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SERVIÇO SOCIAL
O ensino do Serviço Social
Factores económicos:
• Generalização do fordismo;
Teorizações keynesianas;
• Forte crescimento económico,
Factores Sociais:
• Clima de solidariedade do pós-
guerra.
• Fortalecimento da classe média.
Factores políticos:
• Fortalecimento das democracias partidárias.
Apesar do fenómeno de generalização de uma
nova filosofia, em matéria de responsabilidade
social dos Estados, é de salientar que o processo
de concepção e instauração dos Estados
Providência foi profundamente diferente nos
vários países, diferenças que se manifestaram
quer no plano formal, quer no plano dos
fundamentos e da universalidade.
Como consequência das diferentes feições
assumidas pelo Estado Providência e pelas
políticas sociais, nos vários países, foram
surgindo tentativas de identificação de algumas
tipologias de Welfare State, definidas em função
das visões, mais ou menos abrangentes, acerca
da própria natureza do estado de Bem-Estar e da
protecção social nele implícita.
Assim, encontram-se desde as visões mais
restritivas que o entendem, exclusivamente,
como a prestação de assistência aos mais
necessitados, a visões amplas que o percebem
como uma responsabilidade colectiva, perante
necessidades sociais universais (Titmuss, 1981).
As tipologias mais comummente citadas a este
nível são a tipologia de políticas sociais de
Titmuss e a tipologia dos regimes de welfare de
Esping-Andersen.
Relativamente às políticas sociais, Titmuss
considera-as o resultado das diferentes
concepções acerca da natureza e dos
fundamentos do estado de Bem-Estar,
ressalvando no entanto que, não obstante as
diferenças na sua formulação,
as políticas sociais possuem sempre três
características essenciais: a primeira é a de
terem como objectivo conceder ajudas que
aumentem o bem-estar dos cidadãos; a segunda
é a de possuírem finalidades de carácter
económico e extra-económico; finalmente, a
terceira que é a de implicarem sempre uma
dimensão de redistribuição dos rendimentos.
Tipologia das políticas sociais (segundo TitmussO:
Modelo residual: • Garantia dc mínimos de sobrevivência;
• Protecção paliativa;
• Subsidiário da protecção informal;
• Dirigido a grupos restritos e de extrema vulnerabilidade.
Liberal:
• Inglaterra e Irlanda; Coexistência público/privado; Protecção Social:
• Contratualizada no Mercado (grupos de maiores rendimentos); o Pública (grupos de
menores rendimentos).
Corporativo:
Alemanha, Áustria, Bélgica, França, Holanda, Luxemburgo;
• Protecção Social:
• Contratualização de base profissional; o Acção subsidiária do Estado (limitada às
situações de ausência de cobertura)
Na sua análise Esping-Andersen (1990) identificou três regimes de
Estado de Bem-Estar:
Espanha, Grécia, Itália e Portugal; Marcada por uma tradição cultural, económica e social comum;
Essencialmente assente na família; Dualista:
o Sectores sobreprotegidos (sectores centrais da força de trabalho); o Sectores subprotegidos
(trabalhadores irregulares, sector informal);
Assimétrica;
Indefinição acerca das funções; Percepção de ineficiência do sistema;
Insatisfação de utentes e beneficiários.
Constatou ainda fortes diferenças entre o tipo de
filosofia subjacente à protecção na área da saúde e à
protecção na área da segurança social. Assim, no caso
da saúde, o sistema organiza-se segundo a tradição
instaurada pelo relatório Beveridge, ou seja, numa
lógica universalista, enquanto em matéria de segurança
social, a lógica subjacente ao sistema parece derivar da
tradição bismarckiana dos seguros sociais.
Finalmente, como característica igualmente
determinante da protecção social nestes países,
Ferrera aponta a indefinição latente acerca das
funções dos vários actores, públicos e privados,
geradora de uma percepção de ineficiência do
sistema e, consequentemente, de insatisfação por
parte dos utentes e beneficiários (Ferrera, 1996;
Ferrera et al, 2000).
Do exposto resulta que, claramente, o bem-estar
social não assumiu (nem assume) as mesmas
feições nos diferentes países, tendo-se sempre
verificado diferenças substanciais, quer quanto ao
conjunto de direitos universalmente garantidos
pelo Estado, quer quanto ao próprio carácter
dessa "universalidade".
Refira-se, aliás, que o bem-estar, do ponto de vista
conceptual, representa um valor desejável e
relacionado tanto com o desenvolvimento pessoal (de
cada indivíduo numa sociedade) quanto com o
desenvolvimento social e económico, de âmbito geral.
Daí ser comum encontrar diferentes acepções para uma
mesma terminologia: bem-estar individual, bem-estar
social, políticas de bem-estar, serviços de bem-estar...
Não obstante as diferenças que, como referimos,
estão muito para além da terminologia, emerge
um elemento essencial à compreensão da filosofia
de bem-estar, e este elemento tem a ver com o
seu enquadramento numa perspectiva mais ampla
dos direitos e do desenvolvimento humanos, ou
seja, na procura da melhoria do bem-estar social
de todos os indivíduos.
A relação estreita entre bem-estar, direitos
humanos e desenvolvimento constitui,
justamente, uma dimensão fundamental para o
Serviço Social e para a sua relação com as
políticas sociais.
De facto, e como é hoje plenamente reconhecido,
o desenvolvimento humano alicerça-se na
promoção das capacidades e da liberdade de todos
os indivíduos. Neste sentido, faz parte desse
processo de desenvolvimento, o alargamento das
opções pessoais e a garantia de um nível de vida
adequado, o que consubstancia o próprio conceito
de bem-estar.
Assim, pode dizer-se que existe bem-estar
sempre que as condições de vida, numa
determinada sociedade, permitem a todos
indivíduos, quaisquer que sejam as suas
circunstâncias, o pleno desenvolvimento
enquanto pessoa, concretizando, desse modo, o
princípio da igualdade de oportunidades.
E neste quadro que o Serviço Social assume um
contributo profundo na promoção dos direitos
humanos e da justiça social, o que configura a
assumpção de uma dimensão sociopolítica do
Serviço Social, que faz coincidir os seus próprios
objectivos com os objectivos das políticas sociais,
na medida em que visam, ambos, a promoção e o
desenvolvimento da cidadania plena.
Na sua relação com as políticas sociais cumpre ao
Serviço Social identificar áreas de necessidade e,
ao mesmo tempo, analisar as consequências das
políticas sociais (e das suas lacunas).
A investigação e a sistematização, resultantes da
própria prática do Serviço Social, permitem-lhe
um conhecimento amplo e ímpar da realidade
que deve ser posto ao serviço da concepção de
políticas sociais.
Assim, e em vez de funcionar apenas como
"executo?' das políticas sociais, o Serviço Social,
com esse seu conhecimento privilegiado da
realidade social, deve ser contemplado no
momento da formulação dessas políticas.
Dessa forma, estar-se-á, também, a promover uma
verdadeira participação dos cidadãos nas políticas
públicas rompendo-se alguma tradição unívoca e
vertical, que parte do Estado (enquanto autor das
políticas públicas) e chega aos cidadãos (enquanto
destinatários dessas políticas), e em que o Serviço
Social actua como simples mediador.
Figura 5.1: Políticas Sociais e Serviço Social
Trabalhador Social
Trabalhador Social
Cidadãos
Cidadãos
Do ponto de vista da análise da relação entre Serviço
Social, Estado Providência e políticas sociais, não
podemos ignorar que a instauração da crise do Estado
Providência, a que aludimos anteriormente, teve
implicações profundas em domínios estreitamente
ligados com os próprios fundamentos do Serviço Social,
designadamente, na medida em que deu origem: ao
questionamento de certos tipos de direitos sociais (tidos
por adquiridos);
à substituição progressiva do princípio de welfare pelo de
workfare .com um eventual retorno à distinção entre
merecedores vs. não merecedores, como no modelo da Lei
dos Pobres); e à mcdonaldização do bem-estar (o bem-
estar como produto comercial) que transforma o que antes
era uma relação de benefício (entre os cidadãos e o
Estado), numa relação de mercado (entre o
cidadão/consumidor e as entidades fornecedoras), gerando
novos e acentuados processos de exclusão.
Com efeito, a crise do Estado Providência constitui
para muitos teóricos, factor de questionamento do
próprio Serviço Social, ao identificá-la como um
dos três elementos que, na contemporaneidade,
comprometem a integridade do Serviço Social, a
par com a mercadorização do social e a lógica
dominante da racionalidade económica.
Como resultado da combinação destes três
elementos, existe o risco de, ao Serviço Social, ser
progressivamente exigida uma ênfase nas
competências técnicas (enquanto produtoras de
resultados quantificáveis), em detrimento da
ênfase na relação, estabelecendo aquilo que
identificam como o domínio do pragmatismo sobre
o humanismo.
A evolução conceptual
Evolução
Conceptual
Valores relativos à
condição humana;
Desenvolvimentos nas
Ciências Sociais.
Esta evolução conceptual é, em si mesma, o
resultado do conjunto de mudanças e
transformações sociais, económicas e políticas que,
historicamente, se foram sucedendo e enformando
as expectativas que rodeiam o Serviço Social, quer
do ponto de vista dos seus clientes, quer do dos
seus profissionais, quer, ainda, do das instituições
que o enquadram.
De facto, a tese construcionista parece ser a única
capaz de ilustrar o processo de evolução do Serviço
Social. Enquanto profissão, o Serviço Social é uma
realidade social e historicamente construída a partir
de múltiplas especificidades locais e temporais, dado
que, nas suas diferentes fases evolutivas, o Serviço
Social sofreu influências teóricas diversas e
desenvolveu estratégias próprias reflectindo, na sua
prática, o espírito de uma época.
Por se nos afigurar uma análise de particular
clareza, seguiremos Vega (1993), na sua
identificação dos factores centrais que
presidem à conceptualização do Serviço Social,
e cuja evolução conduz à possibilidade de
diferenciação de sucessivas etapas nesta
matéria.
Segundo a autora, esses factores são: as formas
dominantes de assistência social; os valores
prevalecentes a respeito da pessoa humana; as
formas de necessidade/dificuldade cobertas pela
protecção pública; e, finalmente, os
desenvolvimentos nas várias ciências sociais, e,
mais especificamente, os seus contributos teóricos
e metodológicos para o Serviço Social.
Com base nas transformações e nas dinâmicas
que se produzem entre os factores atrás
referidos, Vega identifica as grandes etapas
conceptuais na história do Serviço Social.
A primeira dessas etapas situa-se, cronologicamente, no
período entre 1920 e a II Guerra Mundial. Do ponto de
vista da prática profissional, esta etapa é marcada pelos
esforços de ultrapassagem da tradição filantrópica na
prestação da ajuda que, claramente, se encontrava ainda
muito associada ao Serviço Social. De facto, a década de
1920 correspondeu, na maioria dos países, ao momento do
reconhecimento efectivo do Serviço Social, enquanto
profissão.
Em 1928, na I Conferência Internacional de Serviço
Social, que teve lugar em Paris, e que marcou a
criação da Associação Internacional de Escolas de
Serviço Social, René Sand propôs uma definição
para esta actividade profissional que, claramente,
ilustra esta preocupação em ir além da tradição
filantrópica, ainda muito ligada à imagem do
Serviço Social:
A expressão Serviço Social compreende todo o esforço tendente a
45).
Simultaneamente, a afirmação, pelo Estado, do
modelo intervencionista na assistência social,
conduziu ao desenvolvimento da assistência
social pública, entendida como garantia do
direito, universal e de cidadania, à protecção
social, perante determinadas eventualidades da
existência.
Criou-se, como consequência, a necessidade de
qualificação dos profissionais encarregues dessa
assistência, de forma a torná-los capazes de ultrapassar
as metodologias herdadas da filantropia, e de realizar
intervenções e abordagens inovadoras que, para além de
actuarem sobre os efeitos das situações de carência, que
afectavam os indivíduos, contemplassem, igualmente, as
causas subjacentes aos diferentes problemas sociais.
A segunda etapa foi muito marcada por todo
um conjunto de desenvolvimentos nas ciências
sociais, que tiveram forte impacto quer na
teoria quer na prática do Serviço Social.
Destaca-se, sobretudo, a enorme influência dos
conceitos e das explicações do âmbito da
Psicologia que, sobretudo a partir da década de
1940, se reflectiram numa exaltação das
dimensões humanista e ética no Serviço Social.
O triângulo pessoa, situação, meio social, converteu-se
no eixo, em torno do qual se multiplicaram formulações
teóricas, orientadas sempre para a fundamentação de
uma intervenção sistematizada e qualificada.
Assistência a
Transformação
segmentos Criação de
Social
sociais oportunidades desfavorecidos para o exercício da
cidadania
Finalidade de
Finalidade
Subsistência de
Participação
Função de
Regulação Social Função de
Orientação Social
Fonte: Autoria própria
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Definição aprovada pela Federação Internacional de Trabalhadores Sociais (IFSW),
consultado em www.ifsw.org, em 11/06/2007.