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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARNHÃO

CAMPUS BACABAL
DIREITO BACHARELADO

ALLAN JOSÉ DE LEMOS LIMA, IANDRO GUSMÃO BAIMA, LEONARDO LUÍS


COSTA SANTOS.

FICHAMENTO TEXTUAL DO LIVRO “DIREITOS HUMANOS, DEMOCRACIA E


DESENVOLVIMENTO”, DE BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS E MARILENA
CHAUÍ.

BACABAL-MA
2021
ALLAN JOSÉ DE LEMOS LIMA, IANDRO GUSMÃO BAIMA, LEONARDO LUÍS
COSTA SANTOS.

FICHAMENTO TEXTUAL DO LIVRO “DIREITOS HUMANOS, DEMOCRACIA E


DESENVOLVIMENTO”, DE BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS E MARILENA
CHAUÍ.

Fichamento textual apresentado ao Curso de


Direito da UEMA – Campus Bacabal como
requisito para obtenção de nota regimental
parcial na disciplina de Direitos Humanos.
Professora: Dyhelle Mendes.

BACABAL-MA
2021
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SANTOS, Boaventura de Sousa; CHAUI, Marilena. Direitos humanos, democracia e


desenvolvimento. 1ª ed. São Paulo: Cortez, 2014.

O livro destinado a esse fichamento textual é intitulado “Direitos Humanos,


democracia e desenvolvimento”, uma produção conjunta entre Boaventura de Sousa Santos e
Marilena Chaui. O projeto foi traçado no período em que Boaventura de Sousa Santos recebe o
título de Doutor Honoris Causa, pela Universidade Nacional de Brasília (UNB), por sua
contribuição, assim avaliada pelo Conselho Universitário, à ciência, à filosofia e ao melhor
entendimento entre os povos.
A filósofa e professora Marilena Chaui inicia saudando Boaventura com referência
em Ética a Nicômaco, nas passagens sobre a amizade. A coautora afirma que a amizade é o elo
que aproxima as pessoas do divino, por todas as qualidades que podem incidir uns nos outros.
Tão logo, partindo para o conteúdo estrito do título empregado à obra, Chaui volta sua análise
para a articulação entre a reflexão teórica e a intervenção prática, logo, a partir desse parâmetro,
destaca a crítica da razão indolente – sobre a crise da modernidade - e a ecologia dos saberes.
A professora, ao iniciar seus comentários a respeito do projeto moderno, pontua
que Boaventura de Sousa Santos atribui a dois pilares a sustentação deste projeto: a regulação
e a emancipação. A regulação tem como substância o Estado, o mercado e a comunidade; por
sua vez, a emancipação é constituída pela racionalidade expressiva das artes, a racionalidade
cognitiva, instrumental da ciência e técnica, e a racionalidade prática da ética e do direito.
Contudo, o teor abstrato de cada pilar projetou a exclusão mútua entre ambos, com o incremento
do capitalismo, a regulação superou a emancipação, explica Marilena Chaui.
O Direito, nessa abordagem, foi considerado um mosaico de retórica, violência e
burocracia, utilizado como resolução na crise do projeto moderno em harmonizar regulação e
emancipação, apresentando, desse modo, uma dualidade, pois, embora tente vencer a tirania,
regula o meio social e político através do poder estatal. Entretanto, Chaui menciona que esse
modelo contraditório é pertencente a um estado capitalista, gerando, assim, uma afirmação
vulnerável, uma vez que o pressuposto capitalista não admite que o Direito seja um instrumento
que aprisione as liberdades humanas, vale lembrar da luta do movimento Iluminista – símbolo
do neoliberalismo, o qual, basilarmente, contrariou os poderes despóticos que moldavam o
escopo político e social da época. Sendo assim, o caráter dito emancipatório, combater a tirania
ou o monopólio político e econômico, é uma pauta do estado citado por Chaui, haja vista que
pressiona para que a judicialização do estado não desperte as arbitrariedades do Direito.
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Adiante, Chaui trata da razão indolente, esta caracterizada pela exclusão da cultura
científica fora do ocidente, além da enganosa expectativa que a ciência está em contínua
evolução. Para superar essa questão recorre à transição pragmática, vista como uma alternativa
que construiria novas dimensões econômicas, sociais, políticas e culturais, com o objetivo de
formar uma força contra-hegemônica, cujo âmago, como o próprio Boaventura delega, é
descobrir, inventar e promover alternativas progressistas.
Portanto, como medida de intervenção para minimizar a hegemonia dos estados
liberais, o professor premiado pela UNB cria uma espécie de “ecologia de saberes”, um espaço
prático e teórico articulados, servindo de experimentação social capaz de engendrar diversidade
de pensamento. A interculturalidade proposta por Boaventura desmistifica, para Chaui, a
correta distribuição social do conhecimento científico propagada na modernidade, além de
primar por uma forma de conhecimento que garanta a participação dos diversos grupos sociais,
seja na concepção, execução, controle e fruição da intervenção do real realizada pela ciência.
Boaventura de Sousa Santos, em um segundo momento, introduz sua perspectiva
ao livro, por temática base “Direitos Humanos: ilusões e desafios”. Logo de início, ele chama
atenção ao problema que encaminha a maioria da população mundial à desassistência dos
direitos humanos. Isso porque a hegemonia que protege a dignidade da pessoa humana é a
hegemonia que perpetua a opressão contra indivíduos. Dessa forma, o professor levanta uma
suspeita sobre a concepção ocidental de direitos humanos, pois esse entendimento de direitos
se sobrepôs às necessidades das colônias, no século XVIII.
Sendo assim, o coautor distribui a ilusão da concepção ocidental de direitos
humanos em cinco aspectos: teologia, triunfalismo, descontextualização, monolitismo e
antiestatismo. Conforme a ordem mencionada anteriormente, o primeiro aspecto trata da
batalha travada entre as ideias que circundam abordagem da dignidade humana, sendo
vencedora a ideia do ocidente, por meio do uso da força. O segundo aspecto questiona a
incondicionalidade do bem humano alcançado pela vitória da concepção ocidental, expondo as
contradições existentes entre a letra dos direitos humanos e as ações para que a efetive. O
terceiro aspecto comenta as contradições históricas sobre a linguagem emancipatória
promovida por essa corrente, trazendo o exemplo de Napoleão Bonaparte. O quarto aspecto diz
respeito ao esforço em minimizar tais contradições para torna-las legítima.
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Com a mudança governamental passando de um estado absolutista que visava os


direitos e privilégios do clero e da nobreza, para um estado que se via obrigado a garantir os
direitos de toda uma população independentemente de sua casta ou raça, a balança que regia o
meio social foi alterada bruscamente, causada pelo o forte poder jurídico que emergia ante a
evolução do iluminismo que retratava o homem em seu apogeu.
No entanto, de mesmo modo que esse movimento e a sua evolução forneceu novos
aspectos sociais e jurídicos fornecendo ideais liberatórios causados por revoluções como a
americana ou a francesa com a declaração universal dos direitos humanos, os grandes motores
e a fumaça trazida pela a ascensão do capitalismo modificou estes mesmos ideais,
monopolizando poderes e causando a perda de soberania de diversos governos. Com a regência
de empresas instauradas em governos, rapidamente o poder jurídico é perdido e dar margem
para o controle das leis, usando como ameaça os diversos ramos econômicos que as mesmas
detêm. Com esta descentralização do poder e abertura para atuação, trabalhadores que antes
detinham do estado para lhes proteger, são abusados fisicamente e psicologicamente com altas
cargas horarias, trabalhos excessivos e rendimentos desumanos, também nomeada de
escravidão moderna, que atinge mais de 45,8 milhões de pessoas segundo a fundação Walk
Free. Mas deste modo, os governos estariam agindo em prol da população ou dos opressores?
Partindo do pressuposto que estes governos não atuam em prol destes habitantes, e
estes direitos humanos são infringidos, o autor suscita o pensamento de que estes direitos devem
ser universais, e independentes de período ou meio cultural, adotando um fator jusnaturalista
que apesar de possuir um movimento ocidental enraizado, pouco importando sua origem ou
período.
O ponto inicial abordado pelo o autor é referente ao universalismo dos direitos,
adotando o pensamento logico de que se é universal, pode surgir de qualquer país, e logo se
adotarmos o universalismo ocidental, também deve ser cogitado o pensamento oriental, sendo
o mesmo capaz de surgir de qualquer localidade.
Entretanto, de mesmo modo que utiliza-se a declaração universal dos direitos do
homem como base de nosso raciocínio, logo se esquece do período da qual foi desenvolvida,
imergida num período de racismo frequente, o pensamento de superioridade do homem branco
europeu, o sufocamento das vozes de povos considerados atrasados e não modernos como
povos indígenas e o completo preconceito a pessoas com opção de gênero não condiz com a
‘’manada social’’.
Deste modo, as mesmas declarações que regula a sociedade, também são
consideradas antiquadas e retrogradas por não possuir um englobamento majoritário da
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população e beneficiar povos colonialistas e que advém da supremacia branca. Notoriamente,


nos últimos 50 anos ouve um aumento exponencial de movimentos dos direitos negros, como
o Black lives matter, que luta justamente por justiça e a defesa da população negra, que se não
é protegida de maneira correta pelo o poder legislativo, que ao serem implantadas no meio, são
nomeadas de direito coletivo.
Este tipo de direito está diretamente interligado com o recente desenvolvimento
legal do último século, responsável principalmente pela a criação das principais leis trabalhistas,
femininas e de proteção a grupos minoritários como negros e LGBTQ. Todavia, os antiquados
grupos aos quais possuíam regência estatal e econômica, tornam demonstrar como são capazes
de manipular o poder público em prol de benefícios próprios.
Segundo o autor, estes mesmos movimentos de natureza civil são de suma
importância para o desenvolvimento Juri transicional pois alteram a lei e seus meios se
baseando na vontade popular, que muitas vezes não é atendida nos meios legais. Indo a essa
perspectiva, o escritor cita autores como Voltaire que cita a liberdade de expressão e Locke cujo
pensamento logra a liberdade a vida e a posses. No entanto, segundo o autor, esse pensamento
é diretamente interligado ao pensamento de humanidade, que também é decidido pelo o
período, similar a antiga Grécia que apenas uma camada ínfima social tinha direitos políticos
que homens com dividas ou presos em guerras não eram considerados cidadãos.
Logo o paradigma da igualdade universal possui o pressuposto de que os conflitos
não são possíveis de serem evitados pois carrega consigo a desigualdade entre classes que
buscam quebrar este desnível social.
O autor sustenta a tese de um direito ao desenvolvimento e principalmente da
reinvindicação desses direitos pelos países emergentes em especial os BRICS, sendo este o
bloco formado por países como o Brasil, Rússia, China e África do Sul, e mesmo tendo uma
relevância muito grande na economia mundial, não possui o peso correspondente na governança
do mundo se comparado ao bancos europeus e norte-americanos. Sendo assim, outro fator
bastante importante está no desenvolvimento capitalista ser em sua maior parte de extração, e
ter chegado ao limite suportado pelo planeta. Assim, os períodos climáticos e os fenômenos
climáticos extremos como inundações, secas, crises alimentícias, escassez de água potável
crescente, especulação com produtos agrícolas e o desmatamento das florestas, estão
completamente ligados a forma extrativista do capitalismo.
É preciso considerar, que a próxima característica tem um vínculo propriamente
latino-americana, tendo em vista a predominância acentuada de governos com caráter
progressistas, também frutos de fortes mobilizações sociais. Logo, o autor afirma a mudança
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social ocorrida na Venezuela, Equador, Brasil, Argentina e Bolívia, onde houve um aumento
nos rendimentos mensais das famílias consideradas brasileiras. Sendo assim, esse modelo de
desenvolvimento é menos flexível a distribuição social e totalmente rígida no que tange a
acumulação de bens e capital. Desse modo, o poder político cresce mais do que o poder
econômico e redistribuição de renda lhe dá uma legitimidade que o modelo de desenvolvimento
anterior não possui.
Além do mais, a relação desenvolvimentista com os direitos humanos é complexa
e facilmente suscita a ideia de que o ser está perante um contexto de incompatibilidade entre
eles. Assim, não se pode querer o crescimento de direitos sociais e econômicos, o direito à
segurança alimentar da maioria da população ou o direito à educação. Isso fatalmente ter de
aceitar a violação do direito a saúde, dos direitos ambientais, dos povos indígenas como se um
não pudesse coexistir com o outro, o social e a busca pelo lucro.
Outrossim, o uso de agrotóxicos gera uma série de agravos a saúde pública ainda
mais tendo em vista o uso indiscriminado por parte do Brasil dessas substâncias, que está
associado principalmente ao modelo de monocultura. A monocultura já apresenta em si grandes
problemas e impactos severos no meio ambiente, como a grilagem de terras indígenas e das
áreas de reforma agrária, degradação ambiental e afetam principalmente aqueles que dependem
de sua existência como os povos tradicionais, indígenas e quilombolas. Ademais, o uso de
agrotóxicos está vinculado a aparição de várias enfermidades com altos índices de mortalidade
como o crancus, doenças de pele e doenças respiratórias. Além disso, há a violência resultante
da luta contra o agronegócio, onde o autor cita o caso de assassinato do agricultor, ambientalista
e líder comunitário José Maria Filho, alvejado com 20 tiros de pistola no dia 21 de abril de
2010.
Por fim, o autor reitera, que a grande concentração em monocultura está relacionada
sobretudo com o aumento do consumo de agrotóxicos e da violência no campo, sendo as ações
de reintegração geradoras de mais violência e morte. Ademais, a força política desse modelo de
economia tem dominado o Congresso Nacional Brasileiro, e sua força é vista principalmente
pela quantidade de representantes da Bancada Ruralista.

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