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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO DA

HUÍLA
ISCED – HUÍLA
HISTÓRIA DE ÁFRICA II
O PROFESSOR: João Jeremias Chiweyengue
O ESTUDANTE: Manuel Luaia Mateus

ASSUNTO:
A INVASÃO COLONIALISTA DE ÁFRICA, A SUA PARTILHA,
OCUPAÇÃO E AS RESISTÊNCIAS AFRICANAS
Objectivo geral
Explicar a invasão colonialista de África, a sua partilha, ocupação e as resistências
africanas

3.1 – As rivalidades coloniais e as ocupações


Introdução
Desde o século XVI os negreiros europeus frequentavam as costas do continente
africano em busca de escravos destinados, essencilamente, às plantações e minas da
América. Para este tráfico bastavam as feitorias estabelecidas pelos europeus ao longo
da costa africana.

“os estrangeiros efectuavam as suas transações à pressa e fugiam logo que possível ao
calor seco ou húmido e às febres de regiões consideradas como o túmulo dos homens
brancos” (Brunschwig, 1972, p. 17).

Mas a atitude europeia em relação à África irá mudando paulatinamente e, no último


quartel do século XIX, a “questão africana” será a grande preocupação dos governos
europeus. Na base da viragem estiveram além das causas económicas, as
determinantes, motivações políticas e motivações ideológicas que, no seu conjunto,
levaram à rápida conquista da África.

Causas económicas: a enorme acumulação de capitais (provenientes, essencialmente,


do comércio triangular, da colonização da América e do comércio de produtos
orientais), favoreceu a rápida industrialização da Inglaterra no século XVIII, tendo
provocado alterações nos modos dos recursos naturais e, por conseguinte, na
economia e na sociedade. A Inglaterra devido a industrialização aboliu a escravatura
em 1772 e devido a perda das trezes colónias na América e o rápido desenvolvimento
da indústria aboliu o tráfico de escravos em 1807.

Causas económicas: com estas abolições, a partir de 1830, as fragatas britânicas


passaram a prender todos os navios que se dedicavam ao tráfico de escravos, não por
razões humanitárias, mas porque a sua mecanizada indústria já não se coadunava com
o trabalho escravo e os africanos nessas novas circunstâncias deviam desempenhar o
papel de consumidores dos produtos industrizados e fornecedores de matérias-primas.

Causas económicas: o desenvolvimento e expansão em outros países europeus do uso


das máquina (a vapor, de fiar, de tecer, etc.) provocou a excessiva produção de bens e
causou em 1873 na Europa, uma grave crise económica que será determinante para a
expansão europeia em África, que passou a ser vista como vasto mercado para o
consumo dos produtos industrializados e de fontes de matérias-primas baratas.

Motivações políticas: entre as motivações políticas que impulsionaram a espansão


europeia em África, nos finais do século XIX, as mais importantes forma: a estratégia e
o objectivo de defender, para lá dos mares, o princípio do equilíbrio europeu
(Monnier, 1968, p. 63). Quer dizer, a rivalidade entre as grandes potências europeias
impulsionou-as para as conquistas em África como tentativa, por um lado, de
manterem o seu lugar no concerto político europeu e, por outro lado, de criar
obstáculos ao engrandecimento das potências rivais.

Motivações políticas: As rivalidades seculares entre a França e a Inglaterra, levou estes


dois países a disputarem a ocupação da África Ocidental.

A derrota francesa em Sedan (1871) diante dos alemães que lhe custou a perda das
províncias orientais de Alsácia e Lorena, tornou amargo o patriotismo francês e agora
desejavam compensar a derrota sofrida, provando ao mundo que a França ainda tinha
possibilidades de retomar o seu lugar de grande potência e como já não podia
reconquistá-lo na Europa, vai tentar reparar em África.

Motivações políticas: o chanceler alemão Bismark, dedicando todo o seu esforço `a


consolidação do Império, cuja unidade conseguira, vai, no âmbito da sua política
externa, apoiar as reivindiações francesas em diferentes regiões africanas,
pretendendo, com isso, afastar a nação rival das terras perdidas e leste.
Motivações ideológicas: a Europa, fortemente interessads na posse de África por
razões económicas e políticas, vai procurar uma justificação morsal para as suas
acções, apoiando-se nas descrições de missionários que fizeram crer que o homem
branco deveria jogar em África um grande papel civilizador, ajudando as populações
“primitivas” a elevaram-se, instruindo-as e evangelizando-as.

Motivações ideológicas: Livingstone, médico, missionário e exploardor, que passou


grande parte da sua vida em África, desejava a colonização como um remédio contra o
tráfico de escravos e dizia: Que Deus abençoe amplamente todo o homem, seja ele
americano, inglês ou turco, que possa ajudar a sarar esta chaga (Ki-zerbo, 1972, p. 74).

Assim, a colonização aparecia como um dever humanitário para a civilização e


evangelização dos africanos.

3.1.2 – A rivalidade europeia na região do


Congo no último quartel do século XIX
Introdução
As viagens de exploração realizadas por Cameron, Stanley e Brazza, na década de 70
do século XIX, revelaram as potencialidades económicas da África Central, atraíndo as
atenções da França e de Leopoldo II da Bélgica para a região do Congo.

Viagens de exploração na África Central


David Livingstone, médico e missionário escocês, foi o maior explorador da África
Austral. Em 1849 explorou Kolobeng na orla sul do deserto do Kalahari, a confluência
do rio Cuando com o rio Zambeze. De 1853 a 1854, explorou o lago Dilolo, as bacias do
Kassai e do Kuango, o reino de Kassanje e chegou até até Luanda. De 1854 a 1856 fez o
trajecto Luanda a Quelimane (Moçambique), passando pelas quedas do Victória no
Zambeze, por Zumbo e Tete.

De 1858 a 1864 explorou as regiões entre o rio Zambeze e o lago Niassa. De 1866 a
1873 explorou a região do rio Rovuma aos lagos Tanganiyka, Moeru e Bangweulu
tendo, numa das suas expedições alcançado o Lualaba (curso superior do rio Congo).
Livingstone deu a conhecer o centro da parte autral do continente africano, o que
permitiu a elaboração de uma carta da região. Efectuou o reconhecimento do curso do
alto e médio Zambeze e realizou a primeira travessia da África Austral de Ocidente a
oriente.

Assim, de acordo com Vaux, citado por Cornevin (1987, p. 402), Livingstone explorou
os lagos Niassa, Tanganiyka, Moeru e Bangweulu. Precisou a linha de partilha das
águas entre o Congo e o Zambeze, fez conhecer, enfim, num relato apaixonante ainda
hoje, a riqueza destas terras consideradas antes dele como quase desérticas.

A falta de informações sobre Livingstone, levou o jornal “New York Herald” enviar uma
expedição comandada por Henri Stanley, jornalista americano. Este encontrou
Livingstone em Oudjiji, na margem oriental do lago Tanganiyka, em Novembro de
1871., mas não conseguiu convencê-lo a regressar a Grã-Bretanha. De Volta à Europa,
Stanley escreveu o livro que o tornou célebre, intitulado “Como Eu Encontrei
Livingstone” e começou a preparar uma nova expedição à África.

A pretexto de procurar também Livingstone, a Sociedade de Geografia de Londres


organizou, em 1872 uma expedição chefiada por Verney Lovett Cameron. Partindo em
18 de Março de 1873, de Bagamoyo, na costa oriental africana (em frente ao Zanzibar),
encontrou em Tabora uma caravana de africanos transportando os restos mortais de
Livingstone (falecido em 1 de Maio de 1873, atacado por febre e disenteria).

Cameron, decidiu continuar com a viagem e explorou o lago Tanganiyka. Viajou de


Bagamoyo, percorreu a região do alto Cassai, Catanga e do Bié e, em Novembro de
1875, chegou a Benguela. Permitiu realizar a primeira travessia da África Austral de
Oriente para Ocidente. De regresso a Europa, as descrições que fez das riquezas
minerais das regiões percorridas (sobretudo cobre, na região de Catanga), atraíram
fortemente a atenção das potências europeias para essas regiões.

Entre 1874 a 1877, Henry Stanley (jornalista, explorador e escritor Inglês) realizou a
segunda expedição em África que resolveu o maior problema hidrográfico da África
central percorrendo o curso do rio Congo ou Zaire até a foz. Deu a conhecer grande
parte da África Central. Sabia-se que a África Central era facilmente acessível por leste
e que o Congo era navegável. Em Luanda a 5 de Setembro de 1877, Stanley escrevia:
“sinto-me convencido de que a questão desta poderosa via aquática há-de tornar-se,
com o tempo uma questão política. O rio é e será o grande caminho principal da África
Ocidental e Central.

Entre 1875 a 1878, Pierre de Brazza Savorgnan, (explorador francês) realizou uma
expedição no Ogoué que lhe permitiu reconhecer o curso do rio e percorrer o interior
do actual Congo e Gabão.

A conferência de Geografia
Entusiasmado pelos relatos de Cameron, Leopoldo II da Bélgica reuniu em Setembro
de 1876 em Bruxelas uma Conferência Internacional de Geografia. Nesta Conferência
de Bruxelas nasceu a Associação Internacional para a Exploração e Civilização da África
Central, mais conhecida por Associação Internacional Africana (A.I.C.), com fins
científicos e filantrópicos e cujo comité executivo era presidido pelo próprio rei Belga.

Comité de estudos do alto Congo


Mais tarde, Leopoldo II ao ter conhecimento do relatório de Stanley, que o rio Congo
era navegável na maior parte do seu curso, associou esta informação com as riquezas
descritas por Cameron, e decidiu investir o seu dinheiro no Congo. Surgiu assim, a 25
de Novembro de 1878, o Comité de Estudos do Alto Congo, com fins políticos e
comerciais, dominado por Leopoldo II e dirigido por Stanley.

Em 1879 Stanley partiu novamente para a África Oriental, com instruções para que
organizasse no Congo três estações politicamente independentes, sob a soberania do
Comité de Estudos do Alto Congo.

Contudo, também neste ano de 1879, com o apoio da Sociedade de Geografia de Paris
e do Comité Francês da Associação Internacional Africana, Brazza voltou ao Gabão e
realizou uma nova expedição que o levou até Stanley Pool.

Assinatura do Tratado de Makoko


A 10 de Setembro de 1880, Brazza concluiu um tratado de protectorado com o rei
Makoko, colocando os territórios localizados na margem direita de Stanley Pool sob a
soberania francesa, onde mais tarde viria a ser Brazzaville, e deixou o miliciano
senegalês Malamine de guarda à bandeira para garantir a ocupação francesa.

E, em julho de 1881, aí o encontrou Stanley, sendo obrigado a passar para a outra


margem de Pool, onde fundou a estação que viria a ser Leopoldville (hoje Kinshasa).

A ratificação do Tratado Makoko e suas


repercursões
Em 22 de Novembro de 1882, o Tratado de Makoko foi solenemente ratificado pelo
governo francês apesar da acção de Leopoldo II para o impedir. Salienta-se que a causa
profunda da ratificação desse tratado estava na recente ocupação britânica do Egipto,
pondo fim ao condomínio franco-britânico naquele país.

A ratificação deste acordo, ameaçava a viabilidade dos postos que Stanley tinha
implantado e dos acordos que tinha negociado. O problema resultava numa questão
de direito internacional. A soberania era considerada pelas potências europeias uma
prerrogativa dos estados, por isso, nenhum particular, companhia ou associação podia
reclamar direritos soberanos sobre territórios não adjucados, nem mesmo um rei, o
que significa que as aquisições de Leopoldo II no Congo eram susceptíveis de serem
tomadas por qualquer Estado soberano, como a França.

A interferência directa da França na África Central vai fazer crescer os esforços de


Leopoldo II e Stanley para alargarem a sua obra. Em fins de 1882, a Associação
Internacional Africana, a que o próprio Leopoldo presidia, foi dissolvida e em seu lugar
fundou-se a Associação Internacional do Congo, completamente desligada das várias
comissões nacionais que tinham estado filiadas à anterior associação (…) uma
organização de somenos importância (…) visto que o novo organismo não era nem
internacional, nem associação, mas um simples eufemismo para designar o
empreendimento de um único homem (Reader, 2002, p. 532).

Cumprindo com as instruções de Leopoldo II, no sentido de garantir toda a terra que
fosse possível obter, colocando-a sob a soberania do empreendimento régio, o mais
depressa possível e sem perda de um minuto, Stanley conseguiu, posteriormente,
alguns acordos que vieram frustrar o desenvolvimento dos interesses comerciais da
França em Pool e estabelecer três postos no Alto Congo (Postos criados por Stanley:
Leopoldville (actual Kinshasa); Stanleyville (actual Kisangani); Elisabethville (actual
Lubumbashi).

Stanley regressou à Europa no Verão de 1884. Os cinco anos de Stanley no Congo,


proporcinaram a Leopoldo II o acesso aos recursos da bacia do congo e dos territórios
da África Central. Os postos criados por Stanley e os barcos a vapor estavam
preparados para recolher os louros.

O Tratado Luso-britânico de 26 de Fevereiro


de 1884 e suas repercursões
As demais potências europeias começaram a inquietar-se ao ver a região do Congo,
que se previa ser muito rica, estava ameaçada de ficar sob o domínio da França. A
Inglaterra, receando as altas tarifas praticadas pela França, vai mudar a atitude que
vinha mantendo em relação a Portugal.

Por este facto, a 26 de Fevereiro de 1884 era assinado o Tratado Luso-Britânico, mais
conhecido por “Tratado do Zaire”, que reconhecia a soberania portuguesa em toda
costa ocidental compreendida entre os paralelos 5º 12`e 6º de latitude Sul, ou seja,
desde Malembo e Cabinda até ao Ambriz e até Noqui, no interior.

Logo que ficou conhecido na Europa, o Tratado Luso-Britânico foi alvo de severas
críticas na Inglaterra, cuja opinião pública considerava Portugal um país retrógrado que
nada de positivo faria na região, e desencadeou também a oposição da França e de
Leopoldo II, dado que as suas ambições territoriais ficavam ameaçadas.
Leopoldo II compreendeu que só as rivalidades entre as principais potências europeias
sendo bem exploradas poderiam salvar a sua obra. Fez então um hábil jogo
diplomático que consistiu em preparar a opinião internacional de forma a torná-la
mais favorável à constituição de um “Estado Livre” na região, aberto ao comércio de
todas as nações, que à instalação de qualquer outro Estado europeu na região, que
poderia exigir direitos sobre as mercadorias.

A 23 de Abril de 1884, a Associação Internacional do Congo prometia à França o direito


de preferência se, por circunstâncias imprevistas, tivesse de alienar as suas possessões.
Esta posição da A.I.C., foi um golpe genial de Leopoldo II que lhe permitiu exercer uma
verdadeira chantagem sobre as grandes potências. Por um lado, esta posição diminuiu
as tensões entre a França e a Associação Internacional do Congo. Por outro lado, fazia
pressão sobre a Inglaterra e a Alemanha que teriam, a partir de então, todo o interesse
em sustentar a A.I.C., para evitar que os seus territórios passassem para a França.

Bismark manifestava a sua oposição ao Tratado Luso-Britânico, ao mesmo tempo que


decide ocupar a região do Sudoeste Africano. A 9 de Maio de 1884, o Governo
português era informado de que o Governo Britânico dizia não poder ser discutido
nem ratificado o Tratado Luso-Britânico, enquanto não fossem removidas as objecções
feitas pelas outras potências.

Face a esta situação, Portugal, numa tentativa para fazer valer os seus alegados
“direitos históricos” sobre a região do Congo, propôs a realização duma conferência
Internacional sobre assuntos africanos. Por outras palavras, em Maio de 1884, Portugal
tinha proposto uma conferência Internacional para resolver a questão do Congo.

Bismark respondeu imediatamente e após sondar os franceses, sugeriu que a


conferência se realizasse em Berlim, garantindo assim que nem Portugal nem a Grã-
Bretanha pudessem controlar a sua agenda e as suas deliberações. Foi assim aberto o
caminho para a realização da conferência de Berlim, que acabaria por ser convocada
pela Alemanha, mas não para satisfazer as ambições portuguesas na região do Congo.

1.3.2 – A realização da conferência de


Berlim 1884 /1885
A conferência de Berlim teve início a 15 de Novembro de 1884, sábado, pelas 14h:00,
sete dias depois de a Alemanha ter reconhecido a Associação Internacional do Congo.
Sob a presidência de Bismark, estavam presentes os plenipotenciários de 14 países:
Alemanha, França, Grã-Bretanha, Espanha, Portugal, Bélgica, Império Austro-Húngaro,
Dinamarca, Estados Unidos da América, Itália, Reino da Suécia e Noruega, Reino dos
Países Baixos, Rússia e Turquia.
Não houve africanos convidados para assistirem à conferência de Berlim, em 1884,
nem como participantes nem como observadores. A agenda, embora recheada de
expressões de boas intenções respeitantes a África, versava assuntos estritamente
europeus, uma ronda de debates diplomáticos, estipulados pela frisson de astúcias e
competição de nível (…).

O maior objectivo da Conferência de Berlim era preservar, na região do Congo a


liberdade comercial que a ratificação do Tratado de Makoko pela França e,
posteriormente, o Tratado Luso-Britânico de 26 de Fevereiro de 1884 perigavam.

Daí que as potências europeias preferissem que a maior parte da zona submetida à
liberadade comercial ficasse com a A.I.C., uma vez que Leopoldo II dava todas as
garantias para o livre câmbio internacional na região.

Assim a A.I.C., foi sucessivamente reconhecida pela Inglaterra (12-12-1884); Itália (19-
12-1884); Império Austro-Húngaro (24-12-1884); Países Baixos (27-12-1884); Espanha
(7-01-1885); Rússia (05-02-1885); Suécia e Noruega (12-02-1885); Dinamarca (23-02-
1885). A Alemanha tinha reconhecido a A.I.C., antes da Conferência de Berlim (08-11-
1884).

A A.I.C., encontrou forte oposição da França e de Portugal para as delimitações


geográficas, visto que a A.I.C., pretendia toda a margem direita do rio Congo ou Zaire
e, na margem esquerda, queria ficar com Nóqui. As delimitações só foram possíveis
depois de morosas e difíceis negociações.

Assim a 5 de Fevereiro de 1885 a França e a A.IC.C., assinavam uma convenção. A


França em troca do reconhecimento do Estado Livre do Congo, ficava com o Kouilou-
Niari.

Devido à pressão exercida pelas potências, Portugal foi obrigado a assinar a 14 de


Fevreiro de 1885 a convenção com a A.I.C. e, de acordo com esse tratado de partilha
da região do Congo, Cabinda ficou separada do resto de Angola por um corredor que
permitiria à A.I.C. (futuro Estado Livre do Congo) o acesso à costa atlântica.

Em resumo, as principais decisões da


Conferência de Berlim foram os seguintes:
• Fundação do Estado Livre do Congo sob a direcção do rei Leopoldo II da Bélgica;

• Liberadade de comércio e navegação para todos os imperialistas nos rios Zaire,


Niger e Zambeze;

• Definição das formalidades a observar para que as novas ocupações nas costas
de África sejam consideradas efectivas, isto é, só teria territórios coloniais
quem fizesse a ocupação efectiva, militarmente. Mas antes desta ocupação, as
potências que no futuro adquirissem possessões ou assumissem protectorados
devia notificar às outras potências signatárias do Acto Geral de Berlim;

Fim da Conferência de Berlim


A 26 de Fevereiro de 1885, ao encerrar a Conferência de Berlim, Bismark pronunciou
as seguintes palavras:

O novo Estado do Congo é chamado a tornar-se um dos principais guardiões da obra


que nós temos em vista e faço votos para que o seu desenvolvimento prospere e para
o cumprimento das nobres aspirações do seu ilustre fundador (Banning, 1888, p. 125).

Finalmente procedeu-se à assinatura do Acto Geral de Berlim pelas potências


participantes.

MAPA DE ÁFRICA ANTES DA CONFERÊNCIA DE BERLIM

MAPA DE ÁFRICA APÓS A CONFERÊNCIA DE BERLIM


Assim, com base os factos, frisa-se que a conferência de Berlim não fez a partilha de
África, mas foi o ponto de partida para esta partilha entre vários países europeus, pois
por um lado, aprovou a partilha de uma parte da região do Congo feita entre a França
e a A.I.C. (05-02-1885) e entre Portugal e a A.I.C. (14-02-1885), criou o Estado Livre do
Congo presidido por Leopoldo II da Bélgica (23-02-1885) e definiu a obrigratoriedade
da notificação e da ocupação efectiva de novas possessões nas costas de África.

A partilha de África entre as potências


europeias
A rápida partilha de África foi, em grande parte, provocada pela actuação da
Alemanha. Como escreveu Brunschwig (1972, p. 59) “não é evidente que as potências
reunidas na Conferência de Berlim tivessem pressa de partilhar o interior de África (…)
foi a intervenção da Alemanha na África Oriental que precipitou o movimento.

A expedição alemã, chefiada pelo alemão Karl Peters, colocou em 37 dias, 140.000
km2 sob proteção alemã, através de 12 tratados de protectorados. E a 27 de Fevereiro
de 1885, dia seguinte ao do encerramento da Conferência de Berlim, Bismark
proclamou o estabelecimento do protectorado alemão numa vasta região da África
Oriental (Tanganiyka e os actuais Ruanda e Burindi).

Este facto alarmou a Inglaterra a e França, rivais entre si e rivais da Alemanha, pois,
esta última (que tinha despertado um pouco tarde para a expansão colonial, uma vez
que apenas em Abril de 1884 deu início à ocupação de territórios em África,
apoderando-se do Sudoeste Africano e, depois, do Togo e dos Camarões) parecia
apostada em recuperar o tempo perdido e as outras duas potências não estavam
dispostas a perder a corrida para a África. Assim, desencadeou-se a “corrida” para o
interior de África.

Projectos de ocupação, choques e tratados de


partilha:
Cada uma dessas potências traçou os seus projectos para a ocupação do continente
africano: a Inglaterra projectou unir o Cabo ao Cairo; a França, unir o Senegal ao
Djibuti; a Alemanha, unir os Camarões à África Oriental Alemã e esta ao sudoeste
Africano, englobando neste projecto, conhecido por Mittel Afrika, o Congo Belga e
grande parte de Angola e Moçambique; Portugal pretendia unir Angola à Moçambique
(mapa-cor-de-rosa).

Sempre que ocorriam choques no terreno entre duas destas potências, os problemas
eram resolvidos com recurso à política de compensação mundial, que consistia em
uma das potências renunciar à região em disputa recebendo, em compensação o
direito de ocupar uma outra região no continente africano ou fora dele.

Assim, com a convenção germano-britânica de 01-11-1886, a soberania de Zanzibar


ficou reconhecida numa zona costeira de 16 km de largura, para além da qual se
criaram duas “zonas de influência”, uma parte do Tanganiyka alemão ficou entregue
à Companhia Alemã da África Oriental, e outra que seria o Quénia, ficou entregue à
companhia Britânica da África Oriental.

O choque entre Britânicos e Alemães no Uganda foi resolvido pelo tratado germano-
britânico de 01 de Julho de 1890 em que a Alemanha renunciou ao Uganda, em
benefício da Inglaterra, tendo recebido em compensação, a ilha de Heligolândia e o
Beco de Caprivi, que permitia o acesso dos alemães do Sudoeste Africano ao rio
Zambeze. Previa-se também, o acesso dos alemães ao Tchad, a partir dos Camarões e
dos ingleses a partir da Nigéria, para permitir a realização do Mittel Afrika.

Em Novembro de 1897, o governo francês organizou uma expedição comandada por


Marchand, que partindo do Congo, atravessou com imensas dificuldades a região de
Bahr el Ghazal (no Sudão) e chegou em 19-07-1898 a Fachoda, onde ficou a espera de
reforços que deveriam chegar da Etiópia.

Entrementes, o governo britânico, ao ter conhecimento da missão de Marchand,


organizou uma expedição anglo-egípcia chefiada pelo general Kitchner, com um
exército de cerca 25.000 homens.

Este exército chegou a Fachoda em 19-09-1898, o general Kitchner depois de felicitar


Marchand pela admirável travessia, protestou em nome do governo britânico contra a
ocupação francesa de Fachoda e pediu ao francês que se retirasse. Mas Marchand
recusou-se a deixar a região sem que para tal recebesse ordem do seu governo. Desta
forma chocaram-se no Sudão Oriental o imperialismo britânico e o francês.

Contudo, Delcassé, Ministro francês dos Negócios Estrangeiros, procurava estabelecer


com a Inglaterra s “Entende Cordiale” e deu instruções a Marchand para se retirar a
04-11-1898.
Este Choque entre franceses e Ingleses em Fachoda, no Sudão, só foi resolvido pela
Declaração Franco-Britânica de 08-04-1904, que reconhecia os direitos da Inglaterra
sobre o Egipto (consequente sobre o Sudão, pois este era uma província egípcia
desde 1830) e da França sobre Marrocos.

O choque entre franceses e alemães em Marrocos, foi resolvido pelo compromisso


franco-alemão de 04-11-1911 que reconhecia o protectorado da França sobre
Marrocos em troca da cedência à Alemanha de um território no Congo Francês para
permitir o acesso dos Alemães a partir dos Camarões aos rios Ubangui e Congo, com o
objectivo de materializar O Mittel Africa.

Entretanto, quando ocorria um choque entre uma potência e outro país mais fraco não
vigorava a política de compensação mundial. Foi o que aconteceu em 11 de Janeiro de
1890, quando a Grã-Bretanha enviou um ultimato ao Governo português exigindo a
retirada de todas as forças portuguesas das regiões entre Angola e Moçambique,
porque o projecto português, chocava com o projecto britânico.

Em face do que acabamos de explicar podemos concluir que, efectivamente a partilha


de África foi efectuada em função do poderio económico e militar de alguns países
europeus e tendo em conta, muitas vezes, a política de compensação mundial.

Os diplomatas europeus traçaram arbitrariamente a maioria das fronteiras dos


territórios africanos, sem darem a mínima importância às realidades históricas e
sociológicas africanas. Etnias homogéneas foram cindidas em duas duas ou três
partes, caso dos Temmes entre a Guiné Francesa e a Serra Leoa, do povo Haussa entre
a Nigéria e o Niger, dos Lunda entre o Congo Belga (RDC), Angola e a Rodésia do Norte
(Zâmbia), dos Bakongo entre Angola e o Congo Belga, etc.

Mapa de África em 1914

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