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UNESP – UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE

MESQUITA FILHO” - FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS

APIS LUIZ RIBEIRO TELES

BRUNNA OLIVEIRA COUTINHO DOS REIS

RAFAELLA VITTE ROLAND

TOMÁS BECKER CORREIA

CIÊNCIAS SOCIAIS – TURMA 59

NOTURNO

CAPÍTULO 3 “COMO FOI QUE CHEGAMOS AQUI? UMA


BREVE HISTÓRIA DO CAPITALISMO” DO LIVRO
“ECONOMIA: MODO DE USAR” DE HA-JOON CHANG

MARÍLIA, SP

2022
O capitalismo começou e se desenvolveu pela primeira vez na Europa ocidental, nos
séculos XVI e XVII. Antes do surgimento do capitalismo, as sociedades se organizavam em
torno da agricultura, que, por anos, utilizava tecnologia rudimentares com a existência,
mesmo que pouca, de comércio e indústrias de bens manufaturados. Entre os anos 1000 e
1500, a região contou com o crescimento de 0,12% da renda per capita ao ano, significando
um crescimento desta em 82% do ano 1000 para o ano 1500.

No século XVI nasce lentamente o capitalismo. No período de 1500-1820, a taxa de


renda per capita na Europa ocidental se aproximava da taxa supracitada, sendo de apenas
0,14% ao ano.

Primariamente, vemos uma mudança cultural que proporcionava abordagens mais


racionais para a compreensão do mundo, favorecendo a ascensão da matemática e outras
ciências modernas. No primeiro momento, esse desenvolvimento da ciência não afetou a
economia, mas posteriormente permitiu a sistematização do conhecimento, incentivando a
propagação de novas tecnologias, que incentivou o crescimento econômico. O século XVIII
trouxe a eclosão de novas tecnologias, especialmente de um sistema de produção
mecanizado, notadamente utilizado nos setores têxteis, siderúrgicos, e de produtos
químicos.

Parafraseando Adam Smith sobre sua teoria da divisão do trabalho, o aumento da


produção possibilitou uma maior subdivisão das tarefas, aumentando a produtividade e o
volume da produção.

Para acomodação do novo sistema de produção capitalista, novas instituições


econômicas surgem, e com a difusão das transações de mercado, surgem também os
bancos, justamente para facilitar essas.

A chegada de projetos de investimento, que exigiam um capital para além das


posses, teve como consequência a invenção da sociedade anônima – ou sociedade de
responsabilidade limitada – e também do mercado de ações.

Os países da Europa ocidental começaram a se expandir rapidamente a partir do


século XV, e o colonialismo era executado segundo epistemes capitalistas. Até 1858 o
domínio Britânico na Índia era gerido por uma empresa (a Companhia das Índias Orientais),
e não pelo governo. As colônias trouxeram novos recursos para a Europa. O colonialismo
consistia-se, muitas vezes, na destruição deliberada das atividades produtivas já existentes
nas regiões economicamente mais avançadas.

O capitalismo teve um impulso por volta de 1820, com uma aceleração do


crescimento econômico em toda a Europa ocidental e depois nas colônias na América do
Norte e Oceania. Esse impulso é chamado de Revolução Industrial devido sua ocorrência
abrupta. A aceleração do crescimento da renda per capita veio acompanhada por uma
queda nos padrões de vida, e as condições de trabalho eram extremamente perigosas. Em
vista dessa miséria que o capitalismo estava criando, surgiram vários movimentos
anticapitalistas, por exemplo, o ludismo, caracterizado pela revolta dos artesãos têxteis
contra as máquinas que estavam os substituindo. Outras formas de revolta ao capitalismo
foi a criação, por Roberto Owen, de uma sociedade baseada no trabalho comunitário, assim
como os kibutz em Israel.

O estudioso Karl Marx argumentava que a nova sociedade deveria aproveitar, e não
rejeitar, as realizações do capitalismo. Marx também propõe que uma sociedade socialista
deveria ser gerida assim como uma empresa capitalista, no sentido de seus planejamentos
econômicos serem feitos de forma centralizada, é o que se chama de planejamento central.

Marx e seus seguidores defendiam que uma sociedade socialista poderia ser criada
por meio de uma revolução liderada pelos trabalhadores, enquanto alguns social-
democratas como Bernstein e Kautsky, pensavam que os problemas do capitalismo
poderiam ser atenuados não com a abolição do sistema, mas mediante uma reforma através
da democracia parlamentarista.

É argumentado também que a Grã-Bretanha e os Estados Unidos avançaram à frente


de outros países porque foram os primeiros a adotarem o livre mercado e o livre-comércio.
Isso é um mito, pois o governo desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento
inicial do capitalismo, com o pioneirismo do protecionismo na Grã-Bretanha. Começando
com Henrique VII, os monarcas Tudor promoveram as indústrias têxteis de lã, através da
intervenção governamental. Os impostos sobre a importação protegiam os produtores
britânicos contra os produtores holandeses, que eram superiores. A política protecionista
continuou após os Tudor. Sem essas receitas de exportação, a Grã-Bretanha seria incapaz de
importar os alimentos e as matérias-primas de que precisava para a Revolução Industrial.
Alexander Hamilton, o primeiro dos ministros americanos encarregados da economia nos
Estados Unidos, argumentou que o governo de um país economicamente atrasado precisava
proteger e nutrir as indústrias logo em seu nascimento, para competir com seus
concorrentes estrangeiros superiores até conseguirem crescer, é o argumento da indústria
nascente. Hamilton propôs o uso de tarifas e outras medidas, para ajudar estas indústrias,
como subsídios, investimentos públicos em infraestrutura, uma lei de patentes para
incentivar novas invenções, e ainda medidas para desenvolver o sistema bancário. Em 1816,
a política comercial dos Estados Unidos se tornou cada vez mais protecionista, e ao chegar
na década de 1830, o país tinha a maior tarifa industrial média do mundo.

O livre-comércio não foi responsável pela ascensão do capitalismo, mas é verdade


que ele se espalhou durante todo o século XIX. A colonização era o caminho óbvio para o
“livre-comércio sem liberdade”, mas até países que não eram colonizados foram obrigados a
adotar tal caminho. Por meio da “diplomacia da caminhoneira”, foram forçados a assinar
tratados desiguais que os privavam de autonomia tarifária, autorizando-os somente a utilizar
uma tarifa baixa e uniforme, de 3-5%, que é o suficiente para captar algumas receitas para o
governo, mas não o suficiente para proteger as indústrias nascentes.

O desenvolvimento do capitalismo começou a acelerar por volta de 1870. Inovações


tecnológicas surgiram entre as décadas de 1860 e 1910, resultando na ascensão da indústria
pesada e da indústria química. Houve também o surgimento do fordismo (uma linha de
montagem móvel com correias transportadoras e de peças intercambiáveis) reduziu
drasticamente os custos de produção.

A Era de Ouro liberal, também chamada de primeira era da globalização, foi a


primeira vez que a economia do mundo inteiro ficou integrada em um só sistema de
produção e trocas. Esse liberalismo foi acompanhado pela abordagem do laissez-faire, que
simboliza o liberalismo econômico no seu mais puro sentido de que o capitalismo deve
funcionar livremente, e os principais ingredientes foram permitir a máxima liberdade para as
empresas, buscar o equilíbrio orçamentário e adotar o padrão-ouro (sistema monetário que
vigorou do século XIX até a 1ºGM)

O período de 1870-1913 não viu o liberalismo universal na arena internacional. No


coração do capitalismo, o protecionismo do comércio exterior aumentava. Quanto os países
da América Latina no período de 1870-1880, quando expiraram os tratados desiguais
assinados após a independência, tarifas protecionistas bastante elevadas (30-40%) foram
introduzidas. Em outras partes da “periferia”, o livre-comércio forçado se espalhou ainda
mais. As potências europeias competiam, na chamada “partilha da África”, para dominar
partes do continente africano.

A eclosão da Primeira Guerra Mundial decretou o fim de uma era para o capitalismo.
A visão popular de que a forte rede comercial que o capitalismo estava construindo em todo
o mundo tornaria as guerras entre as nações assim interligadas altamente improváveis, se
não totalmente impossíveis. A Revolução Russa foi um choque ainda maior para os
defensores do capitalismo do que a Primeira Guerra Mundial, já que levou à criação de um
sistema econômico que pretendia minar todos os pilares do sistema capitalista. A fase inicial
da industrialização soviética foi um grande sucesso, comprovado pela sua maneira e
capacidade de repelir o avanço nazista na frente oriental durante a Segunda Guerra
Mundial. Estima-se que a renda per capita cresceu 5% ao ano entre 1929-1938, uma taxa
espantosa num mundo em que o aumento típico da renda era entre 1-2% ao ano.

Depois de uma grande crise financeira como a Quebra da Bolsa de 1929 ou a crise
financeira global de 2008, os gastos do setor privado caem. As dívidas não são pagas, o que
obriga os bancos a reduzirem seus empréstimos. Sem conseguir empréstimos, empresas e
indivíduos cortam gastos. Isso, por sua vez, reduz a demanda para outras empresas e
indivíduos que antes vendiam para eles (por exemplo, empresas que vendiam para
consumidores, empresas que vendiam máquinas para outras empresas, trabalhadores que
vendiam seus serviços a empresas). O nível de demanda na economia entra numa espiral
descendente. O governo é o único ator econômico capaz de manter o nível de demanda na
economia gastando mais do que ganha, ou seja, entrando em um déficit orçamentário.

O período entre o final de Segunda Guerra Mundial e 1973, o primeiro choque do


petróleo, costuma ser chamado de “Era de Ouro do capitalismo, pois alcançou a maior taxa
de crescimento já registrada. Entre 1950 e 1973, a renda per capita na Europa ocidental
cresceu 4,1% ao ano. Na mesma era, o desemprego foi praticamente eliminado nos países
capitalistas avançados.

O terceiro pilar do sistema econômico mundial do pós-guerra foi o Acordo Geral


sobre Comércio e Tarifas — ou GATT, na sigla em inglês, assinado em 1947. Entre 1947 e
1967, o GATT organizou seis séries de negociações (chamadas “rodadas”) que resultaram em
cortes nas tarifas (principalmente) dos países ricos. Esses cortes, por serem feitos entre
países com nível de desenvolvimento semelhante, trouxeram resultados positivos ao ampliar
os mercados e estimular o crescimento da produtividade pelo aumento da concorrência. Na
Europa foi realizada uma nova experiência em integração internacional com a criação da
Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) em 1951, com seis países e culminou na
criação da Comunidade Econômica Europeia (CEE) — um acordo de livre-comércio.

A explicação mais influente para a Era de Ouro é que ela resultou sobretudo de
reformas nas instituições e nas medidas econômicas que deram origem à economia mista —
ou seja, a que mistura características positivas do capitalismo e do socialismo.

Na Era de Ouro ocorreu a descolonização generalizada e após a independência, a


maioria das nações pós-coloniais rejeitaram as políticas de livre mercado e livre-comércio,
mas a maioria seguiu estratégias de industrialização liderada pelo Estado, enquanto
permaneciam basicamente capitalistas. A estratégia é conhecida como industrialização por
substituição de importações (ISI).

A Era de Ouro começou a se desfazer em 1971, com a suspensão pelos Estados


Unidos da convertibilidade do dólar em ouro, mas o sistema continuava ancorado no ouro,
porque o dólar americano, que tinha taxas de câmbio fixas para todas as outras moedas
importantes, era livremente conversível em pressupondo que o dólar era “tão bom quanto o
ouro”.

Em 1971, os Estados Unidos abandonaram seu compromisso de converter qualquer


quantia de dólar em ouro, o que levou outros países a abandonar a prática de vincular suas
moedas nacionais ao dólar a taxas fixas durante os próximos dois anos. Isso criou
instabilidade na economia mundial, com o valor das moedas oscilando de acordo com o
clima do mercado e tornando-se cada vez mais sujeito à especulação cambial.

O fim da Era de Ouro foi marcado pelo Primeiro Choque do Petróleo, em 1973,
quando o preço do petróleo quadruplicou da noite para o dia, devido ao conluio de preços
do cartel dos países produtores de petróleo, a Organização dos Países Exportadores de
Petróleo (OPEP).

Em 1979 o Segundo Choque do Petróleo acabou com a Era de Ouro trazendo outro
ataque de inflação elevada e ajudando governos neoliberais a chegar ao poder em países
capitalistas de importância central, especialmente a Grã-Bretanha e os Estados Unidos.
Rejeitando o acordo dos Tories com os Trabalhistas, feito após a Segunda Guerra
Mundial, Thatcher começou a desmantelar radicalmente a economia mista, ganhando assim
a alcunha de “Dama de Ferro” por sua atitude intransigente. Thatcher reduziu os impostos
para a faixa de renda mais elevada, cortou gastos do governo, introduziu leis reduzindo o
poder dos sindicatos e aboliu o controle do capital. A medida mais simbólica foi a
privatização, gás, água, eletricidade, siderurgia, aviação, automóveis e setores da habitação
pública foram privatizados.

As taxas de juros foram elevadas, o juro alto atraiu o capital estrangeiro, elevando o
valor da libra esterlina e assim tornando as exportações britânicas não competitivas. O
resultado foi uma enorme recessão, com o recuo dos consumidores e das empresas, entre
1979 e 1983. O desemprego subiu para 3,3 milhões de pessoas.

O governo Reagan cortou agressivamente os impostos para as faixas de renda mais


elevadas, explicando que esses cortes dariam aos ricos mais incentivos para investir e criar
riqueza criando mais empregos e mais renda para todos os subsídios para os pobres foram
cortados e o salário mínimo congelado, para incentivá-los a trabalhar mais. Vemos que era
uma lógica curiosa, por que precisamos fazer os ricos mais ricos para que eles trabalhem
mais, porém devemos tornar os pobres mais pobres para esse mesmo fim? Curiosa ou não,
essa lógica, conhecida como economia do lado da oferta, tornou-se o alicerce fundamental
da política econômica americana nas três décadas seguintes.

Entre 1979 e 1981 o juro mais do que dobrou, passando de cerca de 10% para mais
de 20% ao ano, a desregulamentação financeira nos Estados Unidos feita nessa época lançou
as bases para o sistema financeiro que temos hoje.

O legado mais duradouro da política do juro alto nos Estados Unidos no chamado de
Choque Volcker ocorreu nos países em desenvolvimento. Os países em desenvolvimento
tinham emprestado muito nos anos 1970 e início dos 1980, em parte para financiar sua
industrialização e em parte para pagar pelo petróleo mais caro, quando os juros nos Estados
Unidos dobraram, o mesmo ocorreu com os juros internacionais, e isso levou a uma
moratória generalizada da dívida externa de países em desenvolvimento. Enfrentando crises
econômicas, os países em desenvolvimento tiveram que recorrer às Instituições de Bretton
Woods, que impuseram como condição que os países que tivessem empréstimos
implementassem o programa de ajuste estrutural (PAE), que exigia encolher o papel do
governo na economia, diminuindo o orçamento, privatizando as estatais e reduzindo a
regulamentação, especialmente do comércio internacional.

Apesar de fazer todas as reformas “estruturais” necessárias, a maioria dos países


teve uma dramática desaceleração do crescimento nas décadas de 1980 e 1990. O
crescimento da renda per capita na América Latina (incluindo o Caribe) despencou de 3,1%
em 1960-80 para 0,3% em 1980-2000.

Em 1989, ocorreu uma mudança importantíssima. Nesse ano a União Soviética


começou a se desfazer e o Muro de Berlim foi derrubado. A maioria dos países adotou
reformas do tipo “Big Bang”, tentando trazer de volta o capitalismo da noite para o dia. O
resultado foi nada menos que um desastre na maioria dos países. Muitas das antigas
repúblicas da União Soviética passaram por profundas depressões. Na Rússia, o colapso
econômico e o resultante desemprego e insegurança econômica causaram tanto estresse
mental, alcoolismo e outros problemas de saúde.

A queda do bloco socialista trouxe um período de “triunfalismo do livre mercado”. O


Francis Fukuyama, neoconservador, anunciou “o fim da história. Em meados da década de
1990, o neoliberalismo havia se espalhado pelo globo. A ideia de globalização, inclusive,
surgiu como o conceito definidor da época. Está claro que a integração econômica
internacional vinha acontecendo desde o século XVI, mas, segundo a nova narrativa da
globalização, o processo atingiu um estágio inteiramente novo. Isso ocorreu graças às
revoluções tecnológicas na comunicação (a internet) e nos transportes.

O primeiro sinal de que nem tudo ia bem naquele “admirável mundo novo” veio com
a crise financeira do México, em 1995. Muitas pessoas tinham investido em ativos
financeiros mexicanos, país que seria o próximo milagre econômico. O México foi socorrido
pelos governos dos Estados Unidos e do Canadá e também pelo FMI.

Em 1997, aconteceu um choque mais grave com a crise financeira asiática. Uma série
de economias da região, até então bem-sucedidas — as chamadas “economias MIT”
(Malásia, Indonésia e Tailândia) e a Coreia do Sul —, entrou em dificuldades financeiras. O
culpado foi o estouro das bolhas de ativos, esses países abriram de maneira radical seus
mercados financeiros no final dos anos 1980 e início dos anos 1990.
À medida que mais capital estrangeiro entrava, os preços dos ativos subiam, o que
permitiu às empresas e famílias nos países asiáticos tomar emprestado ainda mais,
utilizando seus ativos, agora mais valiosos, como garantia. Logo esse processo chegou à sua
consequência lógica, com a expectativa de preços dos ativos sempre crescentes justificando
ainda mais pedidos e concessões de empréstimos (isso soa familiar?). Quando mais tarde se
tornou claro que os preços desses ativos eram insustentáveis, o dinheiro foi retirado, e as
crises financeiras se seguiram

A crise asiática deixou uma cicatriz profunda nas economias atingidas, dezenas de
milhões de pessoas ficaram sem trabalho. Em troca do socorro monetário oferecido pelo
FMI e pelos países ricos, os países asiáticos em crise tiveram que aceitar uma série de
mudanças na sua política econômica.

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