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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS


CURSO DE SERVIÇO SOCIAL/ TURMA: 01/ 4° PERÍODO
DISCIPLINA: FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E TEÓRICO-METODOLÓGICOS
DO SERVIÇO SOCIAL III

KARLA BYANCA CARVALHO FERREIRA

SÍNTESE DO TEXTO: “O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA ESFERA


ESTATAL” DE RAQUEL RAICHELIS

SÃO LUÍS-MA
2021
No texto "O trabalho do assistente social na esfera estatal", Raichelis (2009) realiza
uma análise acerca do trabalho do assistente social na esfera estatal, partindo do pressuposto
de que se deve apreender a profissão na dinâmica sócio-histórica, no âmbito do
desenvolvimento do seu campo de trabalho, assim como as respostas apresentadas as
demandas que são postas dentro desse espaço sócio-ocupacional. Nesse sentido, a autora faz
referência ao contexto de transformações ocasionadas pelo capitalismo contemporâneo e parte
de uma direção analítica acerca da atuação do Serviço Social na esfera estatal pautada na
perspectiva da ampliação da esfera pública de direitos. Sendo assim, tendo em vista a
complexidade da análise, a autora pontua algumas premissas para orientar a reflexão do
Serviço Social inserido na trama das relações societárias contraditórias entre o Estado e a
Sociedade.
À vista disso, é apresentada a primeira premissa, que é analisar a profissão inserida na
prática da sociedade, ou seja, na sociedade em seu constantemente movimento, pois só assim
pode-se compreender sua inteligibilidade e seu significado, uma vez que as profissões são
constituídas social e historicamente. Nessa premissa, é apontada a necessidade de levar-se em
consideração a origem da profissão, para poder realizar uma análise eficaz do Serviço Social,
este que teve sua gênese profundamente articulada com às necessidades sociais oriundas do
desenvolvimento do capitalismo em sua fase monopolista. É nesse contexto de novas
demandas da sociedade, em que o Estado capitalista começa a intervir amplamente na
reprodução e regulação da camada social, por intermédio das políticas sociais públicas,
passando a intervir nas diversas manifestações da questão social, que se apresentam as
direções para a profissionalização do Serviço Social.
Nessa perspectiva, a partir do surgimento das instituições sociais, configura-se o
espaço ocupacional do assistente social, o que condiciona sua emergência como profissão, em
um contexto que a questão social se torna o foco da intervenção estatal. Sendo assim, o
Serviço Social por meio das políticas sociais passa a intervir nas múltiplas expressões da
questão social, que estão em constante atualização e renovação nos distintos contextos sociais,
essa se evidencia como o objeto da atuação profissional, bem como caracteriza a
particularidade da profissão, tais afirmativas compõem a segunda premissa. A terceira
premissa diz respeito a formação de um espaço sócio-ocupacional, que deu as condições
necessárias para a profissionalização do Serviço Social. Tal espaço é marcado pela relação
contraditória entre a sociedade e o Estado capitalista, em que muitas vezes o assistente social
se encontra intermediando essa relação. Assim, mesmo dispondo de uma relativa autonomia,
o assistente social possui no seu exercício profissional limites que são postos pelo Estado, este
que possuindo como foco central o enfrentamento da questão social, através das políticas
sociais, determina, nesse âmbito, um mercado de trabalho para o assistente social, o qual
passa a assumir um lugar na divisão social e técnica do trabalho, a partir do momento que
começa a ser investido e requisitado como um dos agentes executores das políticas sociais,
estando seu trabalho direcionado para as camadas sociais mais vulnerabilizadas pelas
expressões da questão social. Dessa forma, é indubitável compreender que o Estado mesmo
possuindo uma centralidade nas políticas sociais, estas não são um campo exclusivo da
intervenção estatal, deve-se ter em vista a participação de outros atores nesse cenário, essas é
a quarta premissa. No que diz respeito a quinta premissa, é evidenciado que ao refletir sobre a
atuação profissional na esfera estatal, é necessário levar em consideração a contradição e
reciprocidade presente na relação que o Estado constitui com a sociedade civil. Diante de tudo
isso, a autora chama a atenção para o conflito conceitual no que tange o tratamento dos termos
Estado e governo, como se fossem sinônimos, no entanto, o Estado capitalista é composto por
várias instituições, já o governo é o executor nos âmbitos centrais e subnacionais, conforme
afirma Raichelis (2009).
Nesse sentido, é mister ressaltar as transformações recentes na sociedade e na esfera
estatal, nos anos 1990, que foi palco do desenvolvimento da perspectiva neoliberal no
contexto da reestruturação produtiva do capital, no seu bojo e durante esse processo
evidenciou-se uma retração dos direitos, devido a diminuição da intervenção estatal nas
demandas sociais. Partindo disso, muitas mudanças foram desencadeadas, como as
transformações que ocorrem no mundo do trabalho, na esfera estatal com a reforma
conservadora do Estado, as novas formas de enfrentamento da questão social e a redefinição
das políticas sociais e dos sistemas de proteção social. Diante desses processos o que se
observa é o sucateamento dos serviços públicos e o desmantelamento dos direitos
paulatinamente conquistados pelos trabalhadores, que estão consagrados na Constituição de
1988. Tais mudanças impactaram diretamente o trabalho profissional, que sofreu com os
efeitos da prerrogativa neoliberal e da dinâmica da reestruturação produtiva, que afetaram não
só o mercado de trabalho do assistente social, mas também os seus usuários.
Sendo assim, no âmbito da esfera da produção, diante de todo esse processo de
reestruturação que ocasionou mundas nas relações de trabalho, gerou-se uma precarização do
trabalho, uma terceirização, subcontratação, entre outros. Já no âmbito estatal, dentro da
perspectiva neoliberal, ressalta-se o processo de desresponsabilização do Estado em relação as
políticas sociais, ocasionando um retrocesso na efetivação e expansão dos direitos. Essas
questões atingem o trabalho do profissional, que atua juntamente as políticas sociais, devido a
redução dos postos governamentais e sua transferência para os municípios, além da
intensificação da subcontratação dos serviços sociais. Nesse sentido, nota-se a adoção de
várias modalidades de terceirização, no que tange o processo de prestação de serviços
assistenciais e da contratação de profissionais, por várias empresas e ONGs.
Assim, na virada dos anos 90, nota-se um crescimento das ONGs e um aumento das
parcerias implementadas pela Estado, de modo a repassar suas responsabilidades públicas
para a sociedade civil e para as ONGs, estas que compõem o chamado "terceiro setor", sendo
um conjunto divergente de entidades sociais que atuam na formulação de projetos
socioeducacionais. Nesse âmbito, o discurso não é voltado para a perspectiva do direito, mas
para as prerrogativas de solidariedade social, participação comunitária e iniciativas privadas
nas ações sociais. Desse modo, a sociedade civil passa a ser considerada um sinônimo do
terceiro setor, sendo denominada como um conjunto de instituições sem fins lucrativos, vista,
assim, como uma comunidade abstrata, que atropela os conflitos sociais, esvaziando o
conteúdo político dos movimentos sociais em prol de um duvidoso bem-comum.
Dentro desse processo, o assistente social se consubstancia como executor de políticas
sociais, assim, Raichelis (2009) afirma que para realizar uma análise mais ampla da atuação
do assistente social, é necessário compreender os outros âmbitos que esse profissional se
insere, como na esfera judiciária, em que esse profissional atua em um amplo campo de
acesso à justiça e aos direitos. No caso do poder legislativo, o assistente social encontra uma
possibilidade de se articular e avançar nas lutas sociais e incorporar na legislação os direitos
sociais das classes subalternizadas, buscando traduzir suas categorias do projeto ético-político
no seu cotidiano e estar sempre engajado na luta pela universidade dos direitos.
Em virtude de todos esses aspectos que impactaram a profissão, é mister ter um
discernimento dos desafios enfrentados por esse profissional na esfera estatal, como o desafio
presente na interlocução dos assistentes sociais com os novos atores, que começaram a tratar
de temas, que antes estavam presentes apenas no interior da profissão. Tais questões ressaltam
a necessidade de uma maior capacidade analítica do Serviço Social, uma nova capacitação
técnica e teórica, bem como ético-política. Além disso, por dispor de uma capacidade
analítica crítica, deve-se ampliar o debate no interior da profissão de modo a refletir e difundir
o conhecimento crítico a respeito das políticas sociais. É apresentado, por tanto, um duplo
desafio, de um lado, estar a necessidade da antecipação do profissional na contribuição da
formulação do conteúdo e dos direitos que as políticas sociais devem garantir, e de outro, se
apresenta o desafio de estar articulado na luta pela defesa da universalidade dos direitos
sociais e do Estado como precursor da sua condução. Além disso, o profissional rebate as
prerrogativas neoliberais de reducionismo das políticas sociais direcionada apenas aos mais
miseráveis possíveis. Nesse contexto, há descentralização das políticas sociais, com destaque
para a municipalização, expressão novas exigências de mudança na qualidade e competência
do profissional, para lidar com as novas demandas, que são postas nas novas áreas de
trabalho, nas quais o assistente social não atua somente como executor, mas como formular e
avaliador das políticas sociais. Além disso, esse profissional passa a realizar um trabalho
interdisciplinar e intersetorial no âmbito das políticas sociais e públicas, o que passa a exigir
uma maior clareza na explicitação das suas propostas de ações e das suas análises particulares,
com vista a chegar em uma consecução, entre os diferentes profissionais, do objetivo em
comum. Assim, outro desafio apresentado ao profissional é a recuperação da sua ação
juntamente a classe trabalhadora, buscando ultrapassar o espaço institucional e encontrar
estratégias que impulsionem a participação dos cidadãos.
Levando em consideração as prerrogativas apresentadas, conclui-se que os desafios
postos ao trabalho do assistente social envolvem tanto a trajetória profissional, como também
a sociedade atual, em seu constante movimento. Sendo assim, mesmos diante de todos os
obstáculos e complexidades presentes no exercício desse profissional, este é um agente que
sempre possuiu a capacidade de fomentar mudanças sociais, assim, é indubitável, segundo
Raichelis (2009, p.16) "continuar investindo no projeto ético-político do Serviço Social".

REFERÊNCIA

RAICHELIS, Raquel. O trabalho do assistente social na esfera estatal. In: Curso de


Especialização: direitos sociais e competências profissionais -
UNB/CEFESS/ABEPSS. Brasília, 2009.

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