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INTELIGENTE
TECNOLOGIAS URBANAS
E DEMOCRACIA
EVGENY MOROZOV
FRANCESCA BRIA
PARTE 1 24–25
01
A SMART CITY:
UMA CONTRA-HISTÓRIA
SIEMENS
Infraestrutura de negócios e
serviços de análise de ativos
para manutenção preditiva
IBM
CISCO
PHILLIPS
02
MODO SMART
E NEOLIBERALISMO
A EMERGÊNCIA DA INFRAESTRUTURA
COMO CLASSE ALTERNATIVA DE ATIVOS
21 Ver <martinprosperity.org/content/rise-of-the-urban-startup-
neighborhood>.
PARTE 2 94–95
01
PARA ALÉM DAS SMART
CITIES: ALTERNATIVAS
DEMOCRÁTICAS
E COMUNITÁRIAS
Como já ressaltado, o debate sobre quais tipos alterna-
tivos de intervenções políticas e pragmáticas podem ser
implementados deve ser visto no contexto mais amplo
das lutas contra a austeridade, contra o neoliberalismo
predatório e contra a corporização de todas as coisas.
Encontramos na Europa bons exemplos de movimentos
liderados por cidadãos que buscam transformar recur-
sos em bens comuns e que defendem a administração
coletiva de recursos públicos, como a água, o ar e a ener-
gia elétrica, e o fornecimento de moradia e de saúde pú-
blica sob a categoria mais geral do “direito à cidade”. São
alianças dessa espécie que devem ser estabelecidas ou
fortalecidas durante o processo de elaboração de políti-
cas públicas que tratem da soberania tecnológica.
Esses movimentos são ativos principalmente no âm-
bito das cidades e lutam contra despejos, a falta de acesso
a energia elétrica, a precarização do trabalho e pela mu-
nicipalização de infraestruturas públicas. Em alguns
casos, cidades se opuseram à financeirização neoliberal
e ameaçaram abandonar – ou, como no exemplo de Ma-
dri, efetivamente abandonaram – as agências de análise
de risco e destinar parte do dinheiro economizado para
custear despesas sociais. Políticas públicas devem con-
testar a smart city privatizada e construída de cima para
baixo, opor-se ao monopólio da propriedade intelectual
e reverter a apropriação privada dos valores produzidos
coletivamente por plataformas digitais de rent-seeking.1
2 Ver <ajuntament.barcelona.cat/digital/en/digital-transforma-
tion>.
cidades e movimentos. A estratégia de Barcelona
consiste em criar engajamento no ecossistema ur-
bano por uma série de workshops de cocriação, em
que será possível influenciar diretamente o planeja-
mento da cidade e incentivar a inteligência coletiva
dos cidadãos e o envolvimento de todos os agentes
urbanos – e, assim, possibilitar a evolução de um
processo realizado de cima para baixo para uma
sistemática realizada de baixo para cima.
Barcelona está apostando, em especial, em uma
nova abordagem com relação a dados chamada “city
data commons” [dados da cidade abertos], que consiste
em fazer avançar um novo pacto social sobre dados
capaz de extrair o máximo possível dessas informa-
ções e, ao mesmo tempo, garantir a soberania e a
privacidade com relação a seu uso. Dados são peças
centrais da infraestrutura urbana e podem ser usados
para a tomada de decisões melhores, mais rápidas e
mais democráticas, além de possibilitarem a incuba-
ção de novas ideias, a melhora dos serviços públicos
e o empoderamento das pessoas. Como ponto cen-
tral, Barcelona busca somar a essas oportunidades
uma estratégia ética e responsável de inovação, com a
preservação tanto de direitos fundamentais dos cida-
dãos como da autodeterminação informacional. Isso
ajudará a garantir que os bens e os recursos públicos
sejam de propriedade comum a todos e que sejam ad-
ministrados em favor do bem comum.
Dados abertos também podem ajudar cidades a
desenvolver alternativas a plataformas sob demanda
PARTE 2 100–101
3 Ver <www.decodeproject.eu>.
todos de alocação de recursos inovadores e parti-
cipativos, tanto pela criação de novos fundos para
projetos voltados a campos específicos em que haja
mais demanda social quanto pelo incentivo de no-
vos modelos de financiamento que garantam opor-
tunidades melhores e mais democráticas de acesso
e compartilhamento de recursos, como o financia-
mento coletivo ou o financiamento misto.4
Em seguida, é essencial que se nutra uma cul-
tura de transparência que ponha fim à corrupção,
como a que Barcelona está desenvolvendo com o
projeto Bústia Ètica,5 uma infraestrutura criptogra-
fada de denúncia que permite aos cidadãos reportar
casos de corrupção de maneira segura. Com proje-
tos como esse, as cidades podem também conscien-
tizar os cidadãos sobre seus direitos na era digital,
como o direito à privacidade, ao acesso à informa-
ção pública e ao conhecimento.
Por fim, as cidades devem incentivar uma cul-
tura ágil e de experimentação em suas organizações,
além de introduzir novos métodos de oferta de ser-
viços (como em abordagens ágeis de desenvolvi-
5 Ver <xnet-x.net/en/whistleblowing-platform-barcelona-city-
council>.
PARTE 2 102–103
6 Ver <medium.com/mosquito-ridge/postcapitalism-and-the-
city-6dda80bc201d>.