Você está na página 1de 87

Muitas vezes, quando vemos notícias relacionadas aos países do continente africano, elas

estão relacionadas aos diferentes conflitos existentes e às dificuldades financeiras enfrentadas


pela população local. E qual seria o motivo disso?

Para entender a situação atual do continente e o poder econômico dos países europeus, é
importante conhecer o processo imperialista que ocorreu no século XIX e que até hoje
influencia diretamente as relações de poder no cenário mundial e evidencia as desigualdades
entre as diferentes regiões do mundo.

Nesse texto, falaremos sobre como ocorreu esse processo e suas consequências para a África
atual.
O que foi o Imperialismo?

O Imperialismo – também conhecido como Neocolonialismo – foi uma forma de dominação


econômica, política e social pelas potências industriais europeias sobre países africanos e
asiáticos durante o século XIX. Essa dominação ocorreu devido à busca incansável pelo
lucro, uma vez que a Europa passava pela Segunda Revolução Industrial e necessitava de
matérias-primas, mão-de-obra barata e mercado consumidor, buscando-os, assim, em outras
regiões do globo.

Com sua riqueza em minerais preciosos e reservas de petróleo, o continente Africano logo se
tornou atrativo para os países europeus. Vale destacar que esse processo está inserido no
contexto capitalista – mais precisamente no contexto do capitalismo industrial – afinal, a
produção industrial em massa era a prioridade para manter o sistema de consumo
funcionando, foi por isso, então, que as potências europeias passaram a disputar os territórios
africanos no século XIX.

Ver saber mais sobre argumentos contra e a favor do capitalismo!

O Tratado de Berlim e a divisão do Continente Africano

Quando o assunto é o Imperialismo não se pode esquecer do Tratado de Berlim, visto que foi
definidor para a divisão do continente africano entre os países europeus.
Conhecido como “O futuro da África”, o Tratado de Berlim foi uma reunião entre as
potências imperialistas da época (Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, Espanha, Portugal,
Bélgica, Holanda etc.), e baseou-se no desejo dos países participantes em adquirir territórios
no continente africano. Esse Tratado ocorreu na cidade de Berlim (atual capital da
Alemanha), no ano de 1884, e tinha como objetivo inicial o domínio europeu das rotas
fluviais africanas.

Ao final do acordo, as regiões dá África foram repartidas entre os países mais poderosos da
época, estabelecendo assim os limites territoriais do continente, da maneira que conhecemos
hoje. É importante salientar que nem todas as nações participantes do Tratado receberam
territórios africanos; todavia, havia um interesse comum entre elas quanto aos futuros acordos
comerciais.

Os principais países que ficaram com as maiores porções de territórios no continente africano
foram a Inglaterra e a França. Podemos identificar os rastros imperialistas nos países
colonizados principalmente através dos idiomas falados (como línguas oficiais ou não) pela
população nativa, como o inglês em países como África do Sul, Botswana, Camarões etc, e o
francês no Senegal, Costa do Marfim, Guiné e alguns outros.

É importante destacar que a divisão desigual dos territórios do continente africano entre os
países europeus no século XIX foi uma das razões para o surgimento da Primeira Guerra
Mundial em 1914. Buscando aumentar o poder de influência por meio do domínio não
somente nas nações colonizadas, mas no mundo como um todo, gerou-se atritos entre as
potências europeias, e posteriormente uma das maiores guerras já existentes.

Consequências do Imperialismo para o continente


africano
Vamos a uma analogia: imagine que você vive em uma cidade e que cada bairro possui os
seus próprios costumes e líderes locais. Em um certo momento, chegam pessoas de outro
continente com uma cultura completamente diferente da que você está habituado e tomam
posse daquela região em que você vive, unificando o local e misturando diversos bairros,
tornando-os um só. Foi dessa forma que ocorreu a partilha do continente africano pelos
europeus: de maneira desordenada e desconsiderando as diferenças étnicas das tribos locais.

Com a mistura de tribos culturalmente distintas em uma mesma delimitação territorial,


surgem os conflitos no Continente Africano que ocorrem até os dias atuais. Esses conflitos
vão desde disputas territoriais entre tribos até desavenças religiosas. Pode-se dizer que os
países europeus auxiliaram no processo de estabelecimento desses conflitos durante a
neocolonização quando por exemplo, apoiavam líderes de determinadas etnias ou tribos para
o controle de uma zona que desejavam exercer influência. Alguns exemplos contemporâneos
são: os conflitos entre Sudão e Sudão do Sul e o genocídio de Ruanda.

Além dos conflitos étnicos existentes, há também outros problemas causados pelo processo
imperialista do século XIX nos países africanos, como, por exemplo, a miséria e as crises
humanitárias vivenciadas pela população local.

A falta de alimentos e recursos básicos para a sobrevivência e bem-estar da população


africana são um dos maiores desafios enfrentados e que demonstram as desigualdades
continentais existentes. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação
e Agricultura (FAO), 257 milhões de pessoas passam fome na África, o que representa cerca
de 20% da população total do continente. Tais crises humanitárias atuais, além do clima do
continente e de fatores como as concentrações de poder existentes, podem ser relacionadas
com o processo Imperialista uma vez que a Europa foi a responsável por explorar grande
parte dos recursos do Continente Africano.

Justificativas europeias para o Imperialismo


Para justificar as ações de dominação imperialistas sobre a África e a Ásia, os europeus
utilizaram argumentos racistas, baseados na ideologia racial europeia do século XIX que
colocava os habitantes da Europa em um patamar de superioridade quando comparados com
outras raças, as quais eram vistas como inferiores. Entre essas teorias, iremos destacar o
darwinismo social e a eugenia.

Darwinismo Social: corrente de pensamento que baseava-se na Teoria da Evolução das


Espécies de Charles Darwin, em que acreditava-se que haviam sociedades mais evoluídas do
que outras, sendo necessária a intervenção da “superior” na considerada “inferior”, para que
houvesse a civilização do local dominado.

Eugenia: a palavra eugenia provém do grego e significa “bem nascido”. Foi um conceito
disseminado na Europa do século XIX e tinha como fundamento a seleção de seres humanos
com “boas” características genéticas, a fim de melhorar as gerações futuras. Com isso, há a
eugenia positiva (em que os indivíduos com as melhores características são incentivados a se
reproduzirem) e a eugenia negativa (em que há a eliminação do indivíduo considerado
inadequado para a sociedade).

O papel dos Estados Unidos no processo imperialista

Os Estados Unidos foi o único país da América a participar do Tratado de Berlim em 1884;
no entanto, diferentemente das potências europeias, não ocupou territórios no Continente
Africano, sendo o seu interesse da época obter tratados comerciais nas regiões africanas.
Mesmo assim, os EUA desempenharam um papel importante durante o Imperialismo no
século XIX, exercendo sua influência nas regiões da América.
Após o fim da Guerra Civil Americana em 1865, os Estados Unidos se consolidou como um
Estado Nacional, transformando-se em uma grande potência mundial fora da Europa. Com o
desenvolvimento industrial, na década de 1890, o mercado interno não era capaz de consumir
toda a produção dos Estados Unidos, surgindo a necessidade de abertura para o mercado
externo. A partir disso, o olhar estadunidense se abre para outras regiões do mundo, mais
precisamente para toda a América – uma vez que a África e a Ásia já estavam sob domínio
europeu – identificando-a como uma possível zona para a sua expansão.

Dessa forma, surgem algumas aplicações de políticas americanas para a dominação do


continente: a Doutrina Monroe, com o lema “América para os americanos”, em que os
Estados Unidos se posicionava contra a interferência da Europa nas questões da América e a
política do Big Stick, que buscava agir violentamente para interferir no continente americano.
Tais medidas impostas tinham como objetivo o fortalecimento dos EUA e o controle da
América

Colonização x Imperialismo

Ambos os processos foram realizados com a finalidade de gerar lucro para os países
europeus, dominando e subjugando os povos nativos da região. Apesar de parecidos, há
grandes diferenças entre os processos de colonização e o imperialista. Entenda essas
diferenças abaixo:

Colonização: ocorreu nos século XV e XVI, as potências europeias da época eram Portugal e
Espanha, o sistema vigente era o capitalismo comercial (mercantilismo), o objetivo principal
era a busca por especiarias e metais preciosos, resultou na colonização de diversas regiões do
mundo.
Imperialismo: ocorreu no século XIX, diversos países europeus tiveram participação
(Alemanha, Portugal, Espanha, Inglaterra, Bélgica, Holanda etc.), o sistema vigente era o
capitalismo industrial (contexto da Segunda Revolução Industrial), o objetivo principal era a
busca por novos territórios para a extração de matérias primas, a utilização de mão-de-obra
barata e ampliação do mercado consumidor, resultou na divisão do Continente Africano entre
os países europeus.

A escravidão no Brasil foi responsável pela escravização de milhões de indígenas e


africanos e existiu por mais de 300 anos.

Milhões de africanos foram enviados para o continente americano para serem escravizados.
Imprimir
Texto:
A+
A-

PUBLICIDADE
A escravidão no Brasil iniciou-se por volta da década de 1530, quando os
portugueses implantaram as bases para a colonização da América portuguesa, para
atender, mais especificamente, à demanda dos portugueses por mão de obra para o
trabalho na lavoura. Tal processo deu-se, primeiramente, com a escravização dos
indígenas, e, ao longo dos séculos XVI e XVII, essa foi sendo substituída pela
escravização dos africanos, trazidos por meio do tráfico negreiro.

A escravidão no Brasil, mas não só aqui, mostrou-se uma instituição perversa e


cruel, e as suas consequências ainda são sentidas atualmente, mais de 130 anos
depois que a Lei Áurea aboliu essa prática no país. A violência e a discriminação
que os negros sofrem atualmente são o reflexo direto de um país que se construiu
por meio da normalização do preconceito e da violência para com esse grupo. Não
obstante, é sempre importante lembrar que, além dos africanos, os indígenas
também foram escravizados, aos milhões, pelos portugueses, e que sua
escravização também perpetuou preconceitos e violência contra eles.

Acesse também: Conheça a história dos caifazes e do abolicionismo popular do


século XIX

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Tópicos deste artigo


● 1 - Como começou

● 2 - Escravização dos indígenas

● 3 - Escravização dos africanos

● 4 - Fim da escravidão

Como começou
A escravidão no Brasil tem como ponto de partida a década de 1530, período em
que os portugueses deram início ao processo colonizatório. Até então, a ação
desses havia sido baseada na exploração do pau-brasil, e o trabalho dos indígenas
era realizado por meio do escambo. Assim, os indígenas interessados derrubavam
as árvores, levavam até a costa e então eram pagos com objetos oferecidos pelos
portugueses.

Em 1534, porém, Portugal implantou na América portuguesa o sistema de


capitanias hereditárias e começou a ser incentivado o desenvolvimento de
engenhos de produção do açúcar. Essa era uma atividade mais complexa e que
demandava uma grande quantidade de trabalhadores. Como os portugueses
consideravam o trabalho braçal uma atividade inferior, a solução encontrada foi
escravizar a única mão de obra disponível naquele momento: os indígenas.

Escravização dos indígenas


Os indígenas foram a principal mão de obra dos portugueses até meados do século
XVII, quando, de fato, os escravos africanos começaram a tornar-se a maioria
desse tipo de trabalhador no Brasil. A escravização dos indígenas, apesar de mais
barata, foi, na visão dos portugueses, conturbada e problemática.

O historiador Stuart Schwartz afirma que os indígenas mostravam-se relutantes em


realizar trabalho contínuo na lavoura porque, na visão deles, era um “trabalho de
mulher”|1|, além do fato de que a cultura indígena não possuía a concepção de
trabalho contínuo. Outro fator que tornava a escravização de indígenas complicada
para muitos foram os conflitos entre colonizadores e jesuítas. Isso acontecia porque
os jesuítas posicionavam-se contra a escravização dos indígenas, pois enxergavam-
lhes como grupo a ser catequizado.

Assim, os colonos que escravizavam indígenas podiam sofrer problemas jurídicos


devido à atuação dos jesuítas. A pressão realizada pelos últimos, para que a
escravização dos indígenas fosse cessada, levou a Coroa portuguesa a decretar a
proibição dessa escravização. Apesar da lei, a escravização de indígenas continuou,
sobretudo em locais nos quais não havia grande número de escravos africanos,
como São Paulo, Paraná e Maranhão. Se quiser saber mais sobre os conflitos entre
jesuítas e colonos, acesse o texto: Jesuítas x Bandeirantes.

A escravização de indígenas também encontrou obstáculos devido à alta taxa de


mortalidade desse grupo em decorrência da presença portuguesa na América. Essa
alta mortalidade acontecia por causa de questões biológicas, de guerras travadas
entre grupos indígenas e motivadas pelos portugueses, além de guerras contra a
própria escravização e quem os escravizava etc.

Os indígenas eram conhecidos pelos portugueses como “negros da terra”, e o preço


do escravo indígena, em relação ao africano, era, em média, três vezes menor. Na
década de 1570, um escravo indígena custava cerca de sete mil-réis, enquanto um
escravo africano tinha o custo geral de 20 mil-réis.|2|

Por fim, é importante mencionar que, apesar da chegada dos escravos africanos ao
Brasil, por volta da década de 1550, os indígenas continuaram sendo a principal
mão de obra na economia açucareira aqui instalada até meados do século XVII. Na
década de 1590, por exemplo, cerca de 2/3 dos escravos no Brasil eram indígenas.|
3| Foi a prosperidade da economia açucareira que fez alguns lugares, como Bahia e
Pernambuco, possuírem uma grande quantidade de escravos africanos.

Acesse também: Saiba como ficou a vida dos ex-escravos após a aprovação da Lei
Áurea

Escravização dos africanos


Por meio do tráfico negreiro, 4,8 milhões de africanos foram enviados para o Brasil como escravos.

Os primeiros africanos começaram a chegar ao Brasil por volta da década de 1550,


inicialmente, por meio do tráfico ultramarino, também conhecido como tráfico
negreiro. Os portugueses, desde o século XV, possuíam feitorias na costa africana,
mantinham relações com povos africanos e realizavam a compra desses indivíduos
para escravizá-los, por exemplo, na Ilha da Madeira.

Com o desenvolvimento da colonização no Brasil, a necessidade contínua por


trabalhadores braçais fez com que esse comércio fosse aberto para os colonos
instalados aqui. A razão para a prática do tráfico negreiro foram a já mencionada
necessidade contínua da colônia por trabalhadores escravos e os altos lucros que
essa atividade rendia para os envolvidos.

A migração para o uso do escravo africano aconteceu, pois, segundo Stuart


Schwartz, “só o tráfico de escravos africanos fornecia um abastecimento
internacional de mão de obra em grande escala e relativamente estável, que acabou
por fazer dos africanos escravizados as vítimas preferenciais”.|4| Assim, por meio
do tráfico negreiro e ao longo de mais de 300 anos, cerca de 4,8 milhões de
africanos foram desembarcados no Brasil.|5|

O trabalho dos africanos, concentrado na economia açucareira, era duríssimo e


pautado na violência. A jornada de trabalho poderia estender-se por até 20 horas de
trabalho diário, e as historiadoras Lilia Schwarcz e Heloísa Starling afirmam que o
ofício no engenho era muito mais exaustivo e perigoso do que o realizado nas
roças.|6|

Nas moendas, era comum que os escravos perdessem suas mãos ou braços, e nas
fornalhas e caldeiras, eram comuns as queimaduras. Nessa última etapa, o trabalho
era tão pesado que os escravos utilizados nela, geralmente, eram os mais rebeldes.
Era comum que os grandes engenhos possuíssem por volta de 100 escravos,
lembrando que os escravos africanos só se tornaram a maioria em meados do
século XVII.

Ao fim do dia, os escravos eram reunidos na senzala e lá eram monitorados para


que não fugissem (os indígenas dormiam em ocas e não na senzala). Eles tinham
uma alimentação muito pobre e insuficiente, e parte de sua sobrevivência dependia
da pequena plantação de subsistência que possuíam, mas só tinham o domingo para
poderem cuidar dessa plantação.

Existiam escravos que trabalhavam no campo, nas residências e nas cidades. Os do


campo eram extremamente mal vestidos, e muitos não tinham contato direto com
seu senhor, apenas com o feitor. Os escravos domésticos tinham roupas melhores e
contato direto com o senhor e sua família. Os escravos urbanos trabalhavam em
diferentes ofícios.

A violência era algo rotineiro na vida dos escravos, e o tratamento violento


dedicado a eles tinha o intuito de incutir-lhes temor de seus senhores. Esse medo
visava mantê-los conformados com a sua escravização e impedir fugas e revoltas.
Uma punição muito comum aplicada sobre eles era o “quebra-negro”, que
ensinava-os a sempre olharem para baixo na presença de seus senhores.

Além disso, muitos escravos podiam ser acorrentados, para evitar que fugissem, e
usar uma máscara de ferro, conhecida como máscara de flandres, colocada neles
para impedir que engolissem diamantes (nas regiões mineradoras), se
embriagassem, ou mesmo cometessem suicídio por meio da ingestão de terra.

Escravos rebeldes e que fugissem também poderiam ser acorrentados no tronco e


chicoteados (alguns o eram até a morte). As violências que os escravos sofriam
eram inúmeras, e a historiadora Keila Grinberg enumera as diferentes formas de
execução pelas quais um escravo poderia ser condenado: por envenenamento, por
uso de instrumentos de ferro, queimado, na forca, no pelourinho etc.|7|
Ao longo dos 300 anos de escravidão, os escravos africanos realizaram inúmeras ações de resistência.

Os escravos, por sua vez, não aceitavam a escravização e as violências diárias de


maneira passiva. A história da escravização africana no Brasil ficou marcada por
diferentes formas de resistência que incluíam a desobediência, as fugas individuais
e coletivas, as revoltas, a formação de quilombos etc. Para saber mais sobre a
resistência dos escravos, leia o seguinte texto: Resistência dos escravos.

Acesse também: Conheça a trajetória de três grandes abolicionistas negros


Fim da escravidão
O Brasil acabou sendo o último país das Américas a abolir a escravidão, e isso
aconteceu por meio da Lei Áurea, que foi aprovada pelo Senado e assinada pela
regente do Brasil, a princesa Isabel. O fim da escravidão no país, no entanto, não
foi um ato de benevolência da monarquia, mas sim resultado da pressão e do
engajamento da população brasileira.

O movimento abolicionista ganhou força na sociedade na década de 1870, com o


fim da Guerra do Paraguai, mas questões relativas à abolição já eram debatidas,
mesmo que timidamente, desde a independência brasileira, embora seu ponto de
partida seja o decreto da Lei Eusébio de Queirós, que proibiu o tráfico negreiro, em
1850.

Na medida em que o movimento abolicionista ganhou força, diversas associações


em defesa da causa começaram a surgir no país, e suas formas de luta contra a
escravidão foram variadas. Advogados começaram a defender escravos contra seus
senhores em tribunais, jornais começaram a publicar artigos em defesa da abolição,
e pessoas comuns começaram a abrigar escravos que haviam fugido.

Os escravos também tiveram papel essencial na desestabilização da escravidão no


Brasil e resistiram realizando fugas em massa, organizando revoltas contra seus
senhores (algumas das quais levaram à morte dos senhores de escravos), formando
os quilombos (sobretudo nos arredores do Rio de Janeiro e de Santos) etc.

A força da pressão popular, por meio do movimento abolicionista, e as constantes


revoltas dos escravos criaram o clima que obrigou o Império a abolir o trabalho
escravo em 13 de maio de 1888, com a citada Lei Áurea. A abolição do trabalho
escravo foi recebida com festa pela população brasileira. Os escravos libertos,
porém, continuaram a sofrer com o preconceito e com a falta de oportunidades.

Escravidão no Brasil

Juliana Bezerra
Professora de História

A escravidão no Brasil foi implantada no início do século XVI.

Em 1535 chegou a Salvador (BA), o primeiro navio com negros escravizados. Este
ano é o marco do início da escravidão no Brasil que só terminaria 353 anos depois
em 13 de maio de 1888, com a Lei Áurea.

As primeiras pessoas a serem escravizadas na colônia foram os indígenas.


Posteriormente, negros africanos seriam capturados em possessões portuguesas
como Angola e Moçambique, e regiões como o Reino do Daomé, e trazidos à força
ao Brasil para serem escravizados.

Origem da escravidão no Brasil


Os historiadores apontam várias causas para se empregar a mão de obra escrava
nas colônias.

Portugal tinha uma população pequena, de cerca de dois milhões de pessoas, e não
tinha condições de dispensar parte de seus habitantes para sua colônia americana.
Para suprir os braços que faltavam, os colonizadores usaram a escravidão, que já
era praticada na África e no mundo árabe.

O transporte de pessoas escravizadas fomentou a produção de mais embarcações,


alimentos, vestuário, armas, e outros produtos que estavam ligados ao comércio de
gente. Por isso, o tráfico negreiro representou um ótimo negócio para a Europa e
movimentava grandes capitais nos três continentes.

Desta maneira, portugueses, espanhóis, franceses, holandeses e ingleses tornaram a


escravidão um negócio lucrativo. Superlotaram os porões de seus navios com
negros africanos (navios negreiros) para serem vendidos nos portos brasileiros e
em toda América.

Já as pessoas escravizadas não ganhavam nada, ao contrário, só perdiam, pois


passavam a ser propriedade de outra pessoa. Este contingente produziu toda
riqueza no Brasil: desde o plantio da cana-de-açúcar, colheita, transformação do
caldo de cana, construção de casas, engenhos, igrejas, tudo isso era feito por
cativos.

Escravidão indígena no Brasil colonial


No início do processo de colonização no Brasil, empregou-se a mão de obra
indígena.

Os índios eram capturados por meio de expedições como as bandeiras ou obtidos


como espólio das guerras intertribais. Os portugueses estabeleciam alianças com as
tribos e, em troca, conseguiam mão de obra escrava indígena.

Por muito tempo, nas escolas brasileiras, se ensinou que o índio não servia como
escravo por ser "preguiçoso" e por isso, o portugueses teriam preferido escravizar o
africano. Na verdade, a escravidão de indígenas somente seria abolida no século
XVIII, e, portanto, o argumento não tem sentido.

O que aconteceu era que escravizar africanos era muito mais lucrativo que
escravizar indígenas, e por esta razão, os europeus preferiram investir no tráfico
negreiro.

Outro impedimento para a escravização do indígena foi a oposição dos religiosos,


sobretudo os jesuítas, que protegiam aldeias inteiras em suas reduções.

Veja também: Escravidão indígena no Brasil Colonial


Tipos de escravidão no Brasil
No caso dos portugueses, os negros africanos eram trazidos de suas colônias na
África para serem utilizados principalmente na agricultura e na mineração.
Desempenhavam também vários serviços domésticos e/ou urbanos.

Nas cidades haviam os chamados “escravos de ganho”, utilizados em tarefas do


ramo comercial ou de serviços. Normalmente, eles vendiam produtos
manufaturados, quitutes, carregavam água ou auxiliavam na administração de
pequenos comércios.

Veja também: Tráfico Negreiro

As condições da escravidão
As condições de escravidão no Brasil eram as piores possíveis e a vida útil de uma
pessoa escravizada adulta não passava de 10 anos.

Após sua captura na África, os seres humanos escravizados enfrentavam a perigosa


travessia da África para o Brasil nos porões dos navios negreiros, onde muitos
morriam antes de chegar ao destino.

Após vendidos, passavam a trabalhar de sol a sol, recebendo uma alimentação de


péssima qualidade, vestindo trapos e habitando as senzalas. Normalmente, tratava-
se de locais escuros, úmidos e com pouca higiene, adaptado apenas para evitar
fugas.

Errar não era permitido e poderia ser punível com castigos dolorosos. Eram
proibidos de professar sua fé ou de realizar suas festas e rituais, tendo que fazer
isso às escondidas. Afinal, a maioria das pessoas escravizadas vinham da África já
batizadas e era suposto que abraçassem a religião católica. Daí surge o sincretismo
que verificamos no Candomblé praticado no Brasil.
As mulheres negras eram exploradas sexualmente e usadas como mão-de-obra para
trabalhos domésticos, como cozinheiras, arrumadeiras, etc. Não era incomum que
as mulheres escravizadas recorressem ao aborto para impedir que seus filhos não
tivessem a mesma sorte.

Quando fugiam, os capitães do mato perseguiam as pessoas escravizadas. A


obtenção da liberdade só era possível quando escapavam para quilombos ou
quando conseguiam comprar a carta de alforria.

Moagem de Cana Fazenda Cachoeira, Benedito Calixto de Jesus. Campinas,1830. Museu


Paulista da USP

Escravidão e formas de resistência


As revoltas nas fazendas não eram raras no período colonial. Muitos grupos de
escravos fugiam e formavam comunidades fortificadas e escondidas na mata
chamadas "quilombos" e uma dos mais significativos, no Brasil colonial, foi o
"Quilombo dos Palmares". Ali, podiam praticar sua cultura e exercer seus rituais
religiosos.

No entanto, vários escravizados que não conseguiam escapar, preferiam suicidar


que continuar cativos.

Veja também: Zumbi do Palmares

Abolição da escravatura
Quando a sociedade europeia começou a adotar as ideias do liberalismo e do
Iluminismo, a escravidão passou a ser severamente questionada. Afinal, a privação
de liberdade não combinava com a nova etapa do capitalismo industrial.

Igualmente, quando a Inglaterra aboliu a escravidão nas suas colônias, substituiu


por trabalhadores assalariados. Por esta razão, a produção agrícola ali seria mais
cara e as colônias inglesas não poderiam concorrer com os baixos preços
praticados pelos portugueses.

Assim, era necessário transformar a mão-de-obra escravizada em trabalhadores


assalariados. Isto iria igualar os preços da produção e no futuro, os ex-escravos
poderiam se tornar consumidores.

Por isso, a Inglaterra, que liderava a nova expansão capitalista-industrial, aprovou a


"Lei Bill Aberdeen". Esta transformou a Marinha Real Britânica numa arma contra
o tráfico de escravos em qualquer parte do mundo, pois permitiu que seus navios
abordassem navios negreiros de qualquer nacionalidade. Importar pessoas para
serem escravizadas acabou se tornando cada vez mais caro.

No Brasil, o tráfico foi oficialmente abolido em 1850, com a "Lei Eusébio de


Queirós". Mais adiante, em 1871, a "Lei do Ventre Livre" garantiu a liberdade aos
filhos de escravos; e, em 1879, teve início a campanha abolicionista liderada por
intelectuais e políticos.

Posteriormente, a "Lei dos Sexagenários" (1885) garantia a liberdade aos escravos


maiores de 60 anos.

Lei Áurea
A abolição da escravidão no país foi concedida pela Lei Áurea, aprovada pelo
Senado e assinada pela princesa Isabel, dia 13 de maio de 1888.

A Lei Áurea encerrava décadas de discussão em torno de várias questões. Porém, a


mais importante era: se os escravos fossem libertados, o governo pagaria
indenização aos proprietários? Por fim, venceu a tese de que os donos de escravos
não receberiam nenhuma compensação financeira.

Isso retira o apoio dos latifundiários escravistas davam à monarquia. Quando surge
o golpe republicano, os grandes proprietários de terra sustentam o novo regime.

Libertos sem qualquer plano, os ex-cativos se viram entregues à própria sorte e


passaram a formar um enorme contingente de pessoas sem qualificação.

Temos mais textos sobre o assunto para você:

● Escravidão

Escravidão no Brasil
Por Ana Luíza Mello Santiago de Andrade

Graduada em História (Udesc, 2010)

Mestre em História (Udesc, 2013)


Doutora em História (USP, 2018)

Faça os exercícios!
Ouça este artigo:

A escravidão no Brasil ocorreu entre os séculos XVI e XIX e foi


uma forma de exploração da força de trabalho de homens e
mulheres africanas, sustentada pelo tráfico negreiro pelo oceano
Atlântico. O processo de apresamento na África, seguido da
travessia do oceano e a chegada em terras brasileiras foi
bastante complexo. O fluxo de africanos de diversas partes do
continente foi tanto que os escravizados chegaram a compor 75%
da população em lugares como o Recôncavo Baiano, por
exemplo.

Conteúdo deste artigo


● Tráfico de escravos pelo Atlântico
● Chegada ao Brasil
● Locais de aplicação da mão de obra escrava
● Exercícios e questões de vestibulares

Tráfico de escravos pelo Atlântico


Sobreviver foi uma tarefa difícil. As mortes eram constantes e a
taxa de natalidade muito baixa, por conta disso e pela pouca
importância dada à reprodução, houve necessidade constante de
importar mão-de-obra, sustentando o tráfico atlântico. Este
figurou como atividade lucrativa para um grupo bastante
influente de traficantes.
Interior de um navio negreiro, pintura do artista alemão Johann Moritz Rugendas. (aprox. 1830).

É com a chegada dos portugueses na costa atlântica ao sul do


Saara, no século XV que as formas de comércio se modificam e o
uso da violência passou a ser comum. Cerca de 4,9 milhões de
africanos vieram para o Brasil. As plantations e os monopólios
eram a base da agricultura escravista e garantiram a escravidão
como um negócio lucrativo.

O processo de escravização começava no continente africano. O


primeiro movimento era o apresamento pelos traficantes, seguido
de uma longa viagem pelo interior da África até a chegada na
costa atlântica. Esta viagem obrigava os cativos a percorrerem
um longo caminho até a chegada nos portos. Muitos deles não
resistiam às doenças ou mesmo ao esforço físico. Os que
chegavam aos portos chegavam a esperar um longo tempo até
que os navios negreiros tivessem “carga” suficientemente
lucrativa para fazer a travessia do atlântico.
A travessia nos navios negreiros era marcada pela violência e
pelas condições insalubres. Antes de embarcar os homens e
mulheres cativos eram marcados com ferro – ou nas costas ou no
peito – como forma de identificação do traficante a quem
pertenciam. Um único navio carregava cativos de diversos
traficantes e locais de origem. E assim os senhores os preferiam:
trabalhadores de etnias e culturas diferentes pois dificultava a
comunicação e prevenia a formação de rebeliões e motins.

Entre os séculos XVI e XVIII as caravelas portuguesas tinham


capacidade de transportar aproximadamente 500 cativos por
viagem. Já os navios a vapor faziam o transporte de
aproximadamente 350 escravos, já no século XIX, quando, aos
poucos, a escravidão foi sendo abolida em diversas nações do
mundo, num processo iniciado pela Inglaterra.

A viagem nos navios tinha como dieta básica o azeite e o milho e,


por conta desta alimentação pobre em vitaminas, especialmente
a vitamina C, muitos escravizados chegavam com escorbuto,
doença bastante comum neste contexto. O fim da travessia se
dava com a chegada aos portos brasileiros como os de Recife,
Salvador, Rio de Janeiro, Fortaleza, São Luís e Belém. Os
principais portos à época eram os de Salvador e Recife, mas,
após a descoberta do ouro na região das Minas Gerais o porto do
Rio de Janeiro ganha destaque e passa a receber um número
cada vez maior de cativos.

Chegada ao Brasil
A chegada era marcada, inicialmente, pela burocracia.
Classificados por sexo e idade posteriormente eram enviados
para o local onde se faziam os leilões de escravos, que poderia
ser já na alfândega ou nos armazéns próximos à região portuária.

Como chegavam bastante debilitados: doenças, feridas na pele,


com vermes e escorbuto e com pouco peso era preciso valorizar a
“mercadoria” e para venda os cativos eram limpos, tinham os
cabelos e barbas cortados, e passavam óleo na sua pele. Neste
momento recebiam uma alimentação mais cuidadosa para
melhorar o aspecto. Já para esconder a aparência depressiva –
chamada de banzo - causada pela exploração e imigração forçada
os cativos recebiam produtos estimulantes como tabaco.

Além da venda in loco os homens e mulheres escravizados eram


anunciados nos jornais. Ao buscar os periódicos do período este
tipo de anúncio é facilmente encontrado. Postos à venda a partir
do seu sexo, idade e etnia a preferência se dava por homens
adultos – os mais caros. A venda envolvia garantias: caso o
cativo apresentasse alguma doença ou debilidade física nos
quinze dias sequentes à venda podia ser devolvido.

Locais de aplicação da mão de obra escrava


Aqui os escravizados foram destinados ao trabalho nos latifúndios
de cana de açúcar, nas minas de ouro e diamantes, nas fazendas
de café ou mesmo no trabalho doméstico ao longo dos séculos
XVI, XVII, XVIII e XIX. O comércio de homens e mulheres
africanos ocasionou na morte e no sofrimento de milhões de
pessoas.

Havia distinção entre os cativos domésticos e os do campo. Os


destinados às casas-grandes viviam uma vida mais próxima dos
senhores, e conheciam a fundo seu cotidiano. Por isso mesmo
houve uma delimitação bastante evidente nas casas entre as
áreas sociais e de serviço, presentes até hoje nos elevadores de
edifícios separados entre social e de serviço, que servem para
demarcar os lugares sociais de patrões e empregados. Já os
escravizados destinados ao trabalho no campo levavam uma vida
mais sacrificada embora ambas as formas de trabalho fossem
forçadas e de exploração.

Escravo sendo açoitado em público. Pintura de Johann Moriz Rugendas.

A escravidão foi um processo de extrema violência. A


monocultura necessitava um grande número de trabalhadores
que eram submetidos a uma rotina de trabalho difícil, pesada,
sem lucros para os cativos, força de trabalho da produção
latifundiária. O trabalho era intenso e o próprio cotidiano nos
engenhos, nas fazendas ou nas minas, já representava uma
violência impactante.

Os escravizados eram assombrados pela presença dos castigos


físicos e das punições públicas. Várias foram as formas de
humilhação. O tronco, o açoite, as humilhações, o uso de ganchos
no pescoço ou as correntes presas ao chão representavam a
violência a que eram submetidos os cativos. A escravidão é um
sistema que só funciona com a presença da violência.

Ainda assim é preciso destacar o papel importante das revoltas e


das rebeliões, formas de resistência à exploração imposta, como
a experiência dos quilombos – como o de Palmares - e as
diversas táticas praticadas para fugir da violência injusta.
Homens e mulheres cativos não foram passivos ao sistema a que
foram submetidos reagindo das mais variadas formas.

Abolição e luta escrava por liberdade


A abolição resultou principalmente da luta escrava em favor da
liberdade, demonstrando o protagonismo da ação dos africanos
escravizados.
Valongo ou mercado de escravos no Rio,
desenho de Auguste Earle (1793-1838)
Durante a primeira metade do século XIX as rebeliões escravas estavam
tirando o sono dos latifundiários, já que a ameaça apresentada pelo exemplo
da independência do Haiti ainda era recente e havia indícios de que os
africanos escravizados sabiam do processo de abolição e independência
haitiana.

Só na Bahia foram mais de 30 revoltas até 1835, sendo a mais conhecida a


Revolta dos Malês. Em Minas Gerais também ficou conhecida a rebelião de
Carrancas, ocorrida em 1833, no contexto da instabilidade política do
Período Regencial. Em 1838, houve, no Rio de Janeiro, a revolta de Manoel
Congo, ocorrida no município de Vassouras. Entre 1839 e 1842, a Balaiada
no Maranhão também levou preocupação à elite, principalmente pelo grupo
de escravos liderados por Cosme Bento das Chagas, que se juntou aos
balaios, mas que acabou derrotado e executado.

Todas essas ocorrências servem para que possamos refletir sobre o


processo de abolição da escravidão no Brasil. A Abolição da escravidão foi
fruto apenas das pressões internacionais, como da Inglaterra, e do
movimento abolicionista a partir da década de 1870, composto em sua
maioria por pessoas brancas e livres, ou seria a abolição decorrente da luta
dos próprios africanos e seus descendentes contra a escravidão?

Estudos historiográficos das últimas décadas do século XX e de início do


XXI apontam a existência de um forte movimento de luta contra a escravidão
realizada pelos próprios escravos, a força de trabalho que durante quatro
séculos criou as riquezas no Brasil.

Apesar de terem sido intensas na primeira metade do século XIX, rebeliões


de grande monta se tornaram mais raras na segunda metade do século.
Mas em seu lugar as fugas, a formação de quilombos e a resistência
cotidiana no trabalho contribuíram para pressionar o Estado a colocar fim à
escravidão.

Essas três formas de luta intensificaram-se após o fim do tráfico negreiro em


1850, resultando na formação de quilombos próximos às cidades, na
intensificação de ações de resistência e de reprodução das comunidades,
como furtos e saques, além de ações contra os senhores e prepostos, que
muitas vezes resultavam em mortes.

Esse movimento de resistência foi anterior ao movimento abolicionista e foi


por sua virulência, além de ser uma ação autônoma da classe trabalhadora
escrava, que houve a pressão que resultou no surgimento da legislação
abolicionista.

Dois motivos contribuíram para essa situação: a intensificação do tráfico


interprovincial e a chamada crioulização da escravatura, com a maior
utilização de escravos nascidos no Brasil.

Com o fim do tráfico internacional de escravos, os cativos passaram a ser


comercializados das províncias do Norte e do Sul para as do Sudeste, em
ascensão econômica com a produção de café. Muitos desses escravos
eram nascidos no Brasil, sendo ainda considerados escravos
“indisciplinados”, carregando com eles uma noção de “cativeiro justo”, ao
qual impunham parâmetros de formas de organização, bem como de
intensidade e métodos de trabalho aos seus senhores.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

A “indisciplina” gerava constantes conflitos com os senhores e feitores,


resultando em fugas e, muitas vezes, em mortes. Nesse sentido, as ações
realizadas pelos escravos pressionaram o Estado brasileiro, somadas à
pressão internacional, a criar uma legislação que garantisse gradualmente a
abolição. Gradualmente, pois se temia que uma abolição abrupta levasse o
país ao caos econômico, bem como ao estímulo uma revolução.

Os debates para a criação das leis tinham como argumentos os aumentos


de rebeliões escravas nas décadas de 1850 e 1860, demonstrando o temor
das elites com a resistência à escravidão e também com o perigo de eclodir
uma revolução escrava no Brasil. O medo do exemplo do Haiti ainda era
presente.

A criação de uma legislação colocava ainda o Estado no meio da relação


social existente entre senhor e escravo, situação que não ocorria
anteriormente, já que o escravizado era uma propriedade do senhor, livre
para dela utilizar como bem queria. Nesse contexto, os escravos souberam
utilizar as leis nos tribunais para pressionar seus senhores e, em muitos
casos, conseguir a liberdade. Houve um grande aumento de ações judiciais
para que fosse possível colocar em prática a legislação que não era aceita
pelos senhores, como a que garantia que o escravo podia comprar sua
alforria, mesmo contra a vontade do senhor.
Uma senhora e seus escravos na província de São Paulo, fotografia de
autor desconhecido

A Lei do Ventre Livre, por exemplo, foi decorrente da preocupação das elites
com a mudança da estrutura escrava no Brasil, com um maior número de
escravos nascidos no país, o que teria resultado em maiores rebeliões.
Libertar as crianças filhas de mães escravas era uma forma de impedir as
rebeliões e insatisfações. A imposição do fim do tráfico interprovincial, em
1881, era também uma lei que tinha como preocupação o surgimento de
uma guerra civil no Brasil, semelhante à ocorrida nos EUA entre 1861 e
1865.

Por outro lado, houve a concentração de escravos nas mãos de poucos


senhores, após o fim do tráfico internacional, em razão da dificuldade de
obtê-los e do aumento dos preços. Com isso, o escravismo deixava de ser
uma instituição disseminada na sociedade brasileira, o que aos poucos
contribuiu para a criação do sentimento abolicionista. Além disso, a
liberação de capitais com o fim do tráfico internacional possibilitou o
surgimento de setores sociais não comprometidos com o escravismo. Essas
circunstâncias explicariam o surgimento dos movimentos abolicionistas a
partir de 1870.

Entretanto, ao contrário do que afirmou a historiografia mais tradicional do


Brasil, o motor do abolicionismo foram as ações dos escravos, como as
fugas e a formação dos quilombos, as rebeliões, a ocupação de terras livres
pelos fugidos, a insubmissão das regras de trabalho nas fazendas,
demonstrando o protagonismo dos africanos escravizados em seu processo
de libertação.

As Configurações do Mundo
Contemporâneo
Ao final da década de 1990, o crescimento dos países emergentes passou a
redefinir as relações internacionais que configuram o Mundo Contemporâneo.

A maior participação dos países emergentes e as dificuldades dos países desenvolvidos frente à
crise mundial são fatos que marcam a contemporaneidade.
Imprimir
Texto:
A+
A-

PUBLICIDADE
A geopolítica mundial tem sofrido grandes modificações nos últimos 30 anos. A
partir da década de 1980, as sucessivas dissoluções dos regimes socialistas na
Europa, marcadas pela queda do Muro de Berlim em 1989 e o enfraquecimento do
império soviético, demonstraram que a configuração das relações políticas
internacionais pós-Segunda Guerra estava prestes a se reestruturar. Em 1991, a
União Soviética, país que idealizou um projeto político-econômico de oposição ao
domínio ocidental capitalista, não conseguiu resistir às pressões internas
relacionadas ao multiculturalismo e à fragilidade de sua economia. Sua decadência
decretou o fim da Ordem da Guerra Fria e o início da Nova Ordem Mundial,
liderada pelos Estados Unidos e com uma estrutura baseada no conflito Norte-Sul:
a interdependência entre os países desenvolvidos e os países subdesenvolvidos.

A Nova Ordem está vinculada aos interesses dos Estados Unidos. Detentor da
maior economia mundial, o país desenvolveu durante a Guerra Fria todo um
arcabouço técnico para aumentar a sua influência econômica, cultural e militar ao
redor do globo. Por outro lado, a Europa apostou na formação de um bloco
econômico bastante ambicioso, a União Europeia, que envolve relações
econômicas e políticas em torno do ideal de solidariedade e crescimento em
conjunto. Com a adoção do Euro, no ano de 2002, o bloco atingiu o maior dos seus
objetivos de integração regional, criando instituições para gerenciar esse modelo de
organização política. Na composição do eixo dos países desenvolvidos está o
Japão, país que conta com alto grau de desenvolvimento tecnológico, mas que está
atravessando muitas dificuldades econômicas desde o início da Nova Ordem
Mundial, principalmente pelo baixo crescimento econômico acumulado e o
envelhecimento de sua população.

Esse cenário começou a sofrer algumas alterações ao final da década de 1990,


quando o termo ‘países emergentes’ começou a ganhar espaço nas análises da
conjuntura econômica mundial. O crescimento expressivo e contínuo de países
como China e Índia, a recuperação econômica da Rússia, a maior estabilidade
econômica do Brasil e o desenvolvimento social e tecnológico da Coreia do Sul
ofereceram uma nova característica para as relações internacionais: países que
apenas detinham uma posição secundária no sistema capitalista mundial passaram
a influenciar mais ativamente o comércio internacional, conquistando maior poder
nas decisões de blocos e organizações mundiais.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)


Em 2001, o economista Jim O’Nill do banco de investimentos Goldman Sachs
criou o termo BRIC’s, formado por Brasil, Rússia, Índia e China e que atualmente
conta também com a presença da África do Sul. Para O’nill, esse grupo de países
apresentaria o maior potencial de crescimento entre as nações emergentes, algo que
foi consolidado na década de 2000 e que foi absorvido pelos países em questão,
que promovem reuniões anuais com o estabelecimento de acordos comerciais e
projetos para a transferência de tecnologia.

Todas essas transformações recentes nos direcionam para a seguinte reflexão: após
duas grandes guerras, a Pax Americana estruturada ao final da 2a Guerra Mundial
pode estar passando por um processo de desconstrução?

A crise econômica mundial expõe a fragilidade momentânea da economia norte-


americana. Além do caráter conjuntural, as dificuldades econômicas dos EUA não
representam uma decadência de sua ideologia, que continua fortalecida, muito
menos do seu poder e eficiência militar. Nenhum outro Estado-Nação emerge
como redefinidor de valores e nem sequer existem candidatos para esse posto
(desconsiderando as bravatas expressas por líderes como o presidente venezuelano
Hugo Chávez ou o iraniano Mahmoud Ahmadinejad).

Os EUA devem reformular seus sistemas de vigilância, segurança nacional e


planejamento estratégico, a fim de confirmar o status quo geopolítico que foi
determinado após a sua consolidação como potência hegemônica. Mesmo a China
possui limites quanto ao seu crescimento econômico e dificuldades para construir,
em curto prazo, um mercado consumidor capaz de absorver tamanho crescimento.
No caso da Europa, que foi atingida mais gravemente pela crise econômica
mundial, deve ocorrer uma mudança no planejamento de suas instituições que
ainda precisam ser fortalecidas antes de apostarem na integração de países que
possuem economias mais frágeis e limitadas a setores menos modernos ou até
mesmo pouco produtivos.

Mais do que a transformação na Pax Americana, merece destaque a reformulação


da ONU. A atual configuração da organização supranacional parece estar mais
condizente com o momento histórico que a Europa viveu entre o final do século
XIX e a 2a Guerra Mundial (redefinição de fronteiras) e com a bipolaridade
imposta pelo período da Guerra Fria. Os debates acerca das novas funcionalidades
da organização devem ser fundamentados na adaptação a esses novos tempos, em
que os atos extremos, individuais ou planejados a partir de células terroristas,
tornam-se difíceis de serem conduzidos por uma estrutura geopolítica como a atual,
ainda muito preocupada com os interesses particulares nacionais e regionais. As
problemáticas globais tais como meio ambiente, escassez de água, terrorismo,
violência, energias alternativas, entre tantos outros, requerem o abandono dessas
práticas políticas obsoletas e a introdução de uma nova racionalidade pautada em
valores universais. Até porque uma pitada de utopia nunca é demais.

Darwinismo social e imperialismo no século


XIX

O imperialismo (XIX) é a principal causa da


miséria econômica de países africanos e asiáticos atualmente
O imperialismo ou neocolonialismo do século XIX se constituiu como
movimento de domínio, conquista e exploração política e econômica das
nações industrializadas europeias (Inglaterra, França, Alemanha, Bélgica e
Holanda) sobre os continentes africano e asiático.

A “partilha” da África e da Ásia se deu fundamentalmente no século XIX


(pelos europeus), mas continuou durante o século XX. No decorrer deste, os
Estados Unidos e o Japão ascenderam industrialmente e exerceram sua
influência imperialista na América e na Ásia, respectivamente.
A “corrida” com fins de “partilha” da África e da Ásia, realizada pelas
potências imperialistas, aconteceu por dois principais objetivos: 1º) a busca
por mercados consumidores (para os produtos industrializados); 2º) a
exploração de matéria-prima (para produção de mercadorias nas indústrias).
A industrialização europeia se acentuou principalmente após as inovações
técnicas provenientes da 2ª fase da Revolução Industrial.

O domínio da África e da Ásia, exercido pelos países industrializados, teve


duas principais formas: 1ª) a dominação política e econômica direta (os
próprios europeus governavam); 2ª) a dominação política e econômica
indireta (as elites nativas governavam). Mas como as potências imperialistas
legitimaram o domínio, a conquista, a submissão e a exploração de dois
continentes inteiros?

A principal hipótese para a legitimação do domínio imperialista europeu


sobre a África e a Ásia foi a utilização ideológica de teorias raciais europeias
provenientes do século XIX. As que mais se destacaram foram o
evolucionismo social e o darwinismo social.

Um dos discursos ideológicos que “legitimariam” o processo de domínio e


exploração dos europeus sobre asiáticos e africanos seria o evolucionismo
social. Tal teoria classificava as sociedades em três etapas evolutivas: 1ª)
bárbara; 2ª) primitiva; 3ª) civilizada. Os europeus se consideravam
integrantes da 3ª etapa (civilizada) e classificavam os asiáticos como
primitivos e os africanos como bárbaros. Portanto, restaria ao colonizador
europeu a “missão civilizatória”, através da qual asiáticos e africanos tinham
de ser dominados. Sendo assim, estariam estes assimilando a cultura
europeia, podendo ascender nas etapas de evolução da sociedade e
alcançar o estágio de civilizados.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

O domínio colonial, a conquista e a submissão de continentes inteiros foram


legal e moralmente aceitos. Desse modo, os europeus tinham o dever de
fazer tais sociedades evoluírem.

O darwinismo social se caracterizou como outra teoria que legitimou o


discurso ideológico europeu para dominar outros continentes. O darwinismo
social compactuava com a ideia de que a teoria da evolução das espécies
(Darwin) poderia ser aplicada à sociedade. Tal teoria difundia o propósito de
que na luta pela vida somente as nações e as raças mais fortes e capazes
sobreviveriam.

A partir de então, os europeus difundiram a ideia de que o imperialismo, ou


neocolonialismo, seria uma missão civilizatória de uma raça superior branca
europeia que levaria a civilização (tecnologia, formas de governo, religião
cristã, ciência) para outros lugares. Segundo o discurso ideológico dessas
teorias raciais, o europeu era o modelo ideal/ padrão de sociedade, no qual
as outras sociedades deveriam se espelhar. Para a África e a Ásia
conseguirem evoluir suas sociedades para a etapa civilizatória, seria
imprescindível ter o contato com a civilização europeia.

Hoje sabemos que o evolucionismo social e o darwinismo social não


possuem nenhum embasamento ou legitimidade científica, mas no contexto
histórico do século XIX foram ativamente utilizados para legitimar o
imperialismo, ou seja, a submissão, o domínio e a exploração de continentes
inteiros.

Imperialismo
O imperialismo é caracterizado por uma política de expansão de uma nação sobre
outra, e sua manifestação no século XIX é chamada também de neocolonialismo.

Ilustração que retrata colonizadores europeus em contato com povos de uma região da África
Central.
Imprimir
Texto:
A+
A-

PUBLICIDADE

O termo imperialismo é utilizado para referir-se às práticas da política em que uma


nação buscava promover uma expansão territorial, econômica e/ou cultural sobre
outra nação. A utilização da palavra imperialismo pode ocorrer em contextos atuais
como, por exemplo, quando um país resolver intervir militarmente em outro.

O termo “imperialismo” também é muito utilizado para fazer referência ao


processo de colonização da África, Ásia e Oceania, que se iniciou na segunda
metade do século XIX. Esse processo também é conhecido entre os historiadores
como neocolonialismo. Durante o neocolonialismo, segundo o historiador Eric
Hobsbawm, cerca de 25% das terras do planeta foram ocupadas por alguma
potência imperialista|1|.

Eric Hobsbawm também exemplifica por meio de dados estatísticos a dimensão da


expansão imperialista na época. As seguintes potências imperialistas tiveram um
aumento significativo no tamanho de seus territórios e isso foi motivado pela
dominação e a criação de colônias na Ásia, África e Oceania. Segue os dados
abaixo|2|:

● Inglaterra: teve um aumento de 10 milhões de km2 em seu território.


● França: teve um aumento de 9 milhões de km2 em seu território.
● Alemanha: teve um aumento de 2,5 milhões de km2 em seu território.
● Bélgica e Itália: teve um aumento de 2 milhões de km2 em seu território.

Além dessas, outras nações como Portugal, Espanha, Rússia, Estados Unidos,
Japão etc. foram enxergadas como praticantes de políticas imperialistas. A
influência do imperialismo sobre o planeta foi tamanho, e continentes como a
África, até hoje, colhem as consequências desse processo de dominação colonial.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Tópicos deste artigo


● 1 - Causas do imperialismo

● 2 - Imperialismo na África

● 3 - Consequências do imperialismo

Causas do imperialismo
O imperialismo, na definição dada acima, surgiu como consequência das
transformações causadas pela Revolução Industrial. Essa revolução foi iniciada
pioneiramente na Inglaterra, na segunda metade do século XVIII, e causou
transformações profundas. A partir dela, houve o surgimento da indústria, e
mudanças nos modos de produção e nas relações patronais aconteceram.

A Revolução Industrial resultou no surgimento de novas máquinas, novos meios de


comunicação, novos meios de transporte e foi responsável pela utilização de
combustíveis fósseis. Com o desenvolvimento da indústria, o comércio
transformou-se, não somente em nível local, mas também em escala global.

Essa expansão do comércio por meio da Revolução Industrial aconteceu, porque o


processo de produção de mercadorias cresceu consideravelmente. Com o
crescimento na produção de mercadorias, as nações industrializadas precisaram
ampliar seu acesso às matérias-primas utilizadas na produção e também de ampliar
a sua capacidade de venda, isto é, eram necessários novos mercados consumidores.

Uma causa que explica, em grande parte, a expansão colonial da segunda metade
do século XIX é a busca por novos mercados consumidores, segundo aponta Eric
Hobsbawm|3|. Isso porque acreditava-se que a grande quantidade de mercadorias
produzidas seria absorvida com a expansão dos mercados consumidores.

Hobsbawm também fala que “o ‘novo imperialismo’” foi o subproduto natural de


uma economia internacional baseada na rivalidade entre várias economias
industriais concorrentes, intensificada pela pressão econômica dos anos 1888”|4|.
Motivadas pela expansão econômica, as nações europeias, principalmente,
iniciaram o processo de expansão territorial.

Imperialismo na África
Mapa que informa as nações europeias que possuíram colônias no continente africano.

Dentro do processo neocolonialista que aconteceu no século XIX, a ocupação do


continente africano teve grande destaque. Isso porque o continente africano foi
amplamente impactado pelo imperialismo, uma vez que, no auge do ciclo
imperialista (entre 1884 e 1914), o continente teve apenas dois territórios que não
foram ocupados: Libéria e Etiópia.

O historiador Valter Roberto Silvério aponta que três acontecimentos entre 1876 e
1880 foram cruciais para iniciar a corrida de ocupação do continente africano|5|:

1. a Conferência Geográfica de Bruxelas, encontro promovido por Leopoldo II,


rei da Bélgica, com o objetivo de desenvolver os interesses dos belgas na
região do Congo;
2. as ações de Portugal para expandir seu domínio sobre as regiões do interior
de Moçambique;
3. a política francesa para promover sua expansão colonial em regiões da
África como Egito, Tunísia e Madagascar.

"Esses acontecimentos deram início a uma corrida pela ocupação do continente africano
que resultou em uma série de atritos entre as nações europeias. Em decorrência disso, Otto
von Bismarck, chanceler alemão, buscando defender os interesses da Alemanha e pôr fim a
essas disputas, organizou a Conferência de Berlim, entre 1884 e 1885.

Algumas das pautas debatidas na conferência foram as questões relativas à navegação dos
rios Congo e Níger, a questão do mapa cor-de-rosa proposto por Portugal, e também foi
organizada a divisão do continente africano, isto é, estabelecidas as fronteiras entre as
regiões e estipulado quais nações teriam direitos sobre os territórios.

A ocupação do continente africano ocorreu sob a justificativa de ser uma “missão


civilizatória”, na qual as nações europeias levaram a civilização para os povos “atrasados”
da África. A exploração do continente para fins econômicos também utilizava-se de
missionários. Todas essas justificativas utilizadas partiam de ideais racistas, como o
darwinismo social, que estipulava que o homem branco era “superior”.

Hoje sabemos que as justificativas utilizadas não passavam de disfarce para os reais
interesses que eram de promover a exploração econômica do continente africano. A
ocupação do continente africano, por sua vez, não aconteceu de maneira pacífica, pois os
povos africanos lançaram dura resistência contra a presença europeia. Neste texto é
encontrado um dos exemplos de resistência ao imperialismo.

Acesse também: Conheça mais exemplos da resistência africana ao domínio europeu

Consequências do imperialismo
O imperialismo foi muito forte no mundo, durante o período citado (entre 1884 e 1914), mas
a presença de europeus como colonizadores na África e na Ásia ocorreu até a segunda
metade do século XX. O imperialismo deixou graves consequências nesses locais, expostas
a seguir.

A demarcação de fronteiras artificiais gerou impactos negativos até hoje na África e causou
inúmeras tensões entre as nações africanas.

Durante o neocolonialismo, surgiu uma série de disputas étnicas influenciadas por ação
europeia. Um dos casos mais notáveis aconteceu em Ruanda, região que havia feito parte
do Congo Belga. Em 1994, um massacre de grandes proporções aconteceu no país, e
hutus foram responsáveis pela morte de aproximadamente 1 milhão de tutsis.

A exploração econômica deixou marcas profundas e, até hoje, a maioria absoluta dos
países africanos sofre com economias instáveis.
Os nativos foram sujeitos a uma violência escabrosa. Um caso notável foi no Congo Belga,
quando 10 milhões de pessoas morreram fruto da violência colonial dos belgas."

Veja mais sobre "Imperialismo" em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/a-ideologia-


imperialista.htm

Definição
Fase monopolista do capitalismo, ocorrida no final do século XIX e início do século XX.

Fatores geradores
superprodução: expansão da Revolução Industrial e aprimoramento
tecnológico, resultando em aumento da produção de mercadorias;
países industrializados buscam mercados consumidores de artigos
industrializados;
crescimento demográfico: queda das taxas de mortalidade e manutenção
de elevadas taxas de natalidade geram fenômeno conhecido como
explosão demográfica. O excedente populacional vive em condições
miseráveis, mas começa a se organizar em sindicatos e partidos);
busca de matérias-primas: sofisticação tecnológica exige diversidade e
maiores quantidades de matérias-primas (borracha, petróleo, cobre,
etc.);
busca de investimentos de capitais: as áreas industrializadas não podem
reinvestir capitais excedentes na produção industrial sem agravar o
problema da superprodução; busca-se, portanto, áreas para a
exportação de capitais excedentes.

Imperialismo: solução para os problemas econômicos, sociais e, até mesmo, políticos e

culturais das grandes potências industrializadas do mundo (Inglaterra, França, Alemanha,

Itália, Estados Unidos, Rússia, Japão) no final do século XIX, por meio da expansão

territorial e do estabelecimento de áreas de influência.

Características
concentração da produção e do capital em reduzido número de países e,
dentro deles, nas mãos de pequena parcela da população (alta
burguesia);
capital financeiro, resultante da fusão do capital industrial e do bancário;
exportação de capitais, com investimentos nos setores de infraestrutura
(especialmente nos setores de comunicações e transportes), para
facilitar a dominação e agilizar o escoamento de mercadorias);
partilha do mercado mundial entre os países industrializados;
associações monopolistas – trustes, cartéis e holdings;
divisão territorial do planeta em áreas de dominação direta e zonas de
influência econômica;
o “fardo do homem branco” como justificativa ideológica para a dominação:
missão civilizadora que levaria aos que viviam nas trevas da ignorância
a luz do conhecimento; ideia de superioridade biológica da raça branca
sobre as demais.

Imperialismo na Ásia
Índia

Conhecida desde a Antiguidade pelos europeus. No século XV, a Índia se tornou uma área

muito cobiçada pelos comerciantes da Europa, graças às especiarias que possuía em seu

território.

Os portugueses dominaram por cerca de meio século a rota comercial marítima que levava

ao Oriente e, portanto, controlavam o valioso comércio de mercadorias indianas. Ao longo


dos séculos XVI e XVII, porém, o domínio português foi suplantado pelo britânico, que se

tornou a principal potência marítimo-comercial, atuando por meio das companhias

monopolistas de comércio.

No século XVIII, a supremacia econômica da Inglaterra sobre a Índia estava assegurada –

situação favorecida pela ausência de centralização política em território indiano. Nessa

época, a Índia se encontrava dividida em diversos estados rivais. Essa rivalidade era

estimulada pelos ingleses, a fim de evitar uma centralização política que prejudicasse seus

interesses econômicos.

Ainda assim, em 1857, eclodiu na Índia uma revolta nacionalista contra o domínio inglês.

Denominada Revolta dos Cipaios, o conflito durou até 1859, quando os rebeldes foram

derrotados pelos ingleses, que conseguiram, a partir de então, impor um domínio ainda

mais rígido.

A garantia do domínio britânico sobre a Índia – não apenas econômico, mas também

político – consolidou-se em 1877, quando a rainha Vitória da Inglaterra foi coroada

Imperatriz da Índia.

China

Vasto território contendo uma população numerosa, a China despertou o interesse da

Europa no século XV. Os europeus, principalmente os portugueses, passaram a importar

para o Ocidente mercadorias chinesas.


Como na Índia, a Inglaterra tomou o lugar de Portugal e passou a dominar comercialmente

a China. Os ingleses exploravam o comércio chinês por meio das Companhias das Índias

Orientais. Mas ao contrário da Índia, que se encontrava dividida, o poder político chinês era

centralizado. A China era regida pela dinastia Manchu. Contudo, a aristocracia agrária

chinesa nunca reconhecera a legitimidade dessa dinastia.

Ao longo dos séculos XVII e XVIII, o predomínio britânico sobre a China se aprofundou e,

aos poucos, os ingleses introduziram, ilegalmente, o ópio no mercado chinês. Esse artigo

era produzido em abundância nas colônias inglesas da Índia e na Birmânia e os chineses o

apreciavam muito, gastando verdadeiras fortunas e endividando-se junto aos ingleses para

obtê-lo.

O governo chinês, por diversas razões, opunha-se veementemente à aquisição e consumo

do ópio e, em 1839, adotou medidas enérgicas para coibi-lo. Tal atitude precipitou um

conflito entre China e Inglaterra, conhecida como a Guerra do Ópio, que foi vencida pelos

ingleses. Graças a essa vitória, a Inglaterra obteve uma maior abertura do mercado chinês,

e não apenas para si, mas também para outras nações do mundo, como a Alemanha, a

França, a Rússia e o Japão.

Em 1900, houve na China uma nova reação nacionalista contra o domínio dos países

industrializados. Essa revolta, denominada Guerra dos Boxers, foi violentamente reprimida

por forças militares das grandes potências.

Japão
No início do século XIX, o Japão era cobiçado pelas potências industriais. O país não

apresentava centralização política: o poder era exercido pelos grandes proprietários de

terras, denominados xóguns. O comércio do país era vedado ao mundo ocidental, pois os

japoneses temiam que a importação indiscriminada de mercadorias estrangeiras resultaria

na entrada dos vícios ocidentais.

Em 1854, os Estados Unidos, interessados em estabelecer sua hegemonia econômica no

Pacífico Norte, forçaram, por meio de uma ação militar violenta, a abertura do mercado

japonês aos produtos ocidentais. Isso provocou uma também violenta reação nacionalista

no Japão, encabeçada pelos samurais, resultando na centralização política do país.


A chamada Era Meiji iniciou-se em 1868. Foi a era em que o governo japonês modernizou

sua economia de acordo com os princípios do capitalismo. A adoção de reformas

modernizadoras, aliada à manutenção de importantes tradições da cultura japonesa,

ajudaram a promover um rápido e profundo processo de industrialização no país. Para que

isso pudesse ocorrer, o Japão assimilou muitas técnicas de produção ocidentais. Graças a

essas reformas, o Japão não apenas evitou a expansão imperialista sobre seu território,

mas conseguiu se transformar em um país imperialista.

O imperialismo japonês se manifestou no final do século XIX por meio de duas guerras

expansionistas: a Guerra Sino-Japonesa e a Guerra Russo-Japonesa. Procurava o Japão

instituir seu poderio no Pacífico e no Extremo Oriente.

O imperialismo na África
A África foi o continente mais utilizado para a expansão territorial imperialista no final do

século XIX e início do século XX. A partilha formal do continente se iniciou após a

realização da Conferência de Berlim (1884 - 1885), em que o rei Leopoldo II, da Bélgica,

convidou os líderes das principais potências industriais da época para dividir o rico território

africano.

A penetração imperialista na região foi favorecida pelo tribalismo imperante no continente,

que inviabilizava a união de esforços entre os indivíduos para barrar a invasão dos

estrangeiros.

A ausência de critérios que levassem em conta as múltiplas realidades da África acabaram

gerando problemas, que, aliada à exploração predatória do continente, resultaram em

miséria e conflitos étnicos e políticos.

Inglaterra, França, Bélgica, Alemanha, Itália, Portugal e Espanha foram os países que se

beneficiaram da partilha da África.

O imperialismo teve como principal resultado o acirramento das tensões entre os países

industriais, pois alguns deles, notadamente a Alemanha, sentiram-se prejudicados pelo

“pequeno” território colonial que lhes foi concedido após a partilha.

artilha da África
Juliana Bezerra

Professora de História

A Partilha da África é o nome pelo qual ficou conhecida a divisão do continente africano durante o
século XIX e que finalizou com a Conferência de Berlim (1884-1885).

Com o crescimento econômico de Inglaterra, França, Reino da Itália e Império Alemão, esses países
quiseram avançar sobre a África em busca de matérias-primas para suas indústrias.

Como ocorreu?
Países como Portugal já se encontravam no continente desde o século XVI. Utilizavam a África como
fornecedor de mão de obra escrava, num comércio lucrativo em que participavam Inglaterra, Espanha,
França e Dinamarca.

A expansão europeia para o continente africano, no século XIX, foi justificada para a opinião pública
como a necessidade de “civilizar” este território.

No século XIX, existia a crença na superioridade de raças e de civilizações. Teorias como o


Positivismo, de Auguste Comte e o Darwinismo Social, corroboravam esta ideia.

Assim, era necessário fazer com o que os africanos “atrasados”, segundo os moldes europeus, fossem
civilizados.
As potências europeias dividem a África conforme seus interesses
As notícias do continente africano chegavam à Europa através de relatos de expedições que tinham
diferentes finalidades:

● Expedições científicas: mapear o terreno, medir o potencial geográfico e botânico, e


detalhar as muitas etnias que habitavam o continente.

● Expedições comerciais: conhecer a matéria-prima local e avaliar as possibilidades de


exploração.

● Expedições religiosas: acabar com o politeísmo, com a antropofagia e instaurar o


cristianismo.

Assim, percebemos que foram aspectos econômicos, religiosos e culturais influenciaram no desejo
pela posse do território.

Para o europeu, era preciso "salvar" o africano da selvageria, do atraso e das práticas que eram tidas
como condenáveis no Velho Mundo. Esse tipo de comportamento imperialista embasou o mito do
"fardo do homem branco" e a eugenia.

Veja também: Imperialismo na África

Resumo
Simultaneamente, os territórios foram sendo invadidos pelas nações europeias de maneira gradativa.
Veja abaixo como foi a ocupação da África pelas potências europeias:

Portugal
Após a independência do Brasil, Portugal conseguiu manter suas possessões africanas como Angola,
Cabo Verde, Guiné e Moçambique.

O país terá problemas com a Bélgica, Inglaterra e Alemanha que desejavam expandir seus territórios
na África, sobre os territórios portugueses.

Veja também: África Portuguesa

Espanha
A Espanha ocupou as ilhas Canárias, Ceuta, Saara Ocidental e Melila. Para abastecer suas colônias
caribenhas de escravos, contava com o comércio feito pelos portugueses, franceses e dinamarqueses.
Mais tarde, o país invadiria a Guiné Equatorial (1778).

Bélgica
O rei Leopoldo II da Bélgica, estabeleceu a Associação Internacional da África, em 1876. Dita
organização tinha como objetivo explorar o território correspondente ao Congo que se tornaria sua
propriedade pessoal.

O país também ocupa Ruanda e ali instaura um sistema de divisão étnica, entre hutus e tútsis que terá
consequências desastrosas no futuro no Genocídio em Ruanda (1994).

Inglaterra
O Reino Unido era a maior potência econômica do século XIX devido a Revolução Industrial. No
entanto, precisava de mais matérias-primas baratas para manter o ritmo do seu crescimento.

A Inglaterra foi ocupando territórios como os atuais Nigéria, Egito, África do Sul. Tal era a certeza de
superioridade inglesa que alimentava-se a ideia de construir uma ferrovia ligando o Cairo e a Cidade
do Cabo.

Para isso, o país invade áreas entre esses território como o Quênia, Sudão, Zimbábue e vai entrar em
conflito com praticamente todos os outros países europeus com o intuito de manter ou expandir suas
possessões.

França
A França ocupou o território do Senegal, em 1624, a fim de garantir o fornecimento de escravos para
suas colônias no Caribe.

Ao longo do século XVIII, seus navegadores ocuparam várias ilhas no Oceano Índico como
Madagascar, Maurício, Comores e Reunião.

No entanto, foi no século XIX que conseguiu, entre 1819 e 1890, acertar 344 tratados com chefes
africanos. Assim ocuparam a Argélia, Tunísia, Marrocos, Chade, Mali, Togo, Benin, Sudão, Costa do
Marfim, República Centro Africana, Djibuti, Burkina Faso e Níger.

Além de enfrentar os habitantes que não aceitavam a invasão, os franceses travaram várias guerras
contra os alemães, pois estes queriam tomar suas possessões.

Veja também: Guerra da Argélia

Holanda
A ocupação holandesa começou na atual Gana, chamada de Costa do Ouro Neerlandesa. Ali,
permaneceram até 1871 quando venderam a possessão aos ingleses.

Através de investidores privados, os holandeses começaram a explorar o Congo em 1857.

No entanto, foi na África do Sul, que os holandeses permaneceram mais tempo. Ali, eles tinham
estabelecido um posto de abastecimento na atual Cidade do Cabo, em 1652.

Quando o território foi conquistado pelos ingleses, os holandeses foram expulsos em 1805, mas ainda
ficaram na África do Sul e entrariam em vários conflitos com os ingleses, como a Guerra dos Bôers
(1880-1881/1899-1902).

Itália
Depois da Unificação Italiana, a Itália parte para conquistar o mundo. No entanto, sem um exército
poderoso, o país ocupa os territórios da Eriteia, parte da Somália e a Líbia.

Tenta conquistar o reino da Etiópia, mas este foi ajudado por França e Rússia. Somente o fará na
década de 1930 sob comando de Benito Mussolini.

Alemanha
A Alemanha queria garantir seu quinhão de mercados na África. Após a Unificação Alemã, em 1870,
qualquer decisão europeia tinha que passar pelo poderoso chanceler Bismarck.
Como já havia muitos litígios por fronteiras entre as potências europeias, Bismarck convida os
representantes das principais potências coloniais para discutir os rumos da ocupação africana.

Este evento seria conhecido como a Conferência de Berlim. A Alemanha ocupou os territórios
correspondentes a Tanzânia, Namíbia e Camarões.

Conferência de Berlim

A África em dois momentos distintos de sua História


A fim de evitar guerras entre as potências europeias pelos territórios africanos, o chanceler Otto Von
Bismarck convocou uma reunião com os representantes dos países europeus que tinham possessões na
África. Nenhum mandatário africano foi convidado.

A Conferência de Berlim (1884-1885) consistiu num acordo que tinha como objetivo reconhecer as
fronteiras dos territórios já ocupados e estabelecer as regras sobre as futuras ocupações no continente
africano.

Entre as suas diretrizes estava a necessidade de uma nação comunicar a outra quando tomava posse de
um território. Também era preciso provar que tinha condições de administrá-lo.
Consequências
Antes da Partilha da África, os reinos africanos estavam dentro de fronteiras naturais definidas de
acordo com os grupos étnicos que compunham estes reinos.

Os estados africanos foram traçados por fronteiras artificiais segundo a vontade do colonizador
europeu. Deste modo, etnias inimigas tiveram que conviver dentro do mesmo território causando
sangrentas guerras civis.

A ocupação europeia provocou resistência e insurreições de nações que foram massacradas no


decorrer do século XX.

Igualmente, através da visão europeia, se espalhou o mito que os africanos são amaldiçoados por não
aceitarem o cristianismo e por isso não são capazes de prosperar.

Atualmente, o continente africano é o mais pobre do mundo e ainda há forte pressão sobre as riquezas
naturais da África, como petróleo, ouro, fosfato e diamantes.

Imperialismo na África

Juliana Bezerra

Professora de História

O imperialismo europeu na África ocorreu ao longo do século XIX.

Até 1876, 10,8% do território africano estavam em posse de colonizadores. Já em 1900, o domínio
europeu correspondia a 90,4%.

A princípio, a exploração europeia estava espalhada ao longo da costa, com fortes postos comerciais
que garantiam o tráfico de escravos. As primeiras dominações em larga escala começaram com a
França e Grã-Bretanha.
As riquezas da África foram para os países industrializados
A França ocupou a Argélia, em 1832, a Tunísia, em 1881 e, em seguida, o Marrocos. Assim, estava
criada África Ocidental Francesa.

Por sua parte, com o mesmo intuito de expansão territorial, a Grã-Bretanha apossou-se do Egito em
1882, do Sudão e do sul da África.

Em 1876, o rei da Bélgica, Leopoldo II, dominou toda a área atual do Congo. A região ficou sob o
domínio pessoal do monarca até 1908, quando foi vendida ao governo da Bélgica e correspondia a
oitenta vezes o tamanho do país dominante.

Veja também: Imperialismo

Motivos
Entre os motivos para a dominação europeia estavam as riquezas naturais africanas. O território era
exuberante em pedras preciosas, matérias-primas vegetais e minerais.

Política e Guerra
Como estratégias de dominação foram usadas negociações políticas, manobras militares e religiosas.

Para as negociações políticas, os chefes tribais faziam acordos comerciais com os europeus. Estes
levavam produtos da terra enquanto forneciam armas aos africanos.

A fim de expandir o território, os próprios europeus se aliavam com tribos e participavam das guerras
travadas entre eles. Assim, garantiam mais terras e aliados poderosos.
Veja também: Imperialismo e Colonialismo

Religião e Ideologia
A religião cristã reforçou a ideia de inferioridade entre aquelas regiões onde era praticado o
politeísmo. Ali, os missionários demonizaram os costumes e os deuses, e conquistaram as mentes
também.

As teorias raciais, como o darwinismo social e o mito do fardo do homem branco, sustentaram a
exploração das riquezas naturais africanas. O argumento era apoiado na tese de que os africanos eram
“bárbaros” e precisavam da contribuição do europeu para alcançar o mesmo grau de civilização.

Veja também: Rainha Vitória

Partilha da África
O ápice do imperialismo viria em 1885, com o acordo selado na Conferência de Berlim, que garantia
a liberdade comercial para todos os países em certas áreas. Igualmente, a reunião serviu para
determinar as fronteiras do território africano.

Após a Conferência de Berlim, a África foi dividida em 50 estados. Os termos do acordo não
respeitavam as divisões étnicas tradicionais e geraram impacto catastrófico sobre as nações.

É por este motivo que, ainda nos dias de hoje, alguns países permanecem sob rivalidade étnica que
causa guerras civis e pobreza extrema.

A partilha da África também está entre as justificativas para a deflagração da Primeira Guerra
Mundial (1914-1918). Descontentes com a divisão e sem mais territórios para conquistar, as grandes
potências entraram em desacordo e exigiam a revisão da partilha.

Veja também: Partilha da África

Neocolonialismo
Ontem e Hoje. Mudam os métodos, mas não as condições
Após o processo de descolonização africana, as antigas nações imperialistas buscaram seguir com um
relacionamento especial com estes países.

Ainda que seja uma relação entre Estados soberanos, muitos estudiosos veem como um novo modelo
de exploração e por isso o chamam de neocolonialismo.

● A Grã-Bretanha reuniu quase todas suas ex-colônias na Commonwealth. Seus habitantes


têm trato preferencial na hora de emigrar e na hora de vender seus produtos.

● A França criou o princípio da francofonia que engloba todos os países de língua francesa e
assim, pode promover um intercâmbio linguístico e cultural. Além disso, o país estimulou a
imigração desses países nos anos 70 quando necessitava mão de obra para suas indústrias.

● Portugal ainda mantém laços políticos especiais com Angola e, em certa medida, com
Moçambique. Através do PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) mantém-
se a cooperação cultural e linguística.

● A Bélgica não mantém nenhum laço especial com o Congo e Ruanda, e as relações entre
esses países são extremamente delicadas.

● A Espanha mantém alguns enclaves e ilhas no território marroquino que sempre é motivo de
disputa entre as duas nações.
No entanto, as nações europeias vêm perdendo espaço cada vez mais para a China que tornou-se, no
século XXI, o maior parceiro das nações africanas.

Imperialismo: o que foi e quais são seus


impactos?
Saiba o que estudar para o vestibular do Mackenzie!

Vários países europeus mantiveram colônias nas Américas desde o descobrimento no século
XVI. Mas, no século XIX, uma nova política expansionista foi iniciada — dessa vez, em
direção à África, Ásia e Oceania. Grande parte desses continentes foi explorada pelos países
europeus, servindo-os com seu trabalho e seus recursos naturais, entre meados dos séculos
XIX e XX.

Essa política expansionista recebeu o nome de imperialismo ou neocolonialismo — embora o


termo imperialismo seja usado em outros contextos, ele é mais associado a esse movimento.
Tal política trouxe inúmeras consequências históricas e políticas para todos os envolvidos,
que podem ser percebidas até hoje.

Como surgiu o imperialismo?


A ideia de expansão dos impérios europeus surge com a Revolução Industrial, durante o
século XIX. Para movimentar as novas fábricas e máquinas, os europeus precisavam de
muito mais matérias-primas e mercados consumidores para seus produtos. Visto que já
possuíam algumas colônias na África, Ásia e Oceania, fazia sentido expandir seus domínios
nesses locais para aumentar seu poderio econômico.

Pouco tempo e muita coisa para estudar? Preparamos um e-book que vai te ajudar a se
preparar nessa fase. Baixe aqui! É gratuito.

Outro aspecto relevante para o surgimento do neocolonialismo é a ideia de darwinismo


social. Em resumo, trata-se de uma adaptação torta do conceito de seleção natural para a
sociedade, colocando os europeus como superiores. Portanto, era lógico impor sua sociedade
“civilizada” a outros povos menos desenvolvidos.

Além disso, há ainda aspectos práticos que impulsionaram o imperialismo: a descoberta de

diamantes na África do Sul, que despertaram o interesse dos europeus; e a abertura do Canal

de Suez, aumentando o fluxo comercial no continente africano.


A imagem do explorador europeu colocando seus pés do norte ao sul da África é um dos símbolos do
imperialismo (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)

O imperialismo na África, Ásia e Oceania


Até 1880, os europeus dominavam em torno de 10% da África — domínio que passou a mais

de 90% nas décadas seguintes. Pode-se dizer que esse continente tenha sido o mais afetado

por esse movimento expansionista europeu. Apenas a Etiópia e a Libéria não foram

colonizadas.

É nessa época que ocorre a chamada “Partilha da África”, notadamente na Conferência de

Berlim de 1884. Nessa reunião, as principais potências europeias demarcaram as fronteiras de

suas colônias no continente. Essa divisão considerou apenas os interesses econômicos das

potências, destruindo qualquer organização política local. Em resumo:

● Portugal expande seus domínios nas regiões de Angola e Moçambique;

● França fica com o norte da África e o Saara;

● Bélgica explora o Congo;

● Reino Unido expande suas possessões na África do Sul e na região do Egito;

● Alemanha, Itália e Espanha também pegam seus “pedaços” do continente;

Nas outras partes do mundo, destaca-se a posse britânica do subcontinente indiano, com o

“Raj Britânico”, explorando milhões de pessoas na região. Os holandeses dominaram várias

ilhas no Oceano Índico, que hoje formam a Indonésia, enquanto os franceses ficaram com a

Indochina (Camboja, Laos e Vietnã). O Japão, inspirando-se nos impérios ocidentais, buscou

estender seus domínios no Extremo Oriente, dominando a Coreia e partes da China.


O Raj Britânico foi uma das principais demonstrações do imperialismo na Ásia (Fonte: Wikimedia
Commons/Reprodução)

As consequências do imperialismo até hoje


Como dito no início, o imperialismo foi um dos movimentos mais importantes da história

moderna e suas consequências são infinitas — rendendo diversas obras. Para destacar

algumas das mais importantes, podemos começar com a pobreza das ex-colônias.

Começando a estudar para o Enem? Nosso material te ajuda a organizar sua rotina. Baixe
aqui.É gratuito.

A partir dos anos 1950 e 1960, diversas regiões da África e Ásia começaram a pleitear suas

independências das potências europeias. Mas existiram dois problemas principais em meio a

esse processo: 1) os novos países seguiram fronteiras demarcadas pelos europeus, de acordo
com os interesses deles; e 2) os novos países tinham pouca estrutura para administrar sua

política, economia e vida cotidiana.

As fronteiras geraram inúmeros conflitos étnicos nos novos países — como o dos tutsis e

hutus, em Ruanda. Também houve tensões na divisão entre a Índia e Paquistão para hindus e

islâmicos, gerando ainda a separação de Bangladesh, já nos anos 1970. Além disso, muitos

desses países recém-independentes foram criados com governos instáveis — causando uma

série de guerras civis e ditaduras, especialmente na África.

Por fim, outra consequência do imperialismo é o apagamento da história das regiões

colonizadas e a continuidade do racismo. É reconhecido que a política expansionista do

século XIX foi bastante prejudicial para as regiões exploradas.

Resistência indígena
Posted Seg, 26/03/2012 - 23:49 by moises

A ideia de que os indígenas do Brasil no período colonial desapareceram e/ou perderam sua
identidade, baseada na História tradicional, é debatida e combatida na historiografia recente. Os
nativos não podem ser reduzidos a meras vítimas da conquista, isso exclui a idéia de que os
próprios tomavam a iniciativa para resistir em uma luta pela sobrevivência. Eles jamais aceitaram,
sem resistência, a dominação do europeu. De acordo com Maria Leônia Chaves de Resende e Hal
Langfur, os índios não agiam tão somente em defesa própria,

principalmente no caso dos Puri e dos Botocudo, eles repetidamente


iniciavam ataques em territórios recentemente ocupados e, em alguns
casos, até em territórios já considerados firmemente controlados pelo
poder colonial. Os índios, em suma, eram ao mesmo tempo vítimas e
perpetradores de violência. Naturalmente, até a mais cuidadosa leitura de
fontes escritas pelos colonizadores pode apenas dar uma breve visão de
como essa luta era vista pelos índios. No entanto, tal análise sugere
claramente que eles se comportavam de forma muito diferente da que os
colonizadores retratavam como a natureza irracional da resistência
indígena.[1]

A resistência indígena se dava pelas fugas dos aldeamentos missionários e de outros tipos de
cativeiro, pela defesa das aldeias contra os Bandeirantes, por ataques a vilas e fazendas, pela
colaboração com o europeu, bem como pelo suicídio quando presos. A resistência intensificava-se,
sobretudo, a partir da penetração do conquistador no interior do país pela busca de metais
preciosos ou na expansão das fazendas, onde estes faziam, na maioria das vezes, o uso da
violência.

O domínio religioso imposto pelos portugueses tornava os nativos “submissos” ou aparentemente


dóceis à dominação. Na visão dos primeiros portugueses, os índios não possuíam nenhuma
religiosidade. No entanto, religiosidade e crenças míticas faziam parte da vida indígena, e uma das
principais tarefas dos portugueses seria a de trazer estes índios para a verdadeira fé cristã, e que
costumes como a poligamia, a antropofagia, o andar sem roupas, as bebidas, etc., fossem
extintos.

A Confederação dos Cariris foi um movimento de resistência da nação Cariri (ou Kiriri) à
dominação portuguesa, ocorrido entre 1683 e 1713, que envolveu nativos principalmente do Ceará
e algumas tribos de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba. Ela iniciou-se em resposta ao
avanço de sesmeiros que invadiram as terras ocupadas pelos indígenas e provocaram vários
conflitos. A revolta começou na região norte-rio-grandense do Açu, com ataques contra vilas e
fazendas resultando em mortes e destruição. A pedido do governo-geral do Brasil, bandeirantes de
São Paulo e de São Vicente foram requisitados para acabar com o motim. A presença dos
bandeirantes não acabou com a revolta, ao contrário, disseminou-a para outras regiões e provocou
a entrada de outras nações: os Anacés, Jaguaribaras, Acriús, Canindés, Jenipapos, Tremembés e
dos Baiacus.

Após anos de luta, entrou em ação o regimento de ordenanças do coronel João de Barros Braga,
que fora avassalador. Composta de homens conhecedores do terreno e do modo de guerrear
indígena fora promovida uma expedição guerreira em 1713 que subiu pelo vale do Jaguaribe ao do
Cariri, até os confins piauienses, exterminando todos os indígenas pelo caminho não importando
sexo ou idade. Assim terminou a Confederação dos Cariris, apontada nos livros de História
tradicionais como a "Guerra dos Bárbaros".

Os índios Goitacás por duas vezes destruíram a povoação e os engenhos de açúcar construídos em
seu território. Os Tamoio ou Tupinambá, da família Tupi, grandes guerreiros que ocupavam a
região do Rio de Janeiro até Ubatuba, formaram a Confederação dos Tamoios que aliada aos
franceses durante dez anos (1555-1565) ameaçaram o povoamento português das capitanias do
sul.

A superioridade militar dos europeus e a dificuldade dos indígenas de se unirem contra o inimigo
comum, foram fatores que prejudicaram esse tipo de resistência. Os indígenas, divididos por
rivalidades tribais, auxiliavam os europeus na luta contra outros indígenas. Mas nas poucas
ocasiões em que conseguiram se unir, na forma de confederações, foi penoso para os europeus
dominá-los.

Os índios procuraram adaptar-se a nova realidade. Sua cultura não fora destruída totalmente, esta
sobreviveu ao fazer (re)elaborações de suas práticas religiosas e das práticas cristãs. Essas
(re)leituras ao mesmo tempo negavam e incorporavam valores da dominação colonial,
(re)significando seus códigos culturais de acordo com a sua compreensão e necessidade.

Escravidão indígena
Escravidão indígena foi a primeira tentativa de escravidão no Brasil, mas os
portugueses encontraram várias dificuldades, como a ação jesuíta e a não
adaptação indígena.
Imprimir
Texto:
A+
A-

PUBLICIDADE

A escravidão indígena foi a primeira tentativa da Coroa portuguesa de explorar a


mão de obra no Brasil. Os portugueses encontraram inúmeras dificuldades em
capturar indígenas para esse fim. Além destes conhecerem muito bem o território,
os padres jesuítas tornaram-se empecilhos para a escravidão, porque defendiam os
índios para serem catequizados.

A Coroa só autorizava a escravidão indígena por meio da guerra justa. Com a


vinda dos negros africanos para o trabalho escravo, e tendo-se em vista a
lucratividade do tráfico negreiro, a escravidão indígena foi sendo deixada de lado.

Leia também: Escravidão no Brasil: formas de resistência


O modo de vida dos índios não se adaptou ao trabalho escravo exigido pelos portugueses nos
primeiros anos de colonização brasileira.

Tópicos deste artigo


● 1 - Contexto histórico da escravidão indígena

● 2 - Causas da escravidão indígena

● 3 - Escravidão entre os indígenas

● 4 - Igreja e a escravidão indígena

● 5 - Coroa e a escravidão indígena

● 6 - Abolição da escravidão indígena

● 7 - Escravidão indígena X escravidão africana

● 8 - Resumo sobre a escravidão indígena

● 9 - Exercícios resolvidos

Contexto histórico da escravidão indígena


Quando os portugueses desembarcaram no Brasil em 1500, buscou-se o primeiro
contato com os nativos para conhecer-se melhor a região e suas riquezas.

O primeiro ciclo econômico da colônia foi o pau-brasil. Os índios retiravam as


árvores das florestas próximas ao litoral e colocavam-nas nas caravelas
portuguesas em troca de espelhos e bugigangas que não tinham valor comercial
para os portugueses, mas chamavam a atenção dos nativos. Essa troca chamava-se
escambo.

Enquanto Portugal lucrava com o comércio de especiarias das Índias, as novas


terras na América serviam de entreposto, de parada das navegações vindas de
Portugal para, em seguida, continuarem a viagem em direção às Índias. Enquanto
isso, o comércio do pau-brasil era mantido.

A crise do comércio de especiarias e a ameaça de invasão por parte de piratas


ingleses e franceses fizeram com que Portugal investisse definitivamente na posse
e na exploração do Brasil. Ao contrário dos espanhóis, que encontraram ouro nos
primeiros anos de colonização da América, os portugueses não tiveram a mesma
sorte. O comércio do pau-brasil gerava algum lucro, mas não o suficiente para a
Coroa portuguesa. Os colonizadores tentaram aproximar-se dos índios, para que
estes se tornassem seus aliados e, logo depois, escravizados. Os índios colaboraram
com os portugueses na expulsão de estrangeiros que tentaram invadir o Brasil.

No mesmo período que a Coroa portuguesa decidiu investir na exploração do


Brasil, a Companhia de Jesus também participou dessa empreitada e enviou
diversos padres para catequizar os habitantes das regiões distantes da Europa. No
século XVI, a Igreja sofria os reveses da Reforma Protestante, e a criação da
Companhia de Jesus foi uma das respostas ao avanço protestante na América.

Os padres jesuítas tiveram papel importante na cristianização dos colonos e na


catequização dos índios. O Padre José de Anchieta aprendeu a língua tupi-guarani
e foi o primeiro a fazer um dicionário sobre ela. Ele se utilizava de poesias e
apresentações teatrais para evangelizar os índios.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Causas da escravidão indígena


As causas da escravidão indígena estão ligadas principalmente ao propósito dos
portugueses em colonizar o Brasil. Ao contrário do que houve na América do
Norte, os colonizadores portugueses não deixaram seus reinos para morar aqui.
Eles vinham apenas para explorar as riquezas do Brasil. A única mão de obra
disponível era a indígena, no entanto, o trabalho escravo e em grande escala não
era comum para os índios.

Os colonizadores utilizaram-se de ameaças, da força física e da propagação de


doenças para forçar os índios a trabalharem para a Coroa. Várias tribos foram
dizimadas por conta do conflito com os portugueses ao recusarem o trabalho
escravo. Muitos índios fugiram para o interior do Brasil, evitando ser escravizados.
O fracasso da escravidão indígena fez com que os portugueses optassem pela
escravidão negra oriunda da África.

Escravidão entre os indígenas


A escravidão entre os índios acontecia logo após uma tribo vencer a outra em um
combate. Os derrotados eram transformados em mão de obra escrava, mas o
trabalho exigido não se comparava com o que os portugueses esperavam que os
índios fizessem.

A escravidão entre os índios era o trabalho na tribo. Além disso, havia tribos
canibais que comiam a carne dos adversários, pois acreditavam que, dessa forma,
teriam as mesmas qualidades daqueles que morreram no combate. Por exemplo, se
um inimigo capturado era um bom corredor, suas pernas eram comidas para que a
velocidade delas fosse agregada a quem as comesse.

Veja também: Cultura indígena – aspectos marcantes e suas peculiaridades


Igreja e a escravidão indígena
Os primeiros anos da colonização efetiva do Brasil, a partir de 1530, expuseram
conflitos entre a Igreja e os colonos portugueses. Os colonos queriam escravizar os
índios para trabalharem nas plantações de cana-de-açúcar, enquanto os religiosos
aproximaram-se deles para catequizá-los. Os índios eram vistos como seres
inferiores, que necessitavam da conversão ao catolicismo para que suas almas não
fossem condenadas. Por isso, as práticas religiosas realizadas pelas tribos antes da
chegada dos portugueses foram abolidas pelos padres jesuítas.

Percebendo que os colonos não cessariam de persegui-los até conseguirem capturá-


los para o trabalho nas lavouras de açúcar, os padres jesuítas fugiram com os índios
para o interior do Brasil, principalmente para as terras mais ao sul e ao norte da
colônia. Surgiam assim as missões jesuítas, que protegiam os índios da perseguição
dos portugueses e nas quais eram ensinados a doutrina católica e o preparo da terra
para a plantação dos alimentos a serem consumidos nelas.

Esse avanço jesuíta foi o primeiro movimento de interiorização do Brasil. Os


jesuítas alcançaram o norte da colônia, principalmente a região próxima da Floresta
Amazônica. Essas expedições religiosas ao norte descobriram as drogas do sertão,
produtos oriundos da floresta.
Padre José de
Anchieta trabalhou na catequização dos índios e produziu o primeiro dicionário da língua tupi-
guarani.

Coroa e a escravidão indígena


Para evitar o conflito entre os colonos e os jesuítas, a Coroa portuguesa determinou
a guerra justa — os portugueses só poderiam escravizar os índios que tivessem
entrado em conflito com os colonos, um confronto gratuito, sem provocação dos
portugueses.

Abolição da escravidão indígena


A Coroa portuguesa teve mais prejuízo do que benefício com a escravidão
indígena. A fuga para regiões mais distantes, a indisponibilidade para o trabalho
intensivo exigido pela Coroa e a presença jesuíta na defesa dos índios fizeram com
que os portugueses repensassem formas de mão de obra para a lavoura de cana-de-
açúcar. A escravidão africana mostrou-se lucrativa e mais vantajosa do que a
indígena.

Escravidão indígena X escravidão africana


O negro africano veio trabalhar como escravo no Brasil para atender aos anseios da
Coroa de iniciar-se rapidamente a produção açucareira de forma intensiva. Com o
trabalho escravo vindo da África sendo vantajoso financeiramente e atraente para
os senhores de engenho do Nordeste, o tráfico negreiro intensificou-se para essa
região, e, dessa forma, a escravidão indígena foi sendo substituída pela mão de
obra negra.

"Resumo sobre a escravidão indígena


O trabalho indígena na colônia foi a primeira tentativa de escravizar os índios para que
trabalhassem de forma intensiva nas lavouras de cana-de-açúcar no Nordeste.
Conflitos entre colonos e jesuítas pela posse dos índios.
Guerra justa: a Coroa só admitia a mão de obra indígena se houvesse conflito entre os
colonos e as tribos indígenas.
O tráfico negreiro mostrou-se mais lucrativo e atraente para os senhores de engenho."

A resistência indígena
contra os novos
Bandeirantes
por Jornalistas Livres
• 10/11/2017
Twittar

Compartilhar

35

36

COMPART.

Protesto indígena em frente ao Congresso Nacional. (Foto: Laycer Tomaz)

Há mais de quinhentos anos os povos nativos do Brasil lutam pela


sua sobrevivência, pela preservação de sua cultura, suas terras e a
natureza. Durante toda a história deste país, os indígenas sofreram
perseguições, escravidão, genocídio e os que restaram foram
expulsos de suas terras pelo avanço do homem branco.
Quando essas terras foram conquistadas pelos portugueses, havia
aqui uma população indígena superior a 5 milhões de habitantes,
reduzidos ao longo dos anos para menos de 900 mil. Os
portugueses que se consideravam donos destas terras, obrigaram
grande parcela desses indígenas a realizar trabalhos forçados. Sua
escravidão foi auxiliada pela ação dos Bandeirantes, caçadores de
nativos e responsáveis pela morte de diversos deles. Além disso,
muitas doenças trazidas pelos europeus e africanos,
potencializaram o desaparecimento de um grande número de
indígenas.
Segundo dados da FUNAI e do Censo do IBGE (2010), a atual
população indígena brasileira, é de 817.963, confinados em áreas
correspondentes a 13,8% do território original que estes nativos
possuíam. Desde 1500 até a década de 70 a população de nativos
decresceu, chegando a extinção de diversas etnias. O cenário teve
mudanças a partir dos anos 90 quando o IBGE incluiu os indígenas
no censo demográfico nacional. O crescimento de pessoas que se
consideravam indígena foi de 150%.
Depoimento de Cláudio Barros de 93 anos, cacique da aldeia Tekoha Porã, em
Guaíra — PR, e de sua esposa, Vitória. Enfrentou e resistiu a sucessivas tentativas
da sociedade e do Estado brasileiro de expulsá-los de sua terras.

Atualmente a FUNAI estima que existam no Brasil 274 línguas


faladas, o Censo mostrou que cerca de 20% da população nativa
não fala o português. A entidade aponta que esses indivíduos têm
enfrentando uma transformação social muito grande, tendo que
buscar maneiras de garantir a sobrevivência física e cultural. Entre
os principais problemas estão invasões territoriais, degradação do
meio ambiente, exploração sexual, aliciamento e uso de drogas e
exploração de trabalho. O que não falta são questionamentos
sobre a falta de atuação do Estado em relação a esses problemas.

O antropólogo e coordenador da Pastoral Indigenista da


Arquidiocese de São Paulo e do Programa Pindorama da PUC-SP,
Benedito Prezia, acredita que a lentidão no processo de
demarcação dessas terras é devido ao grande interesse nas terras
indígenas, geralmente situadas em áreas onde há minério ou rios,
destinados a hidrelétricas. Em outros casos, são terras férteis,
objeto de exploração do agronegócio. “São também áreas que o
governo, em épocas passadas, resolveu destiná-las para projetos
de colonização, como a terra dos Gurani-Kaiowá no Mato Grosso
do Sul. Em 1973, com o Estatuto do Índio, o governo militar deu um
prazo de 5 anos para demarcar todas as terras e não cumpriu. Em
1988, quando foi promulgada a nova constituição, foi dado um novo
prazo de 5 anos e também não foi cumprido. Assim, há também
uma conivência do executivo com os grupos econômicos para não
avançar as demarcações”, afirma.

Para o coordenador do CIMI Sul (Conselho Indigenista


Missionário), Roberto Liebgott, apesar das conquistas
constitucionais, os direitos indígenas estão sob ameaça, na atual
conjuntura brasileira, em decorrência da influência dos poderosos
grupos econômicos-agronegócio que pressionam o governo, o
Congresso Nacional e o Poder Judiciário no sentido de impedir que
as regras postas pela Constituição sejam cumpridas.

Documentário realizado para o Acampamento Terra Livre, com depoimentos de


lideranças e imagens da luta dos indígenas por todo o Brasil.

A constituição Brasileira de 1988 assegura aos povos nativos a


posse permanente das terras, cabendo-lhes o uso exclusivo das
riquezas em seu interior. No ano 2000 foi proposta, por um
executivo da bancada ruralista, a PEC 215, sugerindo que as
demarcações de terras indígenas sejam feitas, não mais pela
FUNAI e sancionadas pelo ministro da Justiça, mas sim pelo
Congresso Nacional. A proposta parte do interesse da chamada
bancada ruralista, grupo de deputados e senadores que defendem
os interesses do agronegócio, principal inimigo dos indígenas.
Prezia julga que a aprovação da PEC seria um desastre, pois não
haveria mais demarcação de terra indígena. Apesar de não
conseguir aprovar a PEC, o governo esvaziou a FUNAI, cortou
recursos, e colocou como presidente da entidade um militar que
segue a cartilha dos ruralistas, aumentando os conflitos. Para o
antropólogo, precisa haver mais autonomia da FUNAI por parte do
poder executivo e uma vontade política do governo em apoiar os
povos indígenas.

A essa proposta soma-se uma série de projetos para alterar os


artigos 231 e 232 da Constituição Federal. De acordo com Liebgott,
uma dessas artimanhas são as decisões judiciais que tomam por
base o que tem sido chamado de “Marco Temporal”. “Isso
pressupõe de que as terras indígenas e quilombolas a serem
demarcadas seriam somente aquelas efetivamente ocupadas no
ano de 1988, quando se promulgou a Constituição Federal. São
intensas as pressões de setores agrários e ruralistas sobre o
Congresso Nacional, pois as terras indígenas e quilombolas
representam novas fronteiras de expansão do agronegócio”,
declara ele.

(Foto: Ana Mendes)

Dados do Conselho Indigenista Missionário revelam que


atualmente existem 1296 terras, sendo destas 640 regularizadas,
as demais se encontram paralisadas ou os processos de
demarcação não foram iniciados pelo órgão indigenista.
O coordenador do CIMI região Sul, assegura que no fundo dessa
disputa há três argumentos que tentam convencer a população
para se contrapor as demarcações. Liebgott alega que esses
mesmos argumentos servem ao convencimento de políticos de
autoridades do executivo e do judiciário. A primeira das três
alegações é que há interesse de grupos estrangeiros nas terras
indígenas e isso explicaria o empenho de ONGs e entidades na
defesa das demarcações. Outro discurso utilizado é de que há
muita terra para os “índios”, presumindo que eles não produzem
nas terras onde vivem. A terceira justificativa é a de que não se
pode cometer a injustiça de demarcar as terras para os índios e
deixar os agricultores e produtores, que alimentam a população,
sem terras para produzir.

Um levantamento realizado pelo De Olho nos Ruralistas, com base


em informações do Instituto Socioambiental (ISA), aponta que pelo
menos 25 projetos de lei que configuram ameaças aos direitos dos
povos indígenas tramitam no Congresso, 90% destes projetos
foram apresentados pela bancada ruralista. O estudo feito ainda
apontou que a maioria desses parlamentares responde algum
processo judicial.

Guaranis Mbya
(Foto: Teresa Paris / Comissão Guarani Yvyrupa/Divulgação)

Em meio aos diversos conflitos por direitos indígenas nos últimos


anos, o caso mais recente que chamou atenção foi a anulação por
parte do Ministério da Justiça da portaria nº 581, de 2015, que
garantia mais de 500 hectares de terras guaranis no Parque do
Jaraguá. Segundo o Ministério a anulação se deu por erro
administrativo no procedimento inicial.

O texto emitido argumenta que a área “foi demarcada sem a


participação do Estado de São Paulo na definição conjunta das
formas de uso da área”. De acordo com o governo a terra indígena
do Jaraguá tem extensão aproximada de três hectares.

Liebgott afirma que essa revisão ocorreu em função de dois fatores


essenciais. “O governo tem a intenção de conceder partes da área
para s especulação imobiliária e com o intuito de atender aos
interesses econômicos que visam à exploração dos parques e
áreas ambientais, dentro da lógica neoliberal de privatização. A
revisão da demarcação daquela terra ocorreu para atender,
portanto, pedido do governo de São Paulo, que pretende entregar
aquela região toda para a iniciativa privada”.

No ano passado o governo estadual, enviou um decreto a


Assembleia Legislativa privatizando todos os parques estaduais,
incluindo o do Jaraguá. De acordo com a lei, os parques serão
concedidos por 30 anos para a exploração dos serviços como o
ecoturismo, além da exploração comercial madeireira ou de
subprodutos florestais.
Por outro lado, existe outro empecilho que dificulta a conclusão do
processo de demarcação dessas terras. Desde 2005 a família de
Tito Costa, ex-deputado federal e prefeito de São Bernardo do
Campo, alega ser dono de uma parte de onde ocorreu a ampliação
da área do Jaraguá onde está a aldeia Itakupé.

Atualmente a reserva abriga cerca de 700 nativos de cinco aldeias.


A reportagem feita pelo G1 em março deste ano, constatou que
moram mais de 140 famílias no local com muitas crianças. Faltam
recursos naturais para esses indígenas, a reportagem apontou que
esses índios vivem em condições precárias, morando em casas
feita de chapas de madeira e chão de barro. Algumas famílias
fazem e vendem artesanato, muitas recebem o Bolsa Família.
Depoimento de indígenas explicando o motivo da ocupação do
prédio da Presidência da República.

A revogação da demarcação causou uma série de protestos por


parte da aldeia e de movimentos que apoiam os indígenas. No final
de agosto um grupo de índios e diversos outros movimentos,
ocuparam o vão livre do MASP, em seguida saíram em caminhada
pela Av. Paulista até a sede da Presidência da República. Os
indígenas chegaram a ocupar o hall de entrada do prédio.
(Foto: Luiza Calagian/Comissão Guarani Yvyrupa)

No mesmo dia, indígenas acamparam em frente ao Ministério da


Justiça em protesto contra a decisão do governo de reduzir a área
da reserva. No dia 13 de Setembro os indígenas ocuparam o pico
do Jaraguá como forma de protesto, chegando a desligar antenas
de rede, deixando mais de 600 mil pessoas sem televisão.
(Foto: Comissão Guarani Yvyrupa/Divulgação)

A luta pela revogação da portaria nº 683, do Ministério da Justiça,


ganhou adeptos nas redes sociais, que subiram a tag “Jaraguá é
Guarani” no Twitter com milhares de mensagens, além de eventos
e publicações no Facebook. Questionado sobre o papel da Pastoral
Indigenista da Arquidiocese de São Paulo, o coordenador Benedito
Prezia alegou que desde 1999 a pastoral tem contato direto com a
aldeia do Jaraguá, procurando orientar e apoiar essa comunidade
no sentido de reivindicação de um espaço maior. Prezia ainda
afirmou que após a ampliação da área em 2015, o grupo tem
enviado algum recurso material para as famílias que estão na nova
aldeia Itakupé.

Na ocasião, a pastoral participou dos atos na Av. Paulista, além de


emitir uma nota de repúdio por meio da Comissão Caridade,
Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, encampada por
outras entidades e movimentos.

Em nota a Comissão declarou que a “portaria é mais um ato violento contra os


povos originários do Brasil, e ironicamente sobre um povo que vive às margens da
rodovia dos Bandeirantes, referência e perversa homenagem a seus antigos
algozes. E mais uma vez tornam-se vítimas de uma política discriminatória,
emanada de um governo que deveria, sim, pagar uma dívida histórica, em
reparação à prática genocida dos bandeirantes paulistas”.

O texto prossegue reafirmando o repúdio ao decreto do governo e


declarando o total apoio das pastorais sociais da Igreja Católica e
organismos cristãos comprometidos com a causa indígena.

Na noite do dia 15 de setembro os índios Guarani encerraram a


ocupação no Pico do Jaraguá após um acordo com o Governo do
Estado. As lideranças indígenas se reuniram com representantes
das Secretárias do Meio Ambiente, Segurança Pública e da Justiça
e da Defesa da Cidadania. O acordo feito define que o parque não
será privatizado, reivindicação dos indígenas, além de não
criminalizar as lideranças que participaram dos atos. A reunião
também estabeleceu uma comissão intersecretarial para tratar das
reivindicações das aldeias indígenas. Apesar do acordo as tribos
ainda lutam para que a portaria nº 581 seja revogada.

Reivindicações Indígenas
As questões que envolvem os indígenas não se resumem às
demarcações de terra. Diversos outros assuntos foram
apresentados e discutidos, mas pouco se fala das propostas
apresentadas pelos povos indígenas e comunidades quilombolas.

As exigências são direcionadas à Presidência da República, ao


Congresso Nacional e ao Poder Judiciário.

Abaixo algumas das exigências:

Presidência da República

Retomada de todos os procedimentos de demarcação de terras paralisados pela


presidência da república no ano de 2013.

Garantia de orçamento para retomada dos grupos de trabalho da Fundação


Nacional do Índio (FUNAI), para demarcação dos territórios indígenas.

Garantia de orçamento para titulação dos territórios quilombolas.

Suspensão do Parecer 1 da AGU que impõe condicionantes ao uso dos territórios.

Congresso Nacional

Arquivamento imediato da PEC 215/2000 que visa impedir a demarcação das terras
indígenas, pois repassa a responsabilidade ao Congresso Nacional, espaço onde
não tem representação dos povos, a decisão sobre reconhecer territórios indígenas
e quilombolas.
Poder Judiciário

Que haja, por parte de juízes e magistrados, justa e adequadas


decisões no que tange as ações possessórias e de reintegração de
posse movidas contra famílias pobres e que lutam por moradia nos
espaços urbanos.

Que no âmbito da Justiça Federal, nos Tribunais Regionais, no STJ


e STF, sejam revogadas as interpretações restritivas de direitos
dos povos indígenas e quilombolas, especialmente no tocante ao
marco temporal da Constituição Federal de 1988, tese jurídica
desproporcional, pois afronta direitos originários e tradicionais de
indígenas e quilombolas.

Resistência indígena é celebrada com resgate da


memória e luta dos povos originários
Mesmo sendo um direito reconhecido pela Constituição Federal,
demarcação das terras indígenas no Brasil não avança

Daniel Lamir e Vanessa Gonzaga

Brasil de Fato | Recife (PE) | 20 de Abril de 2018 às 16:03


Xukurus do Ororubá, em Pesqueira, durante ato que marca sua assembleia anual - Vinícius Sobreira/Brasil de Fato
Desde muito novos, aprendemos na escola que a invasão portuguesa do Brasil
impactou a vidas dos povos originários que aqui já viviam, mas pouco sabemos
sobre como as etnias que resistiram ao massacre, que teve início em 1500, vivem
hoje. Em pouco mais de cinco séculos, a população indígena, que era estimada em
5 milhões na época, é agora estimada em cerca de um milhão de pessoas
distribuídas em aproximadamente 250 etnias em todo território brasileiro.

Além do genocídio, o preconceito, a perseguição, o desenvolvimento predatório e a


invasão dos territórios têm sido ameaças constantes denunciadas pelos indígenas.
Mesmo com os problemas, os indígenas celebram o dia 19 de abril como um dia de
luta e resistência contra as ameaças ao seu modo viver. “O nosso povo celebra com
muita alegria, sabendo que a gente faz memória da nossa ancestralidade, dos
nosso antepassados, de todos os guerreiros e guerreiras que tombaram na luta pra
defender o nosso povo, para que um dia pudéssemos ter território e essa terra
garantida pra vivenciar nossa cultura, identidade, costumes e tradições”, afirma
Maurílio Nogueira, do povo Truká, na cidade de Cabrobó, do Sertão do São
Francisco.

Muitas nações indígenas vivem no nordeste, mais especificamente nas regiões à


margem do Rio São Francisco, como a comunidade da Ilha de São Pedro, onde vive
o povo Xocó, único no estado Sergipe. O território, invadido por latifundiários foi
reconquistado em 1979 e hoje 117 famílias vivem no local. Os conflitos de terra com
os territórios indígenas são recorrentes. O povo Xukuru da Serra Ororubá, em
Pesqueira, no agreste pernambucano, também foi alvo de perseguição por
empresários e fazendeiros.

Por mais que a Constituição Federal reconheça o direito à terra pelos povos
originários, na prática o Estado tem falhado na titulação de terras indígenas. A
nação Xukuru só teve suas terras finalmente reconhecidas pelo Estado após 16
anos e a intervenção da Corte Interamericana de Direitos Humanos, após constatar
os problemas causados pela demora. Há 20 anos, o Cacique Chicão, que lutou pelo
direito à demarcação das Terras, foi executado. Amanda Santos, que pertence à
etnia, fala da importância da demarcação “Nós não queremos a terra para fazer
negócio, queremos ela pra cuidar, plantar e fazer com que nosso povo, nossas
crianças e jovens se desenvolvam para continuar a nossa luta. Nós estamos aqui
acima do medo e da coragem, como dizia Cacique Chicão”.

Diante de tantos problemas no reconhecimento, titulação e demarcação das terras,


as etnias tem se mobilizado contra os retrocessos e na luta pelos seus direitos. Um
dos espaços de luta e debate sobre os temas será a 15ª edição do Acampamento
Terra Livre, que acontecerá entre os dias 23 e 27 de abril em Brasília, organizado
pela Associação de Povos Indígenas do Brasil e que se coloca como mais um
espaço de celebração e resistência dos povos originários.

Você também pode gostar