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Políticas da União Europeia 4º Ano – 1º Semestre Prof.

Manuel Porto

POLÍTICAS DA UNIÃO EUROPEIA

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Políticas da União Europeia 4º Ano – 1º Semestre Prof. Manuel Porto

PARTE I – O COMÉRCIO INTERNACIONAL

1. RELEVO ATUAL

A abertura das economias (Z) permite medir a percentagem que o conjunto das
exportações (X) e das importações (I) de cada país representa no respetivo produto interno (ou
nacional) bruto, recorrendo à seguinte fórmula:
1
∗[ X + M ]
2
Z= ∗100
PIB
A abertura depende essencialmente de três fatores, a saber a localização do país, o seu
grau de desenvolvimento e a dimensão do mesmo.
O grau de abertura é maior nos países centrais e menor nos países mais periféricos –
maior abertura de países como a Suíça e a Holanda em relação a Portugal, na medida em que
aqueles estão próximos de muito outros.
Cabe ainda frisar que países de menor dimensão têm taxas de abertura maiores –
exemplos do Luxemburgo, da Bélgica e da Holanda – e, pelo contrário, os países de maior
dimensão apresentam taxas de abertura menores. Assim é dada a facilidade de acesso dos
países de maior dimensão – casos da Alemanha, da Espanha e da Itália – aos produtos dos
países fronteiriços.
Por fim, urge realçar a circunstância de ser maior a abertura de economias pequenas,
apontando, a título meramente ilustrativo, o facto de as maiores empresas da Europa provirem
de países pequenos, pois estes não terão, a nível interno, mercado suficiente, procurando, por
consequência, o mercado mundial.

Em Portugal o comércio internacional tem sido especialmente relevante para o setor


têxtil e das confeções, com grande dependência relativamente ao exterior tanto no que respeita
às importações (v.g. de matérias-primas e de máquinas) como no que respeita às exportações
(de produtos acabados), sendo exportada grande parte da produção (v.g. 56% em 1996) de uma
indústria que ocupava cerca de 26% da mão-de-obra da indústria transformadora e representava
cerca de 23% das exportações portuguesas.

A importância do comércio internacional tem vindo a crescer ao longo das décadas, em


termos reais e em termos relativos.
O crescimento evidenciado não se cinge apenas a valores nominais (como
consequência de aumentos dos preços dos bens comercializados), tratando-se também de um
crescimento real, em volume.

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É de referir ainda que o crescimento real do comércio tem sido muito mais acentuado do
que o crescimento real dos PIB’s, o que traduz uma crescente importância do comércio
internacional para as várias economias.

2. A ALTERNÂNCIA ENTRE O LIVRE-CAMBISMO E O PROTECIONISMO


NA HISTÓRIA RECENTE DOS FACTOS E DA CIÊNCIA ECONÓMICA

Verificado um notório aumento do relevo do comércio internacional com o decurso das


décadas, denota-se que o processo de abertura das economias não se desenvolveu de forma
regular, mas sim entrecortada. Constataram-se períodos de maior intervenção protecionista e
períodos de influência livre-cambista.

2.1 NA HISTÓRIA DOS FACTOS

Na história dos factos, Agnus Maddison distinguiu quatro grandes fases, importando
analisar cada uma delas:

 “Liberal World Order”, 1870-1913: O século XIX e os primeiros anos do


século XX (até ao início da Primeira Guerra Mundial) constituíram um longo
período de predomínio livre-cambista. Não foi, porém, um livre-cambismo
absoluto, dada a alternância de situações de acentuado protecionismo de
produtos agrícolas. Além disso, economias que hoje em dia são predominantes
– como a norte-americana e a alemã – sentiram a necessidade de proteger
setores industriais em implantação – caso do setor siderúrgico – para poderem
competir com a Inglaterra.
A média anual de crescimento mundial das exportações foi de 3,4%,
acompanhada de um crescimento homólogo os PIB’s de 2,11%, dos PIB’s per
capita de 1,3%, tendo sido semelhante a evolução nos vários continentes ver
quadro 1.2 da pág. 31;

 “Conflict and Autarky”, 1913-50: A Primeira Guerra Mundial marcou o início


de um período de acentuadas limitações ao comércio internacional, o qual
cessou passados uns anos do término da Segunda, já no final da década de 40.
Aos conflitos resultantes das Guerras acresceram as limitações provenientes da
grande depressão de 1929-32, quando alguns dos principais países procuravam
sair da crise através da aplicação de restrições às importações em relação aos

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demais, estratégia que acabaria por falhar e culmina num dos principais motivos
que originou a Segunda Guerra Mundial.
Neste período de recuo, o quadro 1.2 da pág. 31 mostra que o crescimento
anual médio das exportações desceu para 0,9%, acompanhado de uma
diminuição do crescimento dos PIB’s para 1,85% e dos PIB’s per capita para
0,9%;

 “Golden Age”, 1950-73: O reconhecimento do insucesso dos isolacionismos,


no plano económico e no plano político, fez despertar a necessidade de se
caminhar no sentido de criar condições que permitissem um comércio mais
livre. Consciencializou-se que tal só seria possível através de instituições
internacionais promotoras do afastamento de barreiras, de um maior
equilíbrio económico entre as nações e da multilateralização dos pagamentos
internacionais.
Importa distinguir o que se efetuou tanto no plano europeu como no plano
mundial:

No espaço europeu logo em 1948 a Organização Europeia de Cooperação Económica


(OECE), formada por 16 países (entre os quais Portugal), veio promover o afastamento de
direitos alfandegários e restrições quantitativas e administrar a ajuda financeira dos EUA
do plano Marshall, instituída com o intuito de ajudar o ressurgimento das economias europeias
devastadas pela guerra; tendo a União Europeia de Pagamento (UEP), criada pela OECE, vindo
facilitar a convertibilidade entre as moedas europeias.
Em 1952, após a ratificação do Tratado de Paris, a Comunidade Europeia do Carvão e
do Aço (CECA) veio promover a liberdade do comércio destes dois produtos de relevo para a
economia europeia, abrindo caminho para o posterior alargamento do movimento de integração
europeia.
Em 1957, a assinatura do Tratado de Roma instituiu a Comunidade Económica
Europeia (CEE), a par da Comunidade Europeia de Energia Atómica (EURATOM), criada por
outro tratado de Roma com a mesma data.
Dois anos depois, na sequência do malogro dos esforços britânicos no sentido de ter
sido criado apenas um espaço europeu de comércio livre (em lugar da CEE), assinou-se o
Tratado de Estocolmo, instituidor da EFTA, que entrou em funcionamento em 1960 (englobou
seis países, incluindo Portugal).

Por sua vez, no espaço mundial, no âmbito da liberalização do comércio, datando de


1947, o Acordo Geral sobre Impostos Alfandegários e Comércio (GATT), assinado por 27

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países e tendo o acordo do Uruguai Round determinado a criação da Organização Mundial do


Comércio (OMC).
No campo do reforço das economias mais desfavorecidas, em 1945 surgiu o Banco
Mundial.
No âmbito da multilateralização dos pagamentos, o Fundo Monetário Internacional
(FMI) foi criado também em 1945.

Em suma, o período compreendido entre os anos de 1950 e 1973 caracterizou-se como


um verdadeiro período de ouro, muito por graças do êxito das instituições acima referidas.
Conforme se pode confirmar no quadro 1.2 da pág. 31, destacam-se os seguintes indicadores:
taxa anual média de crescimento das exportações de 7,88%, acompanhada do crescimento dos
PIB’s de 4,91 e dos PIB’s per capita de 2,93%.

 “Growht Deceleration, and Accelerated Inflation”, 1973-98: O retrocesso


constatado na década de 70 do século XX simbolizou uma desilusão,
nomeadamente com um primeiro período de ressurgimento protecionista (o
“novo protecionismo”).
Passou-se por um agravamento geral de que se saiu apenas na segunda metade
da década de 80, depois de uma acentuação na primeira metade da década. Este
processo repetiu-se em alguma medida na década de 90 – visível na fig. 1.5 da
pág. 37.

2.2. NA HISTÓRIA DA CIÊNCIA

Atendendo agora à evolução na ciência económica, é de começar por assinalar que a


prevalência livre-cambista do século passado e do início deste século foi acompanhada pela
formação e pela consolidação de um corpo teórico que aprofundava não só as razões pelas quais
haveria comércio internacional como também as vantagens dele resultantes.
Foi o que aconteceu com a escola clássica, logo com o seu “fundador”, Adam Smith
(1776), formulando a primeira versão da teoria clássica do comércio internacional, a teoria da
vantagem absoluta, à qual se seguiu, com David Ricardo (1817), a teoria da vantagem
comparativa.

Não obstante a prevalência do pensamento livre-cambista, já no século passado, num


dos casos com origem bem mais remota, se verificaram duas grandes exceções:

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 Argumento dos termos do comércio: Uma das exceções residiu na defesa de


restrições ao comércio para melhorar os termos do comércio de um
determinado país com possibilidades de ter influência sobre eles. Esta ideia
remonta a Torrens (1824 e 1844) e Mill (1848). Justificar-se haver intervenção
alfandegária de grandes países (EUA e União Europeia), de modo a diminuir as
importações, o que faz com que o preço do produto baixe e, por conseguinte,
passe a ter mais peso o valor das exportações;
 Argumento das indústrias nascentes: A outra exceção prendeu-se à defesa da
introdução de restrições ao comércio para promover o aparecimento de uma ou
várias novas indústrias ou da indústria em geral. A sua origem parece remontar
aos séculos XVII e XVIII, tendo sido seus popularizadores mais famoso, nos
séculos XVIII e XIX, A.Hamilton (1791) e Carey (1837-40) nos EUA e List
(1841) na Alemanha – caso da indústria siderúrgica promovida pelos EUA,
Alemanha e França, devido ao seu atraso em relação ao Reino Unido.

3. TEORIAS EXPLICATIVAS DO COMÉRCIO

3.1. DETERMINANTES DO LADO DA OFERTA

3.1.1. TEORIA CLÁSSICA (SMITH E RICARDO)

A escola clássica foi marcada pela justificação que fez do comércio internacional,
afastando-se radicalmente do pensamento mercantilista, que a antecedeu.
Na sua base e na sua formulação assente, entre outros, os seguintes pressupostos:

 Dois países (I e II), produzindo cada um deles dois bens (A e B);


 Um único fator de produção determinante do valor dos bens, o trabalho (1),
com mobilidade completa, setorial e geográfica, dentro de cada país, mas sem
mobilidade entre os países;
 Funções de produção diferentes na produção de cada bem (A e B) e em cada
país (I e II) (sendo diferentes, pois, as horas de trabalho requeridas em cada um
destes casos);
 Funções de produções com rendimentos de escala constantes;
 Concorrência perfeita nos mercados dos produtos e dos fatores de produção,
com os custos de produção refletidos nos preços dos bens;
 Condições tecnológicas dadas, acessíveis nos dois países;

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 Homogeneidade dos produtos e dos fatores de produção;


 Condições de procura dadas, sendo as preferências dos consumidos idênticas
nos dois países;
 Ausência de restrições ao comércio internacional (barreiras alfandegárias,
custos de transporte ou quaisquer outras).
Neste quadro os custos de produção de A e de B seriam os seguintes:

A = w1A
B = w1B

Onde w é o salário de cada unidade de trabalho e 1A (1B) o número de unidades de


trabalho por unidade de bens produzidos (A ou B). sendo os salários iguais nos dois setores,
havendo concorrência e refletindo-se os custos de produção nos preços, os preços relativos dos
bens (A e B) seriam determinados, consequentemente, pelo trabalho neles incorporado:

PA/PB = 1A/1B

Com base nos pressupostos referidos, Adam Smith (1776) defendeu que haveria
comércio internacional se houvesse diferenças absolutas nos custos de produção, ou seja, se
um dos bens (A) fosse produzido com menos horas de trabalho num dos países (I) e o outro bem
(B) com menos horas de trabalho no outro país (II).
Bem A Bem B Total de horas
País I 20h 40h = 60h
País II 40h 20h = 60h

Neste caso, o país I especializar-se-ia na produção do bem A e o país II na produção do


bem B, com o que se conseguiria uma melhor afetação dos recursos, na medida em que cada um
deles poderia continuar a produzir duas unidades (agora, do bem em que tivessem vantagem
absoluta) apenas com o custo de quarenta horas ou, em alternativa, passar a produzir mais
unidades com o tempo que já era despendido (60 horas); o país I 3 unidades de A e o país II 3
unidades de B (no total, duas unidades a mais, ou seja, mais 50% do que com as economias
fechadas).

A formulação de David Ricardo (1817), da teoria da vantagem relativa (ou


comparativa) veio mostrar que mesmo um país que tenha vantagem absoluta na produção de

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dois bens terá interesse no comércio internacional se, no cotejo com o outro ou os outros países,
houver vantagem comparativa diferente.
Bem A Bem B Total de horas
País I 20h 50h = 70h
País II 80h 60h = 140h

Tendo o país I vantagem absoluta (na produção dos dois bens com o dispêndio de
menos unidades de trabalho), na perspetiva de Adam Smith não deveria haver comércio
internacional.
No entanto, sendo diferentes os custos relativos (tendo o país I vantagem comparativa
na produção do bem A (20/50) e o país II vantagem comparativa na produção do bem B
(60/80)), há um ganho geral se I se especializar na produção de A e II na produção de B.
Se cada um dos países produzir o bem em que tem vantagem comparativa, poderá
produzir a mesma quantidade com menos horas de trabalho (gastando o país I 40h a produzir
duas unidades do bem A e o país II 120 horas a produzir duas unidades do bem B) ou uma
maior quantidade com as horas de trabalho já despendidas (podendo o país I produzir 3,5
unidades de A e o país II produzir 2,3 unidades de B).

3.1.2. TEORIA NEO-CLÁSSICA (HECKSCHER-OHLIN-SAMUELSON): DA


‘PROPORÇÃO DOS FATORES’

3.1.2.1. A FORMULAÇÃO DA TEORIA

Esta teoria assenta nos mesmos pressupostos da teoria clássica, distinguindo-se somente
na circunstância de termos agora dois fatores de produção (o trabalho (L) e o capital (K)),
diferentes nos dois países.
Os países são diferentemente dotados dos fatores de produção, sendo por exemplo o
país I mais dotado em trabalho e o país II mais dotado em capital, o que faz com que o L seja
mais barato em I e o L mais barato em II.
Especializando-se um país com mais trabalho na produção de bens mais trabalho-
intensivos e um país com mais capital na produção de bens mais capital-intensivos, cada um
deles consegue produzir o bem correspondente por um preço mais baixo do que no outro.

3.1.2.2. O PARADOXO DE LEONTIEF

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Seria de esperar que o teorema de Heckscher-Ohlin viesse a ter confirmação empírica


quando fosse sujeito a testes econométricos, tal como sucedeu com a elaboração de matrizes de
relações inter-setoriais.
Estas, dando a medida das matérias-primas, dos bens intermediários e dos fatores
primários utilizados na produção de cada bem, permitiram medir o grau de trabalho-intensidade
e de capital-intensidade: assim acontecendo, designadamente, em relação aos bens exportados e
aos bens importados.
Em 1953, procurando testar o comércio internacional dos Estados Unidos da América,
Leontief concluiu, com surpresa, que este país exportava bens mais trabalho-intensivos e
importava bens mais capital-intensivos.
Este não seria, de todo, o resultado expectável, mas sim o resultado contrário, já que os
países considerados no comércio com os EUA eram países menos desenvolvidos, pelo que seria
de prever que exportassem predominantemente bens mais-trabalho intensivos. Assim, o
resultado apurado passou a ser designado por paradoxo de Leontief.

Foram vários os argumentos que tentaram explicar o aludido paradoxo, a saber:

 Os cálculos foram feitos em 1847, ano em que as economias sofriam ainda


represálias dos efeitos da II Guerra Mundial; contudo o teste foi repetido em
1955 e os resultados mostraram-se idênticos;
 É resultado da grande agregação com que os setores foram considerados;
contudo, um outro cálculo com uma maior desagregação mostrou os mesmos
resultados;
 Assenta no pressuposto da existência de apenas 2 fatores de produção (exemplo
do petróleo, onde o fator a ter em conta é o próprio elemento natural, não só o
trabalho e o capital);
 Consequência da preferência dos consumidores: pode acontecer que os
consumidores americanos tenham uma maior preferência por bens capital-
intensivos;
 Circunstância de haver restrições ao comércio, podendo os EUA proteger mais
os bens trabalho-intensivos.

3.1.3. OUTRAS TEORIAS

3.1.3.1. EXPLICAÇÕES TECNOLÓGICAS

a) A TEORIA DO INTERVALO (GAP) TECONLÓGICO (POSNER)

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Em 1961, Posner pressupôs a existência de dois países com a mesma datação relativa
dos fatores, pelo que, nos termos da teoria de Heckscher-Ohlin, não haveria comércio
internacional.
Neste conspecto, o comércio seria desencadeado pelo surgimento de uma inovação
tecnológica num determinado país. Depois, haver ou não comércio internacional depende do
intervalo (gap) de reação verificado no outro país, maior ou menor com a ‘procura’ ou antes
com a ‘imitação’ na produção do bem.
Deste modo, se no outro país houver uma célere reação de imitação, levando à
produção do produto novo ou melhorado ou à utilização do novo processo produtivo antes de
se verificar uma reação de procura, não chegará a haver comércio internacional: podendo até
esta nova produção corresponder à procura, quando esta se manifestar.

b) A TEORIA DO CICLO DO PRODUTO

A teoria formulada por Vernon, em 1966, já se aproxima mais do teorema de


Heckscher-Ohlin ao considerar que o desencadear do processo de inovação tecnológica é de
esperar que se verifique num país (EUA) com grande dotação de capital e salários altos. Depois
considerou uma sucessão de fases, com a prevalência de países diferentes de acordo com a
dotação e os preços relativos dos fatores de produção.
Um produto novo aparece no país dotado com mais capital. Os países com salários
médios começariam a produzir o produto na fase de maturidade, sendo todavia a produção
insuficiente para corresponder à totalidade da procura, satisfeita em grande medida com
importações do país inovador.
Na terceira fase, na fase da estandardização do produto, tornando-se o segundo país
exportador e o primeiro (que havia feito a inovação) um importador líquido a partir de
determinado momento, acontece que ganha relevo a produção de países pobres em capital e
salários, que já na segunda fase consumiam o produto em causa (importando-o quase na sua
totalidade) e nesta terceira passam, a partir de um certo momento, a ser seus exportadores
líquidos (ver fig. I.13, da pág. 62).

3.1.3.2. ECONOMIAS DE ESCALAS

A existência de economias de escala pode levar também ao comércio internacional, ne


Neste caso, é indiferente haver diferentes dotações de fatores ou haver alguma inovação
tecnológica; assim, sendo indiferente que um país se especialize num produto e, outro, num

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outro, pode acontecer, todavia, que produzindo cada um dos países os dois bens, nunca chegue a
ser atingida a escala que lhes permitiria produzir com custos médios mais baixos.
Escala essa que já poderá ser atingida com a especialização de cada um em apenas um
dos bens, produzidos para o mercado conjunto dos dois países; assim sendo, e passando os bens
a ser trocados pela relação de preços internacionais, temos situações bem mais favoráveis às
economias dos países.

3.2. DETERMINANTES DO LADO DA PROCURA

3.2.1. EXPLICAÇÃO PELA ‘SOBEPOSIÇÃO DE PORCURA’ (LINDER)

Num artigo de 1961, Linder veio chamar a atenção apara que a níveis diferentes de
rendimentos per capita deverão corresponder diferentes tipos de consumo, sendo de esperar que
nos países com níveis de rendimento mais altos sejam procurados bens de melhor qualidade e
que nos países com rendimentos mais baixos sejam procurados bens de pior qualidade.
Consequentemente, é ainda de esperar que a produção de cada país corresponda à
procura que nele é feita; tendendo, por isso, os países de maior rendimento a produzir bens de
maior qualidade e, pelo contrário, os países de menor rendimento a produzir bens de menor
qualidade.
Acontece, todavia, que em certos níveis haverá sobreposições, havendo pessoas de
países de maior rendimento que procurarão bens de qualidade inferior, por um lado, e por outro,
pessoas de países com menor rendimento que procurarão bens de qualidade melhor.
Da existência dessas sobreposições é que resultaria o comércio internacional. No
entanto, ficou por explicar se, quando se verificam tais sobreposições, o bem deverá ser
produzido no país mais rico ou no país mais pobre.

3.2.2. EXPLICAÇÃO PELA ‘DIFERENÇA DE ATRIBUTOS’ (LANCASTER)

Repetindo o exemplo dado pelo próprio Lancaste (1966), podemos considerar dois tipos
de automóveis, um deles caracterizado pelo baixo consumo de combustível e o outro pelo
espaço oferecido, admitindo que num dos países (seria o caso de Portugal) fosse privilegiado o
primeiro e no outro (seria o caso dos EUA) o segundo dos referidos atributos.
Assim, privilegiando-se em Portugal o atributo do baixo consumo, tender-se-á a
produzir aqui o bem com o referido atributo e, pelo contrário, nos EUA produzir-se-ão
automóveis com o atributo do espaço oferecido.
Trata-se, todavia, de uma correspondência inicial que só se manterá se houver
dificuldades no comércio internacional, pois, não sendo assim, os consumidores de cada país

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não deixarão de ir buscar o bem ao país que, por razões do lado da oferta, o consigam em
melhores condições.

3.3. O COMÉCIO INTRA-SETORIAL

3.3.1. EXPRESSÃO, SIGNIFICADO E MEDIÇÃO

Designadamente ao nível da CEE tem-se constatado, de forma surpreendente, que os


países não se têm vindo a especializar em setores diferentes, verificando-se antes, ao longo das
últimas décadas, o crescimento sensível do relevo do comércio intra-setorial, com a
manutenção ou mesmo o aumento simultâneo das exportações e das importações de cada setor
(exportando-se e importando-se automóveis, tecidos, produtos químicos, etc.).
Mais recentemente passou a distinguir-se entre o comércio horizontal e o comércio
vertical, consoante se trate de bens semelhantes (v.g. tendo preços semelhantes os bens
exportados e os bens importados) ou diferenciados, procurando-se saber, neste segundo caso,
se os bens exportados são de melhor ou pior qualidade do que os bens importados.

3.3.2. EXPRESSÃO

3.3.2.1. NOS PAÍSES DA OCDE

O comércio intra-setorial é maior nos países da União Europeia e da EFTA


(excecionando-se a Islândia), seguindo-se os países da América do Norte e por fim o Japão, a
Nova Zelândia, a Austrália e a Turquia.
É maior o seu relevo nos países mais desenvolvidos, conforme demonstra a fig. I.19 da
p.76, sendo maior na América do Norte, na Austrália e Nova Zelândia e na Europa Ocidental e,
consequentemente, menor em toda a África.

É ainda de notar que o comércio intra-setorial é maior entre países da União Europeia,
nomeadamente em relação a produtos industriais.

3.3.2.2. EM PORTUGAL

Em Portugal, o comércio intra-setorial assume particular relevo com a indústria


automóvel

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Através das figs. Das pp. 79 e 80, denota-se que o comércio intra-setorial português tem
vindo em crescendo relativamente aos demais países da União Europeia e tendo alguma quebra
em relação a terceiros.

3.3.3. A ESPECIALIZAÇÃO E O AJUSTAMENTO DAS ECONOMIAS

Com a constatação do relevo do comércio intra-setorial não se confirmou, pois, o receio


que havia acerca do desaparecimento de determinados setores como consequência da abertura
de fronteiras, levantando problemas delicados de reafectação de recursos, designadamente de
mão-de-obra.

PARTE II – AS RESTRIÇÕES AO COMÉRCIO

1. FORMAS

Além das formas tradicionais, que vamos começar por analisar, há formas ‘novas’ que
têm vindo a ser progressivamente utilizadas, face à impossibilidade de utilizar as primeiras
como consequência de compromissos assumidos que os países não têm querido denunciar.

1..1 IMPOSTOS ALFANDEGÁRIOS

Trata-se da forma de restrição do comércio com a maior tradição, devendo distinguir-se


os impostos alfandegários como forma de restrição do comércio (protecionistas) dos impostos
alfandegários como instrumento de cobrança de receitas (fiscais).

1.1.1. IMPOSTOS PROTECIONISTAS E IMPOSTOS FISCAIS (LIVRE-


CAMBISTAS)

Ao aplicar-se impostos protecionistas, as autoridades visam evitar a entrada de


produtos de modo a favorecer a produções ou fatores próprios. Estes impostos muito eficazes do
ponto de vista protecionista proporcionam uma grande redução das importações e, por
conseguinte, darão lugar a um nível de receitas muito baixo (no limite, se impedirem por
completo as importações, deixará de haver qualquer receita).
Por seu turno, os impostos fiscais têm como objetivo a obtenção de receitas,
permitindo-se um elevado volume de importações.

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A perda do relevo das receitas alfandegárias foi uma consequência dos compromissos
internacionais assumidos, no seio da OECE (depois, da OCDE), da EFTA, do GATT (da OMC)
e da CE.

NOTA: Através do Quadro II.1 apresentado na p.104 denota-se que na década de


sessenta do século passado, os impostos alfandegários em Portugal representavam 20,7% das
receitas. No entanto, em 2007, esse número representava apenas 0,4%.

1.1.2. IMPOSTOS DE IMPORTAÇÃO, DE EXPORTAÇÃO E DE TRÂNSITO

Trata-se de uma distinção consoante o tipo de movimento que é tributado.


Na aplicação de impostos sobre a exportação e sobre o trânsito costuma prevalecer o
objetivo fiscal de cobrança de receitas, ao passo que os impostos sobre a importação visam
essencialmente o intuito protecionista do país.

1.1.3. IMPOSTOS ESPECÍFICOS E AD VALOREM

Estamos perante uma distinção consoante o modo de apuramento da coleta, sendo os


impostos específicos quando estabelecem quantitativos a pagar por unidade física (1000 euros
por automóvel importado), de peso (ex. 10 cêntimos por cada quilo de trigo), de capacidade
(ex. 30 cêntimos por cada litro de petróleo) ou de superfície (ex. 50 cêntimos por cada metro de
fazenda), e ad valorem quando estabelecem uma percentagem a aplicar ao valor do que é
importado.
A pauta específica é de aplicação mais fácil e dá menos oportunidades de fraude: sendo
mais simples e controlável a identificação e a apreciação das unidades físicas do que o
apuramento do valor dos bens. Foi esta vantagem que explicou a manutenção em Portugal de
uma pauta fundamentalmente específica até aos anos oitenta do século passado, não obstante os
inconvenientes de equidade e económicos que lhe subjazem: com a tributação regressiva dos
cidadãos, a distorção no aproveitamento das vantagens comparativos dos países e a erosão da
sua capacidade reditícia.

1.2. RESTRIÇÕES QUANTITATIVAS

Uma outra grande via para estabelecer restrições ao comércio prende-se às restrições
quantitativas, sob diferentes formas:

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 Proibições: proíbe-se por exemplo a entrada de determinados produtos por


razões de saúde pública (produtos com uma composição nefasta), de
segurança (armas) ou morais (artigos pornográficos);
 Licenciamentos: sujeitando-se as importações à outorga de uma licença,
condicionada por alguma das razões acima referidas ou ainda por exemplo por
um propósito protecionista, sendo aquela concedida se não estiver em causa
uma produção doméstica que se queira proteger; e
 Quotas: estabelecendo limites dentro dos quais podem ser feitas as
importações.

1.3. RESTRIÇÕES AOS PAGAMENTOS

Trata-se de uma terceira forma de estabelecer restrições ao comércio, não


disponibilizando ou limitando as disponibilidades de divisas para pagar as importações: o que
leva a que estas deixem de ter lugar, dado que os empresários dos países exportadores têm de
fazer nas suas moedas os pagamentos dos fatores de produção, das matérias-primas, dos bens
intermediários e dos equipamentos utilizados na produção.
Além das restrições aos pagamentos é ainda possível influenciar o comércio
internacional através da variação da taxa de câmbio, fazendo desvalorizar a moeda do país
como forma de diminuir as importações (uma vez que estas tornar-se-iam mais caras para os
residentes do país importador) e, pelo contrário, promove as exportações (que se tornam mais
baratas para os residentes dos outros países).

2. MEDIÇÃO

Cabe agora debruçar sobre o problema da medição da restrição, que se coloca em


relação a todas as formas de intervenção.

2.1. A ‘PROTEÇÃO0 NOMINAL

Até aos anos 60 do século XX, mediu-se o protecionismo através do valor nominal dos
impostos alfandegários (ou dos outros meios de intervenção), vendo-se quanto representavam
em relação ao valor final dos bens.

2.2. A PROTEÇÃO EFETIVA

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A teoria da proteção efetiva tem na sua base o reconhecimento de que a atividade


produtiva de um país não é afetada apenas pela tributação sobre o valor final dos bens
importáveis (favorecendo a sua produção interna), sendo-o também pela tributação que recai
sobre os bens intermediários importáveis (onerando a produção do bem final e desfavorecendo
quem nela participa)

3. EFEITOS

3.1. SOBRE O CONSUMO

Levando a restrição a um aumento de preço, verifica-se uma diminuição do consumo.

3.2. SOBREE A PRODUÇÃO

Com a concorrência dos bens importáveis a produção nacional tinha de circunscrever-se


ao espaço em que o custo marginal das unidades produzidas no país é inferior ao preço
praticado a nível internacional. Ora, com a subida do preço interno proporcionada pela restrição,
as empresas serão atraídas a aumentar a sua produção.

3.3. SOBRE A BALANÇA DE PAGAMENTOS

Levando o imposto alfandegário a uma diminuição do consumo e a um aumento da


oferta, na medida da soma destas diferenças há uma diminuição das importações, que constitui
o efeito (positivo) sobre a balança de pagamentos.

3.4. DA RECEITA FISCAL

Havendo importações oneradas por um imposto alfandegário, há uma cobrança de


receita para o Estado correspondente ao produto das unidades importadas pelo imposto cobrado
para cada uma delas.

3.5. DE TRANSFERÊNCIA DE RENDIMENTO (PARA OS PRODUTORES)

Com a intervenção alfandegária há um efeito de transferência de rendimento para os


produtores, correspondendo ao ganho que passam a ter por agora o preço ser superior ao custo
marginal.

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Políticas da União Europeia 4º Ano – 1º Semestre Prof. Manuel Porto

3.6 DE BEM-ESTAR

Antes da existência da restrição, as pessoas compravam por um determinado preço.


Todavia, verificado o imposto alfandegário, o preço do produto aumenta e, por consequência,
diminui o efeito do rendimento das pessoas.

3.7. SOBRE OS TERMOS DO COMÉRCIO

A aplicação de uma restrição que faça diminuir as importações levará a um


abaixamento dos preços internacionais.
Tratando-se de um país com peso no mercado mundial, como consequência do peso da
procura do país, cum um preço maior, há uma menor procura, que leva a que o preço
internacional desça. Há então uma alteração dos termos do comércio, favorável ao país que
aplica o imposto, na medida do prejuízo dos demais.
Esta situação promove guerras comerciais e, além disso, a diminuição de rendimento de
outros países faz com que os países ‘grandes’ exportem menos para aqueles.

4. APRECIAÇÃO

Observados os efeitos que as restrições implicam, incumbe agora aferir se não existem
modos mais adequados de intervir para atingir os objetivos em vista.

4.1. O JUÍZO NEGATIVO DA TEORIA DAS DIVERGÊNCIAS DOMÉSTICAS

Veio estabelecer que importa ver qual a situação que impede que possamos competir. A
do protecionismo é cega, pois pretende promover um setor (EUA, Alemanha- setor siderúrgico),
tendo o inconveniente de aumentarem os preços dos bens fabricados. Quando são bens finais
onera os consumidores; quando são intermediários, a intervenção alfandegária faz prejudicar a
produção a jusante.

Esta teoria mostra que quando se intervém deve-se ver por que razão não se compete: a
industria não se instala porque não há pessoal qualificado, devendo ter-se centros de formação e
qualificação profissional; caso da investigação científica e tecnológica para instalar certos
fatores.

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Políticas da União Europeia 4º Ano – 1º Semestre Prof. Manuel Porto

Intervenção do primeiro ótimo sem custos no consumo e na produção. Na EU o


protecionismo é pequeno.

A razão para a existência de protecionismo prende-se à vantagem de ter um custo


administrativo reduzido. Por outro lado, a formação profissional, a investigação científica e
tecnológica, acessibilidades, produção no estrangeiro envolve custos elevados.
Há um ciclo virtuoso: há medida que os países se desenvolve, o processo de custo para
usar os processos corretos vai diminuindo (Alemanha, EUA, etc.).

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