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Apresentação e Agradecimentos 15
Introdução 19
Imagens 245
Bibliografia 283
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Introdução
1. Parte dos resultados obtidos sobre as transformações das teorias de restauro ao longo do tempo
já foi publicada pela autora (ver nas referências bibliográficas a produção no item Teoria da Res-
tauração). Desse modo, no que respeita a esse tema, remete-se à bibliografia específica, retomando,
porém, determinados aspectos na medida em que interessarem mais diretamente à abordagem do
livro, em especial as formulações a partir de meados do século xx. Outros resultados da pesquisa
relativos a questões recentes na restauração e à preservação do patrimônio industrial foram publi-
cados parcialmente em artigos ou atas de congresso; permanecem no corpo deste livro, revistos,
por ser este seu local de origem, e por serem parte integrante e essencial da discussão.
2. Em especial no Canadian Heritage Information Network (www.bcin.ca). O endereço é de
muita valia, pois o seu catálogo é atualizado de forma periódica e tem, entre as instituições cola-
boradoras, algumas das principais bibliotecas ligadas à preservação de bens culturais, tais como:
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Canadian Information Institute (CII); Smithsonian Center for Materials Research and Education
(SCMRE); Getty Conservation Institute (GCI & AATA); International Centre for the Study of the
Preservation and Restoration of Cultural Property (ICCROM); International Council of Museums
(ICOM); International Council on Monuments and Sites (ICOMOS). A busca foi feita pelos temas
“arquitetura industrial”, “arqueologia industrial”, “patrimônio industrial”, “arquitetura ferroviária”,
sempre associados à “preservação”. Após a análise do material obtido, foram selecionados os
textos através de seus resumos (fornecidos pela própria base de dados), e foram pesquisados de
modo sistemático aqueles que se mostravam mais diretamente relacionados com o enfoque da
investigação nas bibliotecas do ICCROM e da Faculdade de Arquitetura da Sapienza, em Roma.
Foram examinadas 337 referências sobre preservação do patrimônio industrial; desses textos,
apenas três dezenas abordavam o tema sob a óptica da sua relação com as teorias de restauro (os
textos estão listados na bibliografia). Para um breve resumo dos temas tratados nesses escritos v.
Beatriz Mugayar Kühl, Preservação do Patrimônio Arquitetônico da Industrialização: Problemas
Teóricos de Restauro, São Paulo, Fau-usp, Tese de livre-docência, 2006, pp. 271-324.
3. Foram analisadas as publicações sobre transformações de edifícios industriais, de janeiro de
1997 a dezembro de 2004, nas seguintes revistas: em âmbito brasileiro, AU e Projeto; em âmbito
internacional, The Architectural Review, Architecture d’Aujourd’hui, Architektur Innenarchitektur
Technischer Ausbau, Arquitectura Viva, e Domus. Essa pesquisa foi feita na biblioteca da Fau-usp
e os periódicos foram escolhidos por sua qualidade, por serem significativos em seus respectivos
ambientes culturais e pelo fato de a Fau-usp ter assinatura dessas revistas sem solução de conti-
nuidade. A busca não teve como objetivo traçar um panorama sistemático e completo dos debates
sobre intervenções em edifícios industriais, nem fazer uma análise estatística, mas ter uma visão
representativa, ainda que parcial, de como a questão vem sendo tratada. O levantamento nas
revistas foi feito em conjunto com os então alunos da Fau-usp, Cristiane Ikedo Bardese e Wayne
Almeida de Sousa. Foram examinados 108 artigos sobre intervenções em edifícios industriais
(listados ao final deste livro), não se encontrando neles menções a aspectos teóricos do restauro.
Para um breve resumo dos temas dos artigos, v. B. M. Kühl, Preservação…, pp. 325-352.
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INTRODU Ç ÃO
4. Cf. por exemplo os textos: Archeologia Industriale. Atti del Convegno Internazionale di Milano
24/26.06.1977, Milano, Clup, 1978; Aldo Castellano (org.), La Macchina Arrugginita. Materiali
per un’Archeologia dell’Industria, Milano, Feltrinelli, 1982; Marco Dezzi Bardeschi, Filippo Tar-
taglia. Architetture Lombarde Dimenticate, Firenze, Alinea, 1991 (agradeço a Simona Salvo pela
referência); Giancarlo Macinini, Giancarlo Rosa, Adolfo Sajeva, Archeologia Industriale, Firenze,
Nuova Italia, 1981; Antonello Negri, Massimo Negri, L’Archeologia Industriale, Messina, D’Anna,
1978; Sergio Ricossa (org.), Archeologia Industriale e Dintorni, Torino, Allemandi, 1993.
5. Cf. por exemplo: Margaret Cox, “Does the Industrialist Want to Conserve our Industrial
Heritage?”, Industrial Archaeology Review, 1985, vol. 7, n. 2, pp. 190-197; Christien Devilliers,
“L’Architecture Industrielle ou la Crise du Monument Historique”, Monuments Historiques, 1977,
n. 3, pp. 1-5; Hubert Krins, “Haben Denkmäler der Industrie – und Technikgeschichte eine
Zukunft?”, Denkmalpflege in Baden-Württenberg, 1991, vol. 20, n. 1, pp. 69-79; Annette Vasström,
“Preservation of Industrial Heritage – What Purpose?”, em: Industrial Heritage – Austria 1987.
Transactions 2, Wien, TICCIH, 1990, pp. 180-188.
6. Cf. a análise feita por Giorgio Muratore, “Il Territorio dell’Archeologia Industriale come Luogo
del Progetto”, em: De Vulgari Architectura. Indagine sui Luoghi Urbani Irrisolti, Roma, Officina,
2000, pp. 167-173 (agradeço a Simona Salvo pela referência). Esses temas são ainda reconheci-
dos e enfatizados na Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas, documento
adotado na viii Assembléia Geral do ICOMOS em Washington em 1987, por isso conhecida
como Carta de Washington: “O planejamento da salvaguarda das cidades e bairros históricos
deve ser precedido de estudo pluridisciplinares. O plano de salvaguarda deve incluir uma análise
dos dados, designadamente arqueológicos, históricos, arquitetônicos, técnicos, sociológicos e
econômicos, e definir as principais orientações e modalidades de ação a empreender nos cam-
pos jurídico, administrativo e financeiro”. ICOMOS, Carta de Washington. Versão em português
consultada no sítio do IPHAN: www.iphan.gov.br/legislação (acesso em 19.10.2004).
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7. Claudio Varagnoli, “Un Restauro a Parte?”, Palladio, 1998, vol. 12, n. 22, pp. 111-115.
8. O porquê de preservar a arquitetura industrial (que leva ao que tutelar, ou seja, ao processo
de identificação dos bens reconhecidos como de valor cultural) foi tratado, do ponto de vista
específico da história da arquitetura, em trabalho anterior e sob esse prisma será retomado neste
trabalho. Ver Beatriz Mugayar Kühl, Arquitetura do Ferro e Arquitetura Ferroviária em São Paulo:
Reflexões sobre a sua Preservação, São Paulo, Ateliê Editorial / SEC / Fapesp, 1998.
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Fernandes, e que contou com Manoela Rossinetti Rufinoni como estagiária do Programa de
Aperfeiçoamento do Ensino, elaboraram levantamento de edifícios industriais, tendo até agora
sido levantados cerca de 20 edifícios em São Paulo.
11. A exemplo das dissertações de mestrado defendidas na Fau-usp (ver Bibliografia) de Manoe-
la Rossinetti Rufinoni, Patrimônio Industrial na Cidade de São Paulo: O Bairro Operário de Mooca
(2004); de Cláudia dos Reis e Cunha, O Patrimônio Cultural da Cidade de Sorocaba: Análise de
uma Trajetória (2005); de Ludmilla Tidei Sandim de Lima Pauleto, Diretrizes para Intervenções
em Estações Ferroviárias de Interesse Histórico no Estado de São Paulo: As Estações da Noroeste
do Brasil (2006); de José Hermes Martins Pereira, As Fábricas Paulistas de Louça Doméstica:
Estudo de Tipologias Arquitetônicas na Área de Patrimônio Industrial (2007); e de Rita de Cássia
Francisco, As Oficinas da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro: Arquitetura de um Complexo
Produtivo (2007). Teses de doutorado sobre o tema – como as de Manoela Rufinoni e Claudia
dos Reis e Cunha – estão em andamento.
12. Outra razão decorre do fato de a autora ser membro do ICOMOS (inicialmente do ICOMOS-
Bélgica e atualmente do ICOMOS-Brasil) e, como tal, deveria atuar de acordo com as cartas e
doutrinas do ICOMOS, de suas convenções internacionais e recomendações da Unesco. Isso está
explicitado na Declaração de Compromisso Ético para os membros do ICOMOS (o texto foi revisto
em 2002, ver o sítio da instituição www.icomos.org – último acesso em 12.7.2007), que reitera a
validade e pertinência da Carta de Veneza para a conservação e restauração de monumentos. Não
se trata de “obediência cega” a regras aleatórias, mas, sim, de escolha pessoal, por aproximação
intelectual e deontológica aos princípios enunciados nas cartas.
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13. Para uma análise aprofundada de diversos aspectos relacionados com o patrimônio imaterial,
tema que não será contemplado neste livro, e para bibliografia complementar, ver, por exemplo,
Cecília H. G. R. dos Santos, Mapeando os Lugares do Esquecimento, São Paulo, Fau-usp, Tese
de doutorado, 2007.
14. Nara Document on Authenticity, Nara Conference on Authenticity, Paris, UNESCO, 1995, p.
xxi. “O Documento de Nara sobre a Autenticidade é concebido no espírito da Carta de Veneza,
1964, baseando-se nele e ampliando-o de modo a responder à ampliação das preocupações e
interesses daquilo que é considerado patrimônio cultural em nosso mundo contemporâneo.”
15. Basta ver a classificação que o próprio órgão faz dos documentos: todos estão disponíveis na
rede, mas separados em diferentes categorias – ver sítio do ICOMOS, www.icomos.org (último
acesso em 12.7.2007).
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16. A bibliografia sobre temas vinculados à história e à memória será mencionada no decorrer
do trabalho. Por ora, remete-se a Jacques Le Goff, História e Memória, Campinas, Editora da
Unicamp, 2003.
17. No que respeita a aspectos do tratamento da questão em órgãos internacionais vinculados à
UNESCO – ICOMOS e ICCROM – em que é primordial acolher as diferentes visões de tempo e de
relação com o passado das diversas culturas, ver a produção de Jukka Jokilehto.
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nos escritos desses autores (esses temas serão analisados ao longo do livro). O
problema também se estende ao exame da lei de tombamento, das instâncias
federal, estadual e municipal. Apesar de as leis brasileiras serem lacônicas
no que se refere a princípios de restauro e às modalidades de intervenção,
existem métodos de interpretação filiados à gnoseologia e à hermenêutica
(e utilizados na jurisprudência), que permitem uma abordagem voltada a
dilatar e compreender de forma mais profunda uma dada formulação, com
base numa cuidadosa crítica epistemológica.
Esses instrumentos devem ser usados no exame de todo e qualquer texto
para que de fato se faça uma leitura fundamentada, e não redutiva, parcial e
muitas vezes enganosa. Desse modo, é necessário elaborar uma acurada análise
do texto, em sua totalidade, e não extrair frases de contexto de forma a negar
a própria essência do escrito. No caso de cartas resultantes de encontros cien-
tíficos, recomenda-se a leitura escrupulosa também das atas do evento para
se ter uma compreensão aprofundada do contexto e das razões que levaram
a uma determinada formulação. Exemplo significativo é dado pela própria
Carta de Veneza, em que, nas atas, o relator, Raymond Lemaire, explicita os
critérios perseguidos e as diferenças em relação à Carta de Restauração de
Atenas18. Deve-se ainda fazer um estudo meticuloso da produção científica
sobre o tema que precedeu a elaboração de um dado escrito, para entender
as várias transformações por que passaram as discussões sobre o assunto e os
referenciais teóricos do campo. Esse estudo deve também ser acompanhado
da análise de propostas contemporâneas à formulação examinada e de um
amplo conhecimento da produção do autor, ou autores, para conhecer as várias
vertentes do pensamento sobre o tema e as circunstâncias em que foram feitas.
Essas análises permitem explorar o contexto em que determinados instrumen-
tos teóricos foram criados e como, depois, foram apropriados e transformados.
Por fim, deve-se examinar o escrito à luz de pormenorizada análise teleológica,
ou seja, entendê-lo em razão dos objetivos a que se propõe.
São métodos que permitem ampliar o entendimento de uma dada for-
mulação para elaborar uma interpretação pertinente e alicerçada, que é algo
totalmente diverso daquilo que tem ocorrido, que é tirar frases de contexto,
alterar e deformar o sentido, negar e propor o contrário daquilo que o escrito
estabelece ou recorrer à autoridade de um determinado autor para afirmar
aquilo que ele não diz. A falta de preparo e de tradição em crítica epistemo-
18. ICOMOS, Il Monumento per l’Uomo. Atti del ii Congresso Internazionale del Restauro. Venezia
25-31 maggio 1964, Padova, ICOMOS – Marsilio, 1971, pp. 147-152. Uma versão eletrônica do
livro, em formato “pdf ”, pode ser obtida através do sítio do ICOMOS (www.icomos.org; último
acesso em 12.7.2007).
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19. Deve-se destacar, inclusive, a produção do próprio AUH da Fau-usp, em que vários de seus
professores se dedicaram e se dedicam a temas da preservação, tais como Antônio L. Dias de An-
drade, Benedito Lima de Toledo, Carlos Alberto Cerqueira Lemos, Gustavo Neves da Rocha Filho,
Júlio Roberto Katinsky, Murillo Marx e Nestor Goulart Reis Filho, entre outros.
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Muitos dos textos consultados durante todo o processo de pesquisa não são
encontráveis em bibliotecas brasileiras. São, por isso, reportados amiúde em
notas no decorrer deste texto. Escolheram-se algumas citações para ilustrar
determinados aspectos do pensamento dos autores; apesar de fragmentários,
esses trechos são úteis para mostrar a relevância, consistência e antigüidade de
algumas discussões abordadas neste livro. Pelo fato de o pensamento de muitos
dos autores não ser conhecido no Brasil, nem as discussões teóricas vinculadas
à preservação serem difundidas de maneira ampla, procurou-se, cada vez que
se abordou um assunto específico, retomar certos princípios fundamentais para
circunscrever o debate em relação a seus referenciais teóricos. Por isso, repetem-
se certos preceitos ao longo do texto; esse procedimento não tem por intuito
tornar a discussão redundante, mas, sim, reiterar determinados princípios e,
a partir de uma sólida base, aprofundar aspectos do debate.
Ao se recorrer a formulações de autores de outras nacionalidades20, não
se propõe uma “obediência” cega a referenciais exógenos – uma vez que se
pretende deixar claro que a restauração é campo filiado às humanidades e
histórico-crítico por origem e por natureza, o que sempre exige uma apro-
ximação crítica, jamais imponderada –, muito menos de atitude colonizada.
Propõe-se, na verdade, que se reflita sobre instrumentos, consistentes, que
existem e que podem ser úteis se reinterpretados para a realidade brasileira.
Ou seja, não se trata de inventar a roda; trata-se de selecionar e conformar
aquelas que podem ser mais apropriadas às questões brasileiras.
Procura-se, ao longo de todo o texto, enfatizar que a preservação de bens
culturais, como começou a ser entendida principalmente a partir de finais do
século xviii, fundamenta-se em razões culturais num sentido lato – pelos
aspectos estéticos, históricos, educacionais, memoriais e simbólicos – cientí-
ficas – pelo conhecimento que essas obras trazem em vários campos do saber,
tanto para as humanidades quanto para as ciências naturais – e éticas – que
direito temos de apagar os traços de gerações passadas e privar as gerações
futuras da possibilidade de conhecimento de que esses bens são portadores –,
voltando-se às variadas formas de expressão do fazer humano. Diferencia-se,
pois, de ações de cunho prático, que prevaleceram para qualquer obra legada
por outras épocas até que a preservação se consolidasse como ato de cultura,
quando se passou a dar uma atenção distinta a determinados tipos de bem
20. As traduções das citações, quando não existem edições em português dos textos, são da autora.
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21. Em “A Época das Concepções do Mundo”, que faz parte de Holzwege, de 1949, lido na tra-
dução francesa. Martin Heidegger, Chemins qui ne Mènent Nulle Part, Paris, Gallimard, 1986,
pp. 99-146.
22. Platão, O Banquete, trad. J. Cavalcante de Souza, Rio de Janeiro, Difel, 2003, p. 151.
23. Emanuele Severino, Tecnica e Architettura, Milano, Raffaello Cortina Editore, 2003, pp. 69, 109.
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ter pertinência relativa (por ser seletiva e ato de um dado presente histórico),
nem por isso é arbitrária, como se enfatiza ao longo deste livro. Desse modo,
são expostos os fundamentos que norteiam a discussão e os princípios que
deveriam reger atuações práticas, fundamentando as propostas em rigorosos
critérios. Existe um vasto instrumental teórico para esse fim, baseado em pelo
menos dois séculos (cinco, se buscarmos as raízes da discussão no Renasci-
mento) de formulações teóricas, associadas a experiências sistemáticas na
prática que conduziram às atuais vertentes teóricas da restauração de bens
culturais. Evidenciando os parâmetros de ação de restauro, busca-se tam-
bém esclarecer alguns dos equívocos extremos que ainda permeiam a visão
sobre o assunto: restaurar não é voltar ao estado original, nem a um estágio
anterior qualquer da história do monumento, nem refazer imitando estilos
do passado, percepção oitocentista que infelizmente ainda marca a postura
de muitos arquitetos sobre o assunto; o restauro não é mera operação técni-
ca sobre a obra – deve ser necessariamente um ato crítico antes de se tornar
operacional; projeto e criatividade fazem parte do restauro.
Este trabalho se volta, assim, a uma análise fundamentada dos princípios
teóricos da restauração, entendida como ato de cultura, e à sua aplicação para o
patrimônio industrial. Ademais, propõe-se a reinserir e aproximar a discussão
sobre a preservação da arquitetura industrial ao seu campo de pertinência, que
é o da preservação dos bens culturais como um todo. É necessário, portanto,
interpretar os princípios da restauração para enfrentar as variadas questões
envolvidas numa intervenção, tais como as de uso, a inserção de elementos
contemporâneos em contextos históricos e o tratamento de superfícies. São
perscrutadas as formulações teóricas que trabalham com princípios que se
voltam aos bens culturais como um todo, que seguem princípios metodoló-
gicos comuns, contrapondo-se àquelas que procuram desmembrar os bens
culturais em categorias diversas, cada qual com seus próprios princípios, que
tendem a agir de modo empírico a partir do objeto, considerando que o bem
fala por si só e oferece todas as respostas necessárias. Acredita-se, ao contrário,
na necessidade do método para ter acesso à objetividade e na viabilidade da
unidade conceitual e metodológica, existindo princípios gerais (algo diverso de
regras fixas) comuns a todo o campo; o que varia, porém, na aplicação desses
princípios, são os meios postos em prática em função da realidade – material
e de conformação – de cada obra, ou conjunto de obras, e de seu particular
transcurso ao longo do tempo. Ou seja, em vez de atuar através de indução
empírica que parte do objeto, percorre-se um caminho deduzido através de
princípios éticos e científicos, como preconizava Brandi.
As propostas apresentadas neste trabalho se fundamentam essencialmen-
te numa releitura da teoria de Cesare Brandi e dos princípios do chamado
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24. Pela abordagem escolhida para este livro, muitas das referências analisadas provêm de autores
italianos. Temas de enorme interesse, não examinados neste escrito, são também discutidos, por
exemplo, na produção de língua inglesa por autores como Harold James Plenderleith, Bernard
Feilden (os dois relacionados ao ICCROM e com grande conhecimento das discussões sobre
restauro na Itália) e Ernst Gombrich.
25. Françoise Choay, “A Propos de Culte et de Monuments”, em Alois Riegl, Le Culte Moderne
des Monuments. Son Essence et sa Genèse, Paris, Seuil, 1984, pp. 7-19.
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Ainda no que concerne ao emprego de certos termos, neste trabalho são uti-
lizadas as palavras restauração e restauro para evitar a excessiva aliteração
numa mesma frase ou parágrafo (especialmente do fonema “ão”). Apesar de o
vocábulo restauração ser mais comumente empregado no Brasil (em Portugal,
dá-se preferência a restauro) e o mais antigo, a palavra restauro comparece
em dicionários da língua portuguesa como seu sinônimo desde 1899, sendo
também de uso consolidado26.
26. Confira os verbetes na obra de Cândido de Figueiredo, Novo Dicionário da Língua Portu-
guesa, 2 vols., Lisboa, Cardoso & Irmão, 1899.
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http://www.atelie.com.br/livro/preservacao3patrimonio3arquitetonico3industrializacao9
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