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Resumo Política Social

Capitulo II
Capitalismo, liberalismo e origens da política social
Não se pode indicar com precisão um período especifico de surgimento
das primeiras iniciativas reconhecíveis de políticas sociais, pois como processo
social, elas se gestaram na confluência dos movimentos de ascensão do
capitalismo com a Revolução Industrial, das lutas de classe e do
desenvolvimento da intervenção estatal. Sua origem é comumente relacionada
aos movimentos de massa social-democratas e ao estabelecimento dos
Estados-nação na Europa ocidental do final do século XIX, mas sua
generalização situa-se na passagem do capitalismo concorrencial para o
monopolista, em especial na sua fase tardia, após a Segunda Guerra Mundial.
Na sociedade capitalista burguesa, o trabalho perder seu sentido natural de
produção para a troca independente de seu contexto histórico. Marx
desmistifica o significado “natural” do trabalho e mostra que o trabalho é
atividade humana, resultante do dispêndio de energia física e mental, direta ou
indiretamente voltada à produção de bens e serviços, contribuindo para a
produção da vida humana, individual e social.
No capitalismo ao ser tratada como mercadoria, a força de trabalho
possui duplo caráter: ser produtora de valores de troca, ou todo trabalho é, de
um lado, dispêndio de força humana de trabalho, sob forma especial, para um
determinado fim, e nessa qualidade de trabalho útil e concreto, produz “valor de
uso”. É nesse sentido que o valor de uso “só se realiza com a utilização ou o
consumo”, e que “um valor de uso ou um bem só possui, portanto, valor,
porque nele está corporificado, materializado, o trabalho humano abstrato”. O
valor de troca se constitui a partir do dispêndio de energia humana, que cria o
valor das mercadorias e consiste na relação que se estabelece entre uma coisa
e outra, entre um produto e outro.
As relações capitalistas constituem relações de produção de valores de
troca (mercadorias) para acumulação de capital, através de expropriação da
mais-valia adicionada ao valor pelo trabalho livre, condição da produção
capitalista e razão pela qual se provoca a separação entre força de trabalho e a
propriedade dos meios de produção. Que provocaram o surgimento de novas
regulamentações sociais e do trabalho pelo Estado.
1. Questão social e política social
As expressões multifacetadas da questão social no capitalismo, cujo
fundamento se encontra nas relações de exploração do capital sobre o
trabalho. A produção e reprodução das relações sociais inscritas num momento
histórico, sendo a questão social uma reflexão desse processo, trata-se da
produção e reprodução, movimentos inseparáveis na totalidade concreta, de
condições de vida de cultura de produção da riqueza.
Se o processo de produção articula a valorização do capital ao
processo de trabalho, ou seja, se o trabalho é o elemento decisivo que
transfere e cria valor, então tal processo se refere, sobretudo à produção e
reprodução de indivíduos, classes sociais e relações sociais: a política e a luta
de classes são elementos internos à lei do valor e à compreensão da questão
social. Se sua base material é a produção e o consumo de mercadorias,
estamos falando também do trabalho enquanto atividade humana, repleta de
subjetividade, de identidade, de costumes e vida. Uma interpretação da
questão social como elemento constitutivo da relação entre o Serviço Social e a
realidade. Tendo como mediação as estratégias de enfrentamento adotadas
pelo Estado e pelas classes, o que envolve a política social como um elemento.
Acerca da jornada de trabalho é uma referência decisiva para
interpretar a relação entre questão social e política social. O Estado então
reprimia duramente os trabalhadores, de um lado, e iniciava a regulamentação
das relações de produção, por meio da legislação fabril de outro.
A luta em termo a jornada de trabalho e as respostas das classes e do
Estado são, portanto, as primeiras expressões contundentes da questão social,
já repleta naquele de ricas e múltiplas determinações. Há o movimento dos
sujeitos políticos, as classes sociais. Tem-se o ambiente cultural do liberalismo
e a ênfase no mercado como via de acesso aos bens e serviços socialmente
produzidos, cuja possibilidade de inserção estaria relacionada ao mérito
individual. Começa a ocorrer o deslocamento do problema da desigualdade e
da exploração como questão social, a ser tratada no âmbito estatal e pelo
direito formal, que discute a igualdade de oportunidades, em detrimento da
igualdade de condições. Esse debate acerca da jornada de trabalho mostra a
irrupção da luta de classes e da questão social, bem como de suas formas de
enfretamento com o início da regulamentação da relação capital/trabalho.
2. Liberalismo e a negação da política social
O período que vai de meados do século XIX até a terceira década do
século XX, portanto, é profundamente marcado pelo predomínio do liberalismo
e de seu principal sustentáculo: o princípio do trabalho como mercadoria e sua
regulação pelo livre mercado. Relação semelhante se mantém com os
trabalhadores: os salários não devem ser regulamentados, sob pena de
interferir no preço natural do trabalho, definindo nos movimentos naturais e
equilibrados da oferta e da procura no âmbito do mercado. Trata-se da
negação da política e, em consequência, da política social que se realiza
invadindo as relações de mercado, regulando-o, como apontam as legislações
fabris já comentados. A síntese que se segue de alguns elementos essenciais
do liberalismo ajuda melhor a compreender a reduzida intervenção estatal na
forma de política: a) Predomínio dos Individualismo- Os liberais consideram o
indivíduo e não a coletividade; b) O bem-estar individual maximiza o bem-estar
coletivo-para os liberais cada individuou deve buscar o bem-estar para si e sua
família por meio da venda se sua força de trabalho no mercado; c) Predomínio
da liberdade e competitividade- A liberdade e a competitividade são entendidas
como formas de autonomia do individuou para decidir o que é melhor para si e
lutar por si; d) Naturalização da miséria- Os liberais veem a miséria como
natural e insolúvel, poidecorre da imperfectibilidade humana, ou seja, a miséria
é compreendida como resultado da moral humana e não como resultado do
acesso desigual à riqueza socialmente produzida ;e) Predomínio da lei da
necessidade-;f) Manutenção de um Estado livre; g) As políticas sociais
estimulam o ócio e o desperdiço – para os liberais o Estado não deve garantir
políticas sociais; h) A política social deve ser um paliativo.
3. As lutas da classe trabalhadora e a origem da política social
Com o predomínio desses princípios ferozmente defendidos pelos
liberais e assumidos pelo Estado capitalista, não é difícil compreender que a
resposta dada à questão social no final do século XIX século sobretudo
repressiva e apenas incorporou algumas demandas da classe trabalhadora,
transformando as reivindicações em leis que estabeleciam melhorias tímidas e
parciais nas condições de vida dos trabalhadores, sem atingir portanto o cerne
da questão social. Mas mesmo as reformas sociais do período do pós-Segunda
Guerra não terão esse caráter. Nesse sentido, as primeiras iniciativas de
políticas sociais podem ser entendidas na relação de continuidade entre Estado
liberal e Estado social. Em outras palavras, não existe polarização
irreconciliável entre Estado liberal e Estado social, ou, de outro modo, não
houve ruptura radical entre o Estado social predominantemente no século XIX
e o estado social capitalista do século XX. Não se trata, então, de estabelecer
uma linha evolutiva linear entre o Estado liberal e o Estado social, mas sim
chamar a atenção para o fato de que ambos têm um ponto em comum: o
reconhecimento de direitos sem colocar em xeque os fundamentos do
capitalismo.
Os direitos políticos, diferentemente dos direitos civis, são direitos
coletivos, garantidos a todos, e impedem da relação do individuou com a
propriedade privada. A generalização dos direitos políticos é resultado da luta
da classe trabalhadora e, se não conseguiu instituir uma nova ordem social
contribuiu significativamente para ampliar os direitos sociais, para tencionar,
questionar e mudar o papel do Estado no âmbito do Estado.
Os autores são unânimes em situar o final do século XIX como o
período em que o Estado capitalista passa a assumir e, a realizar ações sociais
de forma mais ampla, planejada, sistematizada e com caráter de
obrigatoriedade. O surgimento das políticas sociais foi gradual e diferenciado
entre os países, dependendo dos movimentos de organização e pressão da
classe trabalhadora, do grau de desenvolvimento das forças produtivas, e das
correlações e composições de força no âmbito do Estado.
O que ajuda a demarcar a emergência de políticas sociais são alguns
elementos surgidos no final do século XIX, decorrentes da luta da classe
trabalhadora. O primeiro foi a introdução de políticas sociais orientadas pela
lógica do seguro social na Alemanha, a partir de 1883. As políticas sociais
passam ampliar a ideia de cidadania e desfocalizar suas ações, antes
direcionadas apenas para a pobreza externa. Quanto ao financiamento, os
recursos provêm fundamentalmente das contribuições diretas de empregados e
empregadores, baseadas na folha de salários. Quanto à gestão, os seguros
eram originalmente organizados em caixas de estruturadas por tipos de riso
social: caixas de aposentadorias, caixas de seguro-saúde, e assim por diante,
e eram geridos pelos contribuintes, ou seja, por empregadores e empregados.
4. A grande crise do capital e a condição da política social
O enfraquecimento das bases materiais e subjetivas de sustentação
dos argumentos liberais ocorreu ao longo da segunda metade do século XIX e
no início do século XX, com resultado de alguns processos políticos
econômicos, dos quais vale destacar dois.
O primeiro foi o crescimento do movimento operário, que passou a
ocupar espaços políticos e sociais importantes, como o parlamento, obrigando
a burguesia a “entregar os anéis para não perder os dedos”, diga-se, a
reconhecer direitos de cidadania política e social cada vez mais amplos para
esses segmentos.
O segundo e não menos significativo processo foi a concentração e
monopolização do capital, demolindo a utopia liberal do individuou
empreendedor orientado por sentimentos morais.
As políticas sociais se multiplicaram lentamente ao longo do período
depressivo, que se estende de 1914 a 1939 e se generalizam no início do
período de expansão após a Segunda Guerra Mundial, o qual teve como
substrato a própria guerra e o fascismo, e segue até fins da década de 1960. O
fascismo deu fôlego imediato ao período de expansão subsequente, através de
extração desmesurada da mais-valia absoluta por métodos bárbaros durante a
guerra, a exemplo dos campos de extermínio nazistas.
5. E no Brasil
Para pensar o surgimento e o desenvolvimento da política social nas
condições brasileiras no longo período temporal, cabe uma breve
caracterização da formação do capitalismo entre nós. A partir de uma leitura
dialética do processo de formação do capitalismo brasileiro, é possível
identificá-las e até observar sua presença ainda nos dias de hoje.
O Estado brasileiro nasceu sob o signo de forte ambiguidade entre um
liberalismo formal como fundamento e o patrimonialismo como prática no
sentido da garantia dos privilégios das classes dominantes. O desenvolvimento
da política social entre nós, como se verá, acompanha aquelas fricções e
dissonâncias e a dinâmica própria da conformação do Estado.
Visitando algumas reflexões clássicas acerca da formação social
brasileira, buscamos identificar suas características estruturais, mas o que
dizer da política social entre nós?
A primeira constatação é a de que seu surgimento no Brasil não
acompanha o mesmo tempo histórico dos países de capitalismo central. Não
houve no Brasil escravista do século XIX uma radicalização das lutas
operarias, sua constituição em classe para si, com partidos e organizações
fortes. A questão social já existe num país de natureza capitalista, com
manifestações objetivas de pauperismo e iniquidade, em especial após o fim da
escravidão e com a imensa dificuldade de incorporação dos escravos libertos
no mundo do trabalho, só se colocou como questão política a partir da primeira
década do século XX, com as primeiras lutas de trabalhadores e as primeiras
iniciativas de legislação voltadas ao mundo do trabalho.
A criação dos direitos sociais no Brasil resulta da luta de classes e
expressa a correlação de forças predominante. Os direitos sociais, sobretudo
trabalhistas e previdenciários, são pautados na reivindicação dos movimentos e
manifestações da classe trabalhadora. A distância entre a definição dos direitos
em lei e sua implementação real persiste até os dias de hoje. Se a política
social tem relação com a luta de classes, e considerando que o trabalho no
Brasil, apesar de importantes momentos de radicalização, esteve atravessado
pelas marcas do escravismo, pela informalidade e pela
fragmentação/cooptação, e que as classes dominantes nunca tiveram
compromissos democráticos e redistributivos, tem-se um cenário complexo
para as lutas em defesa dos direitos de cidadania, que envolvem a constituição
da política social.
O ano de 1923 é chave para a compreensão do formato da política
social brasileira no período subsequente: aprova-se a lei Eloy chaves, institui a
obrigatoriedade de criação das caixas de Aposentadorias e Pensão (CAPS)
para algumas categorias estratégicas de trabalhadores, a exemplo dos
ferroviários e marítimos, dentre outros.
O fundamental, nesse contexto do final do século XIX e início do século
XX, é compreender que nosso liberalismo a brasileira não comportava a
questão dos direitos sociais, que foram incorporados sob pressão dos
trabalhadores e com fortes dificuldades para sua implementação e garantia
efetiva. Essa situação começa a se alterar nos anos 1920 e sofrerá mudanças
substanciais a partir de 1930. Assunto no qual os autores buscar enfatizar no
capitulo 3.

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