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UERJ - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Pensamento político brasileiro I - Prof.º Dr.º Bernardo Ferreira


Discentes: Gabriel da Silva Cordeiro e Marcos Aurélio Teixeira

AVALIAÇÃO 2

Questão 1)

Azevedo Amaral, em seu livro “ O Estado autoritário e a realidade nacional”, trata de


defender o golpe de 10 de novembro de 1937, ou seja, defende o Estado Novo.
Demonstrando, dessa maneira, com o auxílio da constituição então promulgada, como tal
regime seria o melhor e mais adequado para o país. Definindo o regime como um Estado
autoritário afirma que "Os fundamentos do novo regime são profundos e sólidos
precisamente por não serem construções puramente racionais [...], mas na rocha viva a que
chegamos mergulhando como brasileiros na essência da brasilidade” (p.203). O Estado Novo
contrapor-se-ia, desse jeito, conforme Azevedo, a dois modelos que, no momento, estavam
muito presentes na disputa política - tanto nacional quanto internacional: o modelo liberal -
representado principalmente por Estados Unidos e Inglaterra - e o modelo totalitário -
representado principalmente pela Itália e Alemanha.

Amaral afirma, nesse sentido, que o Estado autoritário é o único capaz de garantir um
regime efetivamente democrático. Com ele: " o Estado Novo é essencialmente uma
organização de tipo incontestavelmente democrático [...] capaz de permitir o
desenvolvimento normal da democracia e das suas instituições, de modo a torná-las
adequadas as soluções dos problemas cada vez mais complexos que surgem em todos os
setores da vida das nações contemporâneas"(p.189-190). Analisemos, portanto, essa
característica do Estado autoritário em relação aos modelos supracitados, demarcando suas
diferenças quanto aos mesmos)

Azevedo, em sua argumentação, identifica que o Estado Novo foi prontamente


comparado, tanto na imprensa nacional quanto na internacional, aos regimes totalitários que
então vigoravam na Europa. Aqui se teria instalado, portanto, com a nova constituição, uma
edição sul-americana da organização fascista. Em terras tupiniquins, afirma "O
desconhecimento generalizado entre nós das correntes políticas contemporâneas facilitou em
certos meios uma confusão , aliás completamente destituída de fundamento, entre o caráter
autoritário da nossa nova ordem política e o estilo das instituições do fascismo"(p.157). Essa
confusão, prossegue Azevedo, resultaria do fato de que, certos intelectuais - de atividade
cerebral mais lenta, nas palavras do mesmo - não possuem como claro o conceito de um
Estado autoritário e de um Estado Totalitário. Vejamos.

Para ele, o autoritarismo, a autoridade em si, constitui um elemento vital da tradição


democrática moderna, cujas raízes encontram-se na Inglaterra. País que, ao estabelecer as
bases do sistema representativo "jamais associou ao conceito de representação a ideia de
limitação da autoridade do poder público" (p.160). Indo mais além, Amaral afirma que o
autoritarismo é fundamental a qualquer forma de organização política sendo "da própria
essência da organização estatal e nao pode ser divorciado do exercício do governo [...],
condição imprescindível à ação eficiente do Estado no desempenho das funções que sao a
razão de ser da sua própria existência" (p.160). Infere-se, portanto, que para o autor, que os
regimes totalitários não inauguraram ou reviveram o autoritarismo na política.

O sistema totalitário, diz o mesmo, não possui o autoritarismo como fundamento de


seu regime e, quando muito, o coloca em posição secundária. A característica basilar do
regime totalitário, e que o diferencia diametralmente do regime autoritário, diz respeito "a
natureza compressiva, absorvente, aniquiladora da personalidade humana, que imprime às
instituições fascistas um aspecto repelente, tornando-as tão incompatíveis com todos que
prezam a dignidade do espírito."(p.166). Para o mesmo, prosseguindo no argumento, os
Estados totalitários ao subjugarem completamente a agência e a liberdade individual -
intelectualmente, politicamente, socialmente e culturalmente - trata os indivíduos como
escravos, como massa de manobra a fim de realizar o objetivo último: um Estado livre. No
Estado autoritário, ao contrário, o indivíduo poderia desenvolver suas faculdades econômicas,
culturais e intelectuais livremente - desde que não pusesse em perigo o interesse coletivo,
nacional.

Passando, agora, para o Estado liberal e, por conseguinte, para a democracia liberal,
Azevedo dirá que esse tipo de Estado serviu para corromper o sentido da democracia.
Primeiramente, tal Estado, por se basear no princípio individualista de que todos os cidadãos
disporiam de uma mesma condição intelectual, social, cultural e economia acabaria por
conceber, dessa maneira, que a vontade social não era nada mais que a soma das vontades
individuais, ficando a cargo do Estado apenas regular, coordenar e harmonizar as atividades
individuais. Desempenhando, nesse sentido, papel secundário quanto a impressão de uma
diretriz à sociedade. Disso resultando, da mesma maneira, afirma Azevedo, em uma
caricatura do autêntico sistema representativo, pois no Estado liberal todos seriam
considerados, de alguma maneira, portadores da vontade social. O que para o autor é
inconcebível, pois somente uma minoria dirigente, que entenderia o que está em jogo na cena
política, seria responsável por imprimir uma orientação e vontade coletiva. Com ele: "A
democracia nao se caracteriza essencialmente por nenhum desses traços que as heresias
democratico-liberais apresentavam como elementos individualizadores daquele
regime"(p.192)

Ora, qual seria, então, a característica que, sendo peculiar ao Estado autoritário e
ausente no liberal e totalitário, faria o regime defendido por Azevedo ser democratico ao
mesmo tempo em que se diferencia dos outros dois? Para o mesmo, o traço intrínseco do
Estado Novo seria uma identificação da sociedade com o aparelho estatal, uma sincronização
direta de interesses entre o Estado e a Nação, residindo, para o autor, nesse ponto, o
verdadeiro fundamento de um regime democratico. Sendo assim, em contraposição a
representação falsa presente no Estado liberal a representação no Estado autoritário estaria
fundada em um princípio objetivo e real, com base no papel que o indivíduo ocupa no
dinamismo social: o corporativismo. Nesse sentido, ao introjetar dentro do Estado as forças
econômicas, logo, as forças sociais, a ordem social estaria garantida e pronta para rumar ao
progresso.

Questão 2)

A formação do Estado liberal teve princípios profundamente ligados às ciências


humanas desenvolvidas naquela época. Contudo, foi a ciência forense que mais refletiu na
formação do Estado, e consequentemente, na formação da sociedade liberal, tomemos por
exemplo, o pensamento kantiano, que através do mundo forense teorizar conceitos aplicados
até hoje, como a supremacia do interesse público e a liberdade através da igualdade pela Lei,
para que se alcance a Democracia. Existe, portanto, um elemento racional fundamental
inerente à formação e constituição da sociedade e do Estado liberal. Sem o qual seu
funcionamento pode estar profundamente comprometido, o exercício democrático nesse
ambiente é proporcionado pelos intelectuais que proporcionam políticas públicas adequadas
para uma sociedade. Contudo, a complexidade que se alcançou através dos processos de
modernização vividos por esses Estados Liberais, para Francisco Campos, passa a ser um
ponto de preocupação. Ocorre que para o autor, esse caráter racional é impossível de ser
mantido à luz de uma sociedade liberal, desenvolvida à luz da racionalidade forense, do
debate em praça pública baseado em princípios racionais, com a chegada de uma sociedade
de massas, logo, uma política de massas. A política, nesse sentido, não se realiza mais pelo
racional, mas sim pelas paixões e pelo irracional.

O autor aponta, nesse sentido, a forma como o modelo liberal educou e formou seus
intelectuais e não os fez preparados para observar a sociedade brasileira considerando essa
complexidade que está presente na política de massas. Sendo, portanto, sugerido pelo autor,
que as formas como a política de massas atuam, sejam, ao menos, direcionadas, para em sua
irracionalidade, estarem a serviço da ordem e da produção de uma Nação. Ou seja, a
irracionalidade deve gerar uma unidade política estável, ela deve controlar as multidões
integrando-as à ordem Estatal. Nessa toada, a política de massas segundo Campos, atingirá tal
objetivo através do mito. Ele possibilitará a mobilização política das massas, evocando, para
isso, uma verdade distinta daquela concepção clássica presente no liberalismo. A verdade,
agora, provém de uma fé na realização do próprio mito. Nesse sentido, a forma como uma
situação pode ser observada aquém da verdade e ainda assim ser interpretada como tal,
propiciaria um ambiente completamente inóspito para o exercício democrático à luz do
liberalismo, que por tem raízes científicas partem da verdade para a aplicação prática. O
liberalismo, dessa maneira, não se adequa mais aos moldes das sociedades contemporâneas.

BIBLIOGRAFIA

AMARAL, AZEVEDO. O Estado autoritário e a realidade nacional. Fonte digital, 2002.


Disponível em < http://beemote.iesp.uerj.br/books/o-estado-autoritario-e-a-realidade-
nacional/>

CAMPOS, Francisco. O Estado nacional: sua estrutura, seu conteúdo. Brasília: Senado
Federal, Conselho Editorial, 2001

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