Você está na página 1de 10

GLOBALIZAÇÃO E

NEOLIBERALISMO
Capítulo 10 do livro didático
O QUE É UM MUNDO GLOBALIZADO E
NEOLIBERAL?
▪ A palavra globalização tem sido frequentemente utilizada para definir a imensa interligação comercial e cultural que
vem ocorrendo de forma acelerada entre os diversos países do planeta, determinada principalmente pela “terceira
revolução tecnológica”: processamento, difusão e transmissão de informações e, inclusive, de bilhões de dólares em
poucos segundos. Portanto, podemos entender que a globalização teria se iniciado no começo dos anos 1980,
quando a tecnologia de informática associou-se à de telecomunicações.
▪ Vamos refletir sobre alguns dados estatísticos, publicados por um jornal (Folha de São Paulo) diário brasileiro,
exatamente na época em que a mídia ressaltava, o tempo todo, os benefícios da globalização.
▪ Em 1960, os estratos mais ricos da população mundial ganhavam 30 vezes mais que os estratos mais pobres. Em
1994, os primeiros 20% mais ricos acumulavam uma renda 78 vezes superior aos 20% mais pobres, abocanhando
86% de tudo o que foi produzido no mundo.
▪ O patrimônio conjunto dos 447 bilionários existentes no mundo em 1994 equivalia à renda somada da metade mais
pobre da população mundial (cerca de 2,8 bilhões de pessoas).
▪ Desde o fim da II Guerra Mundial, em 1945, o comércio mundial cresceu 12 vezes, chegando a US$ 4 trilhões por
ano na década de 1990. Mas com 10% da população do planeta, os países mais pobres detêm apenas 0,3% do
comércio mundial. Esse percentual equivale à metade do que detinham há 20 anos.
O QUE É UM MUNDO GLOBALIZADO E
NEOLIBERAL?
▪ Nesse mesmo período, o preço dos produtos agrícolas (a principal exportação dos países mais pobres) caiu
45%. Mas os países ricos gastaram US$ 182 bilhões em subsídios à agricultura (a metade de tudo o que
colheram). Se esses subsídios fossem diminuídos em 30%, os países ditos “em desenvolvimento” ganhariam
US$ 45 bilhões por ano.
▪ Um terço dos habitantes desses países em desenvolvimento (1,3 bilhão de pessoas) vive com menos de US$ 1
por dia.
▪ Mais de 90% dos investimentos estrangeiros são efetuados nos EUA, Europa, Japão e oito províncias da China
– que, juntos, reúnem um total de 30% da população mundial.
▪ Das 100 maiores economias do mundo, 50 são megaempresas. A General Motors, por exemplo, possui
faturamento superior ao PIB (Produto Interno Bruto) de países como Turquia, Dinamarca e África do Sul.
(cf. Folha de São Paulo: Caderno Especial Globalização, 02 de novembro de 1997)
O QUE É UM MUNDO GLOBALIZADO E
NEOLIBERAL?
▪ Além da ideia de uma interligação acelerada dos mercados nacionais, proporcionada pela Terceira Revolução
Tecnológica, a chamada globalização também pode ser identificada com a queda das barreiras comerciais entre
os países, provocada pela OMC – Organização Mundial do Comércio.
▪ Podemos dizer que a globalização somente pôde ocorrer com o fim de obstáculos legais e territoriais à expansão do
comércio, associado à descoberta de novas tecnologias.
▪ A atual expansão capitalista é global porque atingiu uma série de países que anteriormente se definiam como
pertencentes ao modo de produção socialista. Portanto, à queda do Muro de Berlim, em 1989, e à dissolução da
URSS, em 1991, aliou-se a rapidez das comunicações provocada pelos avanços da informática para dar a “cara”
dessa globalização que vemos acontecer nos dias de hoje.
▪ Michel Chossudovsky (1999) inventou uma nova expressão: a globalização da pobreza. Ele é bastante claro ao
definir a globalização como sendo o resultado da ação das principais instituições financeiras internacionais – como
o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (BIRD) e a Organização Mundial do Comércio (OMC) –
sobre, principalmente, os países do Terceiro Mundo e do Leste Europeu, forçando-os, em função do peso adquirido
pelas suas dívidas externas, a aderir a um programa de “reformas” (ou “ajustes”) que se alimenta da destruição do
meio ambiente, que gera apartheid social, estimula o racismo e os conflitos étnicos e ataca os direitos conquistados
pelas mulheres nas últimas décadas.
NEOLIBERALISMO: LIBERDADE ILIMITADA
PARA OS MERCADOS E OS LUCROS?
▪ Chamamos de neoliberalismo a ideologia que serve de suporte à expansão da atual globalização
capitalista. Esse “novo liberalismo” é caracterizado por alguns elementos inspirados no liberalismo clássico
dos séculos XVIII e XIX, tais como: • Maior liberdade de comércio entre as nações (fim de barreiras
alfandegárias); • Redução do aparato do Estado e da sua intervenção na atividade econômica (política
orientada para as privatizações de empresas estatais); • Redução da autonomia e da soberania política e
econômica dos países periféricos em favor dos países capitalistas centrais, das suas instituições políticas
(como a OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte) e econômicas (FMI, BIRD, OMC), das
grandes corporações multinacionais/transnacionais e do capital financeiro internacional.
▪ As duas primeiras características do neoliberalismo são decisões políticas tomadas por governos capitalistas
extremamente conservadores, visando a resolver a crise econômica que atingiu o mundo nos anos 1970,
agravada pela alta dos preços do petróleo, provocada pelos constantes conflitos no Oriente Médio, entre
Israel e os países árabes. Essas políticas de redução de custos se opunham ao chamado Estado de Bem-
estar Social (Welfare State), como eram caracterizados os países europeus que apresentavam excelentes
padrões de vida, com a população assistida pelo Estado nas suas necessidades básicas de saúde, educação e
emprego.
NEOLIBERALISMO: LIBERDADE ILIMITADA
PARA OS MERCADOS E OS LUCROS?
▪ Mil novecentos e oitenta e nove foi um ano que serviu de marco para a consolidação das reformas
econômicas com a marca neoliberal. Em um encontro, em Washington (EUA), que reuniu ministros da
Fazenda de diversos países e economistas e cientistas políticos vinculados ao FMI, ao Banco Mundial e a
algumas universidades, foram traçadas as metas a serem alcançadas por todos os governos dos países
capitalistas nos anos seguintes, o chamado Consenso de Washington.
▪ 1.Limitação das despesas do Estado, estimulando o fim de todos os subsídios à agricultura ou à
indústria. 2 . Liberalização do mercado financeiro. 3 . Liberalização do comércio, eliminando aos
poucos as taxas alfandegárias. 4 . Favorecimento do investimento estrangeiro. 5 . Privatização das
empresas estatais. 6 . Introdução da concorrência nos diversos setores da economia. 7 . Garantia legal
do direito de propriedade, com respeito às “patentes”. 8 . Reforma do sistema tributário. 9 . Reforma
trabalhista.
▪ O termo consenso – utilizado para identificar esse conjunto de políticas propostas por aqueles que se
reuniram em Washington – significa dizer que, teoricamente, todos concordavam com essas políticas, vistas
como “boas”, “racionais”, “lógicas”.
NEOLIBERALISMO: LIBERDADE ILIMITADA PARA OS
MERCADOS E OS LUCROS?
▪ A dominação ideológica do neoliberalismo foi tão forte que, mesmo a chegada ao poder, principalmente no
final da década de 1990, de partidos mais progressistas, antes defensores das políticas de distribuição
de renda – características do Estado de Bem-estar Social – não significou a retomada do crescimento
econômico, a ampliação dos direitos dos trabalhadores e a geração de novos empregos.
▪ Vejamos o caso da Inglaterra: apesar da derrota eleitoral dos políticos conservadores vinculados ao partido
da “dama de ferro” Thatcher, na década de 1990, o novo primeiro-ministro, Tony Blair, representante do
Partido Trabalhista Britânico (o Labour Party, considerado até então como um partido “de esquerda”,
legítimo defensor da social-democracia do Welfare State), não só deu continuidade como aprofundou as
políticas neoliberais implementadas pelo Partido Conservador. Seu alinhamento com os grandes interesses
do capitalismo internacional ficou ainda mais claro com o seu apoio incondicional à invasão militar do
Iraque e à deposição de Saddam Hussein, em 2003, com base num pretexto forjado: a necessidade de
destruição das armas químicas que o ditador escondia. Revelada a mentira em alguns meses, restou como a
única justificativa – esta, sim, comprovada – a ocupação dos riquíssimos campos petrolíferos do país.
COMO VÃO A GLOBALIZAÇÃO E O
NEOLIBERALISMO NESTE SÉCULO XXI?
▪ Nesse seu novo formato, a exclusão social se configura, enquanto uma característica que não pode ser
separada do processo de acumulação capitalista, com a produção em massa de “seres descartáveis” da
vida em sociedade.
▪ Segundo estudo divulgado pela Organização das Nações Unidas – ONU, em 2006, mais da metade da
riqueza mundial está nas mãos de apenas 2% dos adultos do planeta, enquanto os 50% mais pobres têm só
1%, com 90% da riqueza concentrada pela população dos países mais ricos (O Globo, 06/12/06, p. 31).
▪ Hoje, pode-se tranquilamente usar o termo barbárie como uma referência ao capitalismo do século XXI.
▪ Pode-se enumerar a observação do atual estado de barbárie em diversos fatos recentes, como nos conflitos
entre o Ocidente “civilizado” e o “fundamentalismo islâmico”, tanto nos atentados terroristas em Nova York,
Londres e Madrid quanto nos genocídios praticados pelas ações militares dos EUA e de Israel no
Afeganistão, no Iraque, na Palestina e no Líbano.
COMO VÃO A GLOBALIZAÇÃO E O
NEOLIBERALISMO NESTE SÉCULO XXI?
▪ No caso do Brasil e dos países do antigo Terceiro Mundo, a barbárie pode ser identificada com a aparente
ausência de soluções visíveis para problemas, tais como o aumento explosivo do desemprego crônico, da
informalidade, da favelização e da violência urbana – todos eles, de alguma forma, intimamente
relacionados.
▪ Em relação às políticas neoliberais, citadas anteriormente, ocorreu uma grave crise econômica que se
espalhou a partir dos Estados Unidos, a maior potência capitalista do planeta. Essa crise foi
identificada pela grande imprensa em julho de 2007 e teve o seu pico em setembro de 2008: uma série
de “especulações” provocou a “quebra” do mercado de imóveis, arrastando diversas empresas financeiras,
principalmente bancos, seguradoras e imobiliárias. Qual foi a atitude do governo do presidente americano
Barack Obama, recém-eleito naquele momento? Simplesmente, interferiu no mercado financeiro através
de um plano de socorro aos bancos e outras firmas, com valores que chegaram ao montante de 8 trilhões de
dólares.
▪ Mas, infelizmente, quem paga pela crise não são os capitalistas, salvos pela generosa “mão visível” dos
governos, mas sempre os trabalhadores.
Bibliografia
OLIVEIRA, Luiz Fernandes de; COSTA, Cesar Rocha da . Sociologia para jovens do século XXI. – 3.
ed. – Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2013.

Você também pode gostar