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TITULO ORIGINAL
L'lnvention Démocratique -/es limites de Ia domination totalitaire
COORDENADORIA DA COLEÇAO INVENÇOES DEMOCRATICAS
André Menezes Rocha, David Calderoni, Helena Singer, Lilian L'Abbate Kelian, Luciana de Souza Chauí Mattos Berlinck,
Marcelo Gomes Justo, Maria Luci Buff Migliori, Maria Lúcia de Moraes Borges Calderoni.
CONSELHO EDITORIAL INTERNACIONAL
Boaventura de Sousa Santos (Universidade de Coimbra/University of Wisconsin), Christian Azais (Université de Picardie Jules
Verne d'Amiens), Diego Tatian (Universidad Nacional de Córdoba), Laurent Bove (Université de Picardie Jules Verne d'Amiens),
Mariana Gainza, Marilena de Souza Chauí (FFLCH-USP), Milton Meira do Nascimento (FFLCH-USP), Paul Israel Singer (FEA-
USP), Sandra Jovchelovitch (London School of Economics), Vittorio Morfino (Università degli studi di Milano-Bicocca).
EDITORA RESPONSÁVEL
Rejane Dias
11-02872 CDD-321.92
Indices para catálogo sistemático:
1. Europa oriental: Política e governo: 1945-1989- :
Ciências políticas: História 321.92
Introdução
Dialética e democracia
André Rocha
fossem eles próprios instituições políticas que existiam pelas suas relações com
as instituições democráticas, não conseguiam elaborar uma compreensão crítica
da democracia nem, portanto, conseguiam elaborar estratégias de ação política
que contribuíssem efetivamente para a resolução das contradições sociais a
partir das instituições democráticas. O resultado trágico, indicado por Lefort
no prefácio em que analisa a situação francesa, não era apenas que muitos
políticos acabassem entrando no vale-tudo do jogo eleitoreiro e os partidos se
transformassem em meras plataformas para oportunistas em busca de votos:
o resultado mais trágico era a perda do kairós, a perda do momento oportuno
quando a fortuna oferecia condições históricas para, com a força das instituições
democráticas, avançar na efetivação das liberdades sociais.
E o momento oportuno parecia se tornar cada vez mais irremediavelmente
perdido quando o totalitarismo, com o avançar das décadas neoliberais, ganhava
novas cores: as cores do fundamentalismo religioso em alguns Estados, as cores
da burocracia mistificada dos tecnocratas em outros Estados e em muitos outros
as cores do monopólio na indústria cultural permitindo a homogeneização das
opiniões e a manipulação indireta das eleições.
Os ensaios de Lefort pareciam direcionados para os partidos de esquer-
da, para os políticos, para os membros, para a militância, enfim, para todos
aqueles que, diante das misérias sociais e da desolação, se reuniam em torno
dos partidos que, de uma maneira ou de outra, buscavam decifrar o presente
L elaborar o futuro a partir das matrizes simbólicas do materialismo histórico
ele Marx. Com efeito, fosse ou não lida com as lentes ofuscadas da ideologia, a
dialética que se erguera com os escritos de Marx consolidou o campo simbóli-
~o que proporcionou verdadeiros instrumentos de produção para as gerações
:rue buscaram decifrar as causas da miséria para construir a riqueza futura .
. \s duras críticas que Lefort faz à URSS e à organização institucional do PCF,
às suas lideranças e à estreiteza da interpretação totalitária da dialética e do
materialismo histórico (notadamente a interpretação das relações entre econo-
.nia e política) não podem ser confundidas jamais com o ataque moralista dos
:onservadores à esquerda, pois é crítica feita com a própria dialética, e o seu fito
.: a superação das ideologias e fantasmas totalitários que assustam e bloqueiam
) pensamento e a ação política efetiva tanto dos políticos de esquerda como
dos movimentos sociais.
A lógica totalitária
As críticas às experiências totalitárias na Alemanha e na Itália da Segunda
(~uerra se originaram de liberais e socialistas dos países aliados. Intelectuais dos
EUA, Inglaterra e França, sob o impacto à Segunda Guerra, combateram no
,:ampo simbólico a intelligentsia do totalitarismo. Em geral, as críticas opunham
:íois modelos políticos pela sua relação com os partidos: reduziam o totalitarismo
46 A INVENÇÃO DEMOCRÃTICA - OS LIMITES DA DOMINAÇÃO TOTALITÁRIA
À esquerda faltava uma teoria do Estado ou, mais profundamente, uma concepção
da sociedade política [ .. .]. Por ter circunscrito a esfera da realidade aos limites
da economia, tornava-se cega à estrutura do sistema de produção quando ele se
imprimia explicitamente no sistema político."
Tal concepção exigiria uma reflexão sobre a natureza da divisão que se instituiu
entre a sociedade civil e o Estado; uma reflexão sobre o alcance da distinção histori-
camente advinda entre o poder político - cujas fronteiras se veem delimitadas, cuja
formação, exercício, renovação estão submetidos a regras democráticas - e o poder
administrativo - cujas competências são igualmente precisas e limitadas de direito,
mas sempre mais extensas, de fato, em virtude de se encarregar das necessidades da
população e controlar sempre mais regularmente e mais detalhadamente a vida social."
agrárias, ela foi também uma revolução do imaginário e das práticas políticas,
uma revolução na maneira de conceber o saber sobre o político e na maneira
de estabelecer as leis.
INTRODUÇÃO - DIALÉTICA E DEMOCRACIA 49
Era nosso propósito apenas pôr em evidência a dimensão simbólica dos direitos do
homem e levar a reconhecer que ela se tornou constitutiva da sociedade política.
Parece-me que querer ignorá-Io, conservar somente a subordinação da prática
jurídica à conservação de um sistema de dominação e exploração, ou confundir
o simbólico e o ideológico, impede ver a lesão do tecido social que resulta da
degeneração do princípio dos direitos do homem no totalitarismo."
Esses direitos são um dos princípios geradores da democracia. Tais princípios não
existem à maneira de instituições positivas das quais podemos, de fato, inventa-
riar os elementos, mesmo que seja certo que animam instituições. Sua eficácia
provém da adesão que lhes é dada, e essa adesão está ligada a uma maneira de
ser em sociedade cuja medida não é fornecida pela simples conservação das
vantagens adquiridas,"
Março de 2011.