Você está na página 1de 12

 

 
PRODUÇÕES LITERÁRIAS DEDICADAS À FORMAÇÃO 
DE REVOLUCIONÁRIOS MARXISTAS QUE ATUAM NO DOMÍNIO DO
DIREITO, DO ESTADO E DA JUSTIÇA DE CLASSE
 
PEQUENOS ENSAIOS SOBRE MARXISMO E DIREITO, SOCIEDADE E ESTADO NA
REVOLUÇÃO
 

Concepção Burguesa e
Concepção Marxista
de Estado e de Direito 
 
 
[1]
FILIPP A. KSENOFONTOV
 
Concepção e Organização, Compilação e Tradução
Emil Asturig von München, Julho de 2006
 
Para Palestras e Cursos sobre o Tema em Destaque
Contatar emilvonmuenchen@web.de
 
Voltar ao Índice Geral
http://www.scientific­socialism.de/PECapa.htm
 

 
 
Na verdade, há tantas teorias sobre o Estado quanto juristas nos
Estados  Unidos  da  América.  Sem  embargo,  nenhuma  delas
é capaz de determinar qual seja o seu significado. Algumas delas
encobrem­no  com  um  nevoeiro  filosófico.  Outras  "procuram"
pela  sua  natureza  jurídica.  Outras  ainda  dele  falam  sem  nem
mesmo sequer tentar definí­lo.
Eis aqui alguns exemplos dessas teorias.
De acordo com Lorenz von Stein : 
 
"O Estado ­  tal qual um Ego do indivíduo ­ não é nem
um resultado nem um pré­requisito do Direito. Não é nem
uma forma ética nem uma concepção lógica. O Estado é
uma  forma  material  superior  de  individualidade.  Sua
natureza  reside  no  fato  de  que  auto­suficiente.  Tal  como
um  Ego  do  indivíduo,  o  Estado  não  pode  nem  ser
provado nem justificado. Existe em si mesmo. O Ego do
Estado,  tal  qual  o  Ego  do  indivíduo,  não  pode  ser
derivado  de  uma  outra  coisa  qualquer.  O  Estado  é  um
grande fato que demonstra que a unidade do povo possui
sua  própria  existência  peculiar,  independente  e
autônoma, bem como que existe fora e acima da vontade
[2]
da sociedade."
 
Desnecessário  dizer  que  qualquer  pessoa  precisa  de  uma
paciência de ferro para conseguir ler essa lengalenga idealista até
o final. 
Outra definição de Estado aparece nos escritos de Magaziner :
 
"Julgando  com  base  em  suas  tarefas,  a  autoridade  do
Estado  deve  permanecer  acima  da  luta  de  classes.  De
modo  formal,  a  autoridade  estatal  sempre  foi  um
árbitro em meio à luta de classes. Criava as regras dessa
luta.  Essa  foi  a  missão  mais  significativa  do  Estado.  ...
Isso  quer  dizer  que,  de  acordo  com  o  Direito,  a  tarefa
subjetiva do Estado é a de proteger o interesse geral, ao
passo  que,  faticamente,  sua  tarefa  objetivamente
existente  é  a  de  proteger  o  interesse  de
classe. Normalmente, o interesse de classe coincide com
o  interesse  geral,  embora,  às  vezes,  possa  entrar  em
conflito  com  este.  ...  A  proteção  de  uma  classe  em
detrimento  da  sociedade  é  equivalente  à  distorção  do
[3]
papel jurídico do Estado."
 
Uma terceira definição foi formulada pelo Professor Lehning que
sustentou o seguinte ponto de vista :
 
"Os  conceitos  fundamentais  e  mais  genéricos  que
embasam  a  Ciência  do  Estado  são  de  compreensão
muito  difícil  e,  provavelmente,  permanecerão,
eternamente,  em  domínio  situado  além  da  nossa
[4]
compreensão."
  
Falharíamos  em  obter  um  quadro  completo  da  Ciência  Jurídica
Burguesa,  sem  nos  tornar  familiarizados  com  a  seguinte
concepção :  
 
“De acordo com o Direito, o Estado é um árbitro imparcial,
situado  entre  as  classes  em  pugna.  Deve  manter  as
balanças  da  Justiça  em  suas  mãos,  sem  perturbar  seu
equilíbrio. A natureza do Estado poderia ser corretamente
compreendida  apenas  a  partir  do  ponto  de  vista  do
[5]
Direito."

 
Essas são as pérolas da Ciência Burguesa do Estado.
Sua  inutilidade  é  evidente  até  mesmo  para  alguns  professores
burgueses que estão "revoltando"­se contra ela.
Por  exemplo,  o  professor  francês,  Léon  Duguit,  afirmou  o
seguinte em uma das suas aulas :
 
"Não sem alguma apreensão, dou início às minhas aulas,
temendo  que  possa  vir  a  me  confundir  com  os  juristas
ortodoxos.  Não  sou  absolutamente  capaz  de
entender  seus  debates  acerca  de  existir  uma  diferença
entre  uma  verdade  factual  e  uma  verdade  jurídica.  Em
meu  parecer,  todas  as  construções  jurídicas,
fundadas  nessa  concepção,  são  desprovidas  de  valor.
Deveríamos  aceitar  os  fatos  como  são  :  o  Estado  não  é
nem um pessoa jurídica, nem é o Direito. O Estado é um
poder superior, uma força coercitiva daquele que governa,
[6]
do governante sobre o governado."       
 
Uma resposta original às teorias aqui referidas foi formulada pelo
cientista  democrata­constitucionalista  russo,
chamado Petrajitsky.
Contudo,  Petrajitsky  cometeu  o  equívoco  absurdo  de  negar  a
existência  do  Estado  enquanto  coisa  real,  na  medida  em  que
afirmou  existir  o  Estado  apenas  como  uma  "idéia  no
pensamento do ser humano".  
Em  conformidade  com  Petrajitsky,  o  Estado  não  é  uma  coisa
real, mas sim um "fantasma".
Tudo  isso  demonstra  a  inutilidade  da  Ciência  Burguesa,  em
geral, e da Ciência Jurídica Burguesa, em particular.
Agora,  devemos  tratar  das  abordagens  marxistas  da  questão
relativa à existência do Estado.
Tal  como  indicamos  precedentemente,  o  Estado  é,
primariamente,  segundo  o  nosso  ponto  de  vista,  uma
relação  social  de  seres  humanos  efetivamente  definida.  É  um
fenômeno social.
Segundo Nikolai Bukharin :
 
"O  marxismo  examina  todos  os  fenômenos  sociais  em
sua  conexão  e  interação,  embora  cada  uma  das  séries
desses  fenômenos  constitua  um  elo  na  cadeia  das
causas  que  ou  preservam  e  desenvolvem  ou  destroem
um  tipo  definido  de  relação  de  produção,  uma  estrutura
[7]
definida de sociedade."
 
Apenas  com  uma  tal  abordagem,  uma  correta  compreensão  dos
fenômenos  sociais  e,  conseqüentemente,  também  do  Estado,
poder­se­á produzir resultados conseqüentes.
Essa  foi  também  a  concepção  de  Marx,  que  veio  a  ser  por  ele
definida do seguinte modo :
 
"Minha investigação desembocou no resultado de que as
relações  jurídicas,  tais  como  formas  do  Estado  (e,
portanto, o próprio Estado : nota de F. Ksenofontov),
não podem ser compreendidas nem a partir de si mesmas
nem a partir do assim chamado desenvolvimento geral do
espírito humano.
Elas,  pelo  contrário,  enraizam­se  nas  relações  materiais
de  vida  cujo  conjunto  Hegel  resumiu,  segundo  o
procedimento  dos  ingleses  e  dos  franceses  do  século
XVIII,  sob  o  nome  de  “sociedade  civil”,  sendo  que,
porém, a anatomia da sociedade civil há de ser procurada
na Economia Política.
A  pesquisa  dessa  última,  que  iniciei  em  Paris,  vim  a
continuar  em  Bruxelas,  para  onde  reemigrei  por
decorrência de uma ordem de extradição do Sr. Guizot.
O resultado geral que diante de mim emergiu e que, uma
vez  alcançado,  serviu  de  fio  condutor  para  os  meus
estudos,  pode  ser  formulado,  brevemente,  da  seguinte
forma :
Na  produção  social  de  sua  vida,  os  homens  ingressam
em  relações  determinadas,  necessárias,  independentes
da  sua  vontade,  relações  de  produção  essas  que
correspondem  a  um  nível  de  desenvolvimento
determinado de suas forças produtivas materiais.
O  conjunto  dessas  relações  de  produção  forma  a
estrutura  econômica  da  sociedade,  a  base  real  sobre  a
qual  se  ergue  uma  superestrutura  jurídica  e  política  e  à
qual  correspondem  determinadas  formas  sociais  de
consciência.
O  modo  de  produção  da  vida  material  condiciona  o
processo de vida social, político e espiritual em geral.
Não  é  a  consciência  dos  homens  que  determina  o  seu
ser,  mas  sim,  inversamente,  é  o  seu  ser  social  que
determina sua consciência.
Em  certo  nível  de  seu  desenvolvimento,  as  forças
produtivas materiais da sociedade entram em contradição
com as relações de produção existentes ou, o que é disso
apenas  uma  expressão  jurídica,  com  as  relações  de
propriedade,  no  interior  das  quais  elas  haviam  se
movimentado até então.              
De  formas  de  desenvolvimento  das  forças  produtivas,
essas relações convertem­se em entraves das mesmas.
Surge uma época de revolução social.
Com  a  modificação  do  fundamento  econômico,  sacode­
se,  toda  a  monstruosa  superestrutra,  seja  de  modo  mais
[8]
lento ou de modo mais rápido. ... "
  
Deve­se  acrescentar  a  esse  notável  delineamento  da  concepção
materialista  do  processo  histórico  outro  excerto  da  "Ideologia
Alemã", de autoria de Karl Marx :
 
"Diante dos alemães que ignoram précondições, cumpre­
nos começar, constatando o primeiro pressuposto de toda
e  qualquer  existência  humana  e,  portanto,  de  toda  a
história,  vale  dizer  o  pressuposto  de  que  os  seres
humanos devem ser capazes de viver, para que possam
[9]
"fazer a história".  
Porém,  sobretudo,  o  comer  e  o  beber,  a  habitação,  o
vestuário e mais algumas outras coisas pertencem à vida.
O primeiro ato histórico é, portanto, a geração dos meios,
destinados à satisfação dessas necessidades, a produção
da  própria  vida  e,  em  verdade,  esse  é  um  ato  histórico,
uma  condição  fundamental  de  toda  a  história  que,  ainda
hoje,  tal  como  há  milhares  de  anos,  há  de  ser
executado,  a  cada  dia  e  a  cada  hora,  a  fim  de  que  os
seres humanos mantenham­se simplesmente vivos. 
Mesmo  que  a  atividade  sensorial  seja  reduzida  a  um
bastão, a um mínimo ­ tal como Santo Bruno o faz ­, ela
pressupõe a atividade de produção desse bastão. 
Portanto,  em  toda  concepção  histórica,  a  primeira
questão é a que se deve observar esse fato fundamental,
em  todo  o  seu  significado  e  extensão,  permitindo­
se que assuma o seu lugar de direito.
Como todos sabem, os alemães jamais fizeram isso.
Assim,  jamais  tiveram  uma  base  terrena  para  a  história
e,  consegüintemente,  jamais  possuíram  um  único
historiador. 
Ainda  que  também  tenham  concebido,  de  modo  apenas
extremamente  unilateral,  a  contextualidade  desse  fato
com  aquilo  que  se  denomina  história,  os  franceses  e  os
ingleses,  notadamente  por  permanecerem  aprisionados
na  ideologia  política,  realizaram,  mesmo  assim,  as
primeiras tentativas de conferir à historiografia uma base
material,  na  medida  em  que,  pela  primeira  vez,
escreveram  histórias  sobre  a  sociedade  civil,  o
comércio e a indústria ... (p. 28)
Essa  fixação  da  atividade  social,  essa  consolidação  de
nosso  próprio  produto  em  um  poder  material,  situado
sobre  nós,  o  qual  escapa  ao  nosso  controle,  opõe­se  às
nossas  expectativas,  aniquila  nossos  cálculos,  é  um  dos
principais  momentos  do  desenvolvimento
histórico, existente até os nossos dias. 
Precisamente,  a  partir  dessa  contradição,  havida  entre  o
interesse  particular  e  o  interesse  comum,  é  que  esse
último  interesse  assume,  enquanto  Estado,  uma  forma
autônoma,  separada  dos  reais  interesses  individuais  e
gerais.  Ele  surge,  ao  mesmo  tempo,  como  uma
comunidade  ilusória,  porém,  permanentemente,
fundada  na  base  real  dos  laços  existentes  em  todo  o
conglomerado  da  família  e  da  clã  ­  tal  quais  carne  e
sangue,  língua,  divisão  do  trabalho  em  grande  escala  e
outros  interesses  e,  especialmente,  ­  tal
como  desenvolveremos  a  seguir­baseando­se  sobre  as
classes,  já  condicionadas  pela  divisão  do  trabalho,  as
quais se destacam, em toda massa de seres humanos do
gênero,  e,  em  meio  às  quais,  uma  domina  todas  as
[10]
demais.    
 Disso decorre que todas as lutas, travadas no interior do
Estado,  a  luta  entre  a  democracia,  a  aristocracia
e monarquia, a luta pelo Direito eleitoral etc. etc. não são
senão  formas  ilusórias,  nas  quais  são  impulsionadas  as
lutas  reais  das  diversas  classes  entre  si  (coisa  que  os
teóricos  alemães  nem  sequer  suspeitam,  a  despeito  do
fato de que lhes fornecemos suficientes indicações sobre
isso  nos  "Anais  Franco­Alemães"  e  na  "Sagrada
Família").
  Além  disso,  resulta  que  cada  classe,  ao  aspirar  à
dominação ­ mesmo que sua dominação, como é o caso
do  proletariado,  seja,  de  modo  geral,  condicionada
pela  supressão  de  toda  velha  forma  de  sociedade  e  de
dominação  ­  deve,  primeiramente,  conquistar  o  poder
político,  a  fim  de  novamente  apresentar  o  seu  interesse
como sendo o interesse geral, o que é forçada a fazer, em
um primeiro momento. ... (p. 33)
  A  forma  de  troca,  condicionada  pelas  forças  de
produção,  existentes  através  de  todos  os  estágios
históricos  até  os  dias  de  hoje,  e  que,  por  sua
vez, novamente as condiciona, é a sociedade civil. 
Esta ­ tal como já emerge do aqui exposto ­ possui como
seu  pressuposto  e  fundamento  a  família  simples  e  a
família  composta,  denominada  clã,  sendo  que  sua
definição mais precisa já se encontra contida acima.
  Do  aqui  exposto  já  resulta  evidente  que
essa sociedade civil é a verdadeira fonte e o verdadeiro
cenário de toda a história e quão absurda é a concepção
tradicional  da  história,  que  negligencia  as  relações  reais
e se limita ao exame das retumbantes ações genéricas e
do Estado. (p.36)        
Uma  vez que o Estado é a forma, no interior da qual os
indivíduos  de  uma  classe  dominante  fazem  prevalecer
seus interesses comuns e toda a sociedade burguesa de
uma  época  se  reune,  resulta  que  todas  as  instituições
comuns  são  intermediadas  pelo  Estado,  adquirindo  uma
forma  política.  Daí  decorre  a  ilusão  de  que  a  lei  se
basearia  na  vontade  e,  com  efeito,  na  vontade
livre, destacada de sua base real. De modo semelhante,
[11][12]
reduz­se, então, novamente o Direito  à lei.(p. 62)"
 
  Esses  parágrafos  aqui  citados  fornecem­nos  a  chave  da
concepção  marxista  do  Estado.    Podemos  concluir,
seguramente,  que  o  Estado  não  é  uma  entidade  independente,
mas  sim  uma  organização  política  definida  que  emerge
enquanto  "estrutura",  fundando­se  sobre  uma  "base"
particular, "em condições particulares".  
 O Estado é uma relação definida, mantida entre homens, i.e. uma
relação de dominação e subordinação, uma relação mantida entre
classes.
  Marx  e  Engels  concebiam  o  Estado  como  uma  "expressão
política  de  uma  categoria  socio­econômica  :  a  sociedade  de
[13]
classes."
O Estado surge como sendo o resultado da divisão da sociedade
em  classes  e,  tal  quais  as  classes,  é  filho  legítimo
do desenvolvimento econômico da sociedade. 
O  Estado  não  é  nem  um  "filho  ilegítimo"  nem  uma  entidade,
imposta sobre a sociedade, a partir de "fora".
Não  é  nem  um  reflexo,  nem  uma  realização  de  uma  razão,  nem
tampouco  uma  idéia  moral  :  é  um  reflexo  e  uma  realização  de
uma sociedade de classes.
Possui uma natureza de classe. 
Sendo  um  produto  da  sociedade  de  classe,  o  Estado  é  a  sua
organização.
Tal como assinalado por Engels, o Estado revela o fato de que a
sociedade  cindiu­se  em  classes,  dotadas  de  interesses
contraditórios e irreconciliáveis.
Revela  o  fato  de  que  a  sociedade  entrou  em  conflito  consigo
mesma, tornando­se necessária uma organização, um poder (que
não  é  nem  abstrações  e  nem  idéias  nas  cabeças  dos  seres
humanos!),  que  possa  impedir  que  essa  sociedade  se
desintegre, por causa da luta de classes.
Para  a  preservação  da  sociedade,  para  sua  vida  suplementar,  é
imprescindível uma nova organização.
Em  suma  :  uma  organização  humana,  uma
organização  para  governar  o  povo.  O  Estado  é  uma  tal
organização.    
Emergindo  a  partir  das  categóricas  necessidades  de  uma
sociedade  de  classes,  o  Estado  mantém  sob  controle  as
contradições sociais.
Porém, o Estado  veio  ao  mundo  quando  a  luta  de  classes  já  se
encontrava  em  sua  cumeeira  e,  devido  a  isso,  tornou­se  uma
organização da classe economicamente mais forte, i.e. da classe
dominante.
Assegurou a dominação política dessa última. 
Possuindo  à  sua  disposição  o  aparato  estatal,  o  Estado controla
um  instrumento  colossal  de  repressão,  que  utiliza  para  a
exploração das classes desapossadas. 
 Isso foi válido para o Estado Antigo, para o Estado Feudal e é
igualmente  válido  para  o  Estado  moderno,  o  qual  nada  mais  é
senão  um  instrumento  da  exploração  do  trabalho  assalariado
pelos capitalistas.
Segundo a dicção de Engels, o Estado moderno é, com  efeito,
uma  máquina  capitalista,  um  Estado  de  capitalistas,  um
coletivo capitalista.
 A  classe  dominante  não  está  disposta  a  admitir  que  o  Estado  é
sua  própria  organização  de  classe.  Está  sempre  interessada  em
ocultar a verdadeira natureza do Estado.
Na  Antigüidade,  tal  como  na  Idade  Média,  atribuia­se  ao
Estado uma origem e uma autoridade divina.
Estas  eram,  respectivamente,  vantajosas  para
os senhores escravistas e senhores feudais.
Sob a égide do capitalismo, esse poder "sobrenatural" perdeu a
sua natureza divina, permanecendo, porém, conectado ao "ideal
moral", à "vontade geral", à "idéia do Direito" que são fugidios
ao povo simples e comum.
Eis  aí  a  razão  de  o  Estado  ter  sido  revestido  com  todas  as
características  de  uma  pessoa  viva  e  abstrata,  i.e.  de  um  ser
consciente que age independemente do povo.
Esse fato é vantajoso para a burguesia.
  Devemos  retornar,  agora,  ao  debate,  travado  no  âmbito  da
Ciência Jurídica Burguesa sobre ser o Estado um representante
de toda a sociedade.
Evidentemente,  também  o  marxismo  concebe  o  Estado  como
sendo  um  representante  da  sociedade,  como  sendo  sua
organização  mais  ampla,  abarcadora  de  toda  a  sociedade  de
classes.
Porém,  há  uma  diferença  colossal  entre  nossa  concepção  de
Estado  enquanto  "um  representante  da  sociedade"  e  a
concepção dos professores da burguesia.
Para eles, o Estado é um "representante da sociedade" no sentido
literal da palavra, enquanto que, para nós, esse termo possui um
significado relativo.
Tal como destacado por Engels, em seu "Anti­Dühring" : 
 
"O Estado foi o representante oficial de toda a sociedade,
sua  síntese  em  uma  corporação  visível.  Porém,  foi­o  tão
somente  na  medida  em  que  foi  o  Estado  daquela  classe
que  representou  a  sociedade  inteira,  no  seu  tempo  :  na
Antigüidade,  o  Estado  dos  cidadãos  escravistas,  na
Idade  Média,  o  Estado  da  nobreza  feudal,  em  nosso
tempo, o Estado da burguesia.
Na  medida  em  que,  por  fim,  transformar­se,  de  fato,  em
representante  de  toda  a  sociedade,  tornar­se­á,  por  si
[14]
mesmo, desnecessário."      
 
 
EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E
INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M.
SVERDLOV”
PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO
MARXISTA­REVOLUCIONÁRIA
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU ­ SÃO PAULO ­ MUNIQUE – PARIS
 
 
 
 
 
 
 
 
 

[1]
  Cf.  KSENOFONTOV,  FILIPP  ALEKSEIEVITCH.  Gosudarstvo  i  Pravo.  Opyt  Izlojenya
Marksistcheskovo Utchenia o Suschestvie Gosudarstvo i Prava. S Predislovie Nikolai V. Krylenko (Estado e
Direito. Tentativa de Apresentação da Doutrina Marxista acerca do Estado e do Direito Existentes. Com um
Prefácio de Nikolai V. Krylenko), Moscou : Jurid. Izd­vo N. K. Ju., 1924, pp. 79 e s.
[2]
 Indicação de Emil Asturig von München : Cumpre destacar que Lorenz von Stein, Professor de Ciências
do Estado da Universidade de Viena, é extremamente renomado por ter introduzido, na segunda metada do
século  XIX,  no  domínio  do  estudo  da  economia,  do  Direito  e  do  Estado,  o  método  dialético  de
Hegel, aprimorando,  em  diversos  sentidos,  os  instrumentos  dogmático­metafísicos  de  abordagem  e  análise
dessas matérias. Ainda que se propondo audaciosamente a estudar as revoluções sociais, bem como o Estado
de  classe  de  seu  tempo,  Lorenz  von  Stein  não  pôde  ir  mais  além  do  que  propor  a  edificação  de  um
expressivo  Estado  Social  Intervencionista,  enquanto  alternativa  à  crise  da  sociedade  capitalista
liberal  moderna.  Assumindo  a  validade  do  conceito  de  luta  de  classes,  Stein  rejeitou,  além  disso,  toda  e
qualquer  perspectiva  de  luta  revolucionária  do  proletariado,  com  vistas  à  edificação  da  Ditadura
Revolucionária do Proletariado e do socialismo. A teoria de Stein possui significativa repercussão no Japão,
durante  o  período  da  Restauração  Meiji.  Acerca  do  tema,  vide  VON  STEIN,  LORENZ.  Gegenwart  und
Zukunft  der  Rechts­  und  Staatswissenschaft  Deutschlands  (Presente  e  Futuro  da  Ciência  do  Direito  e
do  Estado  da  Alemanha),  Stuttgart  :  Cotta,  1876,  pp.  5  e  s.;  IDEM.  Finanzwissenschaft  und
Staatssozialismus  (Ciência  das  Finanças  e  Socialismo  de  Estado)(1885),  Frankfurt  a.M.:  Vittorio
Klostermann, 1948, pp. 3 e s. Ademais disso, vide tb., de modo mais recente, TASCHKE, HEINZ. Lorenz
von Steins nachgelassene staatsrechtliche und rechtsphilosophische Vorlesungsmanuskripte (Manuscritos das
Aulas de Direito do Estado e de Filosofia do Direito Legados por Lorenz von Stein), Heidelberg : Decker,
1985, pp. 13 e s.
[3]
  Cf.  MAGAZINER,  ANATOLY.  Obscheie  Utchenie  o  Gosudarstvie  (Teoria  Geral  do  Estado),
Petersburg, 2a. Edição, 1922, pp. 10 e s.
[4]
Cf.  STUTCHKA,  PIOTR.  Materialistitcheskoe  ili  Idealistitcheskoe  Ponimanie  Prava  (Concepção
Materialista  ou  Idealista  do  Direito),  in  :  Pod  Znamenem  Marksisma  (Sob  a  Bandeira  do
Marxismo), Moscou : Gosud. Izd­vo, Nr. 1, 1923, pp. 153 e s.    
[5]
  Cf.  MAGAZINER,  ANATOLY.  Obscheie  Utchenie  o  Gosudarstvie  (Teoria  Geral  do  Estado),
Petersburg, 2a. Edição, 1922, p. 9.
[6]
 Cf. DUGUIT, LÉON.  Sotsialnoe  Pravo,  Individualnoe  Pravo  i  Preobrazovanie  (Direito  Social,  Direito
Individual  e  Transformação  do  Estado,  no  original  francês  :  Le  Droit  Social,  Le  Droit  Individuel  et  la
Transformation de L'Etat), Moscou, 1909, p. 16. Sobre o pensamento jurídico de Duguit, vide tb. IDEM. Les
Transformations Générales du Droit Privé depuis le Code Napoléon (As Transformações Gerais do Direito
Privado Desde o Código de Napoleão)(1911), 2.éd., Paris : Félix Alcan, 1920, pp. I e s.
[7]
 Cf. BUKHARIN, NIKOLAI.  Teoria  Istoritcheskovo  Materializma  (Teoria  do  Materialismo  Histórico),
Moscou : Gosud. Izd­vo, p. 18.  
[8]
  Cf.  MARX,  KARL.  Vorwort  zur  Kritik  der  Politischen  Ökonomie  (Prefácio  à  Crítica  da  Economia
Política)(Agosto de 1858 – Janeiro de 1859), in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Vol. 13,
Berlim : Dietz Verlag, 1961, pp. 7 e s. O presente texto tem como base a primeira edição de 1859, melhorada
e completada através das incorporações das correções e glosas do exemplar manual de Marx, cuja fotocópia
encontrava­se no Arquivo do Instituto de Marxismo­Leninismo do Comitê Central do PCURSS, em Moscou.
Esse  texto  foi  igualmente  considerado  por  Engels  na  reprodução  de  excertos  de  textos  da  “Crítica  da
Economia Política” no terceiro volume de “O Capital”. Citações de Marx, realizadas em línguas diferentes
da língua alemã, foram traduzidas adicionalmente em língua portuguesa, conservando­se, porém, os termos
idiomáticos originais.  
[9]
  Nessa  passagem  de  seu  texto,  Marx  formula  a  seguinte  anotação  :  "Hegel.  Relações  geológicas,
hidrográficas etc. Os ventres dos seres humanos. Necessidade, trabalho."
[10]
 Nesse  passo,  conclui  Ksenofontov,  em  seu  texto,  que  a  luta  de  classes  é  propriamente  o  conteúdo  da
história.  
[11]
 Cf. MARX, KARL & ENGELS, FRIEDRICH. Die deutsche Ideologie (A Ideologia Alemã) (1845­
1846), in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Vol. 3, Berlim : Dietz Verlag, 1961, pp. supra­
indicadas. 
[12]
  Nesse passo, observa Ksenofontov, em seu texto, que o Estado é precisamente a forma no interior da
qual a classe dominante realiza os seus interesses.   
[13]
 Cf. BUKHARIN, NIKOLAI. Teoria Proletarskoi Diktatury (Teoria da Ditadura Proletária), Moscou :
Gosud. Izd­vo, p. 11 e s.
[14]
 FRIEDRICH ENGELS.  Anti­Dühring.  Herrn  Eugen  Dühring‘s  Umwälzung  der  Wissenschaft  (Anti­
Dühring. A Subversao da Ciência do Sr. Eugênio Dühring) (Setembro 1876 – Junho 1878), in : Marx und
Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Berlim, 1962, Vol. 20, p. 261.

Você também pode gostar