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A Colonização e a Descolonização

da África
O continente africano é o mais pobre
economicamente do planeta, além de apresentar
vários problemas de ordem social (conflitos étnicos,
fome, doenças, etc.). Um dos principais motivos
desse cenário foi o processo de colonização e
independência dos países africanos, em que apenas
os interesses das potências imperialistas foram
levados em conta.

Ao abordar os problemas sociais da África é de


fundamental importância esclarecer sobre as raízes
históricas desse fenômeno, despertando o senso
crítico dos alunos. Explique que a divisão territorial
do continente teve como critério apenas os
interesses dos colonizadores europeus, desprezando
as diferenças étnicas e culturais da população local.
Esse processo foi marcado por muita violência e
intensa exploração das riquezas dos países africanos
que, após conquistarem a independência, ficaram
instáveis politicamente e economicamente, visto
que os colonizadores simplesmente abandonaram a
região em meio a diversos conflitos étnicos e
separatistas.
Em seguida, solicite a leitura e análise do poema
“Reza, Maria”, cuja autoria é de um escritor de
Moçambique, denominado José Craveirinha.

Reza, Maria

“Suam no trabalho as curvadas bestas


e não são bestas
são homens, Maria!

Corre-se a pontapés os cães na fome dos ossos


e não são cães
são seres humanos, Maria!

Feras matam velhos, mulheres e crianças


e não são feras, são homens
e os velhos, as mulheres e as crianças
são os nossos pais
nossas irmãs e nossos filhos, Maria!

Crias morrem à míngua de pão


vermes na rua estendem a mão à caridade
e nem crias nem vermes são
mas aleijados meninos sem casa, Maria!

Do ódio e da guerra dos homens


das mães e das filhas violadas
das crianças mortas de anemia
e de todos que apodrecem nos calabouços
cresce no mundo o girassol da esperança.

Ah! Maria,
põe as mãos e reza.
Pelos homens todos
e negros de toda a parte
põe as mãos
e reza, Maria!”

Através da análise do poema é possível trabalhar a


forma de exploração dos colonizadores, a violência
imposta, os massacres à população local, o descaso
das organizações internacionais com a África, a
degradação do ser humano com tal situação, entre
outros aspectos.

Destaque que Moçambique (país do escritor do


referido poema) foi colônia portuguesa, e que a
população nativa do Brasil (índios) também sofreu
com a violência dos colonizadores. Outro elemento
importante a ser destacado no poema se refere à
Maria (mães de Jesus): o autor traça uma espécie de
desabafo e pede para que Maria reze em proteção
dos negros africanos. Por fim, proponha a realização
de uma redação abordando as consequências da
colonização na África e o poema analisado.
O Início da Colonização da África
O continente africano e o asiático foram os últimos a serem
colonizados pelos europeus. Nas Américas, o processo de
colonização teve início ainda no século XVI. Três séculos mais
tarde o continente americano já havia sido descolonizado e a
Primeira Revolução Industrial se encontrava em plena
expansão. Diante disso, os europeus buscaram novas fontes de
recursos para abastecer as suas indústrias.

No século XIX, as nações europeias, como Inglaterra, França,


Bélgica, Holanda e Alemanha, começaram a explorar de
maneira efetiva o continente africano e o asiático. A Revolução
Industrial motivou esses países a explorar matérias-primas,
especialmente minérios, dentre os quais podemos destacar o
ferro, cobre, chumbo, além de produtos de origem agrícola,
como algodão e borracha; todos fundamentais para a produção
industrial.

As nações americanas que foram descolonizadas se tornaram


um mercado promissor para os produtos industrializados
europeus, tendo em vista que a procura na Europa por tais
mercadorias estava em queda.
As potências europeias, para garantir matéria-prima, ocuparam
os territórios contidos no continente africano. Logo depois,
promoveram a partilha do continente entre os principais países
europeus da época, dando direito de explorar a parte que coube
a cada nação.

A divisão do continente africano foi consolidada através de um


acordo realizado em 1885. Esse evento contou com a
participação da Inglaterra, França, Bélgica, Alemanha, Itália,
Portugal e Espanha. Esse acordo foi executado na Conferência
de Berlim.
Porém, o processo de exploração da África aconteceu antes
mesmo de haver a partilha do território, isso porque diversos
países enviaram delegações de cientistas para o continente.
Segundo eles, os cientistas tinham o propósito de realizar
pesquisas de caráter científico, mas na verdade esses coletavam
dados acerca do potencial mineral, ou seja, as riquezas do
subsolo.

Anos depois, grande parte do território africano estava


colonizada. Os europeus introduziram culturas que não faziam
parte da dieta do povo nativo. Os colonizadores rapidamente
promoveram as plantations, com destaque para a produção de
café, chá, cana-de-açúcar e cacau.

Outra atividade desenvolvida foi o extrativismo mineral, com


destaque para a extração de ouro, ferro, chumbo, diamante,
entre outros. Assim, os europeus conseguiram garantir por um
bom tempo o fornecimento de matéria-prima para abastecer as
indústrias existentes nos países europeus industrializados.

A Conferência de Berlim

A Conferência de Berlim aconteceu entre novembro


de 1884 e fevereiro de 1885 e delimitou regras e
acordos durante a ocupação do continente africano
pelas potências europeias. Conhecido também
como partilha da África, esse evento oficializou
o neocolonialismo que resultou na extensa
exploração econômica de colônias africanas pelos
países europeus.

A Conferência de Berlim foi resultado do


surto neocolonialista que surgiu a partir da segunda
metade do século XIX. A Europa estava
experimentando um grande desenvolvimento
tecnológico conhecido como Segunda Revolução
Industrial. Esse crescimento tecnológico promoveu
avanços na produção de energia, na química e no
desenvolvimento de meios de transporte mais
eficientes etc.

À medida que o capitalismo sofria transformações a


partir desse desenvolvimento tecnológico, surgiu
como necessidade o impulso imperialista para dar
continuidade no processo exploratório de matérias-
primas e de obtenção de novos mercados
consumidores. Os continentes africano e asiático
apareceram, então, como alvo da ambição das
potências industrializadas europeias.

O impulso neocolonialista no continente africano,


segundo Valter Roberto Silvério, foi acirrado pelas
ações de três países. Primeiramente, houve o
interesse dos belgas, com o rei Leopoldo I, em uma
região da África chamada Congo (atual República
Democrática do Congo). Esse projeto do rei belga
continuou com seu filho, Leopoldo II, que manteve
um dos domínios imperialistas mais cruéis e que foi
responsável pela morte de milhões de habitantes do
Congo.

O segundo impulso foi dado por Portugal ao anexar


regiões do interior de Moçambique. Posteriormente,
Portugal defendeu a ideia do “mapa cor-de-rosa”,
que estipulava a unificação territorial entre dois
domínios portugueses (Moçambique e Angola). Por
fim, a política expansionista francesa também
contribuiu para que ocorresse uma corrida de
ocupação do continente africano.

Os países europeus buscaram de maneira


desenfreada tomar posse do máximo possível de
territórios no continente africano. A falta de
regulamentação dessa ocupação levou a inúmeros
atritos diplomáticos entre esses países da Europa
por disputas territoriais na África. Com o intuito de
resolver essas questões, foi sugerida uma
conferência internacional.

A Conferência de Berlim foi inicialmente idealizada


por Portugal, porém, os alemães realizaram-na entre
novembro de 1884 e fevereiro de 1885, sob a
liderança do chanceler alemão, Otto von Bismarck.
Esse evento reuniu catorze potências da época com
intuito de debater a ocupação da África.

Inicialmente, foi proposto por Portugal o “mapa cor-


de-rosa” que sugeria a criação de um domínio que
unificasse, de leste a oeste, dois territórios
portugueses: Angola e Moçambique. A proposta foi
prontamente rejeitada pelo Reino Unido, que
pressionou Portugal a abandonar essa ideia (o que
de fato aconteceu).

Além disso, foi debatida durante essas reuniões a


questão do domínio de determinadas regiões do
Congo ocupadas pelos belgas. A Conferência de
Berlim também determinou que os rios Níger e
Congo seriam de livre navegação, ou seja, estavam
abertos a todos os países. Por fim, foram
determinados, em parte, os territórios que seriam
ocupados e divididos na África da forma que melhor
agradasse as potências industrializadas.

Justificativas para a ocupação e


resistência
A ocupação do continente africano foi realizada sob
a justificativa de missão civilizatória que propunha
acabar com a escravidão (ainda existente em partes
da África). Além disso, as potências justificavam que,
a partir da ocupação do continente, seria possível
levar o cristianismo e também as “benesses” da
civilização ocidental às populações. Naturalmente,
todas essas justificativas eram utilizadas como
pretexto para mascarar o real interesse: impor uma
exploração econômica intensa sobre a África.
A ocupação do continente não aconteceu de
maneira passiva. Houve movimentos de resistência
em diferentes partes da África, no entanto, em razão
da diferença de organização militar e de tecnologia,
a resistência africana, em geral, teve apenas efeito
de retardar o domínio europeu.
A Descolonização da África
O continente africano foi colônia de potências
europeias até a segunda metade do século XX. Sua
independência se deu pela ocorrência da Segunda
Guerra Mundial, que aconteceu na Europa entre
1939 e 1945. Um acontecimento que envolveu
muitos países, dentre eles nações europeias que
detinham territórios de exploração no continente
africano.

Após o conflito, a Europa ficou bastante debilitada


no âmbito político e econômico. O enfraquecimento
das nações fez ressurgir movimentos de luta pela
independência em todas as colônias africanas. No
decorrer da década de 1960, os protestos se
multiplicaram e muitos países europeus concederam
pacificamente independência às colônias. Porém, a
independência de alguns territórios se efetivou
depois de prolongados confrontos entre nativos e
colonizadores.

As antigas colônias se transformaram em países


autônomos, no entanto, a partilha do território foi
realizada pelas nações europeias, que não
consideraram as divergências étnicas existentes
antes da colonização. Desse modo, os territórios
estipulados pelos colonizadores separaram povos de
mesma característica histórico-cultural e agruparam
etnias rivais.

Tal iniciativa produziu instabilidade política, que


resultou em diversos conflitos entre grupo étnicos
rivais. Diante dessa situação, as minorias
continuaram sendo reprimidas por grupos
majoritários, assim como acontecia no período
colonial.

O continente está atualmente fragmentado em 53


países independentes. A incidência de conflitos
tribais e o neocolonialismo dificultam a instabilidade
política e econômica da região.

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