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Evolução histórica da perceção de política

Política como um saber: saber conjugar uma boa atividade com uma boa
organização da cidade, o poder político era o poder dos governantes sobre
os governadores, no interesse comum de todos. Originou o estudo
comparado das constituições das cidades estado gregas feito por
Aristóteles, uma vez que era na constituição que estavam as regras da
política.

Política como arte: saber organizar e governar em sociedade. A obra de


Maquiavel “o Príncipe”, que foi escrita numa perceção de política como arte,
dizia aos príncipes como conquistar e manusear o poder. Para pensadores
como este, governar é exercer o poder sobre. Maquiavélico, é quem não
olha os meios para atingir um fim e isto era o que Maquiavel queria dizer,
quando não se tem o poder, temos de fazer algo para consegui-lo, quando o
temos, devemos fazer algo para mantê-lo.

Política como ciência: a política passa a dedicar-se a um estudo, o estudo


do fenómeno político, a partir de métodos quantitativos e sistemas, isto é,
um conjunto de variáveis ou elementos que permitam chegar à adoção de
um método teórico.

Definição de ciência política

 Marcel: estuda o estado e os fenómenos relacionados com o estado,


quer por anterioridade, simultaneidade ou por sobreposição;
 Thomas: A ciência política estuda o poder (poder é influência que
temos perante a sociedade);
 Max: Na ciência política nós estudamos a luta pelo poder, a luta para
influenciar a distribuição do poder;
 Raymon: Estuda relações da autoridade, poder, hierarquia, quem
manda quem obedece...
 Maurice: ciência da autoridade, governantes e poder
 Adriano: a sede do poder, a forma ou imagem, e a ideologia.

A ciência política estuda fenómenos políticos que abrangem o estado,


o poder e a autoridade.

A função/objetivo da ciência política é a de conhecer, descrever,


explicar e sistematizar os fenómenos políticos.

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 O objeto/função da ciência política foi sofrendo uma evolução, visto
que a própria definição de ciência política continua em constante
mudança ao longo dos anos, por exemplo, segundo Marcel, esta
estudava o estado e fenómenos relacionados a este. Por outro lado,
atualmente segundo a sociedade a ciência política estuda o estado,
o poder e a autoridade.

O FENÓMENO POLÍTICO – definição (ter uma noção desta definição)

“Aquele que pressupõe uma relação de poder, uma diferenciação entre


governante e governado ou resulta de um conflito de interesses com vista à
conquista ou exercício do poder político. Ao conceito de político é essencial
a ideia de autoridade, possuir autoridade ou ter força para exercer ou
influenciar o poder”

 Um dos métodos possíveis de estudo inclui a criação de sistemas, a


abordagem sistémica olha para o sistema como um todo, como um
conjunto de variáveis que integram sobre si, e o sistema político é um
desses sistemas.

O sistema está teoricamente em equilíbrio, porém sobre esse sistema vão


cair inputs (estímulos) e estes podem ser de dois tipos, os intrassociais
(aqueles que têm origem de um comportamento humano) e os extrassociais
(aqueles que têm origem de um comportamento natural, fenómenos
naturais). Esses inputs enviam um estímulo que vai criar sobre o sistema
político um desequilíbrio, e quando isto acontece o estado tem de se
adaptar, então como resposta é originada um output, e este é fundamental,
para recuperar o equilíbrio, visto que, caso isto não aconteça, o sistema
pode chegar a um colapso/fim.

Homeostase: é uma lei que organiza o sistema, segundo a qual os


sistemas, procuram manter o equilíbrio, apesar de naturais disfunções. O
sistema tem a capacidade de dar outputs em resposta aos estímulos/inputs,
de forma a recuperar o equilíbrio necessário para a sua sobrevivência.

A cada resposta/output que o sistema dá aos inputs/estímulos, este torna-se


mais completo e complexo, de forma a esbater a pressão, esta tendência
chama-se entropia e é causada pela homeostase.

Os outputs vão tornar-se inputs sobre o sistema, porque a resposta a um


input, pode vir a exigir outra adaptação sobre o sistema – feedback ou
retroação.

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Homeorese: quando os outputs são incapazes de garantir o equilíbrio,
dando fim ao sistema (este é substituído por outro).

O que é o estado?

 O estado é uma entidade abstrata que atua através dos seus órgãos,
é uma forma de organização política da sociedade, uma criação
humana.
 Este é também uma ordem jurídica de uma certa comunidade, é um
conjunto de regras necessário a um mínimo de organização que é
exigível.

O que caracteriza o estado: para existir um estado, tem de haver uma


população, um território e por último poder político ou soberania.

Cinco tipos de território do estado: o terrestre, o aéreo (faixa vertical que


coincide com as fronteiras de um território), marítimo, fluvial e por último
lacustre (lagos).

Todos os estados estão subordinados à respetiva constituição porque esta


tem por finalidade organizar e limitar poder político. Cada estado, com base
na sua constituição, exerce a sua função legislativa, criando leis, e fica
subordinado a essas leis, não podendo mais agir como se elas não
existissem.

Teses sobre a origem do estado:

Tese naturalista: o homem por natureza é um ser que tende a viver em


sociedade, o homem era naturalmente um animal político, feito para viver
em sociedade. O estado decorre de características naturais, genéticas e
biológicas dos seres humanos, partindo do pressuposto que os seres
humanos nascem todos egoístas, agressivos e tem como prioridade máxima
garantir a sua sobrevivência. Ao nascermos com esta preocupação, muito
cedo percebemos um problema, que é o facto de não conseguirmos
sobreviver sozinhos, então de nós procuráramos estratégias para garantir a
sobrevivência, uma delas é a pulsão sexual, a de ter relações sexuais, a de
criar casais, e é nestes casais que se vai formar a família. A procriação é a
prova de que nós precisamos de alguém para sobreviver, e é desta primeira
unidade, a família, que surge a primeira noção/forma de estado. A família é
a primeira forma de estado, que resulta da necessidade de procriar, e nós
Homens, fazemos isso para aumentar a probabilidade de sobrevivermos. O
segundo nível de estado, é a tribo, ou seja, um conjunto de famílias que

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coopera entre si para aumentar a probabilidade de sobrevivência.
Finalmente, as tribos com a finalidade de obter mais benéficos começaram
a cooperar entre si, criando assim o estado.

Tese contratualista: parte da premissa que o ser humano nasce agressivo,


egoístas e que por natureza é um animal social que tem necessidade de
viver em comunidades. Esta tese apresenta uma explicação racionalista. De
início, vive no chamado estado-natureza, de uma forma desorganizada, sem
regras e com interesses conflituando continuamente. Até que entende as
vantagens de associar-se, para melhor se defender. Reúne-se em
comunidades organizadas, alienando parte dos seus direitos a favor da
sociedade geral em que fica incorporado. Incorporação que se faz através
de um contrato social (É através de uma cedência da nossa liberdade
absoluta que criamos um contrato e em última instância o estado, decidimos
abdicar de uma parcela da liberdade para partilhá-la com a comunidade,
desde que todos os outros façam o mesmo), que se desdobra em
sociedade civil organizada e vontade da maioria.

Thomas Hobbes: afirmava que inicialmente o homem vivia no estado de


natureza, não havia leis nem autoridade, situação que era má e resultaria
do facto de o homem ser mau. Segundo ele nós necessitamos de um
estado coercivo. Devido ao medo e instinto de conservação e enquanto
racional que é, o homem passa ao estado de sociedade através de um
contrato que é irrevogável, no qual aliena a sua liberdade a favor do estado,
renunciando, em proveito do soberano, a todos os direitos e liberdades que
poderiam prejudicar a paz (tem que haver um estado forte para controlar as
pulsões naturais dos seres humanos (monarquia)).

Locke: tem uma visão mais otimista, visto que este autor diz que não
nascemos agressivos, mas sim num estado de incerteza, ou seja, o homem
não é agressivo, porém ficamos reticentes quando estamos num meio no
qual não conseguimos antecipar o comportamento dos outros, isso faz com
que o homem fique num estado defensivo que resulta muitas vezes na
agressividade. Para ele o estado torna as pessoas menos agressivas
porque diminui a incerteza, visto que a partir das regras criadas, os Homens
têm noção do que pode ou não fazer. Segundo este autor o poder supremo
caberia ao povo, que o confere ao estado, mas sem abdicar dos seus
direitos fundamentais que são inalienáveis, superiores e anteriores ao
estado.

Rousseau: o Homem nasce livre e senhor de si próprio, revelando toda a


sua bondade natural. O estado serve como forma de preservar, proteger e

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defender tanto a si como aos seus bens. Para este autor, a alienação dos
direitos e liberdades individuais em benefício da vontade geral que
prossegue o bem comum (democracia).

Tese organicista: esta tese oscila entre a consideração do estado como


unidade espiritual e a equiparação a um organismo natural ou biológico. A
primeira vertente, no seguimento da escola histórica alemã, para quem o
direito e o estado são expressões do espírito de um povo, como princípio
vital. A segunda vertente, liga-se ao positivismo e ao cientismo que
procuram alargar ao domínio do político e do jurídico os esquemas dos
cientistas da natureza, encarando o estado como um ser vivo.

Tese voluntarista: segundo esta tese, o homem foi obrigado a agrupar-se


para poder sobreviver, daí o aparecimento das tribos, dos clãs, em que
existia uma intensa solidariedade entre os seus membros que atacavam
uma certa ordem derivada de regras naturais de sobrevivência e que era
imposta pelo mais forte, visto que o aparecimento do estado nunca pode
resultar da vontade de todos (o estado decorre de uma imposição coerciva
de uma vontade de alguns indivíduos sobre uma comunidade, alguém
impos a sua criação).

Tipos de estado:

Na fase pré-constitucional: estados antigos que se dividem em estados


orientais, Grécia clássica e império romano. Estados medievais (476 até
1453) e por último o estado moderno (1453-1789), que se divide em duas
fases, a estamental e a absoluta que se divide em patrimonial e de polícia.

A fase pré-constitucional e a fase constitucional são separadas pelo ano de


1789

Fase constitucional (1789): estado de direito liberal, estado social e


democrático de direito, e por último estado autocráticos séc. XX, que se
divide URSS, nacional-socialismo alemão e fascismo italiano.

Estados antigos:
 Os estados orientais: têm como características, teocracia (um poder
político reconduzido ao poder religioso, com uma forma monárquica,
sendo o monarca adorado como um deus, descendente de um ou
chefe do poder espiritual) (um estado em que se assumem as regras
desse estado como tendo origem em documentos sagrados, em que
a lei civil é a mesma que a lei religiosa, portanto não há separação

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entre estado e religião). A ordem da sociedade é desigualitária e
hierarquizada, sendo reduzidas as garantias jurídicas dos indivíduos,
estados agressivos no ponto de vista militar.

 Estados gregos: o estado é aqui a comunidade dos cidadãos e a


religião fundamenta esta comunidade. O estado era a cidade-estado,
de pequena extensão territorial, uma comunidade de homens livres
em que, se exercia uma democracia direta na ágora, as cidades
estavam ligadas pela tradição e por uma política comum e por vezes
por motivos de defesa ou culto religioso. Apenas um determinado
estrato civil, possuía direitos políticos. Igualdade para todos isonomia,
e a isegoria, igualdade no acesso para se dirigir à assembleia.

 Estado romano: iniciou-se o desenvolvimento da noção de poder


político, como poder supremo e uno, cuja plenitude pode ou deve ser
reservada a uma única origem e a um único detentor. O primeiro era
o poder como faculdade soberana de mandar, o segundo era o poder
modelador e organizador e o terceiro envolvia um sentido de
grandeza e dignidade do poder. Surge a distinção entre poder publico
e poder privado. A noção de poder publico, uno e supremo,
corporizado numa única pessoa, um único detentor, o imperador,
inicia-se com uma monarquia, passando à república, principado e
império, expoente da concentração de poderes. A igreja católica
coloca o caracter do imperador em questão.

Estado medieval: divide-se em duas grandes fases, a das invasões e a da


reconstrução. Do ponto de vista político, é um estado muito fragmentado, o
poder está espalhado (pluralidade de poderes particulares, de natureza
social, religiosa ou territorial: feudos, senhorios e burgos). Durante a
primeira fase, a da conquista, os reis, acabam por deixar os nobres como
responsáveis pelas terras conquistadas, como forma de garantir o território,
porém outros problemas começaram a aparecer, visto que para os súbditos
o seu vínculo era maior com o senhor feudal do que com o monarca, não
existia vínculo de nacionalidade. O poder do monarca era simbólico,
internamente estava condicionado pela boa vontade e colaboração dos
senhores feudais. Externamente existia outro problema, o exercício do
poder por parte da igreja católica, os monarcas estão internacionalmente
dependentes da igreja. Inicio de uma transição que acontece
essencialmente no estado moderno.

Estado moderno: consiste na realização de esforços dos reis para se


libertarem dos vínculos internos, para centralização do poder real, disperso

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e diminuído pelas imunidades, e externos, para emancipação em relação ao
papa, este processo possui natureza jurídica, realizando-se que o direito é
um elemento condicionador da evolução social e política.

Fase estamental: período de transição entre a desagregação do sistema


medieval e o estado absoluto. Uma forma política de transição em que a
centralização do poder do rei tinha ainda como contrapartida a existência
das assembleias estamentais, representativas das camadas e classes
socias que procuravam a conservação dos privilégios adquiridos na
sociedade medieval. (Os monarcas quando convocam os estamentos o seu
objetivo ainda que parecesse que era para dar poder aos outros, era
apenas para manter a nobreza perto de si de forma a controlar o que
acontecia). O rei tem a legitimidade e a efetividade do poder central, mas
tem de contar como os estamentos, corpos organizados ou ordens vindas
da idade media, cuja principal forma de participação são as assembleias
estamentais. O estado estamental só dura até o rei ganhar força para levar
a unificação do poder às últimas consequências. O poder vai-se
centralizando até chegarmos ao estado absoluto.

Estado absoluto: A vontade do monarca, rei é lei. Surge o estado


nacional, que diz que a cada nação deve corresponder um estado, que se
caracteriza no plano externo por uma independência nacional, e no plano
interno pelo poder supremo do monarca. Surge uma ligação direta súbdito-
estado e ninguém tem direitos contra o estado. A concentração do poder
reforçou o vínculo de nacionalidade, o súbdito tem a maior desproteção
jurídica em relação ao estado, monarca. O monarca toma decisões
arbitrarias então muitas vezes o que ele alega para as justificar é que a sua
decisão é o melhor para a sociedade.

Dentro do estado absoluto na fase patrimonial: o monarca olha para o


estado como um património, como um bem, como uma propriedade e o seu
poder é considerado de origem divina. Para o monarca o estado existia para
satisfazer as suas vontades e não como forma de proteção para os
súbditos, este usufruía do estado da forma que ele queria.

No estado de polícia para além do que o monarca afirmava na fase


patrimonial, esta junta uma legitimação do seu poder, a racionalidade, no
sentido em que o monarca não so tem um poder de origem divina como é
um déspota iluminado, ou seja, possuía um conhecimento extraordinário. É
um estado da máxima intervenção, o rei pode intervir em todos os domínios
da vida da sociedade. O critério principal da ação política é a razão do
estado, o bem publico, devendo o monarca ter plena liberdade nos meios

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para o alcançar (Legitimação divina e racional). A criação de uma entidade,
o fisco, uma entidade criada pelo estado de polícia à margem do direito e
que foi criado com o objetivo de se responsabilizar materialmente pelos atos
do monarca que lesassem os cidadãos.

Passagem do estado moderno para o estado liberal

 Durante todo o período que antecede o estado de direito, com o


incremento do capitalismo, desenvolveu-se uma nova classe social, a
burguesia, que se revela o setor mais dinâmico da sociedade. A
disparidade entre o seu crescente poder económico e a falta de poder
político vai levar às revoluções liberais e ao aparecimento dos ideais
liberalistas. O constrangimento individual, a falta de previsibilidade e a
insegurança decorrentes da atividade discricionária e ilimitada do
Príncipe, empenhado na construção de uma “nação culta e polida”,
provocaram a reação da burguesia ascendente contra o estado de
polícia.
 Assiste-se ao nascimento de uma nova conceção de estado, dos
seus fins, das suas relações com os cidadãos. Surge a ideia de um
estado organizado e limitado juridicamente com vista à proteção e
garantia de uma esfera de autonomia, liberdade e segurança dos
cidadãos, que não se encontra na disposição dos detentores do
poder. É a ideia de um estado de direito.
 A necessidade de limitar o poder político, de racionalizar o seu
exercício, de controlar a atividade da administração, de proteger a
liberdade dos cidadãos e o livre desenvolvimento da vida económica,
ideias que se desenvolvem na luta contra o estado absoluto.

Divergências quanto ao estado de polícia:


 Em vez de soberania do monarca, a soberania nacional e a lei como
expressão da vontade geral;
 Em vez de exercício do poder por um só ou seus delegados, o
exercício por muitos, eleitos pela coletividade;
 Em vez de razão de estado, o estado como executor de normas
jurídicas;
 Em vez de súbditos, cidadãos e a atribuição de direitos consagrados
na lei a todos os homens, apenas por o serem.

Surge a ideia de um estado limitado juridicamente com vista à proteção e


garantia da autonomia, liberdade e segurança dos cidadãos, ou seja, a ideia
de estado de direito.

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Estado de direito liberal: início da constituição, documento jurídico que
pretende proteger uma limitação que impõe limite ao exercício do poder
político, só haverá estado de direito, quando o estado é limitado e
organizado juridicamente com vista à garantia dos direitos fundamentais
que são considerados indisponíveis perante detetores do poder e o próprio
estado. Foi um conceito de luta política, contra as arbitrariedades e
insegurança resultantes da atividade limitada do Príncipe. Este estado diz-
se liberal e burguês porque assenta na ideologia do liberalismo político e
económico e nos interesses e valores da sociedade burguesa. Uma época
marcada pela ascensão social e política da burguesia e pela defesa da
iniciativa privada e segurança da propriedade. O projeto liberal assenta na
ideia de uma necessária separação entre estado e economia, segundo a
qual o estado se deve limitar a garantir a segurança e a propriedade dos
cidadãos, deixando a vida económica entregue a uma dinâmica de
autorregulação de mercado. O bem-estar coletivo resultará naturalmente do
livre encontro, da livre concorrência de produtores e consumidores dirigidos
por uma mão invisível através da procura e da oferta de mercadorias, sem
qualquer intervenção do estado na vida económica. O estado tem como
única tarefa garantir a paz social que permita o desenvolvimento da
sociedade civil de acordo com as suas próprias regras naturais. Pretende-se
uma separação entre estado e sociedade, a política para os políticos, o
social para os cidadãos. O único fim deste estado abstencionista é a
garantia e proteção dos direitos e liberdades fundamentais, e tal é o único
fim da limitação jurídica do estado. É para assegurar que o estado não
exceda os seus fins e invada ilegitimamente as esferas da vida privada que
se torna necessário racionalizá-lo, isto é, organizá-lo e limitá-lo
juridicamente. Todos os restantes elementos como império da lei e justiça
administrativa, são de carácter instrumental, existem em função do objetivo
último, destinam-se a realizá-lo.

Conceção liberal dos direitos fundamentais: na base do relevo que os


direitos fundamentais assumem na conceção liberal de estado está a ideia
da sua natureza pré e supra-estadual, cuja teorização global remonta a
Locke e à sua teoria do contrato social. É neste carácter de anterioridade e
superioridade dos direitos individuais relativamente ao estado que se
encontra a sua limitação, já que, quando se obriga a respeitar e garantir os
direitos, reconhece-os como limites que lhe são impostos e de que ele não
pode dispor. Os direitos fundamentais são concebidos como direitos
originários, independentemente do estatuto social da pessoa ou do seu
reconhecimento pelo estado. São direitos pré e supra-estaduais porque
estão acima do estado, não é ele que os permite, são anteriores e para
além dele, nenhum órgão do estado os pode violar. Os direitos

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fundamentais são consagrados na constituição, este é o documento
fundamental ao qual todos os atos estaduais se têm de submeter. Estes
direitos, são considerados direitos do cidadão contra o estado, como direitos
de defesa do cidadão perante o estado, são essencialmente negativos,
referem-se a uma área em que o estado se deve abster de intervir, são
liberdades negativas, a preservar de invasões do estado, só se realizam
quando o estado não intervém.
Só é verdadeiramente considerado como cidadão aquele que for
proprietário, só tinha direito a voto quem tivesse um determinado grau de
riqueza, voto censitário.

Divisão de poderes: esta só se justifica em função da necessidade de


garantir a liberdade individual contra os abusos do poder. Foi seguida a
doutrina de Montesquieu com base na obra “De l’Esprit des lois”. Esta
procurou assegurar uma forma de estado equilibrada, mas a sua teoria foi
mal interpretada e a aplicação prática traduziu-se numa separação rígida
inicial, uma forma mecanicista, porque temos um poder, um órgão de
soberania, um poder, um órgão de soberania.... e assim em diante.

Império da lei: a lei devia prevalecer sobre todos os atos, como o ato
necessariamente justo. Sendo a lei fruto da vontade de todos, não pode
contra os seus direitos. A vontade de todos, garantia a igualdade, a justiça
estava garantida, pois, sendo cada um legislador, ninguém seria injusto
para si próprio.
A lei era legitimada pela aprovação do órgão que representava a vontade
geral, o parlamento, onde todos estavam representados, só assim se
garantia a liberdade e a justiça. A lei garantia a igualdade, a segurança e a
previsibilidade, pois, sendo geral e abstrata excluiria, por definição, a
discriminação, o privilégio, o arbítrio individual. A lei era igual para todos e
todos iguais perante ela. Era automaticamente justa e só era preciso
garantir o seu cumprimento e aplicação.

Princípio da legalidade da administração: o princípio da legalidade da


administração, partindo do império da lei, impunha à função executiva uma
estrita subordinação à lei. Garantindo o respeito da lei por parte da
administração, assegurada legalidade de todos os seus atos, estariam
automaticamente tutelados os direitos dos cidadãos. Na medida em que os
direitos fundamentais se sustentavam na lei emanada pelo parlamento, a
liberdade e propriedade só estariam juridicamente protegidas quando
também a atividade administrativa se encontrasse sob reserva da lei. Este
princípio atua em duas dimensões, a preferência de lei e a reserva de lei.

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Preferência de lei ou prevalência da lei: a administração podia atuar
livremente desde que não violasse a lei. Não pode ir contra a lei, mas pode
efetuar livremente nos casos não previstos e quando a atividade não era
suscetível de colidir com os direitos fundamentais. A lei possuía preferência
face aos restantes atos de estado. Dentro dos limites da lei, a administração
movia-se numa esfera considerada juridicamente irrelevante e, logo, atuava
livremente não necessitando de fundamento legal.

Reserva de lei: a administração só pode atuar se a lei o estabelecer, só


com base na lei, no caso de omissões desta não pode atuar. Além de não
poder violar a lei, só poderia praticar qualquer ato desde que para ele
tivesse um fundamento específico consagrado na lei. O princípio da reserva
da lei evoluiu, para o princípio da reserva total da lei, segundo o qual toda a
atividade administrativa, independentemente da natureza que reveste ou da
área em que se verificasse, pressupõe a existência de fundamento legal.

Passagem do estado de direito liberal para o estado social e


democrático de direito: a ideologia liberal entra em declínio no seculo XX
com a crise económica que leva à 1 guerra mundial. Já a partir de meados
do seculo XIX, mas sobretudo no seu último quartel, começa a verificar-se
uma certa crise nos pressupostos em que assentava o modelo do estado
liberal: liberdade de concorrência, liberdade de empresa e de emprego, lei
da livre oferta e procura, livre fixação dos preços.... segundo a teoria de
Adam Smith, as leis do mercado por si só conduziriam a vida económica ao
aproveitamento máximo da riqueza. Mas verificou-se que não se criara uma
situação de equilíbrio. Conduziu a uma sobreprodução dos bens mais
procurados e uma subprodução dos restantes, o que gerava uma baixa de
preços dos primeiros. Consequentemente o desinteresse da burguesia em
produzi-los, o desemprego e o descalabro económico. Entretanto, o
desenvolvimento industrial e tecnológico começou a gerar uma certa
substituição do homem pela máquina, ao mesmo tempo que se verifica uma
movimentação demográfica dos campos para a cidade sem que existam
estruturas adequadas a tal situação, provocando uma crise e descalabro
social. Aparecem movimentos operários, novas ideologias, começando a
reclamar-se a intervenção do estado na organização das atividades
coletivas. A sociedade por si só já não é capaz de superar o estado de
crise. A sociedade que, cada vez mais convencida da ineficácia do sistema
económico liberal, reclama do estado uma intervenção profunda na orgânica
e funcionamento de si própria.

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Estado social democrático de direito: a população estava insatisfeita com
a ausência do estado nas suas vias, as pessoas estavam desprotegidas e
os problemas continuavam a surgir. Devido a estes problemas começou a
haver uma exigência da parte da população, para que o estado,
continuando a respeitar os seus direitos, garantisse a justiça social, ou seja,
corrigir desigualdades substantivas, promover igualdade de oportunidades,
o estado consegue fazê-lo redistribuindo o rendimento (cota mais e depois
redistribui mais), visto que as sociedades sozinhas não conseguiam fazê-lo.
Quanto mais o estado dá igualdades, mais tem de interferir com as
liberdades individuais (menos liberdade). Segundo os defensores deste
estado, não adianta termos liberdade formal, igualdade formal, quando na
verdade se não tivermos necessidades mínimas, não vamos utilizar essas
liberdades.

1) estadualização da sociedade: a sociedade requer a intervenção global


do estado. O estado intervém em todos os domínios, mas sempre
subordinado às normas jurídicas. O estado define metas a atingir e começa
a orientar, dirigir e controlar a atividade económica com vista a alcançar
essas metas. Empenha-se na prossecução de uma justiça social, isto é, da
igualdade material de oportunidades, que é elevada a fim essencial do
estado. O estado deve garantir os serviços e sistemas essenciais ao
desenvolvimento das relações sociais, com vista a assegurar uma vida
digna e protegida dos cidadãos.

2) socialização do estado: a sociedade preocupa-se em atuar sobre o


estado. Os cidadãos organizam-se por interesses e aumentam a sua
influência e controlo sobre o aparelho do estado. Através de grupos de
pressão, associações, partidos políticos e toda a democratização da vida
política, exige coletivamente a intervenção estadual. Pode dizer-se que este
duplo processo permite caracterizar o estado social. O ideal do estado de
direito prevalece, mas muda, a conceção dos direitos fundamentais, as
formas de limitação jurídica do estado e o pressuposto da separação de
poderes. Preserva-se a garantia dos direitos fundamentais como fim
essencial do estado, exigindo-se a sua estruturação e organização da sua
atividade em função daquele objetivo.

Conceção do estado social e democrático de direito: surgem os direitos


sociais em sentido amplo, positivos, cuja realização depende
fundamentalmente da intervenção do estado, e que abrangem os direitos
económicos (direito ao trabalho), os direitos sociais (direito à saúde) e os
direitos culturais (direito ao ensino). Estes dependem de uma intervenção
positiva tendente a conferir-lhes realidade existencial. Estes fundamentam-

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se no estado e este deve assegurá-los, é o processo de fundamentalização
dos direitos sociais, que se traduz na sua consagração constitucional.
Apesar de se manterem os direitos, liberdades e garantias tradicionais,
verifica-se, contudo, a reinterpretação dos direitos, liberdades e garantias
tradicionais à luz do estado social. São reavaliados de acordo com o novo
princípio de socialidade. O estado preocupa-se em garantir a possibilidade
do seu exercício efetivo por todos os homens, prevenindo abusos,
regulamentando os eventuais conflitos de direitos, assegurando condições
de igualdade material no seu exercício. O direito de propriedade é
desvalorizado, este perde o caracter de medida suprema de todos os outros
direitos, é regulado para impedir abusos na sua aplicação e para permitir a
todos o acesso à propriedade. Como consequência de desvalorização do
direito de propriedade verifica-se a generalização de atribuição dos direitos
políticos, particularmente o direito do voto, o voto é universalizado, todos os
cidadãos têm o direito de eleger e de ser eleito (sufrágio universal). Desde a
livre eleição de uma assembleia representativa de todos os cidadãos e a
legitimação democrática de todos os órgãos do poder, ao reconhecimento
do pluralismo partidário, direito de oposição, princípio da alternância
democrática, com eleições periódicas, bem como dos direitos de
participação política sem quaisquer discriminações de sexo, raça, idade,
convicção ideológica ou religiosa e condição económica ou cultural. Os
direitos fundamentais são agora não só como direitos de defesa contra o
estado, contra os abusos e violações provenientes da autoridade publica,
mas também como valores que se impõem genericamente a toda a
sociedade (terceiros), dirigidos também contra os poderes dos particulares
que os possam ofender, como direito à greve.

Divisão/separação de poderes: é superado o caracter mecanicista, ou


seja, perde-se a repartição mecanicista de funções, legislativa, executiva e
judicial, pelo parlamento, governo e tribunais, para ser definitivamente
encarada como um processo visando uma divisão racionalizada e integrada
de funções com o fim de evitar a concentração (há uma interdependência
entre poderes), o excesso do exercício do poder. Consagra-se pela primeira
vez a justiça constitucional, isto é, fiscalização judicial da constitucionalidade
das leis que são atribuídas, em regra, a tribunais comuns ou especialmente
criados para o efeito que apreciam se os atos legislativos estão conformes
como a constituição (preventiva, a norma é vetada antes de ser publicada e
sucessiva é quando a lei já está em vigor). O princípio da legalidade da
administração vê o seu significado expandido, a administração só pode
atuar com base na lei, só quando a lei o permitir, tem de a respeitar quer
quanto aos meios e aos fins. Mesmo quando o legislador lhe conferir um

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poder discricionário, ela deve satisfazer o interesse publico, sob pena de
nulidade dos seus atos por desvio de poder.

Estado autocráticos séc. XX: com a crise dos pressupostos do estado


liberal, nos finais do séc. XIX, quando a crise política, económica e social
que se segue à 1ª guerra mundial revela o seu esgotamento, e apar do
estado social e democrático de direito, seu herdeiro direto, surgem ainda
outros modelos alternativos que rejeitam simultaneamente o legado liberal.
 Estado autocrático de matriz revolucionária anticapitalista;
 Estado autocrático de matriz conservadora.

Estes têm em comum, uma atitude desvalorizada da ideia de constituição


enquanto limite do poder. A constituição apresenta-se como elemento
formal. É um mero instrumento de legitimação dos detentores do poder.
Perde o conteúdo material que lhe conferia o liberalismo (divisão de
poderes e diretos fundamentais) e o caracter de limitação jurídica do estado
e dos detentores do poder.

Estado autocrático de matriz revolucionária anticapitalista - estado


soviético: É a adaptação leninista do marxismo às condições da sociedade
russa saída da revolução russa de outubro de 1917. O problema é a luta de
classes, porque ela cria opressores e oprimidos, há que eliminar este
problema. A causa da luta de classes, é a existência da mesma, e o que
forma as classes é a propriedade privada, visto que é esta que distingue as
classes. Abolindo a propriedade privada é a única forma de eliminar as
classes. Através da força da ditadura, socialismo (os meios de produção
pertencem a toda a sociedade), tudo é de todos (comunismo). Lenine criou
entre a propriedade privada e o socialismo uma estatização dos meios de
produção, em vez de passarem para a comunidade passam primeiro para o
estado (Como forma de ensinar a sociedade a gerir), a igualdade é o valor
absoluto deste regime, não podia existir nenhum tipo de hierarquia, o estado
deixaria de existir. Segundo Marx o estado ia naturalmente desaparecer,
porém segundo um filosofo francês, o estado só desaparece se nós
fizermos algo para tal acontecer. O estado cresce desmesuradamente,
intervém em tudo e ainda exerce o seu poder de forma ditatorial. Deste tipo
de aplicação surgem eventos como a supressão dos mecanismos
democráticos, o sufrágio restrito, apenas quem não tem propriedade é que
não vota e posteriormente a participação na vida da sociedade passa a ser
um dever.

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Estado autocrático de matriz conservadora (este estado surge
marcadamente conservador, antiliberal e antissoviético)
 Criticava o individualismo egoísmo da sociedade burguesa;
 Rejeitava o parlamentarismo e o representativismo democrático;
 Combatia a perspetiva da luta de classes e o projeto revolucionário
marxista;
 Fazia culto da autoridade do poder como fim em si;
 Depositava as esperanças de regeneração no papel predestinado das
elites ou no génio oportuno de um indivíduo.

Entre as duas Guerras, sucederam-se na Europa várias experiências


políticas deste género com um sentido comum e que encontra as suas
expressões mais acabadas nas experiências totalitárias do:

 Estado Fascista Italiano;


 Estado Nacional-Socialista Alemão.

É possível sistematizar um corpo comum:


 Autoridade plena e ilimitada do Estado totalitário;
 Não reconhecimento aos indivíduos de direitos e liberdades à
margem ou oponíveis ao Estado, com violação das liberdades
políticas tradicionais;
 Identificação da comunidade nacional com o Estado e não
reconhecimento de quaisquer fins ou atividades particulares a que o
Estado seja alheio;
 Conformação estadual das relações económicas e laborais;
 carácter dogmático do Estado, expresso na rejeição da possibilidade
de existência de uma oposição legítima (política ou doutrinária);
 Centralização do exercício do poder numa única pessoa ou num
grupo restrito (não legitimados democraticamente);
 Culto do líder (ideológico ou chefe do regime);
 Regime de inspiração filosófica, é incoerente;
 Culto das elites (minorias esclarecidas, camada dirigente da
sociedade);
 Publicização do partido único e eliminação dos partidos de oposição. 

Fascismo italiano

O fascismo é uma doutrina que assenta no conceito de vida do homem,


encarado não apenas como indivíduo isolado, mas como realidade que,
inserida em grupos sociais (família, nação, pátria), se realiza material e
ritualmente. Para tal a sua vida deve ser séria, austera e religiosa. É a

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recuperação da ideia de Estado como fim em si mesmo, como entidade
transcendente cujo engrandecimento era objetivo essencial do Movimento
Fascista. O objetivo essencial era fortalecer, engrandecer o Estado. “Tudo
no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado".

Relevância absoluta do Estado com a consequente a desvalorização ou


eliminação do elemento essencial do Estado de Direito, resulta uma
necessária desvalorização dos direitos dos cidadãos.

Nação é, no fascismo, um organismo essencialmente espiritual, de carácter


mitológico e divino, metafísico, de carácter transcendente. A Nação italiana
é um organismo dotado de uma existência, fins e meios de ação superiores,
em poder e duração, aos dos indivíduos que a compõem.

Considerando o Estado como fim em si mesmo, o fascismo reduz o


indivíduo ao papel de instrumento dos fins sociais. Os interesses do
indivíduo só devem ser protegidos quando e enquanto coincidem com os do
Estado.

É um Estado Corporativista, rejeita o individualismo, os indivíduos não são


concebidos individualmente, mas como parte integrante de uma corporação

As corporações são organismos públicos, integrando as várias associações


de cada sector de atividade às quais o Estado atribui certas funções
públicas e através das quais o Estado procede à conformação e
regulamentação das relações económicas, laborais e culturais.

No Estado italiano mantém-se o princípio da legalidade convertido em meio


para a realização dos fins do Estado.

Acaba suprimir as instituições liberais e democráticas anteriores e implanta


progressivamente um novo sistema ditatorial de onde se destacam:
 Recuperação da ideia de Estado como fim em si mesmo;
 A existência de um partido único fortemente organizado e
enquadrado numa estrutura de tipo militar (fascios de combate),
subordinando a si o aparelho de Estado e as organizações sociais;
 A centralização do exercício do poder no Executivo e no seu chefe;
 A substituição da Câmara dos deputados por uma Câmara dos fasci e
das corporações, formada por membros do partido e das
corporações, não eleitos, mas designados pelas organizações de que
faziam parte.

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O tipo histórico de estado presente na atual constituição é o estado social e
democrático de direito, originado na fase constitucional. Esta afirmação,
pode ser justificada através de inúmeras características que formam esse
estado e que estão presentes na constituição atual. Podemos começar por
justificar que o estado português é um estado de direito democrático,
através do art.2 que assim o afirma, e este baseia-se em valores abordados
no estado social e democrático de direito, como a soberania popular, ou
seja, o poder pertence ao povo, também referido nos art.108 e art.3. Outro
valor ainda referido é a separação e interdependência de poderes (art.110
nº1 e art.111), visto que os órgãos de soberania passam a depender e a
intervir uns com os outros, por exemplo o presidente da república (art.133,
art.134, art.135) tem o poder de demitir o governo (art.133 g) e dissolver a
assembleia da república (art.133 e), o governo tem de autorizar alguns dos
atos do presidente da república (140) e criar decretos de lei, ou seja,
exercer atividade legislativa (art.198). Tanto o governo como o presidente
da república elegem dez juízes do tribunal constitucional, exercendo assim
sobre o poder judicial. Para terminar, a assembleia da república (art.161,
art.162 e art.163) tem o poder de demitir o governo (art.163 e) e os tribunais
atuam sobre o poder legislativo (art.277), o que resulta então numa
interdependência entre órgãos de soberania. Deste valor surge a justiça
constitucional (art.º 3, nº3) e o princípio da legalidade da administração vê o
seu significado expandido, conforme os art.266 nº 1 e 2 e art.268 nº4. O
estado democrático de direito, representa também valores como os direitos
e liberdades fundamentais, que são agora não só reconhecidos como forma
de proteção do cidadão perante o estado, como também contra terceiros
(art.52, 57).
Já a nível do estado social (art.63 nº2, Art.63, nº3), temos como valores
evidentes deste, a existência de justiça social (art.81), a reavaliação dos
direitos e liberdades fundamentais, não só negativos, mas também
positivos, ou seja, direito social, cultural e económico (art.58, art.79 e 9
alínea d), que apenas se realizam caso haja intervenção do estado, ou seja,
dá-se devido à estadualização do estado, que posteriormente origina a
socialização do estado (Art.48). Decorrente destes acontecimentos surgem
valores como a participação do estado na vida económica (art.80 e 107, 90),
o sufrágio universal, ou seja, todos os cidadãos podem eleger e ser eleitos
(art.49 e 113 nº1), participação na vida pública (art.48) e o pluralismo
partidário, ou seja, o direito da oposição do cidadão (art.114). Finalmente
como forma de limitação de poder, são utilizados valores como o princípio
da renovação (Art.118), a delimitação temporal do poder (art.º 113, nº1), a
existência de autarquias locais (art.235 e 237) e a responsabilidade política
civil e criminal de quem tem cargos políticos (Art.117).

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