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SOCIOLOGIA – Christiane cabral

Movimentos sociais globais – 2º ano 3º bimestre


Há uma série de problemas decorrentes da globalização que não podem ser
enfrentados apenas dentro de cada país.
Portanto, não se pode esperar que eles sejam resolvidos apenas pela ação dos
partidos e movimentos sociais que atuam nacionalmente.
Por esse motivo, nas últimas décadas, aumentou muito o número de organizações
não governamentais (ONGs) internacionais. Além das ONGs que atuam em mais de um
país, há também grupos políticos e religiosos que atuam globalmente.
Organismos semelhantes às ONGs internacionais já existem há muito tempo. Por
exemplo, na luta contra a escravidão na América (inclusive no Brasil), as associações
abolicionistas europeias desempenharam um importante papel. Algumas delas tiveram
origem em grupos religiosos, o que faz sentido: várias religiões existem em mais de um
país, e o contato entre fiéis da mesma religião em diferentes partes do mundo deve ter
ajudado na organização das primeiras associações internacionais.
O número de ONGs internacionais aumentou muito durante o século XX,
paralelamente ao progresso da globalização. Segundo o estudo de David Held e
Anthony McGrew (1954-), em 1909 havia 176 ONGs internacionais; em 1990, já
havia 5500. Entre as ONGs internacionais, destacam-se as que atuam em defesa do
meio ambiente, como o Greenpeace e o WWF.
É fácil perceber por que essas ONGs são particularmente importantes: o meio
ambiente não reconhece as fronteiras entre os países. Quando o Brasil polui o oceano
Atlântico, as correntes marítimas levam essa poluição para o litoral de vários outros
países.
Quando os Estados Unidos ou a China emitem gases poluentes na atmosfera, as
mudanças climáticas causadas por essa poluição afetarão todo o mundo. O meio ambiente
talvez.
É interessante notar que embora atuem em diversos países (inclusive no Brasil) os
chamados partidos verdes (partidos que se dedicam à defesa da ecologia) muitas vezes
são menos influentes que as ONGs ambientais, que têm atuação global.
Também há ONGs de destaque em outras áreas, como no combate à pobreza
(OXFAM, CARE), no provimento de auxílio médico em áreas carentes ou afetadas por
guerras (Médicos sem Fronteiras) e na defesa dos direitos humanos (Anistia
Internacional), entre muitas outras. Cada ONG tem uma forma de atuação específica:
algumas promovem, sobretudo, campanhas de esclarecimento junto à opinião pública;
outras oferecem serviços como educação e atendimento médico em áreas carentes; outras,
ainda, realizam estudos sobre problemas sociais específicos.
Algumas ONGs internacionais têm atuado em conjunto com organizações
internacionais como o Banco Mundial.

Também são cada vez mais comuns os protestos políticos de caráter global. Com
o desenvolvimento de meios de comunicação cada vez mais rápidos (em especial a
internet), o contato entre pessoas de diferentes lugares do mundo que pensam de modo
parecido tornou-se mais fácil. Exemplo disso é a articulação de grupos que se opõem a
características da sociedade capitalista global no chamado “movimento
antiglobalização”, o que talvez não seja um nome apropriado: vários desses movimentos
criticam apenas a forma como a globalização foi feita até agora, e entre eles há grupos
mais e menos radicais. Alguns militantes preferem que seus movimentos sejam chamados
de “alterglobalistas”, isto é, defensores de outro tipo de globalização, uma globalização
alternativa.
Os movimentos de protesto global reapareceram com força depois da crise global
de 2008, com a emergência do movimento “Ocupe Wall Street”. Wall Street é o distrito
de Nova York que concentra muitas instituições financeiras, além da Bolsa de Valores.
Esse movimento responsabiliza a política econômica do governo norte-americano
nas últimas décadas — que deu grande liberdade para as instituições financeiras
investirem como quisessem — pela crise de 2008.

Outros movimentos surgiram principalmente em países fortemente afetados por


essa crise, como o dos “indignados” na Espanha. Todos esses movimentos ainda estão
dando seus primeiros passos. A globalização ainda é um fenômeno recente, e não sabemos
como será organizada a política global caso ela continue se desenvolvendo.
Entretanto, é importante prestar atenção nos primeiros sinais de que começa a
surgir uma política que atua através das fronteiras dos Estados.
O Brasil e a globalização A globalização apresentam para o Brasil desafios bastante
difíceis. Com base na discussão dos itens anteriores, podemos destacar três tipos
principais de desafios:
1. O Brasil, como os outros países democráticos, precisa lidar com a realidade de
que seu governo tem menos controle sobre a economia do que já teve. O país tem,
ainda, as dificuldades adicionais características de países de desenvolvimento
médio, analisadas pelo pesquisador norte-americano Geoffrey Garrett (1958-). Os
países mais pobres do mundo podem lucrar com a globalização oferecendo mão
de obra barata, como fizeram China e Índia. Já os países mais ricos, como os
Estados Unidos ou a Alemanha, podem aproveitar seu potencial de criação de
tecnologia, sua população com grande qualificação educacional e suas instituições
sólidas (um sistema legal ágil e transparente, baixa corrupção, leis que incentivam
a atividade econômica, boas políticas sociais).
Ora, o Brasil tem salários mais altos do que os da China e capacitação tecnológica e
educacional menor do que a da Alemanha.
Sendo assim, como podemos nos adaptar à globalização? Supondo que ninguém
defenda que nos tornemos mais pobres ou que tenhamos menos direitos para poder
competir com a China, fica claro que a globalização aumenta a pressão para que tenhamos
as qualificações educacionais, tecnológicas e institucionais necessárias para competir
com os países desenvolvidos. Embora nas últimas décadas o Brasil tenha feito alguns
avanços importantes nesse sentido, ainda estamos longe de alcançar esses objetivos.
PARA SABER MAIS
O fim do socialismo real e a globalização Um dos acontecimentos que marcaram a
aceleração da globalização econômica desde os anos oitenta foi o conjunto de
transformações que afetaram os países até então socialistas, como a União Soviética,
a China e os países da Europa Oriental. Durante boa parte do século XX, a existência
desses países, em grande parte fechados para a economia mundial e sem espaço para
a atuação das grandes empresas multinacionais, constituiu um limite para a
globalização. Além disso, os regimes ditatoriais que caracterizaram o socialismo do
século XX colocavam sérios limites à circulação de ideias e produtos culturais do
mundo capitalista. A partir da década de 1970, o modelo de desenvolvimento econômico
soviético começou a dar mostras de desgaste, e na década de 1980 uma grande tentativa
de reformá-lo (a Perestroika, iniciada pelo líder soviético Mikhail Gorbachev)
fracassou, dando início a uma gravíssima crise econômica e política que acabou por
levar ao fim da União Soviética em 1991. Antes disso, em 1989, governos socialistas
apoiados pela União Soviética foram depostos em países como Hungria, Polônia e
Tchecoslováquia (que em 1993 se dividiu em República Tcheca e Eslováquia). O
símbolo do fim do socialismo real foi a queda do Muro de Berlim, que simbolizava a
divisão da Alemanha em dois países: a Alemanha Ocidental, capitalista, e a Alemanha
Oriental, socialista. A Alemanha se reunificou em 1990. Ao mesmo tempo, o governo
socialista da China (a outra grande potência socialista, rival da União Soviética)
iniciou um processo de reformas que, preservando a ditadura do partido comunista,
incentivou a entrada de empresas multinacionais no país e o desenvolvimento do setor
privado (praticamente inexistente na maioria dos países socialistas, onde a economia
era controlada pelo Estado). Como resultado, a China passou a crescer em um ritmo
muito acelerado, tornando-se responsável por grande parte da produção industrial do
mundo. Assim, o fim do socialismo real contribuiu para a globalização de diversas
formas: abrindo os antigos países socialistas, como China e Rússia (que fazia parte da
União Soviética), para investimentos e produtos estrangeiros; permitindo a unificação
da Alemanha, outro grande centro econômico global; e, finalmente, fortalecendo, ao
redor do mundo, os defensores do livre mercado, que agora podiam usar como
argumento em defesa de suas propostas a crise do socialismo, em que a atividade
econômica era rigidamente controlada pelo Estado.
Também cresce no cenário brasileiro a preocupação com o meio ambiente. Um
dos debates mais importantes do país no momento é justamente sobre como aproveitar o
potencial econômico brasileiro sem degradar o meio ambiente (o que, no longo prazo,
significa deixar de ter esse potencial).
Não há consenso sobre como fazer isso da melhor forma, e é provável que,
novamente, seja necessário sacrificar diferentes objetivos em diferentes momentos: às
vezes será necessário sacrificar o crescimento, às vezes será necessário sacrificar o meio
ambiente, e, novamente, caberá aos eleitores saberem quando fazer o quê.

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