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SUMÁRIO
PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL ........................................................................................................................... 2
ANTECEDENTES.......................................................................................................................................... 2
1ª FASE - A GUERRA DE MOVIMENTO ....................................................................................................... 4
2ª FASE - A GUERRA DAS TRINCHEIRAS ..................................................................................................... 4
3ª FASE – A REVIRAVOLTA DOS ALIADOS .................................................................................................. 5
TRATADO DE VERSALHES (1919): .............................................................................................................. 6
TRATADO DE SAINT-GERMAIN (1919): ...................................................................................................... 6
TRATADO DE NEUILLY (1919): ................................................................................................................... 6
TRATADO DE TRIANON (1920): ................................................................................................................. 6
TRATADO DE SÈVRES (1920):..................................................................................................................... 6

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PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL


ANTECEDENTES

Na primeira metade do século XIX, França e Inglaterra eram os países de maior poder
econômico e político na Europa. Com um forte processo de industrialização, eles dominavam
extensas áreas coloniais, principalmente na África e na Ásia. Essas áreas eram importantes
como fornecedoras de matérias-primas e como consumidoras de produtos industrializados.

O cenário europeu começou a mudar com a unificação da Itália e, sobretudo, da Alemanha,


na segunda metade do século XIX. Após a unificação, esses países passaram a disputar maior
espaço no cenário internacional. No início do século XX, a intensa disputa por áreas coloniais
provocava profundas divergências e rivalidades entre os países europeus, e uma tensão
constante no continente. Diversos fatores aumentaram contribuíram para o clima de tensão,
dentre os mais importantes podemos citar:

Progresso do capitalismo e consequentes problemas sociais do proletariado urbano e


dos trabalhadores pobres em geral.
O imperialismo e o colonialismo gerados pelo extraordinário crescimento industrial,
que acirrava os choques de interesse econômico e político entre as potências industrializadas.
O expansionismo alemão e a transformação da Alemanha na maior potência industrial
da Europa fizeram brotar contra ela uma rivalidade na França, Inglaterra e Rússia.
O revanchismo francês, em consequência da Guerra Franco-Prussiana (1870-1871), na
qual a França foi derrotada e obrigada a entregar para os alemães as regiões de Alsácia e Lorena,
esta última rica em minério de ferro.
A rivalidade russo-germânica, causada pela pretensão alemã de construir uma estrada
de ferro ligando Berlim a Bagdá. A Rússia reagiu, pois a estrada ligaria a Alemanha ao Oriente
Médio, rico em petróleo e possuidor de um atraente mercado consumidor, além de passar por
regiões onde os russos pretendiam aumentar sua influência.
O antigermanismo inglês, resultado da concorrência industrial alemã, às vésperas da
guerra os produtos alemães e ingleses, concorriam em mercados que até então haviam sido
dominados exclusivamente pela Inglaterra. Quando os produtos alemães começaram a
penetrar na própria Inglaterra, a burguesia industrial e financeira inglesa passou a alimentar a
ideia de que a Alemanha deveria ser destruída.

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Além disso, foram realizadas políticas de alianças entre as nações imperialistas. Das
principais, citam-se a Tríplice Aliança, formada pelo Império Alemão, pelo Império Austro-
Húngaro e pela Itália, sendo que esta última ficou neutra no início da I Guerra Mundial, e a
Tríplice Entente compondo a aliança Inglaterra, França e Rússia. O clima de tensão entre as
duas alianças tem alguns focos que merecem destaque, como:

A questão marroquina: em 1904, França e Inglaterra firmaram um acordo pelo qual os


franceses reconheciam os interesses ingleses no Egito e, em contrapartida, recebiam o apoio
inglês para a dominação francesa sobre o Marrocos, dificultando, assim, a ação dos alemães
nesse país. Em 1905, entretanto, o kaiser Guilherme II desembarcou em Tânger, criando um
impasse ao prometer preservar a independência do Marrocos. A crise do Marrocos foi resolvida
em 1906, na Conferência de Algeciras, na qual se confirmou a “política de porta aberta” aos
franceses e alemães, porém com vantagens para os franceses, a exemplo da divisão do controle
da política do país com a Espanha.

Em tal situação, o sultão do Marrocos subordinou-se ao domínio francês, que o auxiliava


nos enfrentamentos dos chefes tribais rivais e das rebeliões muçulmanas. Afora os
colonizadores novas crises entre imperialistas ocorreram em 1908, em Casablanca, e, em 1911,
em Agadir, sendo solucionadas pela cessão do Congo francês à Alemanha, que, em troca,
abandonava suas pretensões sobre o Marrocos. Mesmo assim, permaneceu o
descontentamento, pois os alemães consideraram pequena a compensação recebida, e os
franceses ficaram inconformados por cederem uma área colonial.

A crise nos Balcãs: começou em 1908, quando a Áustria resolveu anexar ao seu território
às províncias turcas da Bósnia e da Herzegovina, cobiçadas pela Sérvia e Rússia. A Alemanha
declarou apoiar os austríacos. A Rússia, ainda não refeita dos prejuízos da guerra russo-
japonesa, procurou uma aliança com a França e encorajou a Sérvia, a Bulgária, a Grécia e o
Montenegro a vingarem as atrocidades cometidas pelos otomanos contra os eslavos da
Macedônia com uma invasão militar na qual já estava previamente resolvido que, após a derrota
dos turcos, a Albânia seria dada à Sérvia.

A vitória daqueles pequenos países balcânicos contra os turcos impressionou o mundo e


alarmou a Áustria. Quando os vencedores desentenderam-se quanto à partilha, a Áustria,
receosa da expansão Sérvia no ocidente, forçou diplomaticamente o reconhecimento da Albânia
como Estado independente. Sem uma saída para o mar e frustrados nas suas pretensões, os
sérvios aguçaram seu ódio contra os austríacos. O nacionalismo sérvio relacionou-se com o pan-
eslavismo, que se baseava na ideia de que todos os eslavos da Europa Oriental constituíam uma
grande família, tendo o protetorado da Rússia.

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O dia 28 de junho de 1914 ficou marcado como a data que começou a I Guerra Mundial (a
princípio conhecida como Grande Guerra, ela se tornou I apenas quando existiu a II).
Historiadores concordam que a morte de Francisco Ferdinando foi o estopim para uma
guerra que iria acontecer uma hora ou outra. Somado a esse fato, estava a necessidade de
estados nações se afirmarem e de Impérios tentarem manter seu poderio, principalmente
territorial e econômico.

A autoria do assassinato do príncipe herdeiro foi reivindicada por um grupo chamado Mão
Negra. No mesmo dia do crime, a polícia prendeu o jovem sérvio, de 19 anos, Gavrilo Princip, e
outros membros do grupo. Segundo as investigações, o Mão Negra já havia tentado cometer
outros atentados contra membros do governo Austro-Húngaro, mas sem sucesso.

Após a morte de Francisco Ferdinando, o Império elaborou o Ultimato de Julho, uma lista
de dez exigências ao governo sérvio, entregue no dia 23, e que deveria ser respondido até às
18h do dia 25, sob a promessa de declaração de guerra, que aconteceu no dia 28. Durante todo
o mês de julho, houve movimentações diplomáticas entre os impérios e as nações, que durante
o mês de agosto também declararam guerra umas às outras.

Por conta disso, o mundo ficou separado em dois grupos. De um lado, apoiando a Sérvia,
estavam França, Grã-Bretanha e Rússia (Tríplice Entente). Ao império Austro-Húngaro se
aliaram a Alemanha e a Itália (Tríplice Aliança). A guerra inevitável, e que muitos queriam,
aconteceu. E durou mais do que esperavam.

Os quatro longos anos da Primeira Guerra Mundial podem ser divididos em três fases:

1ª FASE - A GUERRA DE MOVIMENTO

Havia duas frentes principais de batalha. A frente ocidental – em que os alemães


combatiam os franceses, os ingleses e os belgas – e a frente oriental – em que os alemães
combatiam os russos.

A primeira fase durou de agosto a novembro de 1914 e foi marcada por um intenso
movimento de tropas. Inicialmente, os alemães marcharam contra a Bélgica e, apesar da
resistência belga, chegaram às vizinhanças de Paris, na França. Os franceses, porém, com a
ajuda dos ingleses, conseguiram contra-atacar e deter o avanço alemão na batalha do Marne.
Como nenhum dos lados conseguiu vitórias decisivas nessa batalha, a guerra na frente ocidental
estacionou.

2ª FASE - A GUERRA DAS TRINCHEIRAS

Com a estabilização das forças em luta, passou-se a uma nova fase da guerra, a chamada
guerra das trincheiras. Nesta fase, os exércitos adversários procuravam firmar suas posições
com o objetivo de vencer o adversário por meio do desgaste progressivo de suas tropas. Os
exércitos da Inglaterra e da França, de um lado, e o da Alemanha, de outro, tomaram posições
em trincheiras desde o mar do Norte até a fronteira da Suíça.

Enquanto isso, na frente oriental, o exército alemão vencia sucessivas batalhas contra o
frágil exército russo. Na Ásia, porém, os japoneses venciam e se apoderavam das colônias
alemãs no Oriente: Tsingtão, na China, e as Ilhas Marianas, Carolinas e Marshall, situadas no

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oceano Pacífico. Conforme o conflito foi se alastrando, novas armas, como a metralhadora, os
gases venenosos, o lança-chamas, o tanque, o avião e o submarino, fizeram sua estreia na
Primeira Grande Guerra.

Com o uso das novas armas, os soldados passaram a ficar cada vez mais tempo abrigados
em trincheiras, e os combates corpo a corpo tornaram-se cada vez mais raros. Em 1915, a Itália
rompe com a Alemanha e alia-se à Entente. E, enquanto milhares de jovens morriam nas
trincheiras, outros países entravam na guerra, ampliando as dimensões do conflito que atingia
mais duramente a Europa.

No início de 1917, a Alemanha decidiu adotar a guerra submarina: qualquer navio


encontrado em águas territoriais inimigas seria afundado. Um dos atingidos pelos alemães foi
o navio norte-americano Lusitânia, o que foi um dos motivos da entrada dos Estados Unidos na
guerra, naquele mesmo ano. Seguindo os Estados Unidos, outros países americanos, inclusive o
Brasil, engajaram-se no conflito ao lado da Entente. No final de 1917, a Rússia, esgotada por
derrotas consecutivas diante dos alemães, assinou com a Alemanha um tratado de paz em
separado. No início do ano seguinte, a Rússia saía da guerra.

3ª FASE – A REVIRAVOLTA DOS ALIADOS

Em virtude da paz selada com os russos, os alemães deslocaram suas tropas para a frente
ocidental e lançaram uma poderosa ofensiva apoiada pela aviação e pela artilharia pesada no
início de 1918. Recomeçava a "guerra de movimento". Mas os países da Entente conseguiram
reagir e venceram as forças alemãs na segunda batalha de Marne, forçando o seu recuo. O passo
seguinte seria invadir o território alemão.

Com a capitulação (rendição) da Bulgária e da Turquia e o esfacelamento do Império


Austro-Húngaro, a vitória da Entente se tornava cada vez mais iminente. Nesse meio tempo,
uma rebelião popular sacudiu a Alemanha, forçando o imperador Guilherme II a renunciar, em
novembro de 1918. O novo governo proclamou a República e assumiu a rendição que,
finalmente, pôs fim à guerra.

Após a Alemanha assinar Woodrow Wilson foi para Paris para tentar construir uma paz
duradoura: eram os "14 pontos de Wilson". O presidente esperava evitar novos conflitos
mediante tratados que não humilhassem nem impusesse penas exageradas aos vencidos,
porém, sem êxito.
Após a devastação causada pela Primeira Guerra Mundial, as potências vencedoras,
através dos tratados de paz, impuseram uma série de rigorosas exigências aos países
derrotados. Através daqueles acordos, os perdedores – Alemanha, o Império Austro-Húngaro,

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o Império Otomano, e a Bulgária – tiveram que ceder grandes partes de seus territórios e ainda
tiveram que pagar reparações financeiras significativas aos países vencedores.
TRATADO DE VERSALHES (1919):

Pelo tratado assinado na sala dos Espelhos de Versalhes, o que demonstra o espírito de
desforra dos franceses, a Alemanha perdia um sétimo de seu território e um décimo de sua
população, suas colônias e seus exércitos. Seus principais pontos são:

- Restituir os territórios da Alsácia e da Lorena à França;


- Ceder minas de carvão da região do Sarre à França por 15 anos;
- Ceder suas colônias, submarinos e navios à Inglaterra, França e Bélgica;
- Pagar aos vencedores 33 bilhões de dólares de indenização;
- Reduzir seu poderio bélico (proibido de fabricar armas e de ter um exército com mais se
100 mil homens).

TRATADO DE SAINT-GERMAIN (1919):

Estabelecia que a Hungria, a Polônia, a Checoslováquia e a Iugoslávia seriam


independentes. As regiões do Trieste, Sul do Triol, Trentino e a Península da Ístria passariam à
Itália. A Áustria passou a ser um pequeno Estado europeu, com cerca de um terço da população
concentrada na capital, Viena.

TRATADO DE NEUILLY (1919):

A Bulgária perdeu grande parte dos territórios anexados durante a 1ª Guerra Balcânica.
Dessa forma, a região da Dobrudja foi dada à Romênia, a Macedônia Ocidental à Iugoslávia e a
Trácia Ocidental à Grécia.

TRATADO DE TRIANON (1920):

Regulou a situação com a Hungria, pela qual ela perdia várias regiões: a região da
Eslováquia passava para a recém-criada República da Checoslováquia; para a Iugoslávia
passava a Croácia, e para a Romênia, a Transilvânia.

TRATADO DE SÈVRES (1920):

A fim de regular a situação com a Turquia, estipulando que a Armênia seria independente
e que a maior parte da Turquia europeia passaria à Grécia; a Síria seria controlada pelos
franceses; a Mesopotâmia e a Palestina pelos ingleses. Uma rebelião na Turquia, liderada por
Mustafá Kemal, pôs fim ao império e proclamou a República, reconquistando a Armênia, parte
do seu território dada à Grécia, o que obrigou a revisão do Tratado de Sèvres, em Lasmune
(1923). Esse tratado permitiu à Turquia conservar todo o território reconquistado.

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SUMÁRIO
PENSAMENTO DO SÉCULO XIX .......................................................................................................................... 2
CARTISMO.................................................................................................................................................. 2
DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA ................................................................................................................... 2
LIBERALISMO ............................................................................................................................................. 3
ANARQUISMO............................................................................................................................................ 4
POSITIVISMO ............................................................................................................................................. 5

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PENSAMENTO DO SÉCULO XIX


CARTISMO
A Inglaterra, por meio da Revolução Industrial, provocou milhares de mudanças no
cotidiano dos indivíduos europeus a partir do século XVIII. O desenvolvimento industrial e
tecnológico, a mudança do campo para a cidade e o surgimento de novas classes sociais foram
os exemplos mais evidentes dessas transformações. No campo da sociedade, destacou-se o
nascimento do proletariado ou operariado, que foi a força de trabalho das indústrias inglesas.
Essa classe trabalhadora figurou como peça importante na expansão do capitalismo
industrial quanto ao sistema de produção. Eram eles os responsáveis por auxiliar as máquinas
e por controlar a produção das mercadorias durante o expediente de trabalho. Dessa forma, os
proletários possuíam papel fundamental na produção e nos lucros das empresas, pois era a
partir de sua força de trabalho que o sistema fabril funcionava.
Os trabalhadores, apesar do papel importante que exerciam dentro das fábricas, não eram
bem remunerados e possuíam uma carga horária elevada de serviço. Além disso, as condições
de serviço não eram boas e ofereciam riscos à saúde, os funcionários ficavam reféns do trabalho
para sobreviver. Em razão das condições precárias, surgiram gradativamente as primeiras
manifestações operárias contra as desigualdades sociais, a miséria e a exploração que eles
enfrentavam.
As primeiras revoltas operárias na Inglaterra responsabilizaram as máquinas pelas
condições precárias. Contudo, os operários perceberam que os responsáveis eram os donos das
fábricas, que pagavam baixos salários e não ofereciam os direitos necessários para uma boa
condição de trabalho, como descanso semanal, férias e uma jornada menos exaustiva. Assim
sendo, surgiu o Cartismo, que foi o mais conhecido movimento operário inglês do século XIX
que lutou contra a exploração dos trabalhadores.
Constituído pela “Associação dos Operários” e derivado das mudanças trazidas pela
primeira Revolução Industrial, o movimento cartista reivindicava direitos políticos dos
operários, como o sufrágio universal (direito ao voto), voto secreto e melhoria nas condições e
jornadas de trabalho.
O Cartismo ocorreu entre as décadas de 30 e 40 do século XIX, e ficou conhecido por esse
nome devido a uma carta escrita pelo operário William Lovett, em maio de 1838. A chamada
Carta do Povo registrava todas as reivindicações que os participantes do movimento desejavam
ver implementadas nas políticas trabalhistas e, apesar de ter apoio de uma grande massa, teve
todas as petições rejeitadas pelo Parlamento Inglês.
A influência do Cartismo sobre o movimento operário internacional foi muito grande.
Após o fim do movimento, diversas leis trabalhistas foram criadas e implementadas no intuito
de combater a exploração da força de trabalho e mediar as relações entre os operários e a
burguesia industrial.
DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA
O padre católico francês Robert de Lamennais foi o primeiro pensador que deu origem às
ideias do socialismo cristão. Mais tarde, Charles Kingsley liderou o movimento na Inglaterra.
Assim como outras formas de socialismo, o socialismo cristão também defendia melhores
condições de trabalho para classes operárias. Contudo, essas melhorias eram baseadas não em
luta, mas nos ensinamentos de Cristo.
Ainda que reconheça os problemas que permeiam a vida dos operários, o socialismo
cristão condena as soluções marxistas. Segundo a encíclica “Rerum Novarum”, são conceitos
injustos, que desestimulariam o trabalho, criariam conflitos e, eventualmente, ainda mais
miséria.

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Sendo assim, para o socialismo cristão, a verdadeira relação de trabalho deve ser de
colaboração entre as partes. Por um lado, os burgueses mais ricos devem ficar atentos para os
riscos e tentações da riqueza. Por outro, os pobres operários devem se lembrar que ser pobre
ou trabalhar não é motivo de desonra.
Esses pensamentos de Leão XIII foram mais trabalhados com o Papa Pio XI. Com base no
marxismo-leninismo da Rússia e no fascismo da Itália, o papa listou os pontos fundamentais da
luta de classes. São eles: regime de copropriedade na empresa, regime de cogestão, na
administração da empresa, regime de propriedade particular e justiça social.

Mais tarde, João XXIII foi chamado de Papa Socialista por ter ampliado a doutrina social
da Igreja. Em 1958, a encíclica “Pacem in terris” sintetizou a posição da instituição diante das
relações humanas, seus direitos e deveres, relações com o Estado e entre Estados.
Em resumo, o documento defende a igualdade, citando empregos para todos, igualdade
racial e até mesmo serviços públicos, como a previdência social. Além disso, defende a
existência de um governo mundial e condena o que chama de falsas doutrinas, como o
comunismo.
Com o passar do tempo, os problemas sociais foram preocupação de diversos membros
da Igreja. Já no século XX, o Concílio Vaticano II voltou a afirmar o papel do cristão no âmbito
social e político. Ao mesmo tempo, o movimento da Teologia da Libertação levou fiéis cristãos
ao envolvimento com projetos sociais e discussões políticas dentro de suas paróquias.
Atualmente, setores mais conservadores da Igreja acreditam que a instituição deva se
restringir a temas de ordem espiritual. Além disso, a transformação da mentalidade que
valoriza o imediatismo do conforto material e a salvação individual distanciou ainda mais a
Igreja dos valores mais politizados.
LIBERALISMO
Nascido na Inglaterra durante a Revolução Industrial, tendo sido fundado pelo
economista Adam Smith (A Riqueza das Nações, 1776), o liberalismo defende o ponto de vista
da burguesia e, obviamente, do capitalismo. Sua ideia central é a da não intervenção do Estado
nos assuntos econômicos. O liberalismo ensina que a intervenção do Estado em assuntos
econômicos é não apenas desnecessária, mas até prejudicial, pois a economia, como as demais
ciências, é regida por leis naturais e imutáveis.
Os princípios básicos do liberalismo são:
• individualismo econômico: o bem-estar social é resultado da prosperidade
individual.

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• liberdade econômica: a economia, como as demais ciências, é sujeita às leis


naturais e, portanto, deve funcionar livre de intervenções. Trata-se de uma
reelaboração da ideia fisiocrata do laissez-faire, laissez-passer – condenação
clara aos entraves mercantilistas do Antigo Regime.
• obediência às leis naturais, como explicitado acima.
• liberdade de contrato entre as partes: a relação entre empregado e empregador
deve ser feita com base no livre acordo entre ambos, sem intermediação do
Estado ou dos sindicatos.
• livre-concorrência e livre-cambismo: eliminação do protecionismo praticado
pelas nações europeias entre os séculos XV e XVIII. A livre-concorrência estimula
a produtividade e a melhoria técnica, beneficiando os consumidores.
• Alguns dos principais representantes do liberalismo foram Adam Smith, Thomas
Malthus e David Ricardo.
Adam Smith, autor da obra A Riqueza das Nações (1776), acreditava que a divisão do
trabalho era o elemento essencial para o crescimento da produção e do mercado, e que sua
aplicação eficaz dependia da livre concorrência, que forçaria o empresário a ampliar a
produção, buscar novas técnicas, aumentar a qualidade do produto e reduzir ao máximo os
custos de produção. O natural decréscimo do preço final favoreceria a lei da oferta e da procura,
determinando o sucesso econômico. Smith defendia a não intervenção do Estado nos assuntos
econômicos, que deveria apenas harmonizar interesses individuais objetivando o bem-estar
coletivo.
Seguindo a trilha aberta por Smith, Thomas Malthus, em seu livro Ensaio sobre o Princípio
de População, também se opunha à intervenção estatal na economia. Seu pessimismo em
relação ao futuro da humanidade era evidenciado em suas observações de que a população
tende a crescer em progressão geométrica enquanto os recursos naturais em progressão
aritmética. Portanto, de acordo com Malthus, a pobreza e o sofrimento devem ser encarados
com naturalidade e guerras e epidemias servem para equilibrar temporariamente a produção
e a população. Malthus ainda defendia o controle da natalidade e da assistência social, com o
objetivo de reduzir a miséria.
Já David Ricardo, no livro Princípios de Economia Política e Tributação, desenvolveu a
teoria do valor do trabalho e defendeu a Lei Férrea dos Salários, segundo a qual o preço da força
de trabalho seria sempre equivalente ao mínimo necessário à sobrevivência do trabalhador,
garantindo elevados lucros para os empresários.
ANARQUISMO
O anarquismo é um sistema político, filosófico e ideológico que corresponde à ausência
de governo, ao fim do Estado e da autoridade por ele imposta. O significado do termo é de
origem grega “ánarkhos”, que quer dizer “sem governo” e “sem poder”. Na atualidade, o termo
adquiriu uma simbologia negativa e equivocada. É muitas vezes associada à desordem ou à
ausência de regras, utilizada como sinônimo de caos.
O anarquismo surge no século XIX. Foi proposto pelo filósofo e político inglês William
Godwin (1756-1836), que sugere um novo sistema político e econômico distinto do capitalista.
O capitalismo imperava desde a Revolução Industrial. Para Godwin, a sociedade poderia viver
sem as leis e restrições de um governo. Dessa maneira, poderia atingir o equilíbrio por meio da
liberdade dos indivíduos representando o estado da sociedade ideal.
Godwin propunha princípios baseados no fim das propriedades privadas e da divisão de
classes sociais. Ele também sugeria o fim do Estado e das instituições em geral. A gestão iria
ocorrer mediante a ausência de autoritarismo, opressão e dominação. Pensadores continuaram
seus estudos e teorias sobre o Anarquismo, entre eles estão: Max Stirner (1806-1856), Joseph

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Proudhon (1809-1865), Leon Tolstoi (1828-1910), Mikhail Bakunin (1814-1876), e outros


mais. Em meados do século XX, há o declínio do movimento anarquista.
POSITIVISMO
A palavra positivismo foi empregada pela primeira vez pelo filósofo francês Claude Saint-
Simon - um dos chamados socialistas românticos - para designar o método exato das ciências e
a possibilidade de sua extensão à filosofia. Mais tarde, o politécnico Auguste Comte (1798-
1857), que foi seu secretário, utilizou a expressão para designar a sua filosofia, que teve grande
expressão no mundo ocidental durante a segunda metade do século 19 (estendendo-se no
Brasil à primeira metade do século 20).
O positivismo acompanhou e estimulou a organização técnico-industrial da sociedade
moderna e fez uma exaltação otimista do industrialismo. Nesse sentido, pode-se compreendê-
lo como produto da sociedade técnico-industrial que, ao mesmo tempo, leva essa sociedade a
desenvolver-se e consolidar-se.
Basicamente, a característica essencial ao positivismo, tal qual o concebeu Comte, é a
devoção à ciência, vista como único guia da vida individual e social, única moral e única religião
possível. Desse modo, em última análise, o positivismo é compreendido como a "religião da
humanidade".
 Características do positivismo:
• Doutrina filosófica: como uma continuidade do Iluminismo, a inspiração política
e científica do positivismo estava nos ideais iluministas. As aspirações dos
primeiros filósofos iluministas de alcançar um estágio de desenvolvimento moral
da sociedade foram mantidas. Porém, um novo modo de agir era necessário para
garantir a ordem social, desestabilizada após a Revolução Francesa.
• Doutrina sociológica: visando a garantir a ordem social, o positivismo atua como
uma doutrina que, partindo dos estudos sociológicos, serve de base para o
comportamento social e moral das pessoas. A Lei dos Três Estados estaria no topo
dessa cadeia de desenvolvimento da sociedade.
• Doutrina política: a disciplina, o rigor e a ordem social eram requisitos políticos
para a garantia do avanço social na ótica positivista.
• Desenvolvimento das ciências e das técnicas: o progresso social estaria
intimamente ligado ao progresso intelectual, científico e tecnológico. A ideia de
uma escola laica, universal e gratuita, que já havia ganhado certo espaço durante
o Iluminismo, passou a ser defendida com mais força pelos intelectuais
positivistas.
• Religião positiva: Comte entendia que a humanidade precisava de relações de
devoção. A devoção – antes baseada na fé em Deus ou nos deuses –, no
positivismo, dá lugar para a fé na ciência como única depositária de confiança da
humanidade, surgindo o cientificismo, caracterizado pela aposta incondicional
nas ciências como fonte total do conhecimento verdadeiro.

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SISTEMA COLONIAL
PORTUGUÊS
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SISTEMA COLONIAL PORTUGUÊS


PERÍODO PRÉ-COLONIAL
A primeira riqueza explorada pelo europeu em terras brasileiras foi o pau-brasil (caesalpinia
echinata), árvore que existia com relativa abundância em largas faixas da costa brasileira. O inte-
resse comercial nessa madeira decorria da possibilidade de extrair-se dela uma substância corante,
comumente utilizada para tingir tecidos. Antes da conquista da América indústria europeia de tintas
comprava o pau-brasil trazido do Oriente pelos mercadores que atuavam nas rotas tradicionais do
comércio indiano. Após a conquista do Brasil, tornava-se mais lucrativo extraí-lo diretamente de
nossas matas litorâneas.
O rei de Portugal não demorou a declarar a exploração do pau-brasil um monopólio da coroa
portuguesa. Oficialmente, ninguém poderia retirá-lo de nossas matas sem prévia concessão da
coroa e o pagamento do correspondente tributo. A primeira concessão para explorar o pau-brasil
foi fornecida a Fernão de Noronha, em 1501, que estava associada a vários comerciantes judeus.
Os Franceses, que não reconheciam a legitimidade do Tratado de Tordesilhas, agiam intensamente
no litoral brasileiro, extraindo a madeira sem pagar os tributos exigidos pela coroa portuguesa.
O esquema montado para a extração do pau-brasil contava, essencialmente, com a importante
participação do indígena. Só as tripulações dos navios que efetuam o tráfico não dariam conta, a
não ser de forma muito limitada, da árdua tarefa de cortar árvores de grande porte como o pau-
-brasil, que alcança um metro de diâmetro na base do tronco e 10 a 15 m de altura. A princípio, o
trabalho do índio era conseguido “amigavelmente” com o escambo. Este consistia, basicamente,
em derrubar as grandes árvores, cortá-las em pequenas toras, transportá-las até a praia e, daí, aos
locais onde estavam ancorados os navios.
Em 1530, com o propósito de realizar uma política de colonização efetiva, Dom João III, O
Colonizador, organizou uma expedição ao Brasil. A esquadra de cinco embarcações, bem armada e
aparelhada, reunia 400 colonos e tripulantes. Comandada por Martim Afonso de Sousa, tinha como
missão:
» Combater os traficantes franceses;
» Penetrar nas terras na direção do Rio da Prata para procurar metais preciosos; e
» Estabelecer núcleos de povoamento no litoral.

Portanto, iniciar o povoamento do “grande deserto”, as terras brasileiras. Para isso, traziam
ferramentas, sementes, mudas de plantas e animais domésticos. Martim Afonso possuía amplos
poderes. Designado capitão-mor da esquadra e do território descoberto, deveria fundar núcleos
de povoamento, exercer justiça civil e criminal, tomar posse das terras em nome do rei, nomear
funcionários e distribuir sesmarias.
SISTEMA COLONIAL PORTUGUÊS 3

Diogo Álvares Correia, o Caramuru, João Ramalho e Antônio Rodrigues facilitaram


bastante a missão colonizadora da expedição de Martim Afonso. Eram intérpretes junto
aos índios e forneciam valiosas informações sobre a terra e seus habitantes. Antes de
retornar a Portugal, ainda em 1532, o capitão recebeu carta do rei D. João III. Esse falava
de sua intenção de implantar o sistema de capitanias hereditárias e de designar Martim
Afonso e seu irmão Pero Lopes de Sousa como donatários.

CAPITANIAS HEREDITÁRIAS
A posse da América Portuguesa estava “garantida” aos portugueses pela Igreja Católica por
meio do Tratado de Tordesilhas, no qual a Igreja dividia as novas terras “descobertas” (América)
entre Espanha e Portugal. A existência do tratado, no entanto, não impedia que ingleses e franceses
questionassem essa divisão, já que foram excluídos dela.
No começo da década de 1530, o comércio com a Índia estava decadente, e as posses de
Portugal na América eram constantemente ameaçadas por corsários franceses, que se aliavam
aos indígenas inimigos dos portugueses e exploravam os recursos da terra sem a autorização de
Portugal. O rei português percebeu que, diante da ameaça estrangeira, era necessário criar uma
frente de colonização para garantir a posse da terra.
Sendo assim, em 1534, o rei português decidiu dividir as terras que pertenciam a Portugal
pela força do Tratado de Tordesilhas. Com essa decisão, Portugal dividiu a colônia em 15 lotes de
terra, que correspondiam, ao todo, a 14 capitanias, que foram entregues para a administração dos
capitães-donatários.

Os portugueses criaram o sistema de capitanias hereditárias como forma de iniciar a coloniza-


ção do Brasil e entregaram as responsabilidades de desenvolvimento e investimento da iniciativa aos
donatários. Esses capitães eram, em geral, pessoas da pequena nobreza e comerciantes com algum
tipo de ligação com a Coroa Portuguesa. Os donatários recebiam a faixa de terra correspondente
à capitania por meio da carta de doação, documento que lhes dava uma série de direitos sobre a
capitania, mas não lhes dava a posse da terra, que continuava sendo do rei de Portugal.
Os donatários possuíam grande poder administrativo e jurídico sobre a capitania. Eram também
responsáveis por investir e atrair investimentos, moradores e pessoas interessadas em explorar
a capitania, além de promover seu desenvolvimento econômico. A aplicação da lei, cobrança de
4

impostos, distribuição de terras, construção de fortificações para resguardar a capitania de invasões


estrangeiras e a luta contra os indígenas também eram atribuições do donatário.
O sistema de capitanias, no entanto, fracassou em decorrência de uma série de fatores. A
divisão territorial permaneceu ainda durante séculos, e, até o século XVIII, ainda existiam dona-
tários com poderes investidos pelo Coroa. Apesar disso, esse sistema mostrou ser deficiente para
uma administração unificada da colônia, uma vez que mal havia comunicação entre as capitanias.
Por conta disso, Portugal resolveu criar um sistema de administração que centralizava o poder na
colônia. Para isso, criou-se o governo-geral em 1548, e Tomé de Sousa foi delegado para a função
de governador-geral.
O fracasso das capitanias pode ser explicado por vários fatores. O principal deles foi que, das
catorze capitanias, somente duas registraram, de fato, um desenvolvimento notável: São Vicente
e Pernambuco. O sucesso dessas capitanias está relacionado com a instalação de engenhos e com
o tráfico de indígenas para escravização. As capitanias também fracassaram pela inexperiência
administrativa dos donatários. A falta de recursos também foi um grande impeditivo, assim como a
falta de comunicação, seja interna, seja com a Coroa. Por fim, os conflitos com os indígenas também
foram um fator relevante para o fracasso das capitanias.

GOVERNO-GERAL
Com o fracasso do sistema de capitanias hereditárias, a Coroa Portuguesa optou por centralizar
o poder na colônia, ou seja, foi criada uma autoridade sobre toda a colônia chamada governador-
-geral. A determinação para a criação desse cargo partiu do próprio rei de Portugal, D. João III.
Essa medida foi tomada com o objetivo de transformar a colônia em um negócio mais lucrativo
em vista do enfraquecimento do comércio na Índia. Além disso, o historiador Boris Fausto sugere
que o fechamento do entreposto comercial dos portugueses em Flandres e as derrotas militares
sofridas no Marrocos ajudam a entender a necessidade de tornar o Brasil um território mais van-
tajoso para Portugal.
A constante ameaça estrangeira, sobretudo dos franceses, também era um fator que tornava
o desenvolvimento da colônia extremamente importante para Portugal. Assim, para ocupar o cargo
de governador-geral, a Coroa Portuguesa enviou Tomé de Sousa ao Brasil em 1549.
ͫ Governo-geral de Tomé de Sousa
Tomé de Sousa foi enviado ao Brasil em 1549 com instruções específicas dadas pela Coroa
Portuguesa. Os objetivos, em geral, eram promover o desenvolvimento populacional e econômico
(principalmente pela produção de açúcar) da colônia e garantir a expulsão de invasores.
A expedição de Tomé de Sousa chegou à região da Baía de Todos os Santos com aproximada-
mente mil homens. As instruções dadas a ele foram estipuladas pela Coroa em um regimento de
17 de dezembro de 1548. Entre essas ordens a Tomé de Sousa, também estavam manter os nativos
sob controle e a garantia da conversão deles ao cristianismo.
A primeira ação do governador-geral foi promover a construção de Salvador em 1549. Essa
cidade foi instituída como capital do Brasil, status que ocupou durante mais de 200 anos. Sua loca-
lização geográfica era estratégica pela posição centralizada na colônia, o que facilitaria o contato
com as diferentes capitanias.
Para auxiliar o governador-geral na administração da colônia, foram criados cargos adminis-
trativos com atribuições diferentes. Os cargos de maior destaque foram:
» Ouvidor-mor: responsável pelos assuntos de justiça e pela imposição das leis na
colônia;
» Provedor-mor: responsável pela arrecadação e administração das finanças;
SISTEMA COLONIAL PORTUGUÊS 5

» Capitão-mor: responsável pela defesa da colônia contra invasores e contra-ataques


de indígenas.
A política de Tomé de Sousa quanto aos nativos era, naquele contexto, pacífica. Ele impôs a
escravidão contra as tribos indígenas rebeldes que não aceitavam a presença portuguesa. Com as
tribos pacificadas, foi instituída a mesma relação que havia sido usada na exploração do pau-brasil:
o escambo.
O maior empecilho para o governo-geral de Tomé de Sousa foi a dificuldade de comunicação
existente com outras capitanias da colônia. Seu governo estendeu-se até 1553, quando foi substi-
tuído por Duarte da Costa.
Junto da expedição que trouxe Tomé de Sousa estavam Manuel de Nóbrega e outros cinco companheiros per-
tencentes à Companhia de Jesus, também conhecidos como jesuítas. A missão dos jesuítas aqui era, primei-
ramente, estabelecer relações pacíficas com os nativos para iniciar um processo de catequização, ou seja, a
conversão dos índios ao catolicismo.

ͫ Outros governadores-gerais
Após Tomé de Sousa, o Brasil foi governado por Duarte da Costa (1553-1558) e por Mem de Sá
(1558-1572). Durante o governo de Duarte da Costa, os indígenas passaram a ser tratados de forma
hostil, e um grande número deles foi escravizado. Essa relação com os indígenas quase colocou a
perder o trabalho desenvolvido por Tomé de Sousa. Por isso, no governo de Mem de Sá, foi adotada
novamente a política de escravização somente dos indígenas hostis.
O governo de Mem de Sá destacou-se ainda por ter expulsado os franceses que estavam estabe-
lecidos na Baía da Guanabara desde 1555. Nessa região, os invasores franceses, sob a liderança de
Nicolas Durand de Villegagnon, haviam fundado a França Antártica. Após a expulsão, os portugueses
fundaram a cidade do Rio de Janeiro no local.
Em 1572, após da morte de Mem de Sá, a Coroa portuguesa, ainda percebendo inúmeras
falhas na administração da Colônia, resolveu dividir a América Portuguesa em dois Governos-Ge-
rais: o Governo do Norte e o Governo do Sul, que tinham como capitais Salvador e Rio de Janeiro,
respectivamente.
ESTRUTURA
POLÍTICO-
ADMINISTRATIVA
2

ESTRUTURA POLÍTICO-ADMINISTRATIVA
CAPITANIAS HEREDITÁRIAS
A posse da América Portuguesa estava “garantida” aos portugueses pela Igreja Católica por
meio do Tratado de Tordesilhas, no qual a Igreja dividia as novas terras “descobertas” (América)
entre Espanha e Portugal. A existência do tratado, no entanto, não impedia que ingleses e franceses
questionassem essa divisão, já que foram excluídos dela.
No começo da década de 1530, o comércio com a Índia estava decadente, e as posses de
Portugal na América eram constantemente ameaçadas por corsários franceses, que se aliavam
aos indígenas inimigos dos portugueses e exploravam os recursos da terra sem a autorização de
Portugal. O rei português percebeu que, diante da ameaça estrangeira, era necessário criar uma
frente de colonização para garantir a posse da terra.
Sendo assim, em 1534, o rei português decidiu dividir as terras que pertenciam a Portugal
pela força do Tratado de Tordesilhas. Com essa decisão, Portugal dividiu a colônia em 15 lotes de
terra, que correspondiam, ao todo, a 14 capitanias, que foram entregues para a administração dos
capitães-donatários.

Os portugueses criaram o sistema de capitanias hereditárias como forma de iniciar a colonização


do Brasil e entregaram as responsabilidades de desenvolvimento e investimento da iniciativa aos
donatários. Esses capitães eram, em geral, pessoas da pequena nobreza e comerciantes com algum
tipo de ligação com a Coroa Portuguesa. Os donatários recebiam a faixa de terra correspondente
à capitania por meio da carta de doação, documento que lhes dava uma série de direitos sobre a
capitania, mas não lhes dava a posse da terra, que continuava sendo do rei de Portugal.
Os donatários possuíam grande poder administrativo e jurídico sobre a capitania. Eram também
responsáveis por investir e atrair investimentos, moradores e pessoas interessadas em explorar
a capitania, além de promover seu desenvolvimento econômico. A aplicação da lei, cobrança de
impostos, distribuição de terras, construção de fortificações para resguardar a capitania de invasões
estrangeiras e a luta contra os indígenas também eram atribuições do donatário.
O sistema de capitanias, no entanto, fracassou em decorrência de uma série de fatores. A
divisão territorial permaneceu ainda durante séculos, e, até o século XVIII, ainda existiam dona-
tários com poderes investidos pelo Coroa. Apesar disso, esse sistema mostrou ser deficiente para
ESTRUTURA POLÍTICO-ADMINISTRATIVA 3

uma administração unificada da colônia, uma vez que mal havia comunicação entre as capitanias.
Por conta disso, Portugal resolveu criar um sistema de administração que centralizava o poder na
colônia. Para isso, criou-se o governo-geral em 1548, e Tomé de Sousa foi delegado para a função
de governador-geral.
O fracasso das capitanias pode ser explicado por vários fatores. O principal deles foi que, das
catorze capitanias, somente duas registraram, de fato, um desenvolvimento notável: São Vicente
e Pernambuco. O sucesso dessas capitanias está relacionado com a instalação de engenhos e com
o tráfico de indígenas para escravização. As capitanias também fracassaram pela inexperiência
administrativa dos donatários. A falta de recursos também foi um grande impeditivo, assim como a
falta de comunicação, seja interna, seja com a Coroa. Por fim, os conflitos com os indígenas também
foram um fator relevante para o fracasso das capitanias.

GOVERNOS GERAIS

Após a tentativa fracassada de estabelecer as Capitanias Hereditárias, a coroa portuguesa


estabeleceu no Brasil o Governo-Geral. Era uma forma de centralizar e ter mais controle da
colônia. O primeiro governador-geral foi Tomé de Souza, que recebeu do rei a missão de
combater os indígenas rebeldes, aumentar a produção agrícola no Brasil, defender o território
e procurar jazidas de ouro e prata. Também existiam as Câmaras Municipais que eram órgãos
políticos compostos pelos “homens-bons”. Esses eram os ricos proprietários que definiam os
rumos políticos das vilas e cidades. O povo não podia participar da vida pública nesta fase. A
capital do Brasil neste período foi Salvador, pois a região Nordeste era a mais desenvolvida e rica
do país.

Forma de governo que vigora no país de 1548 até a chegada da família real ao Rio de Janeiro, em
1808. O governador-geral é o representante do poder real na colônia. No século XVIII, diversos
governadores recebem o título de vice-reis. Em 1548, diante das dificuldades apresentadas
pela maior parte das capitanias, o rei português dom João III decide centralizar a administração
colonial. Com o governo-geral, pretende reforçar o apoio da Coroa aos donatários e colonos,
principalmente no combate aos índios hostis, no desenvolvimento da agricultura e na defesa
do território. Os donatários e colonos, contudo, veem a nomeação do governador-geral como
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uma ingerência indevida em suas capitanias. O conflito entre o poder central e o local se dá em
torno de questões como a escravização indígena, a cobrança dos tributos reais e o controle das
operações militares.

PRIMEIRO GOVERNO-GERAL
O primeiro governador nomeado por dom João III é o português Tomé de Sousa. Em 1549,
ele funda a cidade de Salvador, na capitania da Bahia, para servir como sede do governo. Cria
também os órgãos necessários à cobrança dos tributos, à aplicação da justiça e à organização
militar. Com a intenção de atrair novos colonos, distribui sesmarias, terras incultas ou
abandonadas, e consegue expandir a atividade açucareira e a criação de rebanhos.

SEGUNDO GOVERNO-GERAL
Em 1553, Duarte da Costa substitui Tomé de Sousa. O segundo governador do Brasil envolve-se
nos conflitos entre donatários e jesuítas em torno da escravização indígena. Com isso, termina
por se incompatibilizar com as autoridades locais e é obrigado a retornar a Portugal em 1557.

TERCEIRO GOVERNO-GERAL
O governador seguinte, Mem de Sá, resolve as disputas políticas, dedica-se à pacificação dos
índios e ao combate dos franceses no Rio de Janeiro. Com a ajuda dos jesuítas Manuel da
Nóbrega e José de Anchieta, neutraliza a aliança formada por índios tamoios e franceses e, com
seu sobrinho Estácio de Sá, expulsa os invasores da Baía de Guanabara. Em 1565, Estácio de Sá
funda no local a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mem de Sá permanece no cargo até
1572, quando morre. Seu eficiente desempenho contribui para firmar a posição do governo-
geral no conjunto da vida colonial. No entanto, a resistência dos donatários à ingerência dos
funcionários reais nas capitanias e vilas permanece no decorrer do tempo.
Buscando adequar-se a essa realidade, a atuação do governo-geral oscila entre as tendências
para maior ou menor centralização. Em 1572, o governo-geral fica dividido entre Salvador e
Rio de Janeiro. Volta a se unir em 1578, na Bahia, mas é novamente repartido em 1621: São
formados o estado do Brasil, com sede em Salvador, e o estado do Maranhão, sediado em São
Luís do Maranhão, com o objetivo de melhorar a defesa militar na Região Norte e estimular as
atividades econômicas e o comércio regional com a metrópole.
Em 1763, a sede do governo do Estado do Brasil em Salvador, que de fato funcionava como
capital da colônia, é transferida para o Rio de Janeiro, por decisão do Marquês de Pombal. Pesam
nessa decisão, além da política de maior centralização do governo Pombal para a colônia, os
interesses decorrentes do crescimento da mineração. Em 1774, Pombal extingue oficialmente o
antigo Estado do Maranhão. O governo-geral vigora até 1808.
ESTRUTURA
SOCIOECONÔMICA
2

ESTRUTURA SOCIOECONÔMICA
A ECONOMIA COLONIAL
A base da economia colonial era o engenho de açúcar. O senhor de engenho era um fazendeiro
proprietário da unidade de produção de açúcar. Utilizava a mão de obra africana escrava e tinha
como objetivo principal a venda do açúcar para o mercado europeu. Além do açúcar, destacou-se
também a produção de tabaco e algodão. As plantações ocorriam no sistema de plantation, ou seja,
eram grandes fazendas produtoras de um único produto, utilizando mão de obra escrava e visando
o comércio exterior. O Pacto Colonial imposto por Portugal estabelecia que o Brasil só podia fazer
comércio com a metrópole.

A FASE DO AÇÚCAR (SÉCULOS XVI E XVII)


O açúcar era um produto de grande aceitação na Europa e alcançava um grande valor. Após
as experiências positivas de cultivo no Nordeste, já que a cana-de-açúcar se adaptou bem ao clima
e ao solo nordestino, começou o plantio em larga escala. Seria uma forma de Portugal lucrar com
o comércio do açúcar, além de começar o povoamento do Brasil. Para melhor organizar a colônia,
o rei resolveu dividir o Brasil em Capitanias Hereditárias. O território foi dividido em faixas de ter-
ras que foram doadas aos donatários. Esses podiam explorar os recursos da terra, porém ficavam
encarregados de povoar, proteger e estabelecer o cultivo da cana-de-açúcar. No geral, o sistema de
Capitanias Hereditárias fracassou, em função da grande distância da Metrópole, da falta de recursos
e dos ataques de indígenas e piratas. As capitanias de São Vicente e Pernambuco foram às únicas
que apresentaram resultados satisfatórios, graças aos investimentos do rei e de empresários.

ENGENHO
Propriedade rural onde se plantava a cana e se produzia o açúcar, cujo proprietário era cha-
mado de Senhor de Engenho. O primeiro chamava-se Engenho do Governador, fundado em São
ESTRUTURA SOCIOECONÔMICA 3

Vicente (litoral paulista) por Martim Afonso de Sousa. Século XVI — uma parte considerável do litoral
nordestino (Rio Grande do Norte a Bahia) abrigava uma quantidade significativa de engenhos, cujo
destino final da produção era o mercado europeu. A produção açucareira do Brasil Colônia só iria
sofrer um forte abalo a partir da segunda metade do século XVII, diante da concorrência com as
colônias holandesas no Caribe.
A SOCIEDADE DO AÇÚCAR
A sociedade no período do açúcar era marcada pela grande diferenciação social. No topo da sociedade, com
poderes políticos e econômicos, estavam os senhores de engenho. Abaixo, aparecia uma camada média for-
mada por trabalhadores livres e funcionários públicos. E na base da sociedade estavam os escravos de origem
africana. Era uma sociedade patriarcal, pois o senhor de engenho exercia um grande poder social. As mulheres
tinham poucos poderes e nenhuma participação política, deviam apenas cuidar do lar e dos filhos. A casa-
-grande era a residência da família do senhor de engenho. Nela moravam, além da família, alguns agregados. O
conforto da casa-grande contrastava com a miséria e péssimas condições de higiene das senzalas (habitações
dos escravos).

MINERAÇÃO
A maior ambição de qualquer país colonizador era encontrar metais preciosos nas novas terras.
Mercantilismo que avaliava a riqueza de uma nação de acordo com o acúmulo de ouro e prata.
Primeira metade do século XVI — espanhóis descobriram jazidas de ouro e prata em suas colônias.
O mesmo não ocorreu no Brasil. Final do século XVII — bandeirantes paulistas descobriram ouro
em áreas do interior do atual estado de Minas Gerais, na Serra do Espinhaço. O interior brasileiro
começou a ser ocupado pela atividade mineradora, surgindo em consequência as primeiras estradas,
vilas e cidades na região. A população da colônia teve um crescimento extraordinário, a ponto de
o governo português limitar a emigração para o Brasil.
PROCESSO DE
INDEPENDÊNCIA
BRASILEIRO
2

PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA BRASILEIRO


INTRODUÇÃO
A independência do Brasil foi anunciada por D. Pedro às margens do riacho Ipiranga, em São
Paulo, no dia 7 de setembro de 1822. Esse foi o resultado do distanciamento entre brasileiros e
portugueses a partir de 1820. As tentativas de recolonização do Brasil pelas Cortes fizeram com
que as ideias de independência ganhassem força na colônia.
D. Pedro foi quem encabeçou esse processo, sendo aconselhado por José Bonifácio, defensor
da transformação do Brasil em uma monarquia constitucional não liberal. A independência do Brasil
foi seguida das Guerras de Independência, que se estenderam até o ano de 1824. Os portugueses
só reconheceram nossa independência em 1825.

CAUSAS DA INDEPENDÊNCIA
A independência do Brasil foi um processo acelerado por conta de acontecimentos em Por-
tugal no século XIX. O contexto histórico de Portugal é fundamental para que possamos entender
as transformações que aconteceram no Brasil e que deram abertura para que a luta pela indepen-
dência se iniciasse.

VINDA DA FAMÍLIA REAL PARA O BRASIL


As causas da independência do Brasil estão exatamente nesse processo do começo do século
XIX. O ponto de partida é a vinda da família real portuguesa para o Brasil, em 1808. Esse aconteci-
mento permitiu que melhorias fossem possíveis no Brasil. A fuga da família real de Portugal acon-
teceu porque os portugueses não aderiram ao bloqueio continental imposto pela França.
D. João, regente de Portugal, decidiu mudar-se para o Brasil, instalando-se no Rio de Janeiro e
realizando medidas que trouxeram melhores condições para a colônia. O regente português abriu
o comércio brasileiro para as nações amigas, aprovou incentivos à indústria e economia brasileira
e incentivou o desenvolvimento das artes e das ciências.
A grande transformação desse período foi a elevação da condição do Brasil, em 1815. O Brasil
deixou de ser considerado uma colônia portuguesa e tornou-se parte integrante de Portugal. Até o
nome do território mudou para Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Esse cenário incentivou
o desenvolvimento da cidade do Rio de Janeiro, fazendo com que sua população dobrasse.
No fim da década de 1810, havia insatisfações com a Coroa portuguesa, sobretudo por causa
do aumento dos impostos e pelo grande número de tropas portuguesas no Brasil — duas conse-
quências diretas da presença de D. João VI aqui. Entretanto, nesse momento não havia muito espaço
para que um movimento de independência prosperasse. A virada nos acontecimentos deu-se em
Portugal, a partir de 1820. Para saber mais sobre essa fuga e suas consequências, leia: “Vinda da
família real portuguesa”.

REVOLUÇÃO LIBERAL DO PORTO


Em 1820, estourou em Portugal uma revolução de caráter liberal que desejava profundas
reformas no país. O clima em Portugal era de insatisfação porque, economicamente, a situação
estava ruim desde a abertura da economia e do comércio brasileiros, que prejudicou os negócios
dos comerciantes na metrópole.
PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA BRASILEIRO 3

Os portugueses também estavam insatisfeitos com o fato de a família real estar no Brasil desde
1808 (e o rei não tinha interesse nenhum em voltar). Por fim, havia muita insatisfação porque, após
a fuga da família real, o país estava cheio de ingleses, sobretudo no exército.
Esses fatores levaram a burguesia portuguesa a iniciar um movimento. Foi formada uma junta
para governar o país e foram convocadas as Cortes portuguesas, instituição que atuava como Legis-
lativo em Portugal. As Cortes decidiram então elaborar uma nova Constituição para o país, exigindo
que D. João VI jurasse fidelidade a ela.
Os membros das Cortes queriam implantar uma monarquia constitucional em Portugal, limi-
tando consideravelmente o poder do rei português. As Cortes tiveram sucesso nesse objetivo, e,
em fevereiro de 1821, D. João VI jurou fidelidade à nova Constituição portuguesa. Outra exigência
das Cortes e que gerou tensão no Brasil foi o retorno do rei para a metrópole.
D. João VI não queria retornar e houve debates acalorados no Brasil sobre o seu retorno, acon-
tecendo até rebeliões populares no Rio de Janeiro, exigindo-se a sua permanência. Entretanto, D.
João VI temia perder o trono de Portugal e decidiu retornar para Lisboa, deixando seu filho, Pedro,
como regente do Brasil.
Registros da época apontam que, dois dias antes de embarcar para Portugal, D. João VI tinha
aconselhado D. Pedro. No conselho, D. João VI falava que se o Brasil iniciasse um processo de
independência, era melhor que ele acontecesse sob a liderança de D. Pedro, pois ele era leal ao rei
português, do que sob a de um desconhecido. Em 26 de abril de 1821, D. João VI partiu, entriste-
cido, para Portugal.

O PROCESSO
D. Pedro esteve à frente do processo de independência do Brasil, embora contasse com os
conselhos de José de Bonifácio de Andrada e de sua esposa, Maria Leopoldina. Até aqui não havia
coro pela independência, mas tudo mudaria quando os interesses das Cortes mostraram-se dife-
rentes dos interesses no Brasil.
As Cortes indicaram que o Brasil teria direito a 77 deputados como representantes, e os primei-
ros deputados brasileiros chegaram a Lisboa em agosto de 1821. As Cortes, no entanto, já estavam
reunidas desde janeiro, e os interesses dos portugueses em relação ao Brasil eram: acabar com a
centralização do poder no Rio de Janeiro, fazendo com que as províncias brasileiras respondessem
diretamente a Lisboa, e revogar a abertura comercial realizada por D. João VI.
Na prática, os portugueses queriam subordinar novamente o Brasil a sua autoridade, o que
pareceu para os políticos brasileiros uma tentativa de recolonização. Além disso, os representan-
tes brasileiros em Portugal registraram a forma desrespeitosa pela qual Brasil e brasileiros eram
tratados na Corte.
Essa diferença de interesses foi o início do processo de ruptura entre Brasil e Portugal. Ao longo
de 1821 e 1822, as relações ficaram cada vez piores, o que fortaleceu o “partido brasileiro”, o grupo
que defendia a separação brasileira. D. Pedro, como regente, tornou-se o líder dos defensores da
independência, mas seu protagonismo só veio mesmo a partir de 1822.
Ainda em 1821, novas ordens vindas de Portugal deixaram os brasileiros, sobretudo no Rio
de Janeiro, irritados. As instituições instaladas na cidade por D. João VI deveriam ser transferidas
para Portugal, e D. Pedro deveria voltar para Lisboa. Houve uma grande mobilização para que o
regente ficasse no Brasil.
Formou-se um clube de defensores da permanência de D. Pedro, e até assinaturas foram
colhidas em apoio ao regente. O príncipe de Portugal convenceu-se a ficar no Brasil, desafiando
as ordens da Corte, D. Maria Leopoldina foi fundamental em convencê-lo a permanecer. O Dia do
Fico ficou marcado na independência do Brasil com um dos seus grandes símbolos, uma vez que o
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regente desobedeceu a uma ordem de Portugal. A partir daí, a situação agravou-se, e, nas palavras
do historiador Boris Fausto, D. Pedro decidiu-se por “atos de ruptura”.
A ideia da independência ganhou coesão política, sendo apoiada por diferentes grupos no Sul
e Sudeste, e a ideia de José Bonifácio de formar-se uma monarquia que evitasse o fortalecimento de
ideais populares e liberais ganhou influência. Em maio, D. Pedro assinou o decreto que determinava
que as decisões da Corte só teriam validade no Brasil com a aprovação dele.
Em junho, foi convocada uma Constituinte para elaborar-se uma Constituição para o Brasil,
sendo esse um passo claro das elites brasileiras no objetivo de obterem mais autonomia para o
país. Por fim, em agosto, D. Pedro emitiu ordem afirmando que as tropas portuguesas que desem-
barcassem no Brasil a partir de então seriam consideradas inimigas.

QUEM PROCLAMOU A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL


Podemos perceber então que as relações entre Brasil e Portugal estavam insustentáveis. Em
setembro de 1822, D. Pedro estava em São Paulo, em uma viagem para resolver uma pequena
revolta que havia acontecido por lá.
Em 7 de setembro, D. Pedro e sua comitiva retornavam para São Paulo de uma visita a Santos.
Durante o trajeto, D. Pedro foi alcançado por um mensageiro que trazia cartas urgentes de Maria
Leopoldina e José Bonifácio. A correspondência trazia novas ordens de Portugal: as Cortes anuncia-
vam a suspensão dos decretos de D. Pedro, ordenavam seu retorno e acusavam seus conselheiros
de traição.
A carta de D. Leopoldina ainda continha um decreto assinado por ela que declarava a inde-
pendência do Brasil. Essa assinatura aconteceu em uma reunião emergencial no Rio de Janeiro, no
dia 2 de setembro de 1822, logo após a chegada das novas ordens. Além disso, a correspondência
também continha um conselho de José Bonifácio para que D. Pedro declarasse a independência.
D. Pedro leu as mensagens, e então proclamou a independência do Brasil no local onde estava,
às margens do riacho Ipiranga. O regente foi recebido como herói quando retornou ao Rio de Janeiro,
dias depois. Em 12 de outubro, ele foi aclamado imperador do Brasil e, no dia 1º de dezembro de
1822, foi coroado como imperador do Brasil, tornando-se D. Pedro I.

PÓS-INDEPENDÊNCIA
O processo de independência não acabou em 1822, estendendo-se até 1825, quando os por-
tugueses reconheceram a independência do Brasil. Nesse período, o Brasil enfrentou uma guerra
civil, uma vez que forças leais a Portugal levantaram-se em locais como Cisplatina e Bahia. Esses
conflitos ficaram conhecidos como Guerras de Independência e duraram até 1824.
Paralelamente aos conflitos internos, o Brasil precisava obter o reconhecimento internacional.
Oficialmente, os Estados Unidos são considerados o primeiro país a reconhecer a independência do
Brasil, no ano de 1824. Entretanto, novos estudos apontam que possivelmente a Argentina, já em
1823, havia feito esse reconhecimento. O reconhecimento português, como vimos, só veio em 1825.
Além disso, a Constituinte brasileira foi formada e reuniu-se a partir de 1823. Uma Constitui-
ção foi outorgada em 1824, e o Brasil estabeleceu-se como uma monarquia, com D. Pedro I tendo
poderes absolutos. A escravidão foi mantida, uma vez que não era interesse das elites, formadas
pelos grandes fazendeiros, em abolir essa instituição. Esse período após a independência é conhe-
cido como Primeiro Reinado.
PRIMEIRO REINADO
2

PRIMEIRO REINADO
O Primeiro Reinado corresponde ao período de 7 de setembro de 1822 a 7 de abril de 1831,
em que o Brasil foi governado por D. Pedro I, primeiro imperador do Brasil. Esta época tem início
com a declaração da Independência do Brasil e termina com a abdicação de Dom Pedro I a favor do
seu filho e herdeiro. O Primeiro Reinado é marcado por disputas entre a elite agrária e o imperador,
além de conflitos regionais no Nordeste e na Cisplatina.

O RECONHECIMENTO DA INDEPENDÊNCIA
Visando fortalecer a sua presença no cenário político americano, os Estados Unidos foram a
primeira nação a reconhecer a autonomia política brasileira, em maio de 1824. Nesse período, a cha-
mada “Doutrina Monroe” era empregada na política externa estadunidense como meio de se repu-
diar qualquer tentativa de recolonização pelas antigas monarquias absolutistas. Em março de 1825,
as autoridades mexicanas fortaleceram o coro de países que legitimavam o Brasil Independente.
A Inglaterra, como grande fornecedora de produtos manufaturados ao país, tinha grande inte-
resse em reconhecer a independência do Brasil. Entretanto, a ação política e diplomática britânica
temia que tal posição viesse a estabelecer uma crise nas relações entre Portugal e Inglaterra. De
tal modo, os britânicos se organizaram a fim de intermediar um acordo de reconhecimento entre
autoridades portuguesas e brasileiras.
No dia 29 de agosto de 1825, portugueses e brasileiros assinaram o Tratado de Paz e Amizade.
Segundo o acordo firmado, o governo português reconhecia a independência do Brasil a partir do
pagamento de uma indenização no valor de dois milhões de libras esterlinas. Além disso, Dom Pedro
I se comprometeu a ceder o título honorário de imperador do Brasil a Dom João VI e não tomar
nenhuma iniciativa a fim de anexar algumas das colônias portuguesas ao seu território.

CONSTITUIÇÃO DA MANDIOCA
No ano seguinte a proclamação da Independência, reuniu-se os representantes das provín-
cias (como passaram a ser chamadas as antigas capitanias) para elaborar a primeira Constituição
brasileira. A maioria dos deputados da Assembléia Constituinte de 1823 defendia os interesses
dos grandes proprietários rurais, que haviam influenciado no processo de independência do Brasil.
Em setembro de 1823 os deputados concluíram um projeto de constituição. Esse projeto era
contra comerciantes e militares que ainda desejavam a recolonização do Brasil. Por isso proibia
estrangeiro de ocupar cargos públicos como deputados e senadores. Outra característica era a preo-
cupação em reduzir os poderes do imperador e aumentar os poderes do legislativo. O projeto, por
exemplo, estabelecia que o imperador não podia dissolver o parlamento e que as forças armadas
obedeceriam ao legislativo e não ao imperador.
O projeto de constituição tinha a intenção de limitar a participação política somente à elite,
por isso concedia direito de participação política apenas aos grandes proprietários rurais do sexo
masculino, pois para ser eleitor, o homem precisava ter renda mínima equivalente ao valor da pro-
dução de 150 alqueires de farinha de mandioca. Para ser eleito a renda precisava ser ainda maior.
Daí o projeto ficar conhecido como “Constituição da Mandioca”.
Pedro I recusou esse projeto, pois ele diminuía seus poderes. Com o apoio de tropas militares,
pôs fim a Assembléia constituinte em 12 de novembro de 1823. Os deputados que reagiram ao ato
de força do imperador foram presos e expulsos do país.

CONSTITUIÇÃO DE 1824
PRIMEIRO REINADO 3

Dom Pedro convocou os seis ministros, além dos políticos de sua confiança, para redigir essa
Constituição após dissolver a Constituinte no ano de 1823. Participou, também, pessoalmente, da
redação da Constituição para garantir que seu poder de imperador fosse mantido.
Outorgada no dia 25 de março de 1824, a Constituição trazia algumas características bastante
marcantes. Concentrava poderes nas mãos do imperador por meio do poder moderador, e deter-
minava que somente os ricos podiam votar, baseando-se na renda para esse quesito e excluindo a
maioria da população brasileira na hora da escolha dos representantes. A Igreja era subordinada ao
estado e havia uma manutenção do sistema, determinando a garantia dos interesses da aristocracia.
Ficou determinado ainda por essa Constituição que o Brasil permaneceria seguindo o regime
político monárquico, sendo este transmitido de forma hereditária. O poder do imperador, deno-
minado poder moderador, ficou acima dos outros poderes, garantindo que ele pudesse controlar e
regular todos os outros, tendo, portanto, o poder absoluto de todas as outras esferas do governo.
Além disso, o voto era censitário e ficou estabelecida a presença de quatro poderes: Execu-
tivo, Legislativo, Judiciário e Moderador. Houve ainda a criação de um Conselho de Estado cujos
integrantes eram escolhidos pelo imperador. O poder executivo era regido pelo imperador e pelos
ministros de Estado, sendo que estes executariam as leis do país, que seriam elaboradas pelos
deputados e senadores. O território foi dividido em províncias e foram estabelecidos direitos e
garantias individuais.
A ideia de estabelecer o poder de voto para o poder legislativo foi uma tentativa falha de
conferir um caráter mais popular à carta, porém era voto indireto, ou seja, os cidadãos votavam em
Eleitores da Província que escolheriam os seus parlamentares. Os Eleitores da Província deveriam
ser homens livres, sem antecedentes criminais e que tivessem renda anual superior a 200 mil réis.
Os deputados tinham que ter renda superior a 400 mil réis e deveriam seguir a religião católica,
determinada como a oficial do país, e os senadores, cujo cargo era vitalício, deveriam ter renda
anual superior aos 800 mil réis, além de idade superior a 40 anos.

CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR
No início do século XIX, a província de Pernambuco estava dividida entre os que apoiavam
o domínio dos portugueses no Brasil e os que desejavam vê-los fora do poder. No sul da provín-
cia, cultivava-se principalmente a cana-de-açúcar; no norte, a economia era mais diversificada,
baseando-se sobretudo no cultivo do algodão além da cana-de-açúcar. Os donos dos engenhos de
açúcar apoiavam os portugueses, pois sentiam que as ideias liberais (dentre elas o abolicionismo)
ameaçavam suas propriedades. Já a aristocracia ligada ao algodão desejava ver-se livre da influência
portuguesa, pois queria autonomia para realizar comércio, a partir da abertura dos portos.
Foi nesse cenário dividido que os ideais republicanos se difundiram e diversas revoltas surgi-
ram na região. Dois movimentos marcantes influenciaram as províncias rebeldes da Confederação
do Equador: a Revolução Pernambucana de 1817 e o Movimento Constitucionalista de 1821, que
levou à declaração da Independência do Brasil, em 1822.
Na época, todas as províncias eram subordinadas ao Rio de Janeiro, que era a sede do império.
As províncias desejavam mais autonomia em relação ao governo do imperador dom Pedro I. Porém,
ainda em 1822, o imperador havia lançado medidas ainda mais centralizadoras. Além disso, mesmo
com a independência, os portugueses continuavam a ter muito poder nas decisões das províncias
nordestinas. Em Pernambuco, formou-se um governo provisório fiel ao imperador, a Junta dos
Matutos, que em 1824 foi deposta. Dom Pedro I nomeou Francisco Pais Barreto para assumir o
governo da província, mas Manuel Carvalho Pais de Andrade já havia sido eleito localmente pelos
representantes do comércio, da agricultura e do clero. Esse foi o ponto inicial do conflito entre a
província de Pernambuco e o governo imperial.
4

Os pernambucanos recusaram-se a aceitar Pais Barreto como governador e, em resposta,


dom Pedro I mandou forças navais, que bloquearam o porto de Recife. Pais de Andrade lançou um
manifesto, incentivando a população a unir-se ao movimento revolucionário. O bloqueio naval foi
suspenso e a rebelião logo ganhou o apoio de províncias vizinhas (Ceará, Rio Grande do Norte e
Paraíba), que viviam situação semelhante à de Pernambuco. Surgiu assim a Confederação do Equa-
dor, com Pais de Andrade na chefia de um governo independente na região.
A repressão do governo central foi severa. Pouco tempo depois, o movimento foi derrotado.
A província de Pernambuco acabou perdendo parte de seu território (a antiga comarca do rio São
Francisco) para a província da Bahia. Vários líderes da rebelião, como frei Caneca, foram enforca-
dos ou fuzilados, enquanto outros, como Cipriano Barata, acabaram presos. Assim terminava um
movimento importante da história do Brasil.

GUERRA DA CISPLATINA
A Guerra da Cisplatina aconteceu entre o Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata, atual
Argentina. Esse foi o primeiro conflito do Brasil como nação independente e foi causado pela disputa
entre as duas nações pelo controle da Cisplatina, província no extremo sul do Brasil. A guerra durou
de 1825 a 1828 e teve duas grandes consequências para o Brasil: a perda do território da Cisplatina,
que se tornou uma nação independente, e a perda de popularidade do imperador D. Pedro I.
A Guerra da Cisplatina estendeu-se por três anos e, nesse período, os objetivos das nações
envolvidas nessa luta eram os seguintes:
Brasil: o objetivo do Império era pôr fim à rebelião que acontecia na Cisplatina e recuperar o
território rebelde.
Cisplatina: o objetivo de Lavalleja, na liderança dos 33 orientais, era anular o domínio brasi-
leiro na região, para, em seguida, anexar-se às Províncias Unidas. Também existiam uruguaios que
defendiam a independência da região.
Províncias Unidas: anexar a Cisplatina ao seu território.

A Guerra da Cisplatina, ao longo de seus três anos, foi um conflito extremamente im-
popular, principalmente por não ser identificada como uma causa legitimamente bra-
sileira e por conta de seu impacto na economia do país. O desejo das elites nacionais, na
década de 1820, era a manutenção da paz para garantir o desenvolvimento do país.
O imperador ordenou o fechamento dos portos na região platina e anunciou uma recompensa
pela captura de Lavalleja e Frutuoso Rivera (outro líder militar dos uruguaios). Essas decisões só
contribuíram para acirrar mais os ânimos. A falta de preparo para o conflito custou caro ao país,
que foi derrotado em inúmeras batalhas, tais como a Batalha de Ituzaingó, em fevereiro de 1827.
Com tal derrota, o governo imperial aceitou negociar termos para o fim da guerra. Após
muita negociação, ficou decidido na Convenção Preliminar de Paz que o Brasil aceitava renunciar à
Cisplatina e concordava com a derrota militar sofrida nesse conflito. A historiadora Isabel Lustosa
fala que, ao longo dessa guerra, o Brasil gastou cerca de 30 milhões de dólares e cerca de 8 mil
soldados morreram.
Como parte desse acordo de paz, houve a independência da Cisplatina e, assim, em 27 de
agosto de 1828, surgia a República Oriental do Uruguai. Esse acordo realizado entre brasileiros e
argentinos contou com a mediação de representantes do Reino Unido e da França. A Guerra da
Cisplatina só endividou o Brasil e abalou grandemente a popularidade de D. Pedro I.

ECONOMIA NO PRIMEIRO REINADO


PRIMEIRO REINADO 5

Durante o primeiro reinado, o Brasil, enfrentava uma grande crise econômica, pois faltava um
produto para exportação. Esse fato fazia o país depender de empréstimos do exterior. A cada ano a
dívida aumentava devido aos juros e D. Pedro I aumentava os impostos para compensar os gastos.

Balança de comércio do Brasil (1823- 1831): em milhares de contos de réis.

CRISE DO PRIMEIRO REINADO


Nos últimos anos de seu governo, D. Pedro I sofreu uma série de ataques por meio dos jornais e
espaços públicos tomados por oposicionistas. De tendência liberal, criticavam o envolvimento do
imperador na questão sucessória portuguesa, os gastos promovidos com os conflitos na Cisplatina
e o pagamento de indenização para obter o reconhecimento da independência por Portugal. Ao
mesmo tempo, esses oposicionistas atacavam as ações autoritárias que marcaram a carreira do
nosso primeiro imperador.

Após a morte de D. João VI, o trono português ficou vago, D. Pedro não podia assumir
duas coroas então decide abdicar ao trono de Portugal em favor de sua filha Maria da
Glória, porém D. Miguel, irmão de D. Pedro I usurpou o trono. Esse fato fez o impera-
dor brasileiro armar um exército português com recursos brasileiros o que gerou mais
descontentamento.
Como se não bastassem todas essas críticas, o assassinato do jornalista Líbero Badaró, um dos
mais ferrenhos críticos do imperador, acabou agravando tal situação. Suspeito de ter algum tipo
de envolvimento no crime, acontecido em novembro de 1830, D. Pedro I resolveu organizar uma
luxuosa comitiva que buscaria apoio à autoridade imperial em outras províncias do país. Ao lado de
sua segunda esposa, Dona Amélia de Leuchtenberg, a comitiva imperial se dirigiu até Minas Gerais.

A imprensa, principal oposicionista sofria violenta repressão em São Paulo. No ano de


1830, o jornalista Líbero Badaró, responsável pelo Jornal Observador Constitucional foi
assassinado. A impunidade dos envolvidos levantou suspeita sobre o envolvimento do
imperador.
Ao chegar à cidade de Ouro Preto, o imperador foi hostilizado pelos moradores que sabiam das
escandalosas suspeitas envolvendo o assassinato de Líbero Badaró. Na medida em que a comitiva
atravessava as ruas da cidade, os moradores indignados fechavam as portas de suas casas e deixa-
vam panos pretos à mostra. Em pouco tempo, a manifestação de repúdio enfureceu o imperador,
que decidiu retornar até a cidade do Rio de Janeiro.
6

Sabendo da humilhação pública sofrida, os partidários de D. Pedro I, em sua maioria portu-


gueses, resolveram organizar uma grande festa de recepção ao imperador. Inconformados com tal
atitude, os brasileiros insatisfeitos com a administração imperial começaram a hostilizar os portu-
gueses defensores do rei. Foi uma simples questão de tempo para que tal situação resultasse em
um conflito entre brasileiros e portugueses pelas ruas do Rio de Janeiro.
Tal evento acabou ficando conhecido como a “Noite das Garrafadas”, tendo em vista que os
portugueses usaram garrafas e cacos de vidro contra os brasileiros que os atacavam. Por fim, essa
violenta confusão revelava que a imagem política de Dom Pedro I era praticamente insustentável.
De fato, esse foi um dos últimos escândalos que antecederam a abdicação do imperador, acontecida
no dia 7 de abril de 1831.
PERÍODO REGENCIAL
(ASPECTOS
ADMINISTRATIVOS E
ECONÔMICOS)
2

PERÍODO REGENCIAL (ASPECTOS


ADMINISTRATIVOS E ECONÔMICOS)
INTRODUÇÃO
Após a abdicação de D. Pedro I, o Brasil atravessou um período marcado por inúmeras crises:
enquanto o país era governado por regentes, as diversas forças políticas lutavam pelo poder; o
país perdia espaço na concorrência por mercados econômicos e aumentava sua dependência das
potências estrangeiras; as reivindicações populares por melhores condições de vida se acirravam,
ocasionando revoltas em diversos pontos do país. Homens livres brancos, mulatos, mestiços,
pardos, e negros forros, foram às ruas em busca do direito de participação na vida política e de
melhores condições de vida. Por outro lado, esses conflitos representavam também o protesto
contra a centralização do governo em torno das Províncias do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas
Gerais.
Nesse período ocorreu, também, a expansão da cultura cafeeira na região do Vale do Paraíba,
fazendo surgir o poderoso grupo dos “barões do café”. Nesse contexto, torna-se fundamental
a manutenção da escravidão e do tráfico negreiro, apesar da pressão inglesa. Nessa época são
criados o Colégio de Pedro II e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, com a finalidade de
desenvolver uma política cultural para o país.

OS GOVERNOS REGENCIAIS
A abdicação de D. Pedro I provocou um vazio político no país, acirrando a disputa pelo poder
entre as duas principais correntes do Império: liberais exaltados e liberais moderados. O grupo
dos exaltados era formado, principalmente, pelas camadas médias urbanas, enquanto os
moderados eram constituídos pelos representantes da aristocracia rural. Essas duas correntes
políticas compunham o chamado Partido Brasileiro, e tinham se aliado para derrubar D. Pedro
do poder e, com ele, os absolutistas do Partido Português, seus aliados. A abdicação pode
ser considerada como a derrota desse grupo e a vitória da oposição, que era constituída por
diferentes grupos sociais, cada um deles com seus próprios objetivos.
Conseguindo o seu intento, a aliança se desfez, e cada grupo passou a lutar para conseguir se
instalar no poder. Os liberais moderados redigiram, no dia seguinte à abdicação, um documento
intitulado Proclamação em nome da Assembléia Geral aos povos do Brasil, no qual informavam
sobre os acontecimentos, afirmavam seu apoio aos regentes nomeados e aconselhavam
prudência e moderação à população, e que observasse a Constituição e respeitasse os novos
governantes.
Já o grupo dos liberais exaltados via esse momento como a possibilidade de transformações mais
radicais, maior liberalização do regime e de mais participação nos destinos do Império. Entendia
que afastados do Governo, junto com D. Pedro, os portugueses identificados com o absolutismo,
haveria condições de aqui se desenvolverem os ideais liberais, revestidos de um caráter
nacionalista. No entanto, os portugueses tinham se reorganizado e lutavam, agora, pela volta de
D. Pedro ao trono brasileiro, sendo por isso chamados de restauradores. E, ao mesmo tempo, o
Governo era dominado pelo grupo dos moderados.
Desta forma, o movimento da abdicação transformou-se, para os exaltados, conforme comentou
na época o político Teófilo Ottoni, numa verdadeira “Journée des Dupes” (Jornada ou Dia dos
Logrados), pois não conseguiram chegar ao poder, além de verem suas propostas esquecidas,
PERÍODO REGENCIAL (ASPECTOS ADMINISTRATIVOS E ECONÔMICOS) 3

apesar de terem participado ativamente para a deposição de D. Pedro I. Perceberam, portanto,


que tinham lutado pelos outros. Assim, são três as tendências políticas em jogo no cenário
político brasileiro a partir de 1831: os restauradores, ou caramurus; os liberais moderados, ou
chimangos; e os liberais exaltados, ou farroupilhas ou, ainda, jurujubas.
Em meio a esse quadro de agitações políticas era necessário organizar o novo Governo, já que
a Constituição do Império estabelecia que, no caso de abdicação do imperador, o Governo
brasileiro seria exercido por um conselho de três regentes, eleitos pelo Legislativo, enquanto
Pedro de Alcântara, o príncipe herdeiro, não atingisse a maioridade. Desse modo, cumprindo o
preceito constitucional, teve início o Governo das Regências, que passou por três etapas:
Regência Trina Provisória - de 7 de abril a 17 de junho de 1831;
Regência Trina Permanente - de 17 de junho de 1831 a 12 de outubro de 1835;
Regência Una - de 12 de outubro de 1835 a 23 de julho de 1840.

A REGÊNCIA TRINA PROVISÓRIA


Como no dia da abdicação de D. Pedro o Parlamento brasileiro encontrava-se em férias, não
havia no Rio de Janeiro número suficiente de deputados e senadores que pudesse eleger
os três regentes. Os poucos parlamentares que se encontravam na cidade elegeram, em
caráter de emergência, uma Regência Trina Provisória. Essa regência, que governou o país por
aproximadamente três meses, era composta pelos senadores Nicolau do Campos Vergueiro e
José Joaquim de Campos (Marquês de Caravelas) e pelo Brigadeiro Francisco de Lima e Silva,
pai do Duque de Caxias. A pressa em se eleger a Regência deveu-se ao temor do acirramento da
agitação popular, que a própria camada dominante havia estimulado para atingir seus objetivos -
a abdicação de D. Pedro I.
A principal medida tomada por essa Regência foi convocar os demais parlamentares para que
elegessem, em Assembléia Geral, a Regência Trina Permanente. Apesar de manter as estruturas
políticas do Império autoritário, a Regência Provisória tinha um caráter liberal e antiabsolutista.
Era o início do chamado avanço liberal, que durou até 1837, quando os grupos políticos das
províncias alcançaram maior autonomia. Entre outras medidas tomadas pela Regência Provisória
destacam-se:
anistia aos presos políticos para abafar a agitação política;
reintegração do Ministério dos Brasileiros, demitido por D. Pedro I em abril de 1831;
proibição dos ajuntamentos noturnos em praça pública, tornando inafiançáveis os crimes
em que ocorresse prisão em flagrante;
promulgação de uma lei restringindo as atribuições do Poder Moderador, que tempo-
rariamente seria exercido pelos regentes, vetando-lhes o direito de dissolver a Câmara
dos Deputados, decretar a suspensão das garantias constitucionais e conceder títulos de
nobreza e condecorações.

Nesse momento, a rivalidade entre brasileiros e portugueses se aprofundava. No final de abril


as manifestações antilusitanas se acirraram. Ao grito de “mata-marinheiro” e “mata-bicudo”,
portugueses eram perseguidos e tinham suas casas de comércio invadidas e saqueadas. Os
que ocupavam cargos públicos eram depostos. Em várias ocasiões pediu-se a expulsão de
portugueses, especialmente daqueles que detinham o monopólio do comércio e, por conta
disso, eram o alvo preferido da população. O Jornal do Comércio publicava, em 15 de julho de
1831, uma representação ao Governo com cerca de 400 assinaturas, na qual a expulsão dos
portugueses era proposta nos seguintes termos:

“Senhor.
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(...) O povo e a tropa da Capital do Rio de Janeiro são de novo reunidos para pedir a expulsão para fora do
Império dos acérrimos inimigos da Nação Brasileira, que tantos males lhe hão causado, e que são incan-
sáveis em tratar solapadamente a sua ruína; convém, pois, Senhor, que tais homens nocivos ao bem-estar
não continuem a viver no meio de nós. (...)”.

A REGÊNCIA TRINA PERMANENTE


Instalada a Assembléia Geral, foi eleita em 17 de junho de 1831 a Regência Trina Permanente,
que ficou composta pelos deputados José da Costa Carvalho, político do sul do país, João
Bráulio Muniz, do norte, e novamente pelo Brigadeiro Francisco de Lima e Silva. Tal composição
representava, por um lado, uma tentativa de equilíbrio entre as forças do norte e do sul do país;
por outro lado, a permanência do Brigadeiro Francisco de Lima e Silva, era a garantia do controle
da situação e da manutenção da ordem pública.
Característica importante dessa Regência era sua composição por deputados, ao contrário da
anterior, formada por senadores. A Câmara dos Deputados simbolizava a defesa da liberdade,
e era representativa dos interesses dos interesses do grupo dos moderados. A Câmara tornou-
se um centro de pressão em favor das mudanças constitucionais, em contraste com o Senado,
que simbolizava a oposição às reformas e era considerada pelos moderados um “ninho de
restauradores”.
A Câmara logo firmou posição ao aprovar, em 14 de junho, Lei que tirava dos regentes as
atribuições do Poder Moderador. Por essa Lei os regentes ficavam impedidos de dissolver a
Câmara dos Deputados, de conceder títulos de nobreza, de decretar a suspensão das garantias
constitucionais e de negociar tratados com potências estrangeiras, como por exemplo, os
tratados referentes ao tráfico negreiro intercontinental.
Figura de destaque nessa Regência foi o padre Diogo Antônio Feijó, nomeado Ministro da
Justiça, cargo que assumiu sob a condição de que lhe garantissem grande autonomia de ação.
Feijó teve carta branca para castigar os desordeiros e os delinqüentes, o direito de exonerar
e responsabilizar os funcionários públicos negligentes ou prevaricadores e a possibilidade de
manter um jornal sob sua responsabilidade direta. Feijó teve atuação enérgica na repressão
as agitações populares e aos levantes militares que ocorreram na capital e em diversos pontos
do país nesse período. Para garantir a integridade territorial e a defesa da ordem pública criou,
em 18 de agosto de 1831, o Corpo de Guardas Municipais Permanentes no Rio de Janeiro, e
a Guarda Nacional na Corte e em todas as províncias. Órgãos subordinados ao Ministério da
Justiça, se constituíram na principal força armada do Império.

A GUARDA NACIONAL
A Guarda Nacional era recrutada entre os cidadãos com renda anual superior a 200 mil réis,
nas grandes cidades, e 100 mil réis nas demais regiões. Era vista por seus idealizadores como o
instrumento apto para a garantia da segurança e da ordem, vale dizer, para a manutenção do
espaço da liberdade entre os limites da tirania e da anarquia. Tinha como finalidade defender a
Constituição, a liberdade, a independência e a integridade do Império, mantendo a obediência às
leis, conservando a ordem e a tranquilidade pública.
Com a criação da Guarda Nacional Feijó fortalecia as elites políticas locais, pois eram elas que
formavam ou dirigiam o Corpo de Guardas e, ao mesmo tempo, demostrava a falta de confiança
do governo na fidelidade do Exército. A posição das tropas, participando das lutas políticas e
posicionando-se pela volta de D. Pedro I, no caso da oficialidade, e reivindicando por melhores
soldos e mostrando-se contra as discriminações racial e social, no caso das patentes mais baixas,
tornavam-no suspeito para garantir a ordem no país.
PERÍODO REGENCIAL (ASPECTOS ADMINISTRATIVOS E ECONÔMICOS) 5

Com o objetivo de realizar um enxugamento no Exército, a Regência tomou uma série de


medidas: em maio de 1831 o número de efetivos das tropas já havia baixado de 30 mil para
14.342 homens e, em 30 de agosto, reduziu-se ainda mais caindo para 10 mil homens. As
demissões e licenças de militares são facilitadas, enquanto cessa, por tempo indeterminado,
o recrutamento militar. Em relatório de seu Ministério, datado de maio de 1832, Feijó faz um
balanço da situação militar no Rio de Janeiro: “A tropa de primeira linha da capital desapareceu:
as guarnições de terra, as rondas policiais, o auxílio à justiça são prestados pelos guardas
nacionais.”
Essa situação faz crescer a insatisfação nos meios militares. Em fins de setembro de 1831 houve
um tumulto no Teatro São Pedro provocado por dois oficiais, cuja prisão o major Miguel de Frias,
que teve importante atuação no movimento da abdicação de D. Pedro I, tentou evitar. Por ordem
do juiz de paz, a Guarda Nacional evacuou o teatro e prendeu os oficiais envolvidos e o major.
No dia 6 de outubro ocorreu nova revolta. O Corpo de Artilharia da Marinha, aquartelado na ilha
das Cobras, liderado pelo ex-deputado Cipriano Barata, preso por crime de imprensa, rebelou-se,
tomando conta da ilha e prendendo oficiais que não aderiram ao movimento.
Com o apoio da Guarda Nacional, Feijó repeliu violentamente os extremistas. Para consolidar a
vitória solicitou à Câmara dos Deputados a concessão de poderes extraordinários, e a supressão
das garantias individuais. Seus pedidos foram rejeitados, inclusive pelos moderados que temiam
nova concentração de poder no Executivo.

O CÓDIGO DO PROCESSO CRIMINAL


Após a repressão promovida pelos moderados foi realizada uma série de reformas visando
deter o movimento revolucionário. A primeira medida nesse sentido foi a criação do Código
do Processo Criminal, restabelecendo a autonomia municipal de acordo com as propostas dos
exaltados e os interesses de vários proprietários de escravos e terras que exaltavam a liberdade,
mas acreditavam que em seus domínios a lei deveria ser a sua vontade, reforçando assim o
poder daquele que governava a casa.
As funções do juiz de paz, cargo criado em 1827, foram bastante ampliadas pelo Código. Os
juízes, eleitos pelos cidadãos ativos da localidade, passaram a exercer, também, o papel de
polícia local, com o poder de prender, formalizar a culpa e julgar. Em casos de urgência podiam
convocar a Guarda Nacional e a polícia. Acima do juiz de paz, instituiu-se a figura do juiz
municipal, escolhido pelo presidente da Província. Foi abolida a pena de morte, embora fosse
mantida a pena do açoite. O Código regulava, também, o processo eleitoral e o recrutamento da
Guarda Nacional.
O fortalecimento do poder dos juízes de paz, entretanto, desagradou a vários setores da
sociedade. Criticavam a atribuição de tanto poder a homens nem sempre instruídos e
quase sempre sujeitos aos interesses dos grandes proprietários de escravos e terras que os
elegiam. Essa situação era também, retratada, de forma crítica, em peças teatrais da época,
especialmente as comédias do teatrólogo Martins Pena.

O ATO ADICIONAL
Outra discussão bastante forte nessa época refere-se à necessidade da reforma da Constituição
Outorgada de 1824. Os liberais moderados eram defensores de uma monarquia constitucional.
Defendiam, também, uma monarquia centralizada, porque achavam que somente com a
centralização seria possível preservar a unidade tanto do território do Império quanto de uma
sociedade dividida por inúmeros conflitos e dilacerada pela existência da escravidão.
6

Entretanto, havia um grupo deles que discordava dessa ideia, temendo o fortalecimento
excessivo do Estado. Para esse grupo parecia mais conveniente uma ampliação dos poderes
e atribuições da Câmara dos Deputados, onde estavam representados os interesses da “boa
sociedade” das diferentes províncias. Desses embates resultou a promulgação, em 6 de
agosto de 1834, do Ato Adicional à Constituição. Pode-se dizer que ele foi concebido como um
instrumento conciliador entre as principais forças políticas do país.
Por meio desse Ato as províncias ganharam maior autonomia. Foram criadas Assembleias
provinciais eleitas e definidas as rendas que cabiam às províncias. Essas Assembleias tinham
autonomia administrativa, mas seus presidentes continuavam sendo escolhidos pelo Governo
central, que garantia assim o seu controle. O Poder Moderador foi mantido, mas privativo do
Imperador. Extinguiu-se o Conselho de Estado e foi mantido o Senado vitalício. Foi criado o
Município Neutro da Corte, formado pela cidade do Rio de Janeiro e seu termo, independente da
Província do Rio de Janeiro, cuja capital seria Niterói.
A Regência tornou-se una, com regente eleito por quatro anos. Segundo o historiador José
Murilo de Carvalho, “nunca houve na história do Brasil outra época em que a Câmara tivesse
tanto poder.” Entretanto, apesar de o Ato Adicional ter sido encarado como um instrumento
de conciliação entre as diferentes forças políticas, uma espécie de compromisso político, logo
começou a receber críticas, especialmente dentro da própria Câmara.

A REGÊNCIA UNA DE FEIJÓ


Conforme estipulado pelo Ato Adicional, realizou-se, a 7 de abril de 1835, a eleição para o cargo
de Regente Único. Duas candidaturas destacaram-se logo de início, sendo ambos os candidatos
do Partido Moderado: o paulista Diogo Antônio Diogo Feijó, apoiado pelas forças políticas do sul
e, também, pela Sociedade Defensora do Rio de Janeiro; e o pernambucano Antônio Francisco
de Paula Holanda Cavalcanti de Alburquerque, cuja família era dona de cerca de um terço dos
engenhos de açúcar de Pernambuco, legítimo representante da aristocracia nordestina. Feijó
venceu por pequena diferença de votos (600), dos cerca de cinco mil eleitores do país que, nessa
época, tinha aproximadamente cinco milhões de habitantes.
Segundo a Constituição Outorgada de 1824, os eleitores - cidadãos ativos - eram aqueles
que votavam e podiam ser votados. O regente tomou posse no dia 12 de outubro de 1835,
enfrentando oposição até dentro do próprio Partido e uma grave situação de agitação no país.
Notícias das províncias falavam de revoltas nos “sertões” do extremo-norte: a Cabanagem no
Grão-Pará; a dos escravos Malês, na Bahia; e no extremo-sul, a Farroupilha.
Tentando reverter o quadro político desfavorável, Feijó e seus companheiros criam um novo
partido, denominado Progressista. Contra ele logo se ergueu um grupo chamado Regressista -
porque queria o retorno à situação anterior ao Ato Adicional, ou seja, às condições políticas e
institucionais anteriores às medidas descentralizadoras. Esse partido dará origem, ao Partido
Conservador, enquanto os partidários do regente, darão origem ao Partido Liberal.
Feijó provocou a ira da aristocracia agrária ao manifestar-se publicamente em apoio ao fim da
escravidão. Dizia ser uma “vergonhosa contradição com os princípios liberais que professamos,
conservar homens escravos”. Chegou a enviar uma missão a Londres para tratar com o
Governo inglês medidas de repressão ao tráfico negreiro. Essa atitude aumentou o temor dos
proprietários rurais, que passaram a assumir posições cada vez mais conservadoras.
Desentendeu-se também com a imprensa, que o atacava constantemente, e por isso assinou um
decreto, em março de 1838, limitando sua liberdade. O autoritarismo do regente fazia aumentar
a cada dia seu grupo de opositores, presente também na Câmara e no Senado. Feijó teve sua
atuação bastante limitada, sendo responsabilizado pelas revoltas sociais que se espalhavam por
PERÍODO REGENCIAL (ASPECTOS ADMINISTRATIVOS E ECONÔMICOS) 7

todo o país. Sentindo-se acuado e sem respaldo político, renunciou em 19 de setembro de 1837.
Esse primeiro momento das Regências (1831 - 1836) é caracterizado pela instabilidade política,
mas, sobretudo, pelos projetos de liberdade e democracia. É o momento da Ação, baseado no
princípio da liberdade, que irá se contrapor ao segundo momento, o da Reação, baseado no
princípio da autoridade, a partir de 1836, que virá com a posição centralizadora.

A REGÊNCIA UNA DE ARAÚJO LIMA


O pernambucano Araújo Lima, então Ministro da Justiça, assume como regente interino e
nomeia um novo gabinete composto por políticos regressistas, que ficou conhecido como
Ministério das Capacidades pela fama de que gozavam os seus componentes. Nesse Ministério
sobressaía Bernardo Pereira de Vasconcelos na pasta do Império e da Justiça. Em abril de 1838
ocorreu a segunda eleição para Regente Único, lançando-se Araújo Lima como candidato,
enfrentando com o “progressista” Holanda Cavalcanti de Albuquerque. Araújo Lima foi eleito
com grande maioria dos votos e assim, instalaram-se os regressistas no centro do poder.
O núcleo do partido Regressista era a oligarquia fluminense, liderada por Joaquim José Rodrigues
Torres, futuro Visconde de Itaboraí, Paulino José Soares de Sousa, futuro Visconde do Uruguai,
e Eusébio de Queirós. Esses homens, conhecidos como a “trindade saquarema”, conseguiram
estender, também, sua influência política à vizinha Província de São Paulo - graças ao apoio
de José da Costa Carvalho, que integrara a Regência Trina Permanente. Para os regressistas o
importante era restaurar a autoridade do Estado, fortalecer o Executivo e eliminar a anarquia
e a desordem que se espalhavam pelo país, que consideravam fruto do princípio democrático
predominante nos primeiros tempos da Regência. Nesse momento mais uma revolta estourava
no país, a Sabinada, dessa vez na Província da Bahia, em 1837.
Em abril de 1838, Bernardo Pereira de Vasconcelos, em discurso na Câmara dos Deputados,
comunica sua mudança de posição política. “Fui liberal... Sou regressista,” justificava ele pelo
contexto político da época. Para ele e seu grupo, a situação no país estava à beira do caos, a
anarquia ameaçando a liberdade. Focos de rebelião espoucavam nas ruas, nos sertões e nas
senzalas ameaçando a segurança e a liberdade da nação. Em dezembro desse ano mais uma
revolta eclodia, dessa vez no Maranhão, chamada Balaiada. Era urgente que se fortalecesse
a autoridade do Estado, que fosse detido o “carro da revolução”, para que a “boa sociedade”
pudesse gerir e expandir seus negócios, além de preservar sua posição social e sua liberdade de
ação. Para tal, era indispensável que os assuntos do país fossem conduzidos por governantes
competentes e bons administradores. Para eles, os regressistas, que ganhavam mais espaço
político à medida que seus opositores ficavam enfraquecidos, o importante era restaurar a
ordem, a organização, a segurança pública e privada.
Toda essa discussão em torno da necessidade do restabelecimento de leis centralizadoras
vai gerar um movimento, liderado pelos regressistas, para a reformulação do Ato Adicional,
a que chamavam de “carta da anarquia”, e do Código do Processo Criminal, considerados
ambos responsáveis pelo caos social. Pretendiam também o restabelecimento do exercício
do Poder Moderador. Segundo Bernardo Pereira de Vasconcelos, as leis liberais, sobretudo a
descentralização, tinham ido longe demais e estavam ameaçando a estabilidade do Governo e a
integridade do Império.
Entretanto, as resistências em relação às mudanças fizeram com que essas discussões durassem
quase três anos, a ponto de que somente em maio de 1840 se deu a aprovação da lei de
Interpretação do Ato Adicional e a reforma do Código do Processo Criminal só foi ser aprovada
em dezembro de 1841. Por essa reforma os juízes de paz perdiam a função de polícia, que
passava aos juízes municipais e aos delegados nomeados pelo próprio poder central. Nesse
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momento procuram-se resgatar os espaços formais de discussão política, como o Parlamento e o


Palácio de São Cristóvão, em vez das ruas e das praças. O Estado vai se legitimando, assim, como
o espaço privilegiado dos “negócios políticos”.
PERÍODO REGENCIAL
(ASPECTOS
MILITARES, SOCIAIS,
CULTURAIS E
TERRITORIAIS)
2

PERÍODO REGENCIAL (ASPECTOS


MILITARES, SOCIAIS, CULTURAIS E
TERRITORIAIS)
A REVOLTA DOS MALÊS
Durante as primeiras décadas do século XIX várias rebeliões de escravos explodiram na província
da Bahia. A mais importante delas foi a dos Malês, uma rebelião de caráter racial, contra a escravidão e a
imposição da religião católica, que ocorreu em Salvador, em janeiro de 1835. Nessa época, a cidade de Sal-
vador tinha cerca de metade de sua população composta por negros escravos ou libertos, das mais variadas
culturas e procedências africanas, dentre as quais a islâmica, como os haussas e os nagôs. Foram eles que
protagonizaram a rebelião, conhecida como dos “malê”, pois esse termo designava os negros muçulmanos,
que sabiam ler e escrever o árabe. Sendo a maioria deles composta por “negros de ganho”, tinham mais
liberdade que os negros das fazendas, podendo circular por toda a cidade com certa facilidade, embora
tratados com desprezo e violência. Alguns, economizando a pequena parte dos ganhos que seus donos lhes
deixavam, conseguiam comprar a alforria.
Em janeiro de 1835 um grupo de cerca de 1500 negros, liderados pelos muçulmanos Manuel Calafate,
Aprígio, Pai Inácio, dentre outros, armou uma conspiração com o objetivo de libertar seus companheiros
islâmicos e matar brancos e mulatos considerados traidores, marcada para estourar no dia 25 daquele mesmo
mês. Arrecadaram dinheiro para comprar armas e redigiram planos em árabe, mas foram denunciados
por uma negra ao juiz de paz. Conseguem, ainda, atacar o quartel que controlava a cidade, mas, devido à
inferioridade numérica e de armamentos, acabaram massacrados pelas tropas da Guarda Nacional, pela
polícia e por civis armados que estavam apavorados ante a possibilidade do sucesso da rebelião negra.
No confronto morreram sete integrantes das tropas oficiais e setenta do lado dos negros. Duzentos
escravos foram levados aos tribunais. Suas condenações variaram entre a pena de morte, os trabalhos
forçados, o degredo e os açoites, mas todos foram barbaramente torturados, alguns até a morte. Mais de
quinhentos africanos foram expulsos do Brasil e levados de volta à África. Apesar de massacrada, a Revolta dos
Malês serviu para demonstrar às autoridades e às elites o potencial de contestação e rebelião que envolvia a
manutenção do regime escravocrata, ameaça que esteve sempre presente durante todo o Período Regencial
e se estendeu pelo Governo pessoal de D. Pedro II.

A CABANAGEM
A PROVÍNCIA DO GRÃO-PARÁ ENTRE 1835 - 1840
A Cabanagem, movimento que ocorreu na província do Grão-Pará, entre os anos de 1835 e 1840, pode
ser vista como um prosseguimento da Guerra da Independência na região. Desde a emancipação política, em
1822, a Província do Grão-Pará, vivia um clima agitado. Isolada do resto do país, era a parte mais ligada a
Portugal. Declarada a Independência, a Província só foi reconhecê-la em agosto de 1823. A adesão ao governo
de D. Pedro I foi penosa e violentamente imposta. Administrada por Juntas governativas que se apoiavam
nas Cortes de Lisboa, os habitantes da Província já estavam acostumados a ver todos os cargos públicos e
recursos econômicos nas mãos dos portugueses.
A Independência não provocara mudanças na estrutura econômica nem modificara as péssimas con-
dições em que vivia a maior parte da população da região, formada por índios destribalizados, chamados
PERÍODO REGENCIAL (ASPECTOS MILITARES, SOCIAIS, CULTURAIS E TERRITORIAIS) 3

de tapuios, índios aldeados, negros forros e escravos e mestiços. Dispersos pelo interior e nos arredores de
Belém, viviam marginalizados em condições miseráveis, amontoados em cabanas à beira dos rios e igarapés
e nas inúmeras ilhas do estuário do rio Amazonas. Essa população conhecida como “cabanos”, era usada
como mão-de-obra, em regime de semiescravidão, pela economia da Província, baseada na exploração das
“drogas do sertão”( cravo, pimenta, plantas medicinais, baunilha), na extração de madeiras, e na pesca.
Desde a Guerra da Independência, quando mercenários, comandados pelo Lord Almirante Grenfell, des-
tituíram a Junta que governava a Província, o povo exigia a formação de um governo popular chefiado pelo
cônego João Batista Gonçalves Campos. No entanto, Grenfell, que recebera ordens para entregar o Governo a
homens da confiança do Imperador, desencadeou violenta repressão, fuzilando e prendendo muitas pessoas.
O episódio ocorrido a bordo do brigue Palhaço, quando cerca de 300 prisioneiros foram sufocados com cal,
não conseguiu implantar a normalidade. Ao contrário os ânimos ficaram ainda mais exaltados.
A própria Junta que assumiu o governo da Província, em agosto de 1823 confessava:
“Sentimos não poder afirmar que a tranquilidade está inteiramente restabelecida porque ainda temos a temer,
principalmente a gente de cor, pois que muitos negros e mulatos foram vistos no saque de envolta com os
soldados, e os infelizes que se mataram a bordo do navio, entre outras vozes sediciosas deram vivas ao Rei
Congo, o que faz supor alguma combinação de soldados e negros”.
A situação da Província do Grão-Pará era, portanto, favorável ao surgimento de movimentos que expres-
savam a luta de uma maioria de índios, mestiços e escravos, contra uma minoria branca formada, princi-
palmente, por comerciantes portugueses. Essa minoria concentrava-se em Belém, cidade que na época
abrigava cerca de 12 mil moradores dos quase 100 mil que habitaram o Grão-Pará. Entre 1822 e 1835 a
Província passou por momentos de intranquilidade. No interior e na capital ocorreu uma série de levantes
populares, que contaram com a adesão dos soldados da tropa, descontentes com o baixo soldo, com o poder
central e com as autoridades locais.

A REVOLTA DOS CABANOS


A abdicação de D. Pedro I teve reflexos violentos no Grão - Pará. Sob a liderança do cônego Batista Cam-
pos, os cabanos depuseram uma série de governantes nomeados pelo Rio de Janeiro para a Província. Além
disso, exigiam melhores condições materiais e a expulsão dos portugueses, vistos como os responsáveis
pela miséria em que viviam. Em dezembro de 1833, o Governo da Regência Trina Permanente conseguiu
retomar o controle da situação, e Bernardo Lobo de Sousa assumiu o governo da Província.
Segundo o historiador Caio Prado Júnior, “é neste governo que propriamente se inicia a revolta dos
cabanos.” Logo após ser empossado, Lobo de Sousa iniciou uma violenta política repressiva. Perseguiu,
efetuou prisões arbitrárias e deportações em massa. No entanto, foi o recrutamento para o Exército e a
Armada imperiais, medida extremamente impopular, que precipitou uma rebelião generalizada. O recru-
tamento permitiu que fossem afastados os elementos considerados “incômodos” ao governo da Província.
Para Domingos Antonio Raiol, contemporâneo dos acontecimentos, a política de Lobo de Sousa conseguiu
eliminar aqueles que “eram conhecidos por suas doutrinas subversivas, que pregavam e inoculavam no seio
da população e que ameaçavam a ordem pública pela influência perigosa que exerciam entre as massas.”
As atitudes de Lobo de Sousa aumentaram a agitação e o descontentamento da população. A revolta se
alastrou pelo interior da Província. Os cabanos receberam o apoio dos irmãos Antônio e Francisco Vinagre,
lavradores do rio Itapicuru do seringueiro Eduardo Nogueira Angelim, e do jornalista do Maranhão Vicente
Ferreira Lavor, que, por meio do periódico A Sentinela, propagava as ideias revolucionárias. À medida que o
movimento avançava, os revoltosos se dividiam: a ameaça de radicalização fez com que muitos se retirassem
temendo a violência das massas populares, enquanto outros, como o cônego Batista Campos, esperavam
obter as reformas que defendiam na recém-criada Assembléia Legislativa Provincial. A partir daí a elite
que liderara a revolta recuou e os cabanos assumiram o controle.
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Em janeiro de 1835, dominaram Belém, executando o governador Lobo de Sousa e outras autoridades. O
primeiro governo cabano foi entregue ao fazendeiro Félix Antonio Malcher, que, com medo da violência das
camadas mais pobres da população, entrou em choque com os outros líderes perseguindo os elementos
mais radicais. Chegou a mandar prender e deportar Angelim e Francisco Vinagre. Além disso, manifestou a
intenção de manter a Província ligada ao Império, ao jurar fidelidade ao Imperador, afirmando que só ficaria
no poder até à maioridade. Esse juramento ia de encontro ao único ponto que unia os revoltosos: a rejeição à
política centralizadora do Rio de Janeiro, vista como preservadora dos privilégios dos portugueses. Malcher
acabou sendo deposto e executado.
Francisco Vinagre foi escolhido para o segundo governo cabano. No entanto não foi capaz de resolver
as divergências entre os revoltosos, e foi acusado de traição por ter feito um acordo com as tropas legalistas
enviadas pelo Rio de Janeiro. Vinagre ajudou as tropas e navios sob o comando do Almirante inglês Taylor,
e prometeu entregar a presidência da Província a quem fosse indicado pelo Governo Regencial. As forças
regenciais retomaram Belém.
Os cabanos, vencidos na capital, retiraram-se para o interior. Aos poucos foram tomando conta da
Província. Profundos conhecedores da terra e dos rios, infiltraram-se nas vilas e povoados, conseguindo
a adesão das camadas mais humildes da população. Liderados por Vinagre e Angelim, reforçaram suas
tropas e retomaram Belém, após nove dias de lutas violentas. Com a morte de Antônio, Eduardo Angelim
foi escolhido para o terceiro governo cabano que durou dez meses. Angelim era um cearense de apenas 21
anos que migrara para o Grão- Pará após uma grande seca ocorrida no Ceará, em 1827.
No entanto, os cabanos, durante todo o longo período de lutas, não souberam organizar-se com efi-
ciência. Abalados por dissidências internas, pela indefinição de um programa de governo, sofreram ainda
uma epidemia de varíola, que assolou por longo tempo a capital.

A REPRESSÃO DA REGÊNCIA
O regente Feijó decidiu restabelecer a ordem na Província. Em abril de 1836 mandou ao Grão-Pará uma
poderosa esquadra comandada pelo brigadeiro Francisco José Soares de Andréia, que conseguiu retomar a
capital. Havia na cidade quase unicamente mulheres. No dizer de Raiol, “a cidade despovoada apresentava
por toda parte um aspecto sombrio e contristador”.
Os cabanos abandonaram outra vez Belém e retiraram-se para o interior, onde resistiram por mais
três anos. A situação da Província só foi controlada pelas tropas do Governo Central em 1840. A repressão
foi violenta e brutal. Incapazes de oferecer resistência, os rebeldes foram esmagados. Ao findar o movi-
mento, dos quase 100 mil habitantes do Grão-Pará, cerca de 30mil, 30% da população, haviam morrido em
incidentes criminosos e promovidos por mercenários e pelas tropas governamentais.
Terminava a Cabanagem que, segundo o historiador Caio Prado Júnior, “foi o mais notável
movimento popular do Brasil, o único em que as camadas mais inferiores da população
conseguem ocupar o poder de toda uma província com certa estabilidade. Apesar de sua
desorientação, da falta de continuidade que o caracteriza, fica-lhe, contudo, a glória de ter sido a
primeira insurreição popular que passou da simples agitação para uma tomada efetiva de poder”.

A BALAIADA
A PROVÍNCIA DO MARANHÃO ENTRE 1838 - 1841
Entre os anos de 1838 e 1841, a Província do Maranhão foi abalada por vários levantes que
atingiram também a vizinha Província do Piauí. Esses levantes receberam o nome geral de
Balaiada porque um dos seus líderes, Manuel Francisco dos Anjos, fabricante e vendedor de
balaios, era conhecido pelo apelido de “Balaio “.
PERÍODO REGENCIAL (ASPECTOS MILITARES, SOCIAIS, CULTURAIS E TERRITORIAIS) 5

Na época, a população total do Maranhão era de aproximadamente 200 mil habitantes,


dos quais 90 mil eram escravos, além de uma grande massa de trabalhadores formada por
sertanejos ligados à atividade pastoril e à lavoura. Nesse momento, o Maranhão enfrentava a
crise da economia algodoeira. Após a Guerra da Independência dos Estados Unidos da América,
o algodão, principal produto de exportação da Província, passou a sofrer a concorrência do
algodão norte-americano que voltara a dominar o mercado internacional.
Na Província do Maranhão, como na do Grão-Pará, o reconhecimento da Independência não
se fizera de modo pacífico. Ao contrário, provocara conflitos entre colonos e portugueses,
possibilitando que a massa de trabalhadores, formada pelas camadas mais pobres da população,
pegasse em armas nas lutas então travadas. No entanto, apesar da Independência, a realidade
dessas massas não se modificara. Continuavam marginalizadas e afastadas do poder político e
econômico.

A REVOLTA DOS BALAIOS


Durante o Período Regencial a situação continuou tensa. A política da Província era marcada por
disputas entre os “bem-te-vis”, que se opunham aos governistas, chamados pejorativamente
de cabanos. A Balaiada começou a partir dos choques entre esses dois grupos, mas em pouco
tempo ganhou autonomia, tornando-se um movimento das massas sertanejas.
Segundo Caio Prado Júnior, “na origem deste levante, vamos encontrar as mesmas causas que
indicamos para as demais insurreições da época: a luta das classes médias, especialmente
urbana, contra a política aristocrática e oligárquica das classes abastadas, grandes proprietários
rurais, senhores de engenho e fazendeiros, que se implantara no país.”
O grupo bem-te-vi, nome tirado do jornal O Bem-te-vi, representava a população urbana que
se opunha aos abusos dos proprietários de terras e aos comerciantes portugueses. Os conflitos
entre bem-te-vis e cabanos agravaram-se após a votação da chamada “lei dos prefeitos”,
pela qual os governantes locais, os prefeitos, passaram a ter poderes imensos, inclusive o de
autoridade policial. Os cabanos, que estavam no poder, conseguiram maior controle da Província,
nomeando seus partidários para o cargo de prefeitos, o que redundou em perseguição aberta
aos bem-te-vis.
No Maranhão a insatisfação social era grande. Negros e mestiços constituíam a maior parte
da população. Como aponta o historiador Arthur César Ferreira Reis, “Milhares de negros que
fugiam aos maus tratos dos senhores aquilombavam-se nas matas, de onde saíam para surtidas
rápidas e violentas sobre propriedades agrárias.” O movimento logo escapou do controle das
camadas dominantes, transformando-se num levante dos setores mais humildes da Província.
O fato que costuma marcar o início da revolta ocorreu em dezembro de 1838, quando o
vaqueiro Raimundo Gomes, um mestiço, conhecido como Cara Preta, passava pela Vila da
Manga, levando uma boiada de seu patrão para vender em outro local. Na ocasião muitos
dos homens que o acompanhavam foram recrutados e seu irmão aprisionado sob a acusação
de assassinato. O recrutamento obrigatório, uma das armas de que o Governo dispunha para
controlar a população, sempre foi muito impopular, visto que recaía basicamente sobre os menos
favorecidos, obrigados a qualquer momento a servir nas forças policiais ou militares. Raimundo
invadiu a cadeia libertando não só seu irmão como os outros presos. A guarda não reagiu. Ao
contrário, aderiu.
A partir daí o movimento ampliou-se. A luta generalizou-se por toda a Província. Por onde
passava, Raimundo ia conseguindo que mais gente o seguisse, inclusive os escravos negros, que
formaram quilombos, dos quais o mais importante foi o comandado pelo negro Cosme. À frente
de 3 mil escravos rebelados, Cosme, um antigo escravo, que se intitulava “Imperador, Tutor e
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Defensor das Liberdades Bem-te-vis”, vendia títulos e honrarias a seus seguidores.


Em 1839, os balaios tomaram a Vila de Caxias, “a segunda cidade da Província em importância”.
Pelas ruas da Vila ouvia-se:
“O Balaio chegou!
O Balaio chegou.
Cadê branco!
Não há mais branco!
Não há mais sinhô!”
Os rebeldes organizaram-se em um Conselho Militar e formaram uma Junta Provisória, com
a participação de elementos bem-te-vis da cidade. Uma delegação foi enviada à capital, São
Luís, para entregar ao presidente da Província as propostas para a pacificação: anistia para
os revoltosos, revogação da “lei dos prefeitos”, pagamento das forças rebeldes, expulsão dos
portugueses natos e diminuição de direitos aos naturalizados e instauração de processo regular
para os presos existentes nas cadeias.
No entanto, o movimento, apesar de ter atingido a parte mais importante da Província, chegando
mesmo a ameaçar São Luís, entrou em rápido declínio. Sem unidade, com muitas divergências
entre seus chefes, sofreu ainda o afastamento dos bem-te-vis, que após tentarem tirar vantagens
do movimento, dele se afastaram, aderindo à reação, com medo da radicalização das camadas
mais pobres da população, que assumiram a liderança da revolta.
Não aceitando as exigências dos balaios, o Governo provincial solicitou ajuda ao Rio de Janeiro.
Em 1840, o Coronel Luís Alves de Lima e Silva, futuro Barão de Caxias, é nomeado para a
presidência da Província, acumulando o comando das armas. À frente de 8 mil homens, e
aproveitando-se habilmente das rivalidades entre os líderes balaios, Caxias em pouco tempo
sufocou o movimento. No ano seguinte, em 1841, um decreto imperial concedeu anistia aos
revoltosos sobreviventes. Ao entregar o Governo do Maranhão a seu substituto, em 13 de maio
de 1841, Caxias dizia:

“Não existe hoje um só grupo de rebeldes armados, todos os chefes foram mortos, presos ou enviados para
fora da Província (...).”
A repressão à Balaiada marcou o início da chamada “política da pacificação”, pela qual Caxias
sufocou as agitações que ocorreram durante o Império.

A SABINADA
Entre 1831 e 1833, movimentos de caráter federalista eclodiram em alguns pontos da Província
da Bahia. Esses movimentos expressavam o descontentamento não só em relação à política
centralizadora do Rio de Janeiro, mas também um forte sentimento antilusitano, originado do
fato de os portugueses controlarem quase que totalmente o comércio varejista , ocupando ainda
cargos políticos, militares e administrativos.
Nos primeiros meses de 1831 manifestações contra os portugueses, considerados “inimigos”
do povo, reivindicavam que fossem tomadas contra eles medidas que iam desde a deportação,
até a proibição de andar armados, a demissão dos que exercessem emprego civil ou militar, e a
extinção das pensões concedidas por D. João VI ou D. Pedro I.
A notícia da abdicação, em 7 de abril, fez com que os ânimos se acalmassem. Segundo o
PERÍODO REGENCIAL (ASPECTOS MILITARES, SOCIAIS, CULTURAIS E TERRITORIAIS) 7

historiador Wanderley Pinho, “o Governo promoveu festas e proclamou ao povo (23 de abril),
procurando esfriar o ardor antiportuguês da massa popular, ao lembrar ser o novo Imperador
príncipe brasileiro de nascimento.” Mas logo novas manifestações ocorreram. Além dos
pronunciamentos que pregavam o anti-lusitanismo, a indisciplina militar, a destituição de oficiais
portugueses, a partir de outubro de 1831 passava-se a aclamar “a Federação”. Iniciava-se a crise
federalista.
Em 1833, o descontentamento em relação à política centralizadora do Rio de Janeiro podia ser
percebido no ódio que os federalistas, defensores da autonomia provincial, devotavam a D.
Pedro I e aos portugueses. No dizer de Wanderley Pinho, o sentimento contra os portugueses, a
principiar por D. Pedro I, estava presente nos pronunciamentos e nos programas dos federalistas:
“O ex-imperador, tirano do Brasil, será fuzilado em qualquer parte desta Província se acaso
aparecer, e a mesma pena terão os que o pretenderem defender e admitir (...). Todo cidadão
brasileiro fica autorizado a matar o tirano ex-imperador D. Pedro I, como maior inimigo do Povo
Brasileiro (...).”
Em 1837, com a renúncia do Regente Feijó, considerado incapaz de conter os movimentos contra
o Governo Central, a insatisfação recrudesceu principalmente entre os militares e maçons da
Província baiana. Todo o processo de instabilidade pelo qual passava a Bahia, culminou com
o início da Sabinada, revolta liderada pelo médico Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira.
Ao contrário de outros movimentos do Período Regencial, não mobilizou as camadas menos
favorecidas e nem conseguiu a adesão das elites da Província, sobretudo os grandes proprietários
de escravos e de terras do Recôncavo.
A Sabinada contou com a participação dos representantes das camadas médias da população,
que desejavam manter a autonomia provincial conseguida com o Ato Adicional de 1834, e que,
sob a Regência Una de Araújo Lima, via-se ameaçada pela Lei Interpretativa que retirava as
liberdades concedidas anteriormente aos governos provinciais. A revolta foi precedida por uma
campanha desencadeada por meio de artigos publicados na imprensa, de panfletos distribuídos
nas ruas, e de reuniões em associações secretas como a maçonaria.
O estopim da rebelião foi a fuga de Bento Gonçalves, chefe da Farroupilha, do Forte do Mar, atual
Forte São Marcelo em Salvador, onde estava preso. Em novembro de 1837, os militares do Forte
de São Pedro rebelaram-se, conseguindo a adesão de outros batalhões das tropas do Governo.
Sob a liderança de Francisco Sabino e de João Carneiro da Silva Rego, os sabinos, como ficaram
conhecidos os revoltosos por causa do nome de seu líder principal, conseguiram controlar a
cidade de Salvador, por quase quatro meses. O presidente da Província e outras autoridades, ao
perceberem que não possuíam mais poder sobre as tropas, fugiram. Os sabinos proclamaram
uma República, que deveria durar até que D. Pedro de Alcântara, o príncipe herdeiro, assumisse
o trono brasileiro.
No entanto, a Sabinada ficou isolada em Salvador. Os revoltosos não conseguiram expandir o
movimento, pois não possuíam o apoio de outras camadas da população. A repressão veio logo:
no início de 1838, tropas regenciais chegaram à Bahia. Após o bloqueio terrestre e marítimo
de Salvador, as forças do Governo invadiram e incendiaram a cidade, obrigando os rebeldes a
saírem de seus esconderijos. Ajudadas pelos proprietários do Recôncavo, as tropas massacraram
os sabinos. Os que escaparam foram severamente punidos por um tribunal que, por sua grande
crueldade, ficou conhecido como “júri de sangue”.
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A FARROUPILHA
CARACTERÍSTICAS DA ECONOMIA DO RIO GRANDE DO SUL
Em 1835, no mesmo ano em que os cabanos tomaram pela primeira vez a cidade de Belém,
ocorria no extremo sul do Império uma outra revolta, a Guerra dos Farrapos, também conhecida
como a Farroupilha. Iniciada na Província do Rio Grande do Sul se alastrou pela vizinha Província
de Santa Catarina. Nenhuma revolução ocorrida no Brasil Monárquico durou tanto tempo:
durante uma década, de 1835 a 1845, os rebeldes lutaram contra as tropas do Governo.
Na América Portuguesa, por muito tempo, o extremo sul do Brasil ficara quase que abandonado.
Sem oferecer nenhum produto tropical que a metrópole pudesse explorar, manteve-se à margem
do mercado externo. Durante os séculos XVII e XVIII, missões religiosas jesuíticas espanholas
se estabeleceram no atual estado do Rio Grande do Sul, reunindo muitos índios. Destruídas
pelos bandeirantes paulistas em busca de indígenas que seriam vendidos como escravos, o gado
criado nessas missões ficou solto. Essa região, chamada pelos portugueses de Continente do
Rio Grande, foi, aos poucos, sendo ocupada por colonos que lá se fixaram e começaram a reunir
o gado que ficara disperso. A pecuária se desenvolveu e logo se tornou a principal atividade
econômica do sul da Colônia.
No século XVIII, as estâncias (fazendas) sulinas já abasteciam o mercado interno com mulas,
fundamentais para o transporte, e com o charque, carne salgada, que era a alimentação básica
dos escravos e da população mais pobre. Além disso, o surgimento das charqueadas permitiu
melhor aproveitamento do couro para a exportação.
A Capitania do Rio Grande de São Pedro, atual Rio Grande do Sul, sempre foi objeto de disputa
entre portugueses e espanhóis. Fazendo fronteira com territórios que pertenciam à Espanha,
sua população frequentemente se envolvia em conflitos. No livro “Um Certo Capitão Rodrigo”,
o escritor Érico Veríssimo relata como essas disputas afetavam a vida dos habitantes do
“Continente”: “Escuta o que vou lhe dizer, amigo. Nesta província a gente só pode ter como
certo uma coisa: mais cedo ou mais tarde rebenta uma guerra ou uma revolução (...). Que é que
adianta plantar, criar, trabalhar como um burro de carga? O castelhano está aí mesmo. Hoje é
Montevidéu. Amanhã, Buenos Aires. E nós aqui no Continente sempre acabamos entrando na
dança”.
O charque rio-grandense competia diretamente com os da Argentina e Uruguai. Os gaúchos,
que utilizavam mão-de-obra escrava, não tinham condições de concorrer com os platinos, que,
empregando técnicas mais modernas e trabalho assalariado, conseguiam uma produção maior,
com preços mais baixos. Assim, o charque gaúcho só podia concorrer com o platino nos períodos
em que havia guerras internas no Prata. Quando a produção platina se reorganizava, a economia
rio-grandense sofria grandes perdas.
Segundo o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, “Nestas ocasiões os produtores gaúchos
acusavam a política de tributos vigente no Brasil como responsável por seus malogros.
Acreditavam que o alto preço do sal e a taxação baixa do charque importado impediam a
concorrência do produto nacional com o estrangeiro, e julgavam que a manutenção desta
política devia-se aos interesses dos consumidores, das Províncias do Norte, de importarem
charque abundante e barato, ainda que isso custasse a ruína dos produtores nacionais (...). Não
eram capazes de ver claramente, entretanto que... não era o «custo material» da produção
brasileira do charque que a tornava incapaz de competir com a estrangeira, mas sim seu «custo
social», isto é, o peso da escravidão na produção de bens que deviam concorrer num mercado
competitivo».
PERÍODO REGENCIAL (ASPECTOS MILITARES, SOCIAIS, CULTURAIS E TERRITORIAIS) 9

Estancieiros, charqueadores e exportadores sulinos passaram a exigir que o Governo Imperial


adotasse uma política protecionista para seus produtos, principalmente para o charque.
Queixavam-se de que o charque argentino e o uruguaio eram beneficiados por pagar baixas taxas
alfandegárias, enquanto o produzido no Sul, além de pagar altos impostos, era tributado até para
ser vendido a outras Províncias.
A política econômica do Governo Imperial atendia aos proprietários de escravos e terras,
particularmente os do Centro - Sul, interessados em comprar pelo menor preço possível a carne
salgada necessária à alimentação de seus escravos. Para tanto, o Governo Imperial mantinha
baixos os impostos sobre o charque e outros produtos vindos da região platina, ao mesmo
tempo que cobrava impostos sobre os produtos sulinos, além de não tomar qualquer medida
que assegurasse sua exportação. Além do problema econômico, havia divergências de caráter
político-administrativo. Até a vinda da Corte para o Rio de Janeiro, a Província gozava de certa
autonomia. Com a centralização começaram os choques entre o poder local, representado pelos
grandes estancieiros e charqueadores, e o governo do Rio de Janeiro.
O descontentamento aumentou quando, em 1834, Antônio Rodrigues Fernandes Braga foi
nomeado para ocupar a presidência da Província. Os grupos dominantes do Sul eram contra
a nomeação dos presidentes de Províncias e dos funcionários locais pelo Governo. Fernandes
Braga, seguindo ordens do Rio de Janeiro, criou novos impostos, inclusive um sobre propriedades
rurais, e tentou organizar um corpo militar para enfrentar as forças dos estancieiros, as
companhias de guerrilhas.

A REVOLTA DOS FARRAPOS


Em 1835 a revolta eclodiu. Liderados por Bento Gonçalves, Davi Canabarro, Bento Manuel
Ribeiro, e contando com a participação do italiano José Garibaldi, os revoltosos tomaram
Porto Alegre. Com a ajuda das “companhias de guerrilhas”, organizadas pelos estancieiros, o
movimento estendeu-se por toda a Província.
Os farrapos conseguiram algumas vitórias, até que, em 1836, as forças imperiais conseguiram
retomar Porto Alegre. No mesmo ano, Bento Gonçalves foi preso e enviado para a Bahia (Forte
do Mar). O comando dos farrapos passou para José Gomes de Vasconcelos Jardim. Em setembro
de 1837, Bento Gonçalves conseguiu fugir da prisão, ao que parece com a ajuda dos maçons,
embarcando para Buenos Aires de onde voltou para o Rio Grande do Sul, reassumindo o
comando rebelde.
Em 1838 foi proclamada a República de Piratini, ou Rio-Grandense. Por meio de manifestos, o
Governo da nova República esclarecia as razões do movimento, e atacava diretamente “a corte
viciosa e corrompida”. Em 1839, a revolta atingiu a Província de Santa Catarina, onde os rebeldes
tomaram Laguna, e proclamaram a República Juliana. Foi em Santa Catarina, nesse mesmo ano,
que Garibaldi conheceu sua mulher, a brasileira Ana Maria de Jesus Ribeiro, chamada de Anita
Garibaldi. Anita, heroína brasileira, teve participação ativa ao lado de Garibaldi e, em 1848,
quando o marido voltou para a Itália, ela o acompanhou e lutou junto com ele pela Unificação
Italiana.
Com o Golpe da Maioridade, que deu início ao Governo pessoal de D. Pedro II, em 1840, o
Governo concedeu anistia aos presos políticos do Período Regencial. Os rebeldes gaúchos não a
aceitaram e continuaram a luta.
Eles não queriam a separação da Província do resto do Império, o que causaria a perda do
mercado interno do charque, formado pelas outras Províncias, principalmente as do Centro-
Sul. Defendendo ideias federalistas, procuravam na verdade preservar sua autonomia política e
administrativa e seus interesses econômicos.
10

Em 1842, Luís Alves de Lima e Silva, o Barão de Caxias, que acabara de esmagar a Balaiada, foi
nomeado presidente e chefe militar da Província do Rio Grande do Sul. Iniciando a chamada
política de pacificação, Caxias com o apoio de Bento Ribeiro, antigo líder dos farrapos,
aproveitou-se das divisões entre os rebeldes para fazer acordos em separado com seu chefes.
Além disso, conseguiu impedir que os farroupilhas continuassem a receber armamentos vindos
do Uruguai.
Em 1845 Caxias firmou com Davi Canabarro a Paz do Ponche Verde. Encerrava-se a Revolta
dos Farrapos. O acordo de paz foi muito vantajoso para os farroupilhas: anistia aos revoltosos;
integração dos oficiais rebeldes ao Exército Imperial com suas patentes; liberdade para os
escravos que haviam participado da guerra; taxação sobre o charque platino importado;
pagamento pelo Império das dívidas da guerra e indicação pelos farrapos do presidente de sua
Província.
Ao contrário do que ocorrera em outras Províncias, o tratamento dispensado aos rebeldes
do Sul foi bastante diferente. O Governo mais negociou e cedeu do que reprimiu. Afinal de
contas, os farrapos não deixavam de fazer parte da “boa sociedade”. Embora o movimento não
tenha realizado a federação, consolidou o poder dos estancieiros no Sul. Ainda em 1845, D.
Pedro II visitou o Rio Grande do Sul, concretizando a reaproximação entre os membros da “boa
sociedade”, os que governavam a casa - as estâncias - e o Estado - o Governo. Luís Alves de Lima
e Silva foi eleito senador pela Província, recebendo o título de Conde de Caxias.
SEGUNDO REINADO
2 SEGUNDO REINADO 3

SEGUNDO REINADO O PARLAMENTARISMO ÀS AVESSAS


Terminadas as lutas provinciais, a Monarquia brasileira caminhava para a estabilização. Em
1847, um decreto criou o cargo de presidente do Conselho de Ministros, indicado pessoalmente
O GOLPE DA MAIORIDADE pelo Imperador. Muitos historiadores consideram que aí se inaugurou o sistema parlamentarista no
Brasil. No parlamentarismo, regime constitucional de Repúblicas ou Monarquias, o Poder Executivo
é exercido pelo Primeiro-Ministro, que é quem governa com o apoio do Parlamento, da Câmara.
Assim, quando o Parlamento retira seu voto de confiança, o gabinete de Ministros automaticamente
apresenta sua renúncia. O poder maior é, portanto, do Parlamento, do qual depende a permanência
ou não no Governo do Primeiro-Ministro.
O sistema parlamentarista implantado no Brasil, durante o Governo pessoal de D. Pedro II,
inspirou-se no modelo inglês. No entanto, o modelo brasileiro era a inversão do inglês, ficando por
isso conhecido como Parlamentarismo às avessas, porque o Poder Legislativo, não nomeava o Exe-
cutivo, mas, sim, subordinava-se a ele. Na Inglaterra realizavam-se primeiramente as eleições para
a Câmara. O partido que possuísse maioria escolhia o Primeiro-Ministro, que formava o gabinete
de ministros, passando a exercer o Poder Executivo.
Ao deixar o Brasil em 1831, o imperador Dom Pedro
I renunciou ao trono em nome do filho, na época com apenas cinco anos de idade. De acordo com a A PRAIEIRA
Constituição, Pedro II teria de completar 18 anos para assumir o trono. Em 1840, o Brasil enfrentou
um dos períodos mais turbulentos da sua história. Nessa época, de instabilidade política com as O último conflito de grandes proporções do Segundo Reinado foi a Revolução Praieira,
revoltas que vinham acontecendo, os políticos acreditavam que ter uma autoridade monárquica ocorrida em Pernambuco, resultado da crise econômica europeia, que gerou a diminuição das
poderia conter esses excessos. No dia 23 de julho de 1840, a Câmara declarou Dom Pedro II, então exportações de açúcar e algodão. Nessa fase Pernambuco era dominado por grandes famílias
com 14 anos e sete meses, o novo imperador do Brasil, fato que deu início ao Segundo Reinado, latifundiárias e as oportunidades para o Partido Liberal, formado pelos pequenos lavradores,
uma das mais extensas fases da nossa história política. Esse ato ficou conhecido como “Golpe da eram poucas. O Partido Liberal tinha como seu principal divulgador o jornal Diário Novo, situado
Maioridade”. na Rua da Praia.

LIBERAIS E CONSERVADORES
A política no Segundo Reinado foi marcada pela disputa entre o Partido Liberal e o Conservador.
Esses dois partidos defendiam quase os mesmos interesses, pois eram elitistas. Não por acaso, uma
das mais célebres frases de teor político dessa época concluía que nada poderia ser mais conserva-
dor do que um liberal no poder. Neste período o imperador escolhia o presidente do Conselho de
Ministros entre os integrantes do partido que possuía maioria na Assembleia Geral. Nas eleições
eram comuns as fraudes, compras de votos e até atos violentos para garantir a eleição.

AS ELEIÇÕES DO CACETE E A REVOLTA LIBERAL DE 1842


O primeiro ministério do Segundo Reinado era composto por liberais, que apoiaram o golpe
da Maioridade. Funcionou de 1840 a 1841 e ficou conhecido como “Ministério dos Irmãos”, sendo O movimento ganhou força, espalhando-se para o interior da província. Com a subida ao
formado pelos irmãos Cavalcanti, Coutinho e Andrada. O gabinete ministerial sofria oposição da poder dos liberais em 1844, foi nomeado como governador Chichorro da Gama, que, se não era
Câmara, formada, na sua maioria por conservadores. Diante desta situação, a Câmara de Deputados um praieiro radical, ao menos procurava cumprir as leis. Com a queda dos liberais no Rio de Janeiro
foi dissolvida e marcada novas eleições. Para garantir uma maioria de deputados liberais, os membros (1848), os conservadores retomaram o poder em Pernambuco. Esse fato deflagrou a revolução em
do Partido Liberal, usando de violência, fraudaram as eleições e garantiram a maioria parlamentar. 7 de novembro 1848, que se alastrou por toda província.
Tal episódio é conhecido como “eleições do cacete”. Os conservadores reagiram e exigiram Houve um documento elaborado pelos revolucionários, chamado “Manifesto ao Mundo”, em
que o imperador dissolvesse a Câmara que havia sido eleita nas “eleições do cacete”. D. Pedro II janeiro de 1849, que apresentava as seguintes reivindicações:
demitiu o ministério liberal, nomeou um ministério conservador e marcou novas eleições, tam- » Voto livre e universal.
bém marcadas pelas fraudes. A vitória dos conservadores e o avanço de medidas centralizadoras
provocaram uma reação dos liberais, em São Paulo e Minas Gerais - a chamada Revolta Liberal de » Liberdade de Imprensa.
1842. Apesar dos conflitos armados, o Imperador concedeu, em 1844, anistia aos envolvidos. Um » Expulsão dos portugueses.
ministério liberal foi constituído, neste ano.
» Nova organização Federalista.
4

» Extinção da cobrança de juros.


» A extinção do Poder Moderador.
» Extinção do atual sistema de recrutamento militar.
» O trabalho como garantia de vida para os cidadãos.
» O comércio a retalho só para os cidadãos Brasileiros.
» Harmonia e efetiva independência dos poderes políticos.
» Reforma do poder judicial, assegurando os direitos individuais dos cidadãos.
A revolta contava com poucos recursos militares, e foi, até certo ponto, facilmente reprimido.
Os últimos líderes e participantes foram presos em 1850, encerrando as revoltas provinciais. E a
elite passa a consolidar e instaurar um governo centralizado.

BILL ABERDEEN E A LEI EUSÉBIO DE QUEIRÓS


No ano de 1845, como resposta a Tarifa Alves Branco, a Inglaterra concedeu a si mesma, atra-
vés da lei Bill Aberdeen, poderes de jurisdição sobre navios suspeitos de contrabando de africanos
para o Brasil, mas que não afetou os números de negros desembarcando no país. O tráfico negreiro
continuava forte no Brasil nos anos que seguiram, a partir de então de forma ilegal. Somente cinco
anos mais tarde foi possível que o gabinete imperial conseguisse promulgar a Lei Eusébio de Quei-
rós, vencendo pouco a pouco as resistências a favor do tráfico tanto na sociedade quanto dentro
do próprio parlamento.
Além de agir tanto sobre navios brasileiros quanto navios estrangeiros que atracassem no solo
do Brasil, a Lei Eusébio de Queirós era fortemente apoiada na Lei de 7 de novembro de 1831, que
já previa o contrabando como crime. A lei ainda previa que os navios encontrados em território
brasileiro que fossem considerados importadores de escravos deveriam ser vendidos, podendo haver
uma quantia destinada ao denunciante e que os escravos seriam devolvidos as suas terras natais.
SEGUNDO REINADO:
ASPECTOS
MILITARES, SOCIAIS,
CULTURAIS E
TERRITORIAIS
2

SEGUNDO REINADO: ASPECTOS MILITARES, SOCIAIS,


CULTURAIS E TERRITORIAIS
A Assembleia Nacional tinha poderes para antecipar a maioridade de D. Pedro II. Foi, então,
fundado o Clube da Maioridade, organização política cujo objetivo era lutar pela antecipação da
maioridade do príncipe, a fim de que ele pudesse assumir o trono. O Clube da Maioridade teve o
apoio das classes dominantes e uniu políticos progressistas e parte dos regressistas. Em 1840, a
Assembleia Nacional aprovou a antecipação da idade do príncipe Pedro de Alcântara. Era a vitória
do Clube da Maioridade. Assim, o jovem Pedro foi aclamado imperador, como título de D. Pedro
II, em 23 de julho de 1840. Iniciava-se o Segundo Reinado, período que durou quase meio século
(1840 a 1889).
Por volta de 1840, os políticos regressistas criaram o Partido Conservador. E os progressistas
constituíram o Partido Liberal. Esses dois grupos dominaram a vida pública brasileira durante todo
o Segundo Reinado (1840-1889). Devido à exigência de rendas, só 1% da população brasileira tinha
direito ao voto. Os liberais e conservadores desenvolveram uma fórmula que trouxe estabilidade
política ao Segundo Reinado. Após assumir o poder, D. Pedro II escolheu para o seu primeiro minis-
tério do governo políticos do Partido Liberal, que tinham lutado pela antecipação de sua maioridade.
Como participavam do ministério os irmãos Andrada e os irmãos Cavalcanti, ele ficou conhecido
como Ministério dos Irmãos. Bandos de capangas contratados pelos liberais invadiram os locais
de votação, distribuindo cacetadas e ameaçando de morte os adversários políticos. Além disso,
houve muita fraude na apuração dos Votos, substituindo-se umas autenticas por outras com votos
falsos. Os liberais venceram na base da fraude e do espancamento. As eleições ficaram conhecidas
como eleições do cacete. Em São Paulo e Minas Gerais, em 1842, os políticos do Partido Liberal
revoltaram-se. Os líderes dos liberais eram Tobias de Aguiar e Diogo Antônio Feijó (em São Paulo)
e Teófilo Ottoni (em Minas Gerais). O governo imperial, por meio das tropas comandadas por Luís
Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias, derrotou essa revolta liberal e prendeu os líderes
do movimento. Só em 1844 esses líderes foram anistiados.
ͫ O parlamentarismo no Brasil
Em 1847, a criação do cargo de presidente do Conselho de Ministros assinala o começo do
parlamentarismo no Segundo Reinado. Esse presidente seria o primeiro-ministro, isto é, chefe do
ministério e encarregado de organizar o Gabinete do governo. Após a realização de uma eleição,
D. Pedro II nomeava para o cargo de primeiro-ministro um líder político do partido vencedor. Este
líder montava o Gabinete ministerial que, em seguida, era apresentado à Câmara dos Deputados
em busca de um voto de confiança (aprovação pela maioria dos parlamentares).
ͫ Lei de Terras de 1850
Durante o século XIX, a economia mundial passou por uma série de transformações abrindo
espaço para o capitalismo industrial. As grandes potências da época pressionavam as nações mais
pobres para que se adequassem aos novos caminhos do capitalismo, por exemplo, os ingleses que
pressionavam pelo fim do tráfico negreiro para atender a seus interesses econômicos. O uso da
terra e sua posse eram símbolo de distinção social e com o avanço do capitalismo mercantil a terra
deveria ter um uso integrado ao comércio, assim, passou-se a discutir as funções e os direitos sobre
a terra. No Brasil, os sesmeiros e posseiros realizavam a apropriação de terras e tomavam a posse
das terras, de modo que após a Independência, alguns projetos de lei tentaram regulamentar essa
questão. Porém, somente em 1850, a chamada Lei nº 601 ou Lei de Terras de 1850 apresentou
novos critérios com relação aos direitos e deveres dos proprietários de terra.
O tráfico negreiro estava proibido em terras brasileiras e a atividade, que representava uma
grande fonte de riqueza, teria de ser substituída por uma economia que melhor explorasse o
SEGUNDO REINADO: ASPECTOS MILITARES, SOCIAIS, CULTURAIS E TERRITORIAIS 3

potencial produtivo da agricultura. Inicia-se um projeto de incentivo à imigração que deveria ser
financiado com a dinamização da economia agrícola e regularizaria o acesso à terra. A Lei criava
grandes restrições para que ex-escravos e imigrantes se tornassem pequenos ou médios proprietários
e nenhuma nova sesmaria poderia ser concedida a um proprietário de terras ou seria reconhecida
a ocupação por meio da ocupação das terras.
As chamadas terras devolutas, que não tinham dono e não estavam sob os cuidados do Estado,
poderiam ser obtidas somente por meio da compra junto ao Governo. Uma série de documentos
falsos garantia e ampliava a posse de terras dos grandes fazendeiros e aquele que tivesse interesse
em possuir terras deveria dispor de grandes quantias. Dessa maneira, a Lei de Terras transformou a
terra em mercadoria, ao mesmo tempo em que garantiu a posse dela aos antigos latifundiários. Em
1850, após a promulgação da Lei de Terras, as autoridades locais pediram ao governo da Província
de Pernambuco o fim do aldeamento, alegando que os índios já eram caboclos, e a Lei de Terras de
1850 regulamentou questões relacionadas à propriedade privada da terra e à mão de obra agrícola,
atendendo aos interesses dos grandes fazendeiros cafeicultores da região Sudeste.
ͫ O quadro econômico
A herança colonial e o moderno durante o segundo reinado No decorrer do século XIX, prin-
cipalmente no período de 1850 a 1900, o Brasil viveu grandes transformações:

ͫ Café: o novo ouro brasileiro


O café foi introduzido no Brasil por volta de 1727. A princípio, era um produto sem grande
valor comercial. Utilizava-se o café como bebida destinada apenas ao consumo local. Entretanto,
a partir do início do século XIX, o hábito de beber café alcançou grande popularidade na Europa e
nos Estados Unidos. E crescia rapidamente o número de consumidores internacionais do café. O
clima e o tipo de solo do sudeste brasileiro favoreciam amplamente o desenvolvimento da lavoura
cafeeira. O país tinha disponibilidade de novas terras e já contava com a mão de obra escrava, que
foi deslocada para a cafeicultura. Com todos esses recursos, o Brasil tornou-se em pouco tempo
o principal produtor mundial de café. De 1830 até o fim do século, o café foi o principal produto
exportado pelo Brasil. Os grandes lucros gerados pela exportação do café possibilitaram a recupe-
ração econômica do Brasil, que tinha suas finanças abaladas desde o período da Independência,
devido à queda das exportações agrícolas.
4

ͫ Cafeicultores
A riqueza do café fez dos cafeicultores a classe social mais poderosa da sociedade brasileira.
Eles passaram a exercer grande influência na vida econômica e política do país. A economia cafeeira
do século XIX dividia-se em dois setores básicos:
» Setor tradicional: faziam parte deste grupo os cafeicultores das fazendas de café
mais antigas, localizadas na Baixada Fluminense e no Vale do Paraíba.
» Setor moderno: composto de cafeicultores das fazendas de café de áreas mais recen-
tes, localizadas no oeste de São Paulo.
ͫ A elevação de impostos sobre importados
Em 1844, o ministro da Fazenda, Manuel Alves Branco decretou uma nova tarifa alfandegária
sobre os produtos importados. Essa tarifa aumentou o preço dos produtos importados, forçando
o consumidor brasileiro a procurar um produto semelhante nacional. Antes de 1844, os produto
importados pagavam só 15% sobre seu valor nas alfândegas brasileira. Com a Tarifa Alves Branco,
a maioria dos produtos importados tinha que pagar 30% de imposto. Mas se houvesse a fabricação
no Brasil de produto nacional semelhante, o artigo importado passava a pagar 60% de imposto.

POLÍTICA EXTERNA
O Brasil envolveu-se em alguns conflitos internacionais durante o Segundo Reinado. Com a
Inglaterra houve o episódio que ficou conhecido como Questão Christie. Os dois países chegaram
a romper relações diplomáticas (1863-1865). Para preservar interesses econômicos e políticos, o
império também entrou em luta contra os países platinos. Primeiro foi a Intervenção contra Oribe e
Rosas (1851-1852), presidentes do Uruguai e Argentina, respectivamente. Depois, a Guerra contra
Aguirre (1864-1865), presidente do Uruguai. Mas o conflito mais grave foi a Guerra do Paraguai.
ͫ Guerras no Prata
O Brasil sempre apoiou a independência de pequenos países, como o Paraguai e o Uruguai e,
dessa forma, assegurava sua hegemonia na região e o livre acesso às províncias do centro-oeste e
sudeste do continente. A ação do Brasil na região passou a ser militar a partir de 1851 e tinha por
objetivo atender aos interesses dos estancieiros e produtores de charque do Rio Grande do Sul.
Isso aumentaria a influência do governo central no sul do país.
As forças imperiais derrubaram Manuel Rosas, que ocupara o poder na Argentina após lutas
internas. Sua política de fortalecimento do país implicava o controle de todo o estuário do Prata
e a reincorporação do Paraguai, fato que ameaçava a livre navegação na região. Para o Brasil, isso
significava o fechamento do acesso ao seu interior. Na República do Uruguai, intensificou-se a disputa
pelo poder entre o grupo dos Colorados, formado por comerciantes de Montevidéu e comandado
por Rivera, e o dos Blancos, integrado por estancieiros e chefiado por Oribe. O Brasil acabou por
intervir no conflito interno, dando apoio a Rivera. Em contrapartida, Oribe contou com o apoio de
Rosas, o que lhe permitiu criar um governo rebelde no interior e sitiar a capital uruguaia.
Esse apoio representou o fim da soberania uruguaia, pois, em 1851, os tratados assinados
entre o governo de montevidéu e o do império do Brasil davam a este o direito de intervir no
Uruguai. Aproveitando-se das divergências internas da Argentina, o império brasileiro apoiou um
levante de Justo José Urquiza, caudilho e governador da província de Entre Rios, contra Rosas, o que
enfraqueceria seu aliado uruguaio, e em 1851 tropas brasileiras, aliadas às do argentino Urquiza,
invadiram o Uruguai e derrotaram Oribe. Depois, nova aliança foi realizada entre o Uruguai, o Brasil
e as províncias de Corrientes e Entre Rios, dessa vez para derrubar Rosas.
Comandando o “grande exército libertador da América”, Urquiza derrotou as forças de Rosas
na Batalha de Monte Caseros, mas a derrota de Rosas e Oribe não trouxe a paz desejada pelo
SEGUNDO REINADO: ASPECTOS MILITARES, SOCIAIS, CULTURAIS E TERRITORIAIS 5

governo brasileiro. No Uruguai, as disputas internas prosseguiram e, em 1864, os Blancos, lide-


rados por Anastácio Aguirre, voltaram ao poder. Na ausência de seu aliado natural, o argentino
Manuel Rosas, os Blancos procuraram o apoio de Solano López, presidente do Paraguai. O Uruguai
foi invadido por forças militares brasileiras e, em 1864, atendendo aos interesses dos estancieiros
gaúchos, o governo brasileiro enviou a Montevidéu a missão Saraiva, com o objetivo de obrigar o
governo uruguaio a indenizar os proprietários brasileiros que tiveram suas propriedades violadas
pelos uruguaios durante suas contendas internas. Diante da negativa de Aguirre, o governo imperial
o depôs, sendo substituído pelo líder dos Colorados, Venâncio Flores, que prontamente indenizou
os proprietários brasileiros.
ͫ Questão Christie
Em 1861, o navio inglês Príncipe de Gales afundou nas costas do Rio Grande do Sul, sendo
sua carga pilhada pelos brasileiros. O governo inglês, representado por William Christie, exigiu uma
indenização de 3200 libras e as relações entre as duas nações se tornaram mais tensas quando três
oficiais ingleses, embriagados e à paisana, foram presos por promoverem desordens. Christie exigia
a soltura dos oficiais e a punição dos policiais que efetuaram as prisões. Tem início nesse momento
a Questão Christie.
O imperador aceitou indenizar os ingleses pelos prejuízos no afundamento de seu navio no
litoral gaúcho e soltar os oficiais. Mas, recusou-se a punir os policiais brasileiros. Christie ordenou
o aprisionamento de cinco navios brasileiros, o que gerou indignação e atitudes de hostilidade
dos brasileiros em relação aos ingleses aqui radicados. As relações entre Inglaterra e Brasil foram
rompidas em 1863, sendo reatadas dois anos mais tarde, diante do fortalecimento do Paraguai na
região Platina.
ͫ Guerra do Paraguai (1865-1870)

Baratta, María Victoria. La guerra del Paraguay y la construcción de la identidad nacional. SB, 2019, 288p.

Desde sua independência em 1811, o Paraguai começou a se desenvolver de um modo diferente


de todos os países latino-americanos. Seu primeiro presidente, José Gaspar Rodrigues de Francia
criou uma estrutura de produção voltada para os interesses internos da população paraguaia. Ele
queria alcançar a plena independência econômica do país. Para isso, distribuiu terras aos campo-
neses, combateu a oligarquia rural improdutiva, construiu inúmeras escolas para o povo. Em 1840,
ano em que Francia faleceu, o Paraguai não tinha analfabetos. Seus sucessores, Antônio Carlos
López (1840-1862) e seu filho, Francisco Solano López (1862-1870), não prosseguiram com a obra
de construir no Paraguai um país forte e soberano. Sofreram forte pressão do capitalismo interna-
cional e regional representado pela sua vizinhança (Brasil, Argentina e Uruguai).
6

A definição do Paraguai como um país de pequenos proprietários sob o comando de um


Estado clarividente, comum na historiografia de esquerda da década de 1970, refere-se
sobretudo à época de Francia. É verdade que ele tomou algumas medidas excepcionais no
contexto da América do Sul. Mas catalogá-las de progressistas simplifica seu conteúdo. Nas
terras confiscadas, o governo organizou as Estâncias da Pátria, exploradas por ele ou por
pequenos arrendatários. Nas estâncias do governo, se utilizava mão de obra escrava ou
prisioneiros. A economia deixou de ser monetária: tanto a tenda da terra como os impostos
eram pagos com produtos, não utilizando a moeda.
Fausto, Boris. História Concisa do Brasil. EDUSP, 2011, p. 116-7.
A ideia constantemente difundida que “O desenvolvimento do Paraguai desagradava profunda-
mente a Inglaterra, que queria manter todos os países latino-americanos como simples fornecedores
de matérias-primas e consumidores dos seus produtos industrializados”, não é só simplista, como
também é equivocada, considerando que a Inglaterra capacitou o exército, a elite e incentivou o
desenvolvimento industrial do Paraguai. A Inglaterra financiou (empréstimos bancários, venda
de armas, logística) o Brasil, a Argentina e o Uruguai na luta contra o Paraguai. Brasil, Argentina e
Uruguai formaram a Tríplice Aliança contra o Paraguai e deram início ao mais longo e sangrento
conflito armado já ocorrido na América do Sul. Mais do que motivos políticos ou reivindicações
territoriais, o que verdadeiramente alimentou a Guerra do Paraguai foram questões econômicas.
Para o Brasil, o episódio que deu início à guerra, foi o aprisionamento, pelo governo paraguaio
do navio brasileiro Marquês de Olinda, em novembro de 1864. 0 navio brasileiro navegava pelo rio
Paraguai, próximo a Assunção, com destino à província de Mato Grosso. O aprisionamento do navio
brasileiro foi uma reação do Paraguai contra a invasão brasileira do Uruguai e a derrota do presidente
Aguirre (que era apoiado por Solano López). Para se ter uma ideia da do que caracterizou Guerra
do Paraguai, basta dizer que, do lado brasileiro, morreram aproximadamente 100 mil combatentes.
Do lado paraguaio, muito mais vidas foram sacrificadas, considerando o poderio militar combinado
do Brasil, Argentina e Uruguai.
Terminada a guerra, o império brasileiro passou a sofrer as consequências do sangrento conflito:
» A economia estava fortemente abalada em virtude dos prejuízos da guerra.
» O Exército brasileiro passou a assumir posições contrárias à sociedade escravista
brasileira e a demonstrar simpatia pela causa republicana.
» Aceleração do processo abolicionista.
» Crise do Segundo Reinado, que o levaria à ruína.

A ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA
Uma exigência do capitalismo industrial e do desenvolvimento do país. A pressão político-mi-
litar da Inglaterra associada à pressão de políticos progressistas brasileiros determinaram que fosse
promulgada, em 4 de setembro de 1850, a lei Eusébio de Queirós. Com essa medida, o comércio
de escravos importados foi definitivamente reprimido.
ͫ As etapas da campanha abolicionista
Após a extinção do tráfico negreiro (1850), cresceu no país a campanha abolicionista, que
foi um movimento público pela libertação dos escravos. A abolição conquistou o apoio de vários
setores da sociedade brasileira: parlamentares, imprensa, militares, artistas e intelectuais. Mas
os defensores da escravidão ainda conseguiram sustentá-la por bom tempo. No Brasil, o sistema
escravista foi sendo extinto lentamente, de maneira a não prejudicar os proprietários de escravos.
As principais leis publicadas nesse sentido foram:
SEGUNDO REINADO: ASPECTOS MILITARES, SOCIAIS, CULTURAIS E TERRITORIAIS 7

» Lei do Ventre Livre (1871): declarava livres todos os filhos de escravos nascidos no
Brasil.
» Lei dos Sexagenários (1885): declarava livres os escravos com mais de 65 anos, o que
significava libertar os donos de escravos da “inútil” obrigação de sustentar alguns
raros negros velhos que conseguiram sobreviver à brutal exploração de seu trabalho.
Somente em 13 de maio de 1888, com a Lei Áurea promulgada pela princesa Isabel, filha de
D. Pedro II, a escravidão foi extinta no Brasil. Embora em algumas províncias como na do Ceará, a
abolição tenha acontecido de forma antecipada em 1881 e concluída em 1884, assim, a província
recebeu o epíteto de José do Patrocínio, de “Terra da luz”, sendo seu exemplo seguido pela província
do Amazonas (1881).

CRISE DA MONARQUIA E PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

Fonte: Senado Federal

Os ideais republicanos existiam no Brasil desde a colônia, aparecendo em episódios como


a Inconfidência Mineira, a Revolução Pernambucana de 1817 e a Confederação do Equador, em
1824. Com a Guerra do Paraguai, o imperador perdeu a força política, e o movimento republicano
começou a ganhar vulto. O Manifesto Republicano, de cuja redação Quintino Bocaiúva participou
ativamente, foi publicado no primeiro número do Jornal A Revolução, transformando-se no ideá-
rio básico do movimento, que ganhou a adesão de intelectuais e, a partir de 1878, dos militares
descontentes com a Monarquia.
O processo da Proclamação da República pode ser assim resumido em três eixos:
POLÍTICA EXTERNA

» Conflitos Internacionais: com a Inglaterra (Questão Christie 1863-1865), Intervenção


contra Oribe (Uruguai) e Rosas (Argentina) — 1851-1852;
» A Guerra contra Aguirre (1864-1865);
» Presidente do Uruguai. Guerra do Paraguai (1865-1870). Brasil, Argentina e Uruguai
(Tríplice Aliança) contra o Paraguai no mais longo e sangrento conflito armado já
ocorrido na América do Sul.
ͫ Sociedade Brasileira
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» Questão Abolicionista: Lei do Ventre Livre (1871); Lei dos Sexagenários (1885);
13 de maio de 1888: Lei Áurea promulgada pela princesa Isabel: a escravidão foi
extinta no Brasil.
» Questão Religiosa: bispos de Olinda e de Belém contra maçons D. Pedro II, influen-
ciado pela maçonaria, decidiu intervir na questão, solicitando aos bispos que sus-
pendessem as punições.
ͫ Política Interna
» Questão Republicana: Partido Republicano Paulista, fazendeiros de café de São
Paulo; contava com seguidores no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e no Rio Grande
do Sul.
» Questão Militar: depois da Guerra do Paraguai, o Exército brasileiro foi adquirindo
maior importância na sociedade. Os ideais republicanos contagiaram os oficiais,
divulgados por homens como o Coronel Benjamin Constant, professor da Escola
Militar do Rio de Janeiro.
O Fim do Segundo Império: a oposição de tantos setores da sociedade à Monarquia tornou
possível o sucesso do golpe político que instaurou a República no Brasil.
CRISE DA
MONARQUIA E
PROCLAMAÇÃO DA
REPÚBLICA
2

CRISE DA MONARQUIA E PROCLAMAÇÃO DA


REPÚBLICA

CRISE DA MONARQUIA
QUESTÃO RELIGIOSA
Durante todo o Império, a Igreja Católica foi uma das bases do governo, pois grande parte do
clero ocupava altos cargos. Além disso, a Constituição de 1824 havia instaurado no Brasil a união
entre Igreja e Estado. Ao imperador, por exemplo, era facultado o direito ao Padroado (prerrogativa
de preencher os cargos eclesiásticos mais importantes) e ao Beneplácito (aprovação das ordens e
bulas papais para que fossem cumpridas, ou não, em território nacional). O Governo ficava encar-
regado de sustentar o clero, pagando seus salários, patrocinando construções de igrejas etc.
Em 1864, o papa Pio IX decretou uma bula (bula papal “Syllabus” - 1864) e o Concílio Vaticano
1° (1869-1870) consagrou a doutrina do ultramantonismo, defendida pelo papa Pio 9º. Em linhas
gerais, essa doutrina postulava a infalibilidade do papa e combatia as ideias e instituições que
defendiam a secularização e o anticlericalismo) que determinava, entre outras coisas, que todos os
católicos envolvidos com a maçonaria fossem imediatamente excomungados pela Igreja. O anúncio
atingia diretamente D. Pedro II, que fazia parte da instituição. Valendo-se dos poderes garantidos
pelo padroado, o imperador não reconheceu o valor da ordem dada pelo papa. Inicialmente, a
medida não teve maiores repercussões, visto que a maioria dos religiosos no Brasil apoiava incon-
dicionalmente o regime monárquico.
CRISE DA MONARQUIA E PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA 3

Contudo, em 1872, D. Vital e D. Macedo, bispos de Olinda e de Belém, respectivamente,


resolveram seguir as ordens do papa Pio IX, punindo os religiosos que apoiavam o maçonismo. D.
Pedro II solicitou aos bispos que suspendessem as punições. Como eles se recusaram a obedecer
ao imperador, foram condenados a quatro anos de prisão. Em 1875 receberam o perdão imperial
e foram libertados, mas o episódio abalou as relações entre a Igreja e o Governo, que perdeu uma
importante base de apoio político ao regime.

QUESTÃO ABOLICIONISTA
Um exigência do capitalismo industrial e do desenvolvimento do país. A pressão político-mili-
tar da Inglaterra associada à pressão de políticos progressistas brasileiros determinaram que fosse
promulgada, em 4 de setembro de 1850, a lei Eusébio de Queirós. Com essa medida, o comércio
de escravos importados foi definitivamente reprimido.
Após a extinção do tráfico negreiro (1850), cresceu no país a campanha abolicionista, que
foi um movimento público pela libertação dos escravos. A abolição conquistou o apoio de vários
setores da sociedade brasileira: parlamentares, imprensa, militares, artistas e intelectuais. Mas
os defensores da escravidão ainda conseguiram sustentá-la por bom tempo. No Brasil, o sistema
escravista foi sendo extinto lentamente, de maneira a não prejudicar os proprietários de escravos.
As principais leis publicadas nesse sentido foram:
» Lei do Ventre Livre (1871): declarava livres todos os filhos de escravos nascidos no
Brasil.
» Lei dos Sexagenários (1885): declarava livres os escravos com mais de 65 anos, o que
significava libertar os donos de escravos da “inútil” obrigação de sustentar alguns
raros negros velhos que conseguiram sobreviver à brutal exploração de seu trabalho.
Somente em 13 de maio de 1888, com a Lei Áurea promulgada pela princesa Isabel, filha de
D. Pedro II, a escravidão foi extinta no Brasil. Embora em algumas províncias como na do Ceará, a
abolição tenha acontecido de forma antecipada em 1881 e concluída em 1884, assim, a província
recebeu o epíteto de José do Patrocínio, de “Terra da luz”, sendo seu exemplo seguido pela província
do Amazonas (1881).

QUESTÃO MILITAR
Durante o século XIX o Brasil se envolveu em várias guerras, em disputas por territórios e confli-
tos de interesses com Argentina, Paraguai, Bolívia, Uruguai. A atuação do Exército foi determinante
na preservação do território e os conflitos tiveram importância na formação de um sentimento
nacional contra inimigos externos. No entanto, principalmente após a Guerra do Paraguai (1864 a
1870), cresce o sentimento entre os militares de que sua importância não estava sendo reconhecida,
bem como as condições de trabalho e remuneração seriam inadequadas.
Durante o Império havia sido aprovado o projeto montepio, pelo qual as famílias dos militares
mortos ou mutilados na Guerra do Paraguai recebiam uma pensão. A guerra terminara em 1870
e, em 1883 o montepio ainda não estava pago. O tenente-coronel Sena Madureira foi designado
para defender os direitos dos militares perante o Governo. Sena Madureira, no entanto, após se
pronunciar pela imprensa atacando o projeto montepio, foi punido. A partir deste episódio os mili-
tares foram proibidos de dar declarações à imprensa sem prévia autorização imperial.
O descaso que alguns políticos e ministros conservadores tinham pelo Exército levava-os a
punir elevados oficiais, por motivos qualificados como indisciplina militar. As punições disciplina-
res conferidas ao tenente-coronel Sena Madureira e ao coronel Ernesto Augusto da Cunha Matos
provocaram revolta em importantes chefes do Exército, como o Marechal Deodoro da Fonseca. A
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insatisfação dos militares com o governo, somadas às ideias positivistas e à movimentação repu-
blicana viria a gerar o cenário para o fim do regime monárquico no Brasil em 1889.

QUESTÃO REPUBLICANA
Os ideais republicanos existiam no Brasil desde a colônia, aparecendo em episódios como
a Inconfidência Mineira, a Revolução Pernambucana de 1817 e a Confederação do Equador, em
1824. Com a Guerra do Paraguai, o imperador perdeu a força política, e o movimento republicano
começou a ganhar vulto. O Manifesto Republicano, de cuja redação Quintino Bocaiúva participou
ativamente, foi publicado no primeiro número do Jornal A Revolução, transformando-se no ideá-
rio básico do movimento, que ganhou a adesão de intelectuais e, a partir de 1878, dos militares
descontentes com a Monarquia.

OS TRÊS EIXOS DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA


POLÍTICA EXTERNA:
» Conflitos Internacionais: com a Inglaterra (Questão Christie 1863-1865), Intervenção
contra Oribe (Uruguai) e Rosas (Argentina) — 1851-1852.
» A Guerra contra Aguirre (1864-1865).
» Presidente do Uruguai. Guerra do Paraguai (1865-1870). Brasil, Argentina e Uruguai
(Tríplice Aliança) contra o Paraguai no mais longo e sangrento conflito armado já
ocorrido na América do Sul.
Sociedade Brasileira:
» Questão Abolicionista: Lei do Ventre Livre (1871); Lei dos Sexagenários (1885); 13 de
maio de 1888: Lei Áurea promulgada pela princesa Isabel: a escravidão foi extinta
no Brasil.
» Questão Religiosa: bispos de Olinda e de Belém contra maçons D. Pedro II, influen-
ciado pela maçonaria, decidiu intervir na questão, solicitando aos bispos que sus-
pendessem as punições.
Política Interna:
» Questão Republicana: Partido Republicano Paulista, fazendeiros de café de São Paulo;
contava com seguidores no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul.
» Questão Militar: depois da Guerra do Paraguai, o Exército brasileiro foi adquirindo
maior importância na sociedade. Os ideais republicanos contagiaram os oficiais,
divulgados por homens como o Coronel Benjamin Constant, professor da Escola
Militar do Rio de Janeiro.
O Fim do Segundo Império: a oposição de tantos setores da sociedade à Monarquia tornou
possível o sucesso do golpe político que instaurou a República no Brasil.
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SUMÁRIO
ERA VARGAS: ESTADO NOVO ....................................................................................................................... 2
ESTADO NOVO (1937-1945) ..................................................................................................................... 2
GOLPE DE ESTADO (1937) .................................................................................................................... 2
CONSTITUIÇÃO DE 1937 ....................................................................................................................... 2
ESTRUTURA POLÍTICA DO ESTADO NOVO ............................................................................................. 3
CONTROLE DA CLASSE TRABALHADORA ............................................................................................... 3
ECONOMIA NO ESTADO NOVO............................................................................................................. 3
BRASIL E A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL ............................................................................................. 3
FIM DO ESTADO NOVO E REDEMOCRATIZAÇÃO ................................................................................... 4
QUEREMISMO...................................................................................................................................... 5

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ERA VARGAS: ESTADO NOVO


ESTADO NOVO (1937-1945)

Golpe de Estado (1937)


Vargas deu o autogolpe do Estado Novo em
novembro de 1937, fechando o Congresso Nacional,
outorgando a Constituição de 1937 e estabelecendo
uma ditadura pessoal, cuja duração se estendeu até
1945. Não houve resistência ao golpe, pois a classe
média e a massa trabalhadora o apoiavam. Os
governadores estaduais apoiaram a instalação do
Estado Novo, excetuando-se o baiano Juraci
Magalhães, pois, dessa forma, poderiam se eternizar
no poder. A única oposição contra o Estado Novo
veio em 1938, articulada pelos Integralistas.
Propaganda Anticomunista tinha por objetivo
colocar a classe média e os integralistas ao lado do
governo, tendo em vista que a política sindicalista de
Vargas com suas leis trabalhistas já garantia o apoio
da massa trabalhadora.
Os seguidores de Plínio Salgado haviam
apoiado a ditadura varguista devido à sua postura
anticomunista. Não sendo nomeado Ministro da
Educação, Plínio Salgado comandou uma tentativa
de golpe contra Getúlio Vargas em 11 de maio de 1938. Foram vencidos pelas tropas do
exército, levando seus participantes para a prisão, alguns foram fuzilados, e Plínio Salgado
acabou sendo exilado.

Constituição de 1937
Foi outorgada por Vargas e deveria ser realizado um plebiscito para aprová-la, o que
nunca aconteceu. Essa Constituição ficou conhecida como polaca, pelo fato de seu elaborador,
Francisco Campos — um dos colaboradores pessoais de Vargas — ter-se inspirado na
Constituição autoritária da Polônia. Estabeleceu-se uma grande concentração do poder nas
mãos do Executivo com a anulação do Poder Legislativo. A iniciativa de elaborar as leis ficou
com o “Presidente”, permitindo-lhe governar por Decretos-Leis. Eram concedidos ao
Presidente da República e o houve a extinção do cargo de Vice Presidente.

Artigo 1º. “(...) O Governo Federal intervirá nos estados, mediante a nomeação, pelo
presidente, de um interventor, que assumirá no Estado as funções que, pela sua Constituição,
competirem ao Poder Executivo (...)”.

 Os direitos trabalhistas da Carta de 1934 foram mantidos.


 Foi promulgada a CLT (1943).
 Criada a Previdência Social.
 Maior intervencionismo do Estado Novo, que passou a tomar medidas de
diversificação da agricultura e incentivos à industrialização.

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 Proibiu-se o direito de greve e só se admitiam sindicatos reconhecidos pelo


Ministério do Trabalho, uma forma de controle do operariado.

Na Carta de 1937, as garantias individuais foram reduzidas e houve um aumento da


censura e da restrição à liberdade do indivíduo.

Estrutura Política do Estado Novo


Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) Responsável pela censura à imprensa e
pela propaganda em favor do governo, procurando sempre exaltar a figura do presidente.
Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP) Com a função era melhorar os
serviços públicos, dando-lhe um caráter mais eficiente e profissional, sem perder a postura
centralizadora do governo. O sistema federativo foi abolido, limitando-se a autonomia dos
Estados em favor do poder central podendo o Executivo intervir nos Estados, nomeando
interventores. Para reprimir qualquer movimento contrário ao governo, foi criada a Polícia
Especial, cujo chefe era Filinto Müller. Uma das mais famosas vítimas da repressão do Estado
Novo foi Olga Benário, primeira esposa de Prestes. Nascida na Alemanha, foi presa e deportada,
mesmo estando grávida, e foi confinada em um campo de concentração em Ravensbrück, vindo
a ser executada em uma câmara de gás.

Controle da Classe Trabalhadora


Foram introduzidos o salário mínimo, as férias remuneradas, carteira de trabalho, jornada
semanal de 48 horas. Essa postura criou as bases para o populismo no Brasil, isto é, um chefe
político carismático e manipulador das massas urbanas. Criou-se o ministério da aeronáutica e
Clóvis Salgado foi o primeiro titular desta pasta.

Economia no Estado Novo


Foi marcado pelo avanço no Setor Industrial, que, por sua vez, ampliou o processo de
urbanização e o aumento do êxodo rural. Foram criados órgãos públicos de assistência
econômica, como os institutos do açúcar e do álcool, do chá, do mate, do cacau, do sal e do café.
O Estado instalou grandes indústrias para dar apoio à nacional, entre elas: Companhia
Siderúrgica Nacional, Companhia Vale do Rio Doce, Fábrica Nacional de Motores, Fábrica
Nacional de Álcalis e Companhia Hidrelétrica do Vale do São Francisco, Fábrica de Aviões, Usina
Hidrelétrica em Paulo Afonso, estradas de ferro e de rodagem. Política econômica nacionalista
e estatizante.

Brasil e a Segunda Guerra Mundial


Em 1939, Vargas demonstrava grande
indefinição, pois vários importantes membros de seu
governo eram simpatizantes do Nazismo, como Filinto
Müller (Chefe da Polícia Especial), Francisco Campos
(Ministro da Justiça), Lourival Fontes (Chefe do DIP) e
o General Dutra (Chefe do Estado Maior). Diante de
vitórias alemãs na Europa, Vargas proferiu um
discurso em 11 de junho de 1940 saudando o sucesso
alemão diante da rendição francesa. O Ministro das
Relações Exteriores, Osvaldo Aranha, defendia o

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alinhamento brasileiro com os Estados


Unidos, fato este que foi concretizado em
22 de agosto de 1942, diante do
torpedeamento de navios brasileiros por
submarinos hipoteticamente alemães.
O governo brasileiro rompeu
relações com as nações do eixo
(Alemanha, Itália e Japão). Os Estados
Unidos emprestaram ao Brasil 20 milhões
de dólares, os quais foram usados na
implantação da Companhia Siderúrgica
Nacional, em Volta Redonda. Houve a
instalação de uma base americana de
suprimentos em Natal, no Rio Grande do
Norte, e outra no Ceará, para apoiar as
tropas norte-americanas no Norte da
África, formando o que os brasileiros
denominaram como “o corredor da
vitória”, dada a importância estratégica
do Nordeste brasileiro. Isso culminou
com o envio de mais soldados na luta
contra as tropas alemãs e a marinha de
Guerra brasileira cooperou no
patrulhamento do Atlântico. Foi criada a
Força Expedicionária Brasileira (FEB) —
lutou contra o Exército Alemão na Itália,
ao lado do 5º Exército Norte-Americano.
Isso fez com que o Brasil fosse a única nação latino-americana a enviar tropas à Segunda Guerra
Mundial. Os pracinhas da FEB conseguiram obter importantes vitórias em Monte Castelo,
Fornovo e Piemontese.

Fim do Estado Novo e Redemocratização


A participação vitoriosa do Brasil na Segunda Guerra Mundial criou uma situação bastante
constrangedora para o governo Vargas, pois tropas brasileiras lutaram contra as ditaduras
nazifascistas na Europa, enquanto havia um ditador governando o Brasil. Em 1943, circulou
clandestinamente o Manifesto dos Mineiros, documento elaborado por alguns intelectuais que
reivindicava a redemocratização do país. Em 28 de fevereiro de 1945, foi sancionada a
permissão para a fundação de partidos políticos, o fim da censura, a libertação dos presos
políticos e a convocação de eleições gerais para o final de 1945.

Entre os partidos políticos recém-fundados:


 Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), criado para que Vargas pudesse controlar os
sindicatos.
 Partido Social Democrata (PSD), composto por políticos que sempre estiveram ligados
a Vargas durante o Estado Novo.
 A oposição se organizou na União Democrática Nacional (UDN), a qual defendia um
governo liberal, estando ligada às forças políticas tradicionalmente contrárias a
Vargas, como multinacionais, latifundiários e determinados setores das Forças
Armadas, além de setores da classe média urbana.

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 O Partido Comunista Brasileiro conquistou sua legalidade e tinha em Luís Carlos


Prestes seu principal comandante.

Queremismo
Vargas estava organizando o Queremismo, movimento que realizava grandes
manifestações de operários e pregava a redemocratização do país, mas mantendo Getúlio no
poder. Até mesmo alguns militantes comunistas aderiram ao movimento queremista. Com a
queda pacífica de Vargas em outubro de 1945, a Presidência do país passou a ser exercida por
José Linhares, ministro que presidia o Supremo Tribunal Federal. Vargas retirou-se para sua
fazenda em São Borja, no Rio Grande do Sul, e as eleições de 2 de dezembro de 1945 deram a
vitória ao Marechal Dutra, candidato da coligação PSD-PTB e ex-ministro da guerra durante o
Estado Novo.

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SUMÁRIO
ERA VARGAS: ............................................................................................................................................... 2
GOVERNOS PROVISÓRIO E CONSTITUCIONAL .............................................................................................. 2
GOVERNO PROVISÓRIO (1930-1934) ........................................................................................................ 2
REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA (SÃO PAULO, 1932) ...................................................................... 2
CONSTITUIÇÃO DE 1934 ....................................................................................................................... 3
GOVERNO CONSTITUCIONAL (1934-1937)................................................................................................ 3
AÇÃO INTEGRALISTA BRASILEIRA ......................................................................................................... 4
ALIANÇA NACIONAL LIBERTADORA ...................................................................................................... 4
INTENTONA COMUNISTA ..................................................................................................................... 4
PLANO COHEN ..................................................................................................................................... 4

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ERA VARGAS:
GOVERNOS PROVISÓRIO E CONSTITUCIONAL
GOVERNO PROVISÓRIO (1930-1934)
Um novo tipo de Estado
nasceu após 1930, distinguindo-se
do Estado Oligárquico não apenas
pela centralização como também
pela atuação econômica, voltada
para o objetivo de promover a
industrialização: promover
mudanças sociais, com o intuito de
dar proteção aos trabalhadores
urbanos, o que desencadeou uma
migração campo-cidade (êxodo
rural). Ampliou o papel central
atribuído às Forças Armadas como suporte da criação de uma indústria de base, e sobretudo
como fator de garantia da ordem interna. O Estado Getulista promoveu o capitalismo nacional,
tendo como base o aparelho do Estado e as Forças Armadas e contando na sociedade com uma
aliança entre burguesia industrial e setores da classe trabalhadora urbana.
Pela urgência em estruturar esta nova realidade política foram nomeados novos
governadores denominados interventores, geralmente políticos ligados ao Estado ou tenentes
rebeldes. Esse último grupo representava um setor provido de visões nacionalistas e desejosas
de modernização, mas desprovido de clareza ideológica. O governo era exercido por Decretos-
Leis, não havia uma Constituição e o congresso Nacional, as Assembleias Legislativas e as
Câmaras Municipais estavam fechados. A partir de 1932, Vargas começou a se aproximar dos
políticos afastando-se cada vez mais dos tenentes, pelo fato de estes demorarem para tomar um
posicionamento político. Foi iniciada uma política de valorização do café, e o Governo Federal
passava a cobrar impostos sobre o café exportado e comprava o excedente da produção cafeeira
para depois queimá-lo. Reduzindo a quantidade do produto no mercado, a tendência era ter seu
preço aumentado.

Revolução Constitucionalista (São Paulo, 1932)


"A denominada Revolta constitucionalista, embora derrotada, alcança parte importante dos seus objetivos.
Além da confirmação da convocação da Assembleia Constituinte, os paulistas influenciaram a escolha do
interventor local, Armando Salles de Oliveira. O mérito de Getúlio foi o de ter conseguido se manter no poder.
Mas a situação o fragilizava. Na ausência de um partido político de alcance nacional que o apoiasse, foi
necessário fazer concessões às oligarquias, como aconteceu por ocasião da escolha de um interventor paulista.
O presidente teve de aceitar a Constituição de cunho liberal, que em muito restringia a ação do Poder Executivo."

Mary Del Priore. In: "Uma Breve História do Brasil”. Planeta, 2010, p. 250.

A Revolução de 1930 excluiu a velha elite cafeeira de São Paulo do poder e a valorização
do café foi uma tentativa de se aproximar dos políticos paulistas. Vargas se aproximou dos
industriais paulistas, mas os anúncios de que seriam criadas leis trabalhistas no país fizeram
com que os industriais de São Paulo se afastassem do governo. O Governo Federal nomeou um
militar pernambucano como interventor de São Paulo. Foi fundada a Frente Única Paulista que
exigia a redemocratização do país e o retorno de uma Constituição. Estudantes realizaram uma

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manifestação contrária ao governo, mas foram dispersos a tiros pela polícia, ocasionando a
morte de manifestantes. Em 9 de julho de 1932, explodiu a Revolução Constitucionalista, cujo
símbolo era a bandeira paulista com as letras MMDC, iniciais dos nomes dos estudantes mortos
pela polícia — Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. Desprovido de treinamento e de armas
adequadas, o exército paulista foi derrotado e seus principais líderes acabaram sendo exilados.
Em 1933, foi convocada uma Assembleia Constituinte, cujos trabalhos culminaram na
promulgação da Constituição de 1934.

Constituição de 1934
Inspirada nas Constituições Alemã, de 1919, e Espanhola, de 1931, foi concebida em um
momento de lutas sociais. A Constituição promulgada em 1934 introduziu novos direitos,
sobretudo na área social, como o direito de voto para as mulheres, bem como instaurado o voto
secreto. As mulheres já votavam desde 1932, porém, somente as solteiras e viúvas e que
possuíssem renda própria e as casadas desde que tivessem autorização dos maridos, de acordo
com o Código Eleitoral de 32. O Código Eleitoral de 1934 eliminou estas restrições, porém,
permaneceu facultativo e só se tornou obrigatório, como o masculino, em 1946. Dois terços da
população — os analfabetos, soldados e religiosos — ainda foram excluídos do direito do voto.
Essa carta também aumentou a intervenção do Estado na economia e na política,
estabelecendo monopólios e a compra (nacionalização) de empresas estrangeiras no Brasil. Ela
incorporou as leis trabalhistas decretadas por Getúlio desde 1930. A aprovação de direitos
trabalhistas envolvia a regulamentação da jornada de trabalho de 8 horas, trabalho de mulheres
e crianças, férias anuais remuneradas e previdência social. Foi instituída a carteira profissional
obrigatória para registro do empregado.
A Carteira de Trabalho serviu como instrumento de controle do operário pelo governo.
Associação sindical única por categoria foi instaurada. Aumentou a proteção ao trabalhador,
assim como o controle, pois os sindicatos tinham que ser autorizados pelo Ministério do
Trabalho. Garantia total liberdade de crença, de reunião, de associação política e de imprensa.
Foram criadas, ainda, a Justiça Eleitoral, a Justiça do Trabalho e a Militar. Previa a mudança da
capital para uma área central do Brasil, porém, o Distrito Federal, isto é, a sede do governo,
continuava sendo a cidade do Rio de Janeiro.

GOVERNO CONSTITUCIONAL (1934-1937)


Foi promulgada uma Nova Constituição, uma série de conquistas políticas foi
concretizadas e ocorreram eleições em todos os níveis, exceto para presidente, pois foi
estabelecido que esta última ocorreria em 1938. Foi criada a Justiça Eleitoral para organizar as
eleições e combater as fraudes. Foram estabelecidas leis de amparo à classe trabalhadora, fato

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que acaba levando Vargas a ser conhecido pela alcunha de pai dos pobres. A crise de 1929
favoreceu os regimes ditatoriais de direita que culpam a democracia pela tragédia financeira.

Ação Integralista Brasileira


Foi fundada a Ação Integralista Brasileira, liderada por Plínio Salgado, que defendia ideais
fascistas, como: regime de partido único, nacionalismo exaltado, organização hierárquica e uma
férrea disciplina de seus membros. O lema utilizado era: “Deus, Pátria e Família”, com o apoio
da classe média urbana, militares, latifundiários, líderes religiosos e alguns industriais. Usavam
uniforme verde-oliva e preto, usando a letra “Σ” como símbolo e saudavam-se com a expressão
Anauê.

Aliança Nacional Libertadora


Em 1935, foi fundada a Aliança Nacional Libertadora, formada por opositores ao Fascismo
e contendo as seguintes propostas: suspensão do pagamento da dívida externa, nacionalização
das empresas estrangeiras instaladas no Brasil, reforma agrária, instalação de um governo
popular e combate ao Fascismo.

Luís Carlos Prestes lançou um manifesto em 5 de julho de 1935, em que as palavras de


ordem culminavam em “todo poder à ANL”. Alegando se tratar de uma base política ligada ao
Comunismo internacional, Vargas decretou a ilegalidade da Aliança. Luís Carlos Prestes havia
convencido o governo soviético de que seria possível criar uma revolução socialista no país e o
governo soviético dispunha do Komintern que era encarregado de apoiar movimentos
revolucionários em qualquer parte do planeta.

Intentona Comunista
Apesar da grande falta de estrutura e de comunicação em novembro de 1935, teve início
a Intentona Comunista. O movimento, envolvendo somente quartéis, redundou em um grande
fracasso, levando os envolvidos à prisão. Vargas passou a governar em estado de sítio até 1937
e criou o Tribunal de Segurança Nacional e a Comissão Nacional de Repressão ao Comunismo.
O número de presos políticos aumentou consideravelmente, levando para as prisões qualquer
tipo de opositor, independentemente de ser ou não defensor do Comunismo.

Plano Cohen
Para concretizar um autogolpe, foi arquitetado o Plano Cohen, com grande participação
do próprio Presidente e de seu Ministro da Justiça, Francisco Campos. Tratou-se de um
documento apócrifo, em que se colocava um suposto Plano de Implantação do Comunismo no
País, o qual teria sido encontrado pelo Capitão Olímpio Mourão Filho em 30 de outubro de 1937.
O plano serviu como argumento para que as eleições fossem suspensas, o Congresso Nacional
fosse fechado, os partidos políticos colocados fora da lei e uma nova Constituição outorgada,
instalando-se a ditadura do Estado Novo. Getúlio Vargas continuava no comando político do
país.

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SUMÁRIO
PERÍODO DEMOCRÁTICO .................................................................................................................................... 2
GOVERNO DUTRA (02.12.1945 – 31.01.1951) ............................................................................................ 2
GOVERNO VARGAS (1951-1954) ................................................................................................................. 3
GOVERNO JK (1954-1961) ........................................................................................................................... 4
PERÍODO DEMOCRÁTICO
O governo ditador de Getúlio Vargas termina em 1945, com sua promessa de que voltaria,
mas pelas vias normais das eleições diretas para presidentes. Por isto, o período entre 1945 a
1964 é conhecido como Período Democrático ou Populista, uma vez que a política deste período
se baseia no apelo direto à participação das massas populares urbanas, mas sob controle do
governo, além de uma intensa propaganda nacionalista e promoção da industrialização por meio
da atuação do Estado.

É importante lembrar que tal época do regime republicano brasileiro é estudado em


capítulo à parte por se tratar de um breve hiato entre as duas ditaduras que puseram à prova a
democracia brasileira: a primeira, o Estado Novo de Getúlio Vargas, que vigorou entre 1937 e
1945, e a segunda, a ditadura dos chefes militares, considerada mais drástica, que administrou
o país no período entre 1964 a 1985.

A política brasileira estava centrada em três principais partidos, entre os quais orbitavam
menores siglas; os três grandes eram:

▪ PTB, Partido Trabalhista Brasileiro, visto como o representante das classes mais
baixas e humildes da sociedade, bem como da baixa classe média.
▪ PSD, Partido Social Democrático, cujos representantes estavam alinhados aos
interesses da alta classe média, proprietários rurais e membros do alto escalão do
funcionalismo público.
▪ UDN, União Democrática Nacional, partido visto como defensor das classes em
posição mais acima na pirâmide social brasileira, e de orientação liberal-
conservadora.

Em geral, os dois primeiros, PTB e PSD, costumavam se unir à época das eleições, pois seus
programas tinham mais pontos coincidentes entre si, em detrimento da UDN. Além disso, os dois
partidos foram criados por Getúlio Vargas perto do fim do Estado Novo, para compor o novo
cenário democrático que se aproximava.

GOVERNO DUTRA (02.12.1945 – 31.01.1951)

Em setembro de 1946, era promulgada a nova Constituição


brasileira, que trazia em seu texto valores democráticos, mantendo,
contudo certas características corporativistas da Carta de 1937.
Mantinha-se o veto ao voto dos analfabetos e certa restrição do direito de
greve. O governo Dutra é conhecido pela grande repressão realizada
contra o Partido Comunista (que em 1947 teve seu registro cassado),
derivada em parte do grande alinhamento do presidente com a política
estadunidense.

O presidente Dutra rompeu relações diplomáticas com a URSS,


numa época em que nem os EUA haviam feito isso. Ademais, promoveu
uma grande abertura comercial que inundou nosso país de produtos dos
EUA. Contudo, como consequência, nossas milionárias reservas cambiais acumuladas à época de
Getúlio se esgotaram rapidamente. Em 1948, foi anunciado o Plano Salte (Saúde, Alimentação,
Transporte e Energia), feito para definir os investimentos a serem realizados nessa área, mas ele
foi um verdadeiro fracasso.
Outra característica do presidente Dutra era seu perfil conservador e moralista: decretou
o fechamento de cassinos, por exemplo. Em suma, foi um período em que o liberalismo dominou
a política econômica, em detrimento do nacionalismo getulista do período anterior. A corrida
presidencial de 1950 foi marcada pela vitória esmagadora de Getúlio Vargas.

Constituição de 1946

▪ Liberal- democrática; ▪ Eleições diretas para os principais cargos do


▪ Liberdade de expressão; executivo (mandato de 5 anos sem reeleição) e
▪ Ampliação do voto feminino; legislativo (mandato de 4 ou 8 anos com
▪ Inviolabilidade dos sigilos postais; reeleição).

GOVERNO VARGAS (1951-1954)

A UDN tentou impugnar a eleição de Vargas, alegando que só


poderia ser o vencedor quem se elegesse por maioria absoluta. Mas essa
exigência não estava prevista na Constituição. Defensores, em princípio,
da legalidade democrática, não conseguiram atrair o voto da grande
massa, nas eleições mais importantes. A partir daí, passaram a contestar
os resultados eleitorais com argumentos duvidoso ou, cada vez mais, a
apelar para a intervenção das Forças Armadas.

Getúlio tentou exercer novamente o papel de um árbitro entre os


diversos interesses em jogo nesse seu governo democrático. Durante seu
governo, teve que aplicar medidas impopulares para corrigir a inflação,
mas tentava agradar a classe proletária ao mesmo tempo. Nomeou para
Ministro do Trabalho João Goulart (Jango), famoso entre os Sindicatos, considerado inteligente
e com alto poder de barganha. Durante seu governo, diversas greves aconteceram, em função
da liberdade concedida aos sindicatos.

O governo aos poucos conquistava a antipatia da UDN, dos militares e de Carlos Lacerda.
Em 1954, foi proposto o aumento de 100% do salário mínimo, o que deixou assustado alguns
setores econômicos e políticos. Em suma, Vargas aplicou uma política nacionalista, que
priorizava o capital nacional, em detrimento do estrangeiro, como a criação da Petrobras, o que
incomodava os setores liberais. Com o episódio do Atentado da Rua Toneleiros, Getúlio se
desestabilizou completamente (houve manifestos de militares pedindo sua renúncia), e em 24
de agosto o presidente se suicidou, deixando um séquito de admiradores enfurecidos.

O vice-presidente Café Filho assumiu a presidência pra completar o mandato, em outubro


de 1955 foram agendadas eleições, e saiu vitoriosa novamente a coligação PSD-PTB com
Juscelino Kubitschek. Uma série de problemas aconteceu até que Juscelino conseguisse tomar
posse.
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GOVERNO JK (1954-1961)

O governo JK, em comparação com os outros desse período


democrático, foi marcado por grande estabilidade e crescimento
econômico, numa associação do capital nacional e do capital
estrangeiro, além do Programa de Metas (baseado em energia,
transportes, alimentação, indústrias de base, educação e a construção
de Brasília). O governo conseguiu o apoio dos militares, o que
contribuiu para que não acontecessem grandes rebeliões desse tipo no
período.

É o nacional-desenvolvimentismo a grande marca econômica de


JK. A expressão nacional-desenvolvimentismo, em vez de
nacionalismo, sintetiza uma política econômica que combinava o
Estado, a empresa privada nacional e o capital estrangeiro para promover o desenvolvimento,
com ênfase na industrialização. Viu-se um notório crescimento da frota de carros e a abertura
de muitas rodovias, a vinda das montadoras pro Brasil e sua instalação no ABC paulista são da
época de JK. A sucessão presidencial deu como resultado a vitória de Jânio Quadros, candidato
exótico pelo PTN, apoiado pela UDN.

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SUMÁRIO
PERÍODO DEMOCRÁTICO .................................................................................................................................. 2
GOVERNO JK (1954-1961) ......................................................................................................................... 2
GOVERNO JÂNIO QUADROS (1961, SÓ ATÉ AGOSTO) .............................................................................. 2
GOVERNO JANGO (1961 – 1964) ............................................................................................................... 3
EXERCÍCIOS ........................................................................................................................................................ 3

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PERÍODO DEMOCRÁTICO
GOVERNO JK (1954-1961)

O governo JK, em comparação com os outros desse período


democrático, foi marcado por grande estabilidade e crescimento
econômico, numa associação do capital nacional e do capital
estrangeiro, além do Programa de Metas (baseado em energia,
transportes, alimentação, indústrias de base, educação e a construção
de Brasília). O governo conseguiu o apoio dos militares, o que
contribuiu para que não acontecessem grandes rebeliões desse tipo no
período.

É o nacional-desenvolvimentismo a grande marca econômica de


JK. A expressão nacional-desenvolvimentismo, em vez de
nacionalismo, sintetiza uma política econômica que combinava o
Estado, a empresa privada nacional e o capital estrangeiro para promover o desenvolvimento,
com ênfase na industrialização. Viu-se um notório crescimento da frota de carros e a abertura
de muitas rodovias, a vinda das montadoras pro Brasil e sua instalação no ABC paulista são da
época de JK. A sucessão presidencial deu como resultado a vitória de Jânio Quadros, candidato
exótico pelo PTN, apoiado pela UDN.

GOVERNO JÂNIO QUADROS (1961, SÓ ATÉ AGOSTO)

Jânio iniciou seu governo ocupando-se de assuntos desproporcionais à


importância do cargo que ocupava, como a proibição do lança-perfume, do
biquíni e das brigas de galos. No plano das medidas mais sérias, combinou
medidas simpáticas à esquerda com medidas simpáticas aos conservadores.
Acabou desagradando todo mundo. Sua política externa provocou grande
repulsa dos conservadores, pois foi realizada aproximação com o governo
cubano (condecoração de Che Guevara), na tentativa de constituir uma
política externa independente (via alternativa).

Sua política financeira caracterizou-se por um pacote ortodoxo de estabilização, sendo


bem recebidas pelos credores internacionais. O presidente aos poucos foi minando
completamente sua base de apoio, até que renunciou, afirmando que “ terríveis” o obrigaram a
isso. O vice João Goulart deveria assumir, segundo a Constituição.

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GOVERNO JANGO (1961 – 1964)

Jango se encontrava na China comunista, em missão diplomática,


quando Jânio renunciou. O presidente da Câmara dos Deputados Ranieri
Mazzilli assumiu provisoriamente a presidência da República, e os
ministros militares vetaram a posse de Jango. No Rio Grande do Sul,
Leonel Brizola declarou apoio ao vice, insistindo em uma Guerra Civil se
fosse preciso. A solução encontrada foi a instalação de um regime
parlamentarista no Brasil, reduzindo assim os poderes do presidente da
república.

Jango voltou ao Brasil e tomou posse com poderes reduzidos em


setembro de 1961. O governo Jango foi marcado por uma enorme
instabilidade que acabou culminando no Golpe Civil-Militar. Cabe destacar o avanço dos
movimentos sociais, no campo (Ligas Camponesas) e na cidade (greves, centrais sindicais e
sindicatos). Além disso, os estudantes começavam a se mobilizar (UNE), intervindo no jogo
político.

Com a volta de Jango ao governo, retomava-se a perspectiva populista e nacionalista da


Era Vargas, o que despertou a ira dos setores conservadores e ultraconservadores (UDN e
Exército). A defesa de Reformas de Base se acentuava: estava prevista ampla intervenção do
Estado na vida econômica. Enquanto isso a ESG difundia a Doutrina de Segurança Nacional, e o
Exército cada vez mais se via em “guerra” contra o inimigo ideológico. Por vários motivos
associaram Jango a tendências pró-comunismo. Em 1963, voltou o presidencialismo ao Brasil,
e Jango assumiu poderes presidenciais normais.

EXERCÍCIOS
01. É principalmente a partir de Getúlio Vargas (1930-45 e 1950-54) que o fenômeno
entendido como industrialização passa a ser uma preocupação incentivada e
sistematizada pelo Estado. Num segundo momento é Juscelino Kubitschek − JK (1956-
61) que retoma e acelera o processo.

Estabelecendo uma comparação entre os processos de industrialização desenvolvidos


por Vargas e JK, é correto afirmar que

a) Ambos se utilizaram do endividamento externo como fonte básica para desenvolver o


processo, fortemente concentrado no eixo São Paulo-Rio de Janeiro, no período Vargas, mas
desconcentrado com JK.
b) Ambos privilegiaram as indústrias de bens de consumo; no entanto, Vargas encarava as
importações de produtos industriais como necessárias, fato que JK combatia com políticas
protecionistas.
c) Enquanto Vargas adotou como prioridades os capitais nacionais, os estatais e as indústrias
de base, JK promoveu a organização do espaço industrial à custa da internacionalização da
economia.
d) Tanto Vargas como JK apoiaram-se no empresariado nacional que defendia a substituição
das importações; no entanto, JK, com seu Plano de Metas, atrelou a industrialização à
redução das desigualdades regionais.

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e) Enquanto Vargas se utilizou de uma tripla base de capitais estatais, nacionais e


internacionais, JK, refletindo o momento mundial de expansão das multinacionais, apoiou-
se somente nos capitais internacionais.

02. No presidencialismo, a instabilidade da coalisão pode atingir diretamente a


presidência. É menor o grau de liberdade de recomposição de forças, através da reforma
do gabinete, sem que se ameacem as bases de sustentação da coalisão governante. No
Congresso, a polarização tende a transformar “coalisões secundárias” e facções
partidárias em “coalisões de veto”, elevando perigosamente a probabilidade de paralisia
decisória e consequente ruptura da ordem política.

Sérgio Henrique H. de Abranches. “Presidencialismo de coalisão: o dilema institucional


brasileiro”. Dados, 1988.

Os impasses do chamado “presidencialismo de coalisão” podem ser identificados em


pelo menos dois momentos da história brasileira:

a) Nas sucessivas constituintes realizadas entre 1934 e 1946 e na instabilidade política da


chamada Primeira República.
b) Nas dificuldades políticas enfrentadas no período de 1946 a 1964 e nas crises
governamentais da chamada Nova República.
c) Na reforma partidária do final do regime militar e na pulverização dos votos populares nas
eleições presidenciais de 1989 e 1998.
d) Na crise final do Segundo Império e no fechamento político provocado pela implantação do
Estado Novo de Getúlio Vargas.
e) Nas críticas à política dos governadores implementada por Campos Sales e no golpe militar
que encerrou o governo de João Goulart.

03. No Brasil, entre os anos de 1945 e 1964, vivenciou-se um momento de ampliação da


participação popular na política e de renovação da possibilidade de livre associação e
circulação de ideias. Ainda assim, os limites impostos pelo ambiente da Guerra Fria e
pelas resistências de determinados setores da sociedade à experiência democrática
brasileira de 1945-1964 não podem ser desconsiderados.

Sobre este período, é INCORRETO afirmar que:

a) Embora todos os presidentes eleitos no período tenham tomado posse, ocorreram diversas
tentativas de golpe e de anulação de eleições.
b) A despeito do contingente eleitoral ter aumentado significativamente, uma ampla parcela da
população composta por analfabetos não tinha direito ao voto.
c) Diversos jornais com distintas orientações políticas e partidárias mantinham expressiva
circulação e buscavam aproximar-se do grande público.
d) A participação do Partido Comunista do Brasil (PCB) em todos os pleitos eleitorais evidencia
a livre organização partidária então vigente.
e) Instrumentos de combate às fraudes e coação eleitorais como a cédula única oficial,
instituída em 1955, visavam a garantir o livre exercício do voto.

01 02 03
C B D

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SUMÁRIO
O REGIME MILITAR – PARTE 1 ........................................................................................................................... 2
GOVERNO CASTELO BRANCO (1964-1967) ............................................................................................... 2
GOVERNO COSTA E SILVA (1967-1969) ..................................................................................................... 3
GOVERNO DA JUNTA MILITAR (31/08/1969 - 30/10/1969) ...................................................................... 5
GOVERNO MÉDICI (1969-1974) ................................................................................................................. 5
CRISE DO REGIME MILITAR............................................................................................................................ 6
MILAGRE ECONÔMICO .................................................................................................................................. 7

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O REGIME MILITAR – PARTE 1


No dia 1º de abril, o Congresso Nacional declara a vacância da Presidência. Os
comandantes militares assumem o poder. Em 2 de abril de 1964, Auro de Moura Andrade
declara vacância do cargo de Presidente da República e determina a posse do presidente da
Câmara, Raniere Mazzilli, com ações extremamente irregulares. Às três horas da manhã do dia
3 de abril, um conjunto de parlamentares dá posse a Mazzili como Presidente da República. Em
9 de abril, é decretado o Ato Institucional Nº 1 (AI-1), que cassa mandatos e suspende a
imunidade parlamentar, a vitaliciedade dos magistrados, a estabilidade dos funcionários
públicos e outros direitos constitucionais.

Ele ficaria no cargo durante 13 dias, empossado, mas sem pode real. O General Costa e
Silva se autodenomina comandante do Exército Nacional e cria o “comando supremo da
revolução”. Após a cassação de 40 parlamentares, entre eles Leonel Brizola, o Congresso se
encarregaria de eleger o novo presidente, fato que se deu no dia 11. O ex-Chefe do Estado Maior
do governo de Goulart, o general Castello Branco, é eleito sem dificuldades, dando início ao
processo de consolidação dos militares no poder.

“A intervenção dos militares obteve êxito justamente porque estava respaldada nas
aspirações de milhões de brasileiros — a despeito de toda infiltração e propaganda
comunista na sociedade, já naquela época. A população brasileira, em sua maioria apoiava a
ação dos militares porque estavam com medo do comunismo; porque sabia que, se esse
regime fosse estabelecido no país, os valores democráticos seriam solapados; que as bases
morais da família tradicional estariam em perigo; que as liberdades individuais seriam
abolidas; que o governo autoritário e violento produziria uma carnificina. Basta olhar para o
mundo e ver o que estava acontecendo, por exemplo, na União Soviética, na China ou em
Cuba.”

Itamar Flávio da Silveira. In: “Golpe de 1964 - O que os livros de história não
contaram”. Editora Peixoto Neto, 2016, p. 15.

GOVERNO CASTELO BRANCO (1964-1967)


O general Castello Branco é eleito pelo Congresso Nacional presidente da República em
15 de abril de 1964. Declara-se comprometido com a defesa da democracia, mas logo adota
posição autoritária. Decreta três atos institucionais, dissolve os partidos políticos e estabelece
eleições indiretas para presidente e governadores.

O governo de Castello Branco, com a promessa de reformas, como a reforma agrária,


habitacional, bancária e fiscal. O objetivo era romper com o impasse vivido pelo país nos últimos
anos e promover um rápido desenvolvimento econômico, político e social no país. No entanto,
para tais medidas, eram necessários recursos que o país não dispunha, isso foi remediado com
um empréstimo de 50 milhões de dólares, concedido pelos Estados Unidos, que tinha enorme
interesse em barrar a possível reação comunista na América Latina.

Em junho de 1965, foi promulgada a “Lei de Greve”, que tramitava havia catorze anos no
Congresso. Representou uma vitória do novo governo, essa vitória teve apoio do Congresso,
considerando que o relator do projeto foi o Deputado Ulysses Guimarães (PSD), já bastante
alinhado com o governo revolucionário. O “Clube de Paris” (países credores do Brasil),

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mediante a implantação do Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG), que tinha como
principal objetivo combater a inflação, que em 1964 já orbitava na esfera de 89,5%, escalonou
70% da dívida que venceria em 1965, isso deu um novo fôlego econômico ao governo que agora
se iniciara.

“O presidente Castello Branco se recusou a aprovar qualquer cassação sem a examinar


atentamente. Algumas atingiam velhos amigos, camaradas, levando-o ao sofrimento que o
abalava visivelmente. Era doloroso. Mas pondo de lado o coração, jamais admitiu eximir-se
do dever.”

Luís Viana Filho. In: “O governo Castello Branco”. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975,
p. 96 (com adaptações).

Ao longo do seu governo cassa mandatos de parlamentares federais e estaduais, suspende


os direitos políticos de centenas de cidadãos, intervém em quase 70% de sindicatos e
federações de trabalhadores e demite funcionários. Institui o bipartidarismo com a Aliança
Renovadora Nacional (Arena), de situação, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), de
oposição. Cria o Serviço Nacional de Informações (SNI), que funciona como polícia política. Em
janeiro de 1967, o governo impõe ao Congresso a aprovação da nova Constituição que
incorpora a legislação excepcional e institucionaliza a ditadura.

GOVERNO COSTA E SILVA (1967-1969)


Ministro do Exército de Castello Branco, o general Arthur da Costa e Silva assume a
presidência em 1967. Eleito indiretamente pelo Congresso Nacional. Em seu governo cresce a
oposição à ditadura. Em meados de 1968, a União Nacional dos Estudantes (UNE) promove no
Rio de Janeiro a Passeata dos Cem Mil. Ao mesmo tempo, ocorrem greves operárias em
Contagem (MG) e Osasco (SP). Grupos radicais de esquerda começam a organizar-se para a
guerrilha urbana e promovem os primeiros assaltos a bancos para obter fundos. O governo é
pressionado pelos militares da linha dura, que defendem a retomada das ações repressivas no
plano político, institucional e policial. Em 17 de abril de 1968, 68 municípios (incluindo todas
as capitais) são transformados em zonas de segurança nacional, e seus prefeitos passam a ser
nomeados pelo presidente. O deputado Márcio Moreira Alves (MDB/Guanabara), em discurso
na Câmara, convoca a população a boicotar a parada militar de 7 de setembro, e o governo pede
licença ao Congresso para processá-lo.

“Em primeiro lugar, é necessário lembrar que defender a revolução imediata nem
sempre implica pegar em armas. Os agrupamentos de esquerda que assim agiram,
geralmente adotaram o princípio do foquismo, teoria elaborada a partir do exemplo da
revolução cubana, em que um pequeno grupo guerrilheiro inicia um processo revolucionário
no campo. para tanto, primeiramente, são necessários recursos financeiros. Em 1967, inicia-
se uma série de roubos a bancos por parte dos grupos guerrilheiros, processo que se arrasta
até o início dos anos 1970 e resulta em cerca de trezentos assaltos (ou, como dizia na época,
desapropriação revolucionária), com arrecadação de mais 2 milhões de dólares. Na prática, a
guerrilha — salvo no caso do Araguaia — não se estende ao campo. À medida que o sistema
repressivo realiza prisões, o emprego sistemático da tortura faz com que mais
revolucionários são capturados. Em 1969, a própria dinâmica do movimento guerrilheiro é
alterada, passando a ter como objetivo resgatar os companheiros das masmorras dos
militares. Os assaltos a banco vão dando lugar a sequestros — dentre os quais os dos

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embaixadores norte-americano, alemão e suíço no Brasil — cujos resgates são a libertação


dos prisioneiros políticos.”

Mary Del Priore. In: "Uma Breve História do Brasil”. Planeta, 2010, p. 282-83.

Na noite de 13 de dezembro, Costa e Silva fecha o Congresso e decreta o Ato Institucional


Nº 5 (AI-5). Ao contrário dos anteriores, esse não tem prazo de vigência e dura até 1979. O AI-
5 restabelece o poder presidencial de cassar mandatos, suspender direitos políticos, demitir e
aposentar juízes e funcionários, acaba com a garantia do habeas-corpus, amplia e endurece a
repressão policial e militar. Outros 12 atos institucionais complementares são decretados e
passam a constituir o núcleo da legislação do regime.

ATOS INSTITUCIONAIS

• AI-1 (09/04/1964): Modifica a Constituição do Brasil de 1946 quanto à eleição, ao mandato e aos
poderes do Presidente da República; confere aos Comandantes-em-chefe das Forças Armadas o
poder de suspender direitos políticos e cassar mandatos legislativos, excluída a apreciação judicial
desses atos; e dá outras providências.
• AI-2 (27/10/1965): Modifica a Constituição do Brasil de 1946 quanto ao processo legislativo, às
eleições, aos poderes do Presidente da República, à organização dos três Poderes; suspende
garantias de vitaliciedade, inamovibilidade, estabilidade e a de exercício em funções por tempo
certo; exclui da apreciação judicial atos praticados de acordo com suas normas e Atos
Complementares decorrentes; Estabelece o bipartidarismo e dá outras providências.
• AI-3 (5/2/1966): Dispõe sobre eleições indiretas nacionais, estaduais e municipais; permite que
Senadores e Deputados Federais ou Estaduais, com prévia licença, exerçam o cargo de Prefeito de
capital de Estado; exclui da apreciação judicial atos praticados de acordo com suas normas e Atos
Complementares decorrentes.
• AI-4 (12/12/1966): convoca o Congresso Nacional para discussão, votação e promulgação do
Projeto de Constituição apresentado pelo Presidente da República e dá outras providências.
• AI-5 (13/12/1968): Suspende a garantia do habeas corpus para determinados crimes; dispõe
sobre os poderes do Presidente da República de decretar: estado de sítio, nos casos previstos na
Constituição Federal de 1967; intervenção federal, sem os limites constitucionais; suspensão de
direitos políticos e restrição ao exercício de qualquer direito público ou privado; cassação de
mandatos eletivos; recesso do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas e das Câmaras de
Vereadores; exclui da apreciação judicial atos praticados de acordo com suas normas e Atos
Complementares decorrentes; e dá outras providências.
• AI-6 (01/02/1969): Dá nova redação aos artigos 113, 114 e 122 da Constituição Federal de 1967;
ratifica as Emendas Constitucionais feitas por Atos Complementares subsequentes ao Ato
Institucional nº 5; exclui da apreciação judicial atos praticados de acordo com suas normas e Atos
Complementares decorrentes; e dá outras providências.
• AI-7 (26/02/1969): Estabelece normas sobre remuneração de Deputados Estaduais e Vereadores;
dispõe sobre casos de vacância de cargos de Prefeito e Vice-Prefeito; suspende quaisquer eleições
parciais para cargos executivos ou legislativos da União, dos Estados, dos Territórios e dos
Municípios; exclui da apreciação judicial atos praticados de acordo com suas normas e Atos
Complementares decorrentes; e dá outras providências.
• AI-8 (02/04/1969): Atribui competência para realizar Reforma Administrativa ao Poder Executivo
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios de população superior a duzentos mil habitantes;
e dá outras providências.
• AI-9 (25/04/1969): Dá nova redação ao artigo 157 da Constituição Federal de 1967, que dispõe
sobre desapropriação de imóveis e territórios rurais.
• AI-10 (16/05/1969): Dispõe sobre as consequências da suspensão dos direitos políticos e da
cassação dos mandatos eletivos federais, estaduais e municipais; e dá outras providências.
• AI-11 (14/08/1969): Dispõe sobre o tempo de mandato dos Prefeitos, Vice-Prefeitos e Vereadores
e sobre as eleições para esses cargos no dia 30 de novembro de 1969; extingue a Justiça da Paz

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eletiva; exclui da apreciação judicial atos praticados de acordo com suas normas e Atos
Complementares decorrentes.
• AI-12 (01/09/1969): Confere aos Ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica
Militar as funções exercidas pelo Presidente da República, Marechal Arthur da Costa e Silva,
enquanto durar sua enfermidade; exclui da apreciação judicial atos praticados de acordo com suas
normas e Atos Complementares decorrentes.
• AI-13 (05/09/1969): Dispõe sobre o banimento do território nacional de brasileiro inconveniente,
nocivo ou perigoso à segurança nacional, mediante proposta dos Ministros de Estado da Justiça, da
Marinha de Guerra, do Exército ou da Aeronáutica Militar; exclui da apreciação judicial atos
praticados de acordo com suas normas e Atos Complementares decorrentes.
• AI-14 (05/09/1969): Dá nova redação ao artigo 15, §11 da Constituição Federal de 1967; garante
a vigência de Atos Institucionais, Atos Complementares, leis, decretos-leis, decretos e
regulamentos que dispõem sobre o confisco de bens em casos de enriquecimento ilícito; exclui da
apreciação judicial atos praticados de acordo com suas normas e Atos Complementares
decorrentes.
• AI-15 (11/09/1969): Dá nova redação ao artigo 1º do Ato Institucional nº 11, de 14 de agosto de
1969, que dispõe sobre as eleições para Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores dos Municípios; exclui
da apreciação judicial atos praticados de acordo com suas normas e Atos Complementares
decorrentes.
• AI-16 (14/10/1969): Declara vacância dos cargos de Presidente e Vice-Presidente da República;
dispõe sobre eleições e período de mandato para esses cargos; confere a Chefia do Poder Executivo
aos Ministros militares enquanto durar a vacância; exclui da apreciação judicial atos praticados de
acordo com suas normas e Atos Complementares decorrentes; e dá outras providências.
• AI-17 (14/10/1969): Autoriza o Presidente da República a transferir para reserva, por período
determinado, os militares que haja atentado ou venham a atentar contra a coesão das Forças
Armadas.

GOVERNO DA JUNTA MILITAR (31/08/1969 - 30/10/1969)

Gravemente doente, o presidente é substituído por uma Junta Militar formada pelos
ministros Aurélio de Lira Tavares (Exército), Augusto Rademaker (Marinha) e Márcio de Sousa
e Melo (Aeronáutica). O vice-presidente, o civil Pedro Aleixo, é impedido de tomar posse. A
Aliança de Libertação Nacional (ALN) e o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8),
grupos de esquerda, sequestram no Rio o embaixador norte-americano Charles Elbrick.

Ele é trocado por 15 presos políticos mandados para o México. Os militares respondem
com a decretação da Lei de Segurança Nacional (18 de setembro) e com a Emenda
Constitucional No 1 (17 de outubro), que na prática é uma nova Constituição, com a figura do
banimento do território nacional e a pena de morte nos casos de “guerra psicológica adversa,
ou revolucionária, ou subversiva”. Ainda no final de 1969, o líder da ALN, Carlos Marighella, é
morto em São Paulo pelas forças da repressão.

GOVERNO MÉDICI (1969-1974)


"Médici era um nome pouco conhecido. Além disso, não tinha gosto pelo exercício do
poder, tendo delegado a seus ministros o exercício do governo. Daí resultou um paradoxo de
um comando presidencial dividido e num dos períodos mais repressivos, se não o mais
repressivo, da história brasileira. Por outro lado, a oposição legal chegou ao seu nível mais
baixo no governo Médici, como resultados das condições econômicas favoráveis, da
repressão e em menor escala, da campanha pelo voto nulo. Nas eleições legislativas de 1970,
quando se renovaram dois terços das cadeiras do Senado, a Arena alcançou a ampla vitória.”

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Boris Fausto. In: “História Concisa do Brasil”. EDUSP, 2011, p. 267.

Após o afastamento de Costa e Silva por motivos de saúde, em outubro de 1969 o nome de Médici foi
indicado pelo alto comando do Exército para assumir o posto de presidente da república. O general assume
um Brasil já repressivo, em virtude das medidas de seu antecessor, e endurece ainda mais o regime.
Baseado nisso, o governo de Emílio Médici ficou marcado por graves denúncias de tortura contra presos
políticos e estudantes. Neste período, foi registrado o maior número de mortos pela ditadura militar
brasileira. Em contrapartida, o grande comercial das benesses do governo foi o chamado “milagre
econômico”. O Produto Interno Bruto (PIB) aumentou muito e a classe média viu sua renda ampliar
consideravelmente. Por conta dos amplos incentivos, muitas multinacionais se instalaram aqui. Houve
também a criação de algumas estatais, como a Infraero e a Embrapa. Às custas de um aumento estrondoso
da dívida externa, nessa época foram construídas grandes obras brasileiras, como a Ponte Rio-Niterói, a
refinaria de Paulínia e a hidrelétrica de Ilha Solteira.

CRISE DO REGIME MILITAR

Junta Militar para ser o novo presidente e comanda o mais duro governo da ditadura, no
período conhecido como os anos de chumbo. A luta armada intensifica-se e a repressão policial-
militar cresce ainda mais. Ela é acompanhada de severa censura à imprensa, espetáculos, livros,
músicas etc. Atingindo políticos, artistas, editores, professores, estudantes, advogados,
sindicalistas, intelectuais e religiosos. Espalham-se pelo país os centros de tortura do regime,
ligados ao Destacamento de Operações e Informações e ao Centro de Operações de Defesa
Interna (DOI-CODI). A guerrilha urbana cede terreno rapidamente nas capitais, tenta afirmar-
se no interior do país, como no Araguaia, mas acaba enfraquecida e derrotada.

“Apesar das dezenas de mortes e centenas de prisões, do desbaratamento quase


completo da estrutura das organizações que atuavam nas cidades, os militantes
sobreviventes continuavam acreditando que era possível enfrentar e derrotar o regime civil-
militar. Em 25 de outubro — data em que estavam sendo comemorados 53 anos da Revolução
Russa —, mais uma liderança foi abatida: Joaquim Câmara Ferreira, que tinha assumido o
lugar de Marighella na direção da ALN. Foi preso, torturado e assassinado pela equipe do
delegado Fleury. Morreu aos 57 anos, mesma idade de Marighella ao ser morto. Permaneceu
numa luta fadada ao fracasso.”

Marco Antônio Villa. In: “Ditadura à Brasileira - a democracia golpeada à esquerda e à


direita”. Leya, 2014, p. 177.

O governo Médici foi marcado pelo recrudescimento, perseguição e morte dos dissidentes
do governo militar, muitos sumiram e outros morreram, e mais centenas foram torturados ou
banidos da terra pátria. Tudo isso acontecia embalado pelo sonho do país gigante; grandes

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obras, muitas obras questionáveis e não raramente identificadas pelo como “faraônicas”. É
inquestionável que grandes obras, como a criação de Itaipu, foram e são fundamentais para o
desenvolvimento econômico do país, mas a que preço? A sociedade que não se alinhava com as
ações do regime, é reprimida e desaparecia com muita frequência, a constância dessas ações e
a repressão que tem seus anos mais evidentes dentro do governo Médici, que se respaldava no
crescimento econômico, com dinheiro emprestado.

MILAGRE ECONÔMICO

O endurecimento político é respaldado pelo milagre econômico, que vai de 1969 a 1973.
O produto interno bruto (PIB) cresce a quase 12% ao ano, e a inflação média anual não
ultrapassa 18%. O Estado arrecada mais, faz grandes empréstimos e atrai investimentos
externos para projetos de grande porte no setor industrial, agropecuário, mineral e de
infraestrutura. Alguns desses projetos, por seu custo e impacto, são chamados de faraônicos,
como a construção da rodovia Transamazônica e da Ponte Rio-Niterói. O governo do general
terminou em 15 de março de 1974, quando o também general, Ernesto Geisel, assume o posto
de Presidente da República.

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SUMÁRIO
O REGIME MILITAR ............................................................................................................................................ 2
GOVERNO GEISEL (1974-1979) .................................................................................................................. 2
GOVERNO FIGUEIREDO (1979-1985)......................................................................................................... 3
QUADRO SUCESSÓRIO DA REPÚBLICA MILITAR AUTORITÁRIA................................................................. 4

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O REGIME MILITAR
GOVERNO GEISEL (1974-1979)

“O conservadorismo do General Geisel tem como fortes componentes o anticomunismo


e a relativização da democracia. Seria injustiça considerá-lo um anticomunista obsessivo, do
gênero daqueles que perdem o contato com a realidade; é metódico, realista, e, por isso
mesmo, eficaz. Ele ridiculariza sem rodeio personagens como o caricato almirante Pena Boto.
Quando no poder, a repressão à esquerda não impede de estabelecer laços diplomáticos com
a China e de reconhecer o governo revolucionário de Angola, por razões de conveniência. Em
um dos muitos episódios em que é pressionado pela linha-dura, critica ironicamente os
excessos do general Silvio Frota, dizendo-lhe que algo deve andar errado nos métodos, se o
comunismo estiver mesmo sempre crescendo, apesar de ‘nós’ o combatermos desde o
levante de 1935.”

Bóris Fausto. In: “Memória e História”. GRAAL, 2005, p. 140.

O general Ernesto Geisel enfrenta dificuldades que marcam o fim do milagre econômico e
ameaçam a estabilidade do Regime Militar. A crise internacional do petróleo contribui para uma
recessão mundial e o aumento das taxas de juro, além de reduzir muito o crédito, põe a dívida
externa brasileira em um patamar crítico. O presidente anuncia então a abertura política lenta,
gradual e segura e nos bastidores procura afastar os militares da linha dura, encastelados nos
órgãos de repressão e nos comandos militares.

A oposição se fortalece e nas eleições de novembro de 1974, o MDB conquista 59% dos
votos para o Senado, 48% para a Câmara dos Deputados e ganha em 79 das 90 cidades com
mais de 100 mil habitantes. A censura à imprensa é suspensa em 1975. A linha dura resiste à
liberalização e desencadeia uma onda repressiva contra militantes e simpatizantes do
clandestino Partido Comunista Brasileiro (PCB). Em outubro de 1975, o jornalista Vladimir
Herzog é assassinado em uma cela do DOI-CODI do 2º Exército, em São Paulo.

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Vladimir Herzog, o “Vlado”, foi jornalista, professor e cineasta. Nasceu em 27 de junho


de 1937 na cidade de Osijsk, na Croácia (na época, parte da Iugoslávia), morou na Itália e
emigrou para o Brasil com os pais em 1942. Foi criado em São Paulo e naturalizou-se
brasileiro. Em 24 de outubro do mesmo ano, foi chamado para prestar esclarecimentos na
sede do DOI-CODI sobre suas ligações com o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Sofreu
torturas e, no dia seguinte, foi morto. A versão oficial da época, apresentada pelos militares,
foi a de que Vladimir Herzog teria se enforcado com um cinto, e divulgaram a foto do suposto
enforcamento. Testemunhos de jornalistas presos no local apontaram que ele foi assassinado
sob tortura. Além disso, em 1978, o legista Harry Shibata confirmou ter assinado o laudo
necroscópico sem examinar ou sequer ver o corpo.

“Memória da Ditadura”. Disponível em:


<http://memoriasdaditadura.org.br/biografias-da-resistencia/vladimir-herzog/>.

Em janeiro de 1976, o operário Manuel Fiel Filho é morto em circunstâncias semelhantes.


O MDB vence novamente as eleições no final de 1976. Em abril de 1977, o governo coloca o
Congresso em recesso e baixa o "pacote de abril". As regras eleitorais são modificadas de modo
a garantir maioria parlamentar à Arena, o mandato presidencial passa de cinco para seis anos
e é criada a figura do senador biônico, eleito indiretamente pelas Assembleias Legislativas
estaduais. Em 1978, Geisel envia ao Congresso emenda constitucional que acaba com o AI-5 e
restaura o habeas-corpus. Com isso abre caminho para a normalização do país. No final do ano,
o MDB volta a ganhar as eleições.

GOVERNO FIGUEIREDO (1979-1985)


“No ano de 1981 inicia-se uma grave recessão que se estende por três anos. A inflação
atinge taxas elevadíssimas, associa-se agora a estagnação ou declínio econômico, como
aquele registrado em 1981 (-4,2%) ou em 1983 (-2,9%). Após décadas de crescimento
elevado ou moderado, a industrialização amarga uma crise sem precedentes. Como
consequência dessa situação, o número de pobres amplia-se. Entre 1977-1983, o número de
pessoas vivendo com rendimentos inferiores a um dólar por dia aumentam de 17 milhões
para 30 milhões. Se no passado a pobreza era registrada mais frequentemente no campo,
dando origem as formas de banditismo rural como o cangaço, agora ela tem a cidade como
principal espaço.”

Mary Del Priore. In: "Uma Breve História do Brasil”. Planeta, 2010, p. 287.

O crescimento da oposição nas eleições de 1978 acelera a abertura política. O general João
Baptista Figueiredo concede a anistia aos acusados ou condenados por crimes políticos. O
processo, porém, é perturbado pela linha dura. Figuras ligadas à Igreja Católica são
sequestradas e cartas-bomba explodem nas sedes de instituições democráticas, como a Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB). O episódio mais grave é um mal-sucedido atentado terrorista
promovido por militares no centro de convenções do Riocentro, no Rio, em 30 de abril de 1981.
Em dezembro de 1979, o governo modifica a legislação partidária e eleitoral e restabelece o
pluripartidarismo. A Arena transforma-se no Partido Democrático Social (PDS), e o MDB torna-
se o PMDB. Outras agremiações são criadas, como o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido
Democrático Trabalhista (PDT), de esquerda, e o Partido Popular (PP), de centro-direita.

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A crise econômica se aprofunda e mergulha o Brasil na inflação e na recessão. Crescem os


partidos de oposição, fortalecem-se os sindicatos e as entidades de classe. Em 1984, o país
mobiliza-se na campanha pelas Diretas Já, que pede eleição direta para a Presidência da
República. Mas a emenda é derrotada na Câmara dos Deputados em 25 de abril. Em 15 de
janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral escolhe o candidato Tancredo Neves como novo presidente
da República. Ele integra a Aliança Democrática — a frente de oposição formada pelo PMDB e
pela Frente Liberal, dissidência do PDS. A eleição marca o fim da ditadura militar, mas o
processo de redemocratização só se completa em 1988, no governo José Sarney, com a
promulgação da nova Constituição.

QUADRO SUCESSÓRIO DA REPÚBLICA MILITAR AUTORITÁRIA


CARACTERÍSTICAS

• ESG (ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA) – formou uma classe dirigente, uma elite militar e civil.
GERAIS

• DOUTRINA DA SEGURANÇA NACIONAL: concebida no contexto da Guerra Fria. Principal pensador


Golbery do Couto e Silva. Preocupação básica: combater a guerra “revolucionária local” promovida pelos
comunistas.
ANOS

1964 1967 1969 1974


PRES

CASTELLO BRANCO COSTA E SILVA GARRASTAZU MÉDICI


.

• AI-1: mantém a
Constituição e dá poderes ao
Executivo.

• AI-2: eleições indiretas • AI-5: aumenta os poderes


para presidente e vice; do Executivo.
extinção dos partidos.
• Agosto/1969: adoece • 1969: Emenda Constitucional.
• Formação da ARENA e Costa e Silva.
POLÍTICA

MDB. • Regime ditatorial.


• Assume a Junta Militar.
• AI-3: indiretas para • Popularização do governo através de
governadores estaduais. • Decreto-lei 477. campanhas publicitárias.

• Recesso do Congresso. • EMENDA


CONSTITUCIONAL nº 1.
• AI-4: projeto
constitucional.

• 1967: Constituição.

• PAEG. “MILAGRE ECONÔMICO BRASILEIRO”

• Equipe econômica: R. • Metas e bases para ação do Governo.


• PED.
Campos e O. Bulhões.
• Equipe econômica: R. Velloso e Delfim.
ECONOMIA

• Equipe econômica: H.
• Doutrina da
Beltrão e Delfim Neto.
interdependência. • Plano de Integração Nacional.
• Projeto Rondon.
• FGTS/BNH/INPS. • INCRA/PROTERRA/PRORURAL.
• FUNAI. • Transamazônica/Cuiabá/Santarém.
• Recessão.
• SUFRAMA. • PIS/PASEP.
• Arrocho salarial.

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• Média da inflação: 47,3%. • MOBRAL. • Ponte Rio-Niterói.

• Média do PIB: 3,5%. • Média da inflação: 23,3%. • Mar territorial de 200 milhas.

• Média do PIB: 8,6%. • Média da inflação 20,8%.

• Média do PIB: 10,1%.

• Guerrilhas urbanas e
• Críticas ao governo feitas rurais da esquerda.
• Guerrilhas no Araguaia (PC do B).
pela Igreja e UNE. • Atos terroristas da
• Concentração de renda.
SOCIEDADE

extrema direita.
• Frente ampla liderada por
Carlos Lacerda. • Aumento da oferta de emprego.
• Movimento estudantil.
• Cassações de mandatos. • Sequestros de aviões.
• Greves.
• Prisões. • Atividades do Esquadrão da Morte.
• Extinção da Frente Ampla
e cassação de Lacerda.

• POLÍTICA DE SEGURANÇA NACIONAL: objetivava criar um planejamento global da vida econômica, política e
social do Brasil. Fortalecimento do Poder Executivo que pode legislar através de decretos-leis e atos institucionais
(ao todo, 17). Redução da participação política do Legislativo e do eleitorado.

• LINHA DURA: atitudes políticas intransigentes e radicais; anticomunista e defensora das empresas estatais.

1974 1979
1985

ERNESTO GEISEL J. BAPTISTA FIGUEIREDO

• Regime de “distensão” política.


• Regime de “abertura”.
• Lei Falcão (1976).
• Criação de novos partidos.
• Política externa: “pragmatismo responsável”
• Voto vinculado.
(relações com a China).
• Demissão de Golbery da chefia do Gabinete Civil.
• Nova Lei Orgânica dos Partidos.
• Eleições diretas para governadores em 1982.
• Pacote de Abril.
• Extinção dos senadores “biônicos”.
• Senador “biônico”.
• Formação da Frente Liberal.
• Última medida: anistia e fim do AI-5.

• II PND. • 1ª equipe econômica: Simonsen e Rischbieter


(recessionistas).
• Equipe econômica: R. Velloso e Simonsen.
• 2ª equipe econômica: Delfim e Galvêas
• 1º choque mundial do petróleo. (desenvolvimentistas).

• Política econômica expansionista. • Projeto Carajás.

• Siderúrgicas Tubarão e Açominas. • 2º choque mundial do petróleo.

• Ferrovia do Aço/Itaipu. • Recessão (a partir de 1981).

• Acordo nuclear com a Alemanha. • Falências, concordatas, desemprego.

• Excessivo endividamento externo. • Negociações com o FMI.

• Média da inflação: 44,5%. • Média da inflação: 136,1%.

• Média do PIB: 6,9%. • Média do PIB: 1,2%.

• Vitória do MDB nas eleições de 1974. • Atentado no Riocentro (1981).

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• Greves no ABC (1978). • Saques a supermercados.

• Ação da AAB (Aliança Anticomunista do Brasil) com • Alto índice de criminalidade.


bombas.
• Movimento ‘Diretas Já” para o projeto Dante de Oliveira.
• Movimento contra a Carestia.
• Greves por aumento salarial e estabilidade de emprego.

• Euforia social com a vitória de Tancredo Neves


(janeiro/85).

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SUMÁRIO
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL .................................................................................................................................. 2
AS TRÊS FASES DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ............................................................................................ 2
CAUSAS DO PIONEIRISMO INGLÊS ............................................................................................................ 3
A QUESTÃO SOCIAL ................................................................................................................................... 4
CONDIÇÕES DO TRABALHADOR NO INÍCIO DO SÉCULO XIX ..................................................................... 4

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REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

A Revolução Industrial corresponde ao processo de industrialização que teve início na


segunda metade do século XVIII no Reino Unido. Esta revolução ocorreu graças à utilização de
máquinas na indústria e foi potenciada com a invenção da máquina a vapor. Para melhor fixar,
eis a definição trabalhada em nossa aula:

O termo Revolução Industrial nada mais é do que uma referência à grande


mudança tecnológica nos meios de produção da sociedade inglesa, a partir dessa
mudança surge uma relação entre o novo termo da época, “capital”, e o novo método
de produção que foi adotado.

A estrutura do trabalho foi alterada, sendo que em muitos casos os artesãos eram
substituídos por operários de fábricas. Uma grande diferença é que essas novas fábricas
precisavam de forte investimento para serem construídas e de um mercado regular. A
sociedade passou de agrícola a industrial, o que resultou em um movimento de zonas rurais
para as cidades. Isso causou alguns desequilíbrios políticos, sociais e econômicos, ainda antes
de ocorrer a Revolução Francesa. Merece destaque como causas gerais da Revolução Industrial
do século XVIII, a chamada Revolução Comercial e a Acumulação Primitiva de Capital.
Lembramos que a Revolução industrial não marca o surgimento da indústria no mundo,
tendo em vista que já havia indústria. Para melhor compreensão eis o conceito trabalhado em
nossa aula:

Podemos definir a indústria como qualquer atividade humana, que, com


auxílio do trabalho, converte matéria-prima em produtos que serão consumidos
pelas pessoas ou por outras indústrias. Portanto, já havia indústria antes do
processo revolucionário iniciado na Inglaterra.

AS TRÊS FASES DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL


▪ A Primeira Fase: iniciada mais ou menos de 1750/1800, foi marcada pela máquina a
vapor e foi possibilitada pelo acúmulo de capital e a disponibilidade de matéria-prima
na forma de recursos naturais, como o ferro e o carvão. Esse avanço tecnológico
intensificou o ritmo de produção das industriais e marcou o transporte, até então só se
dispunha da força muscular do próprio homem do animal do vento e da água.
▪ A Segunda Fase: decorre de novos avanços nas áreas tecnológicas e se passam no final
do Sec. XIX início do XX nos Estados Unidos, com a introdução de energias como o
petróleo e a eletricidade. A partir desse ponto, são inventados o automóvel e o avião, o
primeiro possibilitando o transporte individual e alavancando o ritmo de produção,

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aumentada pela difusão do seu uso, e o segundo um verdadeiro avanço na velocidade


e eficiência dos transportes, que eram via terrestre.
▪ A Terceira Fase: liderada pelos Estados Unidos, inicia-se durante a segunda guerra
mundial (1938/1945) com competidores como Japão e alguns países europeus,
caracteriza-se, pela descoberta da energia nuclear e do uso da informática. A energia
nuclear causou mudanças e no princípio se pensava ser ela o estopim para uma nova
fase de desenvolvimento, mas a informática foi sem dúvida quem fez o grande papel,
ela passa a empregar o papel do próprio intelecto humano. Nesse contexto também
temos o desenvolvimento da biotecnologia que dá ao homem a capacidade de criar e
recriar vida, e a disponibilização mundial de conteúdo humano pela rede mundial de
computadores.
CAUSAS DO PIONEIRISMO INGLÊS
A Inglaterra industrializou-se cerca de um século antes de outras nações, por possuir uma
série de condições históricas favoráveis dentre as quais, destacaram-se:

▪ A supremacia naval inglesa: desde o ano de 1651,


quando Oliver Cromwell decretou os Atos de
Navegação e Comércio, que asseguraram exclusividade
aos navios ingleses para o transporte de mercadorias
para o seu país, que a Inglaterra passou a controlar o
comércio mundial de larga escala. Isso permitiu a
organização de um vasto império colonial que, ao
mesmo tempo, será seu mercado consumidor de
produtos manufaturados e fornecedor de matérias
primas.
▪ A disponibilidade de mão de obra: o estabelecimento do
absolutismo na Inglaterra no século XVI levou a
burguesia em aliança com a nobreza a promover um
processo de expulsão dos camponeses de suas terras.
Estas terras foram cercadas e transformadas em áreas
de pastagens para ovelhas que ofereciam a matéria-
prima básica para o tecido: lã. Houve, portanto, um
intenso êxodo rural, que tornou as grandes cidades um
lugar onde se encontrava uma grande disponibilidade de mão-de-obra. Dessa
maneira, os salários sofreram um rebaixamento, fato que contribuiu para a elevação
da produtividade na indústria.
▪ A disponibilidade de matérias-primas: a Inglaterra não tinha dificuldades de acesso
às matérias-primas básicas para seu desenvolvimento industrial. Era rico em minério
de carvão, lã, algodão (obtido nos EUA) etc.
▪ A Monarquia Parlamentar: a Revolução Gloriosa de 1688/89 estabeleceu na
Inglaterra a Declaração dos Direitos (Bill of Rights) que permitiu a supremacia do
parlamento sobre a monarquia, surgindo, portanto, o parlamentarismo. Isso
significou o fim do absolutismo que permitiu à burguesia uma maior participação nas
decisões do governo e na vida política do país. Dessa maneira, a economia do país
passou a se organizar de maneira a atender aos anseios da burguesia.

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A QUESTÃO SOCIAL

A mecanização provocou mudanças profundas nos meios de produção humanos até então
conhecidos, afetando diretamente nos modelos econômicos e sociais de sobrevivência humana.
Não havia trabalho para todos e, mesmo os que trabalhavam, ganhavam salários mínimos,
muitas vezes insuficientes para sua subsistência. Ao lado desses pobres trabalhadores, convivia
uma multidão de mendigos, que representava o resultado dos custos das prolongadas guerras
e da inflação que assolou a Europa a partir da entrada de ouro e prata vindos da América.
O excesso de população - seguida pelo êxodo rural - é que respondia pela grande massa
dos desempregados concentrados nas maiores cidades, o que proporcionava ao empresário
capitalista burguês um grande contingente de mão de obra por um preço irrisório. A
consequência disto é o começo da fase do "Capitalismo Selvagem", em que existe uma
intensificação generalizada da exploração humana por parte dos detentores emergentes dos
novos meios de produção – fato que, por sua vez, gerará inúmeras reações violentas em todo
continente europeu por parte dos trabalhadores explorados e desempregados (miseráveis).
CONDIÇÕES DO TRABALHADOR NO INÍCIO DO SÉCULO XIX
▪ Longas jornadas de trabalho
▪ Baixa remuneração
▪ Ambiente de trabalho insalubre
▪ Trabalho repetitivo e perigoso
▪ Inexistência de leis trabalhistas
▪ Cidades de elevado custo de vida
▪ Condições precárias de moradia

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SUMÁRIO
IMPERIALISMO E ANTECEDENTES DA 1ª GUERRA MUNDIAL ............................................................................ 2
“NEOCOLONIALISMO” ............................................................................................................................... 2
CENÁRIO ANTES DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL ................................................................................... 3

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IMPERIALISMO E ANTECEDENTES DA 1ª GUERRA MUNDIAL


“NEOCOLONIALISMO”

Quando o assunto é Imperialismo, alguns aspectos devem sempre ser analisados em


conjunto. Os principais são: Nacionalismo, Neocolonialismo e junção entre o Capitalismo
financeiro e o Capitalismo industrial. Esses aspectos resumem o panorama político, econômico
e cultural de um período que vai desde a década de 1870 até o ano de 1914, ano em que teve
início a Primeira Guerra Mundial.
O termo “Imperialismo” sugere, obviamente, uma “Era de Impérios”; em grande parte
trata-se disso mesmo. Mas, conceitualmente falando, o Imperialismo do século XIX consistiu
num tipo de política expansionista das principais nações europeias, que tinha por objetivo a
busca de mercado consumidor, de mão de obra barata e de matérias-primas para o
desenvolvimento das indústrias.
Esse fenômeno de expansão dos países europeus teve início a partir do momento em que,
após as Revoluções Burguesas dos séculos XVII e XVIII e da formação das nações modernas na
Europa (como Alemanha, Itália e França), houve um intenso processo de industrialização
desses países. A industrialização gerou, por conseguinte, uma forte concorrência entre as
nações, que passaram a disputar territórios e estabelecer as suas fronteiras com exércitos
modernizados e uma sofisticada diplomacia. Esse processo acentuou gradualmente o caráter
nacionalista dos países europeus.
Ao mesmo tempo, a industrialização também exigia uma integração econômica nunca
antes vista. O capital gerado pela indústria, isto é, toda a riqueza do processo de produção –
desde maquinários até produtos para consumo –, precisava de crédito e de sustentação
financeira. Os setores do capital financeiro (bancos e bolsas de valores) passaram a se integrar
com o setor das indústrias, criando assim maneiras de estruturar a complexidade da economia
mundial integrada.
O Idealismo é a doutrina de que ideias e pensamentos constituem a realidade
fundamental. Essencialmente, é qualquer corrente filosófica que defenda a ideia de que a única
coisa verdadeiramente concebível é a consciência (ou o conteúdo da consciência) e que não se
pode ter certeza a respeito da existência de qualquer coisa do mundo externo. Portanto, as
únicas coisas reais são entidades mentais, não físicas, pois estas existem apenas à medida que
são percebidas.

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A teoria de Kant sustentava a ideia de que não enxergamos as coisas por si só: apenas
compreendemos o mundo por meio de nosso ponto de vista humano. Os Idealistas alemães que
deram continuidade à filosofia de Kant – adaptando e ampliando sua obra por meio de suas
interpretações sobre o Idealismo – podem ser considerados Românticos. Os mais importantes
desses filósofos foram Johann Gottlieb Fichte, Friedrich Schelling, Georg Wilhelm Friedrich
Hegel e Arthur Schopenhauer.
E, assim como nos séculos XV, XVI e XVII, nos quais nações europeias como Portugal e
Espanha promoveram a colonização do continente americano (e dessas colônias extraíram
matérias-primas e nelas desenvolveram sistemas de organização política e administrativa), as
nações imperialistas industrializadas do século XIX promoveram a colonização de regiões da
África, da Ásia e da Oceania.
O processo de expansão para essas regiões foi marcado por várias tensões e guerras. A
África, por exemplo, teve seu território divido nesta época entre as nações europeias, num
evento denominado Conferência de Berlim, ocorrido em novembro de 1884. Essa divisão
caracterizou-se pela completa arbitrariedade, tribos africanas inteiras foram desagregadas com
a divisão, enquanto algumas se mesclaram com outras que eram suas rivais históricas. A
Inglaterra, nessa época, ficou conhecida como o grande Império “onde o Sol não se põe”,
exatamente por conta de sua vasta expansão, que integrava grandes países, como a Índia e a
Austrália.
O Imperialismo chegou ao seu ponto de saturação no início do século XX, quando as
tensões nacionalistas se tornaram mais veementes. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) é
fruto direto dessa saturação.

CENÁRIO ANTES DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL


Na primeira metade do século XIX, França e Inglaterra eram os países de maior poder
econômico e político na Europa. Com um forte processo de industrialização, eles dominavam
extensas áreas coloniais, principalmente na África e na Ásia. Essas áreas eram importantes
como fornecedoras de matérias-primas e como consumidoras de produtos industrializados.
O cenário europeu começou a mudar com a unificação da Itália e, sobretudo, da Alemanha,
na segunda metade do século XIX. Após a unificação, esses países passaram a disputar maior
espaço no cenário internacional. No início do século XX, a intensa disputa por áreas coloniais
provocava profundas divergências e rivalidades entre os países europeus, e uma tensão
constante no continente. Diversos fatores aumentaram contribuíram para o clima de tensão,
dentre os mais importantes podemos citar:

▪ Progresso do capitalismo e consequentes problemas sociais do proletariado urbano e dos


trabalhadores pobres em geral.
▪ O imperialismo e o colonialismo gerados pelo extraordinário crescimento industrial, que
acirrava os choques de interesse econômico e político entre as potências industrializadas.
▪ O expansionismo alemão e a transformação da Alemanha na maior potência industrial da
Europa fizeram brotar contra ela uma rivalidade na França, Inglaterra e Rússia.
▪ O revanchismo francês, em consequência da Guerra Franco-Prussiana (1870-1871), na
qual a França foi derrotada e obrigada a entregar para os alemães as regiões de Alsácia e
Lorena, esta última rica em minério de ferro.
▪ A rivalidade russo-germânica, causada pela pretensão alemã de construir uma estrada de
ferro ligando Berlim a Bagdá. A Rússia reagiu, pois a estrada ligaria a Alemanha ao Oriente
Médio, rico em petróleo e possuidor de um atraente mercado consumidor, além de passar
por regiões onde os russos pretendiam aumentar sua influência.
▪ O antigermanismo inglês, resultado da concorrência industrial alemã às vésperas da
guerra os produtos alemães e ingleses concorriam em mercados que até então haviam sido

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dominados exclusivamente pela Inglaterra. Quando os produtos alemães começaram a


penetrar na própria Inglaterra a burguesia industrial e financeira inglesa, passou a alimentar
a ideia de que a Alemanha deveria ser destruída.

Além disso, foram realizadas políticas de alianças entre as nações imperialistas. Das
principais, citam-se a Tríplice Aliança, formada pelo Império Alemão, pelo Império Austro-
Húngaro e pela Itália, sendo que esta última ficou neutra no início da I Guerra Mundial, e a
Tríplice Entente compondo a aliança Inglaterra, França e Rússia. O clima de tensão entre as
duas alianças têm alguns focos que merecem destaque, como:

▪ A questão marroquina: Em 1904, França e Inglaterra firmaram um acordo pelo qual os


franceses reconheciam os interesses ingleses no Egito e, em contrapartida, recebiam o apoio
inglês para a dominação francesa sobre o Marrocos, dificultando, assim, a ação dos alemães
nesse país. Em 1905, entretanto, o kaiser Guilherme II desembarcou em Tânger, criando um
impasse ao prometer preservar a independência do Marrocos. A crise do Marrocos foi
resolvida em 1906, na Conferência de Algeciras, na qual se confirmou a “política de porta
aberta” aos franceses e alemães, porém com vantagens para os franceses, a exemplo da
divisão do controle da política do país com a Espanha.

Em tal situação, o sultão do Marrocos subordinou-se ao domínio francês, que o auxiliava nos
enfrentamentos dos chefes tribais rivais e das rebeliões muçulmanas. Afora os colonizadores
novos crises entre imperialistas ocorreram em 1908, em Casablanca, e, em 1911, em Agadir,
sendo solucionadas pela cessão do Congo francês à Alemanha, que em troca, abandonava
suas pretensões sobre o Marrocos. Mesmo assim, permaneceu o descontentamento, pois os
alemães consideraram pequena a compensação recebida, e os franceses ficaram
inconformados por cederem uma área colonial.

▪ A crise nos Balcãs: Começou em 1908, quando a Áustria resolveu anexar ao seu território
às províncias turcas da Bósnia e da Herzegovina, cobiçadas pela Sérvia e Rússia. A Alemanha
declarou apoiar os austríacos. A Rússia, ainda não refeita dos prejuízos da guerra russo-
japonesa, procurou uma aliança com a França e encorajou a Sérvia, a Bulgária, a Grécia e o
Montenegro a vingarem as atrocidades cometidas pelos otomanos contra os eslavos da

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Macedônia com uma invasão militar na qual já estava previamente resolvido que, após a
derrota dos turcos, a Albânia seria dada à Sérvia.

A vitória daqueles pequenos países balcânicos contra os turcos impressionou o mundo e


alarmou a Áustria. Quando os vencedores se desentenderam quanto à partilha, a Áustria,
receosa da expansão Sérvia no ocidente, forçou diplomaticamente o reconhecimento da
Albânia como Estado independente. Sem uma saída para o mar e frustrados nas suas
pretensões, os sérvios aguçaram seu ódio contra os austríacos. O nacionalismo sérvio
relacionou-se com o pan-eslavismo, que se baseava na ideia de que todos os eslavos da
Europa Oriental constituíam uma grande família, tendo o protetorado da Rússia.

O dia 28 de junho de 1914 ficou marcado como a data que começou a I Guerra Mundial (a
princípio conhecida como Grande Guerra, ela se tornou I apenas quando existiu a II).
Historiadores concordam que a morte de Francisco Ferdinando foi o estopim para uma
guerra que iria acontecer uma hora ou outra.

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SUMÁRIO
PENSAMENTO ILUMINISTA .......................................................................................................................... 2
PRINCIPAIS FILÓSOFOS ......................................................................................................................... 2

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PENSAMENTO ILUMINISTA
O movimento conhecido como Iluminismo (ou Ilustração) foi um influente processo cultural,
social, filosófico e político que tem suas origens ainda no século XVII, com a Revolução Científica
possibilitada pela pesquisa efetuada por nomes como René Descartes (1596-1650) e Isaac
Newton (1643-1727), mas se desenvolveu plenamente somente no século seguinte. Por tal
motivo, os anos 1700 são qualificados como o “Século das Luzes”.

Os iluministas exaltavam o poder da razão em detrimento ao da fé e da religião. Com isso,


acreditavam que poderiam reestruturar a sociedade ainda presa ao conhecimento herdado da
tradição medieval. Através da união de escolas de pensamento filosóficas, sociais e políticas, os
iluministas buscaram estender a crítica racional em todos os campos do saber humano. Assim,
enfatizavam a defesa do conhecimento racional para desconstruir preconceitos e
ideologias religiosas. Por sua vez, essas seriam superadas pelas ideias de progresso e
perfectibilidade humana.

Em suas críticas, os pensadores iluministas argumentavam contra as determinações


mercantilistas e religiosas. Também foram avessos ao absolutismo e aos privilégios dados à
nobreza e ao clero. Isso abalava os alicerces da estrutura política e social absolutista. Desta
maneira, filósofos como Diderot e D’Alembert buscaram reunir todo o conhecimento produzido
à luz da razão num compêndio dividido em 35 volumes: a Enciclopédia (1751-1780).

A difusão do iluminismo acabou abrindo portas para novas interpretações da economia e do


governo. A fisiocracia defendia que as produções das riquezas dependiam
fundamentalmente da terra. As demais atividades econômicas era apenas um simples
desdobramento da riqueza produzida em terra. Além disso, a economia não poderia sofrer a
intervenção do Estado, pois teria formas naturais de se organizar e equilibrar.

Ao mesmo tempo, o iluminismo influenciou as monarquias nacionais que viam com bons olhos
os princípios racionalistas defendidos pelo iluminismo. Essa adoção dos princípios iluministas
por parte das monarquias empreendeu uma modernização do aparelho administrativo com o
objetivo de atender os interesses dos nobres e da burguesia nacional.

PRINCIPAIS FILÓSOFOS

 Voltaire (1694-1778)

Voltaire, pseudônimo de François-Marie Arouet, foi um filósofo francês que nasceu em Paris.
Suas críticas à nobreza resultaram em várias situações de prisão e exílio. Defendia a ideia de

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uma monarquia centralizada, cujo monarca deveria ser culto e assessorado por filósofos. Foi
um crítico severo das instituições religiosas, bem como dos hábitos feudais que ainda
vigoravam na Europa. Afirmava que apenas aqueles dotados de razão e liberdade poderiam
conhecer as vontades e desígnios divinos. Sua principal obra, "Cartas Inglesas ou Cartas
Filosóficas" foi um conjunto de cartas acerca dos costumes ingleses, comparando-os aos do
atraso da França absolutista.

 John Locke (1632-1704)

John Locke era Inglês. Foi o expoente do empirismo britânico e um dos maiores teóricos do
contrato social. Afirmava que a mente era como uma "tabula rasa". Rejeitava qualquer
concepção embasada no argumento das “ideias inatas”, uma vez que todas as nossas ideias
possuíam início e fim nos sentidos do corpo. Locke combatia a ideia de que Deus decidia o
destino dos homens e alegava que a sociedade corrompia os desígnios divinos ou o triunfo do
bem. Uma das suas obras principais, “Dois Tratados Sobre o Governo Civil”, trata sobre o
absolutismo. Dentre outras obras, escreveu “Cartas Sobre a Tolerância” e “Ensaios sobre o
Entendimento Humano”.

 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)

Jean-Jacques Rousseau foi um filósofo suíço que lançou as bases para o Romantismo europeu.
Era a favor do “contrato social”, forma de promover a justiça social que dá nome a sua principal
obra. Apregoava que a propriedade privada gerava a desigualdade entre os homens. Segundo
ele os homens teriam sido corrompidos pela sociedade quando a soberania popular tinha
acabado. "O Contrato Social" é a sua obra de maior destaque.

 Montesquieu (1689-1755)

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Montesquieu, Charles-Louis de Secondat, ficou conhecido como Barão de La Brède e de


Montesquieu. Foi um famoso jurista e filósofo francês que se destacou nas áreas da filosofia da
história e do direito constitucional. Criticou de forma sistemática o autoritarismo político, bem
como as tradições das instituições europeias, especialmente da monarquia inglesa. Na sua
principal obra, “O Espírito das Leis”, defende a separação dos três poderes do Estado em
Legislativo, Executivo e Judiciário. Acredita que essa seja uma maneira de manter os direitos
individuais. Sua obra foi inspiração para a "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão"
(1789), para a Revolução Francesa e para a Constituição dos Estados Unidos (1787).

 Adam Smith (1723-1790)

Adam Smith é considerado um dos principais teóricos do movimento. Filósofo e economista


escocês, recebe o título de pai da economia moderna. Afirmava que somente com o fim dos
monopólios e da política mercantilista, o Estado iria prosperar de fato. Isso porque a riqueza
das nações advinha do esforço individual (self-interest) que, por sua vez, é o que fomenta o
crescimento econômico e a inovação tecnológica. Assim, o empreendimento privado deveria
agir livremente, com pouca ou nenhuma intervenção governamental. Isso fez com que seu
pensamento influenciasse intensamente a burguesia, desejosa em acabar com os privilégios
feudais e com o mercantilismo. "A Riqueza das Nações" é o nome da principal obra desse
pensador, enquanto "Teoria dos Sentimentos Morais” é o nome do seu principal tratado.

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SUMÁRIO
ESTADOS TOTALITÁRIOS .............................................................................................................................. 2
INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 2
NAZISMO ............................................................................................................................................. 2
FASCISMO ............................................................................................................................................ 4
FRANQUISMO ...................................................................................................................................... 5
SALAZARISMO ...................................................................................................................................... 6

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ESTADOS TOTALITÁRIOS
INTRODUÇÃO
Com o capitalismo,
pela primeira vez a
humanidade se deparou
com um sistema global
interconectado – um dos
resultados da colonização
de diversos povos ao redor
do mundo. O
desenvolvimento histórico,
político e social desse
cenário trouxe diversas
consequências que
acabaram se tornando,
também, problemas
mundiais. Assim, o
nazifascismo é um deles. As
ideologias nazifascistas
pregavam uma luta entre
raças e a soberania de um povo sobre o outro. Desse modo, essa era uma reação autoritária às
crises que se enfrentavam na Europa após a Primeira Guerra Mundial.

Entretanto, alguns autores interpretam o nazifascismo também como uma postura ou


atitude diante do mundo que perdura em alguns grupos até atualmente. Assim, ideólogos atuais
do nazifascismo levantam as ideias dos antigos líderes totalitários, como de Hitler ou Mussolini.
O nazismo caracteriza uma ideologia que se tornou emergente na Alemanha após a Primeira
Guerra Mundial. Como governo, ascendeu ao poder na década de 1930 com a proclamação de
Adolf Hitler como o líder absoluto da nação. Atualmente, esse regime é bastante conhecido por
ter perseguido judeus e homossexuais, bem como os seus campos de concentração.

O fascismo pode demarcar de modo mais específico na história, o regime de Mussolini, na


Itália. Assim, ele liderou o movimento no país e instaurou também um regime totalitário.
Semelhantemente ao nazismo, Mussolini destituiu o Parlamento, incentivou o culto à sua
própria figura, censurou a imprensa e os sindicatos. Uma vez que ambos fazem parte de
contextos históricos e sociais semelhantes, ambos os termos podem ser congregados no termo
nazifascismo.

NAZISMO
A expressão “Nazismo” deriva da sigla “Nazi”, que foi usada como abreviatura para o
“Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães”, organizado por Adolf Hitler na
década de 1920. Para compreender as principais características do Nazismo, é necessário saber
algumas informações importantes sobre o contexto no qual ele se desenvolveu.

Em 1919, ao fim da Primeira Guerra Mundial, a Alemanha, tendo perdido a guerra, foi
submetida a humilhações e cobranças por parte dos países vencedores. A população ficou
marcada por essas humilhações e por vários outros efeitos da guerra, que se refletiam em todos

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os setores: econômico, social, cultural etc. Essa atmosfera pós-Primeira Guerra produziu um
enorme ressentimento nos alemães com relação aos outros países, fato que revigorava o
extremismo nacionalista na Alemanha, originado ainda na segunda metade do século XIX.

A reorganização política da Alemanha após a Primeira Guerra ficou conhecida como a


República de Weimar, cidade onde foi elaborada a Constituição que deu as novas diretrizes
políticas ao país. O Nazismo articulou-se dentro da República de Weimar com vários outros
partidos e facções políticas e paramilitares que fizeram pressão contra o novo poder instituído.
Entre essas outras facções, havia o movimento espartaquista, uma facção comunista
influenciada pela Revolução Russa, de 1917, e liderada por Rosa Luxemburgo.

Do ponto de vista econômico, a República de Weimar conseguiu resultados satisfatórios


entre os anos de 1924 e 1929, principalmente por conta de investimentos estrangeiros,
sobretudo vindos dos Estados Unidos. Entretanto, com a Grande Depressão Americana, a
Quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque em 1929, a economia alemã naufragou junto com a
de seu principal investidor. Essa nova situação de declínio econômico favoreceu a radicalização
das propostas do Nazismo.

Adolf Hitler

Nascido em 1889 na Áustria, havia participado da Primeira Guerra como


soldado combatente da Tríplice Aliança. Após a guerra, Hitler passou a integrar um
grupo de ex-combatentes, de trabalhadores e de membros da classe média alemã
que desenvolveu uma ideologia cujo objetivo era resgatar a dignidade política da
Alemanha e o passado glorioso alemão, isto é, dar continuidade aos dois grandes
impérios que a Alemanha já havia protagonizado. Esse grupo fundou o Partido
Nazista, que se tornou o suporte político para o desenvolvimento do que Hitler
denominou “Terceiro Império” (Terceiro Reich). Ainda antes da derrocada econômica
de 1929, Hitler e seus aliados tentaram tomar o poder. Em 1923, os nazistas
articularam um golpe no Estado da Baviera e acabaram sendo presos e condenados.
Na prisão, Hitler aperfeiçoou sua ideologia e a deixou registrada no livro “Minha Luta”
(“Mein Kampf”). Todo o programa que o Partido Nazista viria a executar estava nesse
livro. Por meio do Partido Nazista, Hitler conseguiu, gradativamente, eleger
representantes no parlamento da República de Weimar e também chegar ao segundo
posto mais importante da chefia do país: o de chanceler, ficando apenas abaixo do
presidente Von Hindenburg. Em 1933, após o parlamento alemão ter sido
criminosamente incendiado (e o crime ter sido reportado aos comunistas), Hitler e
os nazistas passaram a pressionar o presidente Hindenburg a lhe dar maiores
poderes. A partir desse ano começou propriamente a ditadura nazista. Com a morte
de Hindenburg, em 1934, Hitler agregou à sua pessoa os títulos de chanceler, de
presidente e de “führer”, senhor e líder, de todos os alemães. O regime nazista
passou a ter um caráter completamente totalitário.

Características

As características principais do nazismo, enquanto ideologia instituída no poder,


derivaram-se das ideias de Hitler, desenvolvidas no período da prisão. O controle da população
por meio da propaganda era uma de suas principais ferramentas. O uso do rádio e do cinema

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foi decisivo nesse processo para que as ideias nazistas fossem propagadas. O antissemitismo
era uma dessas ideias. O ódio aos judeus, a quem Hitler atribuía a culpa por vários problemas
que a Alemanha enfrentava, sobretudo problemas de ordem econômica, intensificou-se no
período nazista. Esse fato culminou no Holocausto – morte de mais de seis milhões de pessoas
em campos de concentração (a maioria, judeus).

Associado ao antissemitismo, estava a noção racista e eugenista da superioridade do


homem branco germânico, ou da raça ariana, e a construção de um “espaço vital” para que essa
raça construísse seu império mundial. Esse espaço vital compreendia vastas regiões do
continente europeu, que, segundo os planos de Hitler, deveriam ser invadidas e conquistadas
pelos germânicos, já que a raça estava incumbida, por conta de sua superioridade, de se tornar
“senhora” sobre os outros povos.

As ideias de Hitler convenceram boa parte da população alemã, que acreditavam que a
sua figura de líder era a garantia de uma Alemanha próspera e triunfante. Essas características
do nazismo conduziram a Alemanha à Segunda Guerra Mundial, uma guerra ainda mais
sangrenta que a anterior, e ao horror da “indústria da morte” verificada nos campos de
extermínio.

FASCISMO
Na Primeira Guerra Mundial, a Itália sofreu uma derrota humilhante, na Batalha
de Caporetto, em 1917. O país estava à beira de um colapso. O parlamento era visto
como corrupto. O chefe de estado italiano era o rei Vítor Emanuel III. A sociedade o
enxergava como indeciso, tímido e sem envergadura para exercer uma liderança
naquele contexto. Em 22 anos dele como monarca, mais de 20 primeiros-ministros
passaram pelo cargo. O sentimento geral era de que um verdadeiro líder precisava
reconstruir a Itália. Em um domingo, 23 de março de 1919, homens furiosos com a
situação se uniram na Piazza San Sepolcro. Depois de horas de conversa, assumiram
o compromisso de “matar ou morrer” em defesa da Itália. Para isso, eles escolheram
como emblema o fasces, um feixe de varas de bétula com um machado acoplado. A
referência era, segundo o entendimento da época, o poder relacionado aos cônsules
romanos. O movimento que tinha como símbolo esse feixe de varas (fasces) começou
com pouco mais de 40 homens e, dois anos depois, contava com mais de duas mil
divisões territoriais. O líder máximo era Benito Mussolini e, por conta do símbolo
“fasces”, o movimento recebeu o nome de fascista.

Marcando de forma trágica o século XX, o fascismo é um tema que desafia os intelectuais
que buscam entender sua natureza e história. De forma geral, pode-se dizer que o fascismo é
uma conduta política extremamente autoritária, marcada pelo nacionalismo, pela militarização
dos conflitos e por uma preocupação obsessiva com a ideia de decadência de uma comunidade
ou nação. Hostil às formas modernas de democracia, o fascismo recorre a violência, criando um
inimigo – interno e/ou externo – que deve ser exterminado para garantir a segurança e
supremacia de um grupo considerado superior. Apesar de manifestar algumas variações – a
depender da época e do lugar onde aparece – o fascismo apresenta algumas características
típicas que se repetem.

O pensamento fascista costuma emergir e ganhar força em contextos de crise – econômica,


social ou política –, quando se apresenta como solução radical. Mobilizando os sentimentos

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legítimos de sofrimento ou injustiça, o fascismo impulsiona e enfatiza a ideia de que o grupo


que defende é a grande vítima de uma situação a ser revertida. Como toda vítima tem um algoz,
o fascismo aponta um inimigo que deve ser exterminado. No caso do nazismo – forma histórica
mais conhecida do fascismo – as vítimas eram os alemães brancos e a lista de inimigos era longa,
incluindo comunistas, negros, homossexuais, ciganos e judeus. Apelando mais aos fatores
emocionais que a argumentação racional, o fascismo encarna uma missão de regeneração
nacional que se expressa na figura de um líder extremamente carismático responsável por
salvar a nação.

No campo político institucional, o fascismo caracteriza-se por um Estado forte, exercendo


controle de todas as áreas sociais, e pela presença de um único partido. As decisões são tomadas
de forma autoritária e hierárquica, do líder supremo até os seus subordinados. O aparato
repressivo costuma contar uma polícia truculenta e bem estruturada, responsável por conter
opiniões e grupos divergentes. Na esfera civil, a violência também é motivada através da
organização de milícias compostas, sobretudo, pela juventude que adere ao fascismo. Exaltando
a juventude e a virilidade; a estética é extremamente importante nos regimes fascistas.
Propagandas, rituais e símbolos atuam mais do que os argumentos na missão de reforçar as
ideias fascistas e convocar a população à participação ativa.

No espectro político, o fascismo normalmente é localizado como parte da extrema-direita.


Entretanto, não é só ao socialismo que ele se opõe. Sua rejeição ao liberalismo é imensa,
principalmente no que diz respeito a centralidade do indivíduo. Para o fascismo, os interesses
das massas e da nação sempre se sobrepõem aos interesses individuais. Tal ética define que o
indivíduo deve ser valorizado quando está a serviço da defesa patriótica. O etnocentrismo –
ideia da superioridade de um grupo sobre o outro – é um traço fundamental do fascismo. A
regra é a discriminação e a perseguição de todos que não forem considerados como parte da
comunidade. Membros de outras raças, etnias e nacionalidades – ou mesmo aqueles que só
discordem do fascismo – devem ser combatidos como uma ameaça a integridade da nação. Do
ponto de vista da política externa, o fascismo tende a ser extremamente imperialista.

FRANQUISMO
Antes da Segunda Guerra Mundial a Espanha enfrenava um dos conflitos mais sangrentos
do país. Foram mais de um milhão de mortos e centenas de feridos durante a Guerra Civil
Espanhola. Os conflitos só terminaram quando, em 1939, Francisco Franco tomou a liderança
da Espanha instaurando no país o que ficou conhecido como Franquismo.

Assim, o Franquismo foi um período intenso de 1939 até 1976, onde o líder Francisco
Franco impôs regras e ordem de um regime de dominação política. O início do Franquismo foi
no mesmo ano que a Segunda Guerra começou. Como os países que eram regidos pelo fascismo
ajudaram a Espanha durante a guerra civil, Francisco Franco colaborou com a Alemanha e Itália
durante a guerra mundial. Apesar dos países do Eixo terem perdido o conflito, o regime fascista
continuou vigorando na Espanha após o término da guerra. Entretanto, apesar dos regimes
fascistas terem sofrido forte repressão com o fim da guerra, a ditadura de Francisco não foi
abalada. Dessa forma, a Espanha enfrentou trinta e sete anos do regime Franquista no país.

Uma das principais características do regime Franquista na Espanha era a repressão a


grupos que se opunham ao governo. Dessa forma, a população era regida por forte dominação
política. Além disso, o regime era baseado no catolicismo e no anticomunismo. Apesar do
fracasso na economia, o governo de Francisco recebia apoio da Igreja e do exército. Assim, a
dominação política nos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) era fácil e sem

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empecilhos. Além disso, a divisão dos poderes políticos servia como forma de camuflar a
ditadura que estava instalada no país.

SALAZARISMO
O salazarismo foi um regime ditatorial que existiu em Portugal entre 1933 e 1974 e ficou
bastante conhecido como Estado Novo. O termo “salazarismo” faz menção a António de Oliveira
Salazar, chefe de governo de Portugal entre 1933 e 1968. Esse período ditatorial em Portugal
somente se encerrou quando a Revolução dos Cravos derrubou a ditadura e deu início à
reconstrução da democracia portuguesa.

Antecedentes

Em 1910, uma revolta derrubou a Monarquia Constitucional Portuguesa e implantou a


república no país. Com isso, foi iniciada a Primeira República Portuguesa, um período marcado
por muitos problemas econômicos e por enorme instabilidade política. Os problemas internos
de Portugal foram agravados pelo envolvimento do país na Primeira Guerra Mundial. Na década
de 1920, o discurso conservador e autoritário começou a ganhar força como a saída para os
problemas portugueses.

Isso resultou no Golpe de 28 de maio de 1926, que foi realizado por militares
conservadores. Esse golpe deu início a um regime ditatorial em Portugal conhecido como
Ditadura Nacional. Poucos anos depois, em 1928, António Salazar, professor universitário na
Universidade de Coimbra, foi nomeado para a chefia do Ministério das Finanças. Em 1933,
Salazar foi indicado para assumir o cargo de presidente do Conselho dos Ministros. Essa função
correspondia, na realidade, à posição de chefe de Estado e, com isso, iniciou-se a longa ditadura
salazarista, que recebeu o nome de Estado Novo.

Com sua indicação para a presidência do Conselho dos Ministros, Salazar começou a
organizar-se politicamente para implantar uma nova Constituição em Portugal. Considera-se a
promulgação da Constituição de 1933 como o marco que inaugurou o Estado Novo português.
O regime salazarista ficou marcado por ser antidemocrático, antiliberal, corporativista,
colonialista e conservador. O contexto histórico e as características da ditadura salazarista
fizeram muitos historiadores afirmarem que o regime de Salazar tinha orientação fascista. Essa
associação do salazarismo com o fascismo é atualmente questionada por diversos historiadores
e, no momento, não existe um consenso se o salazarismo foi fascista ou não.

Características

 Corporativismo: o Estado colocou-se como mediador das relações entre patrões e


empregados. O objetivo disso era enfraquecer sindicatos e os conflitos entre
classes em Portugal.
 Perseguição aos partidos políticos e aos opositores: durante o regime salazarista,
somente o partido do governo (União Nacional) tinha autorização para funcionar.
 Concentração de poder: o poder político em Portugal concentrava-se nas mãos do
líder.
 Censura: o objetivo era permitir somente a veiculação de informações com a
ideologia oficial do governo.
 Anticomunismo: houve associação direta do regime com ações que visavam ao
combate do comunismo.

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 Nacionalismo e colonialismo: o governo defendeu e lutou pela manutenção do


império colonialista português.
 Defesa de ideais conservadores sob o lema “Deus, pátria, família”.

Fim do Salazarismo

O regime salazarista entrou em decadência na década de 1960. Houve grande


desgaste do regime por questões econômicas, uma vez que Portugal era claramente
uma nação economicamente atrasada em relação aos seus vizinhos europeus. Para
agravar a situação de Portugal, o país meteu-se em guerras coloniais. Essas guerras
fizeram parte de um esforço da ditadura portuguesa para impedir que as colônias
portuguesas na África e Ásia conquistassem a independência. Essas guerras foram
extremamente impopulares em Portugal e agravaram a situação econômica do país.
Os portugueses lutaram contra os movimentos de independência em locais como
Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Goa e Timor-Leste. Em 1968, António Salazar
foi substituído no comando de Portugal por Marcello Caetano. O afastamento de
Salazar aconteceu porque a saúde do ditador português estava bastante fragilizada.
Salazar acabou falecendo em 1970, aos 81 anos de idade. Apesar da troca no
comando do Estado Novo português, o regime continuou impopular na sociedade. As
alas mais conservadoras do Estado Novo recusavam a permitir que reformas
acontecessem no sentido de promover a abertura do regime. Por isso, uma ala do
exército insatisfeita com a ditadura portuguesa organizou um golpe para derrubar
Caetano. Esse golpe ficou conhecido como Revolução dos Cravos e aconteceu em 25
de abril de 1974. Nesse dia, as tropas portuguesas ocuparam locais importantes em
Lisboa e ordenaram a destituição de Marcello Caetano do comando do país. Com a
Revolução dos Cravos, a ditadura portuguesa foi destituída, e o regime democrático
no país foi reconstruído.

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