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INTRODUÇÃO
Uma estratégia adotada para lidar com a crise foi a adoção de políticas
corporativistas a fim de regular a economia. Diante de sua ineficiência, logo se
consolidou a polarização: de um lado aqueles que defendiam a intervenção estatal e de
outro aqueles que almejavam liberar o poder corporativo e restabelecer as liberdades de
mercado. Na metade da década de 70, este grupo passa para o primeiro plano.
Outro marco no processo de emersão das ideias neoliberais foi a política adotada
no FED por Paul Volcker:
A despeito de, em alguns lugares, o programa neoliberal ter sido implantado por
meio da violência e coerção, como no Chile e na Argentina, a imposição das ideias
neoliberais em tamanha escala só foi possível com a construção do consenso em ampla
camada da população. Para isso, Harvey aponta que houve um grande investimento na
produção de ideias, propaganda e cooptação de intelectuais e instituições:
Como nos movimentos sociais que clamavam por liberdades individuais havia
também um clamor anti-corporações, que ameaçava a posição da classe dominante,
surgiu a demanda por uma estratégia que privilegiasse o enfoque individualista daquele
movimento, enfatizando a liberdade de escolha dos indivíduos enquanto consumidores,
agora não apenas de produtos, mas de ideias e estilos de vida. Ao encontro dessa
demanda caem como uma luva as ideia pós-modernas. Essa teria sido a tarefa para a
qual teria se orientado a classe dominante a partir na década de 80:
Uma das alternativas que surgem como respostas à crise de acumulação por que
passava a classe burguesa foi a reestruturação que se deu a partir da crise fiscal na
cidade de Nova Iorque. Os efeitos da reconfiguração da economia e desindustrialização
eram lá sentidos como em muitas cidades estadunidenses. Para contê-los, a estratégia
inicialmente adotada foi o aumento do número de empregos e serviços públicos. Nixon,
em sua gestão, entretanto, declarou que a crise urbana que vinha se estendendo por anos
havia acabado e cessou a ajuda governamental.
Dessa forma, mesmo que por vias democráticas, a classe burguesa logrou
realizar uma reforma institucional que se pode dizer análoga ao que foi realizado a partir
do golpe militar no Chile:
Assim, pode-se afirmar que o ajuste fiscal nessa cidade serviu de balão de ensaio
para uma nova concepção de Estado, em que a gestão pública assume um papel de
empreendedora: o bem-estar corporativo toma o lugar do bem-estar social. Logo as
práticas adotadas nessa experiência foram levadas para o âmbito federal e internacional,
influenciando as ações da gestão Reagan:
Nesse contexto, os trabalhadores fazem um novo levante, com greves em diversos setores. A
mídia passa a atacar ferrenhamente os sindicatos e a opinião pública começa a mudar de lado: nas
eleições seguintes Margaret Thatcher ascende ao cargo de primeira-ministra.
A respeito de sua gestão, afirma-se que assim como Regan o foco foi nas relações de trabalho e
no combate à inflação. As altas taxas de juros aumentaram o desemprego, enfraquecendo a organização
dos trabalhadores. Tal qual o presidente americano fez com o sindicato dos controladores de voo,
Thatcher fez com os mineiros, esmagando a greve que durou quase um ano. Abriu-se o país para
investimentos externos, ponto as indústrias tradicionais, onde se concentravam os trabalhadores
organizados, em grandes dificuldades _ e até mesmo acabando com certos setores. O saldo de tudo isso,
ao final de seus mandatos, foi a redução do nível dos salários e uma classe trabalhadora “relativamente
obediente”: “Ela erradicara a inflação, controlara o poder sindical, dominara a força de trabalho e, no
processo, construíra para suas políticas o consentimento da classe média (p.59).”
Como solução para tais problemas, a maioria dos neoliberais aponta como
resposta mecanismos de mercado ou até mesmo a inação, sob o argumento de que “o
remédio seria pior que a doença”.
Contraditória também é a ideia de que todos são livres para escolher, porém
estritamente dentro dos parâmetros mercadológicos. A liberdade passa a ser mal vista
quanto confronta os interesses das instituições de mercado:
Não obstante, Harvey observa que, de acordo com o jogo de forças políticas em
cada caso, ocorre de políticos entusiastas das medidas neoliberais tomarem medidas em
sentido oposto: seja para proteger interesses comerciais específicos ou para manter sua
base de apoio. Nesse sentido, cita-se o exemplo dos países desenvolvimentistas do
continente asiático, que compatibilizam o processo de neoliberalização com a
consecução de um projeto de intervenção econômica e investimentos em setores do
bem-estar social estratégicos para a economia, como a educação:
Harvey aponta que o ponto onde se torna mais evidente a contradição entre a
teoria neoliberal e a prática é o setor financeiro, onde por um lado o Estado atua no
sentido de desregulamentá-lo, porém, frente a qualquer instabilidade, logo surge como
garantidor, intervindo sem exitar:
Por outro lado, caso tal estratégia de individualismo seja inexitosa ao controlar a
mão-de-obra, observa-se que não se exita em utilizar a força repressora do Estado e
policiamento:
Assim, constata-se que o grande temor dos teóricos neoliberais, de que interesses
corporativos tomem de assalto o aparelho de Estado moldando-o aos seus interesses
corporativos, realiza-se plenamente no centro do poder estadunidense, onde há uma
relação promíscua entre Estado e grandes corporações. Após esse exemplo, afirma-se
que:
Seguindo esse mesmo mecanismo, observa-se que é possível que, de igual modo,
se instrumentalize o nacionalismo, não obstante, nos seus primórdios o Neoliberalismo
tenha buscado dele se afastar. Assim, Harvey aponta os perigos desse cenário onde se
une a ideia de superioridade moral de uma nação com a disposição de se recorrer a
draconianas práticas coercitivas (p. 96).