Você está na página 1de 16

AO MM JUÍZO DE DIREITO DA VARA DE CAUCAIA/CE

AÇÃO DE INTERDITO PROIBITÓRIO

COM PEDIDO DE TUTELA CAUTELAR ANTECEDENTE DE URGÊNCIA

 PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO – Idosa 94 anos

ZULEIDE LOUREIRO DE MEDEIROS, brasileira, viúva, do lar, residente e domiciliada na Rua


Juací Sampaio Pontes, 1699 CEP. 61.600-000, Caucaia - CE, portadora da Identidade no: 137.910,
inscrita no CPF sob no: 617.039.663-68, por intermédio de seu advogado, Eduardo André
Medeiros de Paula, OAB/CE 18.289, e-mail: eandremedeiros@gmail.com, procuração anexa, vem
com o recíproco respeito e acatamento perante este juízo interpor a presente AÇÃO DE
INTERDITO PROIBITÓRIO COM PEDIDO DE TUTELA CAUTELAR ANTECIPADA DE URGÊNCIA, com
fulcro nos artigos 5º, caput e incisos XXII e XXIV, da CF/88, 927 e ss., do Código Civil e artigos 560
usque 567 do Código de Processo Civil, em face da PREFEITURA MUNICIPAL DE CAUCAIA/CEARÁ,
pessoa jurídica de direito público interno , em endereço na Rodovia CE-090 KM 01, n° 1076,
Itambé, Caucaia/CE - CEP: 61600-970 - Telefone: (85) 3342.4410 e pela SEPLAN (Secretaria
Municipal de Planejamento Urbano e Ambiental) do município de Caucaia, situada na Rua
Jerônimo Amaral, 99 - Centro – Caucaia, pelas razões de fato e de direito que passa a expor para
ao final requerer.

1
(85) 3013.3458 / (85) 99808.2122
EduardoMedeirosAdvogados
eandremedeiros@gmail.com
www.eduardomedeirosadvogados.com.br
Rua Andrade Furtado, 1977, Cocó, CEP 60.192-070
DOS FATOS
A Prefeitura Municipal de Caucaia, por meio de seu órgão SEPLAN (Secretaria Municipal de
Planejamento Urbano e Ambiental), instaurou processo administrativo n.º 1887/2021 no qual visa
localizar possível existência de rua no loteamento denominado Jardim Santa Isabel, neste
município.
A Requerente tomou conhecimento da existência do supramencionado processo quando
houve a notificação de seu filho, João Batista Mendes Medeiros Júnior, em que a Prefeitura
Municipal de Caucaia, por meio da SEPLAN, assim dispôs:
“Razão pela qual, fica Vossa Senhoria notificado, que, no prazo e 30 (trinta) dias,
o Poder Público Municipal, realizará o estabelecimento dos parâmetros
adequados à via, nos termos da legislação vigorante, com sua consequente
desobstrução – reconstituindo, portanto, a pavimentação, bem como o passeio
público local – o que resultará na demolição de parte da área de 80,75m2 do
imóvel de vossa propriedade que, atualmente, encontra-se avançando sobre a
via pública, como se extrai do Relatório de Vistoria anexo.”

Ocorre Exa., que não há avanço do terreno da Requerente sobre a via pública, tendo o
processo administrativo concluído de forma unilateral, sem direito ao contraditório e a ampla
defesa que houve suposta invasão de terras públicas, fato que atenta contra a própria prova
produzida nos autos.
O que busca o município é a turbação/esbulho de parte do patrimônio da autora,
equivalente a área de 80,75m2, como demonstraremos de forma cristalina a este juízo.
As fls. 09 do processo administrativo consta despacho subscrito pelo Sr. Rafael Rômulo
Matias de Lima, (Analista de Geoprocessamento), no qual aduz em síntese que:
“após análise das matrículas (5867 e 92), a sua espacialização se deu de forma
aproximada, uma vez que, as mesmas, não possuem pontos de referência,
coordenadas espaciais, bem como as medidas estabelecidas nos documentos não
correspondem as dimensões reais do terreno. Após análise das duas matrículas
não foram encontradas ruas ou vias públicas além daquelas que já existem”.

2
(85) 3013.3458 / (85) 99808.2122
EduardoMedeirosAdvogados
eandremedeiros@gmail.com
www.eduardomedeirosadvogados.com.br
Rua Andrade Furtado, 1977, Cocó, CEP 60.192-070
As fls. 14 do processo administrativo a prefeitura colaciona foto em que aponta a suposta
invasão sobre terreno público.

3
(85) 3013.3458 / (85) 99808.2122
EduardoMedeirosAdvogados
eandremedeiros@gmail.com
www.eduardomedeirosadvogados.com.br
Rua Andrade Furtado, 1977, Cocó, CEP 60.192-070
4
(85) 3013.3458 / (85) 99808.2122
EduardoMedeirosAdvogados
eandremedeiros@gmail.com
www.eduardomedeirosadvogados.com.br
Rua Andrade Furtado, 1977, Cocó, CEP 60.192-070
Pela imagem colacionada se verifica que não há invasão do imóvel da Requerente sobre
bem público, sendo, primeiramente, porque o mencionado loteamento fora constituído em
momento posterior a propriedade e posse da autora sobre o bem indiviso, ou seja, antes da
existência do loteamento, o imóvel em questão já possuía os limites e confrontações que até a
presente data detém, ou seja, não houve qualquer modificação em seu perímetro ou área.
Em segundo, às fls., 28 do Processo 1887/2021, consta novo despacho subscrito pelo
Gerente de Geoprocessamento, Sr. Fernando Henrique Reis Fernandes, no qual, em resposta a
solicitação da Assessoria do Gabinete da SEPLAN, informa que: “não constam informações na base
cartográfica desta secretaria, até a presente data, que possam afirmar quanto a possibilidade
do imóvel está inserido em área de domínio do município de Caucaia-CE, desta forma sugerimos
a solicitação da transcrição de n.º 5.933, citada na certidão emitida pelo cartório de Registro de
Imóveis.”.
Às fls. 38 consta nova imagem da suposta localização do loteamento Santa Isabel,
(localização aproximada) e, por meio da referida imagem, é nítido que o imóvel da Requerente
não invada via pública ou bem pertencente a municipalidade.
Decorrência lógica da ausência de apropriação de terras públicas se traduz na iminência de
turbação da propriedade, de forma indevida, ao arrepio da Constituição Federal que no inciso
XXIV do artigo 5.º é taxativa ao dispor que: “a lei estabelecerá o procedimento para
desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e
prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição.”.
Além desses fatos, as fls., 45, consta novo despacho subscrito pelo Gerente de
Geoprocessamento, Sr. Fernando Henrique Reis Fernandes, no qual, em resposta a solicitação da
Assessoria do Gabinete da SEPLAN, informa que: quanto a possibilidade de vetorização da
transcrição de n.º 5933, temos a informar que, o referido documento cartorial não apresenta
pontos de amarração (Coordenadas, distância entre esquinas mais próximas, descrição de
confinantes, entre outros) que possibilitem a correta posição geográfica do imóvel em questão,
desta forma seguem mapas georreferenciados com as POSSÍVEIS E SUPOSTAS LOCALIZAÇÕES do
imóvel descrito.

5
(85) 3013.3458 / (85) 99808.2122
EduardoMedeirosAdvogados
eandremedeiros@gmail.com
www.eduardomedeirosadvogados.com.br
Rua Andrade Furtado, 1977, Cocó, CEP 60.192-070
6
(85) 3013.3458 / (85) 99808.2122
EduardoMedeirosAdvogados
eandremedeiros@gmail.com
www.eduardomedeirosadvogados.com.br
Rua Andrade Furtado, 1977, Cocó, CEP 60.192-070
Por meio de imagem extraída do google Earth verifica-se que não há avanço sobre a via
pública, sendo que, a área aponta é aproximada. Com o fito de corroborar a delimitação correta
juntamos memorial descritivo do terreno em questão, comprovando suas limitações,
confrontações e confinantes, além de ângulos internos e posições referenciadas.

7
(85) 3013.3458 / (85) 99808.2122
EduardoMedeirosAdvogados
eandremedeiros@gmail.com
www.eduardomedeirosadvogados.com.br
Rua Andrade Furtado, 1977, Cocó, CEP 60.192-070
Diante do exposto, resta evidente a utilização indevida dos instrumentos necessários a
adequação territorial que busca o Poder Público.

DO DIREITO
PRELIMINARMENTE - DOS VÍCIOS DO PROCESSO ADMINISTRATIVO - (Nulidade Absoluta) –
VIOLAÇÃO DIRETA À CONSTITUIÇÃO FEDERAL NO ART. 5º, LV
O Processo Administrativo em questão apresenta vícios insanáveis, uma vez que não
oportunizou a requerida o direito de defesa preconizado na Constituição Federal no art. 5º, LV
"aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados
o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recurso a ela inerentes".
Todo o apurado administrativamente não ofereceu nenhum meio de defesa a
Requerente, que, como dito, somente tomou ciência após a equivocada notificação de seu filho
sobre a suposta infração, que, como demonstrado, é inexistente, pois suas conclusões são
contrárias as provas dos autos daquele processo.

8
(85) 3013.3458 / (85) 99808.2122
EduardoMedeirosAdvogados
eandremedeiros@gmail.com
www.eduardomedeirosadvogados.com.br
Rua Andrade Furtado, 1977, Cocó, CEP 60.192-070
O vício em questão ofende a ordem constitucional e a própria etapa da instrução
processual em processos administrativos que segundo Gasparine deve ser assim entendida:
“Esta etapa tem por finalidade a averiguação, comprovação e convencimento da Administração
Pública para que tome uma decisão. É onde são elucidados os fatos por iniciativa própria da
Administração, determinando diligências, produzindo provas, requerendo depoimento da parte,
oitiva de testemunhas, inspeções e perícias. Além de determinar produção provas (pode ser feito
até o momento do julgamento), através de laudos e/ou pareceres, tudo isso objetivando fundar
a decisão que será tomada. Na instrução devem ser tomadas todas as providências necessárias
ao esclarecimento dos fatos que integram o processo, desde que não sejam utilizadas provas
adquiridas ilicitamente. Verifica-se aí a implementação do princípio da economia processual.
Nessa fase é assegurado ao denunciado a possibilidade de acompanhar o processo,
pessoalmente, ou, através de seu advogado, sendo-lhe permitido reinquirir testemunhas,
produzir provas e contraprovas (Gasparini, 2008. P. 994)” 1.

Utilizando por analogia a Lei Nº 9.784/99, que regula o processo administrativo no âmbito
federal, em seu artigo segundo temos:

Art. 2.º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade,
finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:
VIII – observância das formalidades essenciais à garantia dos direitos dos administrados;
IX - Adoção de formas simples, suficientes para propiciar adequado grau de certeza, segurança e
respeito aos direitos dos administrados;
X - Garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de alegações finais, à produção de
provas e à interposição de recursos, nos processos de que possam resultar sanções e nas situações
de litígio;

Além da violação dos preceitos acima elencados o processo administrativo violou de forma
frontal os Direitos da Requerente, conforme estipulados no artigo 3.º da mencionada lei.

Art. 3.º O administrado tem os seguintes direitos perante a Administração, sem prejuízo de
outros que lhe sejam assegurados:
I - Ser tratado com respeito pelas autoridades e servidores, que deverão facilitar o exercício de
seus direitos e o cumprimento de suas obrigações;
II - Ter ciência da tramitação dos processos administrativos em que tenha a condição de
interessado, ter vista dos autos, obter cópias de documentos neles contidos e conhecer as
decisões proferidas;

1. GASPARINI, Diogenes; Direito administrativo 13. ed., revisada e atualizada. São Paulo, Saraiva, 2008.
ISBN: 9788502068537

9
(85) 3013.3458 / (85) 99808.2122
EduardoMedeirosAdvogados
eandremedeiros@gmail.com
www.eduardomedeirosadvogados.com.br
Rua Andrade Furtado, 1977, Cocó, CEP 60.192-070
III - Formular alegações e apresentar documentos antes da decisão, os quais serão objeto de
consideração pelo órgão competente;
IV - Fazer-se assistir, facultativamente, por advogado, salvo quando obrigatória a
representação, por força de lei.

Violados todos os direitos constitucionais, o processo administrativo tramitou sem o


conhecimento da Requerente, que não pode exercer as garantias constitucionais referentes ao
contraditório e a ampla defesa, tendo, inclusive, a administração pública decidido contra a prova
nos autos e ao arrepio da lei turbar a propriedade particular, quando deveria agir em
conformidade com a lei, indenizando previamente a Requerente, pelo potencial perda da
propriedade de parte de seu imóvel.

NO MÉRITO
O INTERDITO PROIBITÓRIO COMO MEIO DE PROTEÇÃO DA POSSE
O Direito Civil tem, em suas raízes, o objetivo de defender a primeira geração de direitos.
Estes, não por acaso, são chamados direitos civis. E dentre eles, o direito de propriedade tem
grande destaque. Assim, encontramos nos Códigos Civil e de Processo Civil vários institutos
voltados à proteção de posses e propriedades. Como, por exemplo, o interdito proibitório.
Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e reintegrado em
caso de esbulho.
Art. 561. Incumbe ao autor provar:
I - A sua posse;
II - A turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III - a data da turbação ou do esbulho;
IV - A continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a perda da posse, na
ação de reintegração.
Art. 562. Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a
expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração, caso contrário, determinará
que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que
for designada.
Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a manutenção
ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos representantes judiciais.
Art. 563. Considerada suficiente a justificação, o juiz fará logo expedir mandado de manutenção
ou de reintegração.
Art. 564. Concedido ou não o mandado liminar de manutenção ou de reintegração, o autor
promoverá, nos 5 (cinco) dias subsequentes, a citação do réu para, querendo, contestar a ação
no prazo de 15 (quinze) dias.
Parágrafo único. Quando for ordenada a justificação prévia, o prazo para contestar será contado
da intimação da decisão que deferir ou não a medida liminar.

10
(85) 3013.3458 / (85) 99808.2122
EduardoMedeirosAdvogados
eandremedeiros@gmail.com
www.eduardomedeirosadvogados.com.br
Rua Andrade Furtado, 1977, Cocó, CEP 60.192-070
Art. 565. No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação afirmada na
petição inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de
concessão da medida liminar, deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em até 30
(trinta) dias, que observará o disposto nos §§ 2º e 4º.
§ 1º Concedida a liminar, se essa não for executada no prazo de 1 (um) ano, a contar da data de
distribuição, caberá ao juiz designar audiência de mediação, nos termos dos §§ 2º a 4º deste
artigo.
§ 2º O Ministério Público será intimado para comparecer à audiência, e a Defensoria Pública será
intimada sempre que houver parte beneficiária de gratuidade da justiça.
§ 3º O juiz poderá comparecer à área objeto do litígio quando sua presença se fizer necessária à
efetivação da tutela jurisdicional.
§ 4º Os órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana da União, de Estado ou
do Distrito Federal e de Município onde se situe a área objeto do litígio poderão ser intimados
para a audiência, a fim de se manifestarem sobre seu interesse no processo e sobre a existência
de possibilidade de solução para o conflito possessório.
§ 5º Aplica-se o disposto neste artigo ao litígio sobre propriedade de imóvel.
Art. 566. Aplica-se, quanto ao mais, o procedimento comum.

Seção III
Do Interdito Proibitório
Art. 567. O possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de ser molestado na posse poderá
requerer ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, mediante mandado proibitório
em que se comine ao réu determinada pena pecuniária caso transgrida o preceito.
Art. 568. Aplica-se ao interdito proibitório o disposto na Seção II deste Capítulo.

Resumindo o conceito, o interdito proibitório é um mecanismo processual para impedir


agressões iminentes que afetam a posse. Neste sentido, veremos, com mais detalhes, como e
quando ele pode ser utilizado no processo civil.
Pela definição de Gagliano e Pamplona Filho 2
O interdito proibitório […] poderá ser manejado quando o possuidor direto ou indireto tenha justo
receio de ser molestado na posse, caso em que poderá requerer ao juiz que o segure da turbação
ou esbulho iminente, mediante mandado proibitório em que se comine ao réu determinada pena
pecuniária caso transgrida o preceito (art. 567 do Novo CPC). Aplicam sê-lhe as normas
procedimentais da reintegração e da manutenção de posse.
Ainda que o Código de Processo Civil não utilize o termo “interdito proibitório”, este
instituto está previsto no artigo 567, NCPC, cuja redação é a seguinte:
Art. 567. O possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de ser molestado na posse poderá
requerer ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, mediante mandado proibitório
em que se comine ao réu determinada pena pecuniária caso transgrida o preceito.

2 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2017.

11
(85) 3013.3458 / (85) 99808.2122
EduardoMedeirosAdvogados
eandremedeiros@gmail.com
www.eduardomedeirosadvogados.com.br
Rua Andrade Furtado, 1977, Cocó, CEP 60.192-070
Desse modo, aquele que detém posse de um bem e que tenha motivos para acreditar que
essa posse será atrapalhada por outra pessoa pode apresentar um requerimento judicial para que
o responsável pela ameaça receba um mandato proibitório que o impeça de concretizá-la. A
transgressão desse mandato gera sanção em dinheiro.
Assim, podemos dizer que o interdito proibitório é um instrumento de caráter preventivo.
Conforme disserta, Daniel Amorim Assumpção Neves3:
A ação de interdito proibitório tem nítida natureza inibitória, voltando-se para evitar que a
ameaça de agressão à posse se concretize. Enquanto nosso direito não tinha previsão de tutela
inibitória genérica, a ação de interdito proibitório sempre teve lugar de destaque no que se
convencionou chamar de tutela inibitória específica. Atualmente, diante da amplitude do art. 497,
parágrafo único, do Novo CPC, o interdito possessório não mais pode ser considerado uma ação
excepcional dentro do sistema processual. De qualquer forma, o que se busca com tal demanda
judicial é evitar a prática do ato ilícito consubstanciado no esbulho ou na turbação possessória.

DO CABIMENTO DA AÇÃO DE INTERDITO PROIBITÓRIO:


Reza o Código Civil em seu artigo 1.210 que o indivíduo que detém posse de um bem tem
o direito a proteção contra violência iminente que ameace a posse:
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de
esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.

Dessa maneira, podemos dizer que a hipótese de cabimento do interdito proibitório é a


existência de violência iminente contra o direito de posse. Essa violência ocorre na forma de
turbação ou esbulho. Por ser violência iminente, é apenas risco. Ou seja, ainda não se concretizou
em ato material. Havendo concretização, todavia, caberá ação de manutenção ou reintegração de
posse.

REQUISITOS DO INTERDITO PROIBITÓRIO

Há um requisito mais essencial ao requerimento de interdito proibitório, que pode ser


extraído dos dispositivos citados acima. Trata-se do justo receio de ser molestado. Em outras

3 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 9. ed. Salvador: Ed. JusPodivm,
2017.

12
(85) 3013.3458 / (85) 99808.2122
EduardoMedeirosAdvogados
eandremedeiros@gmail.com
www.eduardomedeirosadvogados.com.br
Rua Andrade Furtado, 1977, Cocó, CEP 60.192-070
palavras, deve haver motivo convincente, que possa ser devidamente comprovado, para crer que
a outra parte tem intenção de interferir no direito de posse.
Além de o exposto, ainda é importante ressaltar que o interdito proibitório obedece aos
mesmos critérios de aplicação empregados na manutenção de posse (em caso de turbação) e
reintegração de posse (em caso de esbulho). Aplica-se, portanto, subsidiariamente os
procedimentos do art. 568, do CPC, que dispõe:
Art. 568. Aplica-se ao interdito proibitório o disposto na Seção II deste Capítulo. Esses critérios são previstos
nos artigos 561 a 566 do CPC. Vejamos alguns destaques.

Em primeiro lugar, segundo o art. 561, Novo CPC, cabe ao autor do requerimento provar a
posse e a violência iminente para fundamentar seu pedido. Então, conforme dita o artigo 562, se
a petição inicial atender a todos os critérios, o juiz poderá emitir um mandato liminar, sem
necessidade de ouvir o réu.
PROVA DA POSSE DA REQUERENTE: A posse da Requerente é comprovada pela cópia
integral do processo judicial de usucapião, que tramitou sob o n.º 0042695-75.2013.8.06.0064
perante a 1.ª Vara Cível da comarca de Caucaia, com sentença de procedência proferida,
declarando a posse da Autora sobre o imóvel desde 1985.
“DISPOSITIVO: Ante o exposto, julgo procedente o pedido da presente ação,
reconhecendo o domínio da promovente sobre o imóvel usucapiendo,
devidamente descrito no memorial descritivo e levantamento topográfico de fls.
11 e 13/14, a fim de que lhe sirva esta sentença de título aquisitivo para a
abertura de matrícula e registro, consoante disciplina o artigo 550do Código Civil
de 1916 c/c artigo 2028 do Código Civil de 2002.
Por conseguinte, determino a extinção do feito, com resolução de mérito, com
espeque no artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil.
Empós o trânsito em julgado, expeça-se mandado de abertura de matrícula e
registro ao Ofício de Registro de Imóvel desta comarca, os quais deverão ser
efetuados independentemente do pagamento do imposto de transmissão
intervivos, em virtude de não ter havido transmissão, mas aquisição originária da
propriedade. [...]”
O JUSTO RECEIO de ser molestada, (Esbulho/Turbação), em sua posse resta cabalmente
demonstrado pela existência do processo administrativo, n.º 1887/2021 tramitando na SEPLAN -
Caucaia, bem como da notificação emitida e direcionada ao filho da Requerida, no qual aduz que:
fica Vossa Senhoria notificado, que, no prazo e 30 (trinta) dias, o Poder Público Municipal, realizará

13
(85) 3013.3458 / (85) 99808.2122
EduardoMedeirosAdvogados
eandremedeiros@gmail.com
www.eduardomedeirosadvogados.com.br
Rua Andrade Furtado, 1977, Cocó, CEP 60.192-070
o estabelecimento dos parâmetros adequados à via, nos termos da legislação vigorante, com sua
consequente desobstrução – reconstituindo, portanto, a pavimentação, bem como o passeio
público local – o que resultará na demolição de parte da área de 80,75m2 do imóvel de vossa
propriedade que, atualmente, encontra-se avançando sobre a via pública, como se extrai do
Relatório de Vistoria anexo.
Na turbação da posse, o possuidor tem sua posse perturbada por terceiro que busca
impedir o exercício legítimo da posse, mas que ainda não foi, de fato, impedido. Neste caso, o
possuidor permanece exercendo a posse, mas não de forma mansa. São os fatos que se extraem
do que articulado, descritos e provado na presente peça e documentos anexos.
No sentido aqui explanado colacionamos a jurisprudência a seguir:
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL.
Apelação Cível com Reexame Necessário no.: 0000704-98.2011.8.19.0009 Apelantes 1: Carlos
José Gonçalves Pinheiro e outra, Apelante 2: Município de Bom Jardim Apelado: Sebastião
Cenebry. INTERDITO PROIBITÓRIO. ÁREA PARTICULAR. PROVA DA AMEAÇA. APELAÇÕES
DESPROVIDAS. Restou comprovado nos autos que o apelado é proprietário da faixa de terras em
litígio. 2. A mera denominação da área, por meio de lei municipal, não é capaz de modificar a
natureza jurídica do bem. 3. Inexiste desapropriação indireta da área em questão, porquanto a
posse sempre foi exercida pelo apelado. 4.Destarte, comprovado o justo receio de ser molestado
em sua posse, o apelado tem direito à tutela possessória. 5. Apelações a que se nega provimento,
mantida a sentença no reexame necessário.

“INTERDITO PROIBITÓRIO – AMEAÇA DE TURBAÇÃO – POSSE ANTERIOR EXISTENTE –


REQUISITOS PARA CONCESSÃO DA TUTELA POSSESSÓRIA – PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. O
interdito proibitório constitui ação possessória de caráter preventivo, possível de ser aviado pelo
possuidor direto contra o indireto que, demonstrando o fundado receio de ameaça à posse
exercida, vise a impedir que se efetive a turbação ou esbulho, com a expedição do mandado
competente. Mister se faz ressaltar constituírem-se requisitos inarredáveis para o manejo de
interdito proibitório: a prova da posse, a ameaça de turbação praticada pelo réu; a teor do
estabelecido no art. 932 do CPC. Comprovados os requisitos para a concessão do interdito
proibitório, previstos no art. 932 do CPC, a procedência da ação possessória se impõe.” (TJMG,
Ap. Cív. n. 2.0000.00.509784-7/000, Rel. Des. Otávio Portes, j. 29.11.2006).

“AGRAVO DE INSTRUMENTO – INTERDITO PROIBITÓRIO – LIMINAR – PRESENÇA DOS


REQUISITOS DO ARTIGO 932, DO CPC – DEFERIMENTO. O interdito proibitório constitui ação
possessória de caráter preventivo, interposto pelo possuidor, diante de fundado receio de ameaça
à posse exercida, visando a impedir que se efetive a turbação ou esbulho. A presença ostensiva
da agravada nas redondezas do imóvel em questão caracteriza o justo receio do possuidor de ser
molestado em sua posse, e autoriza o deferimento da medida pleiteada, nos termos do artigo
932, do CPC.” (TJMG, Ag. Inst. n. 1.0024.07.485.096-7/001, Rel. Des. Lucas Pereira, DJ
15/02/2008).

Destarte, não há qualquer obstáculo para o provimento do presente Interdito Proibitório,


com Mandado cominando pena pecuniária, caso não seja respeitado.

14
(85) 3013.3458 / (85) 99808.2122
EduardoMedeirosAdvogados
eandremedeiros@gmail.com
www.eduardomedeirosadvogados.com.br
Rua Andrade Furtado, 1977, Cocó, CEP 60.192-070
DA MANUTENÇÃO DA POSSE À AUTORA – IMINÊNCIA DE INVASÃO PELOS RÉUS – EXPEDIÇÃO DE
MANDADO PROIBITÓRIO
MM. Juiz, permite o Código Civil, por meio do art. 932, que o possuidor de um terreno
procure amparo no Poder Judiciário, visando salvaguardar seu direito de propriedade, quando ele
vem sendo ameaçado.
É precisamente isso o que está ocorrendo com a autora. Para comprovar a justa ameaça
à posse há existência de processo administrativo n.º 1887/2022, que visa a turbação, pelo poder
público, do bem de propriedade particular em completa inconstitucionalidade dos atos, uma vez
que o processo administrativo está eivado de nulidades, bem como a posse da autora é justa,
pública e amparada em justo título, além de que não foi oportunizado a Requerente o direito a
ampla defesa e contraditório, além de afronta direta ao direito de propriedade.
Ora, a Carta maior em vigência no país, em seu art. 5º, caput e inciso XXII, insere como
princípio basilar da República a garantia do direito de propriedade aos brasileiros e estrangeiros.
In casu, o que se espera da prestação estatal é a proteção da propriedade de uma cidadã, sob risco
de o próprio Estado estar coadunando com a ilegalidade e inconstitucionalidade.
Conforme já amplamente comprovado, a autor é possuidora do TERRENO, e está sob
constante ameaça de ter seu imóvel invadido pelos réus. Assim, configuram-se as condições
exigidas para o deferimento do MANDADO PROIBITÓRIO.

DOS PEDIDOS

Ante o exposto, pugna a V. Exa., que defira os seguintes pedidos e requerimentos abaixo
arrolados:

1. A concessão de LIMINAR com o fim de abster OS REQUERIDOS de exercer qualquer


medida que importe no esbulho ou turbação do imóvel objeto desta demanda, sendo
expedido de imediato o competente Mandado Proibitório, sob pena pecuniária no valor
de R$ 50.000,00 (Cinquenta mil reais) caso seja descumprido;
2. Após a apreciação do pedido anterior, sejam os réus citados por meio de oficial de justiça,
para, querendo, contestarem a presente ação;
3. A PROCEDÊNCIA DA PRESENTE AÇÃO, para que lhe sejam confirmados os termos da
liminar concedida, determinando que não procedam ou esbulho ou turbação das terras
da Autora, sob pena pecuniária de 1.000,00 por dia de descumprimento da medida, sendo

15
(85) 3013.3458 / (85) 99808.2122
EduardoMedeirosAdvogados
eandremedeiros@gmail.com
www.eduardomedeirosadvogados.com.br
Rua Andrade Furtado, 1977, Cocó, CEP 60.192-070
assegurada a posse do imóvel a Requerente. Condenando os Requeridos a pagar as custas
e honorários de advogado;
4. Alternativamente, caso este d. juízo discorde do valor proposto, que determine pena
pecuniária diversa da pretendida pela autora.
5. Alternativamente, caso tenha sido INDEFERIDO o pedido liminar, seja julgada
PROCEDENTE a presente ação, com a imposição para que os réus não exerçam qualquer
invasão ao imóvel do demandante, sob pena pecuniária no valor de R$ 100.000,00 (cem
mil reais), com a restituição do bem (em caso de perda da posse pela Autora) e
reconstrução/restituição dos danos materiais suportados
6. A intimação do d. representante do Ministério Público para ofertar seu r. parecer (art.
178, III).
7. Requer os beneplácitos da assistência judicial gratuita, uma vez que a requerente não
dispõe de renda necessária ao pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios em prejuízo de seu sustento, pois é beneficiária de pensão por morte de seu
falecido marido, percebendo mensalmente o equivalente a um salário-mínimo.
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito, em especial
a prova documental que desde já colaciona, bem como prova testemunhal, inspeção judicial,
pericial e o depoimento pessoal do Requerido, além de outras provas que se façam necessárias ao
bom andamento do feito;
Dá-se a causa o valor de R$ (240.000,00) (Duzentos e quarenta mil reais). Valor referente
ao preço da área do imóvel que está sob ameaça de turbação/esbulho pela Prefeitura Municipal
de Caucaia
Termos que
Pede deferimento.
Caucaia, 15 de junho de 2022

Eduardo André Medeiros de Paula


OAB/CE 18.289

16
(85) 3013.3458 / (85) 99808.2122
EduardoMedeirosAdvogados
eandremedeiros@gmail.com
www.eduardomedeirosadvogados.com.br
Rua Andrade Furtado, 1977, Cocó, CEP 60.192-070

Você também pode gostar