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Prova de História da América III CSO022 – Prof.

Newman Caldeira
Discente: Michelle Oliveira Lima Leal
Recomenda-se que cada questão seja respondida com, pelo menos, duas laudas. Além disso,
um ponto a ser destacado é a promoção de debates historiográficos entre os autores da
disciplina.
Faça APENAS duas das três questões propostas. QUESTÕES:
1a. Questão: Partindo do conceito de hegemonia de Gramsci, Tatiana Poggi procura
fazer um painel da crise econômica que gerou recessão nos Estados Unidos da América.
Discorra sobre as razões e explique de que forma as elites políticas e econômicas
estadunidenses conseguiram reerguer a economia após o crack da bolsa, em 1929.
A quebra da bolsa de New York em 1929 acarretou em uma crise econômica e política
chamada de Grande Depressão, não apenas nos Estados Unidos, como também em diversos
outros países, levando a uma extensa crise mundial. As razões para a quebra da bolsa, em
1920, foram diversas, entre elas, uma superprodução do setor industrial e do campo, o
subconsumo desses produtos, tanto pelo mercado interno, como pelo mercado externo, e uma
grande especulação financeira.
É válido ressaltar que, esse período levou a uma intensa crise do liberalismo
econômico clássico, ao fim da Belle Époque estadunidense, e ao fim do “American Way of
Life”, tendo em vista que a economia dos Estados Unidos era considerada a maior mundial,
após a Primeira Guerra Mundial, devido aos países europeus estarem sofrendo com os
desgastes econômicos, políticos e sociais pós guerra. Com isso, os Estados Unidos era o
responsável por exportar inúmeros produtos industriais e agrícolas e detinha os maiores
bancos mundiais, fazendo com que o dólar fosse a principal moeda econômica e seu estilo de
vida fosse almejado pelas demais sociedades.
Além dos problemas externos, os Estados Unidos também possuíam uma intensa
desigualdade social, fazendo com que a renda do país fosse concentrada em uma pequena
parcela da população e os salários pagos ao restante fossem miseráveis. Com a economia
europeia se recuperando, ocorreu uma expressiva diminuição da exportação e com isso, a
população estadunidense não conseguiu consumir tudo que era produzido, ocasionando a
superprodução e consequentemente muitas empresas faliram e o desemprego se tornasse ainda
maior.
Em 1933, após as eleições, Franklin Delano Roosevelt, do partido democrata, se
tornou presidente dos Estados Unidos. Como alternativa, Roosevelt propôs um projeto
reformista denominado de política New Deal. Seu objetivo era de salvar a economia norte-
americana e o sistema capitalista. Para isso, indo contra a economia liberal, o New Deal
precisou utilizar da intervenção na economia pelo Estado. Nesse sentido, foram feitos
investimentos na infraestrutura do país, que gerou uma melhor qualidade de vida em alguns
aspectos, com obras públicas, que também gerou o aumento dos empregos. Além disso,
também foi implementado a lei de controle agrícola, para que não houvesse a superprodução
no campo, foi estabelecido um salário mínimo para a população, a regulamentação das
jornadas de trabalho, e foi criado uma previdência social, que dava direito a aposentadoria, ao
seguro desemprego e auxilio para caso ocorresse acidentes no trabalho.
Apesar do New Deal ter promovido políticas que proporcionaram uma qualidade de
vida mínima para a população, elas não atingiram a população negra estadunidense, que foi a
mais atingida durante esse período, devido as políticas raciais que existiam no país. Além
disso, o New Deal também apenas proporcionou a manutenção de uma economia que não
deixou de ser exclusivista e visasse a concentração de renda em quem já tinha, favorecendo os
interesses dos grandes setores empresariais do país. Ademais, as políticas implementadas por
Roosevelt garantia a população de massa direitos que já deveriam ser dela, tendo em vista que
antes ganhavam salários miseráveis e trabalhavam mais de oito horas por dia, sem que fossem
assegurados seus direitos. Para a autora Tatiana Poggi, em seu artigo “Os opositores
conservadores do New Deal”, o New Deal era:
...basicamente a proposta do acordo, do novo acordo, do grande acordo
proposto por Roosevelt como forma de resolver o conflito de classe, retomar
a produtividade e estimular as vendas. A economia seguiria a todo vapor
graças ao pacto democrata, baseado na articulação tripartite entre poder
sindical (devidamente disciplinado), governo federal e empresariado. O
pacto realmente funcionou por um breve momento, tirou os EUA do caos da
Depressão em sua fase mais aguda, acalmando os ânimos de desesperados,
revoltosos e falidos. Não devemos desprezar o significado e os resultados de
um período de intensa mobilização política e social em torno de melhores
condições de vida e trabalho. Os programas de seguridade social são
notadamente um marco dessas conquistas. A sociedade política
democratizou-se, ainda que minimamente, a exemplo do movimento dos
trabalhadores rurais que assumira efetivamente o poder em Winsconsin e
Minessota.1

Assim, apesar de não ter sido uma série de medidas que visasse o bem estar social e de
fato uma melhoria na desigualdade social do país, mas que mantivesse o sistema capitalista e

1
POGGI, T. Os opositores conservadores do New Deal. Revista Eletrônica da ANPHLAC, São Paulo, n°7,
2008. p.44.
salvasse a maneira pela qual os grupos privilegiados exerciam o poder. O New Deal, foi visto
pelas classes mais conservadoras como um projeto preocupante devido a intervenção do
Estado na economia, que sentiram sua liberdade econômica prejudicada, e interpretaram as
medidas sociais e o crescimento de sindicatos e filiações da classe trabalhadora, como uma
ameaça comunista ao sistema vigente, fortificando grupos de extremas direita que ficaram
extremamente revoltosos.
Um dos conceitos principais para explicar esse processo de recessão dos Estados
Unidos, utilizado pela autora Tatiana Poggi, é o de hegemonia, por Gramsi, para o autor o
hegemônico significa que há a predominância de um ideal, e o controle, porém não é por isso
que não exista conflitos e resistência de outros ideais. Nesse sentido, a Grande Depressão
seria as ideias e atitudes dos principais setores industriais em desgaste, colocando em crise a
hegemonia até então vigente, do liberalismo clássico, e com uma proposta de reforma, o New
Deal, que atendia a classe hegemônica, mas também com projetos antagônicos que atendia
alguns interesses de outras classes. Assim, é possível considerar que o New Deal não teve
uma série de políticas visando o interesse da classe trabalhadora, mas serviu como um
instrumento para atender e preservar um projeto político que continuava privilegiando os
interesses do capitalismo, comandados pelos setores industriais e dos grandes agricultores.
Para o autor, Michael Wood, a crise de 1929 também foi reflexo de um país, no qual
as fraudes, os crimes organizados eram comuns e utilizados para assegurar e defender os
interesses de grandes empresas, tendo em vista que a ascensão de grandes capitalistas foi no
final do século XIX. Além disso, o darwinismo social predominava no imaginário da
população, o que sustentava o posicionamento meritocrático, racista e xenofóbico dos
conservadores e era utilizado como justificava da desigualdade social. Vale ressaltar que,
esses ideais também eram sustentados com base em doutrinas religiosas, relacionado com a
igreja, para que tudo que não estivesse em um parâmetro que beneficiasse as classes mais
altas e auxiliasse na manutenção do poder e do controle, fosse considerado como pecado e
desvio de moral. Dessa maneira, Wood aponta:
A reforma do New Deal conseguiu tornar os Estados Unidos menos
vulneráveis às brutalidades e conchavos do sistema laissez-faire e, dessa
forma, assim como de outras, fez do país um lugar menos hospitaleiro para
criminosos, extorsionários e criminosos empresariais profissionais. Durante
esse período, o governo dos Estados Unidos enfrentou o problema do crime
organizado numa perspectiva mais ampla do que a maneira pela qual ele
hoje é entendido, e por isso fez mais do que simplesmente prender os
malfeitores. Houve, como veremos, limites à eficácia do New Deal no
combate ao crime organizado nos Estados Unidos, mas esse período de
reforma foi a única ocasião na história do país em que as oportunidades de
crime organizado se reduziram.2
Portanto, apesar dos argumentos expostos por Tatiana Poggi e Michael Woodiwis
serem de pontos de vista diferentes, pois Poggi apresenta argumentos internos e externos que
levaram ao crack da bolsa e a Grande Depressão, nos Estados Unidos, e Woodiwis faz um
balanço mais interno para justificar a crise. Com ambos os textos é possível notar que o
sistema liberal que estava vigente se tornou insustentável, ocasionando o colapso e sendo
necessário medidas para novas políticas entrassem em vigor e com isso o capitalismo
continuasse em prática. Desse modo, as elites conseguiram reerguer a economia a partir do
New Deal, que proporcionou o mínimo para a população que vivia de forma inferior a isso e
provocou a manutenção do poder pelas elites, colocando em continuidade a desigualdade
social e o domínio dos Estados Unidos no resto do mundo.

Referências Bibliográficas
POGGI, T. Os opositores conservadores do New Deal. Revista Eletrônica da ANPHLAC,
São Paulo, n°7, 2008. p.27-56.

WOODIWISS, M. Capitalismo gângster: quem são os verdadeiros agentes do crime


organizado. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007. p. 63-95.

2
WOODIWISS, M. Capitalismo gângster: quem são os verdadeiros agentes do crime organizado. Rio de
Janeiro: Ediouro, 2007. p. 83.
3a. Questão: A partir dos debates historiográficos (entre modernização e atraso)
contidos no texto de Maria Helena R. Capelato, discorra sobre as leituras possíveis
acerca do conceito de populismo.
O período entre a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a Segunda Guerra Mundial
(1939-1945) despertou em diversos países uma necessidade de se construir um Estado
autoritário, que fosse marcado fortemente por sua presença, sob justificativa de promover a
ordem, impedir o comunismo e barrar o liberalismo. Nesse sentido, em alguns países
europeus, como Itália e Alemanha, foi instaurado regimes fascistas, a fim de controlar e
organizar a sociedade. Já em alguns países latino-americanos foi adotado o regime populista,
como alternativa, com o intuito de assegurar a ordem social a partir de um líder carismático
que tivesse uma aceitação pelas massas populares.
Nessas formas de alternativas as crises entre guerras, ambas não visam o bem estar
social, pois utilizavam do autoritarismo para controlar a população e favorecer interesses das
classes mais altas. Tanto os populismos presentes na América Latina, como também os
fascismos europeus, não podem ser caracterizados como algo singular, tendo em vista que
tiveram suas especificidades em cada lugar. Dessa forma, essa análise irá trabalhar com os
múltiplos conceitos de populismos proposto no capítulo “Populismo latino-americano em
discussão” da autora Maria Helena Rolim Capelato, presente no livro “O populismo e sua
história”, organizado por Jorge Ferreira.
Acerca desse debate, é necessário não apenas problematizar o conceito de populismo,
como entender o significado dos regimes como todo. O termo “populismo”, de acordo com
Noberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, pode ser entendido de maneira
contraditória e ambígua, tendo em vista que representa “fenômenos históricos muito diversos,
perdendo, em decorrência disso, sua força explicativa”3. Assim, não se pode utilizar apenas
um conceito para caracterizar políticas diversas. Partiremos de que não houve apenas um
populismo, pois cada lugar teve medidas específicas de acordo com sua população e
interesses.
Os três regimes populistas mais conhecidos da América Latina, foram o brasileiro,
com o varguismo, do presidente Getúlio Vargas, o cardenismo, no México, com o presidente
Lazáro Cárdenas, e o peronismo, na Argentina, com o presidente Juan Domingo Perón. Para a
análises desses contextos é válido ressaltar que há características comuns, como por exemplo,
ambos introduziram uma política com base na intervenção estatal autoritária e utilizaram de
3
CAPELATO, M. H. R. Populismo latino-americano em discussão. In: FERREIRA, J.(org.). O populismo e sua
história: debate e crítica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. p.132.
políticas que, de alguma maneira, atendia a interesses populares para que a classe trabalhadora
fosse controlada. Há ainda as especificidades de cada regime, posto que essas políticas não
foram idênticas.
Acerca do significado do populismo como regime, para alguns autores, ele é entendido
como um agente, ou seja, um fenômeno ativo que surgiu com determinados objetivos. Já para
outros autores, os populismos ocorreram como consequência de uma série de acontecimentos,
dentro de um contexto mais amplo. Dentro desse debate, o populismo é ainda interpretado
como uma etapa necessária do capitalismo, ou como uma mescla de valores modernos e
populares, ou também como uma transição para a modernidade. Nesse sentido, para as
distintas intepretações do regime, a autora Capelato utiliza como fonte a obra “Populismo e
neopopulismo em América Latina. El problema de la cinicienta”, destacando os principais
autores que discutem o tema.
O autor Gino Germani, entende o populismo como consequência de uma série de
fatores, que implicou na transição do popular para o moderno, fazendo com que a população
se tornasse mais urbanizada e industrializada, constituindo uma sociedade mais democrática e
desenvolvida. Assim, “o populismo foi caracterizado como um momento de transição de uma
sociedade tradicional para a moderna (o que implica um deslocamento do campo para a
cidade, do agrário para o industrial)”4. Essa vertente apesar de não ser adotada completamente
pelas análises do Partido Comunista, possui aproximações, devido ambos interpretarem como
uma teoria de modernização que superou os ideais caracterizados como retrógados, porém
para a vertente comunista foi uma passagem necessária do capitalismo para que se chegasse
ao socialismo posteriormente.
As correntes progressistas sobre o populismo foram revisadas por alguns autores e
com isso, foi entendido como um período o qual o moderno e o tradicional coexistiram, além
disso, o regime também foi caracterizado pela sua forma de manter a ordem que
anteriormente havia sido ameaçada pelo conflito da Primeira Guerra Mundial. Capelato
discorda e aponta que o populismo não trouxe uma modernização como foi analisado e
significou uma forma autoritária de poder para que houvesse o controle das massas:
A miséria, o desemprego, a exclusão social estão aí para desmentir
os prognósticos dos que viram o “populismo” como um momento de
transição para a “modernização”. O otimismo dos progressistas das décadas
de 1960/60 deu lugar a um profundo pessimismo expresso pelos que se
opõem aos “modernizadores” de hoje. Neste contexto, alguns opositores do
“neoliberalismo” se tornam nostálgicos; incapazes de acreditar em novas

4
CAPELATO, M. H. R. Populismo latino-americano em discussão. In: FERREIRA, J.(org.). O populismo e sua
história: debate e crítica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. p.136.
formas de democracia e justiça social, lamentam o fim dos regimes
“populistas”.5

Os autores Mackinnon e Petrone, não concordavam com a as análises generalistas, que


faziam uma análise universal e por essa razão para se adequar ao conceito geral, podem
utilizar as informações distorcidas. Eles também ressaltavam que os particularistas poderiam
analisar de maneira tão detalhista cada fenômeno que eles perderiam o sentido de um contexto
mais amplo, sendo então necessário evitar os extremos dessas duas intepretações. Para isso, é
necessário que o compreender que os populismos estão dentro de um projeto político de
controle das massas, que utilizam as políticas formas distintas para cumprir seus interesses, ou
seja, existe proximidades, mas também especificidades muito importantes para serem
analisadas.
Capelato trabalha em seu texto mais profundamente com o peronismo e cardenismo,
analisando as relações entre os populismos e as classes trabalhadoras. No que concerne ao
populismo vivenciado pela Argentina, entre 1943-1955, a autora pontua que durante esse
período o número de operários no país duplicou e aumentou a taxa de sindicalização, que foi
incentiva por Juan Domingo Perón, com a Lei de Associações Profissionais. Nesse sentido, os
trabalhadores deveriam se filiar a sindicatos autorizados pelo Estado, a autora reconhece a
importância dos sindicatos para que os trabalhadores conquistassem seus direitos, mas
também aponta o revisionismo historiográfico a partir de 1980 que limita esses direitos, pois
eles precisavam ser autorizados pelo Estado, e com isso os sindicatos funcionavam como
mediadores.
Na relação entre o cardenismo e as classes trabalhadoras, há aproximações entre o
peronismo, mas também muitas diferenciações, entre elas o contexto que os países
enfrentavam, tendo em vista que o México havia passado pela Revolução Mexicana e havia
uma série de conflitos sociais mais densos. O presidente Cárdenas (1934-1940), tinha entre
seus objetivos, promover uma harmonia na estabilidade política do país, tanto no âmbito
político, como também no religioso e social, atendendo demandas distintas ao mesmo tempo.
Para isso as relações estabelecidas com a classe trabalhadora não foram através dos
sindicatos, mas sim, a partir de organizações sociais, que atendia alguns interesses, mas
também controlava suas ações.
Portanto, o populismo não pode ser entendido como um conceito ou regime único,
pois devido suas múltiplas expressões em diversos países, ele possui características distintas
5
CAPELATO, M. H. R. Populismo latino-americano em discussão. In: FERREIRA, J.(org.). O populismo e sua
história: debate e crítica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. p.165.
e, dessa forma, devemos nos referir a populismos, que engloba várias realidades e atitudes,
que mesmo quando buscam uma finalidade parecida, são organizadas de maneiras distintas.
Ademais, os estudos feitos acerca desse tema são muito importantes para compreendermos as
diferentes realidades e impactos nos países. Além disso, os inúmeros debates historiográficos
e revisões mais recentes nos proporciona entender os fenômenos populistas como uma força
ativa da história, com suas próprias características e objetivos, que não foram apenas
consequências do seu contexto histórico, mas agiram para sustentar um projeto de controle
das massas e manutenção do sistema capitalista.

Referências Bibliográficas:
CAPELATO, M. H. R. Populismo latino-americano em discussão. In: FERREIRA, J.(org.). O
populismo e sua história: debate e crítica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
p.125-165.

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