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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS


CURSO DE SERVIÇO SOCIAL/ TURMA: 01/ 4° PERÍODO
DISCIPLINA: FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E TEÓRICO-METODOLÓGICOS
DO SERVIÇO SOCIAL III

Karla Byanca Carvalho Ferreira

Síntese do texto: “Não passarão! Ofensiva neoconservadora”

Maria Lúcia S. Barroco, no texto "Não passarão! Ofensiva neoconservadora e Serviço


Social", realiza uma análise crítica acerca da nova onda conservadora, o neoconservadorismo,
levando em consideração o estardalhaço direitista, em que muitos grupos burgueses
realizaram manifestações entorno da perspectiva de um país sem corrupção, buscando
justamente o avanço das prerrogativas da direita no poder. No entanto, esses movimentos
estavam objetivados de criminalização da pobreza, violência contra os trabalhadores, de
desmantelamento dos direitos paulatinamente conquistados pela classe trabalhadora, além das
diversas formas de violação dos direitos humanos, sendo impulsionados pelo
fundamentalismo, pela discriminação e xenofobia, explicitando um cenário em que o
preconceito se faz presente. Nesse sentindo, a autora (2015) aponta como se observar e refletir
sobre a reprodução ideológica do ideário conservador na contemporaneidade, tendo em vista a
sua inserção em um contexto histórico marcado por fatores econômicos, políticos e culturais,
bem como pela luta de classes. Assim, busca-se destacar as reivindicações de apelo a ordem,
carregadas de uma ideologia conservadora, afirmando um momento em que a sociedade se
coloca contraria aos direitos, pois essa nova onda conservadora vem de mãos dadas com as
prerrogativas neoliberais e, a partir disso, a autora apresenta as implicações desse processo no
Serviço Social.
Partindo do pressuposto de que o conservadorismo, é a reprodução dos valores,
costumes e tradições, no sentindo de manter o modo de vida das elites, que são aversas ao
comunismo e abastecidas de todo o tipo de preconceito, a autora (2015) evidencia que a
disseminação desse ideário é possibilitada pela “reificação” que afeta os diversos segmentos
da vida social, que escamoteia as reais determinações que estão por trás desse processo, como
a redução dos direitos, precarização do trabalho, desemprego, entre outros, além do
“irracionalismo” que é a antítese da razão, negando a realidade objetivamente concreta,
propagando o pessimismo e o individualismo, este corrobora de forma geral ou parcial para o
favorecimento da apologia do capitalismo. Nesse sentido, no contexto da década de 1970,
marcado por uma longa onda de crise mundial de estagnação do capitalismo, ocorre a
reatualização do conservadorismo, para confrontar de forma ideológica as diversas tensões
sociais oriundas da opugnação neoliberal. Sendo assim, o neoconservadorismo assumiu uma
preponderância na apologia conservadora da sociedade capitalista, tal movimento vai de
encontro com o Estado Social voltado ao atendimento das demandas sociais e com os direitos
sociais, por acreditarem que estes desestimulam os homens ao trabalho, tornando-os
preguiçosos, conforme essa ideologia, o Estado deve ser mínimo no que se refere aos gastos
sociais, mas forte na sua função coercitiva, de modo a reprimir as diversas pressões populares
que contestam as prerrogativas dessa ordem social. Os adeptos dessa ideologia são as elites,
que infelizmente pregam o preconceito de classe, o racismo enraizado, a família tradicional e
inúmeras convicções extremamente preconceituosas. O eixo fundante da sociabilidade e da
política, para esse ideário, é a moral. Tal perspectiva propaga a óptica de que a diversas
manifestações da questão social e as crises sociais são resultantes de um problema moral,
assim como eram tratadas na gênese do Serviço Social, sob a influência da Igreja Católica.
Dessa forma, tomando como referência a análise da moral, a autora aponta que esse
apelo a ordem tem um caráter duplamente conservador, primeiro, porque a moral se apresenta
como uma das bases do neoconservadorismo e segundo devido a sua objetivação ser
moralista, pois se trata de atitudes individuais, não sendo um problema objetivamente
concreto da sociedade, mas um problema de ordem moral. Todo esse processo corrobora de
forma direta para o ocultamento das consequências das determinações socioeconômicas do
capital, do qual são oriundas as diversas desigualdades que são naturalizadas por esse ideário.
Esse apelo a ordem no Brasil se corporificou na década de 1990, com a implementação do
neoliberalismo, que apresenta um caráter subversivo do trabalho e da vida social, impactando
diretamente os segmentos mais marginalizados e a classe trabalhadora, no que tange às suas
condições de vida, devido ao aumento do desemprego, da precarização do trabalho, da
desigualdade e degradação dos direitos sociais. Percebe-se, portanto, nesse cenário de
exploração, a banalização da vida humana, uma a reprodução da barbárie, provocando o
agravamento crescente da questão social e da criminalidade, em um período marcado,
segundo Barroco (2015, p.626), pela "cultura da violência e do medo social", o que gera uma
total insegurança para a população, que sofrem com essas diversas regalias, pois vivem com o
mínimo necessário para sua sobrevivência, se encontrando em um extremo processo de
pauperização.
Sendo assim, explicita-se um apelo a repressão, na qual a população diante dessa
situação sentiam-se encurraladas com tantas represálias do Estado, assim, Barroco (2015)
considera indubitável destacar a forte influência da mídia nesse processo, com ênfase aos
programas sensacionalistas, dos apresentadores Ratinho e Datena, que arrotam preconceitos e
incentivos a todo tipo de repressão, expondo crimes e delitos principalmente de jovens negros,
colaborando com disseminação da imagem do negro pobre, que mora nas periferias, como
bandido. A violência infelizmente é muito presente no Brasil, no qual já deixou inúmeras
manchas de sangue de inocentes em ofensivas violentas, em que a maioria desses casos
acontecem principalmente em comunidades marginalizadas, como favelas. Esses programas
apoiam as campanhas de militarização da vida cotidiana, do frequente uso da violência com a
utilização de armamentos, além de defenderem a pena de morte, deixando evidente a total
banalização da vida humana. Nesse sentindo, as diversas manifestações da questão social
foram marginalizadas, tornando-se caso de polícia, além de serem combatidas com estratégias
de guerra constante, esta que carrega no seu percurso uma crescente onda de homicídios no
Brasil, que ultrapassam os dados de morte dos doze grandes conflitos armados mundiais,
assim, o núcleo da questão social se encontra na guerra ao tráfico, pois à medida em que a
guerra vigorar, os direitos humanos serão suspensos, dado que não importa como e se os
recursos são moralmente válidos, o objetivo é obter a vitória sobre o inimigo, segundo as
prerrogativas do Estado policial presente no interior do Estado democrático. No cenário
contemporâneo, de prevalência das forças neoconservadoras e reacionárias, o que se explícita
na dinâmica de moralização das múltiplas refrações da questão social, não é a objetivação do
ajuste dos sujeitos sociais, mas a punição dos mesmos. A mídia, nesse contexto, propaga o
terror em nome da ordem, impulsionando a chamada "moralização punitiva", que dissemina a
perspectiva de divisão da sociedade entre aqueles que são bons e os maus que devem ser
punidos severamente por suas disfuncionalidades. Todos esses elementos estão presentes nas
campanhas escancaradas da direita e extrema-direita, que possuem o apoio do bloco midiático
no combate ideológico contra os direitos sociais duramente conquistados, as suas legislações;
os direitos humanos; contra os diversos movimentos sociais; os partidos da esquerda; o
comunismo; o marxismo; os programas de cotas para negros, dentre outros, segundo Barroco
(2015, p. 630).
Á vista disso, como parte dessa ofensiva neoconservadora, destacam se as
reivindicações moralistas dos representantes de grupos evangélicos, que são altamente
preconceituosos, intolerantes e fundamentalistas, estes se colocam contra a qualquer tipo de
legislação que tenha como objetivo a criminalização de atos homofóbicos e discriminação do
aborto. Outro fator, que é mister destacar, é a adesão dos jovens a esse ideário conservador,
como se participar e ser da direita fosse uma tendência do momento atual, um exemplo desses
movimentos é o MBL - (Movimento Brasil Livre) - apoiado por jovens que são amantes da
liberdade. Tais jovens são altamente intolerantes, se negam a estudar e elaborar trabalhos que
estão voltados a temas de religiões de matriz afro-brasileira, possuindo uma total aversão a
tais tradições. Assim, é indubitável ressaltar que tais intolerâncias e preconceitos também
invadem a formação e o exercício do assistente social na cena contemporânea, o que impacta
diretamente a formação profissional enfraquecendo sua perspectiva crítica frente às diversas
desigualdades que passam a se apresentar como naturais, devido a introdução do
irracionalismo nas diversas universidades pelo pensamento pós-moderno e dogmático. Nessa
perspectiva, Barroco (2015) aponta que, dentro das instituições o Serviço Social é requisitado
para realizar atividades policialescas, para trabalhar com a expulsão de moradores das suas
áreas, o deslocamento de usuários de drogas e moradores de rua, desempenhando um
exercício de acordo com as requisições das instituições tradicionais conservadoras, entretanto,
em alguns casos, essa ação pode partir do próprio profissional em função da ideologia
conservadora, na qual se orienta, podendo ser controlador no que tange a vida dos usuários,
realizando avaliações moralistas dotadas de preconceitos e discriminações. Dessa forma, a
autora destaca as pressões que os profissionais sofrem no âmbito do sociojurídico, que
requisitam ao profissional uma quebra do seu sigilo ou o fornecimento de provas, de
prontuários à justiça, além da elaboração de relatórios que contenham dados pessoais. No
entanto, os assistentes sociais devem ser contrários a essa perspectiva, de modo a traduzir as
categorias do projeto ético-político no seu cotidiano.
Portanto, Barroco (2015) destaca que o conservadorismo sempre esteve presente na
profissão, ressaltando a necessidade da hegemonia do projeto ético-político frente ruptura
com o conservadorismo, para tal é necessário o avanço e fortalecimento da base social que
determina a direção social e política da intervenção do assistente social, este deve buscar
traduzir o projeto profissional no seu trabalho cotidiano, de modo que esteja articulado com as
forças societárias na luta pela superação de toda barbárie, visando a emancipação da
sociedade. Sendo assim, os profissionais devem se organizar e realizar discussões, de modo a
se voltarem para o enfrentamento do moralismo, aprofundando sua crítica e buscando a
hegemonia do projeto profissional.
Referência: BARROCO, Maria Lúcia S. Não passarão! Ofensiva neoconservadora e Serviço
Social. In: Serviço Social e Sociedade. São Paulo, Cortez, 2015.

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