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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS


DEPARTAMENTO DE DIREITO

DISCIPLINA DE TEORIA DO DIREITO II


PROFESSOR FRANCISCO QUINTANILHA VÉRAS NETO

QUESTIONÁRIO 1

NOME COMPLETO (Nº DE MATRÍCULA)

1. Disserte sobre a origem do neoliberalismo com os Colóquios Walter Lippmann e a


Conferência de Mont Pelérin, conforme apresentado por Andrade (2019).
2. Disserte sobre as teses de Milton Friedman, Friedrich Hayek e Robert Nozick em sua
obra Anarquia, Estado e Utopia, conforme articulado por Andrade (2019).
3. Qual o papel da guerra-fria na constituição do Welfare State, e quais são as
características do Estado de Bem-Estar Social que são combatidas pelas estratégias
neoliberais?
Com dito anteriormente, segundo a Professor Juliana Bezerra, o Estado de Bem-estar
Social foi implementado pelo mundo por causa da crise do Liberalismo, modelo que
pregava a liberdade mercado em relação ao Estado. Portanto, foi uma solução à crise
do início do século XX, da qual a Primeira Guerra Mundial e a Crise de 1929 foram um
sintoma. Contudo, estas políticas públicas foram também uma resposta aos
movimentos trabalhistas e ao socialismo soviético, o qual rivalizou com o modelo
Capitalista durante a Guerra Fria. Afinal, era preciso demonstrar qual dos modelos
proporcionava melhor qualidade de vida aos seus cidadãos.
Ou seja, o Estado de Bem-estar Social ou Welfare State idealiza uma gestão estatal baseada
nos princípios do pensamento de Keynes, onde se propagava a intervenção do Estado
diretamente na economia, a ponto de regular a dinâmica do movimento econômico, tais
como a geração de emprego, as movimentações de mercado, no que compreende a
demanda de bem e serviços, entre outros pontos. Esse estágio da política mundial
configurou-se em proposta de assistencialismo com comum acordo com as propostas de
crescimento econômico, sob mediação estatal. Já no que compreende o Estado Neoliberal,
leva-se em consideração um retorno ao pensamento liberal, porém com suas variações,
essas mais voltadas a questão econômica e de mercado. Nessa perspectiva, entende-se que
o neoliberalismo veio como estratégia de contraposição as ideias keynesianas, difundidas

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pelo Estado de Bem-estar Social (Welfare State), além de ser contrário a regulação estatal.
Apoia-se o livre comércio, ver a concorrência como fator essencial para movimentação das
relações de mercado, e dá força ao setor privado, além de retirar-se da responsabilidade
quanto as questões sociais (Almeida, 2021).

4. Quais são as medidas centrais desencadeada pelo neoliberalismo no plano econômico, e


que podem comprometer o bem estar social e a própria democracia e efetivação de
direitos fundamentais, em vários contextos societais?
Segundo Marinho e colaboradores, a questão da liberdade tem peso de primeiro
valor: nota-se que a essência doutrinal do Estado liberal se encontra nos
fundamentos da ordem do direito natural, para a qual o Estado germina de um
contrato social instituído entre homens igualmente livres, com o único intento da
autopreservação e da garantia de seus direitos naturais. O liberalismo econômico
abanca-se sobre esse embasamento, ou seja, uma vez que a importância individual
se encaixar com o interesse geral, deve-se, na prática, deixar completa a liberdade de
ação aos interesses privados. O neoliberalismo se assemelha ao liberalismo na
questão de blindar o mercado e defender que o estado não seja o único mantenedor
de folhas salariais. Também se posiciona contra as regulamentações e é a favor do
livre mercado e luta contra a influência dos sindicatos dentro do Estado. O
neoliberalismo por mais que tenha uma base parecida com a do liberalismo,
influencia uma economia de forma diferente, apoiando a grande aplicação de novas
tecnologias e principalmente a abertura de mercado.
De acordo com Bresser-Pereira (2020), a crise do capitalismo neoliberal não tem apenas
uma dimensão econômica, mas também política e ideológica. O que está em jogo não é
apenas a democracia. Por isso, é um equívoco falar em morte da democracia. O que está em
jogo é muito mais. É o crescimento próximo de zero da renda por habitante, a estagnação
dos baixos salários desde os anos 1980, o retorno da instabilidade econômica superada na
era dourada do capitalismo, o contínuo aumento da desigualdade econômica que ocorre
desde então, o aumento do poder de monopólio das grandes empresas por meio de fusões e
aquisições e a falta de demanda que estimule as empresas a investir. O que está em jogo é o
domínio de uma coalizão financeiro-rentista e tecnoburocrática estreita que substituiu a
ampla coalizão fordista. É as pessoas que se viram presas a uma roda viva, a uma competição

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de todos contra todos e que as torna profundamente inseguras. É esse mundo implacável de
ganhadores e perdedores, no qual os perdedores não são apenas os pobres, mas também a
baixa classe média de trabalhadores brancos, que, angustiados e inconformados, culpam a
imigração por seus males e recorreram ao populismo para fazer frente ao problema e que
não compreendem que os partidos e os populistas de direita atacam seu emprego e seus
salários diretos e indiretos tão agressivamente quanto o faz o liberalismo econômico em
crise. É esse individualismo sem limites em que se transformou o liberalismo político desde
que ele deixou de ser moderado tanto pelo socialismo popular quanto pelo republicanismo.
O que está em jogo é tudo isso somado.
Este mesmo autor segue dizendo que n esse quadro dominado pelo individualismo, pela
riqueza de poucos e pela pobreza de muitos, as sociedades ricas tornaram-se heterogêneas,
as identidades ganharam relevância, e o nacionalismo étnico voltou a assombrar e pôr em
risco a tolerância e a democracia. E mostrou ainda mais claramente um fato econômico e
outro político. Nenhuma sociedade pode ser sadia se for excessivamente desigual, se nela
não houver um razoável grau de compromisso de um número importante de cidadãos com a
solidariedade e o interesse público, e se não houver uma dialética viva entre valores sociais e
republicanos e o interesse próprio. No quadro de um liberalismo individualista, os valores
morais e os princípios de convivência social perderam relevância, os cidadãos, os servidores
públicos e os políticos passaram a ser vistos como indivíduos que se preocupam apenas com
seus próprios interesses, e a possibilidade da existência de cidadãos e de políticos solidários
e republicanos foi excluída. Eles, porém, existem e, no quadro da competição capitalista,
sabem que é necessário defender os mais fracos, aqueles que não têm condições de
competir. Eles existem e são essenciais para a construção de uma boa sociedade. Uma
sociedade moderna, que não logra enfrentar o problema da desigualdade, nem conta com
cidadãos e políticos republicanos, caminha para a barbárie.
Já Abreu (2017) menciona que ao analisar a conjuntura brasileira, pode-se identificar
a inserção acentuada do neoliberalismo através do esfacelamento dos direitos
sociais, norteado pelos grandes conglomerados financeiros que emanam dos países
capitalistas centrais. Inferindo que o Brasil é um elo intermediário do
desenvolvimento capitalista latino-americano, se fez fundante que este abrisse seu
território para o capital privado internacional. Porém, ao dar espaço a essas camadas
dominantes, estas se colocam numa constante situação de insatisfação em que o
Estado mesmo manobrado por seus trâmites não consegue sucumbir as suas
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necessidades vorazes. Nesta perspectiva, o neoliberalismo inicia sua consolidação


por meio de discursos que definem o Estado como ineficaz, corruptível, propulsor de
crises, dispendioso e traz como resposta um projeto messiânico pautado em
reformas a níveis jurídicos, econômicos e sociais, em um sentido que permite maior
flexibilidade nas relações entre as classes.
E ainda cita que ao pensar acerca do ideário neoliberal, percebe-se uma forte propagação
das perspectivas de igualdade e liberdade, que traz a concepção de oportunidades, por um
viés homogeneizador. Todavia, citando Mises (2009, p. 21), enfatiza que “o liberalismo
sempre se voltou para o bem do todo, e nunca para o bem de quaisquer grupos especiais”,
tal entendimento nega a perspectiva de classes sociais. Refletindo a inércia, conformidade,
naturalização de uma realidade posta, inviabilizando o questionar-se sobre novas
possibilidades de resistência numa sociedade capitalista.
Professor Eduardo Getão, citando Sella (2002, p.66), enfatiza que há várias causas que
provocam o fenômeno da exclusão social. O primeiro, o trabalho precário no aspecto formal
que provoca a perda dos direitos trabalhistas. Trabalhadores sem carteira profissional com
trabalho sem vínculo empregatício com a ausência dos direitos e privilégios do empregado.
Em segundo, o desemprego crescente, que é estrutural, oriundo do sistema capitalista
neoliberal, porque exclui do mercado formal através da automação, descartando a mão-de-
obra e desempregando mais trabalhadores. O trabalho informal é outro aspecto da exclusão,
o qual é uma economia de sobrevivência gerada pelo desemprego. É o emprego sem
registro, sem pagamento de impostos e sem garantias. Em quarto, a miséria moderna que é
consequência do processo moderno da produção de riqueza. Para o autor, o capitalismo
neoliberal gera os mais pobres do s pobres, os miseráveis, os excluídos absolutos, os sem
nada, os descartáveis. Em quinto, a eliminação física dos excluídos, que acontece através da
morte “matada ou morrida”. A morte “matada” é quando o pobre acaba sendo massacrado
pela violência dos ricos poderosos, são eliminados. A morte “morrida” acontece porque o
excluído não tendo condições de viver, entra em deteriorização física através da fome e
doença gerando finalmente a morte. Em último, apartação social para os pobres que não
podem ser eliminados. São aqueles colocados fora do lugar social dos ricos, segregados em
lugares afastados, onde não podem ser vistos e nem interagidos.
Este mesmo autor ainda cita que o sistema neoliberal é um dos responsáveis da exclusão
social. Ele é um sistema econômico imposto à humanidade através de sua política e de seu

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horizonte cultural religioso. É uma ideologia fundamentada na estruturação de uma


economia voltada exclusivamente à vantagem individual ao lucro, colocando tudo num
aspecto instrumental e transformado qualquer ser vivo em simplesmente em mercadoria. O
objetivo do lucro legitima a possibilidade de explorar, violentar e destruir a humanidade,
bem como o meio ambiente. No sistema neoliberal o bem real é individual. Não existe o bem
comum na forma comunitária. Ele acontece através do bem privado. O instrumento para
alcançar a vantagem individual é o mercado livre.
Adicionalmente, é importante salientar que Hayek não hesita em escolher o
liberalismo diante dos riscos da democracia. Segundo este autor, “há um conflito
irreconciliável entre democracia e capitalismo – não se trata da democracia como tal,
mas de determinadas formas de organização democrática. Agora tornou-se
indiscutível que os poderes da maioria são ilimitados e que governos com poderes
ilimitados devem servir às maiorias e aos interesses especiais de grupos econômicos.
Há boas razões para preferir um governo democrático limitado, mas confessa que
prefere um governo não democrático, limitado pela lei, a um governo democrático
ilmitado (e, portanto, essencialmente se lei) (Luiz Gonzaga Beluzo, 2020).
Segundo Carneiro e Gambi (2018), citando Tarragó et al. (2015), na economia, o que
as políticas neoliberais trouxeram ao defender ajustes fiscais severos e cortes dos
gastos estatais foram programas de estabilidade que, em vez de produzir o
crescimento econômico, causaram recessão. Na administração pública, o
gerencialismo voltou-se para a gestão interna negligenciando a necessidade de
participação social. O fortalecimento do mercado e a adoção das receitas
preestabelecidas fizeram com que governos eleitos não necessariamente
governassem de acordo com as demandas dos eleitores, já que estavam sujeitos ao
poder econômico. Sindicatos de trabalhadores e redes de proteção social foram
enfraquecidos. Aos poucos, anunciou-se uma crise de legitimidade em que a política
passou a ser vista mais como problema do que solução, uma vez que a sociedade via
seu poder de influência se reduzir e sua participação se restringir, praticamente, nas
votações periódicas.
Estes autores continuam dizendo que no neoliberalismo, a democracia não é um
valor em si, já que o essencial seria a liberdade econômica dos indivíduos. Além

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disso, trata-se de uma democracia formal relativa à possibilidade de votar e ser


votado, ou seja: democracia de equilíbrio. Esperava-se o progresso econômico e
social como resultado da democracia formal e liberdade econômica, entretanto, o
que se verificou até a crise econômica de 2008 foi o aumento da desigualdade de
renda e a intromissão cada vez maior de grandes corporações no ambiente das
decisões políticas. Com a crise dos Estados, os chamados mercados começaram a
ditar, quase sem contrapeso, o que os governos presumivelmente soberanos e
democráticos deveriam fazer. O processo de financeirização da economia mundial,
resultante em boa medida da política neoliberal de desregulamentação financeira,
esvaziou a autonomia dos Estados na definição da política econômica.
Em suas considerações finais, esclarecem o seguinte:
A democracia liberal pode configurar um padrão específico de desenvolvimento econômico capitalista com perfil
socialmente inclusivo e amenizar as tendências à desigualdade e à exclusão social como se deu com o Estado de
bem-estar social montado na segunda metade do século XX. Entretanto, a mesma democracia liberal pode
justamente reforçar o círculo da desigualdade e exclusão social. Por isso, acreditamos não ser possível
compreender a democracia fora do quadro econômico geral. A ideologia neoliberal interrompeu a preocupação
com a desigualdade e o próprio desenvolvimento social, defendidos pelo Estado de Bem-Estar Social,
mormente nos países em desenvolvimento, e transferiu ao mercado e ao indivíduo atomizado a solução das
mazelas da sociedade. O resultado das políticas neoliberais para a democracia, sobretudo com o reforço da
desigualdade social, foram as graves crises de representação e legitimidade verificadas no final do séc. XX e
início do séc. XXI, que comprometem sua própria sobrevivência. Diante da crise democrática, surgiu o debate
sobre as alternativas à democracia liberal e representativa. A participação social apareceu invariavelmente como
opção para solucionar a crise. Canais de diálogo institucionalizados, inclusivos e participativos, apareceram nesse
contexto como meio de operacionalizar a participação social, como os Conselhos Econômicos e Sociais.
De fato, o diálogo social se mostra essencial para tentar encontrar pensamentos inovadores, para além de
políticas neoliberais como os ajustes fiscais, possibilitar a concertação social e motivar a participação dos cidadãos
nas decisões políticas. Mais do que isso, faz-se necessária a rediscussão do aspecto moral da democracia, sem se
centrar apenas em procedimentos. Para que isso ocorra, é importante a redução da desigualdade política e a
garantia de sistemas sociais, com a inclusão da sociedade civil no processo de escolha das políticas públicas.
Entretanto, no contexto neoliberal, mesmo o diálogo social institucionalizado talvez não seja suficiente para
superar a democracia meramente formal, porque os espaços de diálogo tendem a ser cooptados, dada a
ampliação da força do mercado sobre a política, e reproduzir as políticas neoliberais legitimadas apenas
formalmente pelo voto. O neoliberalismo está na raiz do problema porque, ao reproduzir e aprofundar a
desigualdade social e reduzir a regulação estatal, libera o poder econômico para capturar de diversas maneiras
os representantes, interromper diálogos alternativos e contaminar os espaços democráticos representativos,
além de torná-los instâncias meramente legitimadoras de seus interesses. A experiência dos conselhos
econômicos e sociais parece sinalizar os limites do diálogo social institucionalizado.

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5. Explique as várias correntes de interpretação do neoliberalismo apresentadas por


Krubniki e Zagurski (2017): foucaultiana, marxista, bourdieusiana, weberiana, pós-
colonialista, do hibridismo governamental e neorregulacionista.
6. Foucault:
7. Foucault analisou o neoliberalismo a partir de duas artes de governo históricas: o
ordoliberalismo alemão e o neoliberalismo americano. Em ambos os casos, o
neoliberalismo não se constitui como princípio limitador, mas como fundador do
Estado. No caso dos ordoliberais, trata-se de governar a sociedade em nome da
economia, construindo institucional e legalmente os frágeis mecanismos
concorrenciais do mercado de modo a evitar a concentração econômica, a favorecer
as empresas médias, a multiplicar o acesso à propriedade, a erigir as coberturas
sociais do risco e a regulamentar o meio ambiente. O Estado deve, assim, generalizar
a forma empresa no interior do tecido social de modo que o próprio indivíduo se
torne uma e participe ativamente das decisões em seu trabalho. No caso dos
neoliberais americanos, procura-se estender a grade de inteligibilidade econômica
para todas as dimensões sociais, generalizando a noção de capital humano como
princípio decifrador dos comportamentos e das relações. O indivíduo torna-se
governável por meio de seu cálculo econômico interno e pela definição das regras
ambientais do jogo, ao mesmo tempo em que o próprio Estado se submete a um
tribunal econômico permanente, que julga as ações públicas segundo critérios de
rentabilidade.
8. Marx:
9. Segundo a abordagem estrutural marxista, o neoliberalismo é definido como
estratégia política que visa reforçar uma hegemonia de classe e expandi-la
globalmente, marcando o novo estágio do capitalismo que surgiu na esteira da crise
estrutural da década de 1970. O neoliberalismo se caracteriza por uma ordem social
em que uma nova disciplina é imposta ao trabalho e novos critérios gerenciais são
estabelecidos, servindo-se de instrumentos como o livre comércio e a livre
mobilidade de capital. Esse modelo legitima-se ideologicamente por meio de uma
teoria político-econômica que afirma o livre mercado como garantidor da liberdade

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individual de empreender e que confere ao Estado o papel mínimo de preservar a


ordem institucional necessária. A crescente desigualdade se justificaria como meio de
estimular o risco dos empreendedores e a inovação, elementos centrais da
competitividade e do crescimento econômico. A importância da ideologia é
superestimada por uns, que a consideram uma nova hegemonia internacional capaz
de se impor até aos partidos de esquerda, e subestimada por outros, que a
consideram desimportante, em razão da obviedade da relação com as hierarquias de
classe.
10. Weber:
11. Na linha teórica de Max Weber, destaca-se o trabalho de William Davies (2014). Ao
analisar o governo da Terceira Via britânica da década de 1990, Davies nota que não
havia uma redução do Estado, mas uma expansão das políticas públicas no sentido
de melhorar a “competitividade nacional”. A legitimidade dos objetivos perseguidos
dependia de sua conformidade com formas de racionalidade econômica baseadas no
livre mercado e em uma retórica assentada na prioridade dos “consumidores”, da
“eficiência” e da “competição”. O crescimento do Estado se dava pela constante
avaliação, medição e crítica realizada por redes de consultores e especialistas que
passam a relacionar economistas acadêmicos, agências governamentais, agências
reguladoras e think tanks.
12. Davies (20214) segue enfatizando que da perspectiva neoliberal, o preço provê um
ideal lógico e fenomenológico de como as relações humanas podem ser mediadas
sem se recorrer à retórica e à performatividade políticas. A linguagem do “bem
comum” e do “público” é aparentemente substituída por instrumentos econômicos
técnicos que reduzem situações complexas a um número, dando origem às
dimensões experimentais e construtivistas do neoliberalismo. O Estado não
necessariamente cede poder aos mercados, apenas justifica suas decisões, políticas e
normas em termos comensuráveis com a lógica do mercado. Nesse sentido,
“neoliberalismo pode ser definido como a elevação dos princípios baseados no
mercado e das técnicas de avaliação ao nível de normas de aprovação do Estado”. As
novas autoridades são os especialistas que estabelecem as regras e as arenas de
competição, que desenvolvem técnicas de pontuação e ranqueamento e que
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oferecem consultorias para competidores em ambientes imprevisíveis (regulador,


risk manager, estrategista, coach e gurus).
13.
14. Bourdieu:
15.
16. A visão de Bourdieu foi exposta nos dois volumes da coletânea Contrafogos (1998 e
2002), cujo artigo mais sistemático é “Neoliberalismo. Esta utopia, em vias de
realização, de uma exploração sem limite”. Nesse texto, Bourdieu considera a
concepção do mercado autorregulador como uma utopia da teoria econômica
convertida em projeto político, embora seja apresentada como mera descrição
científica do real (Bourdieu, 1998: 135). A visão idealizada do mercado é construída
de maneira lógico-dedutiva na teoria pura neoclássica, por meio de modelos
matemáticos que raramente são colocados à prova e que desdenham as ciências
históricas. Os economistas são inclinados assim a confundir “as coisas da lógica com a
lógica das coisas” (Bourdieu, 1998: 135-136 e 144). Ao partir de pressupostos falsos,
reduzem a racionalidade à concepção estreita da racionalidade individual, ignorando
as condições sociais que produzem a disposição calculadora (Bourdieu, 1998: 136).
Essa teoria dessocializada e des-historicizada, embora errônea e falha, acaba por
tornar-se verdadeira por se vincular a interesses e decisões de acionistas, operadores
financeiros, industriais, políticos conservadores ou social-democratas convertidos e
altos funcionários das finanças (Bourdieu, 1998: 137-138). O conhecimento científico
converte-se então em programa político, procurando criar as condições de
funcionamento da “teoria”. Se a teoria lida apenas com indivíduos, é preciso destruir
as estruturas coletivas capazes de resistir à lógica do mercado (nação, sindicatos,
grupos de trabalho, cooperativas e associações). A própria política tende a ser
dissolvida, de modo a permanecer submetida aos mercados financeiros globais e a
retirar as regulações capazes de atrapalhar a livre maximização do lucro. O programa
neoliberal tende assim a favorecer globalmente a ruptura entre a economia e as
realidades sociais, e a construir desse mundo, na realidade, um sistema econômico
ajustado à descrição teórica, isto é, uma espécie de máquina lógica, que se apresenta

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como uma cadeia de constrangimentos enredando os agentes econômicos


(Bourdieu, 1998: 138).
17. Bourdieu ainda segue dizendo que os efeitos da utopia neoliberal sobre o mundo real
são conhecidos: sofrimento, desigualdade, desaparecimento dos universos
autônomos de produção cultural, destruição das instituições coletivas e
darwinismo moral (Bourdieu, 1998: 144-145). A análise do neoliberalismo operou
um deslocamento na obra final de Bourdieu (Bourdieu, 2001; Laval, 2018). Ao manter
o mesmo esquema conceitual anterior, o autor o reativa para pensar a nova
estrutura da dominação social e a formação histórica das disposições necessárias à
inclusão na economia capitalista. No neoliberalismo, a sociedade francesa passou a
uma estrutura na qual a ciência econômica tomou o lugar da filosofia, o capital
econômico ganhou em importância frente ao capital cultural, a mídia tomou o
terreno da escola no exercício da “violência simbólica” e o Estado foi cada vez mais
controlado pela alta função pública fundida com dirigentes financeiros. Como o
neoliberalismo estende a lógica econômica a todos os campos – assentando-a como
a racionalidade em geral –, Bourdieu procurou mostrar a gênese social dessas
disposições e da autonomização do campo econômico. Sua teoria do habitus passou
a operar como suporte metodológico da desconstrução histórica dos valores da
conduta econômica racional, desfazendo o idealismo universalista que permite à
teoria econômica produzir evidências e estabelecer leis pretensamente neutras, mas
politicamente eficazes.

18. Como o Chile de Augusto Pinochet, os EUA de Ronald Reagan e a Inglaterra de


Margareth Thatcher se relacionam com o neoliberalismo?

Pinochet

Segundo informou a reportagem publicada na BBC News em 2019, o golpe de Estado que depôs
o presidente socialista Salvador Allende em 1973 e iniciou o governo do general Augusto Pinochet
marcou um ponto de inflexão na economia chilena. No lugar do Estado de bem-estar social e
regulador, foi ganhando força um projeto macroeconômico de viés desestatizante - que nos
primeiros anos da era Pinochet ocasionou um 'boom' na economia, pois as medidas iniciais ajudaram
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a estabilizar o caos da economia socialista -, liderado por grupo de jovens economistas apelidados
jocosamente de "Chicago Boys". Nesta guinada neoliberal sob Pinochet, conviviam relativas
liberdades econômicas e repressão violenta a direitos civis.
Esta mesma reportagem informa ainda que ocorreram privatizações, abertura ao mercado
externo, reforma trabalhista e redução do gasto público e do papel do Estado em áreas-chave, como
saúde e educação. As sementes da implementação dos itens dessa cartilha desestatizante foram
plantadas pelos Estados Unidos duas décadas antes no Chile. O contexto geopolítico da Guerra Fria
favoreceu a transformação do Chile em uma espécie de laboratório neoliberal por quase uma
década, com influência até hoje na economia chilena, a exemplo da obsessão com equilíbrio fiscal e
controle inflacionário.
Porém, Nair Costa Muls informa que as manifestações que ocuparam as ruas das diferentes
cidades chilenas, algumas delas com mais de um milhão de pessoas, retrataram o esgotamento do
modelo neoliberal no Chile, aplicado em fins da década de setenta, início dos anos oitenta, no
governo Pinochet, com a ajuda de economistas da Escola de Chicago, aí se incluindo o nosso Paulo
Guedes, que, hoje, defende a aplicação do mesmo modelo no Brasil. Visto como um caso de sucesso
pelos defensores do neoliberalismo, com um crescimento do PIB jamais visto (mais de 4%), o
desenvolvimento do Chile e o seu crescimento era, no entanto, destinado a poucos. A maior parte da
população chilena, sobretudo os trabalhadores, vivia numa situação de endividamento crescente. O
modelo, na realidade, não garantia uma sociedade justa.
Este mesmo autor segue enfatizando que o neoliberalismo de Pinochet ocasionou salários
baixos; destruição dos direitos trabalhistas; jornadas de trabalho de 45 horas, férias de 15 dias, 30
minutos de almoço; sindicatos quase que totalmente desorganizados e sem força de negociação.
Além disso, os mineiros e os índios mapuche foram os que mais sofreram: os primeiros, com os
problemas acrescidos pelas consequências nefastas da mineração (doenças pulmonares, musculares
e psicológicas) que, inclusive, afetaram a organização e coesão familiar; os segundos, por suas terras
terem sido objeto de cobiça e frequentes disputas. Também, foram observadas privatização dos
serviços públicos e de setores importantes da economia. Essas políticas neoliberais acabaram
resultando em concentração de renda. Apenas um grupo movimentava a economia, enquanto se
observava a necessidade de estímulo para as outras classes consumirem.

Ronald Reagan

De acordo com Daniel Neves Silva, o governo de Reagan destacou-se pela implantação de
medidas neoliberais e pela imposição de práticas que visavam ao combate do comunismo fora dos
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EUA. Reagan reduziu impostos, bem como diminuiu as regulamentações para o meio ambiente e
para a economia. Além disso, reduziu gastos com programas sociais de auxílio à população mais
pobre. Essas medidas, na prática, resultaram em aumento da exploração sobre o trabalho, redução
de salários e aumento da disparidade social (ricos ficaram mais ricos e pobres ficaram mais pobres).
Antônio Gasparetto Júnior menciona que o Neoliberalismo ganhou força e visibilidade com
o Consenso de Washington, em 1989. Na ocasião, a líder do Reino Unido, Margareth Thatcher, e o
presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, propuseram os procedimentos do Neoliberalismo
para todos os países, destacando que os investimentos nas áreas sociais deveriam ser direcionados
para as empresas. Esta prática, segundo eles, seria fundamental para movimentar a economia e,
consequentemente, gerar melhores empregos e melhores salários. Houve ainda uma série de
recomendações especialmente dedicadas aos países pobres, as quais reuniam: a redução de gastos
governamentais, a diminuição dos impostos, a abertura econômica para importações, a liberação
para entrada do capital estrangeiro, privatização e desregulamentação da economia.
Segundo este mesmo autor, o objetivo do Consenso de Washington foi, em certa medida,
alcançado com sucesso, pois vários países adotaram as proposições feitas. Só que muitos países não
tinham condições de arcar com algumas delas, o que gerou uma grande demanda de empréstimos ao
Fundo Monetário Internacional (FMI). Logo, criava-se todo um sistema de privilégios para os países
desenvolvidos, pois as medidas neoliberais eram implementadas sob o monitoramento do FMI e
toda essa abertura econômica favorecia claramente aos países ricos, capazes de comprar as
empresas estatais e de investir dinheiro em outros mercados. Por outro lado, o argumento de defesa
do Neoliberalismo diz que a abertura econômica é benéfica porque força à modernização das
empresas.
Outra característica marcante é a observada na publicação no site Stoodi. Conforme se lê na
publicação, os Estados ao sair da Crise do Petróleo, se vê com altos gastos devido à Guerra do
Vietnã e a população norte-americana percebeu um certo declínio econômico no país. Ronald
Reagan, então, aproveitou o contexto para ligar sua imagem à recuperação da confiança do povo
norte-americano. De certa maneira ele conseguiu recuperar a economia dos Estados Unidos. Em
contrapartida, viu o país se afundar em uma crise social com altos índices de criminalidade, consumo
de drogas e de Aids. O governo de Ronald Reagan apoiou ditaduras com interesses neoliberais em
países como o Chile e a Nicarágua. Fez um bloqueio econômico à Cuba e chegou a apoiar o governo
da África do Sul. Reagan acreditava firmemente no vale-tudo do mercado capitalista, e tal como
Margaret Thatcher, foi pioneiro do neoliberalismo: diminuiu impostos dos mais ricos, cortou gastos
governamentais em saúde, educação e assistência social. Para estimular a indústria privada, o
governou começou a fazer gigantescas encomendas à indústria de armamentos.
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Nesta mesma publicação é possível observar mais o seguinte:

Como vimos, a doutrina neoliberal foi capaz de modernizar e estruturar a economia de diversos países de primeiro mundo.
Garantiu o desenvolvimento econômico de grandes potenciais mundiais, trouxe prosperidade para empresários e
competitividade de mercado. Porém, muitas dessas mudanças passaram por cima das políticas sociais, causando o
desemprego, a fome e a miséria de vários povos em países subdesenvolvidos. Numa tentativa exacerbada de implantar o
modelo econômico, vários países sofreram com ditaduras militares e a perda de suas riquezas naturais em detrimento do
enriquecimento de grandes empresários. Se, de um lado, o neoliberalismo trouxe progresso e modernização na prestação
de serviços, no acesso aos bens materiais, por outro lado, deixou famílias desempregadas, sujeitas à fome e ao descaso
do Poder Público. Muitas políticas sociais foram extintas em nome da maior lucratividade.

Margaret Thatcher

Margaret Thatcher ficou conhecida por sua política de pouca intervenção do Estado na
economia. A polêmica dama de ferro ficou no cargo de primeira-ministra britânia entre 1979 e 1990,
durante o período adotou medidas para cortar os gastos públicos e apoiou a auto-regulamentação
do mercado. O governo de Thatcher foi responsável por privatizar grande parte do setor público.
Durante o período, o desemprego cresceu e os sindicatos ficaram enfraquecidos (site Educação
Globo).
Segundo Leandro Carvalho, "Thatcher foi a primeira mulher que ocupou o cargo de Primeiro-
Ministro britânico. Logo no início do seu mandato, efetivou uma série de medidas e mudanças,
anunciou um plano para a redução dos impostos e passou a controlar e a realizar reformas
institucionais nos sindicatos trabalhistas. Essas reformas lhe valeram o apelido de “Dama de Ferro”. A
Primeira-Ministra permaneceu no cargo de 1979 até 1990, ou seja, ocupou o cargo por 11 anos. Nos
primeiros cinco anos, suas medidas e estratégias de governo não resultaram em melhorias na
economia britânica; ao contrário, muitos estudiosos disseram que a Grã-Bretanha entrou num
momento de maior recessão econômica. Entretanto, outros estudiosos, que compactuam com uma
visão política liberal-conservadora, defenderam veemente o governo de Thatcher.
Consoante este mesmo autor, os primeiro cinco anos do primeiro mandato de Margareth
Thatcher foram bastante conturbados, por sua política anticomunista. O primeiro governo de
Thatcher ficou marcado por diversas greves e manifestações dos sindicatos trabalhistas. Mas sua
intervenção nas Guerras das Malvinas (Guerra entre Inglaterra e Argentina), em 1982, aumentou sua
popularidade. Thatcher conseguiu sua primeira reeleição em 1984 em decorrência desse fato. Após
o primeiro mandato, Thatcher promoveu um programa de privatizações das empresas estatais e

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continuou combatendo de forma radical os movimentos sindicais trabalhistas. A Primeira-Ministra


britânica tornou-se uma das precursoras do neoliberalismo.

19. Qual é o papel, segundo Andrade (2019), do Keynesianismo expresso na Teoria Geral do
Emprego, do Juro e da Moeda na constituição das políticas do New Deal e na mudança
do Estado Liberal para o Estado Social apontando as características centrais da visão
econômica keynesiana, e como se relaciona com a Crise de 1929?
20. De acordo com Jhonattan Henrique, a doutrina Keynesiana ficou conhecida como uma
“revisão da teoria liberal”. Nesta teoria, o Estado deveria intervir na economia sempre que
fosse necessário, a fim de evitar a retração econômica e garantir o pleno emprego. De
acordo com Keynes, a teoria liberal-capitalista não disponibiliza mecanismos e ferramentas
capazes de garantir a estabilidade empregatícia de um país. Segundo Keynes, o poder público
deveria investir em áreas em que as empresas privadas negligenciavam. Para Keynes, o
Estado deveria intervir em áreas em que as empresas privadas não podem ou não desejam
atuar; deve haver oposição ao sistema liberal; redução de taxas de juros; equilíbrio entre
demanda e oferta; garantia do pleno emprego e introdução de benefícios sociais para a
população de baixa renda, a fim de garantir um sustento mínimo.
21. Este mesmo autor segue enfatizando que com a “grande depressão”, ficou claro que o
liberalismo clássico, sozinho, não foi capaz de garantir o pleno emprego. Em 1932, com a
quebra da bolsa de valores e com uma grande crise financeira, o presidente Franklin Delano
Roosevelt, baseado nos princípios defendidos por John, implementou o famoso plano “New
Deal”, visando tirar o EUA da retração econômica. De fato, o plano funcionou. Além da
intervenção estatal, o plano estabelecia o controle na emissão de valores monetários, o
investimento em setores básicos da indústria e, claro, políticas de criação de emprego. Com a
implementação de uma série de ações que conciliaram as questões econômicas e sociais,
foram criadas as bases do chamado welfare state (Estado de Bem-Estar Social).
22. O Estado de bem-estar social, frisa-se, defende a estatização de empresas em setores
estratégicos, a criação de serviços públicos gratuitos e de qualidade. Para tanto, o Estado
necessita interferir na economia, regulando-a para impedir monopólios, gerar emprego e
renda, construindo infraestruturas. Por conseguinte, as jornadas de trabalho são de 8 horas,
o trabalho infantil é proibido e os trabalhadores possuem direito a seguro-desemprego e à
Previdência Social. O Estado de Bem-Estar Social é visto como uma forma de combate às
desigualdades sociais, na medida que promove o acesso dos serviços públicos a toda
população (Juliana Bezerra, Professora de História).
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23. Bons resultados foram alcançados através do new deal. Porém, ele perdeu espaço no final de
década de 1970 quando o neoliberalismo surgiu com novas propostas, como a abertura
comercial internacional e a privatização de empresas estatais. Estados Unidos, Chile e Reino
Unido foram os primeiros países a adotarem o neoliberalismo. Os preceitos defendidos
por Keynes só voltaram aos holofotes com a grande crise de 2008, ocasião em que as
principais economias do mundo se viram diante da necessidade de evitar uma situação
semelhante à recessão americana de 1929.
24. Jhonattan Henrique ainda explica que muitos autores criticavam a doutrina keynesiana
alegando que se tratava de uma teoria “socialista”. Apesar de ser contra o sistema liberal,
cabe ressaltar que John Keynes nunca defendeu a estatização da economia, mas, sim,
a participação do estado para suprir necessidades que o sistema privado não atendia.

25. Para Krubniki e Zagurski (2017), como se dá a constituição do Estado Social no início
do século XX? Contextualize também as condições conjunturais que formularam esse
Estado Social como a presença de grandes partidos de massa.
26. Como Krubniki e Zagurski (2017) entendem o surgimento das políticas públicas no
contexto da guerra-fria nos EUA?
27. De acordo com Krubniki e Zagurski (2017), como a Cepal modula uma perspectiva
diferente para o desenvolvimento dos países da América Latina?
28. O que é a força normativa da Constituição de Konrad Hesse, de acordo com Krubniki e
Zagurski (2017)?
29. Qual é a dimensão da Constituição de 1988 enunciando os artigos do texto que
demonstram o caráter social que estão no texto de Krubniki e Zagurski (2017), sem
esquecer as dimensões ambiental e intercultural desta constituição especialmente nos
pontos trazidos em sala de aula sobre o artigo 225 e 231 da Constituição de 1988?
30.
31. Como a Constituição de 1988 se insere no contexto de redemocratização da sociedade
brasileira, e também no contexto da crise do muro de Berlin de 1989 ocorrida um ano
após sua promulgação, situando esta questão no cenário do neoliberalismo que provocou
a ampliação das desigualdades estruturais da sociedade brasileira?
32. De acordo com Jhonattan Henrique, a doutrina Keynesiana ficou conhecida como uma
“revisão da teoria liberal”. Nesta teoria, o Estado deveria intervir na economia sempre que
fosse necessário, a fim de evitar a retração econômica e garantir o pleno emprego. De

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acordo com Keynes, a teoria liberal-capitalista não disponibiliza mecanismos e ferramentas


capazes de garantir a estabilidade empregatícia de um país. Segundo Keynes, o poder público
deveria investir em áreas em que as empresas privadas negligenciavam. Para Keynes, o
Estado deveria intervir em áreas em que as empresas privadas não podem ou não desejam
atuar; deve haver oposição ao sistema liberal; redução de taxas de juros; equilíbrio entre
demanda e oferta; garantia do pleno emprego e introdução de benefícios sociais para a
população de baixa renda, a fim de garantir um sustento mínimo.
33. Este mesmo autor segue enfatizando que com a “grande depressão”, ficou claro que o
liberalismo clássico, sozinho, não foi capaz de garantir o pleno emprego. Em 1932, com a
quebra da bolsa de valores e com uma grande crise financeira, o presidente Franklin Delano
Roosevelt, baseado nos princípios defendidos por John, implementou o famoso plano “New
Deal”, visando tirar o EUA da retração econômica. De fato, o plano funcionou. Além da
intervenção estatal, o plano estabelecia o controle na emissão de valores monetários, o
investimento em setores básicos da indústria e, claro, políticas de criação de emprego. Com a
implementação de uma série de ações que conciliaram as questões econômicas e sociais,
foram criadas as bases do chamado welfare state (Estado de Bem-Estar Social).
34. O Estado de bem-estar social, frisa-se, defende a estatização de empresas em setores
estratégicos, a criação de serviços públicos gratuitos e de qualidade. Para tanto, o Estado
necessita interferir na economia, regulando-a para impedir monopólios, gerar emprego e
renda, construindo infraestruturas. Por conseguinte, as jornadas de trabalho são de 8 horas,
o trabalho infantil é proibido e os trabalhadores possuem direito a seguro-desemprego e à
Previdência Social. O Estado de Bem-Estar Social é visto como uma forma de combate às
desigualdades sociais, na medida que promove o acesso dos serviços públicos a toda
população (Juliana Bezerra, Professora de História).
35. Bons resultados foram alcançados através do new deal. Porém, ele perdeu espaço no final de
década de 1970 quando o neoliberalismo surgiu com novas propostas, como a abertura
comercial internacional e a privatização de empresas estatais. Estados Unidos, Chile e Reino
Unido foram os primeiros países a adotarem o neoliberalismo. Os preceitos defendidos
por Keynes só voltaram aos holofotes com a grande crise de 2008, ocasião em que as
principais economias do mundo se viram diante da necessidade de evitar uma situação
semelhante à recessão americana de 1929.
36. Jhonattan Henrique ainda explica que muitos autores criticavam a doutrina keynesiana
alegando que se tratava de uma teoria “socialista”. Apesar de ser contra o sistema liberal,

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cabe ressaltar que John Keynes nunca defendeu a estatização da economia, mas, sim,
a participação do estado para suprir necessidades que o sistema privado não atendia.

37. Quais teses do economista Amartya Sen são trazidas por Krubniki e Zagurski (2017)?
38. Quais são as críticas neoliberais ao Estado Social moduladas pela Constituição de 1988,
conforme apontam Krubniki e Zagurski (2017)?
39. Cite exemplos de políticas públicas enumeradas por Krubniki e Zagurski (2017).
40. Para Krubniki e Zagurski (2017), como ocorre a judicialização das políticas públicas e a
politização da justiça que ocorre no Brasil e qual decisão do STF é emblemática neste
contexto?
41. Pesquise acerca da forma como a reserva do possível foi trazida para o Brasil nos anos
1990, e como a mesma se relaciona com o transplante do debate jurídico da conferência
da Sociedade Jurídica de Berlim efetuado pelo jurista Karl Betterman, conectando este
plano, com o problema da austeridade orçamentária e os limites da judicialização das
políticas públicas originadas da constrição fiscal austericida.
42. Qual é a conclusão de Krubniki e Zagurski (2017) sobre a questão da judicialização das
políticas públicas?
43. Qual debate acerca de Rousseau e Hobbes é aduzido no texto de Krubniki e Zagurski
(2017)?
44. Como Krubniki e Zagurski (2017) compreendem as teses que dissociam o liberalismo e a
democracia?
45. Quais são as características do positivismo por imanência apontadas por Dimoulis
(2011), inclusive trazendo expressões do senso comum jurídico, que são enunciadas no
seu texto que apontam para a adesão na prática ao positivismo no Brasil mesmo sem
uma formulação teórica precisa sobre o mesmo na prática jurídica cotidiana expressa na
práxis dos fóruns e tribunais?
46. Acerca da temática elencada, Dimitri Dimoulis denomina “o positivismo que
prevalece na prática e se transmite nas Faculdades de intuitivo (ou “amador”), pois
não resulta de estudos específicos de obras de pensadores positivistas. Baseia-se em
algumas máximas do tipo “lei é lei”, “o juiz não faz política”, “devemos
ensinar/estudar/ aplicar o Código”, “devemos garantir a segurança jurídica”,
“devemos preservar a separação de poderes”. Trata-se também de um positivismo

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espontâneo, pois surge de experiências do cotidiano forense, em particular da


experiência que direito não “é” o justo, nem o resultado dos melhores argumentos,
mas, na grande maioria dos casos, aquilo que resulta da clareza da lei ou de
posicionamentos que os julgadores utilizam como base de decisão (jurisprudência de
tribunais superiores, doutrinadores renomados).
47. Em contraposição a essa predominância do positivismo na prática, a doutrina jurídica
brasileira optou, em sua maioria e desde a entrada em vigor da Constituição de 1988,
por criticar o positivismo jurídico de maneira insistente e com ímpeto retórico:
“Viveu-se no direito, por longos e longos anos, sob o quarto escuro e empoeirado do
positivismo jurídico. Sob a ditadura dos esquemas lógico-subsuntivos de
interpretação, da separação quase absoluta entre direito e moral”. Ou ainda: “São
precisamente os representantes do pensamento constitucional – em sua maior parte
– que estabelecem uma espécie de fratura no seio dessa cultura jurídica positivista e
privatista, buscando contra o positivismo, um fundamento ético para a ordem
jurídica”.
48. Termos como “neoconstitucionalismo”, “pós-positivismo”, “moralização”, “retorno
aos valores” ou “constitucionalização” do direito, caracterizam esse novo senso
comum, propagado em publicações e eventos acadêmicos. A conclusão prática é o
reconhecimento do protagonismo dos integrantes do Poder Judiciário como meio de
realização da “justiça”.”
49. Assim, afirma-se que a principal característica da experiência jurídica brasileira após a
promulgação da Constituição Federal de 1988 foi o fortalecimento do Poder
Judiciário, segundo uma tendência que se manifesta em vários países, mas adquiriu
particular intensidade no Brasil.
50. Isso criou o já referido protagonismo do Poder Judiciário, simbolizado pela recente
midiatização do Supremo Tribunal Federal, cuja atuação cotidiana tornou-se notícia
central, sendo frequentes reportagens e entrevistas sobre os posicionamentos
políticos.
51. Essa mudança no equilíbrio entre poderes estatais tornou a atividade desenvolvida
pelo Judiciário mais próxima da atuação do “legislador positivo”.

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52. Quais críticas Dimoulis (2011) estabelece em relação ao ativismo judicial e a


posicionamentos que descreve de ministros do STF, como Ayres Brito?

Acerca do ativismo judicial, Dimoulis alega que “a filosofia moral e política


identificaram, há décadas, a dupla falácia na qual se baseia esse argumento. Primeiro, a
falácia da fonte. Antes de afirmar que o direito incorporou imperativos de justiça,
humanismo etc. deve ser indicada a norma que os incorpora no ordenamento.”
“Segundo, a falácia do absolutismo. Termos como “justiça material” possuem
sentidos diferentes na opinião de cada pessoa, grupo social e cultura. Em razão disso, a
invocação da justiça ou de outro ideal semelhante permanece palavra vazia enquanto não se
indica qual justiça se prioriza, por qual razão isso foi feito e o que nos permite, em uma
sociedade que por ordem constitucional é pluralista, considerar a “nossa” visão de justiça
material melhor do que aquela de outras pessoas.”
Assim, podemos concluir que, Dimoulis é crítico à Judicialização das Políticas
Públicas, uma vez que essa seria uma usurpação do poder judiciário. não acredita no
neoconstitucionalismo, no ativismo judicial, acreditando que o juiz tem não deve se exceder
além do que a legislação o permite e não pode ultrapassar as suas funções jurisdicionais.

53. O que é a teoria axiomática do direito descrita no texto de Zanon Junior (2015) acerca
de Ferrajoli, e como a mesma remete a analiticidade de Hans Kelsen e Norberto
Bobbio?
54. Um axioma é uma verdade que independe de prova e que é universalmente aceita.
Ao dizer que alguém estabelece algo como um axioma, não estamos a dizer,
necessariamente, que concordamos com a “verdade” proposta pela pessoa, mas
apenas que a pessoa o fez apresentando tal “verdade” com status de axioma, ou
seja, com a pretensão de que essa verdade independa de prova e de que seja
universalmente aceita.
55. Assim, Ferrajoli estabelece dez axiomas, que são valores, princípios garantidores de
direitos mínimos do acusado que devem nortear o Direito no Geral, mas sobretudo o
Direito Penal e o Processo Penal, que não apenas legitimam a punição, mas também
são condicionantes para a existência da punição. Os axiomas tutelam valores como

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igualdade, liberdade pessoal contra arbitrariedades, direitos e liberdades políticas,


certeza jurídica, controle público das intervenções punitivas etc.
56. A teoria axiomática remete a analiticidade de Hans Kelsen e Norberto Bobbio pois,
“Para Kelsen, a validade de uma norma está em uma outra norma, que lhe é anterior
no tempo e superior hierarquicamente, que traçaria as diretrizes formais para que tal
norma seja válida. Logo, para Kelsen, existe um mecanismo de derivação entre as
normas jurídicas, dentro de uma ideia de supra e infraordenação entre as espécies
normativas. Mas Ferrajoli acrescenta um novo elemento ao conceito de validade.
Para ele, uma norma será válida não apenas pelo seu enquadramento formal às
normas do ordenamento jurídico que lhe são anteriores e configuram um
pressuposto para a sua verificação. A tal procedimento de validade, eminentemente
formalista, acrescenta um dado que constitui exatamente o elemento substancial do
universo jurídico.
57. Como cita o jurista italiano Norberto Bobbio no prefácio da obra Direito e Razão
(2002), o garantismo deve ser bem definido em todos os aspectos para que possa
servir de critério de valoração e de correção do direito existente.”
58.
59. No contexto do surgimento do Estado Moderno, segundo Bobbio, a Soberania pode
ser tida como o poder de comando de derradeira instância, numa sociedade política
e, consequentemente, a diferença entre esta e as demais organizações humanas, nas
quais não se encontra este Poder supremo.
60. A conceituação de Estado de direito, por Norberto Bobbio – considerando
tratar-se de um conceito amplo e genérico com variadas ascendências na história do
pensamento político – é construída de modo instrumental, tributária de um de seus
principais objetos de estudo: os problemas da democracia. Da contraposição entre a
natureza da relação deste Estado com o Estado democrático – neste e em outros
autores (como em Luigi Ferrajoli) – pode-se inferir o conceito de democracia com que
trabalha Bobbio, bem como as consequências teóricas de tal opção.”

61. Para Zanon Junior (2015), como o neoconstitucionalismo relacionam com as teses de
Luigi Ferrajoli?

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62. Segundo Luigi Ferrajoli, o neoconstitucionalismo caracteriza-se por dois elemenos:


ataque ao positivismo jurídico e a tese da separação entre direito e moral; e o
ativismo judicial promovido pela tese de que os direitos constitucionalmente
estabelecidos não são regras, mas sim princípios, objetos de ponderação e de
imediata argumentação jurídica.
63. Ferrajoil critica essas teses neoconstitucionalistas, defendendo um
“constitucionalismo rígido”, acreditando este ser um reforço do positivismo jurídico,
por ele alargado em razão de suas próprias escolhas – os direitos fundamentais
estipulados nas normas constitucionais – que devem orientar a produção do direito
positivo.
64. Nas palavras do autor, “mas precisamente por isto – ao contrário do que entendem
Dworkin, Alexy e Atienza, para quem as Constituições haveriam incorporado a moral
no direito e, portanto, deveria se tratar de uma conexão entre direito e moral –
continua a valer, contra aquela enésima e insidiosa versão do legalismo ético, que é o
constitucionalismo ético, o princípio juspositivista da separação entre direito e moral,
uma vez que este princípio não quer dizer, de todo modo, que as normas jurídicas
não tenham um conteúdo moral ou alguma “pretensão de justiça”. Estas seriam
teses sem sentido. Mesmo as normas (a nosso entender) mais imorais e mais injustas
são consideradas “justas” para quem as produz e exprimem, portanto, conteúdos
“morais” que, mesmo se (nos) parecem desvalores, são considerados “valores” por
quem os compartilha. E mesmo o ordenamento mais injusto e criminal expressa
aquela que, ao menos para o seu legislador, é (subjetivamente) uma “pretensão de
justiça”. Isto quer dizer que as Constituições expressam e incorporam valores, nem
mais nem menos, da mesma maneira como o fazem as leis ordinárias. Aquilo que
representa o seu traço característico é o fato de os valores nelas expessos – aqueles
que chamei “normas substanciais sobre a produção” e que nas Constituições
democráticas consistem, sobretudo, em direitos fundamentais – serem por elas
incorporados em um nível normativo supraordenado àquele da legislação ordinária e
serem, por isso, em relação a esta vinculantes”

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65. Assim, o autor desconecta o direito da moral, em contrapartida à tendência


neoconstitucionalista. Apesar de os juízes poderem ter discricionariedade, eles
devem estar restritos ao estabelecido nas normas e aos direitos das partes.

66. Como a teoria de Luigi Ferrajoli se relaciona com o direito natural e as questões morais
e éticas conforme Zanon Junior (2015) aponta?

Segundo o disposto por Zanon Júnior, a teoria de Luigi Ferrajoli se relaciona com o
direito natural e as questões morais e éticas na medida que o Estado não pode obrigar um
indivíduo a ser bom ou deixar de ser ruim. Existe uma separação clara entre o direito e a
moral. Assim, a pena, por exemplo, não tem uma finalidade moral, sendo simplesmente uma
pena.
“Portanto, para o garantismo, essa axiologia utilitária determina que, na jurisdição,
não se trate da moralidade, ou do caráter, ou da personalidade do indivíduo (ver as
restrições ao chamado direito penal do autor), mas apenas sobre o fato (direito penal do
fato).
Por fim, quanto à pena e sua execução, não deve haver nem conteúdos, nem
finalidades morais. O Estado não tem o direito de obrigar os cidadãos a não serem ruins,
nem, muito menos, de alterar a sua personalidade (reeducar, ou redimir, ou recuperar, ou
ressocializar).
O resultado deste processo de positivação do direito natural tem sido uma
aproximação entre a legitimação interna ou dever ser jurídica e a legitimação externa ou
dever ser extrajurídico, quer dizer, a sua juridificação por meio da interiorização no direito
positivo de muitos dos velhos critérios e valores substanciais de legitimação
Com ‘separação entre direito e moral’ deve-se entender, a meu juízo, não a
negação de qualquer conexão entre direito e moral, claramente insustentável uma vez que
qualquer sistema jurídico exprime ao menos a moral dos seus legisladores, mas sim a tese já
recordada segundo a qual juridicidade de uma norma não deriva da sua justiça e a sua
justiça não deriva da sua juridicidade”

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Adicionalmente, o autor lista outras quatro características que entende como


elementares à base disciplinar do Positivismo Jurídico, ao lado da separação entre Direito e
Moral.
O resultado deste processo de positivação do direito natural tem sido uma
aproximação entre a legitimação interna ou dever ser jurídica e a legitimação externa ou
dever ser extrajurídico, quer dizer, a sua juridificação por meio da interiorização no direito
positivo de muitos dos velhos critérios e valores substanciais de legitimação externa que
foram expressados pelas doutrinas iluministas do direito natural”

67. O que são as garantias fundamentais dentro da teoria axiomática do Direito de Luigi
Ferrajoli de acordo com Zanon Junior (2015)?
68. Segundo Zanon Júnior, “na experiência histórica do constitucionalismo, tais
interesses coincidem com as liberdades e com as outras necessidades de cuja
garantia, conquistada a preço de lutas e revoluções, depende a vida, a sobrevivência,
a igualdade e a dignidade dos seres humanos. Mas essa garantia se realiza
precisamente através da forma universal que provem da sua estipulação como
direitos fundamentais em normas constitucionais supra ordenadas a qualquer poder
decisório: se são normativamente de “todos” (os membros de uma dada classe de
sujeitos), eles não são alienáveis ou negociáveis, mas correspondem, por assim dizer,
à prerrogativa não-contingente e inalterável dos seus titulares e a outros tantos
limites e vínculos insuperáveis a todos os poderes, sejam públicos ou privados.
69. Estabelece Ferrajoli que, a sua proposição teórica é “um reforço do positivismo
jurídico, por ele alargado em razão de suas próprias escolhas – os direitos
fundamentais estipulados em normas constitucionais – que devem orientar a
produção do direito positivo”, tratando-se assim do “resultado de uma mudança de
paradigma do velho positivismo, que se deu com a submissão da própria produção
normativa a normas não apenas formais, mas também substanciais, de direito
positivo”.”

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70. Descreva os pensamentos de Pachukanis e Kelsen, bem como as relações estabelecidas


em Fonseca (2017) entre os autores. Também relacione a questão da Constituição do
Canadá e a lei seca abordadas no texto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Daniel Pereira. O que é o neoliberalismo? A renovação do debate nas ciências
sociais. Sociedade e Estado, [S.L.], v. 34, n. 1, p. 211-239, jan. 2019. FapUNIFESP
(SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0102-6992-201934010009.

DIMOULIS, Dimitri. A relevância prática do positivismo jurídico. Revista Brasileira de


Estudos Políticos, Belo Horizonte, n. 102, p. 215-254, 1 jan. 2011.
https://doi.org/10.9732/132.

ZAGURSKI, Adriana Timoteo dos Santos; KRUBNIKI, João Pedro Ruppert. Breves
apontamentos sobre Estado Social e intervenção mediante políticas públicas. Revista Direito
em Debate, [S.L.], v. 26, n. 47, p. 113, 21 set. 2017. Editora Unijui.
http://dx.doi.org/10.21527/2176-6622.2017.47.113-132.

ZANON JUNIOR, Orlando Luiz. Garantismo jurídico: o esforço de Ferrajoli para o


aperfeiçoamento do positivismo jurídico. Revista da Esmesc, [S.L.], v. 22, n. 28, p. 13, 27
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