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COLÉGIO BATISTA MINEIRO

KIMBERLY BRANDÃO

RESENHA ACADÊMICA CRÍTICA


"Sobre o autoritarismo brasileiro - Escravidão e Racismo"

Belo Horizonte
2023
KIMBERLY BRANDÃO

RESENHA ACADÊMICA CRÍTICA


"Sobre o autoritarismo brasileiro - Escravidão e Racismo"

Resenha Acadêmica Crítica a pedido da área de Ciência


Humanas do Colégio Batista Mineiro (História 2 - 3ºC)

Professora: Wany Borges

Belo Horizonte
2023
RESENHA ACADÊMICA CRÍTICA

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Escravidão e Racismo. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz.


Sobre O Autoritarismo Brasileiro. 1 ed. São Paulo: Companhia das Letras, f. 144, 2019.
288 p, p. 27-40.

KIMBERLY BRANDÃO
Colégio Batista Mineiro

Com o passar do tempo, a sociedade contemporânea mostra-se cada vez mais


atingida pela amnésia histórica, o que a faz pensar na contemporaneidade como algo único,
onde os problemas sociais vividos são “novos”, atingindo patamares nunca previamente
existentes, e levando à proposição de soluções tão “óbvias” quanto falaciosas. O grande
contraponto por trás disso emerge de um demasiado cenário de retrocessos, em que, como
dito pelo historiador Albuquerque Júnior, a esperança parece ter fugido do coração dos
homens, tornando necessária a volta ao passado para tentar entender, em suma, os caminhos
percorridos pelo povo brasileiro na construção deste país que ainda se faz muito desigual e
injusto, por isso, é preciso que seja colocado em evidência o que corrobora esse atraso.
Partindo desse pressuposto, praticamente como uma resposta ao disserto exposto,
Lilia Moritz Schwarcz, antropóloga da Universidade de São Paulo-USP, em sua obra, que
aqui será analisada, intitulada “Sobre o autoritarismo brasileiro”, lançada pela Companhia das
Letras em 2019, (288 p.) discute uma série de temas que são considerados raízes das atuais
mazelas sociais que afetam a comunidade vigente. A autora delineia aspectos centrais da
desigualdade racial existente no tempo presente, com justificativas do passado, a partir da
memória de um Brasil sobejamente renegado na História oficial, tendo como objetivo central
“[…] reconhecer algumas das raízes do autoritarismo no Brasil, que têm aflorado no tempo
presente, mas que, não obstante, encontram-se emaranhadas nesta nossa história de pouco
mais de cinco séculos” (Schwarcz, 2019, p. 26).
A princípio, visando estabelecer as bases pelas quais se assentam a tradição
autoritária brasileira, a autora começa pelo tópico “Escravidão e Racismo”, tópico exclusivo
a qual essa resenha irá abordar, destacando que a escravidão representou muito mais que um
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sistema de organização político-econômico, mas um meio concreto para moldar a conduta dos
indivíduos mesmo após sua abolição: começando com um discurso darwinista social-racial
no período pós-emancipação, para um tipo de ideologia social que perpetua até os dias atuais.
A historiadora deixa claro que, apesar das conquistas do movimento negro desde o século
XX, da legislação e dos direitos adquiridos no século XXI, há muitas evidências estatísticas
que indicam a perpetuação de práticas discriminatórias e racistas, exemplo disso, como
descrito no livro, encontra-se na falta de assistência por parte do Estado, culminando nos
atuais atrasos vivenciados por várias pessoas até hoje, como a constituição segregadora de
algumas cidades, regiões específicas delas, nas quais eclodem violências fruto da
desigualdade.
De tão oficializadas pelo Estado, as desigualdades entre o povo já foram, pela própria
comunidade, naturalizadas, não causando, em muitos, estranhamento ou aversão,
representando um completo retrocesso a história nacional, uma vez que “naturalizar a
desigualdade, evadir-se do passado, é característico de governos autoritários que, não raro,
lançam mão de narrativas edulcoradas como forma de promoção do Estado e de manutenção
do poder. Mas é também fórmula aplicada, com relativo sucesso, entre nós, brasileiros. Além
da metáfora falaciosa das três raças, estamos acostumados a desfazer da imensa desigualdade
existente no país e a transformar, sem muita dificuldade, um cotidiano condicionado por
grandes poderes centralizados nas figuras dos senhores de terra em provas derradeiras de um
passado aristocrático” (SCHWARCZ, 2019, p. 19). Em outras palavras, Schwarcz enfatiza
como, por meio do uso sistemático da violência, este sistema definiu condutas, desigualdades
sociais, naturalizando padrões de mando e obediência e reforçando a constituição de uma
sociedade pautada pelo paternalismo e por uma hierarquia muito estrita.
Portanto, ao revisitar estes problemas a partir de uma perspectiva histórica, tendo
escravidão como uma instituição colonial aprofundada no Império e persistente na República,
sendo “o racismo filho da liberdade”, pois perdura na organização social da
contemporaneidade brasileira, uma vez que a população negra é a mais vitimizada do país, a
antropóloga nos mostra que a sua solução não é simples, pois envolve dimensões estruturais
e simbólicas enraizadas em nossa sociedade ao longo de cinco séculos. O próprio “fim da
escravidão” não significou o fim dessas dinâmicas, bem como a Lei Áurea não estipulou
nenhuma forma de integração dos ex-escravos, muito pelo contrário, contribuiu para a
concretização de um novo tipo de diferenciação social/racial, como a exclusão desta
população das principais instituições brasileiras, fato que se reflete na atualidade.
Em suma, conclui-se que o livro “Sobre o autoritarismo brasileiro” tem um teor um
tanto quanto crítico e intenso, sobretudo o primeiro capítulo aqui analisado, denominado

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“Escravidão e Racismo”. De forma geral, o objetivo do excerto literário é alertar, alertar uma
sociedade cheia de obstáculos engessados e enraizados para se atentar as atuais narrativas que
vem buscando manipular o povo brasileiro. Assim, a autora propõe que haja uma reflexão
acerca de algumas fórmulas populistas e simplistas que têm ganhado espaço no discurso
público, em especial aquelas relacionadas à segurança, paz e desenvolvimento. Como forma
de reverter esse cenário retrogrado, necessita-se não apenas de investimento em políticas
públicas mais justas e responsivas, mas também a mudança da cultura que justifica e leva à
aceitação de discursos que ainda reforçam o patriarcado, a segregação e a violência. Nesse
contexto, seguindo como base uma famosa citação de Nelson Mandela, homem que lutou
contra um regime racista e segregacionista, que declarou que “A educação é a arma mais
poderosa que você pode usar para mudar o mundo”, tem-se que investir na educação para a
paz, especialmente no caso das novas gerações é um elemento essencial de mudança. Como
diz Schwarz, “a história não é bula de remédio”, mas pode revelar a falácia de discursos
simplistas e a natureza mais profunda dos problemas que vivenciamos hoje. Seguir em direção
a um futuro melhor, mais justo, mais pacífico, requer pensar de forma criativa, muitas vezes
na contramão da opinião da maioria e das grandes narrativas.

KIMBERLY BRANDÃO, Estudante do Ensino Médio do Colégio Batista Mineiro

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