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A ECONOMIA NO ESTADO INTERVENCIONISTA

Souza, S. V. A. M. michelle.varas.soto@outlook.com

RESUMO: O intervencionismo é um sistema econômico e político, que se caracteriza


pelo desenvolvimento da produção da iniciativa privada, porém é regulada pelo Estado,
através de ferramentas de intervenção. Um dos maiores exemplos do Intervencionismo
foi durante a Guerra fria entre os Estados Unidos (capitalista) e a antiga URSS
(socialista), pois se mostrou que ambos, com modelos econômicos totalmente
diferentes, tinham ideias contrárias no que se referia ao equilíbrio mundial.

Palavras- Chave: Economia, Intervencionismo, Estado, Política.

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos séculos, mais precisamente na história moderna, o papel que os Estados
desempenhavam no sentido econômico sofreu grandes mudanças, que foram desde o
mais completo abstencionismo (liberalismo) a exagerada intervenção.
Durante o período do liberalismo, o modelo econômico utilizado era o que se baseava
em livre iniciativa, livre concorrência e regulamentação privada, onde o Estado era
limitado apenas em garantir que o necessário fosse feito para o mercado funcionar. A
história aponta que ainda que o Estado sempre atuasse no modelo econômico, foi
somente um pouco antes da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que as ideias
intervencionistas surgiram de fato. È em decorrência da primeira guerra e da Revolução
Francesa em 1789, que muitos sugerem esse ser o marco da eclosão do Estado
Intervencionista, o que posteriormente foi denominado como “economia de guerra”,
principalmente pelo fato de praticamente toda economia Estado girar em torno de
necessidades militares.
Por conta do excesso de neutralidade, e os acontecimentos de ordem histórica
como as duas grandes guerras mundiais e a queda da bolsa de Nova York em 1929, que
gerou uma das maiores crises econômicas da história, o sistema liberal clássico cai, e na
segunda década do século xx, culminou o surgimento do estado de Bem estar Social,
onde o foco político desloca-se para a implementação de algumas medidas de caráter
popular.

Inicia-se um processo de transformação do papel do Estado perante a


sociedade. Sob a orientação teórica keynesiana o Estado deixa de ser o fiscal ou Estado
“polícia”, como sugeriu a “mão invisível” de Adam Smith, para expressar-se como um
ente protetor e assistencialista: “um novo espírito de ajuda, cooperação e serviços
mútuos começaram a se desenvolver e se tornou mais forte como advento do séc. XX”
(STRECK; MORAIS, 200, p.56).

Com o novo modelo estatal o Estado deixa de ser coadjuvante e toma para si a
responsabilidade e papéis nos processos de desenvolvimento econômico, e execução de
diversos serviços.

Por conta dos altos índices de desemprego, da grande queda do PIB de diversos
países e da brusca depressão industrial, os Estados, de modo geral, veem-se obrigados a
intervir para impulsionar a atividade econômica e recuperar os países das crises
decorrentes do pós-guerra.

Passam a despontar diversas teorias e ideias, sendo no campo da


macroeconomia um dos nomes mais conhecidos John Maynard Keynes, onde seus
estudos se baseiam principalmente em medidas de intervenção do governo na economia,
na busca pelo pleno emprego, no desenvolvimento econômico, na estabilização da
moeda e na melhor distribuição da renda. O dirigismo estatal se coloca acima do
protecionismo comercial, o que acaba por dar ênfase à Teoria Marx, fundada na
existência de uma sociedade de classes em que os interesses de seus membros se
mostram antagônicos, opostos à realização do bem comum e à neutralização do Estado.

Encarregado de promover a reestruturação das nações em crise, os Estados, por


intermédio do Poder Executivo e de seus governantes, passam a intervir diretamente no
domínio econômico. Orientados pelo interesse geral, deixa de subsistir a errônea
concepção de que Estado e sociedade existam separadamente, conforme aponta Eros
Roberto Grau:
Ao Estado, até o momento neoconcorrencial ou intervencionista –
qualquer que seja o vocábulo ou expressão que se adote para designar a mudança
de regime que marca, no sistema capitalista, a passagem do século XIX para o
século XX – estava atribuída, fundamentalmente, a função de produção do
direito e segurança. Para referir, em largos traços, o regime anterior, poderíamos
afirmar, singelamente, que não se admitia a interferência do Estado na “ordem
natural” da economia, ainda que lhe incumbisse a defesa da propriedade. Essa
concepção porta em si a pressuposição de que ambos, Estado e sociedade,
existissem separadamente um do outro, o que não é correto.

Por conta de se sobrecarregar com diversas atribuições, o Estado torna-se


incapaz de desempenhar seu papel na vida econômica e social, e se vê em uma
preocupante crise. Para reagir, o estado busca meios de diminuir suas estruturas de
intervenção e passa novamente para a iniciativa privada grande parte da execução de
diversas atividades, e a partir disso o estado passa a ceder espaço para o Estado –
Regulador.

É nesse contexto que surgem as agências reguladoras. Neste novo cenário, em que
predomina a atividade reguladora. O Estado brasileiro busca inspiração no modelo norte-americano
e vem, paralelamente ao processo de desestatização, criando, por meio de lei, autarquias especiais
incumbidas da função de disciplinar, normativamente, quer a atividade econômica propriamente dita,
em setores estratégicos definidos pela Constituição e pela Lei, quer o serviço público, quando
prestado em regime de concessão, permissão ou autorização.

A instituição das agências reguladoras no ordenamento jurídico brasileiro teve por


premissa a criação de uma entidade jurídica técnica, especializada em determinado setor e
independente de poderes políticos, caracterizada pelo vínculo existente com os Ministérios
supervisores, integrantes da Administração Pública, que gozem de uma elevada autonomia e
poderes específicos.

Assim, será feito um estudo acerca da evolução do papel intervencionista do Estado,


enfatizando as peculiaridades do Estado brasileiro. Faremos algumas considerações sobre o Estado
regulador, bem como uma análise do processo de reforma administrativa que culminou com a
criação das agências reguladoras.
1.1.ABORDAGEM HISTÓRICA

Durante a Idade Moderna, nos tempos do Absolutismo, não eram reconhecidas as


funções sociais do Estado. A sociedade moderna era dividida em classe dominante e classe
trabalhadora, estruturada em uma ordem hierárquica que implicava na desigualdade entre os
indivíduos, condicionada a uma diferenciação pelo nascimento.

O Estado Absolutista defendia a concentração do poder em uma pessoa, geralmente um


Monarca, que exercia esse poder de maneira exclusiva e independente. O Soberano estava acima
dos outros órgãos, quando existiam, ou concentrava todo o poder em si mesmo. Sua vontade era a
lei, a que obedeciam todos os cidadãos. Ele também não podia ser submetido aos tribunais, pois os
seus atos estavam acima de qualquer ordenamento jurídico.

A doutrina Mercantilista era a orientadora do Estado Absoluto, e se caracterizava por ser


um conjunto de práticas econômicas desenvolvidas pelos Estados, entre elas a acumulação de
metais preciosos, como ouro e prata, a alta cobrança de impostos, conjuntamente com o avanço das
exportações e a restrição das importações, para obtenção de uma balança comercial favorável [1].

A partir dessa orientação, o Estado passou a ter um papel intervencionista na economia,


implantando políticas econômicas protecionistas, com o objetivo de favorecer as atividades internas
em face da concorrência estrangeira, contribuindo também para a criação dos monopólios estatais.

Essa situação despertou nos homens a insatisfação com as políticas adotadas pelos
Estados e os incentivou a lutarem pelos seus direitos contra a intervenção do Estado na vida dos
particulares em favor da economia nacional.

Despontaram como defensores da liberdade econômica e contra os ideais mercantilistas


François Quesnay, Adam Smith, David Ricardo, entre outros. Buscavam liberdade para que os
indivíduos pudessem agir sem a interferência do Estado. Surge como expressão dos liberalistas a
máxima laissez-faire, laissez passer (deixem fazer, deixem passar), mostrando que o mercado deve
funcionar sem interferência[2].

No ano de 1776 é publicado o livro A Riqueza das Nações, de Adam Smith, que traz uma
investigação sobre a natureza e a causa das riquezas das nações, além de analisar
as sociedades comerciais e os problemas na repartição do trabalho, na distribuição de renda e no
acúmulo de capital[3]. Defendia Smith que o Estado só deveria atuar na economia quando a iniciativa
privada não tivesse interesse em desenvolver a atividade, ou quando fosse impossível a prestação
do serviço em regime concorrencial, sendo inevitável o monopólio estatal [4].

Neste mesmo ano acontece a Revolução Americana contra a política mercantilista da


Inglaterra, que buscava acumular cada vez mais riquezas através da exploração das colônias, pela
aplicação de medidas protecionistas. A Revolução acaba culminando na Declaração de
Independência assinada em 4 de Julho.

O crescimento da atividade comercial, a expansão do capitalismo e da economia e a


exploração de metais preciosos pelo mercantilismo proporcionaram um ambiente favorável para
eclosão da revolução liberal, onde a burguesia, uma nova classe social, ganhava mais força e fazia
frente à nobreza, que estava desprestigiada e descapitalizada.

Com as mudanças políticas e sociais que se processavam, a burguesia, em um momento


ascendente, passa a ser uma classe dominante, e os seus reclamos por igualdade servem de base
para o nascimento da ideologia liberal, criada pelo Iluminismo.
A Revolução Francesa de 1789, apontada como a maior conquista do liberalismo, traduziu
a vitória da burguesia sobre a nobreza, e proporcionou a criação da Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão, e veio a figurar como a base da renovação estatal, propondo mudanças
econômicas, políticas, sociais e filosóficas[5].

Consolidaram-se as idéias de que todos deveriam subordinar-se à lei, pois todos são
iguais perante ela, e que o Estado deveria ficar de fora da iniciativa privada, sem interferir na
economia, e incentivar a livre concorrência. Todos estes fatores contribuíram para o fortalecimento
da burguesia, grande beneficiada com o novo modelo estatal.

Os ideais liberais serviram, portanto, para rejeitar os preceitos que conduziam os sistemas
de governo da época, como o corporativismo, o feudalismo, o poder divino dos reis e o absolutismo,
e incluíram o reconhecimento dos direitos individuais civis, a exemplo do direito à vida, à liberdade,
à propriedade. Além disso, o liberalismo foi a primeira ideologia a reconhecer a economia como
ciência, defendendo a livre concorrência, a lei da oferta e da procura, a economia de mercado e o
trabalho.

O fim do Estado Absolutista é a primeira grande conquista do Liberalismo para o Direito,


pois as idéias liberais serão, posteriormente, incorporadas nas constituições dos séculos XVIII e
XIX, consagrando a defesa dos direitos à liberdade e à cidadania, e a atuação do Estado na
limitação do poder econômico, para defesa da economia de mercado.

Como característica do Estado Liberal podemos notar que o mesmo era mínimo, não
intervinha na economia, para confirmar a liberdade do mercado, estimulando o funcionamento livre
da economia, sem a interferência estatal. O Estado era responsável por desenvolver atividades
referentes à segurança, justiça e a prestação de serviços ditos essenciais. No dizer de Maria
D’Assunção Menezello[6]:

No século XIX acreditava-se que o Estado deveria abster-se de intervir no mercado, cuidando
apenas dos direitos consagrados à pessoa humana distribuindo a justiça, preservando
a propriedade e a ordem pública. Não havia, àquele tempo, a interferência direta do Estado na
economia – ou no direito -, porque ambos seguiam diferentes caminhos, certos de que o Estado
Liberal deveria afastar-se de qualquer intervencionismo.

No entanto, observamos que o mercado era controlado pelos detentores de capital, os


burgueses, controladores do poder, que, na luta pela liberdade, impunham à classe trabalhadora
novas desigualdades sociais. Apesar da criação de institutos jurídicos, como o princípio da
legalidade, propriedade privada, liberdade contratual, separação de poderes, voto censitário, todos
com o objetivo de assegurar a liberdade dos indivíduos contra as práticas abusivas do Estado, o
modelo liberal passa a não ter capacidade de responder aos apelos sociais.

O Capitalismo, sistema econômico no qual os proprietários dos meios de produção


permitem que os seus produtos sejam comercializados em mercado, geralmente de natureza
monetária, veio a se estabelecer como sistema predominante no desenvolvimento dos Estados
Liberais e ocasionou a Revolução Industrial, causando um impacto no processo produtivo através
das mudanças tecnológicas.

A agricultura foi superada, o trabalho humano substituído pelas máquinas, que


intensificaram o processo de produção e fizeram surgir o fenômeno da produção em massa,
mudando a relação entre o capital e o trabalho. Essas alterações acabaram tornando os conflitos
sociais inevitáveis, pois os detentores de capital impunham aos trabalhadores a miséria, com
péssimas condições de trabalho e baixas remunerações, já que a oferta de mão-de-obra era maior
que a necessária para a produção industrial.

O Estado não tinha como proteger a classe trabalhadora das novas desigualdades sociais
criadas pelo rápido crescimento econômico. Verificou-se, então, o aumento da injustiça social.
Indignados com esta situação, os trabalhadores começaram a se associar para exigir melhores
condições de trabalho.

Em face disto, surgiram os movimentos socialistas, que propunham a apropriação dos


meios de produção pela coletividade e a abolição da propriedade privada, como forma de reduzir as
desigualdades sociais e ter uma distribuição de renda eqüitativa. Neste sentido, preleciona
D’Assunção Menezello[7]:

em decorrência dos movimentos sociais resultantes do desenvolvimento industrial, começa a


ser incorporada ao Estado outra tarefa: zelar pelas relações contratuais, para que fossem
minimizadas as desigualdades entre as partes contratantes. Assim, torna-se visível a intervenção do
Estado, resultando na ação política de tentar equilibrar as forças sociais.

Não mais era exigido que o Estado se abstivesse em atuar na economia, agora a sua
intervenção se tornava necessária, em face da crise social que ocorria, para que fosse garantido um
mínimo de direitos aos trabalhadores. Nos ensinos de Paulo Motta [8],

Da simbiose da Revolução Industrial com a Revolução Francesa surgiria o mais extraordinário


período de desenvolvimento da espécie humana, o que somente seria possível com a eliminação,
nunca total, das diferenças entre os seres humanos, agora não mais escravos, vassalos, proletários,
mas sim Cidadãos, ou seja, Titulares de direitos subjetivos.

Assim, o modelo de mercado e Estado Liberal entra em crise e passa a dar lugar ao
Estado Social, ou do Bem-Estar Social, ou Welfare-State, ou ainda Intervencionista, um tipo de
Estado que promove a proteção social e organiza a economia. Este atua como um agente
regulamentador de toda a atividade social, política e econômica de um país, garantindo a prestação
de serviços públicos e a proteção de sua população.

Este novo modelo de Estado surgiu no final do século XIX na Europa, mas desenvolveu-
se após a crise de 1929, que gerou uma Grande Depressão econômica, finda somente após a
Segunda Guerra Mundial, com o fim dos governos totalitários da Europa Ocidental.

O Estado Social passa a adotar medidas e práticas intervencionistas necessárias para o


desenvolvimento econômico e social, atendendo ao pedido assistencial da população, que esperava
por uma intervenção estatal que lhes garantisse condições mínimas de sustentabilidade. Desta
forma, o Estado busca maneiras de balancear as desigualdades, tentando colocar os cidadãos que
se encontravam em miséria em uma situação onde possam ter o mínimo para sobreviver. Esta é a
sua principal diferença em relação ao Estado Mercantilista, pois a interferência deste último tinha
fins unicamente econômicos.

Apesar do avanço legal trazido por leis, como a Constituição Alemã de 1919, que
consagrava direitos sociais relativos ao trabalho, à cultura, à educação e reorganizava o Estado em
função da sociedade, para todos os cidadãos, o Estado continua a praticar o deixem fazer, deixem
passar, ideal inserido nas relações econômicas pelos Liberais.

O Estado se torna empresário e investe na criação de várias empresas públicas [9]. Assim,
temos a origem das indústrias, empresas públicas e sociedades de economia mista, estas formadas
com a junção do capital público e privado. O Estado também passa a investir grandes quantias para
o desenvolvimento e modernização nos diversos setores que atua. Desta forma, além de cuidar da
ordem social, que exige a aplicação de recursos, o Estado tem que desembolsar mais ainda para
concretizar a sua atuação empresária, como nos ensina Menezello [10],

verifica-se que começaram a surgir também movimentos nacionalistas que desembocaram na


criação de várias empresas estatais monopolistas voltadas para a prestação de serviços públicos
considerados essenciais para a coletividade. Com isso, intensificou-se o intervencionismo do Estado
na economia, que permaneceu atuante até a década de 90.

As medidas adotadas pelo Estado do Bem-Estar Social na ordem socioeconômica


provocaram melhorias na condição de vida da população, o aumento da expectativa média de vida,
e concessões de benefícios, tais como previdência, direitos trabalhistas, assistência social,
educação, saneamento, oferecidos a todos indistintamente. Assim, o novo modelo estatal implicou
numa imensa transformação estrutural, buscando-se alcançar os ideais de justiça, igualdade e
liberdade, objetivo este não atingido com o modelo Liberal[11].

O Estado Intervencionista teve que desembolsar ainda mais dinheiro para executar
diretamente as atividades sociais e econômicas que se propôs. Com o decorrer do tempo, o
desempenho dessas atividades se tornou inviável, pois o Estado não tinha mais recursos para
manter os projetos de satisfação da coletividade e estava sobrecarregado de responsabilidades [12].

O modelo de atuação estatal não conseguiu acompanhar as evoluções sociais por


diversos fatores, entre eles: a multiplicação da população; a falta de manutenção do padrão de
eficiência dos serviços prestados diretamente, sem o recebimento da devida contrapartida; o
crescimento desmedido do aparelho estatal, através da criação das empresas, esgotando a
capacidade de investimento, e ocasionando a deterioração do serviço público; e, por fim, o
crescimento das dívidas externas e internas[13].

Todas as estruturas deste modelo estatal mostraram-se inúteis, o que acarreta o seu
esgotamento. Associadas a isto, observamos também o crescimento da corrupção e a má gestão da
coisa pública, facilitadas pela burocratização e pelo crescimento da máquina estatal. Além dos
excessivos gastos com o exercício direto das atividades, o Estado ainda arcava com o escoamento
do dinheiro público, de forma criminosa, para as contas dos agentes públicos [14]. Desta forma,
podemos verificar o surgimento de uma nova modalidade de atuação estatal na economia, o
Neoliberalismo, que implicou no nascimento do Estado Regulador.

O crescimento das atribuições estatais, entre outros fatores, levou ao esgotamento da


capacidade estatal de investir no setor público, gerando um fenômeno denominado pela doutrina de
“crise fiscal”.  Assim, constatou-se o aumento das despesas públicas e o acúmulo de dívidas, que
deixaram o Estado incapaz de custear as despesas essenciais, tornando-o insolvente.

A “crise fiscal” do Estado Social representou a deterioração dos serviços públicos e de sua
estrutura, já que o Estado não conseguia investir ou mantê-la [15]. Assim, o pensamento liberal voltou
a ser discutido e tido como o fundamento capaz de alterar este paradigma estatal.

Esse cenário mostrou-se ideal para a disseminação dos ideais neoliberais. O Estado
deveria reduzir a sua atuação direta no campo econômico, diminuir suas obrigações, e permitir que
o setor privado participasse da economia, e por reflexo, investir na revitalização de diversos setores.
Para isto, o novo modelo de atuação estatal usaria da competência normativa que lhe é inerente
para disciplinar o modo de agir dos particulares.

A doutrina econômica do Neoliberalismo passou a ser seguida a partir de 1980, com o


ideal de defender a liberdade absoluta nas relações de mercado e a restrição da intervenção estatal
na economia, que só deveria ocorrer em alguns setores de maneira diminuta.

O Neoliberalismo proporcionou ao Estado a diminuição da sua atuação direta e


concretizou a globalização da economia. Podemos observar a integração econômica, social e
cultural dos países com a unificação dos mercados, e o encurtamento das distâncias, através do
desenvolvimento dos meios de transporte e de comunicação, ou seja, o mercado econômico se
internacionalizou e proporcionou maior agilidade nas relações econômicas, proporcionando
estabilidade monetária, contenção de orçamento e concessões[16].

No entanto, assim como no século XIX, o afastamento do Estado abriu margem para
novos problemas econômicos e sociais. A desigualdade social aumenta cada vez mais, assim como
a desigualdade econômica entre os países ricos e os ditos “emergentes”. O capital, mais uma vez, é
detido na mão de poucos, em detrimento da maioria.

Nos últimos meses vem sendo noticiada no mundo inteiro uma nova crise econômica
mundial. O Estado neoliberal, com seu modelo de livre mercado, também vem demonstrando que
não é o modelo econômico a ser seguido definitivamente, e apresenta atualmente sintomas de
colapso. A não intervenção do Estado na economia tornou-a vulnerável, como também às relações
entre particulares, o que acarretou uma crise de confiança no mercado mundial.

Surge, novamente, a necessidade de intervenção estatal no setor econômico, e decisões


estão sendo adotadas nesse sentido pelos chefes de governo de muitos países. Na Europa, bancos
estão sendo nacionalizados, nos Estados Unidos, empréstimos são concedidos pelo Estado aos
particulares, no Brasil o governo injeta dinheiro no mercado e isenta o Imposto sobre Operações
Financeiras nas relações com os estrangeiros, para facilitar a compra de moedas, e o mundo
percebe que o Estado não pode deixar a economia a mercê do setor privado. Agora não basta
apenas a sua intervenção indireta, este tem a responsabilidade e o dever de balizar as relações
econômicas, protegendo-as de crises como a ocorrida na atualidade.

Já no século XIX, por volta do ano de 1860, nascia a Segunda Revolução Industrial,
impulsionada por inovações como: a transformação do ferro em aço, descoberta da
eletricidade, avanços nos meios de transporte (impulsionados pelo aço), meios de
comunicação e desenvolvimento da indústria química entre outros setores.
A busca por maiores lucros levou ao extremo a especialização do trabalho, passou-se a
produzir artigos em série o que reduzia os custos por unidade, fazendo assim surgirem
às linhas de produção. Taylor e Ford foram grandes nomes da época, nesse formato de
produção, desenvolvendo cada um diferentes teorias sobre o trabalho.
Após o término da II Guerra Mundial em 1945, dá-se início a Terceira Revolução
Industrial, liderada pelos Estados Unidos da América, que se tornou uma grande
potência mundial no século, a terceira revolução é marcada pelo o avanço das
tecnologias e pelo desenvolvimento da informática.
Durante as décadas de 60, 70,80 e 90 grandes foram ás tentativas de profetizar o que
aconteceria na humanidade com os avanços da tecnologia. De fato, houveram diversas
transformações, como: robôs industriais, satélites de telecomunicações, computadores,
celulares, foguetes e isso só na década de 50. Nas décadas seguintes as inovações não
pararam, a internet surgiu no fim da década de 60, desenvolvida pela Arpanet, o
computador pessoal que surgiu no início da década de 90, e algumas tecnologias
continuam sendo aperfeiçoadas até os dias de hoje.
Atualmente a quarta revolução industrial já é uma realidade, a Indústria 4.0, que teve
seu início em 2011, chegou para promover a convergência das tecnologias: digitais,
físicas e Biológicas. Segundo Klaus Schwab (2016, p. 1) “estamos no início de uma
revolução que está mudando fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e
nos relacionamos um com o outro”. As transformações associadas ao conceito da
Indústria 4.0 apresentam potencial para aumentar a flexibilidade, a velocidade, a
produtividade e a qualidade dos processos de produção (BCG, 2015a). Porém seus
impactos irão muito além: afetarão a economia, as empresas, os governos, as pessoas e
o trabalho. Assim, não é por acaso que o conjunto dessas transformações venha sendo
retratado como uma quarta revolução industrial (SCHWAB, 2016).
“De acordo com o estudo ‘‘A Revolução das Competências” do Manpowergourp,
apresentado no Fórum Econômico de Davos, no início de 2017, há uma estimativa de
que a tecnologia vai alterar a dinâmica do ambiente de trabalho, fazendo com que em
torno de 45% das atividades feitas por humanos sejam automatizadas daqui a dois ou
três anos.
Segundo Klaus Schwab (2016, p.32) Diferentes categorias de trabalho, particularmente
aquelas que envolvem o trabalho repetitivo e o trabalho manual de precisão, já estão
sendo automatizadas. Outras categorias seguirão o mesmo caminho, enquanto a
capacidades de processamento continuar exponencial.
Portanto, espera-se que os trabalhadores aprimorem as suas características humanas, que
são essenciais no ambiente de trabalho, como a inteligência emocional e a criatividade,
que facilitam as relações entre as pessoas, e a flexibilidade cognitiva, que é a habilidade
de encontrar e identificar as condições de ligações e negociações.
Tendo como cenário a Indústria 4.0 e seus impactos no mundo, o presente artigo visa
identificar as mudanças que a quarta revolução industrial trará no ponto de vista
econômico global e como isso afetará as relações de trabalho conhecidas.

Indústria 4.0

A quarta revolução industrial já é uma realidade e muito diferente de tudo que a


humanidade já experimentou até os dias atuais. É a era da convergência, onde a
tecnologia está fundindo o digital, físico e o biológico á uma velocidade exponencial e
acabam por criar diversas promessas e ao mesmo tempo perigos.
De acordo com Klaus Schwab, fundador e presidente executivo do Fórum econômico
mundial, a Indústria 4.0 chega trazendo recursos que poderão ser usados sem
precedentes, oriundos de tecnologias que são e serão refletidas em novos modelos de
produção, consumo, transporte, negócios e atingirão todas as camadas da sociedade.
Cada revolução industrial foi marcada pela inovação e tecnologia empregada: a primeira
caracteriza-se pela mecanização de processos por meio de energia hidráulica e do vapor;
a segunda pelo início da produção em massa proporcionada pela energia elétrica e
impulsionada por Taylor e Ford; a terceira pela automação dos processos e introdução
de robôs (computadores, internet); e a última, nos dias atuais, é fortemente marcada por
processos autônomos, proporcionadas por tecnologias que se convergem e interagem
entre si.
A dimensão do trabalho mudou com a evolução dos sistemas de produção. A cada
revolução industrial o perfil exigido dos trabalhadores foi se alterando, passando dos
trabalhos manuais para o intelectual (AIRES; FREIRE; SOUZA, 2016), o que fez com
que empresas e trabalhadores passassem a se preocupar mais com a formação
intelectual.
No decorrer de todas as revoluções industriais, a questão do emprego dos seres humanos
sempre foi uma preocupação, a diferença agora é que a velocidade em que está
ocorrendo a atual é muito maior do que as anteriores.
Na revolução industrial, existem diversos pilares, os principais são:

De acordo com (Schwab, 2016), a quarta revolução industrial terá um impacto


monumental na economia global; será tão vasto e multifacetado que ficará difícil a
separação de determinado efeito de outro. Diversos economistas se dividem sobre os
impactos que o crescimento industrial terá no futuro, pois eles podem ou não acontecer.
Segundo (Schwab, 2016), os centros educacionais ainda estão formando jovens para
modelos de trabalho do passado e isso não condiz com o modelo atual. De acordo com
pesquisas citadas no livro de Schwab, 50 % dos empregos dos Estados Unidos estão
fortemente ameaçados. Já se sabe que diversos empregos deixarão de existir, mas em
contrapartida diversos outros serão criados, principalmente atividades que envolvam
criatividade humana e habilidades que as máquinas não conseguem superar o homem.
As profissões que envolvem principalmente o trabalho mecânico e repetitivo já estão
sendo automatizados em diversos setores da indústria, e outras categorias irão pelo
mesmo caminho, enquanto a capacidade de processamento continuar a crescer
exponencialmente.

MÉTODO:
A metodologia de pesquisa utilizada será quantitativa teórica, pois se embasará em
dados estatísticos coletados á partir de artigos, e revisões de literatura para concluir seus
resultados.
Por meio de pesquisas em artigos que abordam os impactos da Indústria 4.0 na
economia global, assim como em livros que abordam o tema de forma mais abrangente,
no contexto político e social, espera- se conseguir entender melhor os impactos que os
avanços tecnológicos terão nas relações do trabalho e na economia mundial.
Tendo em vista a importância do assunto, o pequeno número de estudos sobre o
assunto, foram incorporados ao presente artigo dados de duas instituições renomadas
quando se trata de pesquisas sobre o tema, entre elas se destacam o World Economic
Forum (Fórum econômico mundial) e o Boston Consulting Group. Além de análises
feitas a partir do Livro a Quarta revolução industrial de Klaus Schwab, presidente do
WEF/FEM.

RESULTADO

As incertezas que cercam os impactos da tecnologia nas relações de trabalho são


diversos e o mais polêmico quando o assunto é indústria 4.0, diversas previsões
apontam que diversas profissões estão propensas a desaparecer, outras menos propensas
e outras deverão surgir.
Esses debates vêm sendo polarizados pelos que creem que as oportunidades de emprego
serão limitadas e outros que preveem maciça substituição de mão de obra e o
desaparecimento de profissões (WEF,2016).
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Boston Consulting Group (2015), existem
duas variáveis quando o assunto é emprego: o crescimento da receita pela adoção de
novas tecnologias e o percentual de adoção das mesmas pelas empresas. Após a análise
de vários possíveis cenários, a pesquisa conclui que o mais possível é que a Indústria
4.0 leve a um aumento de 350 mil empregos na Alemanha.
Em 2015, o World Economic Forum realizou a maior pesquisa global sobre o assunto, e
tinha como objetivo compreender como as mudanças tecnológicas afetariam os
empregos até o ano de 2020.
Foram entrevistados CEO’s (Chief executive officer),CHRH’s ( Chief Human resources
Officer) e diversos outros executivos do alto escalão de 371 empresas, de 9 setores
industrias diferentes e em 15 países ( inclusive Brasil).
Os resultados dessa pesquisa foram divulgados em 2016 no report “The Future os
Jobs:Employment, Skills and Workforce Strategy for the Fourth Industrial
Revolution”, e concluiu que os avanços tecnológicos da quarta revolução industrial
provocará a perda de 7,1 milhões de postos de trabalho, em contrapartida 2 milhões
serão criados, o que resultará em um impacto negativo de 5,1 milhões de empregos até
2020, dos quais apenas no setor da indústria e manufatura, 1,6 milhões serão
substituídos por robôs ou alguma outra tecnologia avançada.
Portanto é visível que Indústria 4.0 causará impactos significativos nos empregos e será
a maior responsável pelo desemprego tecnológico, que é o provocado pela substituição
de mão de obra humana por máquinas e inteligências artificiais.
De acordo com Schwab (2016), no quadro abaixo é possível verificar quais são as
profissões que serão mais ou menos impactadas futuramente:

As projeções para os próximos anos é que os investimentos em tecnologias que


impulsionem as produções e facilitem a vida dos seres humanos sejam gigantescos,
como mostram os quadros abaixo em relação á Inteligência Artificial e Nanotecnologia:
O principal ponto da discussão, então, passa a ser como desenvolver competências de
forma a promover o potencial humano nas organizações e atingir aos anseios desta
quarta revolução. Duas principais estratégias emergem como urgentes: a primeira,
relacionada à aprendizagem e à inovação no ambiente de trabalho; e a segunda, uma
necessidade de reformulação nos sistemas educacionais, unificando os interesses
públicos, privados e científicos.

DISCUSSAO
O relatório do Fórum Econômico Mundial (FME/WEF) de 2016 alertou que a
automação poderá acabar com cerca de seis milhões de empregos até 2020 em todo o
mundo. Os trabalhadores do Brasil, China, e Índia serão os mais afetados. No Brasil,
50% dos postos de trabalho poderão ser automatizados, o que significa que cerca de 54
milhões entre as 107 milhões de vagas deixariam de existir.
Levando em consideração que estamos na era da conectividade, uma vez que a 4°
revolução industrial pressupõe que as pessoas estarão mais conectadas entre si e com as
máquinas, pois os avanços e inovações estão acontecendo diariamente a uma velocidade
exponencial, sabe-se que diversos setores de trabalho já estão sendo modificados. O
emprego crescerá em relação á ocupações e cargos criativos e cognitivos de altos
salários e em relação às ocupações manuais de baixos salários; mas irá diminuir
consideravelmente em relação aos trabalhos repetitivos e rotineiros (SCHWAB, 2016).
É visível que ainda é necessário mais pesquisas e aprofundamentos sobre o assunto e
sobre os impactos não só no quesito empregabilidade, como no âmbito social, a
condução de pesquisas, por meio de entrevistas com gestores brasileiros, visando a
identificar se estes possuem visões semelhantes ou distintas àquelas apresentadas neste;
artigo, a necessidade da realização de pesquisas onde os impactos no trabalho seja
contrapostos a outros impactos, como políticos e sócio-econômicos, de forma a obter
um debate mais rico e amplo sobre a temática.

REFERÊNCIAS

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