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A Primeira Guerra Mundial

Nos finais do século XIX, na Europa, as grandes potências, servindo-se de uma


superioridade a nível económico, técnico e militar lançaram-se à conquista de
territórios noutros continentes e à formação de grandes impérios coloniais. Este
processo é denominado de Imperialismo e consiste na subjugação de um
território, a nível económico, político e/ou cultural por outro estado ou território.

Este movimento expansionista teve diversas motivações que podem ser dividas
em três categorias:

•Económicas e sociais: a necessidade de matérias-primas para desenvolver a


indústria como o ferro, o petróleo e o algodão; a necessidade de novos mercados
para vender produtos e evitar concorrência e a necessidade de novas terras para
alojar a população excedentária.

•Políticas e estratégicas: as potências rivais tinham a necessidade de aumentar o


seu poderio e força militar e de se imporem a nível internacional.

•Ideológicas: os países interessados em afirmar-se no mundo consideravam ter


uma missão civilizadora e para a concretizarem deviam expandir a sua língua, a
sua religião, as suas instituições e cultura aos povos menos desenvolvidos.

O Imperialismo ocorreu, principalmente, no continente africano, mais


especificamente, no interior deste, uma vez que, na primeira era de colonialismo,
apenas o litoral tinha sido explorado e ocupado.

Para descobrir os territórios nesta zona e desenvolver o neocolonialismo, os


países europeus enviaram exploradores. Destes destacaram-se os ingleses David
Livingstone e Henry Stanley. O primeiro explorou o território africano na sua
maioria, mas, das suas descobertas, destacam-se as cataratas de Vitória (1855), o
lago Niassa (1858) e os lagos Muero e Bangueolo (1867-1878). Para além disso,

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explorou o curso do rio Zambeze e, em conjunto com Stanley investigaram o rio
Tanganica, tendo vindo a verificar que este não estava conectado com o rio Nilo.

Percursos do Dr. Livingstone em África Percursos jornalista Stanley em África

O segundo explorador, o jornalista Stanley, ajudou o Dr. Livingstone quando este


estava numa aldeia doente após ter explorado o lago de Tanganica. Para além
disso confirmou as estimativas de tamanho do Lago Victoria e fez grandes
explorações e desenvolvimentos na região do Congo.

Da França destacou-se Pierre Brazza que fundou o domínio francês no Congo e


explorou o território do atual Gabão.

De Portugal destacaram-se Alexandre Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo e


Roberto Ivens que trabalharam juntos durante a maioria das suas carreiras,
trabalhando nas relações hidrográficas dos rios Congo, Zambeze e Cuango.

De forma a regular a ocupação do continente africano e evitar conflitos, realizou-


se na Alemanha, entre 15 de novembro de 1884 e 26 de fevereiro do ano
seguinte, a Conferência de Berlim. Esta foi inicialmente planeada por Portugal e
pela Grã-Bretanha, porém, foram os alemães a organizá-la. A Conferência de
Berlim, foi presidida pelo Chanceler Otto Van Bismarck que governou entre 1871
e 1888. Na reunião participaram 14 países, sendo a maioria europeus com

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colónias em África, no entanto, também participaram a Rússia, os Estados Unidos
e o Império Otomano, que, apesar de não serem países colonizadores, tinham um
grande impacto a nível mundial.

Um dos assuntos tratados foi a soberania territorial na qual se dividiam duas


hipóteses: o direito histórico de descoberta defendido por países que ocupavam o
continente africano há muitos séculos como Portugal e que assim mantinham os
recursos de um o território sem o ocupar na totalidade e o princípio da ocupação
efetiva que era apoiado por potências recém-chegadas a África como a Alemanha
que assim poderiam expandir os seus territórios e cumprir as necessidades que as
rivalidades na Europa lhes trouxeram. Esta hipótese era apoiada pela Grã-
Bretanha que teve uma grande influência na decisão.

Também foi falado da regulação do acesso à Baía do Congo e a rios


internacionais. Deste tópico concluiu-se que haveria liberdade de comércio em
toda a bacia do Congo e os seus afluentes e que se aplicavam os princípios do
Congresso de Viena quanto à navegação nos rios internacionais (livre navegação
dos grandes rios), como por exemplo o Níger e o Congo. Para além disso também
foi estabelecida a proibição do tráfico de escravos e a neutralidade dos territórios
compreendidos na bacia convencional do Congo.

Outro tema tratado foi a união de colónias. Havia algumas potências que
pretendiam ligar os seus impérios de Este a Oeste como era o caso de Portugal
que pretendia unir as suas colónias de Angola e Moçambique e da França que
pretendia unir os atuais Senegal, Gabão e Somália pelo deserto do Sahara e o
Sudão. Outro caso era o da Inglaterra que queria unir as suas colónias de Norte a
Sul, ou seja, unir o Cairo ao Cabo.

A 1886 Portugal apresenta o Mapa Cor-De-Rosa após explorações nessa área e


este é aprovado internacionalmente. No entanto, sobre o pretexto que o grupo
expedicionário de Hermenegildo Capelo e de Roberto Ivens tinha alegadamente
atacado um povo protegido pelos ingleses, a 11 de janeiro de 1890 a Inglaterra

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faz um ultimato a Portugal para este retirar as tropas entre angola e
Moçambique, disfarçando, assim as suas verdadeiras intenções de unir o Cabo ao
Cairo. Os portugueses sabiam que Inglaterra não tinha razão, no entanto, esta
possuía a maior armada de todo o mundo. A farsa inglesa causou protestos por
parte da população portuguesa. Debaixo destes, escondia-se uma revolução
contra a monarquia, que apoiava uma república. Quando a verdade se veio a
saber o rei tomou a decisão a favor dos ingleses. E apesar de D. Carlos não ter
mais do que 72 dias de chefia, a sua decisão foi vista como a fraqueza da nação. O
que fez com que o movimento revolucionário ganhasse mais apoiantes.

Devido à época de neocolonialismo, no ano de 1900, os países europeus eram as


maiores potências económicas no mundo. Em conjunto, estes países controlavam
62% das trocas comerciais a nível mundial e possuíam 71% do capital investido
em países estrangeiros (aproximadamente 220 milhões de francos). A produção
industrial deste continente equivalia a 46% de todos os países. Estas indústrias
eram fornecidas pelos recursos dos 50 523 000km2 de colónias. Para além disso a
frota mercantil da Europa rondava os 71,3% a nível mundial. Dentro do
continente europeu, as maiores potências eram a Grã-Bretanha, a França e a
Alemanha.

A Europa vivia num estado de transição duma época vitoriana de monarquias,


arte clássica e de impérios para uma época de novos ideais como o nacionalismo,
o socialismo e uma democracia mais evoluída e uma evolução na tecnologia em
termos de comunicação, transportes e ensino. E em 1914 havia dois principais
blocos de alianças. Estes eram a Tríplice Aliança e a Tríplice Entente. A primeira
foi formada em 1882 e constituída pela Alemanha, pelo Império Austro-Húngaro e
pela Itália que apesar de serem rivais há centenas de anos, juntaram-se graças aos
alemães. A Tríplice Entente foi formada em 1907 e era constituída pela Inglaterra,
pela França e pela Rússia. Esta segunda aliança surgiu do acordo bilateral
assinado pela França e pela Rússia em 1883 e da Entente Cordiale assinada pela
França e pela Inglaterra a 1904.

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Estes dois sistemas de alianças tinham uma grande rivalidade entre si devido aos
interesses individuais de cada país. A Inglaterra sofria, a nível económico, com a
concorrência da indústria alemã nos mercados internacionais. A Alemanha, por
sua vez, desejava mais colónias para poder fornecer a sua indústria com matérias-
primas e para controlar mais mercados onde venderia os seus produtos. A França
desejava reaver as províncias de Alsácia e Lorena perdidas para Alemanha na
sequência da guerra franco-prussiana em 1871. Nos Balcãs, os nacionalistas
eslavos das zonas da atual Croácia, Montenegro, Bósnia Herzegovina, Eslovénia e
Macedónia desejavam obter independência do Império Austro-Húngaro e criar
um estado alargado com a Sérvia. A Rússia, por sua vez, protegia os nacionalistas
eslavos e apoiava a Sérvia. Para além disso a Rússia e o Império Otomano, que
mais tarde se viria a juntar à Alemanha e ao Império Austro-Húngaro, lutavam
pelo controlo do Mar Negro e consequentemente pelas áreas que o circundavam.

Devido a este complexo sistema de alianças, qualquer incidente poderia levar a


uma guerra que abrangeria toda a Europa e às colónias que os países deste
continente possuíam. Tal ocorrência veio-se a verificar quando a 28 de junho de
1914 o nacionalista eslavo Gravillo Princip, que fazia parte do grupo de
radicalistas denominado “Mão Negra” assassinou o herdeiro ao trono austríaco, o
arquiduque Francisco Ferdinando e a sua esposa a duquesa Sofia de Hohenberg
na viagem de regresso da sua visita a Sarajevo, a atual capital da Bósnia e
Herzegovina. O grupo responsável pelo atentado era formado por nacionalistas
eslavos e é considerado o primeiro grupo terrorista da História.

Após o atentado o Império Austro-Húngaro, após ter garantido o apoio


incondicional da sua aliada Alemanha, enviou um ultimato à Sérvia, a 23 de julho
do mesmo ano, exigindo, para além de outras coisas, que toda a propaganda
contra o Império fosse proibida na Sérvia e que os austro-húngaros pudessem
organizar a sua própria investigação em solo sérvio, o que provavelmente
resultaria na morte de muitos dos melhores generais sérvios. Prevendo as
consequências que o ultimato traria, a Sérvia rejeitou-o e a 28 de julho de 1914 o

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Império Austro-Húngaro declarava guerra à Sérvia. Assim, começara o maior
conflito que o mundo tinha presenciado até àquela altura.

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