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para o Conhecimento,
Conservação e
Restauro de
Escultura em Madeira
.
Policromada
Nisa Félix 1
Porto, 2013
Índice
2
3
Introdução 4
Terminologia 8
Escultura Policromada 12
Estudo Cientifico 37
Avaliação de Riscos 47
Conclusão 98
Glossário 101
Bibliografia 106
Anexos 110
Introdução
5
Conservação
Segundo a Carta de Cracóvia é “o conjunto das atitudes de uma comunidade
que contribuem para perpetuar o património e os seus monumentos. A conservação do património
construído é realizada, quer no respeito pelo significado da sua identidade, quer no
reconhecimento dos valores que lhe estão associados.”
Conservação Curativa
Conservação Preventiva
Restauro
pensamento humano sobre o seu corpo e o modo de o representar […].” (PEREIRA, José
Fernandes [dir.] – Dicionário de Escultura Portuguesa. Lisboa: Editorial Caminho, 2005, p. 227.)
dedica-se assim, na sua maioria, aos monumentos pátrios e aos heróis da nação.
A fase naturalista da escultura portuguesa não deixou de ser uma
continuidade lógica do Romantismo, mesmo quando os seus pressupostos
pretendem uma oposição frontal com esta época. A escultura naturalista
praticamente não teve uma teoria que a fundamentasse, vive portanto da influência
literária e da própria pintura, pretendendo um abandono dos temas do passado e
investindo nas temáticas contemporâneas. Dentro deste período destaca-se como
artista António Soares dos Reis, apesar da sua obra ter uma classificação muito
ambígua, é realista e naturalista mas possui igualmente uma forte componente
clássica, trazendo para o contexto escultórico nacional uma qualidade rara,
colocando problemas e soluções genuínas. Em Lisboa o mais reconhecido escultor
naturalista foi Costa Mota, autor de diversas obras públicas como o Monumento a
Afonso de Albuquerque.
Leopoldo de Almeida, escultor oficial deste regime, com obra espalhada por várias
praças e ruas do país. Leopoldo de Almeida está para a Escola de Lisboa, como
Salvador Barata Feyo para a do Porto, e igualmente comprometido com a escultura
oficial do Estado Novo, mas com obra mais reduzida e maior oscilação de coerência
artística.
Durante a década de 40 acabaram por surgir novas tendências
artísticas, propondo novas poéticas e, sobretudo, possuindo pressupostos contrários
aos do Estado Novo, aparecendo no final da década a escultura abstrata. O primeiro
abstracionismo é praticado principalmente por Arlindo Rocha e Fernando
Fernandes, mas com pouca aceitação pública. A década de 60 é marcada pela
ânsia generalizada de experimentação de novas linguagens e objetos, destacando-
se a importância de autores como Alberto Carneiro ou Clara Menéres. A década
seguinte é crucial pelo facto de ser o tempo de duas propostas inovadoras no que
respeita à modificação iconográfica e formal. Falamos de João Cutileiro e o seu D.
Sebastião e também de José Aurélio com Humberto Delgado.
A partir dos anos 80 sucede-se uma nova geração de escultores, muito
jovens, uns frequentando o ensino artístico e outros que dele acabaram por desistir,
ambos trazendo novas propostas para a escultura, ao mesmo tempo que
conseguiram atingir uma projeção internacional através da participação em variados
certames. Forma-se então um grupo muito heterogéneo de artistas, onde podemos
referir Pedro Cabrita Reis, Manuel Rosa, José Pedro Croft, Rui Chafes, Rui Sanches
e Miguel Ângelo Rocha.
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Tipologias
Técnicas e Materiais
Ilustração 5: Elaboração de
ornato entalhado.
Técnicas de Acabamento
Nas Normas de Inventário surge toda uma gama de técnicas de
acabamento que podem ser utlizadas numa peça escultórica. A lista que se segue
enumera-as:
Bronzeado Estampado Pintado
Brunido Estofado Policromado
Cozido Forjado Polido
Cromado Fundido Prateado
Dourado Inciso Relevado
Embutido Incrustado Remontado
Encarnado Insculpido Repintado
Entalhado Jaspeado Repolicromado
Envernizado Marmoreado Repuxado
Esculpido Modelado Esmaltado
Patinado Vidrado Estranhado
Vestígios de Policromia Perfurado
Policromia e Douramento
No que respeita ao tema aqui abordado, ou seja, a Escultura em
Madeira Policromada, as técnicas mais utilizadas neste tipo de peças são a
policromia e o douramento. Mas antes desse processo existem outros processos
que permitem a proteção e duração do objeto.
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Policromia com emulsão de óleo e ovo: Composto formado por óleo de linho,
mais a clara ou gema do ovo e o pigmento;
características como o facto de estar bem seca, para não se formarem fissuras, e os
nós de resina têm de ser queimados e fechados, de preferência com o mesmo tipo
de madeira. A preparação do suporte é bastante demorada pois é composto por
várias fases – Encolagem, onde se utiliza cola de animal, camadas de preparação
branca e o bollús da arménia, depois é necessário Betumar, Nivelar e Polir a
superfície para que esta fique lisa, e procede-se ao Douramento a Água ou
Mordente.
Estofado
Esta técnica decorativa começou a ser bastante
utilizada na imaginária a partir do século XVIII, e era
essencialmente destinada a mantos, roupagens, nuvens e asas de
querubins. O estofado consiste na aplicação de tintas de
têmpera de ovo sobre ouro, sendo estas raspadas, com diversos
motivos, deixando o ouro visível. A têmpera feita com gema de
ovo utilizam-se, com mais frequência, pigmentos de forma a
formar cores mates e densas, já com a clara do ovo os resultados
são mais transparentes, sendo necessária a utilização de corantes.
A realização do estofado é simples. Primeiro é
escolhido o desenho que é transposto para papel vegetal,
através do picotar do papel mas zonas delimitadoras do desenho Ilustração 8: Escultura
em madeira policromada
com técnica de estofado.
que depois é batido com uma boneca de pó de talco para que o
contorno apareça sobre a têmpera. Depois de transposto o desenho, a têmpera do
interior do desenho é retirada por raspagem, através de um ponteiro metálico ou
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madeira para não riscar o ouro. No final o ouro fica com a forma do desenho que
anteriormente fora transposto para a peça.
Punçoado
Com esta técnica o objetivo é a criação de criar
punções com várias formas. Estes quando batidos sobre
a têmpera ou ouro, transferem para a superfície a sua
forma, dando um aspeto caraterístico, como por exemplo,
pequenos círculos, estrelas e flores. A transposição destas
formas é feita através do batimento de um pequeno martelo
no punção que vai marcando a superfície dourada. É um
Ilustração 9: Escultura com
processo que tem de ser muito cuidadoso porque pode técnica de punçoado.
Esgrafitado
Técnica fácil de realizar e cujo resultado é muito
agradável à vista. Os desenhos, pequenos, grandes, finos ou
grossos, são feitos através de pequenos estiletes. Nesta
técnica a têmpera é deslocada e ficam à vista orifícios
semelhantes a pequenos fios de ouro. Também aqui os
padrões são ao gosto do dourador, sendo os mais comuns
Ilustração 10: Pormenor com
os traços paralelos desencontrados e pequenos círculos. esgrafitado.
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Patines
As patines identificam o envelhecimento natural e as
sucessivas camadas de gordura e sujidade que se vão
acumulando nas camadas de ouro e policromia. Pode ser
imitada com uma velatura que se dá sobre o ouro ou pintura
que dá mais contraste entre as zonas convexas e
côncavas. As patines são realizadas consoante o tom
Ilustração 11: Pormenor de uma
do ouro ou o efeito final pretendido. Antigamente, para o escultura com patine.
Após todas estas camadas, as peças acabam por possuir uma estratigrafia, quer a
nível das carnações, quer do estofado. A primeira, de um modo resumido e geral, é
composta por cinco camadas, e a segunda por sete.
Estratigrafia do Estofado:
Material de suporte físico de madeira
Camada de encolagem
Camada de preparação branca tradicional
Camada de preparação de bolo-arménio
Aplicação de folha de ouro ou prata Ilustração 13 : Estratigrafia do
Estofado.
Camada de policromia
Aplicação de velatura e vernizes
III
Estudo
Científico
37
Métodos Analíticos e de Exame
Radiografia
Através da radiografia é possível verificar se as obras são realizadas
apenas num só bloco ou em vários, assim como confirmar, quando não são
detetadas assemblagens, se pequenos elementos são colados. Este processo
também é importante para se perceber se os diversos elementos que compõem a
obra fazem parte do bloco de madeira original, e permite visualizar todos os
suportes metálicos que são utilizados para a unificação dos diversos fragmentos.
Além disso, regista a diferente opacidade dos materiais, que depende da espessura
de cada um e da sua composição.
38
39
Fotografia de Infravermelhos
Permite a visualização de desenhos subjacentes. Este tipo de radiação possui
um comprimento de onda que lhe permite atravessar a camada pictórica e atingir a camada
de preparação.
Luz visível
Este é o processo mais básico pois limita-se à observação direta,
permitindo a elaboração da descrição geral da obra. Permite igualmente observar o
realce do relevo superficial e colocar em evidência aspetos do estado de
conservação.
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Análise complementar
Os métodos analíticos envolvem a análise de amostras recolhidas das
obras, ajudando assim a complementar os restantes exames. Através destas
amostras é possível obter informações sobre a estrutura da obra de onde foi
retirada. São úteis sobretudo na identificação do material da obra, não sendo nem
invasivo, nem destrutivo.
Análise
Nesta fase podem ser inseridos vários processos que permitem obter
informações sobre a composição química do material. Pode envolver recolha de
amostras, podendo as análises serem invasivas o não, e os métodos destrutivos ou
não destrutivos. Dentro destes processos existe a espectrometria de fluorescência
de raios-X, uma análise in situ, e que apresenta resultados num espectro simples, a
espectrometria de absorção de infravermelho, muito usada para a identificação de
materiais orgânicos e ainda a espectrometria de massa que proporciona informação
de natureza molecular.
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Outros Métodos
Dendrocronologia
Método pelo qual se procede à datação das madeiras pela contagem
dos seus anéis de crescimento. A contagem dos anéis e a avaliação da sua
espessura permite ficar a saber-se a idade da peça analisada.
Modificação térmica
Os processos que utilização a modificação térmica são aqueles que, ao
longo destes últimos anos, mais têm evoluído a nível comercial. Este sucesso é
certamente devido ao baixo custo de tratamento em comparação com outras
modificações que se baseiam na utilização de compostos químicos e tornam o
produto final muito mais caro.
A modificação térmica é realizada através da utilização de elevadas
temperaturas que alteram a composição química da madeira, resultando num novo
material com propriedades melhoradas. Com isto, a humidade de equilíbrio acaba
por diminuir consequência da menor quantidade de água absorvida pelas paredes
da célula devido à mudança química.
O tratamento térmico melhora a durabilidade da madeira, a resistência
contra os fungos, exceto em contacto com o solo, e ligeiramente contra insetos,
tendo pouco efeito na resistência sobre térmitas. Esta melhoria da resistência aos
fungos é conseguida pela transformação das hemiceluloses. Contudo, este
processo tem um ponto fraco, a degradação de algumas propriedades mecânicas. A
madeira torna-se mais quebradiça com a deterioração das propriedades devido à
perda de polissacarídeos amorfos. Desta forma a madeira torna-se num material
mais escuro, com menor condutividade térmica e molhabilidade. Além disso, a
absorção de colas e vernizes torna-se mais lento do que na madeira não tratada. No
quadro que se segue estão presentes os principais processos de modificação
térmica, sendo o Thermowood o mais bem-sucedido na Europa.
Processos Descrição
Aumento rápido da temperatura usando calor e vapor até 100ºC seguido de um aumento
mais suave até 130ºC e secagem durante 1 hora. Aumento até à temperatura de
Thermowood
tratamento (185-215ºC) que se mantém durante cerca de 2-3 horas. Arrefecimento e
estabilização.
Secagem rápida com vapor e gases de combustão quentes produzidos pela subida na
Bois Perdure
temperatura da madeira e re-injetados na câmara de combustão.
A madeira com humidade de 12% é tratada numa fase, a temperaturas de 200-240ºC com
Retification
azoto, garantindo um máximo do oxigénio de 2%.
Tratamento com óleo quente (180-240ºC) num recipiente fechado que limita o teor de
OHT
oxigénio.
Modificação química
A maior parte dos processos de modificação química baseia-se na
reação entre os grupos hidroxilo da madeira e um reagente químico. Ao substituir
alguns grupos hidroxilo por um composto hidrofóbico, levando à diminuição da
higroscopicidade e conduzindo a um material com propriedades melhoradas. Destes
processos o que mais se destaca a nível comercial é o que utiliza a acetilação com
anidrido acético. Também foram testados os anidridos cíclicos mas a redução da
higroscopicidade é menor, causando problemas de degradação da madeira. As
propriedades melhoradas através do processo químico não divergem muito
daquelas obtidas pelo processo térmico. Também aqui a humidade de equilíbrio
diminui devido á substituição de alguns grupos hidroxilo, e em resultado desta 43
44
um futuro prometedor pois utiliza álcool furfurílico, obtido através dos produtos
secundários da produção do bioetanol, e o preço deste composto químico deverá
baixar no futuro.
À semelhança dos dois processos anteriores, a impregnação com álcool
furfurílico conduz a uma diminuição da humidade de equilíbrio e a um aumento da
estabilidade dimensional da madeira. A madeira furfurilada é resistente aos fungos
da podridão castanha e branca, e a resistência contra térmitas depende do ganho
de massa. É igualmente muito resistente a xilófagos marinhos, ao contrário das
outras madeiras modificadas, e ainda às condições climatéricas em relação à
madeira não tratada. Todavia a resistência ao impacto é afetada pelo tratamento.
Modificação da superfície
Este processo difere dos restantes por alterar, tal como o próprio
nomeindica, essencialmente as propriedades da superfície da madeira, incidindo
especialmente na resistência à degradação pela luz solar, condições climáticas e de
aderência. O principal problema destes métodos é o seu elevado custo, o que faz
deduzir que nenhum deles seja utilizado em grande escala num futuro próximo. De
entre os diversos processos, a modificação enzimática no sentido de promover a
colagem da madeira, sem a utilização de resinas, tem algumas potencialidades, mas
apenas se o preço destas resinas subir e simultaneamente se baixar o custo da
ativação enzimática.
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IV
Avaliação
de
Riscos
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Edifício
Os principais problemas dos museus predem-se com a necessidade de
reforço das coberturas e paredes do próprio edifício, elevando assim a segurança e
diminuindo problemas como as infiltrações. Além disso, a localização de muitos
museus não é a mais adequada, situando-se em locais próximos de zonas de risco,
com poucas condições, como é o caso da proximidade com lugares de criação de
animais e plantas, possíveis fontes de pestes e pragas. A nível exterior, e não
diretamente ligados à estrutura arquitetónica, encontram-se outros fatores que
podem culminar na degradação do acervo museológico. Aqui podemos referir as
vias de transporte que significam poluentes atmosféricos e trepidações, e também
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Acervo
Cada bem cultural requer, devido à sua natureza, fragilidade e estado de
conservação, uma atenção e cuidados específicos. A sua distribuição coloca várias
questões quer devem ser articuladas com as condições ambientais e de segurança.
Todos os acervos estão sujeitos a riscos inerentes e procedimentos inadequados
que se relacionam com:
– Oscilações bruscas de humidade relativa, temperatura, presença excessiva de luz
e pragas;
– Falta de segurança, e logo roubos e vandalismo;
– Ausência de um registo de circulação interna;
– A circulação interna inadequada pode levar a vários acidentes;
– Excessivo manuseamento de objetos fruto de estudo ou investigação, o que pode
provocar danos;
– Intervenções de conservação e restauro mal executadas;
50
Fatores de degradação
nas juntas e fendas da madeira, levando entre 3 a 4 semanas para que as larvas
eclodam e comecem a roer a madeira, originando galerias. Em adulto, o inseto
refugia-se na superfície e abandona a madeira nos meses de verão. Após esta
saída, e dado o seu curto período de vida, torna a ocorrer o acasalamento e reinicia-
se novamente o ciclo. O ataque é normalmente identificado através dos orifícios
circulares e pelo serrim acumulado na superfície da madeira, este último permitindo
saber se o ataque ainda se encontra ativo, quando de cor clara, ou, quando de cor
escura, se o ataque é antigo.
como é o caso dos pequenos roedores, onde se inclui ratos e ratazanas, as aves,
como pombos e corujas, e ainda outros animais como morcegos, coelhos e gatos.
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Fungos
São microrganismos que se desenvolvem em condições de temperatura
e humidade relativa elevadas e, dentro desta categoria, são aqueles que mais
danificam a madeira, pois nela encontram nutrientes como o açúcar e amido.
Desenvolvem-se tanto a nível interior, como exterior, atacando apenas a madeira
quando esta está húmida, mas podendo alastrar-se às zonas secas. Pode
considerar-se dois tipos de deterioração, conforme a cor que assume a madeira
depois de atacada – podridão branca e podridão castanha. A primeira resulta da
destruição da lenhina por parte dos fungos, a segunda quando os fungos só atacam
a celulose, deixando os resíduos acastanhados da
lenhina, assumindo a madeira, depois de seca, uma cor
mais escura e fragmentada. Os bolores também são
considerados fungos e o seu ataque provoca alterações
cromáticas ou a formação de películas superficiais, e
as propriedades mecânicas da madeira não são afetadas. Ilustração 22: Fungos.
Bactérias
Estes microrganismos necessitam de condições de humidade relativa
muito elevadas, acima dos 85%, e por serem muito pequenos não têm uma
penetração ativa, atacando-os principalmente por via química. O seu ataque resulta
em alterações cromáticas e alteram pigmentos que contêm chumbo.
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– Água
É um fator que assume particular importância,
desde já por ser um constituinte da madeira, e
depois por estar na base da maioria dos processos
de deterioração deste material. Por ser um material
bastante higroscópico, a madeira, de forma a
atingir um equilíbrio com a atmosfera que a rodeia,
sofre movimentos de dilatação e retração, o que
provoca variações dimensionais que provocam
fendas e fissuras, separação de alguns elementos
e deformações irreversíveis. Não é só o suporte que
é afetado com estas variações, mas também a
Ilustração 23: Esculturas colocas sobre
camada pictórica e as folhas metálica, levando ao estrados
.
destacamento da policromia e à formação de craquelés.
– Fogo/Sismos
Fator de Degradação Riscos Inerentes Medidas de Prevenção
Danos e Patologias
– Intervenções anteriores
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Esta fase pode ser considerada como uma das mais importantes, ou a
mais importante, numa intervenção de conservação e restauro. O diagnóstico tem
de ser executado na presença ou supervisão de um licenciado em Conservação e
restauro, e o papel do Técnico Profissional é, primeiramente, a de fornecer as
informações que considere pertinentes. O estudo da obra passa pela sua peritagem,
e são determinadas a época de construção, materiais e técnicas utilizadas e ainda o
estado de conservação. Desde a Análise Microquímica à Análise Física, tem de
assegurar que todos os pormenores são estudados cuidadosamente e que todas as
informações essenciais são recolhidas. Só depois de reunidos estes dados se dá
início à metodologia de intervenção.
Para facilitar a tarefa do tratamento de dados é normalmente utilizada
uma ficha-tipo, onde se reúnem todas as informações relativas à peça, partindo da
identificação do proprietário, da peça, dos estudos, técnicas e materiais, como
análises e exames realizados, e levantamento de patologias, entre outras
infirmações que sejam pertinentes. A metodologia de intervenção vai estabelecer
assim um plano de ação de conservação e restauro, sendo única para cada peça,
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visto que cada caso é um caso. Esta metodologia de intervenção pode sofrer
alterações durante os trabalhos de conservação e restauro, caso o Técnico
Profissional assim o achar, e devido a fatores extrínsecos e intrínsecos, devendo
estas alterações ser imediatamente comunicadas.
VI
Procedimentos
para a
Conservação
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Faz parte deste processo todo um léxico que, de uma forma geral, expõe
o que se pode realizar para minimizar ou estabilizar os danos e patologias atrás
mencionados. Assim pode proceder-se à:
– Aplicação de adesivo
– Aplicação de camadas protetoras
– Aplicação de materiais de preenchimento nas lacunas
– Colagem
– Conservação
– Consolidação
– Controle de atividade biológica
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– Desinfestação
– Estabilização
– Fixação
– Inibição
– Integração cromática
– Intervenção agressiva
– Limpeza de poeiras
– Limpeza mecânica
– Limpeza química
– Montagem
– Preservação
– Reconstituição
– Remoção de cera, manchas e vernizes
– Remontagem
– Restauro
– Substituição de elementos de ligação
– Tratamento de emergência
química. Neste processo são testados vários solventes com o objetivo de atingir os
melhores resultados de limpeza. Os testes são efetuados por zonas de cor porque
cada pigmento tem comportamentos diferentes em relação à resistência,
dependendo da sua origem.
Normalmente é construída uma tabela onde são referidas as zonas de
cor a testar e os dois tipos d teste a realizar. Utiliza-se uma escala de 1 a 5, em que
o 1 corresponde a fraco e o 5 a muito bom.
Bloqueio de Pestes
as áreas pele menos quatro vezes por ano. Nestas zonas estão incluídos os
armazéns dos quais todos os armários, gavetas e prateleiras devem ser limpas
periodicamente, assim como todas as superfícies que permitam a acumulação de
poeiras.
Para prevenir a entrada de pestes é necessário também que exista uma
correta isolação de todas as saídas de ar, principalmente de portas e janelas, e
quando for possível haja grelhas de malha apertada para evitar a entrada de
pequenos insetos. Se no edifício existirem áreas onde ocorra preparação e consumo
de alimentos, deve haver uma atenção redobrada. Estas áreas são propícias à
acumulação de lixo, que devem ser despejados diariamente, e os contentores
desinfestados regularmente. Sítios quentes, junto a equipamentos elétricos, e
húmidos, como instalações sanitárias, são propícios à proliferação de insetos, sendo
para isso importante a administração das temperaturas e humidade relativa
adequadas.
Há insetos que se adaptam bem a condições variadas. É possível limitar
a sua presença estabelecendo valores de temperatura e humidade relativa
apropriados, mas tendo sempre como prioridade a conservação do acervo. No caso
dos fungos, que se propagam através de esporos invisíveis à vista desarmada, é
impossível evitar o seu depósito na superfície dos objetos. Daí ser importante que a
humidade relativa se situe entre os 45% e 55%, dificultando ou impedindo a
geminação desses esporos. Em edifícios que não tenham um sistema de
climatização ou sistema de ar condicionado também é possível tomar precauções
que evitem a propagação de pestes. Deve começar por haver uma ventilação
adequada, seguida da proteção dos objetos que não se encontram nas vitrinas,
através de embalagens adequadas ou, se não houver condições para tal, cobertos,
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resto do tratamento igual. Mas, nem todos os objetos podem ser submetidos a este
tratamento, e este deve ser efetuado por pessoal qualificado que conheça as
limitações de cada situação.
Já o método da anóxia segue o princípio de que não há vida sem
oxigénio. Os objetos são assim colocados num compartimento plástico, designado
de bolha, onde a atmosfera é modificada através da substituição do oxigénio por
outro gás, levando à eliminação de todos os tipos de insetos, qualquer que seja a
fase do seu ciclo de vida. Os gases utilizados podem ser vários, pode usar-se o
dióxido de carbono, concentrado pelo menos a 60%, variando o tempo de exposição
a tal atmosfera. Pode igualmente usar-se o nitrogénio, mas este só é eficaz a partir
de concentrações superiores a 99%, isso faz com que o material usado no
compartimento seja absolutamente impermeável ao oxigénio. Este processo é
bastante dispendioso e é utilizado em objetos de reduzidas dimensões.
Para a total desinfestação do edifício outro tipo de químicos têm de ser
utilizados, como o brometo de metilo e as fosfinas. O primeiro, além de ser um gás
tóxico, é muito prejudicial para o ambiente, e por isso foi proibido pela União
Europeia, sendo utilizado em Portugal apenas para o escoamento de produtos ainda
existentes em armazém. As fosfinas são bastante eficazes e o procedimento é muito
semelhante ao do produto anterior. Pode apresentar alguns problemas em certos
materiais quando os valores de humidade relativa estão elevados. Estes métodos,
principalmente o último, só devem ser considerados quando todas as outras opções
são excluídas.
81
Restauro
física, fatores que não aceleram a deterioração e que podem ser reversíveis, e
sempre que possível serem o mais semelhantes possível aos originais.
Como cada peça é um caso específico, e tal não permite a existência de
um método universal, há necessidade de realizar testes preliminares, de
solubilidade, fixação e consolidação. Além do estudo particular e dos resultados
obtidos, estes podem ser completados com outros estudos já existentes sobre os
produtos escolhidos e que permitem ter uma noção sobre a sua ação.
Durante muito tempo as pessoas que intervencionavam os bens culturais não
tinham conhecimentos suficientes para uma tarefa tão complexa, acabando por
alterar as obras a nível formal e decorativo, muitas das vezes deixando pouco da
peça original ou provocando danos irreversíveis. Utilizavam materiais não
reversíveis e incompatíveis com os originais, acabando por ajudar na destruição da
peça.
Limpeza
Estabilização
Consolidação
Fixação
Colagem
Preenchimento de lacunas
Reintegração cromática
acetona.
É necessário estudar o tipo de tom a empregar porque, depois de
removidos os vernizes da superfície, os tons ficam baços e descolorados, tendo que
se proceder à ‘molhagem’ da peça de forma a simular a aplicação de verniz. Este
processo é normalmente realizado com algodão embebido em white spirit, que
destilado deve constar dos testes de resistência dos pigmentos.
No que respeita às reintegrações cromáticas em superfícies douradas, a
metodologia utilizada é basicamente a mesma. Quando a técnica do original é
efetuada em ouro de lei, na reintegração mimética utiliza-se ouro verdadeiro, ou
poder-se-ão utilizar, por exemplo, tintas acrílicas com pigmentos não oxidáveis para
o preenchimento das lacunas. Quando a reintegração for através do processo de
diferenciação, podem ser utilizados pigmentos de outro, como por exemplo, micas
em tom diferenciado ou tintas acrílicas. Em todos os casos referido nunca se pode
esquecer que as reintegrações apenas se devem limitar à zona da lacuna, nunca
sobrepondo o original pois esta ação será considerada um repinte.
Manuseamento e Transporte
destacamentos e fraturas, sendo que as peças com este tipo de problemas são
muito mais difíceis de manusear e transportar. Simultaneamente é necessário ter a
consciência de que na realização destas tarefas não se pode estar a realizar outras,
coisas básicas do dia-a-dia como beber ou fumar, e ainda não haver esquecimento
da utilização de equipamento com caraterísticas adequadas pois o corpo humano, e
com mais incidência, as mãos, transpõem gordura, humidade e ácidos. As luvas são
o principal constituinte deste equipamento e devem ser substituídas regularmente
pois muitos objetos são sujeitos a tratamentos com produtos tóxicos. Além deste
equipamento é importante tomar em conta o tipo de vestuário utilizado,
principalmente no que respeita ao uso de pulseiras,
anéis ou colares, bijuterias que podem riscar e
prender-se no objeto. Mais ainda, é importante dotar
os objetos de uma base segura, especialmente os de
base arredondada ou de instável equilíbrio, sendo que
a separação dos diversos elementos que compõem
uma peça e a sua estabilização é igualmente Ilustração 33: Diferentes tipos de luvas. Da
esquerda para a direita: luva de algodão, luva
de látex e luva de nitrilo.
importante.
Acondicionamento
Coleção
Um bem cultural nunca deve ser exposto se o seu estado de
conservação não o permitir, assim é necessário que haja diálogo entre os diversos
intervenientes para que sejam tomadas as atitudes corretas. É necessário que,
aquando da colocação do objeto, na sala de exposição, esta esteja devidamente
pronta, limpa e isenta de qualquer tipo de poeiras, tal como é estritamente
obrigatório que os sistemas de montagem e fixação não alterem ou danifiquem os
bem culturais. Outra situação a evitar é a sua colocação próxima a portas, janelas,
corredores e outros locais que possam sujeitar as peças a condições de humidade
relativa e temperaturas desadequadas.
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Reserva
Cada objeto deve estar identificado de forma clara, com número de
inventário visível para que não seja necessário o seu manuseamento. Mais uma vez
se sublinha a ideia de não colocar os bens culturais em locais de passagem, sendo
que as esculturas de pequena e média dimensão devem ser acomodadas em
prateleiras de metal, reforçadas para suportar o peso, e as esculturas mais pesadas
colocadas no chão em cima de bases ou estrados de madeira. Todos os bens
culturais devem ser acondicionados e protegidos com material inerte, onde se inclui
espumas de polietileno, papel melinex, papel acid-free, papel tissue e pano-cru.
num futuro próximo, devido ao que se tem feito nos últimos anos, a conservação
preventiva vai constituir a primeira medida de conservação do nosso património
cultural, o que facilitará muito a preservação dos objetos, possibilitando às gerações
futuras o contato.
Sobretudo pretendíamos incidir na importância da salvaguarda,
investigação e conservação destes bens materiais específicos, mas não
descuramos todos os outros. Queríamos difundir normas, metodologias e boas
práticas para as disciplinas da conservação e restauro sobre esculturas de madeira
policromada. Igualmente, quisemos assinalar a importância que uma boa
manutenção e inspeção dos espaços podem ter na preservação ou degradação dos
objetos, pronunciar-nos também em relação à movimentação desses mesmos bens
e aos cuidados a ter durante essas expedições temporárias ou definitivas, com vista
à sua salvaguarda.
Glossário
102
Brunir – Polir.
Buril – Ferramenta de metal que permite gravar ou insculpir numa superfície dura.
Enxós – Ferramenta parecida com um machado ou com uma plaina, com lâmina
curva e utilizada para trabalhar a madeira.
Goiva – Ferramenta de trabalho com forma semelhante ao formão, mas com a parte
superior mais delgada, utilizada para talhar zonas curvas.
Monómero – Cada um das moléculas simples, de baixo peso molecular, que, sob
certas condições, se unem formando cadeias de moléculas muito longas, as
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