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11º ano / História A / M6 – A Civilização Industrial do séc.

XIX – Unidades 1 e 2: economia e sociedade

APRENDIZAGENS ESSENCIAIS PARA O TESTE 3


1. Interpretar os desfasamentos cronológicos da industrialização, quer em espaços nacionais quer
internacionalmente, à luz das relações de domínio ou de dependência.

No final do século XVIII, a Inglaterra reuniu uma série de condições que a tornaram pioneira na industrialização
e, ao longo do século XIX, ela deteve a hegemonia industrial, tornando-se um modelo que as demais nações
quiseram imitar.
Por volta de 1850, a Grã-Bretanha conseguia assegurar, sozinha, metade da produção industrial do mundo, era
a maior investidora de capitais a nível mundial e detinha a maior parte dos tráfegos de comércio internacional. Esta
supremacia económica britânica foi possível devido aos seguintes fatores:
 o sistema político liberal, que permitiu a instalação de estruturas político-económicas e sociais modernas e
avançadas;
 o elevado índice de mecanização e de avanço tecnológico das indústrias, sobretudo dos setores do têxtil,
da metalurgia, dos transportes ferroviários e navais, da química e dos artefactos elétricos;
 os métodos de racionalização e organização aplicados ao trabalho industrial, que proporcionaram altos
níveis de produtividade;
 a modernização dos transportes;
 a modernização da agricultura (revolução agrícola);
 a expansão do comércio internacional;
 a modernização do aparelho financeiro, que criou as primeiras associações capitalistas e fortaleceu a libra,
que se tornou a moeda de referência das cotações financeiras internacionais.
Porém, nos finais do século XIX, essa supremacia começou a ser posta em causa por novas potências
emergentes. A expansão geográfica da industrialização realizou-se por etapas, sendo os primeiros países a
iniciarem o processo os mais evoluídos e/ou que possuíam maiores potencialidades naturais:
 Bélgica, França e Suíça, nos finais do século XVIII;
 Alemanha e EUA, em meados do século XIX;
 Suécia, Itália, Espanha, Portugal, Rússia e Japão, em finais do século XIX.
De acordo com o economista britânico W. Rostow, o processo de industrialização obedeceu a fases evolutivas
sequenciadas ou a estádios de desenvolvimento diferenciados: arranque, maturidade e consumo de massas.
A França, por razões estruturais e políticas, avançou para a industrialização tardiamente e a um ritmo lento.
A Alemanha revelou um desenvolvimento rápido, apoiado no crescimento demográfico, no protecionismo
aduaneiro (taxas alfandegárias altas), no fortalecimento do sistema financeiro, na aliança da indústria com a ciência
e a técnica e no alargamento dos mercados externos, pela expansão comercial e colonial.
Os EUA revelaram também um rápido crescimento, justificado por ter:
 abundância de recursos naturais (terras, metais preciosos, petróleo…);
 acelerado crescimento demográfico (fruto da imigração europeia) e do mercado interno;
 desenvolvido o capitalismo rural;
 clima social e político aberto, livre e dinâmico/empreendedor;
 meios de captação de capital, através do crédito, de sociedades por ações e de concentrações industriais e
bancárias, de tipo vertical, como as holdings, e de tipo horizontal, como trusts e cartéis;
 pautas aduaneiras protecionistas (taxas alfandegárias elevadas).
Estas condições permitiram aos EUA atingir, em 1900, o primeiro lugar na produção industrial mundial.
O Japão foi o primeiro país asiático a modernizar a sua economia, sob a ação do imperador Mutsu-Hito. Este
subordinou a aristocracia terratenente (nobreza fundiária) e unificou o país, iniciando uma época de liberalização
ao estilo ocidental, marcada:
 pelo incentivo de contactos com o Ocidente – atração de técnicos ocidentais;
 pela intervenção direta do Estado na economia e pelo estímulo do investimento estrangeiro;
 pelo expansionismo político e económico;
 pela mecanização da produção da seda e pelo desenvolvimento dos transportes;
 pela criação de grandes grupos industriais e/ou financeiros (conglomerados) – os zaibatsu.

2. Caracterizar as crises do capitalismo liberal.


Ao longo do século XIX, o liberalismo económico [doutrina económica fundada por Adam Smith e David
Ricardo que defende a abolição dos monopólios e das barreiras à circulação; a livre iniciativa e a livre
concorrência; a propriedade privada; a não intervenção do Estado na economia – o Estado devia apenas
assegurar as condições para o desenvolvimento económico (a aprovação de medidas anti protecionistas, que
favorecessem o
livre-cambismo – sistema comercial baseado na livre circulação de mercadorias –, como a redução ou a
abolição das taxas alfandegárias; a promoção de políticas não-dirigistas; a garantia das regras de mercado – a
lei da oferta e da procura); a ideia de prosperidade conseguida pelo trabalho, pelo lucro e pela poupança; o
princípio de que o mercado tinha mecanismos autorreguladores – as crises económicas eram entendidas como
naturais, que se resolviam por si e que serviam para restabelecer o equilíbrio no mercado], o
capitalismo [modelo ou sistema de organização social e económica, sendo também usado, num plano
histórico, como a antítese do socialismo. Diferencia-se deste pelo seu carácter descentralizado, pela sua
motivação pelo lucro, baseando-se na propriedade privada, na livre iniciativa – a possibilidade de qualquer
indivíduo criar fontes de rendimento –, tendendo para uma economia de mercado, de livre empresa, vocacionada
para o lucro] e a industrialização caminharam lado a lado, favorecendo-se mutuamente e contribuíram para um
crescimento económico como o mundo nunca antes havia conhecido.
Porém, a busca de lucros e a falta de regulamentação (apesar de os defensores do liberalismo económico
considerarem existir mecanismos autorreguladores) concorreram para criar uma economia que ciclicamente era
abalada por crises de superprodução ou de sobreprodução (originadas pela livre concorrência e pela acumulação
de stocks), que provocavam fases de expansão (crescimento) a seguir a fases de contração da economia (crises,
recessões, depressões), contrariando a lógica tradicional (crises de subsistência), abalando toda a economia
(falências, queda das cotações bolsistas, aumento do desemprego), diminuindo a qualidade de vida das populações
e provocando instabilidade social e política.
Os economistas destacam, na evolução económica global do século XIX, três tipos de oscilações rítmicas entre
preços, salários e lucros, a que dão o nome de ciclos económicos:
 Kitchin estudou os ciclos mais curtos, cujas oscilações ocorriam a intervalos de 3 a 5 anos;
 Juglar estudou as flutuações que ocorriam em períodos de 6 a 10 anos, compreendendo cada um uma
tendência expansiva e outra depressiva;
 Kondratieff enquadrou as oscilações em períodos mais longos que duravam entre 50 e 60 anos,
compreendendo também duas tendências distintas.
A produção excedentária que originava estas crises do capitalismo resultava do liberalismo económico, em que
o Estado quase não interferia na economia, decorrendo esta segundo as leis da livre concorrência, da oferta e da
procura, condições que levavam industriais, comerciantes e financeiros a incrementar constantemente a produção,
tendo em vista o aumento das vendas e dos lucros.
As crises do capitalismo apresentavam as seguintes características:
 à superprodução sucedia-se a descida das vendas e dos preços, a destruição de stocks, a quebra dos lucros,
o corte drástico nas despesas – redução da mão-de-obra, gerando o desemprego, diminuição do salário e
do horário de trabalho, redução dos gastos em matérias-primas e energia – alargando a crise a outros
setores;
 para suportar os prejuízos, muitas empresas recorriam ao crédito, endividando-se;
 no caso de a crise se prolongar, a produção parava, a fábrica fechava, a empresa falia, levando para o
desemprego todos os assalariados;
 geravam uma fase depressiva na economia (descidas de preços e salários, aumento do desemprego,
falências…), que só se invertia quando se recuperava o equilíbrio – fase expansiva (crescimento progressivo
da produção e do emprego, aumento da procura, aumento dos lucros…);
 eram crises cíclicas – ocorriam a intervalos de tempo regulares.
Estas crises foram altamente seletivas: só as indústrias e as economias mais fortes lhes sobreviviam, o que
agudizou/agravou as diferenças e as dependências entre as indústrias mais fortes e as mais fracas e entre os
países/zonas mais avançadas e industrializadas e os países/zonas mais atrasadas, com economias tradicionais.

3. Compreender que a divisão internacional do trabalho na nova ordem económica foi uma consequência do
capitalismo liberal (de tipo industrial).

O século XIX apresenta uma nova e complexa rede de relações económicas de interdependência entre as
diversas zonas do mundo.
No centro desta rede estão as economias industriais desenvolvidas, que vendem produtos industriais e
serviços, recebendo matérias-primas e dinheiro. As principais potências industriais são a Inglaterra e a Alemanha,
os EUA e o Japão.
Num segundo nível de desenvolvimento estão países como Portugal e Espanha, com alguma indústria, com
acesso a matérias-primas por via das suas colónias, reexportando as que não conseguem transformar, exportando
alguns produtos industriais e recebendo e exportando capital.
No último nível de desenvolvimento (regiões não industrializadas) temos as colónias e os países da América
Latina, essencialmente fornecedores de matérias-primas e recetores de produtos industriais.
Esta divisão internacional do trabalho implica a especialização das economias num determinado tipo de
produção, o que favorece principalmente os países mais industrializados, que regulam os fluxos comerciais,
controlando a produção de matérias-primas nos países periféricos e nas colónias, conseguindo, assim, ajustá-la às
necessidades das suas indústrias.
Havendo uma crise de superprodução, os países periféricos, menos industrializados e desenvolvidos
economicamente, são os mais duramente atingidos, uma vez que a sua economia depende apenas de dois ou três
produtos, cujo valor pode baixar drasticamente devido à diminuição da procura pelos países industrializados. Além
disso, se outras regiões oferecerem melhores condições (por exemplo, mão de obra mais barata), as empresas das
economias dominantes não hesitam em deslocalizar a sua produção para zonas que proporcionem maiores lucros.

4. Relacionar as mudanças provocadas pela expansão da indústria, comércio e banca com a posição dominante
da burguesia e com a formação das classes médias.
5. Comparar valores e comportamentos das classes burguesas com valores e comportamentos da nobreza do
Antigo Regime.

Nos finais do século XVIII, inícios do século XIX, a burguesia [grupo social que desde a Idade Média vinha, por
meio das atividades mercantis e bancárias, acumulando capital, centralizando os meios de produção e
concentrando a propriedade, o que lhe permitiu abrir brechas na organização social e política e contribuir de
forma significativa para a formação dos estados liberais oitocentistas] passou a dominar a economia e a controlar
as políticas económicas na maioria dos países da Europa Ocidental.
Esta sociedade de classes, burguesa, é, por via da força da lei, mais igualitária que a sociedade de ordens, sendo
a mobilidade social um dos seus paradigmas: ninguém pode estar prisioneiro do seu nascimento, como acontecia
na sociedade do Antigo Regime – se demonstrar possuir as capacidades necessárias para subir na escala social,
nada na lei o deve impedir, pois o sucesso dos indivíduos contribui para o bem-estar geral das nações (outra das
noções tão caras ao liberalismo burguês).
A grande ou alta burguesia é a classe alta desta sociedade. Ela comporta-se como uma elite económica, social
e cultural, adotando comportamentos sociais herdados do Antigo Regime (certas estruturas mentais resistem às
mudanças), como é o caso da importância que dá aos títulos nobiliárquicos.
A alta burguesia detém o poder económico, pois:
 controla os meios de produção e as grandes fontes de riqueza (minas, fábricas, transportes, bancos);
 os seus membros desempenham funções/cargos de grande relevância, como empresários industriais,
banqueiros, diretores de companhias de caminhos-de-ferro e de navegação, grandes negociantes e grandes
proprietários.
Detém igualmente o poder político, pois:
 alcança lugares cimeiros da administração pública – deputados, ministros, presidentes da república…
 influencia as políticas aduaneiras;
 procura atenuar os efeitos da reforma fiscal e deter o socialismo, reprimindo greves e manifestações;
Detém, ainda, o poder social, pois:
 exerce-o através do ensino, da imprensa e do lançamento de modas;
 impõe valores e comportamentos: imita a aristocracia nobre (compra de propriedades, edificação de
grandes e luxuosas moradias, gozo de férias, culto da ostentação…);
 mistura-se com a nobreza (casamentos), para obter títulos nobiliárquicos;
 evidencia uma consciência de classe.
Apesar dos contrastes sociais chocantes – entre a riqueza e o bem-estar da alta burguesia e a pobreza e miséria
do proletariado, a sociedade burguesa consegue distribuir melhor a riqueza do que a precedente, criando-se, pela
primeira vez na história, verdadeiras classes médias.
As classes médias (média e pequena burguesia) situam-se entre a alta burguesia e o proletariado:
 não controlam os meios de produção, mas também não fazem trabalho manual;
 apresentam uma grande heterogeneidade (diversidade/variedade);
 ambicionam ascender socialmente e ter uma parcela do poder, através do trabalho, da educação ou do
casamento;
 compõem-se de pequenos empresários industriais, possuidores de rendimentos, donos de bens fundiários,
imóveis, obrigações e ações; patrões, transportadores, empregados de loja/armazém, vendedores;
membros das profissões liberais – independentes e com estudos superiores, como médicos, advogados,
engenheiros, contabilistas, farmacêuticos, notários, intelectuais, artistas…; funcionários – empregados
de escritório, correios e telégrafo, professores, militares, polícias, bombeiros, cobradores…
 são conservadoras, distinguindo-se pelo sentido da ordem, do estatuto e das convenções sociais, e no
respeito pelas hierarquias.
Entre as virtudes burguesas destacam-se:
 o enaltecimento do trabalho, do estudo, da poupança, da moderação, da respeitabilidade, da decência e
da prudência – moral e bons costumes –, fomentadas pela família;
 apresentação da riqueza como fruto do trabalho, da iniciativa e do esforço pessoais – o self-made man
(empreendedor).
6. Interpretar os problemas sociais surgidos com o capitalismo industrial no contexto do movimento operário,
das propostas socialistas revolucionárias e da transformação da sociedade.

A sociedade de classes oitocentista é uma sociedade desigual e elitista, porque nela encontramos contrastes
acentuados:
 se, por um lado, ela estabelece a figura do cidadão e o princípio da igualdade jurídica (lei igual para todos),
por outro, ela cria novas distinções, baseadas na riqueza, no grau de educação e na profissão exercida;
 se, por um lado, a burguesia – sobretudo a alta, detentora do capital (comercial, industrial, financeiro e
bancário) e dos meios de produção (minas, fábricas, transportes, bancos…) – tem acesso à educação e a
bens culturais, participa na política e habita em bairros agradáveis e em casas confortáveis, normalmente
no centro das cidades, por outro, o proletariado – conjunto de trabalhadores/operários que vivem do seu
trabalho não qualificado, dependem da oferta de emprego e auferem um salário baixo – sujeito a uma
vida de exploração desde tenra idade, não tem acesso à instrução e a bens culturais, não participa na
política, habita em bairros degradados, sem condições de salubridade, na periferia das cidades.
A classe baixa, a classe operária ou proletariado, é, tal como as classes médias, muito heterogénea e dividida
quanto aos objetivos a alcançar. Uma dificuldade que o proletariado enfrenta prende-se com a formação de uma
consciência de classe – o sentimento de pertença a um grupo social e a perceção de que a defesa dos direitos de
cada um passa sempre pela defesa dos direitos do grupo – pelos operários. Outra dificuldade tem que ver com o
facto de o sistema vigente servir, essencialmente, os interesses da burguesia, classe que sabe tirar partido desse
sistema, através do sufrágio censitário, afastando o proletariado das decisões políticas.
No que respeita às condições de trabalho, o operário/proletário conhece:
 frio glacial no Inverno, calor sufocante no Verão, má iluminação, falta de arejamento e de segurança,
barulho ensurdecedor, ausência de vestiários, sanitários e cantinas, horário longo (12 a 16 horas diárias,
sem dias de descanso), salários miseráveis…
 trabalho esgotante e nos limites da resistência humana;
 inexistência de contratação coletiva, de salário mínimo, de subsídios de acidentes, doença, velhice e
desemprego.
A mão-de-obra operária é constituída por homens, mulheres e crianças a partir dos 4/5 anos… famílias inteiras
são arrastadas para o trabalho industrial, provocando a desarticulação da vida familiar.
No que concerne às condições de vida, verificam-se:
 a precariedade – o trabalho e o salário são incertos;
 a existência de habitações miseráveis, exíguas, indignas e degradantes, sem luz, higiene, privacidade…
 uma alimentação desequilibrada e insuficiente, em que a carne fresca, a fruta e o leite são luxos…
 uma saúde precária – cólera, raquitismo, deformações, tuberculose…
 a queda no alcoolismo, na prostituição, na delinquência e na criminalidade;
 uma esperança média de vida muito baixa, com taxas de orfandade e mortalidade infantil elevadas.
As péssimas condições de trabalho e de vida do proletariado levaram a tentativas de organização e de
elaboração de planos de luta, criando-se o movimento operário – movimento que resultou da associação dos
proletários para reivindicarem melhores condições de trabalho e de vida.
No contexto desse movimento operário, desenvolveu-se o associativismo – um sistema de solidariedade em
que os trabalhadores mais qualificados se organizam em grupos associativos ou associações, como os montepios,
os socorros mútuos, as mutualidades e as sociedades de fraternidade, com o objetivo de prestar auxílio aos seus
membros em situações de acidente, doença, desemprego, greves, velhice, morte, maternidade e educação das
crianças, que usa as quotas dos seus associados, mas em que a maioria dos trabalhadores/operários não é
abrangida porque não tem qualquer qualificação.
Desenvolveu-se igualmente o sindicalismo – um sistema de associação e coligação em que os trabalhadores
se organizam em sindicatos, organizações que lutam por melhores condições de trabalho e salários, sendo a
greve a sua principal forma de luta. É a partir do surgimento dos sindicatos e da sua legalização que se pode dizer
que o movimento operário atinge a sua maioridade, pois começa a possuir coesão e força suficientes para que o
Estado liberal e burguês não o ignore nas negociações laborais entre patrões e trabalhadores.
Pela mesma altura, surgiu o socialismo – ideologia que se propõe solucionar a “questão social” (o problema
das desigualdades socioeconómicas) da industrialização, suprimindo as diferenças sociais e económicas e criando
uma sociedade verdadeiramente igualitária (a sociedade liberal e burguesa era igualitária só em teoria).
Socialistas utópicos (idealistas, sentimentais), como Charles Fourier, Robert Owen, Saint-Simon e Proudhon (este
sobretudo anarquista), propuseram medidas para transformar a sociedade liberal, tentando torna-la mais justa e
livre, como a criação de falanstérios (comunidades organizadas harmoniosamente), bairros operários, jardins-de-
infância e redução do horário de trabalho. Porém, essas medidas são mais idealistas do que realistas, são limitadas
a algumas fábricas e, de uma forma geral esbarram na oposição dos grandes industriais que as veem como uma
ameaça aos seus lucros e à ordem social burguesa liberal.
Entre as propostas socialistas de transformação revolucionária da sociedade, destacaram-se as do socialismo
científico ou marxismo, estabelecido a partir da publicação do Manifesto do Partido Comunista (1848), por Karl
Marx e Friedrich Engels.
De uma forma sintética, o marxismo (ou socialismo científico, como chama Marx à sua proposta social)
defende que:
 o socialismo deve ter uma feição mais interventiva na sociedade;
 o movimento operário deve organizar-se em partidos e sindicatos revolucionários que demonstrem a
consciência de classe e a união do proletariado – “Proletários de todos os países, uni-vos!”;
 o movimento operário deve organizar-se de forma a falar a uma só voz em todos os países do mundo,
pondo de lado os nacionalismos que só servem os interesses do poder instituído e da burguesia (classe
minoritária, detentora dos meios de produção e opressora), que se apropria da mais-valia da riqueza
produzida, e não dos trabalhadores (classe maioritária, produtora da riqueza e explorada/oprimida);
 o movimento operário, unido, deve realizar uma revolução armada para derrubar o poder da burguesia
e instituir uma ditadura do proletariado;
 o proletariado, no poder (ou governando em ditadura), deverá decretar a coletivização dos meios de
produção (terras, minas, fábricas, transportes, bancos…), que passarão a ser geridos por todos, abolindo-
se a propriedade privada e a burguesia;
 a ditadura do proletariado deverá pôr fim à luta de classes, que caracterizou toda a história da
humanidade, através da instauração do comunismo – etapa final do socialismo, em que será criada uma
sociedade sem classes.
No decurso da segunda metade do século XIX houve tentativas de internacionalização do movimento
operário. Um exemplo dessas tentativas foi a Internacional Operária, órgão que traçava planos de ação tendentes
a internacionalizar a luta operária com o apoio dos sindicatos de todos os países. A Internacional Operária ou I
Internacional reuniu-se em 1866, em Genebra. A II Internacional ou Internacional Socialista, criada em 1889,
adotou o marxismo como ideologia política.
Essas tentativas, porém, acabaram por fracassar: as clivagens entre socialistas marxistas (radicais, adeptos do
marxismo e da revolução armada) e socialistas revisionistas ou reformistas (moderados, adeptos da reforma das
instituições por via legal, dentro do sistema democrático), liderados por Eduard Bernstein, por um lado, e o
surgimento de uma outra vertente, apartidária, independente de qualquer partido, anarquista (a CGT, França,
1895), propondo destruir o regime burguês através de greves sucessivas e ações de sabotagem.
No final do século XIX, fruto do clima de entendimento entre os partidos operários e burgueses, afirmou-se o
demoliberalismo – sistema político que confere grande valor à representação da Nação, alargando o sufrágio
universal e reforçando o poder dos Parlamentos.

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