prova de que os
descontos efetuados decorrem de crédito ao qual o autor tenha aderido.

Cabe frisar que as assinaturas constantes nos instrumentos de contrato ainda que
possam, de certa forma convergir com a do instrumento constante do ID nº 6773169,
há a negativa peremptória do autor de que a assinatura nos contratos seja sua.

Dessa forma, entendo que o réu efetuou descontos indevidos na aposentadoria do


autor, devendo os referidos valores ser restituídos em dobro, conforme art. 42,
parágrafo único, do CDC.

(...)

Sendo a cobrança indevida, passo a analisar a existência do dano moral.

Segundo entendimento da doutrina e da jurisprudência, notadamente do Egrégio


Superior Tribunal de Justiça, para a configuração do dano moral basta que se
comprove a existência do seu fato potencialmente ensejador. Em outras palavras,
prescinde a prova do constrangimento, dor ou sofrimento, bastando estar
evidenciada a ocorrência do ato ilícito.

No presente caso, a falha na prestação do serviço é grave, posto que ensejou


desconto indevido na conta bancária do autor, restringindo seu poder de compra,
bem como de honrar com seus compromissos financeiros. Entendo, pois, que é devido
o dano moral, passando a dirimir o quantum a ser fixado a título de indenização. O
valor da indenização a ser arbitrado deverá levar em conta a gravidade da conduta,
as condições financeiras das partes, do mesmo modo que deve representar uma
sanção para o causador do dano, sem, contudo, importar em enriquecimento sem
causa.

Assim, entendo como razoável e proporcional o valor de R$4.000,00 a título de


reparação por dano moral. Ante as razões acima expendidas, JULGO
PROCEDENTE O PEDIDO AUTORAL para:

a)DECLARAR nulos os contratos discutidos nos autos;


b)CONDENAR o requerido a restituir ao autor, em dobro, o valor indevidamente
descontado no benefício do autor, ressalvada, ainda, a soma dos valores debitados
após a propositura da ação, com incidência de correção monetária a partir da
propositura da ação, e juros legais, a partir da citação.
c)CONDENAR o requerido ao pagamento de indenização por danos morais, no
valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), corrigidos monetariamente e com juros
legais a partir da propositura da ação.

O autor deverá proceder a restituição do montante eventualmente disponibilizado em


sua conta, a título de empréstimo consignado, ficando desde o requerido autorizado a
cobrar tais valores, desde que comprove que o crédito de fato foi efetuado em conta
corrente de titularidade e de uso do autor.

Julgo extinto o processo neste grau de jurisdição, na forma do inciso I, do artigo 487,
do Código de Processo Civil. Condeno o requerido no pagamento das custas
processuais e honorários ao patrono do autor que fixo em 12% (doze por cento) do
valor da condenação.

Após o trânsito em julgado da presente sentença, determino nova intimação da parte


requerida para efetuar pagamento voluntário da condenação, no prazo de 15
(quinze) dias, sob pena de multa do art. 523, § 1º, do CPC. Em caso de depósito
judicial, este deverá ser efetuado no Banestes S/A. Efetuado o pagamento, expeçase
alvará e, ato contínuo, encaminhem-se os autos à Contadoria para cálculo das custas
finais. Oficie-se ao INSS informando-se acerca desta sentença.

Ocorre que, tratando de decisão definitiva, é cabível o recurso de apelação.

MÉRITO DA AÇÃO

Conforme narrado, não houve qualquer precaução nas atividades da empresa Ré, que pelo risco da atividade
deveria tomar os cuidados necessários para evitar este tipo de ocorrência. O risco inerente à atividade exige da
empresa maior agilidade e cautela no gerenciamento destes dados, gerando o dever de RESSARCIR TODOS OS
PREJUÍZOS ao agir de forma imprudente e negligente.

Vale frisar, por relevante, que o fato da Requerente sofrer o constrangimento de ter sua conta fraudada por
terceiros, por si só, já configura o DANO MORAL, pois teve o desgosto de ter seus rendimentos afetados e seu nome
negativado.

Trata-se, portanto, de responsabilidade objetiva do banco, previsto no art. 927, § único, do CC e consolidado na
Súmula do Superior Tribunal de Justiça:

Súmula nº 479 STJ: "As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos
gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no
âmbito de operações bancárias."

Nesse sentido é o entendimento majoritário sobre o tema:

Trata-se de inequívoca RESPONSABILIDADE OBJETIVA das instituições financeiras, mormente o risco da atividade,
respondendo pelos danos causados aos seus clientes, mesmo quando relacionados a fraudes ou delitos atribuídos a
terceiros.
Desta forma, tal conduta fere gravemente os ditames consumeristas, uma vez que a ré se valeu de informações
pessoais do requerente para prestar serviços não contratados, assim considerada a abusividade da conduta da ré,
senão vejamos o art. 39, III do CPC:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas


abusivas: [...] III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia,
qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço;

O ilustre Desembargador Sérgio Cavalieri Filho tece alguns destacamento a repeito desta matéria:

"Todo aquele que se disponha a exercer alguma atividade no mercado de consumo


tem o dever de responder pelos eventuais vícios ou defeitos dos bens e serviços
fornecidos, independentemente de culpa. Esse dever é imanente ao dever de
obediência às normas técnicas e de segurança, bem como aos critérios de lealdade,
que perante os bens e serviços ofertados, quer perante os destinatários dessas
ofertas. A responsabilidade decorre do simples fato de dispor-se alguém a realizar
atividade de produzir, estocar, distribuir e comercializar produtos ou executar
determinados serviços. O fornecedor passa a ser o garante dos produtos e serviços
que oferece no mercado, respondendo pela qualidade e segurança dos mesmos."
(Programa de Responsabilidade Civil, 8ª ed., Ed. Atlas S/A, pág.172).

Para a configuração do dever de indenizar, tem-se a presença dos pressupostos da responsabilidade civil, quais
sejam:
(a) ato antijurídico;
(b) dano;
(c) nexo causal (dano decorrente do ato);
(d) responsabilidade objetiva; e, por fim,
(e) norma jurídica prescrevendo o dever de indenizar o dano causado.

Nessa toada, a responsabilidade do banco réu é objetiva, ou seja, independentemente da existência de culpa,
motivo pelo qual deverá responder pelos danos causados.

Ademais, é possível constatar que ao prestar os referidos serviços a empresa ré, que sem qualquer autorização
vinculou outros diversos empréstimos consignados não contratados junto ao benefício do requerente. Assim,
somente por este motivo, a condenação da ré já se justificaria, ante a evidente má-fé no mercado de consumo.

Nobre Julgador, trata-se de verdadeira conduta ilícita com extrema má-fé, com o fito de lesar a boa-fé objetiva que
deve existir em todas relações contratuais, pois, o consumidor, sempre acredita que a Instituição Financeira agirá
com transparência e lealdade, inexistente, no caso em tela.

Nesta visão, já se encontra sedimentado o entendimento dos Tribunais no sentido de condenar a instituição
financeira ao pagamento de danos morais, quando do desconto indevido de empréstimos consignados não
contratados, sendo o dano moral in re ipsa.

DA RESPONSABILIDADE CIVIL PELO DANO MORAL

Conforme demonstrado pelos fatos narrados e prova que junta no presente processo, a empresa ré deixou de
cumprir com sua obrigação primária de cautela e prudência na atividade, causando constrangimentos indevidos ao
Autor.

Não obstante ao constrangimento ilegítimo, as reiteradas tentativas de resolver a necessidade do Autor ultrapassa a
esfera dos aborrecimentos aceitáveis do cotidiano, uma vez que foi obrigado a buscar informações e ferramentas
para resolver um problema causado pela empresa contratada para lhe dar uma solução.

Assim, neste caso não se pode analisar isolado o constrangimento sofrido, mas os fatores que obrigaram o
Consumidor a buscar a via judicial. Ou seja, deve-se considerar o grande desgaste do Autor em todas as tentativas
de solucionar o ocorrido sem êxito, gerando o dever de indenizar, conforme precedentes sobre o tema:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE NEGÓCIO


JURÍDICO C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS
- (...). CONTRATO NÃO APRESENTADO PELA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA -
DANOS MORAIS CONFIGURADOS - QUANTUM INDENIZATÓRIO (DANOS
MORAIS) MAJORADOS PARA R$ 10.000,00 - REPETIÇÃO DE INDÉBITO NA
FORMA DOBRADA - MÁ-FÉ DEMONSTRADA - DA COMPENSAÇÃO DE CRÉDITO
- IMPOSSIBILIDADE - RECURSO IMPROVIDO. (...). A instituição financeira ré,
descuidando-se de diretrizes inerentes ao desenvolvimento regular de sua
atividade, não comprovou que os contratos foram, de fato, celebrados pelo
consumidor, tampouco tenha sido ele o beneficiário do produto dos mútuos
bancários. Não basta para elidir a responsabilização da pessoa contratada a
alegação de suposta fraude. À instituição ré incumbia o ônus de comprovar
que agiu com as cautelas de praxe na contratação de seus serviços, até
porque, ao consumidor não é possível a produção de prova negativa (CDC,
art. 6, VIII c/c CPC, art. 373, II). Inafastáveis os transtornos sofridos pela
idosa que foi privada de parte de seu benefício de aposentadoria, por
conduta ilícita atribuída a instituição financeira, concernente à falta de
cuidado na contratação de empréstimo consignado, situação apta a causar
constrangimento de ordem psicológica, tensão e abalo emocional, tudo
com sérios reflexos na honra subjetiva. Levando-se em consideração a
situação fática apresentada nos autos, a condição socioeconômica das
partes e os prejuízos suportados pela parte ofendida, evidenciase que o
valor do quantum fixado pelo juízo a quo deve sofrer majoração para R$
10.000,00 (dez mil reais), quantia que se mostra adequada e consentâneo
com as finalidades punitiva e compensatória da indenização. (...) (TJMS.
Apelação n. 080160905.2015.8.12.0016, Mundo Novo, 4ª Câmara Cível,
Relator (a): Des. Claudionor Miguel Abss Duarte, j: 25/04/2018, p:
26/04/2018).

Trata-se da necessária consideração dos danos causados pela perda do tempo útil (desvio
produtivo) do consumidor.
DOS DANOS PELO DESVIO PRODUTIVO
Conforme disposto nos fatos iniciais, o Consumidor teve que desperdiçar seu tempo útil para
solucionar problemas que foram causados pela empresa Ré que não demonstrou qualquer
intenção na solução do problema, obrigando o ingresso da presente ação.

O STJ, nessa linha de entendimento já reconheceu o direito do consumidor à indenização pelo


desvio produtivo diante do desperdício do tempo do consumidor para solucionar um problema
gerado pelo fornecedor, afastando a idéia do mero aborrecimento, in verbis:

"Adoção, no caso, da teoria do Desvio Produtivo do Consumidor, tendo em vista


que a autora foi privada de tempo relevante para dedicar-se ao exercício de
atividades que melhor lhe aprouvesse, submetendo-se, em função do episódio em
cotejo, a intermináveis percalços para a solução de problemas oriundos de má
prestação do serviço bancário. Danos morais indenizáveis configurados. (...) Com
efeito, tem-se como absolutamente injustificável a conduta da instituição financeira
em insistir na cobrança de encargos fundamentadamente impugnados pela
consumidora, notório, portanto, o dano moral por ela suportado, cuja demonstração
evidencia-se pelo fato de ter sido submetida, por longo período [por mais de três
anos, desde o início da cobrança e até a prolação da sentença], a verdadeiro calvário
para obter o estorno alvitrado, cumprindo prestigiar no caso a teoria do Desvio
Produtivo do Consumidor, por meio da qual sustenta Marcos Dessaune que todo
tempo desperdiçado pelo consumidor para a solução de problemas gerados por
maus fornecedores constitui dano indenizável, ao perfilhar o entendimento de que a
"missão subjacente dos fornecedores é - ou deveria ser - dar ao consumidor, por
intermédio de produtos e serviços de qualidade, condições para que ele possa
empregar seu tempo e suas competências nas atividades de sua preferência.
Especialmente no Brasil é notório que incontáveis profissionais, empre sas e o
próprio Estado, em vez de atender ao cidadão consumidor em observância à sua
missão, acabam fornecendo-lhe cotidianamente produtos e serviços defeituosos, ou
exercendo práticas abusivas no mercado, contrariando a lei. Para evitar maiores
prejuízos, o consumidor se vê então compelido a desperdiçar o seu valioso tempo e a
desviar as suas custosas competências - de atividades como o trabalho, o estudo, o
descanso, o lazer - para tentar resolver esses problemas de consumo, que o
fornecedor tem o dever de não causar. Tais situações corriqueiras, curiosamente,
ainda não haviam merecido a devida atenção do Direito brasileiro. Trata-se de fatos
nocivos que não se enquadram nos conceitos tradicionais de 'dano material', de
'perda de uma chance' e de 'dano moral' indenizáveis. Tampouco podem eles (os
fatos nocivos) ser juridicamente banalizados como 'meros dissabores ou percalços'
na vida do consumidor, como vêm entendendo muitos juristas e tribunais."
[2http://revistavisaoj uridica.uol. com.br/advogadosleis-j urisprudencia/71/desvio-
produto-doconsumidortese-do-advogado-marcos -ddessaune-255346-1. asp] .(...).
(AREsp 1.260.458/SP - Ministro Marco Aurélio Bellizze)

A jurisprudência, no mesmo sentido, ancora o posicionamento de que o desvio


produtivo ocasionado pela desídia de uma empresa deve ser indenizada, conforme
predomina a jurisprudência:

AÇÃO INDENIZATÓRIA DE DANOS MORAIS E PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA.


COMPRA E VENDA PELA INTERNET. PRODUTO NÃO ENTREGUE PELA VENDEDORA.
RESTITUIÇÃO DO VALOR POR AUSÊNCIA DA MERCADORIA EM ESTOQUE. TEORIA DO
TEMPO PERDIDO. Dano moral configurado em razão do tempo perdido pelo
consumidor na busca, sem sucesso, pelo produto desejado. Não pode parecer
razoável, numa sociedade minimamente organizada, que vive na busca incessante
pela otimização de seu tão precioso tempo, que um fornecedor possa, impunemente,
deixar de proceder a entrega de um bem no tempo e modo que havia se
comprometido, fazendo com que o consumidor seja privado durante determinado
período de vida de se utilizar de algo que tinha legítima expectativa de receber. Se
anunciava o produto pela internet, o vendedor deveria ter tido o cuidado de verificar
se o mesmo havia em seu estoque, não podendo, após o consumidor efetuar a
compra, comodamente dizer que não mais possui o bem, ainda que devolvendo o
dinheiro, pois, a essa altura, o comprador não quer receber de volta o que pagou:
quer, e tem direito, a receber o que comprou, sob pena de ser indenizado pelo
tempo útil de vida perdido com esta operação comercial que restou frustada. Soa
como um verdadeiro prêmio ao fornecedor, após comprovada a sua inadimplência,
ser compelido a, apenas e tão somente, devolver o valor recebido pelo produto não
entregue, sem nenhum ônus pelos desgastes causados. Além da frustação suportada
pelo não recebimento do bem adquirido, ao se confirmar a notícia de que o
fornecedor não irá cumprir com a sua obrigação acordada, é tomado o consumidor
por absoluto sentimento de impotência, em lamentável situação adversa que o faz
começar do zero nova procura pelo produto, revelando-se indiscutível a perda de um
tempo útil de sua vida. Na prática, situações como a presenciada nestes autos levam
o consumidor a ter que sair de sua rotina diária, de sua zona de conforto, privando-se
de poder se dedicar a seus afazeres cotidianos, de usufruir dos prazeres da vida, para
perder seu tempo e gastar energia buscando solucionar problemas a que não deu
causa vez que decorrentes da conduta negligente do fornecedor. Sentimentos de
impotência, frustração e indignação, que extrapolam o mero dissabor e ensejam
condenação pecuniária. Dano moral reconhecido. Sentença reformada.
RECURSO PROVIDO
(TJSP;Apelação:123456712.1234.1.12.1234; Relator (a): A. C. Cortez Washingto
Órgão Julgador: 34ª Câmara de Direito Privado; Foro Regional VII - Itaquatetuba - 3ª
Vara Cível; Data do Julgamento: 30/07/2021; Data de Registro: 31/07/2021).

APELAÇÃO - AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO C.C.INDENIZAÇÃO POR DANOS


MORAIS - CONSUMIDOR DEMANDANTE INDEVIDAMENTE COBRADO, POR DÉBITO
REGULARMENTE SATISFEITO - Completo descaso para com as reclamações do autor -
Situação em que há de se considerar as angústias e aflições experimentadas pelo
autor, a perda de tempo e o desgaste com as inúmeras idas e vindas para solucionar
a questão - Hipótese em que tem aplicabilidade a chamada teoria do desvio
produtivo do consumidor - Inequívoco, com efeito, o sofrimento íntimo
experimentado pelo autor, que foge aos padrões da normalidade e que apresenta
dimensão tal a justificar proteção jurídica - Indenização que se arbitra na quantia de
R$ 15.000,00, à luz da técnica do desestímulo. (...) (TJSP; Apelação 1027480-
84.2016.8.26.0224; Relator (a): Ricardo Pessoa de Mello Belli; Órgão Julgador: 19ª
Câmara de Direito Privado; Foro de Guarulhos - 8ª Vara Cível; Data do Julgamento:

05/03/2018; Data de Registro: 13/03/2018, #73314176)

Trata-se de notório desvio produtivo caracterizado pela perda do tempo que lhe seria útil ao descanso, lazer ou de
forma produtiva, acaba sendo destinado na solução de problemas de causas alheias à sua responsabilidade e
vontade. A perda de tempo de vida útil do consumidor, em razão da falha da prestação do serviço não constitui
mero aborrecimento do cotidiano, mas verdadeiro impacto negativo em sua vida, devendo ser MAJORADO O DANO
MORAL RECONHECIDO EM SENTENÇA, BEM COMO A ANULAÇÃO DAS COBRANÇAS NÃO RECONHECIDAS.
Ante o exposto, requer a esta colenda Câmara que se digne acolher as razões acima explanadas, CONHECENDO E
PROVENDO o presente recurso de Apelação, para o justo fim de que seja reformada a sentença proferida pelo juízo
“a quo”, no sentido de que: A) Majoração da condenação em Danos Morais em face ao exposto; b) Sejam anulados
os empréstimos não conhecidos pelo recorrente, tendo em vista que a recorrida não logrou êxito em comprovar as
contratações; requer ainda que a decisão vergastada não seja modificada para pior, haja vista o princípio da não
reformatio in pejus;

Neste termos, pede e espera deferimento.

Colatina/ES, 21 de junho de 2022.

FILIPE VINICIUS GUMIERI COMPER

OAB XX.XXX

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