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Índico. Sua localização no globo lhe confere características exemplares dos efeitos da latitude no clima,
vegetação e relevo na Terra. Assim, o continente apresenta variados aspectos naturais que influenciaram
bastante em como o ser humano se propagou e se instalou nessas diferentes regiões. É comumente sabido
que o homo sapiens tem como local de origem o atual território da Etiópia, no chamado Chifre da África, na
parte leste do continente. Dali, o ser humano moderno se propagou até chegar à Ásia e à Europa,
conquistando o resto do globo ao longo do tempo.
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Todo o continente africano tem um certo estereótipo no senso comum, sendo considerado o lugar da
pobreza, da fome e de doenças. Essa imagem foi construída ao longo dos anos, desde os primeiros
navegantes europeus, durante a era da escravidão, seguindo-se pelo período colonial e pós-colonial, até os
dias de hoje. Os índices de desenvolvimento humano (IDH), que consideram dados sobre a economia,
demografia, infraestrutura e outros principais aspectos desses países, mostram como, infelizmente, esse
retrato não mudou muito nos últimos anos. Essa pobreza generalizada provém, principalmente, de como o
processo de colonização deste continente foi altamente agressivo, numa exploração que continua até hoje.
Desde os recursos naturais, como metais e minerais preciosos (ouro, diamante, petróleo, por exemplo), até
mesmo os próprios habitantes (no período da escravidão), tudo que a África podia fornecer aos países
hegemônicos foi explorado de forma não-sustentável e predatória. Considerar as dificuldades naturais como
única causa das moléstias africanas pode ser um grande erro: além disso, a má administração e distribuição
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de renda e de infraestrutura ocasiona os principais problemas sociais desses países. Outro erro comum é
considerar a África toda como um só país, com um só povo, algo surpreendente ao se considerar sua grande
diversidade natural e humana.
A população africana é tão diversificada como seus aspectos naturais, milhares de tribos se espalharam por
todo o continente, criando suas próprias culturas, idiomas e formas de viver e formando impérios e
sociedades relativamente desenvolvidas.
Com a expansão dos impérios europeus pelo globo, a partir do século XV, a África se tornou alvo da
especulação dos exploradores que almejavam chegar nas chamadas Índias, na Ásia. Antes, esse caminho era
feito por terra, mas com a tomada da Turquia pelos otomanos, e o fechamento das rotas de comércio,
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tornou-se necessário contornar todo o continente africano através dos oceanos Atlântico e o Índico. Nesse
caminho, foram criando vários postos no litoral do continente africano, pequenas vilas e portos, que
serviam de apoio às naus que seguiam até a Ásia. E a partir dessas vilas começou a colonização do litoral
africano, e com o tempo, os europeus foram adentrando no continente. Os europeus encontraram diversos
tipo de sociedades africanas, desde aquelas nômades e as tribos patriarcais até verdadeiros impérios, como
o Ife, da etnia yorubá, no oeste do continente, e o Congo, no centro. Estas sociedades sobreviviam
teve seu começo em 1441 quando um capitão de mar português, Antam Gonçalvez, sequestrou um homem e
uma mulher no litoral do Saara Ocidental para agradar seu empregador, Infante Dom Henrique, o
Navegador - Antam foi posteriormente intitulado cavalheiro. Depois de não conseguir capturar Ceuta,
cidade que fica na margem africana do estreito de Gibraltar, na costa do Marrocos, em 1415, para tomar a
rota do ouro, os marinheiros portugueses seguiram rumo ao oeste da África em busca desse mineral
precioso. Foi estabelecido, então, na Ilha Arguin, perto da costa da Mauritânia, um entreposto para compra
do ouro, e de escravos, que começaram a ser usados no sul da Europa desde meados do século XV onde a
mão de obra era escassa após a epidemia da Peste Negra, e a escravidão do império romana tinha
sobrevivido, especialmente na produção de açúcar, a qual os europeus aprenderam dos árabes durante as
Cruzadas. Com a expansão da produção de açúcar na região do Mar Mediterrâneo, nas ilhas do Atlântico,
até chegar nas Américas, o trabalho escravo era cada vez mais necessário.
O mercado de escravidão negra no Atlântico foi uma resposta a esta demanda. Porém, este mercado
dependia dos próprios africanos quererem vender escravos. Eles o faziam devido a uma dificuldade de criar
demanda de trabalho apenas por motivações econômicas. Isso já tinha estimulado a escravidão e o mercado
que escaparam para criar comunidades independentes - os quilombos, tinham origem de nações sem
estado.
Fluxo de escravos da África para países do Atlântico por séculos, entre 1519-1867.
Séculos Escravos
1519-1600 266.000
1601-1700 1.252.800
1701-1800 6.096.200
1801-1867 3.446.800
Total 11.061.800
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A escravidão teve efeitos extensivos e complexos. Para começar, a exportação dos escravos interrompeu o
crescimento demográfico do oeste africano por dois séculos. O mercado escravocrata estimulou novas
formas de organização social e política e o uso extensivo dos escravos no próprio continente. As sociedades
subsaarianas já apresentavam um atraso tecnológico, mas o mercado escravocrata ajudou a acentuar essa
precariedade. Apesar de que, em meio a essa miséria, os africanos “sobreviveram” à escravidão com suas
Durante os últimos vinte anos do século XIX, as potências europeias dividiram o território africano entre
elas. Para tanto, empreenderam armas, códigos de honra militar, e uma longa hostilidade no controle
governamental. As dificuldades de estabelecer países foi a mesma que os próprios africanos sofreram ao
longo da história, porém, os europeus tinham a vantagem tecnológica: possuíam armas de fogo, transporte
mecânico, habilidades médicas, e eram, na maioria, alfabetizados. Cada colônia, ao se especializar em
algum tipo de produção para o mercado global adquiria assim uma estrutura econômica que pode muitas
vezes sustentar estes países durante o século XX. Outro efeito da colonização europeia foi o grande impacto
na demografia africana.
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A incursão europeia para o interior do continente africano foi lenta e só começou a se acelerar na parte do
final da década de 1870. Os principais impérios europeus que participaram dessa colonização foram o
francês e o britânico, mas também o espanhol, o português. A Bélgica, Itália e Alemanha tentaram criar
seus países africanos. No mapa a seguir, pode-se ver quais colônias africanas faziam parte de qual império
ou país europeu. Para este curso, é importante notar quais os países africanos foram colônias do império
britânico, e portanto, tiveram influência deste nas suas línguas e nas suas culturas.
Limitados pela inferioridade tecnológica, os africanos tiveram que decidir se lutavam ou negociavam com
os invasores que pretendiam manter o poder concedido por um contrato para o governo dos territórios. Eles
tiveram, então, que encontrar um equilíbrio entre a exploração e a manutenção de alguma independência e
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“Get to know your district, and your people. Keep an eye on them, collect tax if possible,
but for God’s sake don’t worry headquarters”, frase de um veterano nativo da Rodésia do
No período colonial, a educação teve um papel importante no desenvolvimento de uma cultura ocidental
nesses países. Porém, ela podia tanto oferecer mão de obra mais letrada, quanto possibilitar uma
diferenciação social e conflitos políticos, entre aqueles que tinham acesso às informações e educação.
Muitas vezes, estes puderam criar para si novos valores de herança e novas ideias que deram ao período
colonial, e influenciando o pós-colonial, muito da sua vitalidade.
africano, o que possibilitou a luta por eleições que tinham um foco nacionalista ao invés do
posicionamento racial das elites. Movimentos nacionalistas defendiam a ideia de que os próprios
moradores nativos podiam apoiar ideias nacionalistas em prol das aspirações e perspectivas locais. Porém,
as eleições eram uma estratégia dos governos europeus, que estruturavam o sistema eleitoral de modo que
nações.
Um período de crescimento econômico global trouxe nova prosperidade para muitas partes do continente
africano. A população saltou de cerca de 200 milhões de pessoas em 1950, para quase 500 milhões em 1980.
Porém, durante a década de 1970 chegaram os custos de tamanho crescimento como o desemprego e a falta
de recursos. Os heróis nacionalistas que lutaram para criar seus novos Estados-nações se transformaram em
autocratas, com a crise global escancarando as fraquezas de um rápido crescimento demográfico e
econômico.
A produção de comida era o aspecto mais grave da crise nessas economias emergentes. Devido ao rápido
crescimento populacional, a produção de comida tornou-se deficitária. Estimativas indicam que a produção
per-capita dos países subsaarianos era adequada até 1960, porém sofreu um forte declínio, de até 1% por
ano, durante os 25 anos seguintes, até que, em meados dos anos 1980, essa taxa diminuiu ou se estagnou. A
agricultura sofreu muito com imposições estatais, tais como reformas agrárias radicais que acabavam por
diminuir a produção de comida.
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Pode-se indicar os principais problemas enfrentados pelos novos países africanos. Primeiramente, a
política extremamente local, fomentada por um sistema político “bairrista”. Segundo, velhos problemas
africanos: grandes áreas pouco povoadas, sistemas de comunicação pobres, alfabetização limitada, e
códigos de honra que encorajavam a ostentação de poder. Em terceiro lugar, obstáculos provenientes da
descolonização como as fronteiras internacionais arbitrárias, rivalidades regionais e sociais entre ricos e
pobres, aumento populacional pressionando os recursos básicos e outros. E ainda, o idealismo da
descolonização trazia algumas consequências como uma urgência pelo desenvolvimento, às vezes violenta:
coalizões oportunistas, rivalidades regionais mobilizadas por competições políticas, constituições
desenhadas para fins de curto prazo, ansiedade de imitar os Estados-nações mais avançados daquele tempo,
expectativas exageradas a partir de vitórias fáceis, pessoas com foco local exercendo o sufrágio universal.
Portanto, os desafios foram e ainda são numerosos para o desenvolvimento dessas sociedades.
Apesar do crescimento populacional estável na década de 1980, a África sofreu mais um grande desafio, a
epidemia de AIDS que levou sofrimento e novas formas de socialização. Porém, a partir da virada para o
século XX, a epidemia apresentou números menos assustadores com o avanço da tecnologia médica e com
ajuda proveniente dos países desenvolvidos.
2. Literatura pós-colonial
De acordo com o texto “Introdução ao estudo das literaturas pós-coloniais” (1998), de Thomas Bonnici,
entende-se como literatura pós-colonial a produção de obras literárias no período após a emancipação dos
países africanos, asiáticos e latino-americanos. Essa literatura emergiu e se desenvolveu graças a dois
fatores principais: o nacionalismo e o contraponto frente à literatura tradicional da supremacia europeia.
Num primeiro momento, classifica-se como literatura colonial aquelas obras produzidas pelo poder
colonizador (viajantes, administradores, soldados, etc.) que retratavam os costumes, a fauna e flora, e a
língua sobre o local colonizado, sempre tendo a metrópole como referência, em detrimento da colônia.
Posteriormente, apareceram “os textos literários escritos sob supervisão imperial por nativos que
receberam educação na metrópole e que se sentiam gratificados em poder escrever na língua do europeu”.
(BONNICI, p. 12, 1998)
Finalmente, a terceira etapa engloba os textos produzidos que apresentavam uma diferenciação à literatura
tradicional europeia ou até mesmo uma total ruptura com essa tradição. Por exemplo, o romance Things
Fall Apart (1958), de Chinua Achebe, ridicularizava o administrador colonial que pretendia escrever sobre os
costumes “primitivos e selvagens” de tribos do alto Rio Níger, enquanto o autor já havia explorado a
complexidade da cultura, religião, hierarquia, legislação e provérbios da tribo dos igbos, em Umuofia.
padrão dominante e sua assimilação ou internalização; (2) a rebelião, onde tudo o que foi excluído pelo
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padrão dominante começa a ser valorizados.” (BONNICI, p. 18, 1998). A literatura pós-colonial é, portanto,
um ato de subversão, de resposta à supremacia europeia. Elas seguiam esse mote impulsionadas por ideias
de nacionalismo e pelo questionamento da visão europeia e eurocentrista do mundo, desafiando a relação
dominador-dominado.
A reinterpretação do cânone europeu se dava a partir do questionamento de temas anteriormente ocultos
nessas obras. Por exemplo, em Mansfield Park (1814), de Jane Austen, as bases econômicas da elite inglesa
ficavam envolvidas em um silêncio moral: a denúncia do tráfico de escravos e do lucro auferido do trabalho
escravo desenvolvido na ilha de Antigua, na América Central, por Sir Thomas Bertram, o tio da protagonista
Fanny não passou de um mero detalhe. Ou seja, na reinterpretação da literatura pós-colonial o silêncio de
tais assuntos em obras como essa de Jane Austen serviam de denúncia e tornavam-se o principal tema da
(1986), do escritor sul-africano J. M. Coetzee (1940- ) é uma famosa reescrita do consagrado romance
Robinson Crusoé, de Daniel Defoe (1719). Bonnici (1998) descreve os principais aspectos do romance Foe, e
como ele pode ser comparado ao romance Robinson Crusoé:
"Em Foe, o narrador não é mais o inventivo e prático Robinson Crusoé, mas uma mulher inglesa chamada
Susan Barton. Desterrada numa ilha, ela encontra um pacato e desanimado Crusoé e seu escravo, o africano
Friday. Crusoé morre durante a viagem de volta à Inglaterra. Na metrópole, Susan tem dois problemas:
transmitir a sua narração da estada na ilha a um elusivo escritor Mr. Foe e arrancar do mudo Friday a sua
história. Ambas as tarefas tornam-se quase impossíveis: a primeira por causa da pretendida manipulação da
história por Mr. Foe e a segunda pela incompreensão do europeu diante de singulares manifestações
“literárias” empreendidas por Friday. O romance avança na problemática posta pelo romance original e
discute o silêncio do colonizado, a possibilidade de fala após uma história de brutalidades cometidas pelos
mais condizentes com a realidade africana, com o intuito de contar a história dos povos africanos a partir
de seus próprios pontos de vista. Assim, a resistência é fundamental para a constituição do romance
africano.
Além disso, o romance africano, conforme ressaltam Chinweizu, Onwuchekwa Jemie e Ihechukwu
Madubuike (1985), preservou o caráter de obra híbrida entre a tradição oral africana e as formas literárias
importadas da Europa. Para eles, isso torna o romance africano diferente dos romances tradicionais
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ocidentais. Além disso, a relação dominador-dominado enseja diferentes efeitos sobre a colônia e a
metrópole. Esses autores defendem isso em resposta à crítica ocidental de que o romance africano não
tenha sido capaz de se adequar aos cânones do gênero. (CARBONIERI et al., p. 14, 2013)
Segundo os teóricos supracitados, a presença dessa grande tradição oral fez com o que o mundo
representado por ela fosse, no mínimo, diferente:
[o] mundo africano é definido por cosmografias comuns e herdadas da tradição que
abraçam, em sua concepção da sociedade humana, o mundo espiritual dos mortos e não?
nascidos, assim como o mundo dos vivos. É uma cosmografia que pressupõe a
interpenetração entre esses reinos e a íntima interação entre seus habitantes humanos e
espíritos. Em suma, o universo africano é mais inclusivo do que o universo oficial revisado
AL., P. 16 , 2013).
ATIVIDADE FINAL
Qual das alternativas NÃO mostra uma das vantagens que os europeus
A. Armas de fogo.
B. Transporte mecânico.
C. Maior população.
D. Habilidades médicas.
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REFERÊNCIA
BONNICI, T. Introdução ao estudo das literaturas pós-coloniais. Mimesis, Bauru, v. 19,
n. 1, p. 07-23, 1998.
CARBONIERI, Divanize. Rumos do romance africano de língua inglesa na contemporaneidade. Campo
Grande: UFMT. 2013.
ILIFFE, John. Africans: The History of a Continent. London: Cambridge University Press. 2007.
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