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ASSISTÊNCIA SOCIAL, SAÚDE E

PREVIDÊNCIA
Vanessa Lopes de Almeida
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SUMÁRIO

1 POLÍTICA SOCIAL ..................................................................................... 3


2 A POLÍTICA DE PREVIDÊNCIA SOCIAL ..................................................... 14
3 BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS .............................................................. 22
4 A POLÍTICA DE SAÚDE ............................................................................ 33
5 POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL ......................................................... 43
6 O SISTEMA ÚNICO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL .......................................... 54

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1 POLÍTICA SOCIAL

Apresentação

Os termos mais utilizados na formação e atuação do assistente social são políticas


públicas e política social. Cotidianamente, nos deparamos com inúmeros
encaminhamentos e articulações que evidenciam o caráter interventivo da nossa
profissão. O acesso do indivíduo aos seus direitos sociais permite ao cidadão modificar
a sua condição de vulnerabilidade e risco. Nossos direitos sociais foram referendados
pela Constituição de 1988 e manifestam-se por meio de uma série de planos, projetos
e programas, incorporados nas mais diversas políticas públicas.

Neste Bloco introdutório, nos propomos a discutir a formação das políticas públicas e
sociais e sua semelhança ao Welfare State, também conhecido como Estado de Bem
Estar Social. Essa formação de Estado pressupõe a garantia de padrões mínimos de
educação, saúde, habitação, renda e seguridade social a todos os cidadãos. Esse
modelo datado do século 18, em países como Áustria, Rússia, Prússia e Espanha
colocaram em prática uma série de importantes políticas assistenciais de caráter
público.

Nossa pretensão nesse bloco é apresentar ao aluno a história das políticas sociais e sua
identificação com o Welfare State, bem como sua importância no século XIX. E ainda,
discutir a contradição entre Estado neoliberal e política social perpassando pela sua
formação histórica no Brasil. Cabe ressaltar, que as conquistas nas políticas de
assistência social, saúde e previdência social decorrem da organização e mobilização
da sociedade civil.

1.1. Política Social, das Velhas Leis dos Pobres ao Welfare State

A política social tem tomado como parâmetro institucional para demarcar suas origens
o Welfare State, que surgiu no século XIX e foi adotado no século XX, após o período

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da Segunda Guerra Mundial e também é denominado como Estado de Bem Estar


Social, Estado Providência, Estado Assistencial e Estado Social.

Pereira (2008) aponta o Estado de Bem Estar Social como um moderno modelo estatal
de intervenção na economia de mercado que, ao contrário do modelo liberal que o
antecedeu, fortaleceu e expandiu o setor público, implantou e geriu sistemas de
proteção social.

As políticas sociais e o Estado de Bem Estar Social constituiriam fenômenos


equivalentes, em resposta a conflitos sociais adensados pelo avanço da
industrialização e por uma progressiva conquista popular de direitos.

O Welfare State é um fenômeno comum a todas as sociedades capitalistas, no


entanto, as políticas sociais têm caráter e escopo genéricos, que lhe permitem estar
presente em toda e qualquer ação que envolva intervenção do Estado compartilhada
por diversos agentes “interessados” no atendimento de demandas e exigências não
exclusivamente democrático-cívicas.

Entre suas notas, Pereira1 (2016) aponta que se o Welfare State é um fenômeno do
século XX, o que teria emergido nos fins do século XIX não teria sido propriamente
essa instituição, mas uma política social identificada com um perfil de relação entre
Estado e sociedade antes inexistente, posto que determinado por mudanças
estruturais e políticas produtoras de novas arenas de “conflitos de interesses” e de
conquistas coletivas, ou melhor, de classe.

A autora adverte que a política social nem sempre é benéfica para seus supostos
destinatários legítimos - os demandantes de atendimentos de efetivas necessidades
sociais. Já que, de fato, onde existem diferentes interessados em torno de uma mesma
questão existem conflitos e, por conseguinte, correlação de forças, cujo
enfrentamento tende a beneficiar quem tem mais influência.

1 Potyara Pereira é formada em Serviço Social (1965) e Direito (1974). É mestre e doutora em Sociologia pela
Universidade de Brasília e pós-doutora em Política Social pela Universidade de Manchester/Grã Bretanha. É
professora do Programa de Pós-Graduação em Política Social da UnB e pesquisadora (vice-coordenadora) do
NEPPOS/CEAM/UnB e do CNPq (nível 1A).

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A história tem demonstrado que, em se tratando de política social, a sua função é


satisfazer as necessidades sociais não atendidas pelo modo de produção capitalista,
mas sem deixar de atender as demandas do mercado, o controle social e político, a
doutrinação, a legitimação e o prestígio das elites no poder.

A política social decorre da velha e conflituosa relação entre Estado e sociedade, no


marco das formações sociais de classe, lidará com interesses antagônicos, já que ela
resulta da pressão simultânea de sujeitos distintos. No entanto, o impacto das políticas
sociais não produz continuadamente a melhoria das condições humanas, em especial
para as camadas mais pobres, uma vez que atendem as imposições do capital, cujas
demandas são acatadas pelo Estado.

Desta forma, se por um lado, o objetivo primordial da política é satisfazer as


necessidades humanas, por outro, é também contribuir para que a rentabilidade
econômica privada se torne ainda mais lucrativa. O acesso às políticas sociais não é
automático, cabe aos destinatários enfrentar forças poderosas no cenário
contemporâneo em uma constante luta pela efetivação do direito.

1.2. A importância histórica do século XIX para a política social e o Welfare State

O século XIX revelou importantes mudanças na estrutura econômica e no sistema


político das sociedades capitalistas centrais, as quais exigiram do Estado diferentes
intervenções. Vale salientar a importância da tecnologia nos processos de produção
que culminou com a Revolução Industrial2 no século XVIII, modificando
substancialmente a acumulação no sistema capitalista.

Com efeito, para Marx e Engels:

A indústria moderna transformou a pequena oficina do mestre patriarcal na


grande fábrica do capitalista industrial. Massas de operários, concentrados

2 A Revolução Industrial foi o período de grande desenvolvimento tecnológico que teve início na Inglaterra a partir
da segunda metade do século XVIII, garantiu o surgimento da indústria e consolidou o processo de formação do
capitalismo, causou grandes transformações na economia mundial, assim como no estilo de vida da humanidade,
uma vez que acelerou a produção de mercadorias e a exploração dos recursos da natureza.

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na fábrica, estão organizadas de forma militar. Como soldados rasos da


indústria, estão sob a vigilância de uma hierarquia completa de oficiais e
suboficiais. Não são somente escravos da classe burguesa, do Estado
burguês, mas diariamente, em todas as horas, escravos da máquina, do
capataz e, sobretudo, do patrão da fábrica. E este despotismo é tanto mais
mesquinho, odioso e exasperador, quanto maior é a franqueza com que
proclama que não tem outro fim que o lucro (Marx e Engels, 1975: 26).

A Revolução Industrial inaugura um novo perfil de Estado e de política social. Neste


contexto, abandona-se o velho padrão autoritário e paternalista que atravessou os
Estados até então. As mudanças ocorridas na agricultura, nos processos de trabalho,
na comunicação e no transporte, modificaram relações econômicas, políticas e sociais,
e ainda, propõe uma nova lógica de exploração, resultando na divisão da sociedade em
duas classes distintas e contrapostas: burguesia e proletariado.

No bojo da Revolução Industrial, a progressão da classe em ascensão ostenta a


apropriação da riqueza acumulada. De um lado a burguesia se deleitava na fartura, por
outro, a classe trabalhadora conhecia a alienação do trabalho e o pauperismo. Nas
palavras de Pereira (2008) quando a burguesia se firma como classe dominante e o
proletariado toma consciência de sua própria classe surge a chamada “questão social”.

A autora em referência adverte que a industrialização passou a considerar a


convergência de fatores como progresso técnico, democratização e bem-estar
institucionalizado, previsto em lei. Em decorrência do avanço da cidadania — cujos
direitos civis e políticos foram conquistados nos séculos XVIII e XIX pelos emergentes
movimentos de massa — o Welfare State se esculpiu como um divisor de águas entre
um sistema de proteção social arcaico, pré-industrial e carente de riquezas e, outro,
moderno, industrial e próspero.

A Revolução Francesa de 1789 apresentou ideários de liberdade, igualdade e


fraternidade desde o século XVIII e dominou a política social no Ocidente no século
XIX. No entanto, revoluções burguesas atenderam também aos princípios do
liberalismo econômico e mostraram-se contrários ao conceito de proteção social. A

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Revolução citada também serviu de defesa da extensão da cidadania para os sociais-


democratas e socialistas, repercutindo no conceito de cidadania social no século XX.

A cidadania é um conceito controverso e importante para caracterizar um estado de


bem estar social nos países capitalistas no século XIX. Pereira (2016) reflete sobre a
importância de distinguir Estado de Bem Estar Social de políticas sociais e sua
respectiva proteção social, embora na Era de ouro do Welfare State (de 1945 a 1975) a
política social estivesse presente como uma importante representação de interesses
de classes e de grupos diferenciados, a partir das relações conflituosas entre o Estado
e a sociedade.

Com efeito, Pereira (2008) afirma que na Era dos Estados absolutistas a política social
também esteve presente como um lócus em que interesses conflitantes (talvez não
tão intensos) entre Estado e a sociedade se faziam representar. Atualmente, quando
se fala de “crise” do Estado de Bem-Estar, tudo leva a crer que a política social entrou
em falência, o que não corresponde à realidade. A imagem welfarista ou benfeitora
que lhe impuseram não resistiu ao tempo e às mudanças da história; mas, como
representação de interesses decorrente de relações conflituosas entre novos tipos de
Estado e sociedade — em que estão presentes demandas e necessidades sociais,
tendo como horizonte a justiça social demandas e necessidades sociais, tendo como
horizonte a justiça social — ela resistiu.

Com o avanço do neoliberalismo, a política social sofreu uma brusca mudança de


direção, deixando de representar os interesses sociais-democratas que imperaram
entre os anos 1945-1975 para representar os interesses neoliberais. No entanto, sob
pressão de contundentes reivindicações em prol do combate à fome, redução das
desigualdades sociais, acesso de milhões de pessoas à saúde, educação, emprego e
usufruto do progresso e a justiça social, as demandas emergem acentuadamente na
cena pública.

O Estado de Bem Estar Social perpassa inúmeras interpretações, daí a dificuldade de


precisar o momento de sua constituição e os elementos que o define. Suas
características variam de país para país. As prioridades políticas e os instrumentos

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adotados pelos distintos países para prover bem-estar a sua população variam entre o
seguro social, a provisão direta em dinheiro ou em material, os subsídios, as parcerias
com outras agências (incluindo entidades privadas mercantis e não mercantis) e ações
sociais realizadas, ora por governos federais, ora por autoridades locais.

A autora em referência nesse bloco apresenta que há outras interpretações acerca da


origem do Welfare State. Há um grupo que atribui a sua origem ao audacioso Plano de
governo, aplicado de 1933-1940 pelo Presidente americano Roosevelt. Plano esse, que
tinha por finalidade combater os efeitos da Grande Depressão Econômica e recuperar
a prosperidade dos Estados Unidos da América. Esse Plano, que recebeu o nome de
New Deal (Nova Política), previa intervenções estatais defendidas, de forma inovadora
e antiliberal (embora capitalista) por Keynes.

Pereira (2008) aponta as principais propostas de Keynes3:

a) intervenção do Estado na economia, por meio de programas emergenciais de


obras públicas, com vistas a atingir o pleno emprego;
b) controle do sistema financeiro, libertando a política monetária das restrições
do padrão ouro e desvalorizando o dólar para aumentar as exportações;
c) regulamentação do incremento à produção industrial;
d) controle da Bolsa de Valores e da subscrição das sociedades anônimas;
e) criação de um Sistema de Seguridade Social que abarcava a aposentadoria para
os trabalhadores, o seguro-desemprego e a transferência de renda a famílias
pobres com filhos dependentes;
f) criação de um salário mínimo nacional;
g) decretação da liberdade sindical e da convenção coletiva do trabalho;
h) programas de apoio à obtenção da casa própria;
i) controle dos preços e da produção na agricultura, dentre outras.
A execução do “New Deal” não foi tranquila, as propostas de intervenção de Keynes se
chocaram com a tradição até então liberal dos Estados Unidos. A principal queixa das

John Maynard Keynes (1883-1946), economista britânico na primeira metade do século XX, propôs o controle
estatal da demanda em uma economia de mercado com vista a assegurar alto nível de atividade econômica e o
pleno emprego. Estas propostas foram feitas por ocasião da Grande Depressão, que se estendeu por toda a década
de 1930 até o início da Segunda Guerra Mundial, e exerceram influência sobre o New Deal.
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indústrias e setores conservadores era que a Nova Política estava fazendo


interferências indevidas na liberdade do mercado. O Plano de Roosevelt se tornou
popular, garantindo a ele, êxito, do ponto de vista eleitoral, e possibilitou ainda a
aplicação e expansão da teoria Keynesiana.

1.3. As políticas sociais no Brasil

Agora que retomamos as origens do Estado de Bem Estar Social, é necessário


relembrar que o Capitalismo é um sistema em que predomina a propriedade privada e
a busca constante pelo lucro e pela acumulação de capital, que se manifesta na forma
de bens e dinheiro. Apesar de ser considerado um sistema econômico, o capitalismo
estende-se aos campos políticos, sociais, culturais, éticos e muitos outros.

Desta forma, cabe salientar que as propostas inovadoras do Estado de Bem Estar Social
de Keynes adentram um sistema capitalista, portanto, há a presença do contraditório e
da disputa pela hegemonia do sistema e dos interesses das classes dominantes. O
processo de acumulação do capital gera desigualdade social e crescimento
desenfreado da pobreza.

Se por um lado, o Estado é liberal, prega uma economia livre, onde se promove uma
pseudo ascensão entre as classes, por outro, a condição do trabalhador é vexatória, o
lucro proveniente do produto gerado é acumulado pelo detentor dos meios de
produção, o empresariado. Já que nem todos os homens conseguem se apropriar do
capital, há uma necessidade do Estado em atuar por meio de políticas públicas.

Adam Smith4 do ponto de vista da economia, no que se refere a livre concorrência,


aponta que uma “mão invisível” orienta as decisões econômicas, não havendo
necessidade de atuação do Estado. O mercado seria, portanto, o regulador das
decisões da economia de uma nação e traria benefícios para a coletividade, este é,
portanto, o princípio do liberalismo que defende entre outras coisas, o predomínio da

4 Adam Smith (1723-1790), economista e filósofo social do iluminismo, pai da Economia Moderna e precursor de
teorias, entre as quais, a do crescimento econômico, a da mão invisível do mercado.
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liberdade e competitividade; a manutenção de um Estado mínimo, e, portanto, do


ponto de vista crítico, a naturalização da miséria.

No Brasil, o acentuado empobrecimento da população gera inúmeras expressões da


questão social. A sociedade civil organizada cobra do Estado, respostas às demandas
não satisfeitas pelo trabalho. A título de história, e conforme veremos no bloco sobre a
Previdência Social, em meados do século XIX trabalhadores se organizaram e criaram
caixas de poupança e previdência para alguns horários para promover pressão através
de um movimento operário.

Cabe lembrar que o auge do capitalismo ocorreu no século XIX, com a força das
potências econômicas. Neste período ocorreu a revolução industrial, o que deu à
classe operária melhores condições, mas também desenvolveu um capitalismo cada
vez mais selvagem. Neste período iniciam-se as conquistas pela classe operária inglesa
e ocorrem algumas lutas por parte do proletariado.

Mais um dado interessante, de 1883 a 1914 todos os países europeus implantaram um


sistema estatal de compensação de renda para os trabalhadores, na forma de seguro.
Nesta mesma época, 11 dos 13 países europeus introduziram seguro-saúde e nove
legislaram sobre pensão aos idosos, talvez um esboço de aposentadoria ou
previdência. Em 1920, 9 países tinham alguma forma de proteção ao desempregado,
podemos considerar o início da proteção social?

É preciso mencionar que na segunda metade do século XIX e início do século XXI, dois
fatores importantes marcaram o início das mudanças no cenário político-econômico: o
primeiro é o crescimento do movimento operário e o segundo é a concentração e
monopolização do capital. Esses dois fatores foram preponderantes para a competição
entre os países pelo acúmulo de capital, repercutindo em duas guerras mundiais.

A crise de 1929 deixou grandes marcas no capitalismo, tendo consequente número de


desempregados, redução da escala de produção antes desenfreada, entre outras
consequências. Nos Estados Unidos, por exemplo, implantaram um programa com
grandes obras públicas de infraestrutura, salário mínimo, assistência aos
trabalhadores, concessão de empréstimos, etc. Perceba que existia nesta ação
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americana, não uma bondade genuína, mas uma tentativa de retomar o crescimento
econômico.

No Brasil, o processo ocorreu de forma lenta, mas a nossa economia teve reflexos da
“Grande Recessão de 1929”. O Estado de São Paulo assumia nesse período, a liderança
da economia brasileira, pois exportava café para os EUA. Com a crise financeira
americana e a ausência de exportações a economia brasileira também entra em
colapso

Na Era Vargas, com a Constituição de 1934 ocorre a supressão dos direitos políticos e o
esboço de políticas assistencialistas. Em um segundo momento da Era Vargas, temos a
supressão dos direitos políticos e individuais e mudanças importantes no
relacionamento com os trabalhadores. Cria-se também órgãos de apoio e fiscalização
das relações de trabalho, como o Ministério do Trabalho.

Com a constituição de 1946, se prevê a democratização do país. Neste contexto, foram


reestabelecidos os direitos fundamentais do homem nos artigos 129 a 144. Com a
constituição de 1967, no governo militar, os direitos dos cidadãos eram ignorados.
Com a constituição de 1988, uma nova era se apresentava no campo dos direitos,
colocando o país rumo à democracia, com avanços importantes no que se refere a
Proteção Social.

O Brasil passou por um período chamado “o milagre brasileiro”. A este período se


atribuiu a expansão econômica e social que ocorreu durante a Ditadura Militar,
intensificando a produção em massa, especialmente na fabricação de
eletrodomésticos e automóveis. No entanto, logo após o milagre da expansão
econômica, veio a década perdida, o fim do período de crescimento, culminando com
as eleições diretas no Brasil em 1989.

O chamado “milagre econômico” ocorreu de 1968 a 1973 com o amplo crescimento do


PIB (Produto Interno Bruto), produção de bens duráveis e de bem de capital, além de
entrada de capital estrangeiro. Esse período merece destaque devido a entrada das
multinacionais no país. Além de matéria-prima abundante e mão de obra barata, não
se investia no trabalhador. Neste período incentivou-se a industrialização, entretanto
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sem planejamento social, o que acirrou as desigualdades sociais que já existiam no


país.

A crise econômica circulava pelo mundo e também pelo Brasil. Neste período as
classes trabalhadoras, especialmente do Estado de São Paulo, promoveram grandes
manifestações, culminando com algumas reformas, uma resposta ao descontrole social
que já apontava no cenário paulista. Neste período, entre as ações dos militares
destacamos a previdência social, o direito a remuneração frente a um acidente de
trabalho e renda para idosos pobres, um esboço, talvez, do Benefício de Prestação
Continuada.

Em 1974 sinais de esgotamento surgem, em decorrência da economia internacional


restringir os fluxos de capital para o país. Nos anos seguintes, o regime militar entra
aos poucos em colapso, dando abertura para a democracia. Destaca-se neste contexto
os altos índices inflacionários, de 91,2% em 1982 para 217% em 1985, tendo como
consequência o empobrecimento generalizado em toda a América Latina, a crise nos
serviços públicos, o desemprego, etc.

Em 1989 ocorreu a primeira eleição para presidente da república por meio de eleições
diretas. Na oportunidade, o conceito de seguridade social adentra o cenário público a
partir da Constituição de 1988, fruto de mobilização da sociedade civil organizada e as
políticas de previdência, saúde e assistência social passa a ganhar corpo.

Conclusão

No decorrer deste bloco conceituamos o Estado de Bem Estar Social na Europa e nos
Estados Unidos da América e apresentamos as principais características das políticas
públicas e sociais, imprescindíveis para a atuação do Assistente Social. Refletimos que
do cidadão aos seus direitos permite modificar a condição de vulnerabilidade e risco.
Para efeitos jurídicos, utilizamos a Constituição de 1988 como referência e marco legal
do tripé da seguridade.

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Essa etapa de aprendizagem apresentou a história das políticas sociais e sua


identificação com o Welfare State, bem como a sua importância no século XIX. Discutiu
a contradição entre Estado neoliberal e política social perpassando pela sua formação
histórica no Brasil a partir das configurações do sistema capitalista neoliberal.

Referências

ENGELS, Friedrich; MARX, Karl. Manifesto Comunista. 1.ed. São Paulo: Boitempo,
1998.

PEREIRA, Potyara A.P. Política Social: temas e questões. São Paulo: Cortez, 2008.

SMITH, A. A Riqueza das Nações: Investigação sobre sua natureza e suas causas. São
Paulo: Abril Cultural, 1982.

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2 A POLÍTICA DE PREVIDÊNCIA SOCIAL

Apresentação

Contribuição previdenciária, aposentadoria, segurados e dependentes, auxílio doença,


pensão por morte, caixas de pensão, Instituto Nacional de Previdência Social – INSS
entre tantos outros termos que utilizamos diariamente remontam a uma das políticas
públicas brasileiras mais antigas.

Nesse bloco, iniciaremos nossa trajetória de estudo sobre a Política de Previdência


Social, contextualizando sua origem a partir das requisições do trabalho e do
trabalhador; abordaremos o direito previdenciário como fundamental para a proteção
do trabalhador brasileiro e apresentaremos as condições necessárias do segurado e
seus dependentes.

2.1. Os antecedentes históricos da Previdência Social no Brasil

A Política de Previdência Social guarda uma estreita relação com a estrutura e


conjuntura de cada momento histórico da sociedade brasileira, é preciso considerar a
correlação de forças que se estabeleceu nesse contexto: de um lado tínhamos as
necessidades de direitos trabalhistas, sociais, de outro, pulsavam as necessidades de
manutenção do capital.

Inúmeras mudanças conceituais e estruturais modificaram o grau de cobertura, os


benefícios ofertados, a forma de contribuição e respectivo financiamento do sistema.
Você pode se apropriar de cada momento importante da história da Previdência Social
no Brasil no link abaixo:

SAIBA MAIS:

http://www.previdencia.gov.br/acesso-a-informacao/institucional/historico/

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Inicialmente, cabe considerar que as leis e políticas públicas respondem a contextos


sociais e econômicos. Na década de 1920 a expectativa de vida do brasileiro era de 33
anos e a população urbana era em torno de 10%, pouco mais de 1,7 milhões de
pessoas. No ano de 1940, a expectativa de vida ao nascer era de 45 anos.

Fatores como expectativa de vida, condições socioeconômicas, condições de trabalho,


população urbana e rural e é claro, as consequências das guerras mundiais que
assolaram o mundo com pobreza e miséria pressionavam por legislações que
garantissem o mínimo de acesso a classe trabalhadora, e que de alguma forma,
promovessem a manutenção do capital.

Uma das primeiras legislações previdenciárias, que podemos destacar, foi a Lei Eloy
Chaves, de 1923, que estabelecia a criação de uma Caixa de Aposentadoria e Pensão
(CAP), com direito a assistência médica, aposentadoria e pensões para os ferroviários e
seus dependentes.

Posteriormente a Lei Eloy Chaves, abriu-se o precedente para que o benefício fosse
estendido para outros setores como os portuários, telegráficos, servidores públicos e
mineradores. As caixas de aposentadoria, espécie de seguro social estruturado pelas
empresas e posteriormente unificado na Caixa Geral instituíram o direito de
estabilidade no emprego após dez anos de trabalho, como forma de garantir receita
previdenciária para o pagamento dos benefícios.

No ano de 1930 com o governo de Getúlio Vargas, as CAPS foram transformadas em


Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPS) e os critérios para filiação e acesso aos
benefícios passaram a obedecer às categorias profissionais.

No ano de 1934 a nova Constituição estabeleceu alterações no sistema de arrecadação


implantando o custeio para três atores, onde a contribuição para os fundos de pensão
era subsidiada pelo empregador, pelo empregado e pelo Estado.

Nas décadas que se sucederam, inúmeros decretos-lei foram prescritos, legislando,


entre outros temas, sobre seguros de velhice, de invalidez e de vida para os casos de
acidente de trabalho e sobre o valor das aposentadorias e pensões.

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Legislações próprias foram criadas para os servidores públicos, em especial do Estado,


empregados do setor de transportes e cargas entre outros setores. As legislações que
surgiam passavam a contemplar um perfil de trabalho voltado, em especial, para a
indústria e comércio, resultando nas demandas de cada categoria profissional.

Os IAPS – Institutos de Aposentadoria e Pensão asseguravam as aposentadorias,


pensões, auxílio doença funeral e assistência médica aos filiados, os benefícios
variavam de instituto a instituto. Na década de 50, quanto mais forte fosse a categoria,
mais benefícios possuíam, já o regime privilegiava alguns segmentos em detrimento de
outros.

À medida que os trabalhadores se unificavam por conta da representação sindical e da


própria CLT, exigiu-se uma maior uniformização dos benefícios. Em 1945 cria-se a Lei
Orgânica de Serviços Sociais do Brasil que teve curta duração e pretendia a unificação
administrativa do regime previdenciário.

No ano de 1954 institui-se o Regulamento Geral dos IAPs, uniformizando benefícios


básicos, sob os quais se formou a Lei Orgânica da Previdência Social, a LOPS, Lei Nº.
3807, de 26/08/1960, no final do governo de Juscelino Kubitschek, fase de expansão e
desenvolvimento econômico brasileiro.

Até 1966 o sistema dos IAPs vigorou por filiação de categorias profissionais. Posterior a
esse período, os militares unificaram o sistema, criando-se o INPS - Instituto Nacional
de Previdência Social, administrado pelo Estado. Com a administração estatal
estabelecem-se convênios, para atendimentos que tem por base a medicina
previdenciária.

Neste novo contexto, destitui-se o poder dos sindicatos e a participação direta de


empresas e trabalhadores, os benefícios passam a ter o seu valor, calculado direto da
média dos salários; estabelece-se o mínimo de contribuições mensais, sessenta (60)
para aposentadoria por incapacidade total, acidentes de trabalho são incorporados à
previdência, entre outras.

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No ano de 1971, incluem-se os trabalhadores rurais na Previdência Social e em 1972


domésticos e autônomos integram o sistema; posteriormente, há avanços para idosos,
pessoas com deficiência e inclui-se o salário maternidade. No entanto, normas de
higiene e segurança do trabalho, a extinção da estabilidade substituída pelo FGTS e o
arrocho salarial prepararam o milagre econômico do período JK que conta com
alteração substancial da LOPS.

2.2. A Lei Orgânica da Previdência Social

A previdência social tem seu marco inicial, no Brasil, com a Lei Nº. 3397/1988, que
autoriza o governo a abrir “caixas de socorros” para os trabalhadores das estradas de
ferro. As mudanças na demografia, no perfil da população evidenciadas na década de
1950 e 1960 evidenciaram a necessidade de uma nova legislação de amparo ao
trabalhador.

A Lei Orgânica de Previdência Social, promulgada em agosto de 1960, durante o


governo de Juscelino Kubistchek, contemplava todos os que exercem emprego ou
atividade remunerada no território nacional. Cabe considerar que a Previdência Social,
neste contexto, passou a ser política pública de caráter contributivo. A Lei, embora
abrangente, no que diz respeito aos trabalhadores urbanos, excluía os trabalhadores
rurais e os domésticos.

Com a Constituinte de 1988 a Previdência Social passa a integrar o tripé da seguridade


social, tendo por função garantir a proteção social ao povo brasileiro, conforme:

Título VIII – Da Ordem Social – Capítulo I – Disposição Geral

Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o
bem-estar e a justiça social.

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa


dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à
saúde, à previdência e à assistência social.

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Desde a década de 70 são percebidas crises no âmbito do sistema econômico


capitalista, algumas dessas crises se acentuam na década de 1990 com o auge do
neoliberalismo econômico, desencadeando mudanças estruturais, tecnológicas,
produtivas e organizacionais que repercutem na organização do mercado de trabalho,
desencadeando “arrocho salarial” e desregulamentação afetando diretamente o
financiamento da Política Pública.

Cabe considerar que a Previdência se organizava, desde a criação dos IAPS até os dias
atuais a partir de um sistema conhecido como “Pacto das Gerações”, que consistia na
mútua solidariedade entre as gerações, a grosso modo, os benefícios de uma geração
são garantidos pela contribuição da geração seguinte.

Com a desregulamentação do trabalho, e o crescente trabalho informal e formas


flexíveis de contratação, há que se considerar uma fragilidade no “pacto das
gerações”, corroborando com os discursos políticos e governamentais de déficit e falta
de recursos para a manutenção do benefício às gerações futuras.

De acordo com o IBGE, na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua


(PNAD), os dados apontam que o país teve, em média, 91,8 milhões de trabalhadores
ocupados em 2019. Deste total, 32,9 milhões não tinham carteira assinada. Na
comparação com 2014, o país perdeu 3,7 milhões de postos formais, uma redução de
10,1% em quatro anos segundo a pesquisa. Já o número de trabalhadores sem carteira
assinada saltou de 10,4 milhões em 2014 para 11,2 milhões em 2018, uma alta de 7,8%
no período.

Em Salvador (2010) vemos que a Previdência Social, regida pela lógica do seguro social,
é a forma encontrada pelo capitalismo para garantir o mínimo de segurança social aos
trabalhadores “não proprietários”, ou seja, àqueles que só dispõem de sua força de
trabalho para viver. Mas essa lógica só se materializa se os trabalhadores estiverem
inseridos em relações de trabalho estáveis que assegurem o acesso aos direitos
previdenciários. Para os trabalhadores excluídos do acesso ao emprego e para aqueles
que não contribuíram para a Previdência se estabelece uma clivagem social: eles não
têm proteção previdenciária porque não contribuem e não tem acesso à assistência

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,

social porque é reservada aos pobres “incapacitados” de exercer uma atividade


laborativa (idosos, crianças e pessoas portadoras de deficiência).

A ausência de vínculo empregatício demonstra uma crise no mercado, e a


informalidade por sua vez, não garante salário compatível com o mercado, garantias
sociais, tais como, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e direito aos
seguros e auxílios previdenciários (seguro desemprego, auxílio doença) são postos em
xeque nesse cenário.

É necessário considerar que o reconhecimento dos direitos vinculados e derivados do


trabalho e organizados pela Previdência Social foi uma demanda imposta pelo
capitalismo, em decorrência de organização e reinvindicação de melhores condições
de trabalho por categorias profissionais. Desta forma, a Previdência responde
inicialmente, ao processo de industrialização e posteriormente, às necessidades de
trabalhadores, entre esses, trabalhadores rurais e domésticos.

2.3. Segurados e Dependentes da Previdência Social

Agora que contextualizamos a origem da Previdência Social a partir das requisições do


mercado de trabalho e compreendemos a formulação da LOPS – Lei Orgânica da
Previdência Social, vamos nos aprofundar acerca da condição de segurados e
dependentes da Previdência Social para no bloco posterior, compreendermos os
benefícios e auxílios previstos e disponíveis.

A Previdência Social é política pública contributiva e todo trabalhador que contribui


mensalmente é chamado de segurado e tem direito aos benefícios e serviços
oferecidos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), há seis modalidades de
segurado:

1. Empregado - são aqueles trabalhadores que têm carteira assinada, que prestam
serviço constante na empresa e recebem salário, trabalhadores temporários,
diretores-empregados, quem tem mandato eletivo, quem presta serviço a órgãos
públicos, cargos em comissão em geral, quem trabalha em empresas nacionais

19
,

instaladas no exterior, multinacionais que funcionam no Brasil, organismos


internacionais e missões diplomáticas instaladas no País. Não estão nessa categoria os
empregados vinculados a regimes próprios, como servidores públicos.

2. Empregado doméstico - são os trabalhadores com carteira assinada e que


prestam seu serviço na casa de uma pessoa ou família, que não desenvolvem atividade
lucrativa. Nessa categoria estão os domésticos, governantas, jardineiro, caseiro,
motoristas, mordomos, etc. Esses trabalhadores devem estar inscritos junto à
Previdência Social.

3. Trabalhador avulso - são aqueles que prestam serviços a diversas empresas,


sem vínculo de emprego, e que são contratados por sindicatos e órgãos gestores de
mão de obra, como estivador, amarrador de embarcações, ensacador de cacau, etc. O
trabalhador deve possuir cadastro e registro no sindicato ou órgão gestor de mão de
obra.

4. Contribuinte individual - são aquelas pessoas que trabalham por conta própria,
que não têm vínculo empregatício como empresário, autônomo, comerciante
ambulante, feirante, etc. O trabalhador deve obrigatoriamente se inscrever e pagar
mensalmente as contribuições ao órgão responsável pela arrecadação.

5. Segurado especial - são os trabalhadores rurais e os pescadores artesanais que


produzem individualmente ou em regime de economia familiar, e não utilizam
empregados para essas atividades. Ao segurado especial é exigida a comprovação do
exercício de atividade rural.

6. Segurado Facultativo - são todos aqueles trabalhadores que, maiores de 16


anos, não exercem atividade remunerada, mas decidem contribuir para a Previdência
Social, como as donas-de-casa, estudantes, síndicos de condomínios não remunerados,
etc. O segurado facultativo deve se inscrever e pagar mensalmente as contribuições
por meio da GPS.

20
,

Conclusão

Neste bloco, observamos a construção da política pública de Previdência Social, sua


gênese demandada pelas necessidades do mercado de trabalho, e posteriormente,
pela garantia de benefícios e auxílios à classe trabalhadora.

Ao longo desse capítulo, procuramos descrever as importantes mudanças políticas e


econômicas ocorridas no sistema capitalista que alteraram a política pública da
Previdência Social. Apontamos a importância da LOPS, o perfil necessário para que o
trabalhador de forma contributiva tenha acesso aos auxílios e benefícios que integram
a Política.

No Capítulo posterior, nosso objetivo é apresentar os benefícios e prestação de


serviços previdenciários operacionalizados pelo INSS – Instituto Nacional de Serviço
Social e a atuação do assistente social nessa Política.

Referências

ENGELS, Friedrich. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra: Segundo as


observações do autor e fontes autênticas. São Paulo: Boitempo, 2015.

SALVADOR, Evilasio. Fundo Público e Seguridade Social no Brasil. São Paulo: Cortez,
2010.

SILVEIRA, Daniel. Brasil tem recorde de trabalhadores sem carteira assinada, mostra
IBGE. G1 – Economia. 31 jan. 2019. Disponível em:
<https://g1.globo.com/economia/concursos-e-emprego/noticia/2019/01/31/brasil-
tem-recorde-de-trabalhadores-sem-carteira-assinada-mostra-ibge.ghtml>. Acesso em:
7 abr. 2020.

21
,

3 BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS

Apresentação

Justiça previdenciária, aposentadoria por idade, auxílio doença, pensão por morte,
auxílio reclusão, aposentadoria por tempo de contribuição, salário maternidade,
segurado, dependente e contribuição são termos utilizados com frequência no âmbito
da Política de Previdência Social.

Nesse bloco, apresentaremos uma série de seguros, benefícios e prestação de serviços


previdenciários, explicaremos as diversas modalidades de seguros, compreenderemos
os fluxos da Justiça Previdenciária e por fim, perceberemos que no âmbito da
Previdência Social, as aquisições são diferenciadas, a exemplo, os direitos dos
empregados domésticos são diferenciados do segurado de carteira assinada.

3.1. Benefício e Prestação de Serviços Previdenciários

A Previdência Social é uma instituição pública, de seguro social, cuja função é a


garantia de renda para os trabalhadores filiados, ou seja, para os trabalhadores que
contribuem para o sistema e que de alguma forma estão na condição de segurado.

Os benefícios e serviços destinam-se aos trabalhadores associados que perderam de


forma parcial ou total a capacidade para o trabalho, seja por motivo de doença,
invalidez, velhice, morte ou desemprego involuntário. Alguns benefícios decorrem da
condição da maternidade, e consequente necessidade de amamentação e cuidado do
bebê após o parto.

Para estar na condição de segurado do INSS - Instituto Nacional de Seguridade Social, o


trabalhador deve contribuir mensalmente com uma quantia que varia de acordo com
tipo de trabalho que cada um desenvolve. A política pública oferta dez (10)
modalidades de benefício, para além da aposentadoria.

22
,

3.1.1. Benefícios Previdenciários

1. Aposentadoria por idade


O benefício é devido ao cidadão que comprovar o mínimo de 180 contribuições,
além da idade mínima de 65 anos, se homem, ou 60 anos, se mulher.

2. Aposentadoria por invalidez


A aposentadoria por invalidez é um benefício devido ao trabalhador
permanentemente incapaz de exercer qualquer atividade laborativa e que também
não possa ser reabilitado em outra profissão, de acordo com a avaliação da perícia
médica do INSS.

O benefício é pago enquanto persistir a invalidez e o segurado pode ser reavaliado


pelo INSS a cada dois anos.

3. Aposentadoria por Tempo de Contribuição


O benefício é devido ao cidadão que comprovar o tempo total de 35 anos de
contribuição, se homem, ou 30 anos de contribuição, se mulher.

A Reforma da Previdência, proposta pela PEC 6/2019 e transformada na Emenda


Constitucional 103/2019, mudou as regras das aposentadorias, criando o fator
previdenciário, índice usado nas aposentadorias por tempo de contribuição para
reduzir o benefício de quem se aposenta.

Existem três regras para concessão desse benefício.

SAIBA MAIS:

Disponível em: <https://www.inss.gov.br/beneficios/aposentadoria-por-tempo-de-


contribuicao/>. Acesso em: 8 abr. 2020.

A aposentadoria por tempo de contribuição é irreversível e irrenunciável. O


trabalhador não precisa sair do emprego para requerer o benefício ao INSS.

4. Aposentadoria Especial

23
,

O benefício é concedido ao cidadão que trabalha exposto a agentes nocivos à


saúde, como calor ou ruído, de forma contínua e ininterrupta, em níveis de
exposição acima dos limites estabelecidos em legislação própria.

É possível aposentar-se após cumprir 25, 20 ou 15 anos de contribuição, conforme


o agente nocivo.

5. Auxílio Doença
O auxílio-doença é um benefício concedido ao segurado impedido de trabalhar por
doença ou acidente por mais de 15 dias consecutivos. O beneficiário deve
comprovar a sua incapacidade por meio de perícia médica. Para ter direito ao
benefício, o trabalhador tem de contribuir para a Previdência Social por, no
mínimo, 12 meses.

6. Auxílio Reclusão
O benefício é pago apenas aos dependentes do segurado do INSS durante o
período de reclusão ou detenção, devido apenas aos dependentes do segurado
preso em regime fechado, durante o período de reclusão ou detenção. O segurado
não pode estar recebendo salário, nem outro benefício do INSS.

Para que os dependentes tenham direito, é necessário que a média dos salários de
contribuição apurados no período de 12 meses anteriores ao mês do recolhimento
à prisão (ou seja, nos 12 meses antes de ser preso) esteja dentro do limite previsto
pela legislação.

Para ter direito, é necessário que o segurado tenha contribuído por pelo menos 24
meses, ou seja, tenha realizado 24 contribuições, antes de ser preso, para que sua
família possa então ter direito ao benefício do auxílio-reclusão.

7. Pensão por Morte


O benefício é pago aos dependentes do segurado que falecer ou, em caso de
desaparecimento, tiver sua morte declarada judicialmente.

É destinado aos dependentes (cônjuge, companheiro, filhos e enteados menores


de 21 anos ou inválidos, desde que não tenham se emancipado; pais; irmãos não

24
,

emancipados, menores de 21 anos ou inválidos) de beneficiário que era


aposentado ou trabalhador que exercia sua atividade no perímetro urbano.

Para a concessão de pensão por morte, não há tempo mínimo de contribuição, mas
é necessário que o óbito tenha ocorrido enquanto o trabalhador estava na
qualidade de segurado.

8. Salário Maternidade
O benefício é devido a pessoa que se afasta de sua atividade por motivo de
nascimento de filho, aborto não criminoso, adoção ou guarda judicial para fins de
adoção. Cabe à empresa pagar o salário maternidade devido à empregada
gestante.

9. Salário Família
O benefício é pago ao empregado de baixa renda, inclusive o doméstico, e ao
trabalhador avulso, de acordo com o número de filhos ou equiparados que possua.
Filhos maiores de 14 anos não têm direito, exceto no caso dos inválidos (para
quem não há limite de idade).

Para ter direito, o cidadão precisa enquadrar-se no limite máximo de renda


estipulado pelo governo federal (confira a tabela com o valor do benefício):

PERÍODO FAIXA 1 (em R$) FAIXA 2 (em R$) NORMATIVO

de 907,77 a
A partir de Até 907,77 cota Portaria MF n° 9,
1.364,43 cota
1º/01/2019 46,54 de 15/01/2019
32,80

Caso o valor da remuneração mensal ultrapasse a faixa máxima, o trabalhador não


terá direito ao salário-família.

25
,

O empregado, inclusive o doméstico, deve requerer o salário-família diretamente


ao empregador. Já o trabalhador avulso deve requerer o benefício ao sindicato ou
órgão gestor de mão-de-obra ao qual está vinculado.

10. Benefício Assistencial ao Idoso e a Pessoa com Deficiência


O Benefício de Prestação Continuada (BPC) da Lei Orgânica da Assistência Social
(LOAS) é a garantia de um salário mínimo mensal à pessoa com mais de 65 anos e
pessoas com deficiência que não possuem renda suficiente para manter a si e sua
família, conforme os critérios definidos na legislação.

Além de comprovar a idade mínima, e a condição de incapacidade para o mercado


de trabalho em decorrência da deficiência, para ter direito ao benefício é
necessário que a renda por pessoa do grupo familiar seja inferior a 1/4 do salário-
mínimo.

Por se tratar de um benefício assistencial, não é necessário ter contribuído para o


INSS para ter direito a ele. O benefício não paga 13º salário e não deixa pensão por
morte.

3.1.2. Os dependentes dos segurados da Previdência Social

Os dependentes dos segurados da Previdência Social estão divididos em três


categorias ou grupos:

a) Cônjuge, companheiro (a) e filhos menores de 21 anos que não estejam


emancipados ou que estejam na condição de invalidez para o mercado de
trabalho;
b) Pais;
c) Irmãos com menos de 21 anos, não emancipados ou inválidos, enteados ou
menores de 21 anos que estejam sob a tutela do segurado e que não tenham
condições de prover o próprio sustento.
Cabe destacar que se presume a dependência econômica de cônjuges,
companheiros e filhos, podendo-se utilizar a declaração de Imposto de Renda para
verificação da dependência econômica.

26
,

Para fins de benefício, para ser considerado companheiro é necessário comprovar


a união estável com o segurado (a).

Casais homoafetivos, de acordo com a Ação Civil Nº. 2000.71.00.009347-0


determinada que o companheiro (a) terá direito a pensão por morte e auxílio
reclusão. Importante salientar, que havendo dependentes de uma classe /
categoria, exclui-se o direito ao benefício das demais classes.

3.2. Serviços

Para além dos benefícios previdenciários, o INSS oferece inúmeros serviços,


disponíveis no site da Previdência e por acesso por meio do agendamento no número
135:

• Requerimentos: Auxílio-doença /Perícia Médica; Pensão por Morte / Salário


Maternidade;
• Consultas às Perícias Agendadas; Marcação de Exame Médico Pericial para fins
de reexame de Auxílio-Doença; Requerimento do Pedido de Prorrogação e
Reconsideração;
• Extrato de Empréstimo Consignado;
• Andamento de processos: processos de concessão inicial de benefícios;
processos de revisão de benefícios; decisões de Câmaras e Juntas de Recursos
da Previdência Social;
• Consulta de perícia médica agendada;
• Censo previdenciário;
• Consulta de situação de benefício;
• Consulta à inscrição do trabalhador (PREVCidadão);
• Extrato de Pagamento de Benefícios e para fins de Imposto de Renda;
• Documentos e formulários necessários para requerer benefícios;
• Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP);
• Precatórios;

27
,

• Cópia de Processo, entre outros.



3.3. Contribuição para a Previdência Social

O segurado para ter acesso aos benefícios e serviços deve contribuir mensalmente
para a Previdência Social.

a) Empregado, Empregado Doméstico e Trabalhador Avulso

Tabela para Empregado, Empregado Doméstico e Trabalhador Avulso 2019

Salário de Contribuição (R$) Alíquota

Até R$ 1.751,81 8%

De R$ 1.751,82 a R$ 2.919,72 9%

De R$ 2.919,73 até R$ 5.839,45 11%

Fonte: INSS.GOV disponível em: <https://www.inss.gov.br/servicos-do-inss/calculo-da-guia-da-


previdencia-social-gps/tabela-de-contribuicao-mensal/>. Acesso em: 09 fev. 2020.

b) Contribuinte Individual e Facultativo

Tabela para Contribuinte Individual e Facultativo 2019

Salário de
Contribuição Alíquota Valor
(R$)

28
,

Tabela para Contribuinte Individual e Facultativo 2019

5% (não dá direito a
Aposentadoria por Tempo de
R$ 998,00 R$ 49,90
Contribuição e Certidão de
Tempo de Contribuição)*

11% (não dá direito a


Aposentadoria por Tempo de
R$ 998,00 R$ 109,78
Contribuição e Certidão de
Tempo de Contribuição)**

Entre R$ 199,60
R$ 998,00 até (salário mínimo)
20%
R$ 5.839,45 e R$ 1.167,89
(teto)

Disponível em: <https://www.inss.gov.br/servicos-do-inss/calculo-da-guia-da-previdencia-social-


gps/tabela-de-contribuicao-mensal/>. Acesso em: 09 fev. 2020.

Se o segurado possuir mais de um vínculo empregatício, as remunerações devem


ser somadas, respeitando-se o limite máximo de contribuição.

c) Segurado Especial
No quadro abaixo, pode ser conferido qual a carência mínima, em número de
meses, exigida pelo INSS para que o cidadão tenha direito de receber um benefício.

29
,

Carência (em
Benefício
meses)

Aposentadorias (por Idade, Tempo de Contribuição, Professor,


Especial, Idade ou Tempo de Contribuição do Portador de 180
Deficiência)

Pensão por Morte e Auxílio-reclusão (se o cidadão não estiver


recebendo auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez)
não há *
* Observação: a duração do benefício pode variar conforme a
quantidade de contribuições do instituidor entre outros fatores.

Auxílio-doença / Aposentadoria por invalidez 12

Salário-maternidade (Contribuinte Individual, Facultativo,


10
Segurado Especial)

Salário-maternidade (Trabalhadora Avulsa, Empregada, não há

30
,

Carência (em
Benefício
meses)

Empregada Doméstica)

Fonte: Disponível em: <https://www.inss.gov.br/orientacoes/carencia/>. Acesso em: 09 fev. 2020.

3.3.1 Os empregados Domésticos

Os direitos do empregado doméstico estão assegurados na Constituição Federal do


Brasil (1988) no art. 7º. e na Lei Nº. 5859, de 11 de dezembro de 1972, que dispõe
sobre a profissão do empregado doméstico, em seu art. 4º: “Aos empregados
domésticos são assegurados os benefícios e serviços da Lei Orgânica da Previdência
Social na qualidade de segurados obrigatórios”.

O empregado doméstico contribui de forma diferenciada para a Previdência Social.


O empregador recolhe a sua parte e do empregado a Previdência Social, por meio
do GPS – Guia da Previdência Social. Depois de assinada a carteira, o empregador
deve fazer o registro do empregado na Previdência Social.

Conclusão

Neste bloco, reconhecemos os benefícios e serviços acessados pela Previdência,


compreendemos a condição do segurado e seus dependentes, as contribuições,
alíquotas e carência necessária para solicitação de benefício e as modificações da
Lei Nº. 5859, de 11 de dezembro de 1972, incluídas pela Lei nº 11.324, de 2006 que
nos dias de hoje traz desdobramentos para o Empregado Doméstico e merece
atenção do Serviço Social.

31
,

Referências

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Lei Nº. 5859, de 11 de


dezembro de 1972. Dispõe sobre a profissão de empregado doméstico e dá outras
providências. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/35837/empregado-
domestico/4>. Acesso em: 8 abr. 2020.

32
,

4 A POLÍTICA DE SAÚDE

Apresentação

Reforma sanitária, doenças infectocontagiosas, Sistema Único de Saúde, Programa


Saúde da Família, a divisão do SUS em atenção básica, secundária, terciária e
quaternária; plano de saúde e saúde suplementar são conceitos importantes para a
compreensão da Política de Saúde no Brasil.

A reforma sanitária se inicia no Brasil na década de 50, simultaneamente ocorre a


expansão da saúde particular, com a inauguração dos Hospitais Albert Einstein, Sírio
Libanês, Beneficência Portuguesa e São Luís. Anterior a esse período, contava-se com a
filantropia dos hospitais administrados por congregações religiosas.

O financiamento da saúde inicia-se na década de 70, em resposta aos movimentos


sociais e à proposta de reforma sanitária, mais tarde, com a Constituição de 1988 a
Saúde passa a compor o tripé da seguridade social.

Em 1995 o Banco Mundial lança uma cartilha com orientações para a Saúde, mas a
mercantilização da política se intensifica em 1996, com FHC, introduzindo OS –
Organizações de Saúde e novas formas de gestão para a saúde pública.

Nesse bloco, o objetivo é apresentar o SUS – Sistema Único de Saúde, a partir da Lei
Nº. 8.080/90; o movimento de Reforma Sanitária no Brasil; a saúde enquanto política
de seguridade social; as diretrizes e estratégias fundamentais do SUS no contexto
brasileiro, bem como, o trabalho do assistente social na Política de Saúde.

4.1. A Reforma Sanitária

A 8º Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, no período da Nova República


marca o momento em que as mudanças ganham contornos claros, ao ampliar os
atores envolvidos e explicitar em seu relatório as diretrizes para a reorganização do

33
,

sistema de saúde, separando a saúde da previdência, através de uma ampla Reforma


Sanitária.

As plenárias da 8ª CNS contaram com a participação efetiva das instituições que


atuavam na saúde, representantes da sociedade civil, grupos de profissionais e
partidos políticos. Verificou-se na ocasião, que o modelo de organização do setor
público de saúde não contava com uma gestão efetiva, eficiente e eficaz.

As desigualdades sociais existentes na época limitavam o desenvolvimento de um nível


satisfatório de saúde e de uma organização de serviços. O reconhecimento da
ineficácia do modelo repercutiu na criação de um sistema em que predominavam os
interesses de empresários da área médico-hospitalar.

A política de saúde vigente atendia a interesses divergentes dos usuários dos serviços,
sendo influenciado pela ação de grupos dedicados à mercantilização da saúde. O
modelo adotado nesse contexto se configurava como excludente, discriminatório e
centralizador.

Na 8º. Conferência, a discussão girava em torno da saúde enquanto direito,


reformulação do Sistema Nacional de Saúde e financiamento da política.

Dentre os principais aspectos discutidos na 8ª CNS, destacam-se:

✓ Saúde como direito de todos e dever do Estado;

✓ Equidade e integralidade das ações de saúde;

✓ Separação da Saúde da Previdência;

✓ Sistema público com comando único;

✓ Conceito abrangente de saúde, levando em conta condições de habitação,


alimentação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, educação, emprego,
lazer, liberdade, acesso a posse de terra e aos serviços de saúde;

✓ Política de financiamento do setor saúde.

34
,

A proposta de Reforma Sanitária se fortalece a partir da instituição da Assembleia


Nacional Constituinte, que por sua vez, endossa a importância de condições de
existência digna a todas as pessoas, bem como, a necessidade de estímulo da
participação da sociedade civil nos núcleos decisórios, e ainda, a disposição de
recursos para o financiamento da política pública, a fim de garantir o fortalecimento
dos estados e municípios.

Em 1987 foi instalada uma Assembleia Nacional e enquanto a estrutura jurídica do


Sistema Único de Saúde era elaborada no processo constituinte, o Sistema Unificado e
Descentralizado de Saúde (SUDS) foi implementado, contemplando a formação dos
conselhos de saúde, a desconcentração de recursos e o aumento da cobertura de
serviços de saúde para a população.

A nova carta constitucional transforma a saúde em direito de cidadania e inicia-se a


criação de um sistema público, universal e descentralizado. Cabe lembrar, que a
concepção do SUS ocorre em um período em que o Brasil se encontrava em grande
instabilidade econômica, altas taxas de inflação, influências de conjuntura
internacional neoliberal que, juntamente com o recuo dos movimentos sociais, traz
sérias dificuldades para a regulamentação dos princípios e diretrizes do sistema.

É possível verificar as contribuições da Conferência, no estabelecimento de objetivos e


nas diretrizes do SUS – Sistema Único de Saúde, Lei Federal Nº. 8080/90, aspectos
abordados no tópico a seguir.

4.2 A Lei Federal Nº. 8080/90

O Sistema Único de Saúde (SUS) é um sistema de saúde pública complexo, resultado


de um processo democrático com forte participação dos movimentos populares. No
SUS a tomada de decisão ocorre por meio da participação de caráter deliberativo,
paritário (50% de usuários do SUS, 25% trabalhadores, 25% gestores).

35
,

O sistema contempla níveis de atenção, abrangendo desde o simples atendimento


para avaliação da pressão arterial (Atenção Primária) até o transplante de órgãos,
garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país.

Conta ainda, com a participação de Conselhos na formulação de políticas públicas de


saúde e no acompanhamento da execução da política. As Conferências de Saúde
ocorrem a cada quatro anos e são organizadas, de forma a garantir que os grupos
discutam temas de interesse coletivo e atual.

O Sistema Único de Saúde foi regulamentado pela Lei Nº. 8.080, de 19 de setembro de
1990; a lei dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e a recuperação da
saúde e sobre a organização e funcionamento dos serviços. Obviamente, a
implantação do sistema não ocorreu de forma uniforme, em decorrência das
características regionais.

A partir do SUS a política de saúde torna-se direito do cidadão e dever do Estado.


Preza-se por atenção integral em oposição aos cuidados assistenciais de outrora. A
saúde passa a compor um direito de todos os brasileiros, desde a gestação e por toda a
vida, com vistas a prevenção e a promoção do bem-estar.

A rede que compõe o SUS é ampla e abrange tanto ações quanto os serviços de saúde.
Engloba atenção primária; de média e alta complexidade; os serviços de urgência e
emergência; atenção hospitalar; ações e serviços das vigilâncias epidemiológica,
sanitária e ambiental e a assistência farmacêutica.

Quanto aos princípios, em destaque:

✓ Universalização: o acesso às ações e serviços deve ser garantido a todas as


pessoas, independentemente de sexo, raça, ocupação ou outras características
sociais ou pessoais. O Estado deve garantir as condições indispensáveis ao seu
pleno exercício e o acesso a atenção e assistência à saúde em todos os níveis de
complexidade;

✓ Equidade: diz respeito à necessidade de se “tratar desigualmente os desiguais”


de modo a alcançar igualdade de oportunidades de sobrevivência, de

36
,

desenvolvimento pessoal e social entre os membros de uma dada sociedade.


Apesar de todas as pessoas possuírem direito aos serviços, as pessoas não são
iguais e, por isso, têm necessidades distintas no atendimento à saúde;

✓ Integralidade: considerar as pessoas como um todo, atendendo as suas amplas


necessidades. Para isso, é importante a integração de ações, incluindo a
promoção da saúde, a prevenção de doenças, o tratamento e a reabilitação. A
integralidade pressupõe a articulação da saúde com outras políticas públicas,
para assegurar uma atuação intersetorial entre as diferentes áreas que tenham
repercussão na saúde e qualidade de vida dos indivíduos.

No que se refere aos objetivos do SUS, conforme o Art. 5º, da referida lei, destacamos:

✓ A identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes da


saúde. Neste aspecto, cabe salientar alimentação, moradia, saneamento
básico, meio ambiente, trabalho, renda, educação, transporte, lazer e acesso
aos bens e serviços essenciais, imprescindíveis para a promoção de saúde da
população;
✓ A formulação de política de saúde destinada aos campos econômico e social;
✓ A assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e
recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das
atividades preventivas.
✓ A execução de ações de vigilância sanitária, de vigilância epidemiológica, de
saúde do trabalhador e de assistência terapêutica integral.

4.3 A Gestão no SUS

No SUS a Gestão implica na transferência de poder de decisão sobre a política de


saúde do nível federal para demais entes federativos, ou seja, estados e municípios.
Esta transferência ocorre a partir da redefinição das funções e responsabilidades de
cada nível de governo com relação à condução político-administrativa do sistema de
saúde em seu respectivo território (nacional, estadual, municipal) e tem por
consequência, o repasse do financiamento público.
37
,

O SUS está sob a gestão dos três entes federativos. No nível federal a gestão é de
responsabilidade do Ministro da Saúde, que determina regras e fluxos que são
referências para todo o Estado brasileiro. No nível estadual e municipal compete a
responsabilidade da gestão ao Secretário de Saúde que deve operacionalizar
localmente a política.

A Política de Saúde oferta ainda, serviços tais, como:

✓ Institutos de Pesquisa;

✓ Institutos de controle e qualidade;

✓ Laboratórios farmacêuticos;

✓ Agências reguladoras;

✓ Laboratórios de análises clínicas;

✓ Serviços (ou equipamentos) de assistência direta à saúde;

✓ Escolas técnicas;

✓ Os serviços privados podem fazer parte do SUS de forma complementar;

✓ Entidades filantrópicas e sem fins lucrativos podem ser parceiras.

E ainda, o Sistema Único de Saúde deve garantir que suas ações e serviços públicos de
saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o SUS sejam
desenvolvidos de acordo com pros seguintes princípios:

I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de


assistência;

II - integralidade de assistência, entendida como um conjunto articulado e


contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos,
exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema;

III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e


moral;
38
,

IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de


qualquer espécie;

V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde;

VI - divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e sua


utilização pelo usuário;

VII - utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a


alocação de recursos e a orientação programática;

VIII - participação da comunidade;

IX - descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera


de governo:

a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios;

b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde;

No que se refere aos modelos de assistência à saúde, é preciso considerar que este, no
Brasil, ainda traz de forma marcante a ação individual e curativa, com ênfase ao
atendimento hospitalar.

No entanto, sabemos que a saúde deve ser pensada a partir de múltiplos fatores, de
ordem social, econômica, política, cultural, biológica, ambiental e até mesmo, fatores
comportamentais. Desta forma, a superar a dimensão clínico-assistencial, para as
questões relativas a saúde-doença, as inúmeras conferências da saúde já
demonstraram a necessidade de se pensar em saúde a partir de critérios mais
abrangentes.

SAIBA MAIS

Se você quer saber mais sobre as Conferências da Saúde Brasil afora, pesquise sobre a
Conferência de Alma-Ata (1978), Conferência de Otawa / Canadá (1986), Conferência
de Adelaide / Austrália (1988), Conferência de Sundsvall / Suécia (1991).

39
,

Destacamos a Conferência da Organização Mundial da Saúde, em Genebra (1992) que


reiterou a importância de ações alternativas para questões de saúde coletiva, questões
vinculadas em sua maioria, ao agravamento da pobreza e da vulnerabilidade.

No socialismo temos a medicina social. No Brasil, marcados por economia liberal,


temos higienismo e saúde preventiva, muitas vezes limitando a saúde a informações,
conhecimentos e hábitos para a manutenção da saúde, trazendo para o indivíduo a
responsabilidade por sua saúde-doença. Até 1960 as práticas de saúde assumiram um
papel conservador, com enfoque ao modelo biomédico.

Por muitos anos, a área da saúde foi a área que mais empregou assistentes sociais,
também influenciada pelas mudanças do conceito de saúde, que outrora não
contemplava os aspectos socioculturais, históricos e econômicos, como já dito.

O Serviço Social na Saúde assumiu um caráter educativo, por meio de ações higienistas
de Educação em Saúde, saneamento e organização da comunidade, sua intervenção
assumiu um caráter moralista, cuja pretensão era organizar, normatizar o modo de
vida da população, a fim de garantir desenvolvimento de comunidades, e também mão
de obra saudável para o mercado de trabalho.

Na década de 60, iniciam-se as reflexões relativas à prática profissional, mas somente


na década de 80 os objetivos da prática profissional assumem outros rumos, a
efervescência da democracia, a própria Constituição de 1988, os estatutos que se
sucederam e a consolidação do SUS produziram uma rearticulação dos discursos e
práticas profissionais.

Conclusão

Neste bloco, compreendemos a Política de Saúde enquanto dever do Estado e direito


do cidadão, a abrangência do seu conceito e sua característica intersetorial, em
contraposição a mercantização da política pública.

40
,

Observamos a construção da Reforma Sanitária e seu nascimento atrelado a interesses


de mercado. E ainda, a persistência do modelo higienista com práticas profissionais
voltadas à individualização das demandas desconsiderando fatores sociais, políticos e
econômicos.

Neste bloco, percebeu-se como desafio a reestruturação das práticas profissionais de


forma a atender em sintonia com o SUS. E ainda, dificuldade de efetivação do sistema,
uma vez que a nossa Constituição prevê emendas, e desta forma, leis, portarias,
decretos e normas operacionais podem ser criadas de forma a limitar o alcance da
política pública de saúde.

Por fim, o bloco promoveu um debate, concluindo que o Interesse político-partidário,


a falta de estrutura de muitos municípios, a ausência de profissionais, a pressão da
saúde privada, a rede de prestação de serviços sucateadas, o subfinanciamento, a
baixa participação social no controle do sistema, a dependência da rede privada que se
intensifica no neoliberalismo e as exaustivas filas de espera para serviços
especializados, entre outros, são empecilhos para uma saúde que atenda às
necessidades de seus usuários.

Referências

AGUIAR, Zenaide Neto. SUS - Sistema Único de Saúde: antecedentes, percurso,


perspectivas e desafios. São Paulo: Martinari, 2011.

BRASIL. Lei Federal Nº. 8080/90 de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as


condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o
funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm>. Acesso em: 8 abr. 2020.

GOHN, M. G. Novas Teorias dos Movimentos Sociais. São Paulo: Loyola, 2008.

_________. Movimentos Sociais e redes de mobilizações civis no Brasil


contemporâneo. Rio de Janeiro: Vozes, 2010.

41
,

SANTOS, B. S. Os novos movimentos sociais. In: Roberto Leher & Mariana Setúbal
(org.). Pensamento Crítico e Movimentos Sociais: Diálogos para uma nova práxis. São
Paulo: Cortez, 2005.

42
,

5 POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

Apresentação

Constituição Federal do Brasil; Seguridade Social; Lei Orgânica da Assistência Social;


Sistema Único de Assistência Social – SUAS; Norma Operacional Básica – NOB;
Benefícios de Prestação Continuada – BPC; são legislações, conquistas que garantem o
acesso aos direitos sociais previstos na Política Pública de Assistência Social.

Nesse bloco, iniciaremos nossa trajetória de estudo sobre a Política de Assistência


Social no Brasil, contextualizando a sua origem a partir do agravamento da questão
social e da atuação das grandes instituições de atendimento aos pobres, em especial,
as instituições religiosas.

No decorrer desse processo, perceberemos que por décadas a Assistência Social era
sinônimo de filantropia, benesse, caridade. E atualmente, a política pública, responde
a um sistema, SUAS, e uma legislação, LOAS, prevista na Constituição Federal de 1988.

Reconhecer a história das políticas sociais no Brasil e a organização e mobilização da


sociedade que levaram às conquistas na área da assistência social nos permite
compreender a Política de Assistência como direito do cidadão, construída a partir de
lutas históricas, e tornando-se campo privilegiado de atuação do assistente social.

5.1. Retrospectiva Histórica da Assistência Social no Brasil

Quando pensamos em Assistência Social, é comum associarmos a programas de


transferência de renda, como o Programa Bolsa Família. Mas, é preciso considerar que
a Assistência Social no Brasil não nasce estruturada, com legislação própria e sistema
de gestão.

43
,

A Constituição Federal de 1988 é um marco importante na consolidação do direito a


assistência social, pois a reconhece como um direito do povo e dever do Estado,
compondo com a Saúde e a Previdência Social, o tripé da seguridade.

Compreender a gênesis, a trajetória da assistência social é perceber as lutas e as


mudanças ocorridas no contexto político brasileiro, decorrentes da manifestação da
sociedade civil e demais atores. A conclusão desse processo de luta foi a aprovação da
Política de Assistência Social no dia 15 e 16 de dezembro de 1998 pelo Conselho
Nacional de Assistência Social – CNAS.

SAIBA MAIS:

O Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS foi instituído pela Lei Orgânica da
Assistência Social – LOAS (Lei 8742, de 07 de dezembro de 1993), como órgão superior
de deliberação colegiada, vinculado à estrutura do órgão da Administração Pública
Federal responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social
(atualmente, o Ministério do Desenvolvimento Social), cujos membros, nomeados pelo
Presidente da República, têm mandato de 2 (dois) anos, permitida uma única
recondução por igual período. As principais competências do Conselho Nacional de
Assistência Social são: aprovar a Política Nacional de Assistência Social; normatizar as
ações e regular a prestação de serviços de natureza pública e privada no campo da
assistência social; zelar pela efetivação do sistema descentralizado e participativo de
assistência social; convocar ordinariamente a Conferência Nacional de Assistência
Social; apreciar e aprovar a proposta orçamentária da Assistência Social a ser
encaminhada pelo órgão da Administração Pública Federal responsável pela
coordenação da Política Nacional de Assistência Social; divulgar, no Diário Oficial da
União, todas as suas decisões, bem como as contas do Fundo Nacional de Assistência
Social (FNAS) e os respectivos pareceres emitidos.

Disponível em: <http://www.mds.gov.br/cnas/sobre-o-cnas/quem-somos-e-como-funcionamos>. Acesso em: 9 abr.


2020.

No que se refere ao histórico da Política de Assistência Social no Brasil é preciso


considerar que as primeiras atuações no “âmbito da assistência” nos remetem a

44
,

caridade cristã, solidariedade, assistencialismo, ajuda aos doentes e necessitados, em


especial, aos vulnerabilizados e não satisfeitos pelo modo de produção capitalista.

As práticas assistencialistas atravessam a humanidade. A caridade e doação


acompanham as instituições religiosas, em especial o Catolicismo, que considera a
caridade como uma das virtudes cristãs, já que demonstra amor filial, amor ao
próximo.

Cabe salientar, que o Serviço Social se propõe a examinar, avaliar a assistência social
nos mais diversos contextos históricos a partir da teoria crítica do materialismo
histórico dialético. Desta forma, a proposta do elemento textual em consonância com
o Curso de Serviço Social e fazer uma abordagem marxista. Friedrich Engels5, parceiro
de Karl Marx6, em seu tratado de 1845 com base na condição da classe trabalhadora
na Inglaterra, aponta que as doações, seja por governos ou indivíduos, são
frequentemente vistas pelos doadores como um meio de esconder o sofrimento que é
desagradável de ver.

Engels (1845), de uma carta ao editor de um jornal inglês que reclama que:

“(...) as ruas estão assombradas por enxames de mendigos, que


tentam despertar a compaixão dos transeuntes da maneira
mais desavergonhada e irritante, expondo suas roupas
esfarrapadas, aspecto doentio, feridas e deformidades
repugnantes. Eu deveria pensar que quando alguém não
apenas paga a taxa da pobreza, mas também contribui em
grande parte para as instituições de caridade, uma delas faz o
suficiente para ter o direito de ser poupada de tais
importunações desagradáveis e impertinentes.”

5 Friedrich Engels (1820-1895), filósofo social e político alemão, papel central no desenvolvimento do
marxismo, companheiro e amigo de Karl Marx, completou os volumes II e III da obra "O Capital", após a
morte de Marx.
6 Karl Marx (1818–1883), filósofo, economista, e revolucionário socialista alemão, junto a Engels
elaborou uma teoria política que embasou o chamado socialismo científico que apresenta um novo
conceito de dialética a partir da produção material da humanidade, a categoria trabalho é uma das suas
principais categorias analíticas.

45
,

A assistência social no Brasil decorre de práticas reiteradas de caridade, na


contemporaneidade verificamos essas práticas no cotidiano das instituições, que ainda
não consideram a assistência social como direito do cidadão e dever do Estado. As
primeiras ações sociais das ordens religiosas ligadas a Igreja assumiam um
compromisso com os pobres por meio de ações de benemerência, expressas por meio
de doações e auxílios materiais.

No século XVIII as ordens religiosas estruturavam a coleta de doações, desta forma, “os
fiéis” podiam contribuir com as obras da Igreja e auxiliar os pobres e desafortunados
nas comunidades que frequentavam. Você deve se recordar das Santas Casas de
Misericórdia, instituições criadas pela Igreja Católica também no século XVIII para
atender a população carente.

A ascensão das expressões da questão social, demandadas as instituições religiosas,


repercutiu na criação de instituições regulares para atendimento coletivo: na área da
saúde criou-se hospitais especializados para atendimento por doenças comuns da
época, como a hanseníase e a tuberculose.

E ainda, no âmbito da assistência, se é que assim podemos classificar, criou-se a “roda


dos expostos” ou “roda dos enjeitados”, que consistia num mecanismo utilizado para
abandonar (expor ou enjeitar) recém-nascidos, preservando a identidade dos pais. Os
bebês ficavam ao cuidado de instituições de caridade, administradas por ordens
religiosas. Talvez esse seja o primeiro esboço de um abrigo, serviço tipificado pela
Política de Assistência Social atualmente denominado “SAICA – Serviço de Acolhimento
Institucional para Criança e Adolescente”.

O aumento da população, a pobreza crescente e as questões morais que permeavam a


instituição “família” apontou a necessidade de criação de instituições sociais para
atendimento aos órfãos e abandonados, bem como, para outros necessitados. Para
tanto, surgiram as instituições de cuidados, internação e consequentemente o
isolamento social. Destacamos os asilos, hospitais psiquiátricos considerados
“hospitais de insanos ou doentes crônicos”, orfanatos e educandários.

46
,

As instituições religiosas eram responsáveis pelo atendimento dos mais necessitados,


nesse contexto, não se falava em políticas públicas ou quem sabe, direitos sociais. Com
as demandas crescentes que se seguiam a partir do sistema econômico capitalista que
produzia pobreza em larga escala, as instituições religiosas adequavam-se às
necessidades e inauguravam novas unidades de atendimento.

Cabe lembrar, que no final do século XIX com a migração da população rural para os
centros urbanos, no chamado “êxodo rural”, as condições de superlotação dos
domicílios urbanos, bem como a ausência de saneamento suscitavam surtos
epidêmicos agravados pela desnutrição que afetava grande parte da população das
cidades.

E ainda, o fim da escravidão, a consequente introdução do trabalho assalariado e a


pobreza em ascensão fizeram surgir o movimento higienista, uma fusão entre
assistência e medicina social. A Constituição de 1934, art. 138 versa sobre hábitos de
higiene para impedir a propagação de doenças transmissíveis, orientando sobre
condições de moradia, criando serviços sociais, artigos que visavam proteger a
juventude de qualquer exploração, e adotando medidas para um novo
comportamento social, neste contexto, a política de assistência social e saúde se
aproxima.

A partir do século XIX até o início do século XX, em decorrência das guerras que
assolavam a Europa, o Estado de São Paulo recebeu imigrantes de diversas origens
étnicas que, por não conseguirem auxílio econômico fora do país de origem, se
organizaram para criar sociedades de auxílio mútuo, a exemplo, temos o Hospital
Beneficência Portuguesa, inaugurado em 1859 por iniciativa de pequenos
comerciantes portugueses.

No ano de 1936 o Serviço Social inaugura-se como profissão no Brasil, mas é


importante reforçar que a prática profissional, reconhecida até então pelo Estado
estava estreitamente ligada à filantropia e moralidade cristã. Neste contexto, o Estado
reconhece a necessidade de atuar sobre as questões sociais, a Assistência Social é

47
,

apoiada pelas organizações sem fins lucrativos, permeadas pelo ranço original da
benemerência e da caridade, outrora mencionada.

O Serviço Social dos anos 30 se apresenta como conservador, paternalista. As ações


atribuídas à profissão limitam-se a auxílios materiais; as relações estabelecidas com os
usuários dos serviços são de dependência, no entanto, só a partir da década de 70 e 80
com a teoria crítica apontando novas possibilidades de atuação e ocupação de espaços
de trabalho é que a profissão passou a se rever com o auxílio das Ciências Sociais e do
marxismo, introduzido discretamente no Brasil, na década de 60 e sob repressão da
Ditadura Militar.

No ano de 1947 cria-se a Legião Brasileira de Assistência – LBA cujo objetivo principal
era atender as famílias dos pracinhas combatentes da 2º Guerra Mundial, inicialmente
o atendimento se limitava às necessidades dos filhos dos combatentes,
posteriormente a instituição adaptou sua linha de trabalho às demandas provenientes
do desenvolvimento econômico e social do país, em particular, a população
pauperizada em decorrência da miséria crescente.

A LBA representou nesse período a gestão pública nos 26 estados e distrito da


federação, sua linha de trabalho contemplava assistência social, assistência judiciária,
geração de renda, assistência aos diversos segmentos (criança e adolescente, pessoa
com deficiência, idoso) para fins de desenvolvimento social e comunitário,
incentivando o voluntário e as parcerias público-privadas.

Para que a Assistência Social se consolide enquanto direito é preciso uma série de
legislações que garanta o seu financiamento e sua incorporação ao tripé da
seguridade. Na linha do tempo abaixo, apontamos a criação do Conselho Nacional do
Serviço Social – CNSS, bem como a normatização da rede de serviços socioassistenciais
nos anos de 2010 e 2011 em vigência até os dias atuais. No próximo item,
abordaremos de forma breve, as legislações que fundamentam a Política Pública
discutida nesse bloco.

48
,

Fonte: Disponível em: <https://www.sigas.pe.gov.br/files/03052018015624-


curso.03.recife.turma.15.22.a.26.01.2018.modulo.01.1.dia.pdf>. Acesso em: 9 abr. 2020.

5.2. Constituição, LOAS, NOB, NOB RH

A Constituição Federal do Brasil em 19887, nos Arts. 203 e 204 apresenta a assistência
social como política pública que será prestada a quem dela necessitar,
independentemente de contribuição à seguridade social, possui como objetivo
primordial a proteção da família e seus segmentos (infância, adolescência, velhice), a
maternidade, a promoção do emprego e pessoas com deficiência.

A Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, Nº 8.742/19938 dispõe sobre a organização


da Assistência Social e regulamenta o previsto nos artigos 203 e 204 da Constituição
Federal. Estabelece que o benefício BPC / LOAS deve garantir um salário mínimo de
benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprove não
possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família.

7
Constituição Federal do Brasil, 1988
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
8
8 Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, Nº. 8.742/1993
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8742.htm
49
,

No ano de 1997 elaborou-se a Norma Operacional Básica9 com o objetivo de disciplinar


os procedimentos operacionais para a implementação da Política Nacional de
Assistência Social e o seu sistema integrado e participativo, mais tarde denominado
SUAS - Sistema Único da Assistência Social. A norma previu competências para as três
esferas do governo (municipal, estadual e federal), instituíram conselhos, fundos, e
planos municipais para que o município pudesse receber recursos federais.

Avançando no ano de 1998, uma nova versão da NOB é aprimorada no que se refere
aos serviços, programas e projetos. Nessa versão, considera-se central a participação
de conselhos e comissões bipartite e tripartite.

O processo de gestão do Sistema Único da Assistência Social (SUAS) conta com


instâncias de pactuação: a Comissão Intergestores Tripartite (CIT) e as Comissões
Intergestores Bipartite (CIB).

A CIT é um espaço de articulação e expressão das demandas dos gestores federais,


estaduais e municipais. Ela negocia e pactua sobre aspectos operacionais da gestão do
SUAS e, para isso, mantém contato permanente com a CIB, de modo a garantir a troca
de informações sobre o processo de descentralização.

A CIB consiste na instância estadual destinada à interlocução de gestores, constituídas


por representantes do estado, indicados pela Secretaria Estadual de Assistência Social
ou congênere e por representantes dos municípios, indicados pelo Colegiado Estadual
de Gestores Municipais de Assistência Social (Coegemas) que representam os
interesses e as necessidades do estado, referentes à assistência social.

O ano de 2004 foi um marco importante para a política pública. A Política Nacional da
Assistência Social – PNAS/200410 institui o Sistema Único de Assistência Social, um
sistema público que organiza os serviços de assistência social no Brasil, a partir de um
modelo de gestão participativa, articulando iniciativas nas três esferas de governo

PNAS/2004 Disponível em:


<http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/PNAS2004.pdf>.
Acesso em: 9 abr. 2020.

50
,

(município, estado e federação) para a execução e o financiamento da Política


Nacional de Assistência Social (PNAS).

O SUS é coordenado pelo Ministério da Cidadania e é composto pelo poder público e


sociedade civil, que participam diretamente do processo de gestão compartilhada.
Organiza as ações da assistência social em dois tipos de proteção social. A primeira é a
Proteção Social Básica, destinada à prevenção de riscos sociais e pessoais, por meio da
oferta de programas, projetos, serviços e benefícios a indivíduos e famílias em situação
de vulnerabilidade social. A segunda é a Proteção Social Especial, destinada a famílias e
indivíduos que já se encontram em situação de risco e que tiveram seus direitos
violados por ocorrência de abandono, maus-tratos, abuso sexual, uso de drogas, entre
outros e também oferta benefícios assistenciais, prestados a públicos específicos de
forma integrada aos serviços, contribuindo para a superação de situações de
vulnerabilidade.

Disponível em: <http://mds.gov.br/assuntos/assistencia-social/o-que-e>. Acesso em: 9 abr. 2020.

A Norma Operacional Básica – NOB SUAS foi criada no ano de 2005 com o objetivo de
regulamentar a gestão pública da Política de Assistência em todo o país. Por meio dela,
foram aprimoradas e reafirmadas as diretrizes do SUAS. Na normativa aborda-se a
gestão, constituição dos planos do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e as
características do pacto de aprimoramento do SUAS.

A norma aborda o financiamento a partir de pisos orçamentários para as proteções


sociais, a partir dos indicadores e da vigilância socioassistencial dos municípios, ou
seja, destina-se mais verba, para onde mais se precisa. A norma tem ainda por objetivo
fazer o repasse do fundo, definir as responsabilidades e critérios para os municípios
quando os mesmos aderem em níveis diferenciados de gestão.

No ano de 2006, criou-se a Norma Operacional Básica – NOB – RH / 2006 com a


finalidade de orientação e estruturação da gestão, formação, planos de cargos,
carreiras e salários, criação de equipes de referência, atribuições para cada ente

51
,

federativo, gestão do trabalho com caráter estratégico, centralidade para a gestão


pública e diretrizes para o cofinanciamento da gestão, princípios éticos para o trabalho
social no SUAS, bem como a educação permanente para os trabalhadores, em âmbito
nacional.

A Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais aprovada no ano de 2009 criada


a partir da Resolução 109 do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) tipifica os
serviços socioassistenciais disponíveis no Brasil organizando-os por nível de
complexidade do Sistema Único de Assistência Social: Proteção Social Básica e
Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade.

SAIBA MAIS

Se você tem interesse em saber mais, sobre a História da Assistência Social no Brasil,
acesse o vídeo produzido pelo MDS – Ministério Desenvolvimento Social e Combate à
Fome, produzido no ano de 2010, em comemoração ao Dia do Assistente Social.

Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=qPE5MdntV2Y>. Acesso em: 9 abr. 2020.

Conclusão

Neste bloco, observamos a construção da política pública de Assistência Social. O início


marcado pela caridade e sua trajetória de direito fortalecida pela Constituição de 88 e
pela PNAS/2004 e demais normatizações. Compreendemos a Política de Assistência
Social do ponto de vista da seguridade social; política para quem dela precisar; dever
do Estado; participação dos três entes federativos, elaborada a partir das necessidades
dos segmentos e setores mais vulnerabilizados da sociedade, para que no bloco
posterior, compreendamos a operacionalização do Sistema Único de Assistência Social
– SUAS.

52
,

Referências

ENGELS, Friedrich. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. 1. ed. São Paulo:


Boitempo, 2008.

TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de direito da seguridade social. 4. ed. São Paulo:
Saraiva, 2013.

53
,

6 O SISTEMA ÚNICO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL

Apresentação

Matricialidade sociofamiliar; territorialização, financiamento; Centro de Referência da


Assistência Social – CRAS; Centro de Referência Especializado da Assistência Social –
CREAS; benefícios de transferência de renda, entre outros, concretizam o acesso aos
direitos sociais previstos na Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS.

Nesse bloco, iniciaremos nossa trajetória de estudo sobre a Lei Orgânica da Assistência
Social – LOAS e o Sistema Único de Assistência Social no Brasil - SUAS, faremos um
breve histórico das origens, conceitos e eixos que estruturam a política. Abordaremos
as proteções afiançadas, a rede de serviços tipificados que integram o sistema de
gestão que opera a Política de Assistência Social no Brasil.

6.1 A PNAS – POLÍTICA NACIONAL ASSISTÊNCIA SOCIAL

A Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, Nº. 8.742/1993 dispõe sobre a organização
da Política Nacional da Assistência Social – PNAS/2004 e regulamenta o previsto nos
artigos 203 e 204 da Constituição Federal /1988.

Assistência social direito do cidadão e dever do Estado, é Política de


Seguridade Social não Contributiva que prevê os mínimos sociais, realizada
por meio de um conjunto integrado de iniciativa pública e da sociedade,
para garantir o atendimento às necessidades básicas. (LOAS, 1993)

A PNAS apresenta-se como um pilar do sistema de proteção social brasileiro no âmbito


da seguridade social. A LOAS, no Capítulo III, Artigo 6º retoma a importância da
participação popular, da autonomia dos municípios na gestão e ainda, do
cofinanciamento entre as esferas de governo. A legislação considera a necessidade de
uma rede de serviços articulados.

54
,

A Política de Assistência Social tem como premissa garantir provisão e proteção a


quem dela precisar, sem contribuição prévia, deve considerar as particularidades dos
sujeitos, suas subjetividades, no entanto, deve conhecer os riscos e as vulnerabilidades
das coletividades e os recursos disponíveis para o enfrentamento de tais situações com
vistas ao menor dano pessoal e social possível.

A PNAS considera pessoas, circunstâncias, núcleo de apoio (família), exige maior


aproximação do cotidiano das pessoas, pois é nele que o risco e as vulnerabilidades se
constituem; não é tuteladora ou assistencialista, pois pressupõe trabalhar a
autonomia; prevê o acesso a bens e serviços e se configura na perspectiva
socioterritorial, portanto, está presente na quase que totalidade dos municípios
brasileiros.

De acordo com a LOAS, Capítulo II, Seção I, Artigo 4º., a Política de Assistência Social
rege-se pelos seguintes princípios:

I. Supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências da


rentabilidade econômica;

II. Universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário assistencial


alcançável pelas demais Políticas Públicas;

III. Respeito à dignidade do cidadão, sua autonomia e seu direito a benefícios e


serviços de qualidade, bem como a convivência familiar e comunitária,
vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade;

IV. Igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de


qualquer natureza, garantindo equivalência às populações urbanas e rurais;

V. Divulgação ampla de benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais,


bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua
concessão.

55
,

A PNAS trabalha a partir da garantia de três seguranças: segurança de sobrevivência


(renda e autonomia), segurança acolhida e segurança de convívio ou vivência familiar,
sua operacionalização considera as desigualdades socioterritoriais e tem por objetivo:

• Prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica,


e/ou especial para famílias, indivíduos e grupo que deles necessitarem;

• Contribuir com a inclusão e a equidade dos usuários e grupos específicos,


ampliando acesso aos bens e serviços socioassistenciais básicos e especiais, em
área urbana e rural;

• Assegurar que as ações no âmbito da assistência social tenham centralidade na


família, e que garantam convivência familiar e comunitária;

Os usuários da Política de Assistência Social são cidadãos e grupos que se encontram


em situação de vulnerabilidade e riscos, tais como: famílias e indivíduos com perda ou
fragilidade de vínculos afetivos; pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida;
identidades estigmatizadas em termo étnico, cultural e sexual; desvantagem pessoal
resultante de deficiências; exclusão pela pobreza e/ou, no acesso às demais políticas
públicas; uso de substâncias psicoativas; diferentes formas de violência advindo do
núcleo familiar, grupos ou indivíduos; inserção precária ou não inserção no mercado
de trabalho formal e informal; estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência
que podem representar risco pessoal e social, conforme apontado na PNAS/2004.

No item posterior, apresentaremos um breve histórico do Sistema Único da Assistência


Social – SUAS e a operacionalização da Política de Assistência Social, com ênfase nas
proteções sociais afiançadas, as unidades estatais e a rede de serviços
socioassistenciais.

6.2. Um breve histórico do Sistema Único da Assistência Social - SUAS

O SUAS foi criado no ano de 2005, é um sistema não contributivo, descentralizado e


participativo, que tem por função a gestão compartilhada, o cofinanciamento e a

56
,

cooperação técnica entre municípios, estados e federações para promover a proteção


social não contributiva de seguridade social no campo da assistência social.

O sistema é público e ordena, organiza os serviços socioassistenciais no Brasil no nível


dos três entes federativos, municípios, estados e federação, e a partir daí reúne e
articula esforços para o financiamento e execução da Política Nacional de Assistência
Social – PNAS. O sistema de gestão é integrado por diversos atores, entre eles, o poder
público e a sociedade civil, por isso, dizemos que a gestão é compartilhada.

O sistema se organiza por meio de proteções sociais afiançadas, ou seja, que recebem
financiamento para operar a Política de Assistência Social. A primeira das proteções é a
Proteção Social Básica, destinada à prevenção de riscos sociais e pessoais, por meio da
oferta de programas, projetos, serviços e benefícios a indivíduos e famílias em situação
de vulnerabilidade social, cujos vínculos familiares estão fragilizados, mas não
rompidos. A segunda é a Proteção Social Especial, destinada a famílias e indivíduos que
já se encontram em situação de risco e que tiveram seus direitos violados por
ocorrência de abandono, maus-tratos, abuso sexual, uso de drogas, entre outros
aspectos e que possuem vínculos familiares rompidos.

Na Proteção Social Especial, quando os indivíduos já se encontram com os direitos


violados e não há cuidado por parte da família ou da rede de apoio há necessidade de
tutela do Estado, por meio da institucionalização, chamamos de Proteção Social
Especial – Alta Complexidade. As famílias no contexto da política da assistência
possuem centralidade, os serviços trabalham a fim de preservar, fomentar e fortalecer
vínculos familiares, redes de apoio.

No que se refere ao controle social, as ações e a aplicação de recursos do SUAS são


negociadas e pactuadas na Comissão Intergestores Bipartite (CIBs) e na Comissão
Intergestores Tripartite (CIT), os procedimentos são aprovados pelo Conselho Nacional
de Assistência Social (CNAS) que desempenham o controle, a fiscalização e seus pares
locais (Conselhos Estaduais e Municipais), que fiscalizam os recursos destinados a
política.

57
,

O SUAS engloba também a oferta de benefícios assistenciais, você já ouviu falar de


Programa Bolsa Família no nível federal, Programa Renda Mínima e Renda Cidadã, no
Município de São Paulo? Pois bem, esses são exemplos de programas que incluem a
transferência de renda (monetária) a famílias economicamente vulnerabilizadas.
Lembre-se que no SUAS os planos, projetos e programas devem estar estruturados, ou
seja, organizados de forma que contribuam para a superação de situações de
vulnerabilidade.

A LOAS/1993 prevê que a Assistência deve garantir condições de subsistência àqueles


que não conseguem prover o próprio sustento, desta forma, cabe ao SUAS criar
mecanismos de atendimento a famílias desprovidas de recursos. Cabe ressaltar, que ao
discutirmos vulnerabilidade no âmbito da assistência social há que se considerar que
não limitamos a discussão ao âmbito econômico, ou seja, vulnerabilidade é um
conceito plural, indica ausência, fragilidade, fraqueza que pode se referir tanto ao
comportamento das pessoas, como de objetos, situações.

É importante ressaltar que o SUAS também gerencia a vinculação de entidades e


organizações de assistência social ao Sistema, mantendo atualizado o Cadastro
Nacional de Entidades e Organizações de Assistência Social - CENTS e concedendo
certificação a entidades beneficentes, quando é o caso. Simplificando, cabe às
unidades estatais CRAS e CREAS monitorar as ONGS – Organizações Não
Governamentais que desenvolvem trabalhos no âmbito da assistência, com ou sem
parceria público-privada.

6.3 Os eixos estruturantes da Política de Assistência Social

De acordo com a PNAS/2004, o SUAS organiza os elementos indispensáveis para


operacionalização da Política de Assistência Social e apresenta os eixos que estruturam
essa política:

✓ Matricialidade Sociofamiliar;
✓ Descentralização político-administrativa e Territorialização;

58
,

✓ Novas bases para a relação entre Estado e Sociedade Civil;


✓ Financiamento;
✓ Controle Social;
✓ O desafio da participação popular/cidadão usuário;
✓ A Política de Recursos Humanos;
✓ Informação, monitoramento e avaliação.

É possível perceber que a atuação da Política de Assistência Social está centrada na


família, considerando inclusive, os novos arranjos familiares contemporâneos. Os
municípios possuem as suas particularidades e também recebem financiamento de
outros entes federativos, não limitando os recursos a sua arrecadação.

A Política de Recursos Humanos prevê um quadro de profissionais, entre os quais, o


assistente social tem papel central. Os planos, projetos, programas, os benefícios e a
rede de serviços devem ser monitorados e avaliados. A NOB RH prevê a contratação de
profissionais nas unidades estatais e redes de serviços socioassistenciais, garantindo
ainda formação permanente, continuada.

Destacamos ainda, a centralidade da vigilância socioassistencial, que tem por objetivo


detectar e compreender as situações de precarização e de agravamento das
vulnerabilidades que afetam os territórios e os cidadãos, expondo a risco sua
sobrevivência, dignidade, autonomia e socialização. A vigilância socioassistencial pode
contribuir para identificar os vazios socioassistenciais, ou seja, os territórios, onde não
há equipamento público ou cobertura da política de assistência, em território de alta
vulnerabilidade social.

6.3.1. As proteções sociais afiançadas: básica e especial de média e alta complexidade

A Política de Assistência Social e o seu Sistema Único de Gestão possui duas unidades
estatais para atendimentos das vulnerabilidades, o CRAS – Centros de Referência da
Política de Assistência Social executa serviço de proteção social básica, organiza e

59
,

coordena a rede de serviços sociais assistenciais do território da Política de Assistência


Social.

Nos CRAS se executam Programas de Atenção Integral à Família – PAIF, atendimento


preferencial a crianças, adolescentes, pessoas com deficiência e idosos, na maioria dos
municípios os projetos são ofertados diretamente pela unidade estatal, nos municípios
de grande porte, como é o caso, de São Paulo (Capital), conta-se com uma rede de
organizações não governamentais conveniadas em parcerias público-privadas.

Na Proteção Social Básica, destacam-se serviços de convivência e fortalecimento de


vínculos, tais como: Centro para Criança e Adolescente – CCA, Núcleo de Convivência
para Idoso – NCI, Serviço Assistência Social Familiar - Atenção SASF, entre outros
necessários ao apoio e fortalecimento dos vínculos afetivos e da superação das
fragilidades, em especial, as econômicas.

Por sua vez, os CREAS – Centros de Referência Especializado da Assistência Social é a


unidade responsável pelo atendimento da Proteção Social de Alta Complexidade, que
garantem Proteção Integral – moradia, alimentação, higienização e trabalho protegido
para indivíduos que se encontram com seus direitos violados ou em situação de
ameaça ou risco, e que de alguma forma, não mantêm ou possuem vínculos familiares
ou rede de apoio preservadas. Destacamos na Alta Complexidade, serviços, tais como:
SAICA – Serviço de Acolhimento Institucional para Criança e Adolescente, ILPI –
Instituto de Longa Permanência para Idoso, RI – Residência Inclusiva para Pessoas com
Deficiência, República Jovem, entre outros.

De acordo com a Tipificação da Rede Socioassistencial e Regulação da Parceria da


Política de Assistência Social da prefeitura de São Paulo em fevereiro de 2011, o CRAS:

✓ É a unidade pública estatal de base territorial, executados de forma direta pelas


Secretarias Municipais de Assistência, localizados em áreas de vulnerabilidade
social;
✓ Executa serviços de proteção social básica, organiza a rede local de serviços
socioassistenciais;
✓ É a porta de entrada do Sistema Único de Assistência Social – SUAS;
60
,

✓ Destina-se a indivíduos e/ ou famílias em situação de vulnerabilidade e risco


pessoal, que habitam o território de abrangência do CRAS;
✓ Tem por objetivo prevenir as situações de vulnerabilidade e risco social nos
territórios, por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, do
fortalecimento de vínculos familiares e comunitários e da ampliação do acesso
aos direitos de cidadania.
✓ Desenvolve o PAIF – Proteção Atendimento Integral à Família, promove a
transferência de renda, as ações intersetoriais, as articulações de rede do
território apontando as referências e contrarreferências, suas ações devem ter
foco na matricialidade, integradas a outras políticas setoriais do território.

Por sua vez, o CREAS:

✓ É a unidade pública onde se ofertam serviços especializados e continuados a


famílias e indivíduos em situações de violação de direitos com vistas a
fortalecer a função protetiva;
✓ Cabe à unidade integrar esforços, recursos e meios, articular os serviços da
média e alta complexidade a fim de proteger o usuário violado;
✓ É necessário operar a referência e contrarreferência com a rede de serviços
socioassistenciais de proteção social básica e especial, com as demais políticas
públicas setoriais e órgãos do Sistema de Garantia de Direitos (Poder Judiciário,
que inclui a Vara da Infância da Juventude, Ministério Público, DEIJ –
Departamento Execução Infância e Juventude), Defensoria Pública, Conselho
Tutelar, entre outras organizações de defesa dos direitos a fim de se estruturar
uma rede protetiva;
✓ Desenvolve o PIA – Plano Individual de Atendimento aos usuários;
✓ Insere na rede de serviços socioassistenciais e da rede intersetorial;
✓ Assegura a proteção imediata na alta complexidade, em casos onde necessita-
se preservação da integridade física;
✓ O CREAS tem por objetivo o fortalecimento dos vínculos, das redes de apoio
das famílias e a sua inclusão no sistema de proteção social e nos serviços
públicos;

61
,

Os CRAS e CREAS de cada território operacionalizam uma rede de serviços tipificados,


de acordo com a necessidade dos territórios, apontado pela vigilância socioassistencial
do SUAS e do recurso disponibilizado para o município.

REDE DE PROTEÇÃO BÁSICA

✓ SASF – Serviço de Assistência Social à Família e Proteção Social Básica no


Domicílio
✓ Centros para Crianças e Adolescentes
o Centros para Crianças de 6 a 11 anos
o Centros para Crianças de 12 a 14 anos
✓ Centros para Juventude
✓ Núcleo de Convivência de Idoso

A Rede da Proteção Social Básica é composta por serviços de apoio e proteção à


família, em especial, aos segmentos prioritários, criança e adolescente, pessoa com
deficiência e idoso. Há diferenças substanciais na oferta de serviços em São Paulo
(Capital) e outros municípios do Brasil. A principal diferença está na forma de
execução, os demais municípios aderiram ao SUAS, pois sua maioria executa PAIF e
PAEF a partir da unidade estatal CRAS e CREAS, a Capital de São Paulo com suas
características de megalópole optou pela rede de serviços parcerizados, portanto,
muitos dos serviços tipificados em São Paulo, terão outras terminologias e formas de
operar Brasil afora.

SAIBA MAIS

Se você quiser saber mais, sobre os serviços tipificados no município de São Paulo –
Capital.

Acesse: Disponível em:


<https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/chamadas/046_portaria
_1298488134.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2020.

62
,

Conclusão

Neste bloco, compreendemos a construção da Política Nacional de Assistência Social e


a implantação do Sistema Único de Assistência Social no Brasil – SUAS. Percebemos a
importância do sistema de gestão participativo, descentralizado, da política pública
não contributiva, financiada, que considere as características de cada território e
promova a proteção social básica e especial de média e alta complexidade por meio
das unidades estatais CRAS e CREAS.

Por fim, refletir sobre a Seguridade Social e a nossa profissão, nos remete a décadas de
luta dos profissionais e movimentos sociais pela efetivação das políticas públicas e
sociais no Brasil. No entanto, há que se considerar o ranço da caridade que impregna a
prática profissional, é preciso retomar cotidianamente o Projeto Ético Político da
profissão.

Cabe ressaltar, que assistentes sociais não são profissionais bonzinhos e bem
intencionados, são profissionais que possuem em sua formação um arcabouço de
conhecimentos teóricos-metodológicos, técnico-operativos e ético-políticos para atuar
em diversas políticas públicas promovendo acesso a direitos sociais.

Referências

BRASIL. Lei Federal nº 8080/90 de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições


para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento
dos serviços correspondentes e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm>. Acesso em: 8 abr. 2020.

_____. Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a organização da


Assistência Social e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742.htm>. Acesso em: 13 abr. 2020.

TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de direito da seguridade social. 4. ed. São Paulo:
Saraiva, 2013.

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