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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO ORGANIZACIONAL


TEORIA DO ESTADO, GOVERNO E SOCIEDADE
Profa. Dra. Cristiane Betanho

Renato César de Souza Júnior

FICHAMENTO TEXTOS BOBBIO E DALLARI (Aulas 02 a 05)

CONCEITOS E RELAÇÔES ENTRE SOCIEDADE CIVIL, GOVERNO E ESTADO.

Numa primeira aproximação pode-se dizer que a sociedade civil é o lugar onde surgem
e se desenvolvem os conflitos econômicos, sociais, ideológicos, religiosos, que as instituiçoes
estatais têm o dever de resolver ou através da mediação ou através da repressão. Sujeitos desses
conflitos e portanto da sociedade civil exatamente enquanto contraposta ao Estado são as classes
sociais, ou mais amplamente os grupos, os movimentos, as associações, as organizações que as
representam ou se declaram seus representantes; ao lado das organizações de classe, os grupos
de interesse, as associações de vários gêneros com fins sociais, e indiretamente políticos, os
movimentos de emancipação de grupos étnicos, de defesa dos direitos civis, de libertação da
mulher, os movimentos de jovens etc. Os partidos têm um pé na sociedade civil e um pé nas
instituições (mostrar que eles cumprem a função de selecionar, portanto de agregar e de
transmitir, as demandas provenientes da sociedade civil e destinadas a se tornar objeto de
decisão política).

Marx, chegou à convicção de que as instituições jurídicas e políticas tinham suas raízes
nas relações materiais de existência, "cujo conjunto é incorporado por Hegel sob o termo
'sociedade civil'. "Sociedade civil" passa a significar o conjunto das relações interindividuais
que estão fora ou antes do Estado, exaurindo deste modo a compreensão da esfera pré-estatal
distinta e separada da esfera do Estado. Para Marx, tal sociedade se configura como sociedade
burguesa, no sentido próprio de sociedade de classe, e que a sociedade burguesa em Marx tem
por sujeito histórico a burguesia, uma classe que completou a sua emancipação política
libertando-se dos vínculos do Estado absoluto e contrapondo ao Estado tradicional os direitos do
homem e do cidadão que são, na realidade, os direitos que de agora em diante deverão proteger
os próprios interesses de classe. Marx, que chama de sociedade civil o conjunto das relações
econômicas constitutivas da base material, Gramsci chama de sociedade civil a esfera na qual
agem os aparatos ideológicos que buscam exercer a hegemonia e, através da hegemonia, obter o
consenso. Não que Gramsci abandone a dicotomia base/superestrutura, para substituí-la pela
dicotomia sociedade civil/Estado. Na verdade, ele agrega a segunda à primeira e torna assim o
seu esquema conceitual mais complexo.

Quando Marx escreve que havia chegado à descoberta da sociedade civil subjacente às
instituições políticas estudando Hegel e identifica a sociedade civil com a esfera das relações
econômicas, dá uma interpretação parcial da categoria hegeliana da sociedade pois o
pensamento Hegeliano da sociedade Civil é muito mais complexo. A sociedade civil hegeliana
representa o primeiro momento de formação do Estado, o Estado jurídico-administrativo, cuja
tarefa é regular relações externas, enquanto o Estado propriamente dito representa o momento
ético-político, cuja tarefa é realizar a adesão íntima do cidadão à totalidade de que faz parte. A
distinção hegeliana entre sociedade civil e Estado representa a distinção entre um Estado
inferior e um Estado superior. Enquanto o Estado superior é caracterizado pela constituição e
pelos poderes constitucionais, tais como o poder monárquico, o poder legislativo e o poder
governativo, o Estado inferior opera através de dois poderes jurídicos subordinados — o poder
judiciário e o poder administrativo. Destes dois, o primeiro tem a tarefa prevalentemente
negativa de dirimir os conflitos de interesse e de reprimir as ofensas ao direito estabelecido; o
segundo, de prover a utilidade comum, intervindo na fiscalização dos costumes, na distribuição
do trabalho, na educação, na ajuda aos pobres. Para Hegel, o erro daqueles que descobriram a
sociedade civil está em terem acreditado que nela poderiam exaurir a essência do Estado. Por
isso a sociedade civil não é apenas uma forma inferior de Estado no conjunto do sistema. Em
última instância, o que caracteriza o Estado com respeito à sociedade civil são as relações que
apenas o Estado, e não a sociedade civil, estabelece com os outros Estados.

O modelo hobbesiano (ou jusnaturalista), para o qual o Estado é a antítese do estado de


natureza, da societas naturalis constituída por indivíduos hipoteticamente livres e iguais. a
mesma societas civilis do modelo hobbesiano, na medida em que é a antítese do estado de
natureza e é constituída mediante acordo dos indivíduos que decidem sair do estado de natureza,
é uma sociedade instituída ou artificial. Estado como entidade instituída pelos homens por sobre
as relações naturais, melhor, como regulamentação voluntária das relações naturais, em suma
como sociedade artificial.

A vida em sociedade traz evidentes benefícios ao homem, por outro lado, favorece a
criação de uma série de limitações que, em certos momentos e em determinados lugares, são de
tal modo numerosas e freqüentes que chegam a afetar seriamente a própria liberdade humana. E,
apesar disso, o homem continua vivendo em sociedade. Como se explica este fato? Seria o
homem obrigado, contra sua vontade, a viver em sociedade? Ou, seria o homem, por sua própria
natureza, levado a aceitar as limitações impostas em sua vida social?

Favorável à ideia natural, Aristóteles acredita que o Homem é naturalmente um animal


político. Ao observar o homem ao longo da história, identifica-se que ele sempre esteve em um
estado de convivência e combinação com outros homens, uma vez que é uma condição essencial
da vida humana, pois só em tais condições pode o homem conseguir satisfazer as suas
necessidades beneficiando-se do conhecimento, da energia, da produção, da experiência dos
outros contratualistas (opostos à ideia de sociedade natural), tais autores sustentam que a
sociedade é tão-só o produto de um acordo de vontades, ou seja, de um contrato hipotético
celebrado entre os homens. Exemplos: Platão, Moore, Campanella, Hobbes. Rousseau, Locke.
ROUSSEAU afirma que na impossibilidade de ser aumentada a força de cada indivíduo, o
homem, consciente de que a liberdade e a força constituem os instrumentos fundamentais de sua
conservação, pensa num modo de combiná-los. Segundo ROUSSEAU (LIBERDADE E
IGUALDADE), essa dificuldade pode ser assim enunciada: "... encontrar uma forma de
associação que defenda e proteja a pessoa e os bens de cada associado, de qualquer força
comum; e pela qual cada um, unindo-se a todos, não obedeça, portanto, senão a si mesmo,
ficando, assim, tão livre como dantes". E conclui ROUSSEAU: "Tal é o problema fundamental
que o Contrato Social soluciona". É então que ocorre a alienação total de cada associado, com
todos os seus direitos a favor de toda a comunidade. Nesse instante, o ato de associação produz
um corpo moral e coletivo, que é o Estado, enquanto mero executor de decisões, sendo o
soberano quando exercita um poder de decisão. O soberano, portanto, continua a ser o conjunto
das pessoas associadas, mesmo depois de criado o Estado, sendo a soberania inalienável e
indivisível. O acordo entre homens deve representar a vontade geral (que é uma síntese das
vontades individuais).
Pode-se afirmar que predomina, atualmente, a aceitação de que a sociedade é resultante
de uma necessidade natural do homem, sem excluir a participação da consciência e da vontade
humanas. E inegável, entretanto, que o contratualismo exerceu e continua exercendo grande
influência prática, devendo-se mesmo reconhecer sua presença marcante na ideia
contemporânea de democracia. Segundo Rousseau, a diferença entre a vontade de todos e a
vontade geral: esta atende só ao interesse comum, enquanto que a outra olha o interesse privado
e não é senão uma soma das vontades particulares".

Segundo Bobbio, o estudo do Estado está caracterizado na abordagem de duas fontes, a


história da doutrina política do Estado, e a história das instituições políticas, além disto pode ser
analisado dentro da filosofia e da ciência da política. Utilizando o ponto de vista de Weber,
Bobbio analisa o ponto de vista jurídico do ponto de vista sociológico do Estado.

A doutrina sociológica tem por conteúdo a existência natural, objetiva e histórica do


Estado, enquanto que a doutrina jurídica tem por conteúdo as normas jurídicas que na existência
real do Estado se manifesta, de maneira a reduzir o estudo do aparelho estatal, como meramente
um conjunto de normas e regras, o que de fato não pode ser feito, uma vez que o Estado é uma
organização complexa de relações sociais, em que o direito é parte dela. Já no âmbito
sociológico do Estado, houveram duas correntes, a teoria Marxista e a teoria funcionalista. A
visão marxista acredita que há dois momentos que não são dados de passagem de mudança
econômica e de mudança da superestrutura, tal visão acredita que o que de fato dita os rumos do
Estado está na mudança econômica, sobretudo nas relações de produção e em um segundo
momento compreende-se a formação das instituições políticas, isto é, o Estado. Já a concepção
funcionalista, que foi a visão da ciência política americana, dominante por anos e que
influenciou a política da Europa é uma teoria aborda de forma sistêmica a organização do
Estado, sendo ele dividido em quatro subsistemas que desempenham funções de conservação do
equilíbrio social e que são interdependentes. A função básica na teoria funcionalista.

Aristóteles considera a famíia como a primeira forma de pólis, isto é uma forma
embrionária e imperfeita de Estado, pode-se entender que o Estado é uma organização
complexa que no desenvolver das relações humanas teve de se organizar por uma necessidade
de organização da sociedade. O Estado é entendido inicialmente como uma condição, do termo
latim “status”, que significa estático, constante, posicionado, passa a ser entendido como uma
condição de posse permanente de comando de um território específico e de pessoas que ocupam
aquele território. Weber vê no fenômeno de formação do Estado moderno a presença de dois
elementos que o constituem, o primeiro é o monopólio legítimo da força e o segundo é a função
de prover e prestar serviços públicos.

A relação entre o Estado e a sociedade é uma relação entre governante e governado


segundo Bobbio, é uma relação que pode ser comparada ao conceito de família na figura do
Estado como pai que precisa proteger seus filhos, desta maneira o Estado

nasce da dissolução de uma comunidade primitiva,


fundada sobre laços de parentesco e da formação de
comunidades mais amplas, fundadas sobre a união de
grupos familiares, por razões de sobrevivência interna
(sustentação) e externa (defesa) (BOBBIO p.73)

As teorias políticas partem do pressuposto da relação de poder, isto é, há uma relação


de força, do grego Kratos e autoridade, do grego arché, daí então derivam-se a aristocracia,
monarquia, democracia, fisiocracia, burocracia, etc. O estudo do Estado, segundo Bobbio, se
resume então no estudo dos poderes que competem ao soberano, uma vez que o estudo do
Estado é parte da política, que por sua vez é parte do poder. Ao se reduzir o conceito de Estado
para política e o de política para poder, deve-se entender as relações de poder do Estado, deve-
se entender que o poder é o direito de exercer a força, não somente de exercer a força, mas a
exclusividade por parte do soberano de exercer a força sobre um determinado território. O poder
então pode ser dividido em três formas, poder político, poder econômico e ideológico. O
político é o poder de recorrer à força em ultima instância, o econômico se dá na posse de certos
bens que nas mãos do Estado podem induzir as pessoas a uma certa conduta. Já o ideológico
está relacionado como saber, isto é, doutrinas, conhecimentos, informações que possam exercer
influências sobre o comportamento alheio e induzir as pessoas a realizarem o que o Estado
deseja.

O poder precisa ser justificado, para tal a força deve ser relacionada com a justiça, sob
uma premissa justificativa ética, formulando princípios de legitimidade na organização do
Estado, podendo partir, por exemplo, da vontade divina ou da vontade do povo. O Estado está
legitimado quando parte da vontade do povo, contudo, as leis impostas pelas autoridades podem
tanto ser inferiores quanto superiores às próprias autoridades, com isto, surge a ideia do governo
das leis, isto é, o governo das regras e normas que definem o comportamento social, como
superior ao governo dos homens, isto significa que todo homem, inclusive os formuladores de
normas e regras, estão sujeitos a seguirem as regras por eles próprios criados.

Das formas de governo, podemos perceber como o uso do poder e a definição dos
objetivos moldam as relações sociais e definem o Estado, temos a monarquia que é o governo
de um, a aristocracia que é o governo de poucos e a democracia que é o governo de muitos,
contudo, cada uma possui problemas específicos.

Os fins objetivos do Estado estão correlacionados com o papel do Estado no


desenvolvimento da história dos homens. A teoria organicista, entendia o Estado como um fim
em si mesmo, negando a existência de finalidade objetiva do Estado. Já a doutrina mecanicista,
também negou a existência da finalidade do Estado, uma vez que a vida social é uma sucessão
de acontecimentos naturais e que não podem ser alterados, sendo incapazes de serem dirigidos
para um determinado fim. Por último, tem-se a doutrina que acredita que o Estado possui fins
particulares, resultantes das circunstâncias de seu surgimento e desenvolvimento, condicionando
assim a sua história.

Os fins subjetivos segundo Dalari, são aqueles apontados por Bobbio durante a
manifestação de interesses das autoridades, segundo Dalari, estes fins são o encontro entre
Estado e fins individuais. O Estado, ao longo de sua história, teve finalidades distintas para
inúmeros grupos particulares, uma vez que o Estado é marcado pelas diversas ações e relações
humanas que são determinadas por fins particulares. Já fins expansivos, são aqueles que
segundo um grupo de teorias como a ética, pregam o crescimento desmensurado do Estado, de
maneira a anular o individuo e sua vontade. Isto significa que o Estado é totalitarista, porque ele
é fonte da moral, onipotente e onipresente, intolerante aos comportamentos que não são
considerados oficiais por ele. Por outro lado, fins limitados, são teorias que dão ao Estado a
redução mínima da sua capacidade de atuação na vida social. Segundo esta visão, o Estado é
responsável por garantir a segurança e a liberdade individual, são representados por Hobbes,
Rousseau, Locke e Smith. Por último, os fins relativos representam relacionamentos recíprocos
entre indivíduos e sobretudo entre indivíduo e Estado. JELLINEK, CLÓVIS, BEVILAQUA e
GROPÁLI, são representantes desta linha de pensamento. Segundo Dalari, as ações humanas
são a expressão de uma solidariedade que existe no íntimo de cada indivíduo, e só quando essa
solidariedade se externa é que se insere nas atividades essenciais do Estado.

Segundo Dalari, o Estado é então uma sociedade política, uma vez que toda sua atuação
e determinação está fundamentada em finalidades que são diversas segundo as visões teóricas
aqui apresentadas. O conceito Estado portanto, possui uma diversidade de concepções e
conceitos segundo diversas interpretações, não há portanto um consenso de definição do Estado
e assim como Bobbio, Dalari dá duas concepções de Estado, um enquanto mecanismo de uso da
força e o outro natureza jurídica, que utiliza como ponto de partida a noção da ordem

Ao analisarmos a sociedade e o Estado, deve-se compreender o governo, suas formas e


características. Dentro de um Estado Democrático, percebe-se que o povo é quem governa e que
as decisões do Estado devem ser orientadas segundo os interesses do povo. Todavia, não é
possível que todos os cidadãos que pertencem à um determinado Estado estejam ativamente no
poder, desta maneira surgem as relações democráticas diretas, indiretas e nesta a questão da
representatividade. A democracia direta se concentra na ideia de que o povo age diretamente nas
escolhas e exerce o poder no controle do Estado, diante da impossibilidade prática de todos
estarem no poder, surge uma necessidade do Estado a fim de que o povo escolha seus
representantes. A democracia indireta, ou representativa o povo concede mandato a alguns
cidadãos, para, na condição de representantes, externarem a vontade popular e tomarem
decisões em seu nome.

Ao longo da história e das revoluções compreendidas ao longo do século XVIII até o


XX, ocorre uma tentativa de abater a força do Estado Monárquico por parte da classe burguesa,
tem-se por exemplo na Inglaterra a imposição por parte da classe burguesa a assinatura da
Carta-Magna que revogava ao rei alguns poderes de Estado. Percebe-se então que os burgueses,
melhor dizendo, os detentores do capital e das classes trabalhadoras se organizaram para que
obtivessem alguma forma de poder sobre o Estado, deste conceito veio futuramente os partidos
políticos que são formas de representatividade, neste caso de uma classe trabalhadora. O partido
político segundo Dalari (1998) pode ser um partido de quadros, orientado mais pela qualidade
intelectual de seus membros do que pela quantidade, ou um partido de massas, que busca o
maior número possível de adeptos, sem, na teoria, qualquer espécie de discriminação.

A crítica por parte de Dalari (1998) aos partidos políticos, não deixa de ser uma crítica à
representação política, argumenta que o povo não tem condições de votar em função de ideias,
portanto no momento da eleição do representante, são os interesses que determinam o
comportamento do eleitorado, ficando em segundo plano as ideias políticas de determinado
partido. Diante deste problema de representatividade são elencadas três formas de representação
no governo. A primeira delas, a representação profissional, pode ser dado como exemplo a
situação da Inglaterra citada anteriormente, cujos interesses são de uma classe de trabalhadores,
traduzem-se em sindicados e procuram promover se organizar politicamente para traduzir
legalmente os seus interesses. Este modelo de representação é problemático uma vez que é
impraticável a representatividade de todas as profissões em partidos políticos, além de que a
amplitude dos assuntos tratados pelo Estado, vão além dos interesses profissionais, recaindo
assim na representatividade política, fato este que, pode-se perceber como um fenômeno
presente atualmente nos sindicados. Em segundo lugar, a representação corporativa, esta
representação orgânica do Estado. Este modelo a coletividade do Estado se reparte em
indivíduos que por meio da divisão do trabalho exercem funções sociais determinadas, a esta se
dá o nome de corporação. A corporação é um órgão natural por meio do qual a vida do Estado
se manifesta, desde questões sociais até as culturais, inclusive a igreja, a problemática da
representatividade corporativa está na sua estrutura, uma vez que segundo Dalari (1998) não
representa qualquer viabilidade de um sistema superior à representação política. Por último a
representação institucional, Dalari (1998) afirma ser esta a melhor forma de representatividade,
segundo este modelo é uma forma de se representar através de um objetivo, um valor ou algo a
realizar, de maneira a perpetuar-se num meio social. Estão incluídas a representação de ideias e
interesses neste modelo de representatividade, de maneira que possa nele ser incluído a
representação política, profissional e, amplamente, a corporativa.

Diante do processo eleitoral, tem-se alguns problemas que vão além da


representatividade, que são os sistemas eleitorais e suas formas de assegurar a autenticidade
eleitoral. O primeiro deles é através da representação majoritária, cujos representantes são
eleitos pelos votos da maioria, isto acaba por excluir os interesses das minorias, já o sistema
proporcional que visa resolver o problema da representação majoritária, tenta impor a
representação das minorias segundo um quantitativo proporcional de representantes destes
grupos, de fato por serem minorias, Dalari afirma que não possuem condições práticas para
impor ao governo suas ideias e seus princípios. Por último temos os distritos eleitorais, que
visam eleger representantes segundo a região em que as pessoas moram, isto é, dividindo os
colégios eleitorais em grupos denominados distritos eleitorais, cujos representantes são eleitos
exclusivamente por cada distrito, o problema maior deste modelo é o quantitativo de candidatos
que devem ser eleitos segundo cada distrito, uma vez que não somente devem-se levar questões
dimensionais do colégio eleitoral de cada distrito, mas questões econômicas e sociais.

Apresentados os problemas de representatividade no Estado, é interessante perceber


como as formas de governo organizadas através do estudo de sua estrutura fundamental e de
como está relacionada com as demais. Das formas fundamentais de governo tem-se a monarquia
e a república. A monarquia é uma forma de governo adotada há muitos séculos por quase todos
os Estados, nela há a presença de um monarca, um Rei, cujas características são a vitaliciedade,
isto é, o monarca governa enquanto viver ou enquanto tiver condições para continuar
governando, a hereditariedade, isto é, a transferência do poder de governar para seu herdeiro.
Por último a monarquia se caracteriza pela irresponsabilidade, isto é, a ausência de dar
explicações ao povo ou a outrem sobre qualquer decisão ou orientação política. O ponto mais
forte da monarquia é que seus governantes são criados e crescem a fim de serem preparados
para governar, portanto há uma ideia por parte de alguns autores de que não há o risco de
governantes despreparados. Contudo, a monarquia apresenta diversos problemas, tais como: a
inexistência de ordem jurídica que traz inerentemente ao modelo monárquico o governo
segundo fatores pessoais, reduzindo assim a eficácia e objetividade; o caráter antidemocrático
da monarquia uma vez que não assegura a supremacia da vontade popular.

Na forma de governo republicana, é possível entende-la como forma de oposição ao


governo monárquico, cuja característica chave é a representatividade popular, é caracterizada
pela temporalidade no governo, isto é, um período de mandato para cada chefe de governo,
possui maior efetividade e traz consigo maior responsabilidade, uma vez que suas ações
políticas devem ser informadas ao povo assim como suas justificativas. Na república quanto às
relações entre os poderes executivo e legislativo, podemos dividi-la em duas formas, a
Parlamentarista e a Presidencialista.
O modelo Parlamentarista é caracterizado pela distinção entre Chefe de Estado e Chefe
de Governo, isto é o Chefe de Estado, monarca, ou Presidente, não participa das decisões
políticas, exercendo função de representante do Estado, desempenha também o papel de em
alguns momentos, indicar um novo Primeiro Ministro à aprovação do Parlamento. O Primeiro
Ministro é quem é o Chefe de Governo, ele não possui mandato com prazo determinado,
podendo ser demitido em duas situações, quando os membros do parlamento representarem
maioria quanto à sua saída, ou quando houver proposição por membro parlamentar de voto de
desconfiança em razão de ações políticas do Chefe de Estado. É um modelo interessante uma
vez que atribui responsabilidade política ao chefe do Executivo e transfere ao Parlamento, onde
estão os diversos interesses do povo a competência para fixar ou decidir sobre uma política
adotada, contudo, é criticado por Dalari (1998) uma vez que possui uma atitude passiva como
mero vigilante das relações sociais.

O modelo Presidencialista, presente na maioria dos Estados é caracterizado pela


centralização da chefia de Estado e Governo no Presidente da República, tornando sua
responsabilidade a fixação de diretrizes políticas, que são auxiliadas por um corpo de ministros,
assessores e auxiliares escolhidos por ele mesmo. O Presidente da República é escolhido por um
grande conjunto da sociedade, de maneira que as pessoas escolhidas pelo Presidente para
auxiliá-lo são indiretamente a representação da escolha do povo. Além do prazo do mandato do
Presidente ser determinado, ele possui um poder de veto, isto é, uma forma de evitar que o
poder legislativo tenha grande poder na construção legal do Estado, quando um projeto de lei é
aprovado pelo poder legislativo, a Presidência, segundo seus critérios pode ou não vetar o
projeto.

Diante da organização do Estado e das formas de governo aqui analisadas, é possível


perceber por parte dos autores perspectivas de gestão do Estado que são passíveis de
identificação. A primeira delas é a Racionalização do governo, tal ideia visa racionalizar o
poder, isto é, pretende utilizar os elementos técnicos e altamente especializados que o homem
dispõe como forma de auxiliar no governo. Neste sentido, há uma orientação para que as
práticas modernas de organização e comunicação utilizadas no setor privado, que são as mais
modernas possíveis, sejam aplicadas na gestão pública, aumentando a efetividade da mesma. A
segunda tendência é o fortalecimento democrático do governo, isto é, há uma exigência do
aumento da participação do Estado na vida social, ampliando sua participação e inclusive a
concentração do poder.

Portanto, pode-se perceber que em um governo deve haver o aumento da presença do


Estado aliado à racionalização de suas atividades, de maneira a contribuir para um
aproveitamento mais eficiente dos recursos públicos, contudo há a necessidade de que este
aumento seja democrático, pois em um Estado Democrático, o povo é quem deve ditar a política
orientada à seus interesses, desta maneira, estas serão as futuras formas de governo quando
sistematizada as tendências que decorrem das novas condições de vida social.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOBBIO, Norberto. Estado, Governo, Sociedade, para uma Teoria Geral da Política. 13ª ed.
São Paulo: Paz e Terra, 2007. cap. I-IV

DALLARI, Dalmo A. Elementos de Teoria Geral do Estado. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 1998.
capítulos I-II, IV-V

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