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PERCEPÇÕES SOBRE O AUTORITARISMO NA SOCIEDADE BRA-

SILEIRA: UMA COMPARAÇÃO ENTRE AS IDEIAS DE SIMON


SCHWARTZMAN E MARILENA CHAUÍ

Lucas Tibo Saraiva¹


Antônio Dimas Cardoso²

¹UNIMONTES
Mestrando em Desenvolvimento Social
lucas_tibo@hotmail.com

²UNIMONTES
Professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social
antonio.dimas@unimontes.br

RESUMO
O problema do autoritarismo é fonte de investigação de extensa literatura no pensamento social
e político brasileiro, sendo acionado como chave explicativa para a compreensão dosdilemas
que abarcam a sociedade brasileira.Objetiva-se comparar as ideias de dois eminentes intelectu-
ais brasileiros: de um lado, o cientista político Simon Schwartzman, situado em um quadrante
liberal; de outro lado, a filósofa Marilena Chauí, militante considerada de “esquerda”.Para re-
alizar tal comparação, tomar-se-á como referênciaa obra “Bases do autoritarismo brasileiro”,
de Simon Schwartzman, e o livro “Manifestações ideológicas do autoritarismo brasileiro”, de
Marilena Chauí, observando como se dá em cada um a construção analítica até a chegada nos
respectivos diagnósticos acerca do autoritarismo.A partir de análises preliminares, identifica-se
como Schwartzman, apoiado em uma teoria do estado neopatrimonialista, focaliza o problema
do autoritarismona forma peculiar de apropriação das oligarquias no aparelho burocrático es-
tatal. Já Chauí focaliza suas análises na cultura autoritária que emana da própria sociedade, a
qual possui marcadamente um imaginário de violência.As interpretações elaboradas tanto por
Schwartzman como por Chauí demonstram como o problema do autoritarismo constitui traço
fundamental da sociedade brasileira, o que reforça as preocupações em torno da consolidação
da democracia entre nós.

Palavras chaves: Sociedade; Estado, Autoritarismo; Democracia.

INTRODUÇÃO

Propostas de pesquisa voltadas ao tema do autoritarismo são muito comuns na literatura espe-
cializada, tanto a nível internacional como nacional. Tais pesquisas são justificadas tanto por
regimes políticos de caráter autoritário que se constituíram historicamente em várias partes do
mundo, como por um conjunto de valores e atitudes de agrupamentos humanos que também 886
revelam características autoritárias, isto é, de intransigência e pensamento único.
Talvez a questão que se coloca para as democracias contemporâneas seja a tensão entre auto-
ridade e autoritarismo. Como forma legítima de poder, a autoridade precisa ser exercida, pois
imagina-se que sem ela não há possibilidade de convívio razoável entre os homens. O autorita-
rismo, no entanto, é uma espécie de distorção da autoridade: “[...] do ponto de vista dos valo-
res democráticos, o Autoritarismo é uma manifestação degenerativa da autoridade. Ela é uma
imposição da obediência e prescinde em grande parte do consenso dos súditos, oprimindo sua
liberdade” (BOBBIO, 1998, p.94).
O autoritarismo como objeto de análise científica costuma ser estudado sob três dimensões:
a partir das estruturas políticas, isto é, de um ponto de vista macrossociológico; a partir das
estruturas de personalidade, de um ponto de vista psicológico; e por último a partir das ideias
que ganham corpo em determinadas sociedades, ou seja, de um ponto de vista ideológico
(BOBBIO,1998, p.94).
No contexto brasileiro, a produção intelectual a respeito do problema do autoritarismo cos-
tuma tomar como referência os períodos históricos onde prevaleceram governos ditatoriais,
notadamente o Estado Novo (1937-1945) e a Ditadura Civil-Militar (1964-1985). Assim, por
exemplo, costuma-se vincular a sustentação do Estado Novo à intelectualidade da época, res-
saltando alguns pensadores de matriz conservadora como Oliveira Viana e Azevedo Amaral
(ABREU, 2010). No caso do regime militar de 1964, enfatiza-se a ideia de que a redemocra-
tização política no Brasil não rompeu com vários traços autoritários que prevaleciam ante-
riormente pelo fato da transição ter sido gradual e recheada de conciliações políticas, o que
impediu o florescimento de plataformas autônomas e efetivamente democráticas (PAIXÃO,
2011).
No entanto, o que se percebe a partir da própria história do Brasil é que, mesmo superado
governos de caráter ditatorial, o problema do autoritarismo parece persistir, seja no âmbito de
estruturas institucionais historicamente constituídas, seja no âmbito cultural, quando soluções
simplistas são formuladas para dar conta de problemas complexos. O esforço da intelectua-
lidade contemporânea, nesse sentido, é tentar elucidar as características de sistemas autoritá-
rios, por assim dizer, para além de períodos históricos em que regimes ditatoriais existiram. É
dentro deste escopo que a comparação entre dois intelectuais de renome, Simon Schwartzman
e Marilena Chauí, de formações e espectros político-ideológicos diferentes, ganha sentido,
pois ambos vão se debruçar sobre o problema do autoritarismo na sociedade brasileira tentan-
do encontrar fórmulas razoáveis de elucidação do mesmo.

AUTORITARISMO E ESTADO NEOPATRIMONIALISTA

“Bases do Autoritarismo Brasileiro”, publicado pela primeira vez em 1982, tem suas origens
em tese de doutoramento no Departamento de Ciência Política da Universidade da Califórnia,
Berkeley em 1973. Nele, Simon Schwartzman trata do problema do autoritarismo como uma
característica de nosso atraso social, condição de um país subdesenvolvido. O autor utiliza de
uma abordagem histórica, ressaltando alguns episódios de formação da sociedade brasileira
com referência à dimensão política, isto é, na tentativa de interpretar as relações entre Estado e 887
Sociedade em contextos periféricos, como é o caso do Brasil. Importante salientar que tal abor-
dagem é ancorada em dados e informações de época, o que fortalece os argumentos presentes
na obra.
É possível delinear algumas características marcantes no livro. Em primeiro lugar, a crítica
explícita ao modo de análise marxista que, segundo o autor, foi incorporado por boa parte da
intelectualidade e que costuma querer dar conta dos problemas enfrentados pelas nações latino-
americanas, só que frequentemente de modo distorcido; em segundo lugar, a leitura do Brasil a
partir das suas divisões regionais, enfatizando a proeminência de São Paulo, bem como as ten-
sões entreestados e governo central; em terceiro lugar, a tese do livro, referente ao monopólio
que o estado brasileiro historicamente exerceu em relação à sociedade em geral (movimentos
sociais, sindicatos, setores produtivos) e em particular aos governos estaduais. Tal monopólio
gerou um modelo estatal “inchado” e controlador, com traços marcantesde patrimonialismo.
A crítica ao modelo de análise marxista já se faz presente nas primeiras páginas do livro.
Schwartzmancomeça problematizando um tipo de modelo de representação de grupos de in-
teresse, de matriz marxista, que polariza os problemas sociais e políticos em categorias di-
cotômicas. Tal polarização, segundo o autor, não dá conta de interpretar verdadeiramente os
acontecimentos políticos brasileiros (SCHWARTZMAN, 2007, p.42). A base material de exis-
tência funcionando como infraestrutura da realidade, determinando as relações sociais no seu
conjunto, não é aceita pelo cientista político. A esfera política possui sua autonomia, o que não
extingue possíveis condicionamentos de ordem econômica. Nesse sentido, “O processo político
[...] tem objetivos e mecanismos próprios que, embora não sejam independentes e isolados dos
processos que se desenvolvem na esfera produtiva, só podem ser entendidos em sua especifici-
dade” (SCHWARTZMAN, 2007, p.44).
Abrindo o leque de críticas, Schwartzmantambém questiona as análises em torno da “cultura
política” e da “modernização”. No caso da primeira, há uma tendência em salientar determi-
nadas “singularidades” da nação em análise, perdendo-se de vista questões estruturais. Já nas
teorias da modernização, o autor observa uma lacuna entre as construções teóricas e a realidade
empírica, além de uma tendência em utilizar termos que remetem à “falta” ou “ausência” nas
estruturas sociais de países subdesenvolvidos (SCHWARTZMAN, 2007, p.45-47).
É necessário um modelo teórico condizente com a história e as estruturas sociais e políticas de
nações como o Brasil. Nesse sentido, o patrimonialismo, conceito de matriz weberiana, deve
servirde norte para os estudos (SCHWARTZMAN, 2007, p.55). É assim que problemas como
os de instabilidade política e autoritarismo devem ser compreendidos majoritariamente como
[...] consequências de uma reduzida capacidade social de articulação e repre-
sentação de interesses em um contexto de concentração “excessiva” de poder
nas mãos do Estado. Quando isso ocorre, as tentativas de aumentar e articular
a representação de interesses na sociedade são suprimidas e cooptadas, e o re-
sultado é a debilidade e dependência contínuas dos grupos sociais articulados,
em relação ao centro político (SCHWARTZMAN, 2007, p.56).

Dessa forma, há uma ênfase em como a centralização e burocratização do sistema estatal in-
terferiu e interfere na configuração das relações entre estado e sociedade no Brasil. Esta tese
contraria um ditame marxista de que o Estado só pode ser entendido enquanto representante da 888
classe dominante (SCHWARTZMAN, 2007, p.57).
A segunda característica presente no livro refere-se às análises de cunho geográfico, isto é,
da maneira como estados e regiões no Brasil se articularam historicamente, seja no formato
de alianças, seja no formato de conflitos. Notadamente, Schwartzman salienta o papel de São
Paulo como estado ímpar, o qual concentrou dois processos fundamentais: a industrialização e a
urbanização. Desde quando, no período colonial, era ainda a capitania de São Vicente, São Pau-
lo teve um desenvolvimento único, desvinculado do poder central. Se o estado paulista teve de-
sempenho econômico historicamente comprovado, do ponto de vista político sua participação
na vida nacional foi menos intensa (SCHWARTZMAN, 2007, p.72).O autor relaciona ainda a
Guerra dos Emboabas1 com a história de perda de hegemonia de São Paulo para a administração
portuguesa, que teve nas bandeiras seu primeiro foco de atuação e depois é favorecido com a
mineração no estado de Minas Gerais (SCHWARTZMAN, 2007, p. 126).
De outro lado, o autor estabelece um paralelo com a Guerra dos Mascates2 no contexto da
produção de açúcar em Pernambuco. O que se destaca é a aliança inicial entre portugueses
e holandeses, os primeiros preocupados com a dominação territorial e os segundos focados
no empreendimento lucrativo da indústria açucareira (SCHWARTZMAN, 2007, p.128-129).
Parece razoável afirmar que o que está na mira do cientista político é o descompasso existente
ao longo da história entre desenvolvimento político e econômico, o qual pode ser ilustrado na
citação a seguir: “São Paulo e Pernambuco parecem ter sido as duas tentativas principais de
estabelecer uma ocupação essencialmente econômica, e não administrativa, no novo território”
(SCHWARTZMAN, 2007, p.131). Nesse modo de pensar, o isolamento político por que São
Paulo passou parece ter contribuído para sua ascensão econômica, pelo menos parcialmente.
O poder político parece ter se alojado majoritariamente nos estadosda Bahia e do Rio de Janei-
ro, ambos concentrando historicamente as capitais do Brasil e, por consequência, herdando uma
estrutura administrativa. Essas regiões mantiveram uma relação mais estreita com a cultura eu-
ropeia e se projetavam com mais ímpeto nos processos políticos a nível nacional (SCHWART-
ZMAN, 2007, p.66).
Papel não desprezível é atribuído ao Rio Grande do Sul. Para o autor, este estado desempenhou
considerável protagonismo político, com destaque para a centralidade do setor militar que por
lá se desenvolveu ao longo da história (SCHWARTZMAN, 2007, p.77). Destaca-se a Colônia
de Sacramento3como principal responsável pela militarização de um grande contingente de
homens que mais tarde comporiam majoritariamente o exército nacional.

1 “A Guerra dos Emboabas foi um confronto travado de 1707 a 1709 pelo direito de exploração das
recém-descobertas jazidas de ouro na região do atual estado de Minas Gerais, no Brasil. O conflito contrapôs
os desbravadores vicentinos e os forasteiros que vieram depois da descoberta das minas”, conforme: https://
pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_dos_Emboabas
2 “A Guerra dos Mascates, que se registrou de 1710 a 1711 na então Capitania de Pernambuco, é consi-
derada um movimento nativista pela historiografia em História do Brasil. Confrontaram-se os senhores de terras
e de engenhos pernambucanos, concentrados em Olinda, e os comerciantes reinóis (portugueses da metrópole)
do Recife, chamados pejorativamente de mascates”, conforme: https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_dos_Masca-
tes
3 “A 22 de janeiro de 1680, as forças portuguesas iniciaram o estabelecimento da Colônia do Santíssimo
Sacramento, fronteiro a Buenos Aires, na margem oposta. O núcleo desse estabelecimento foi uma fortificação
simples, iniciada com planta no formato de um polígono quadrangular”, conforme https://pt.wikipedia.org/wiki/
889
Col%C3%B4nia_do_Sacramento
As tensões oriundas entre processos de centralização e descentralização política permeiam a
história de formação do Brasil. Tais tensões podem ser visualizadas desde o período colonial
até a segunda metade do século XX. Assim, por exemplo, “A política inicial de colonização no
Brasil foi, de fato, a criação de feudos hereditários (capitanias) concedidos à exploração pri-
vada. Esse sistema, porém, não chegou a se desenvolver plenamente, sendo substituído, logo
em seguida, por um processo crescente de centralização administrativa” (SCHWARTZMAN,
2007, p.116).
Em inícios do século XIX o Brasil conquista sua independência política, tornando-se um impé-
rio, não mais submetido à Coroa Portuguesa, mas sob a influência econômica da nova potência
mundial: a Inglaterra (SCHWARTZMAN, 2007, p.140). Após o esgotamento dos ciclos do
açúcar e da mineração, o ciclo do café será o carro-chefe da economia brasileira, tendo São
Paulo como lócus principal de produção. Nesse contexto, “Em São Paulo, a produção do café
foi estimulada por uma política ativa de atração de imigrantes europeus e de sua substituição
a um sistema de exploração de trabalho bastante intenso, de características semelhantes às do
capitalismo” (SCHWARTZMAN, 2007, p.159). Para o autor, São Paulo parece ser um modelo
de desenvolvimento social e econômico que deve ser perseguido pela nação como um todo.
Apesar do protagonismo econômico vivido pelo estado, havia uma demanda por parte da elite
cafeeira para a intervenção do governo central no que se refere ao controle do preço do café
(SCHWARTZMAN, 2007, p.163). Isso é sintomático de uma inversão de fatores que ocorre no
caso brasileiro: o de uma subordinação dos agentes econômicos à esfera política e não o contrá-
rio. Com efeito, o período imperial brasileiro é caracterizado por um duplo processo de depen-
dência: dependência externa, isto é, do estado brasileiro em relação à economia internacional
(notadamente a Inglaterra); dependência interna, ou seja, dos grupos econômicos nacionais em
relação às estruturas de estado patrimoniais (SCHWARTZMAN, 2007, p.168-169).
O fim do período imperial com a consequente proclamação da república abre espaço para for-
mas mais descentralizadas de poder, com mais protagonismo para as oligarquias estaduais me-
lhor organizadas.Na República Velha, Schwartzman salienta a presença de duas fontes de poder
político: tanto de uma estrutura governamental a nível nacional, apoiada nas estruturas buro-
cráticas historicamente formadas; quantode uma política local cujos interesses, para serem ex-
pressivos, tendiam a ser cooptados pelo poder central (SCHWARTZMAN, 2007, p.179). Fato
é que este período republicano dura pouco tempo, cedendo lugar à tendência de centralização
via estado forte e burocrático.
Segundo o autor, a ditadura varguista adquire características peculiares, com
[...] uma maior centralização e concentração de poder político. Seus líderes,
um grupo extremamente jovem em relação ao regime deposto, não eram re-
presentantes nem da “burguesia”, nem das “classes médias em ascensão”. Eles
se identificavam claramente com a tradição política e militar do Rio Grande e
respondiam de forma difusa, incerta e indecisa às demandas oriundas dos se-
tores mais urbanizados do país por medidas de bem-estar social e um aumento
da eficiência e força administrativa, militar e econômica do Estado nacional.
Ao mesmo tempo, tratavam de manter uma situação de equilíbrio e compo-
sição com as elites políticas remanescentes do período anterior e que tinham 890
aderido a Vargas (SCHWARTZMAN, 2007, p.206).
No seu conjunto, o governo de Getúlio Vargas ficou marcado pela centralização política com
apoio dos militares e dependência das oligarquias regionais ao governo central, principalmen-
te após a instauração do Estado Novo (1937-1945) (SCHWARTZMAN, 2007, p.208). Nesse
ponto, o populismo entra em cena como mecanismo político fruto da mencionada centraliza-
ção com um aumento paulatino de participação política pós - 1945 (SCHWARTZMAN, 2007,
p.212).
No breve período democrático por que passa a sociedade brasileira, o autor enfatiza mais uma
vez o processo de dependência em relação às estruturas de estado, desta vez ilustrando como
os partidos políticos mais expressivos nas eleições do período (PSD e PTB4) tinham fortes
vínculos de barganha e clientelismo (SCHWARTZMAN, 2007, p.225). O golpe de 1964 impõe
uma fratura no sistema político e eleitoral brasileiro, pondo fim ao processo de desenvolvimen-
to social e participação política que vinha se afirmando até então (SCHWARTZMAN, 2007,
p.242).
O percurso histórico resumido realizado pelo autor pretende revelar a sua tese: de como o
estado, ou o poder político, suplantou os grupos econômicos e a sociedade civil em geral. Do
ponto de vista conceitual, o “patrimonialismo político” adquire valor explicativo, pois pode ser
comprovado pela realidade empírica da sociedade brasileira no decorrer dos séculos. Não se
trata, portanto, de definição ideal, mas assentada na realidade dos fatos.
O patrimonialismo, em sua origem, é um recurso analítico forjado por Max Weber para dar
conta de um tipo de dominação tradicional de origem feudal, em que as esferas pública e pri-
vada são confundidas, não tendo uma distinção clara (SCHWARTZMAN, 2007, p.93). Já o
neopatrimonialismo é característico de sociedades modernas, nas quais há uma autonomização
da elite política somada a setores administrativos da máquina pública em relação ao restante da
sociedade. Esse parece ser o contexto propício para a proliferação do autoritarismo como forma
de controle que se utiliza das estruturas centralizadas para controlar a sociedade de massas que
começa a se formar no pós-guerra.
Schwartzman corrobora com Raymundo Faoro em sua tese de estado patrimonial, mas não no
formato de um “estamento burocrático”, pois a conotação da palavra “estamento” alude para
uma estrutura feudal, a qual nunca existiu no Brasil. Além disso, Faoro percebe tal estamen-
to como imutável, diferente de Schwartzman que concebe alterações no decorrer do tempo
(SCHWARTZMAN, 2007, p.116).
O fenômeno eminentemente político que se alia à estrutura patrimonial de estado é a cooptação
política. Ela nasce de estruturas débeis de participação política em que, via de regra, atrela-se
movimentos sociais e sindicatos à estrutura estatal por meio de benefícios e privilégios. Para
Schwartzman, o sistema de cooptação política faz uma mediação entre um sistema corporativo
(estatizante) e um sistema de grupos de interesse (liberal).
A política de cooptação é a distorção da política de representação, entendida como a organi-
4 “Foi na conjuntura final do Estado Novo que foram criados os principais partidos políticos brasileiros
atuantes da década de 1940 à de 1960: a União Democrática Nacional (UDN), o Partido Social Democrático
(PSD) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). A lei eleitoral de maio de 1945, elaborada sob a supervisão do
ministro da Justiça Agamenon Magalhães, determinou a constituição de partidos de caráter nacional, o que rom-
pia com a tradição regionalista da política partidária brasileira”, conforme: https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/
891
AEraVargas1/anos37-45/QuedaDeVargas/PartidosPoliticos
zação autônoma de grupos de interesse que disputam espaço na arena política, pressionando o
estado para a efetivação de suas demandas. Para o autor, São Paulo é o estado brasileiro que
mais se aproxima desse modelo de representação, modelo esse que tem suas origens nos países
da Europa ocidental (SCHWARTZMAN, 2007, p.227).
No contexto de um estado patrimonial a nível estrutural e de cooptação política a nível político,
o autor alude para dois tipos extremos de ideologias presentes no debate público e intelectual
brasileiro: um liberal, antiestatista, que atribui o atraso brasileiro ao peso do estado na socie-
dade; outro estatizante, que abomina as relações de mercado e aposta no estado como forma
unívoca de desenvolvimento. No entanto, o cientista político avalia que ambas as ideologias
possuem seus méritos e seus equívocos. Nesse sentido,
O fato é que o sistema político liberal pode ser tanto na forma de garantir a
participação de setores cada vez maiores da sociedade na definição dos obje-
tivos nacionais, quanto ao contrário, uma forma de garantir a prevalência de
interesses estabelecidos em detrimento de setores sociais menos articulados.
Por outra parte, sistemas políticos centralizados podem tanto ser uma forma
de limitar a distribuição do produto social a um grupo restrito, quanto, ao
contrário, garantir que a vontade geral prevaleça sobre interesses minoritários
mais articulados(SCHWARTZMAN, 2007,p.262).

Em termos de alternativas possíveis, o autor sugere uma espécie de conciliação: “transformar


as estruturas e atitudes políticas nos dois lados da divisão regional e ideológica do país; desbu-
rocratizar, tornar menos autoritária e clientelística a ação do Estado, e tornar menos privatista e
conservadora a política representativa” (SCHWARTZMAN, 2007,p.265).Esta é a fórmula a ser
alcançada para a devida superação do subdesenvolvimento, abrindo caminho para uma socieda-
de mais justa e equilibrada socialmente e mais competitiva economicamente.

A NAÇÃO COMO CONSTRUÇÃO IDEOLÓGICA

Se em “Bases do Autoritarismo Brasileiro” encontra-se um estudo marcadamente situado na


área da Ciência Política, em “Manifestações ideológicas do autoritarismo brasileiro”, coletâ-
nea de textos de Marilena Chauí, o foco gira em torno da reflexão acerca das ideologias que
foram se constituindo e ganhando corpo como forma de justificar as relações de desigualdade
e os problemas do autoritarismo na sociedade brasileira. Aqui, a perspectiva adotada é explici-
tamente marxiana, tendo em vista que se dá a partir do conflito entre classes sociais.
Especialmente no texto “Brasil: mito fundador e sociedade autoritária”, Chauí discorrerá acer-
ca da elaboração da ideia de “nação” como construção ideológica de um país uno e sem divi-
sões, isto é, como forma de exercer um tipo de dominação autoritária. Importante salientar que
o texto em questão foi escrito no contexto dos anos 2000, momento em que se “comemorava”
os 500 anos desde a chegada dos portugueses em território nacional.
A autora inicia o texto refletindo sobre uma visão de Brasil que predomina no imaginário social
de que “somos um povo bom, pacífico e ordeiro” (CHAUÍ, 2014, p.149). Esta visão é reforçada
por alguns aspectos institucionais como nossa bandeira e hino nacional e pode ser comprovada 892
através de pesquisas de opinião, que costumam captar a percepção de que o Brasil é um país
rico em belezas naturais e que possui um povo diverso culturalmente.O conjunto de represen-
tações sobre o Brasil abarca uma série de adjetivos, até mesmo contraditórios, o que, segundo
a autora, nos remete ao mito fundador dessa nação chamada “Brasil”.
O primeiro ponto importante é destacar a acepção tripla do termo “mito” utilizado pela filóso-
fa: na sua acepção filosófica, o mito é visto como narrativa de feitos heróicos; na sua acepção
antropológica, como narrativa que busca eliminar tensões e conflitos; na acepção psicanalítica,
como narrativa que reforça um imaginário longínquo e que não se abre para a realidade presente
(CHAUÍ, 2014, p.150-151).
O mito é “fundador” por que há diferença semântica fundamental entre “fundação” e “forma-
ção”. Nesta última, há a noção de que determinações de ordem econômica, política, cultural,
entre outras, confluem para um dado acontecimento histórico, contendo um sentido de trans-
formação conforme o tempo. Já a fundação cria uma associação com um marco do passado
que, independentemente do tempo e do espaço, isto é, dos processos históricos, persiste como
explicação sempre atualizada (CHAUÍ, 2014, p. 151).Nesse sentido, a autora define o mito
fundador como “[...] aquele que não cessa de encontrar novos meios para exprimir-se, novas
linguagens, novos valores e ideias, de tal modo que, quanto mais parece ser outra coisa, tanto
mais é a repetição de si mesmo” (CHAUÍ, 2014, p.152, grifos da autora). Como repetição de si
mesmo, o mito fundador tem a capacidade de abarcar determinadas ideologias sem perder seu
conteúdo precípuo.
Para fundamentar suas análises, Chauí lança mão da ideia de “semióforo”, sendo a nação uma
exemplificação fundamental. Semióforo designa um objeto, animal, pessoa ou mesmo algum
acontecimento dotado de sentido simbólico, que se torna especial para determinada coletivida-
de humana. Por invariavelmente trazer um efeito simbólico, os semióforos são dignos de culto
e celebração, pois estabelecem conexões entre passado e futuro, profano e sagrado.
Outra característica importante é que os semióforossão distintivos de poder e prestígio. Assim
sendo, eles estão em disputa dentro da dinâmica de funcionamento do modo de produção capi-
talista. Segundo a autora, o poder político logrou forjar um semióforo fundamental, qual seja,
a nação. Assim, “o poder político faz da nação o sujeito produtor dos semióforos nacionais e,
ao mesmo tempo, o objeto do culto integrador da sociedade una e indivisa” (CHAUÍ, 2014,
p.155).
A invenção do termo “nação” relaciona-se com processos históricos e políticos ocorridos no
continente europeu. A periodização de EricHobsbawm é acionada para clarear os motivos de tal
invenção:De 1830 a 1880 identifica-se o “Princípio da nacionalidade”; de 1880 a 1918 predo-
mina a “Ideia nacional” e de 1918 a 1950-1960 floresce a “Questão nacional”. Tais categorias e
suas respectivas periodizações aludem, evidentemente, para o contexto dos países europeus.
Fato é que, para Chauí, a ideia de nação surge para fortalecer o poder do estado, o qual precisa-
va legitimar suas ações e decisões para dar seguimento ao desenvolvimento capitalista, fruto do
incipiente processo de industrialização e urbanização que se iniciava (CHAUÍ, 2014, p. 158). O
liberalismo político, corrente de pensamento motivadora, em grande medida, das “revoluções”
no século XVIII, precisava agora acalmar as intensas lutas de classe social, sendo a ideia de
“nação” propícia para tal intento. 893
No “princípio de nacionalidade”, uma nação depende da existência de um território e do
seu contingente populacional, além da língua como principal fundamento de ligação entre as
pessoas. Já na “ideia nacional”, em função da maior intensidade dos conflitos de classe, atrela-
se a nação com o “espírito do povo”. Já na fase da “questão nacional”, a nação ganhará rele-
vância como fonte estratégica de poder, dando margem ao surgimento do nazifascismo como o
extremo do nacionalismo (CHAUÍ, 2014, p.159-161).Chauí lembra que mesmo após o fim das
duas guerras mundiais, a ideia de nação ou o nacionalismo passaram a constituir traços marcan-
tes da sociedade moderna. Tanto no espectro político da direita como da esquerda, sustenta-se
o ideário nacionalista.
No caso brasileiro, identifica-se o ideário nacionalista nas obras de Oliveira Vianna e Plínio
Salgado, este último fundador da Ação Integralista Brasileira, partido político com atuação nas
décadas de 1920-1930. Para estes autores, considerados de “direita”, era premente a formação
de um Estado forte e centralizado que encaminhasse a nação para o progresso, mantendo-se
evidentemente a ordem. Por outro lado, nas décadas de 1950-1960, observa-se a construção de
um diagnóstico de esquerda em que
[...] a luta histórica foi interpretada [..] como combate entre a nação (represen-
tada pela “burguesia progressista” e as “massas conscientes”) e a antinação
(representada pelos setores “atrasados” da classe dominante, pelas “massas
alienadas” e pelo capital estrangeiro ou as “forças do imperialismo” (CHAUÍ,
2014, p.163).

Para analisar o caso brasileiro, Chauí utiliza-se das categorias de “caráter nacional” e de “iden-
tidade nacional”. A primeira corresponde, grosso modo,aos esquemas gerais do princípio da
nacionalidade e da ideia nacional.Um claro exemplo colocado pela autora é a escravidão no
Brasil na sua versão“benevolente”. Predomina ainda a ideia de“uma totalidade de traços coe-
rente, fechada e sem lacunas porque constitui uma ‘natureza humana’ determinada” (CHAUÍ,
2014, p.164).A ideologia do “caráter nacional” tem nas décadas de 1920 a 1950 sua atuação
mais clara no Brasil.
Por outro lado, a categoria de “identidade nacional” corresponde à“questão nacional” no plano
europeu de análise. O exemplo neste caso é da escravidão na sua versão de “violência”. Predo-
mina, em grande medida, a noção de “falta”, sendo que “Assim, a identidade do Brasil, constru-
ída na perspectiva do atraso ou do subdesenvolvimento, é dada pelo que lhe falta, pela privação
daquelas características que o fariam pleno e completo, isto é, desenvolvido” (CHAUÍ, 2014,
p.167).A correspondência histórica desta ideologia encontra-se nas décadas de 1950 a 1970.
Após fazer as correspondências e caracterizações das ideologias do caráter e da identidade na-
cional, Chauí aponta três referências fundamentais acerca do nosso mito fundador: a sagração
da natureza, da história e do governante. Na primeira delas, Chauí aponta como ilustrativo o
fato de nossa bandeira nacional possuir cores que remetem à natureza; nenhuma cor faz menção
à história política brasileira (CHAUÍ, 2014, p.198). Há toda uma exaltação de país farto “por
natureza”, com riquezas naturais de todos os tipos: a fauna, a flora, a abundância em água, tudo
remete à noção de país abençoado por possuir tantos recursos naturais.
O Brasil-Natureza traz, no entanto, efeitos perversos, como a escravidão como processo na- 894
tural, de superioridade de uns em relação a outros povos, isto é, de europeus naturalmente
superiores tanto em relação aos índios como em relação aos negros (CHAUÍ, 2014, p.202); um
tipo de divisão natural do território brasileiro, como, por exemplo, entre sertão e litoral, sendo
o primeiro, em linhas gerais, colocado como “essência” do Brasil e o segundo como espécie de
imitação europeia (CHAUÍ, 2014, p.205).
Na sagração da história, os fatos ocorridos no Brasil são entendidos como realização da von-
tade divina (CHAUÍ, 2014, p.206). Este tipo de noção está ancorada na matriz de colonização
judaico-cristã por que passou o Brasil. Assim, segundo a filósofa
Nosso passado assegura nosso futuro num continuumtemporal que vai da
origem ao porvir e se somos, como sempre dizemos, “Brasil, país do futu-
ro”, é porque Deus nos ofereceu os signos para conhecermos nosso destino:
o Cruzeiro do Sul, que nos protege e orienta, e a Natureza-Paraíso, mãe gentil
(CHAUÍ, 2014, p.212).
A história é naturalizada e os acontecimentos são alheios à vontade e ações humanas. “O futuro
a Deus pertence”, como se diz no dito popular.
Por último, tem-se a Sagração do Governante, em que o poder político é, de certa forma, fun-
dado na teologia. Há influência dos modelos políticos de monarquia absolutista do continente
europeu, onde o rei era um enviado de Deus. Como exemplo, Chauí faz menção às capitanias
hereditárias no Brasil: “A capitania é um dom do rei, e seus senhores são donatários” (CHAUÍ,
2014, p.221, grifos da autora). Um modo de fazer política vai se estruturando como padrão,
baseado na política do favor. Segundo a filósofa
[...] as relações sociais se realizam sob a forma do mando-obediência e do fa-
vor, tornando indiscerníveis o público e o privado, estruturalmente já confun-
didos porque a doação, o arrendamento e a compra de Terras da Coroa garante
aos proprietários privilégios senhoriais com que agem no plano público ou
administrativo (CHAUÍ, 2014, p.222).

Alguns efeitos da sagração do governante são colocados, como o movimento de “sacralização-


satanização da política”, isto é, a política e os políticos são vistos como entes extremos divi-
didos entre o bem e o mal. Outro efeito são as formas distorcidas de representação política, a
partir do favor, da formação da clientela, do populismo (CHAUÍ, 2014, p.224-225).
Em resumo, Chauí argumenta que a sociedade brasileira é, por excelência, uma sociedade au-
toritária, marcada historicamente por relações sociais hierárquicas, de mando-obediência, es-
truturada verticalmente. Nela, “O outro jamais é reconhecido como sujeito nem como sujeito
de direitos, jamais é reconhecido como subjetividade nem como alteridade” (CHAUÍ, 2014,
p.226).
Para a autora, é possível elencar pelo menos cinco características marcantes da sociedade auto-
ritária: Primeiro, a naturalização da desigualdade e da diferença, com consequente naturalização
das formas de violência; segundo, uma sociedade fundada nas relações de mando-obediência,
onde a lei é mecanismo sem sentido transformador; terceiro,indistinção entre público e privado
como problema histórico, sendo forma característica do fazer política no Brasil; quarto, a polí-
tica praticada no formato do consenso ou da conciliação: os conflitos são tidos como perigosos
e o discurso de nação indivisa sobrepõem todas as contradições presentes; quinto, a “cultura 895
senhorial”, isto é, a valorização de atributos simbólicos de prestígio que geram classificações
sociais, as quais reproduzem as hierarquias e a verticalização da sociedade.
Nesse contexto, para Chauí, o autoritarismo não é meramente um problema político, passageiro
de acordo com determinado governo que se instala no poder, mas sim um problema enraizado
na sociedade brasileira, que o reproduz, por assim dizer, nos mais variados âmbitos da vida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do resumo dos principais pontos do pensamento de Schwartzman e Chauí, tendo como
referência as obras já citadas desses respectivos autores, pode-se inferir algumas considerações.
Em primeiro lugar, o problema do autoritarismo é colocado em lugares distintos: Para Schwart-
zman, reside nas estruturas burocráticas e patrimoniais de estado em combinação com uma rede
de cooptação política; para Chauí, reside nas construções ideológicas que permeiam o imaginá-
rio da sociedade brasileira, da qual a invenção da nação é um claro exemplo.
É evidente que as distinções têm haver com os objetos de estudo de cada um dos autores e com
a ênfase de suas respectivas formações: a Ciência Política se debruça com mais acuidade nos
processos políticos, incluindo a formação do Estado. Já a Filosofia, em uma de suas facetas,
tematiza o modo como determinadas ideias se articulam para justificar realidades específicas.
Apesar dos enfoques diferentes, percebe-se que os autores compartilham de um mesmo ideário
de como a política funciona no Brasil: a partir de um referencial pautado no patrimonialismo e
na cooptação política, para Schwartzman, o que coíbe formas autônomas de participação e re-
forçam a centralidade do poder nas mãos do estado; para Chauí, tendo como referência relações
de mando-obediência, bem como a partir de troca de favores, cristalizando formas hierárquicas
na estrutura da sociedade brasileira. Portanto, é possível afirmar que, tanto a partir de um es-
pectro político-ideológico liberal, onde está situado Schwartzman, como a partir de um espectro
“socialista”, onde situa-se Chauí, as visões acerca do funcionamento da política na sociedade
brasileira se assemelham.
Fica patente para ambos os intelectuais aqui analisados como o problema do autoritarismo não
se restringe a governos ditatoriais. Autoritarismo e democracia não são antônimos e exclu-
dentes, mas sim valores e estruturas que coexistem, o que torna a questão da consolidação da
democracia em nações de capitalismo periférico como o Brasil mais problemática.

REFERÊNCIAS

ABREU, Luciano Aronne de. Autoritarismo e Desenvolvimento no Brasil. Historiæ, Rio Grande, v.1,
n.3. 2010. p.117-130.
BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. Trad.
Carmen C, Varrialeet al. Brasília: UNB, 1998 (Volume 1).
CHAUÍ, Marilena. Brasil: mito fundador e sociedade autoritária. In: Manifestações ideológicas do
autoritarismo brasileiro. 2. ed. Org: André Rocha. Belo Horizonte: Autêntica Editora; São Paulo:
Fundação Perseu Abramo, 2014 (Escritos de Marilena Chauí, 2).
PAIXÃO, Cristiano. Direito, política, autoritarismo e democracia no Brasil: da Revolução de 30 à pro- 896
mulgação da Constituição da República de 1988. Araucaria. Revista Iberoamericana de Filosofía,
Política y Humanidades, ano 13, n. 26. Segundo semestre de 2011. p. 146–169.

SCHWARTZMAN, Simon. Bases do Autoritarismo Brasileiro. 4.ed. Rio de Janeiro: Publit Soluções
Editoriais, 2007.

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