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Numa primeira aproximação pode-se dizer que a sociedade civil é o lugar onde surgem
e se desenvolvem os conflitos econômicos, sociais, ideológicos, religiosos, que as instituiçoes
estatais têm o dever de resolver ou através da mediação ou através da repressão. Sujeitos desses
conflitos e portanto da sociedade civil exatamente enquanto contraposta ao Estado são as classes
sociais, ou mais amplamente os grupos, os movimentos, as associações, as organizações que as
representam ou se declaram seus representantes; ao lado das organizações de classe, os grupos
de interesse, as associações de vários gêneros com fins sociais, e indiretamente políticos, os
movimentos de emancipação de grupos étnicos, de defesa dos direitos civis, de libertação da
mulher, os movimentos de jovens etc. Os partidos têm um pé na sociedade civil e um pé nas
instituições (mostrar que eles cumprem a função de selecionar, portanto de agregar e de
transmitir, as demandas provenientes da sociedade civil e destinadas a se tornar objeto de
decisão política).
Marx, chegou à convicção de que as instituições jurídicas e políticas tinham suas raízes
nas relações materiais de existência, "cujo conjunto é incorporado por Hegel sob o termo
'sociedade civil'. "Sociedade civil" passa a significar o conjunto das relações interindividuais
que estão fora ou antes do Estado, exaurindo deste modo a compreensão da esfera pré-estatal
distinta e separada da esfera do Estado. Para Marx, tal sociedade se configura como sociedade
burguesa, no sentido próprio de sociedade de classe, e que a sociedade burguesa em Marx tem
por sujeito histórico a burguesia, uma classe que completou a sua emancipação política
libertando-se dos vínculos do Estado absoluto e contrapondo ao Estado tradicional os direitos do
homem e do cidadão que são, na realidade, os direitos que de agora em diante deverão proteger
os próprios interesses de classe. Marx, que chama de sociedade civil o conjunto das relações
econômicas constitutivas da base material, Gramsci chama de sociedade civil a esfera na qual
agem os aparatos ideológicos que buscam exercer a hegemonia e, através da hegemonia, obter o
consenso. Não que Gramsci abandone a dicotomia base/superestrutura, para substituí-la pela
dicotomia sociedade civil/Estado. Na verdade, ele agrega a segunda à primeira e torna assim o
seu esquema conceitual mais complexo.
Quando Marx escreve que havia chegado à descoberta da sociedade civil subjacente às
instituições políticas estudando Hegel e identifica a sociedade civil com a esfera das relações
econômicas, dá uma interpretação parcial da categoria hegeliana da sociedade pois o
pensamento Hegeliano da sociedade Civil é muito mais complexo. A sociedade civil hegeliana
representa o primeiro momento de formação do Estado, o Estado jurídico-administrativo, cuja
tarefa é regular relações externas, enquanto o Estado propriamente dito representa o momento
ético-político, cuja tarefa é realizar a adesão íntima do cidadão à totalidade de que faz parte. A
distinção hegeliana entre sociedade civil e Estado representa a distinção entre um Estado
inferior e um Estado superior. Enquanto o Estado superior é caracterizado pela constituição e
pelos poderes constitucionais, tais como o poder monárquico, o poder legislativo e o poder
governativo, o Estado inferior opera através de dois poderes jurídicos subordinados — o poder
judiciário e o poder administrativo. Destes dois, o primeiro tem a tarefa prevalentemente
negativa de dirimir os conflitos de interesse e de reprimir as ofensas ao direito estabelecido; o
segundo, de prover a utilidade comum, intervindo na fiscalização dos costumes, na distribuição
do trabalho, na educação, na ajuda aos pobres. Para Hegel, o erro daqueles que descobriram a
sociedade civil está em terem acreditado que nela poderiam exaurir a essência do Estado. Por
isso a sociedade civil não é apenas uma forma inferior de Estado no conjunto do sistema. Em
última instância, o que caracteriza o Estado com respeito à sociedade civil são as relações que
apenas o Estado, e não a sociedade civil, estabelece com os outros Estados.
A vida em sociedade traz evidentes benefícios ao homem, por outro lado, favorece a
criação de uma série de limitações que, em certos momentos e em determinados lugares, são de
tal modo numerosas e freqüentes que chegam a afetar seriamente a própria liberdade humana. E,
apesar disso, o homem continua vivendo em sociedade. Como se explica este fato? Seria o
homem obrigado, contra sua vontade, a viver em sociedade? Ou, seria o homem, por sua própria
natureza, levado a aceitar as limitações impostas em sua vida social?
Aristóteles considera a famíia como a primeira forma de pólis, isto é uma forma
embrionária e imperfeita de Estado, pode-se entender que o Estado é uma organização
complexa que no desenvolver das relações humanas teve de se organizar por uma necessidade
de organização da sociedade. O Estado é entendido inicialmente como uma condição, do termo
latim “status”, que significa estático, constante, posicionado, passa a ser entendido como uma
condição de posse permanente de comando de um território específico e de pessoas que ocupam
aquele território. Weber vê no fenômeno de formação do Estado moderno a presença de dois
elementos que o constituem, o primeiro é o monopólio legítimo da força e o segundo é a função
de prover e prestar serviços públicos.
O poder precisa ser justificado, para tal a força deve ser relacionada com a justiça, sob
uma premissa justificativa ética, formulando princípios de legitimidade na organização do
Estado, podendo partir, por exemplo, da vontade divina ou da vontade do povo. O Estado está
legitimado quando parte da vontade do povo, contudo, as leis impostas pelas autoridades podem
tanto ser inferiores quanto superiores às próprias autoridades, com isto, surge a ideia do governo
das leis, isto é, o governo das regras e normas que definem o comportamento social, como
superior ao governo dos homens, isto significa que todo homem, inclusive os formuladores de
normas e regras, estão sujeitos a seguirem as regras por eles próprios criados.
Das formas de governo, podemos perceber como o uso do poder e a definição dos
objetivos moldam as relações sociais e definem o Estado, temos a monarquia que é o governo
de um, a aristocracia que é o governo de poucos e a democracia que é o governo de muitos,
contudo, cada uma possui problemas específicos.
Os fins subjetivos segundo Dalari, são aqueles apontados por Bobbio durante a
manifestação de interesses das autoridades, segundo Dalari, estes fins são o encontro entre
Estado e fins individuais. O Estado, ao longo de sua história, teve finalidades distintas para
inúmeros grupos particulares, uma vez que o Estado é marcado pelas diversas ações e relações
humanas que são determinadas por fins particulares. Já fins expansivos, são aqueles que
segundo um grupo de teorias como a ética, pregam o crescimento desmensurado do Estado, de
maneira a anular o individuo e sua vontade. Isto significa que o Estado é totalitarista, porque ele
é fonte da moral, onipotente e onipresente, intolerante aos comportamentos que não são
considerados oficiais por ele. Por outro lado, fins limitados, são teorias que dão ao Estado a
redução mínima da sua capacidade de atuação na vida social. Segundo esta visão, o Estado é
responsável por garantir a segurança e a liberdade individual, são representados por Hobbes,
Rousseau, Locke e Smith. Por último, os fins relativos representam relacionamentos recíprocos
entre indivíduos e sobretudo entre indivíduo e Estado. JELLINEK, CLÓVIS, BEVILAQUA e
GROPÁLI, são representantes desta linha de pensamento. Segundo Dalari, as ações humanas
são a expressão de uma solidariedade que existe no íntimo de cada indivíduo, e só quando essa
solidariedade se externa é que se insere nas atividades essenciais do Estado.
Segundo Dalari, o Estado é então uma sociedade política, uma vez que toda sua atuação
e determinação está fundamentada em finalidades que são diversas segundo as visões teóricas
aqui apresentadas. O conceito Estado portanto, possui uma diversidade de concepções e
conceitos segundo diversas interpretações, não há portanto um consenso de definição do Estado
e assim como Bobbio, Dalari dá duas concepções de Estado, um enquanto mecanismo de uso da
força e o outro natureza jurídica, que utiliza como ponto de partida a noção da ordem
A crítica por parte de Dalari (1998) aos partidos políticos, não deixa de ser uma crítica à
representação política, argumenta que o povo não tem condições de votar em função de ideias,
portanto no momento da eleição do representante, são os interesses que determinam o
comportamento do eleitorado, ficando em segundo plano as ideias políticas de determinado
partido. Diante deste problema de representatividade são elencadas três formas de representação
no governo. A primeira delas, a representação profissional, pode ser dado como exemplo a
situação da Inglaterra citada anteriormente, cujos interesses são de uma classe de trabalhadores,
traduzem-se em sindicados e procuram promover se organizar politicamente para traduzir
legalmente os seus interesses. Este modelo de representação é problemático uma vez que é
impraticável a representatividade de todas as profissões em partidos políticos, além de que a
amplitude dos assuntos tratados pelo Estado, vão além dos interesses profissionais, recaindo
assim na representatividade política, fato este que, pode-se perceber como um fenômeno
presente atualmente nos sindicados. Em segundo lugar, a representação corporativa, esta
representação orgânica do Estado. Este modelo a coletividade do Estado se reparte em
indivíduos que por meio da divisão do trabalho exercem funções sociais determinadas, a esta se
dá o nome de corporação. A corporação é um órgão natural por meio do qual a vida do Estado
se manifesta, desde questões sociais até as culturais, inclusive a igreja, a problemática da
representatividade corporativa está na sua estrutura, uma vez que segundo Dalari (1998) não
representa qualquer viabilidade de um sistema superior à representação política. Por último a
representação institucional, Dalari (1998) afirma ser esta a melhor forma de representatividade,
segundo este modelo é uma forma de se representar através de um objetivo, um valor ou algo a
realizar, de maneira a perpetuar-se num meio social. Estão incluídas a representação de ideias e
interesses neste modelo de representatividade, de maneira que possa nele ser incluído a
representação política, profissional e, amplamente, a corporativa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOBBIO, Norberto. Estado, Governo, Sociedade, para uma Teoria Geral da Política. 13ª ed.
São Paulo: Paz e Terra, 2007. cap. I-IV
DALLARI, Dalmo A. Elementos de Teoria Geral do Estado. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 1998.
capítulos I-II, IV-V