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Resumos de ciência política

1ºANO/1ºSEMESTRE

“[d]uas questões embaraçam a Ciência Política desde os seus incertos


primórdios: a de saber se é mesmo uma ciência e a de definir o seu objeto. A
resolução definitiva da primeira questão parecia mesmo supor uma
possibilidade de sistemático comportamento racional dos agentes políticos
que, no entanto, a história não confirma, é inviável pela própria natureza das
coisas e, se forçada, seria perigosa do ponto de vista da liberdade e da
condição humana”.

O que é ciência política?

É uma das ciências sociais que se ocupa especificamente de uma modalidade de factos
sociais- os factos políticos, que são aqueles que se relacionam, direta ou
indiretamente , com o acesso, a titularidade (ex: 1ºministro), o exercício (ex:legislar)
e o controlo do poder político (ex:tribunal constitucional). Estuda o poder do homem
sobre o homem e o poder do homem sobre a natureza. Este poder político que é
exercício sobre alguém goza de “coercibilidade material”- Prof. Marcelo Rebelo de
Sousa. Aponta, portanto, para a suscetibilidade de impor algo a alguém mesmo que não
seja essa a sua vontade. Há a possibilidade de sancionar alguém por não obedecer a esse
poder político.

Coercibilidade: suscetibilidade de impor uma determinada ação, contra a vontade


de alguém, aquando do incumprimento do poder/regras. O Estado tem o poder de o
fazer se não for respeitado voluntariamente através, por exemplo, dos tribunais.

Coercibilidade material VS coação material:


“coercibilidade material quer dizer suscetibilidade do uso da força física ou da
pressão material. Distingue-se da coação material que se define pela plena efetivação
de uma ou de outra. Ou seja, o conceito de coercibilidade revela-se numa ideia
de potencialidade, ao passo que o conceito de coação se exprime em termos de
atualização”.

Objeto da ciência política

 Tem como objeto de estudo os factos políticos, estuda o que realmente é, “o ser”, ao contrário do
direito constitucional que estuda o “dever ser”, segundo as normas instituídas pelo Estado.

 Os comportamentos políticos não são previsíveis, já que os comportamentos individuais também


não o são.

 No seu sentido mais amplo, diz respeito a todas as ciências que estudam factos políticos.

 Em sentido restrito, a ciência política é autónoma, tem um objeto de estudo próprio, mas está
aberta ao diálogo com outras ciências, como sociologia – diálogo interdisciplinar.
Aproximação ao objeto da Ciência Política

Quando falamos de político pensamos em fenómenos políticos, pessoas que têm cargos
políticos. Por sua vez, quando falamos em política como objeto da ciência política
falamos da arte de governar que é de todos, a comunidade.

Política

 Exercício da vontade do povo nas instituições, aprovação de normas, com vista


à organização da sociedade (os bens são escassos e as necessidades são
ilimitadas, logo teremos de fazer escolhas. Desta forma, é necessária uma
forma de tomar as decisões, diminuindo os conflitos.

Comunidades políticas e estados

 Sociedades de fins gerais que podem ter


conceções diferentes, fins diferentes, mas
criando uma estrutura que regule a vida
social.
 Têm de ser geridas para bem dos fins
gerais e não de acordo com interesses
particulares.

Sociedades particulares (família, escola…): onde um conjunto de indivíduos se junta


por maior afinidade ou devido a interesses comuns.

O que é poder?
Imposição de algo a outra pessoa com o objetivo de organizar a comunidade em sentido
mais amplo. É a possibilidade de impor algo a alguém, uma vontade, uma conduta,
a outrem, se necessário contra a sua vontade. Existe quem rege, ou seja, quem detém o
poder e quem obedece.Existem vários tipos de poder mas a ciência política ocupa-se do
poder político.
Como se acede ao poder político? Através de eleições.
Titularidade: PM/PW…
Exercício: fazer leis.
Quem controla o poder político? Constituição, Tribunal Constitucional,
população/opinião pública, media, organizações internacionais…

Poder é diferente de influência.

O poder implica impor algo a alguém. A influência é a capacidade de orientar um


comportamento. Acaba por ser, também, diferente de autoridade, uma vez que o poder
é mais facilmente obedecido quando se acredita no que é imposto.

Porque é que as pessoas obedecem ao poder? Crenças e ideias que as fazem acreditar
que é o mais certo.

BÁRTOLO

- pensador da idade média;


- distinguia a legitimidade de exercício da legitimidade de título.

Legitimidade de exercício: resulta do modo como é exercido o poder político pelos


governantes. Uma pessoa pode ser legitima pelo seu título (cargo que ocupa), porque
ascendeu de forma legitima pela sociedade, mas governar de forma errada e contra a
constituição, por exemplo.

Legitimidade de título: designação dos titulares do poder político. Exemplo: pessoa


que adquiriu aquele título de forma digna, nomeadamente, através de eleições e não pela
violência.

MAX WEBER

A legitimidade está associada às crenças/ideias que tornam o poder legitimo.

 Tradicional: de acordo com as tradições;


 Carismática: conjunto de qualidade pessoas que cativam as pessoas a escolher
aquele político.
 Legal/racional: comunidades que têm fins e aquele que for competente para
atingir esses fins é o escolhido.

Legitimidade vs Legalidade

Legitimidade: ideia da comunidade acerca daquilo que está certo/valores aceites pela
sociedade se estão a ser cumpridos ou não

Legalidade: se cumpre ou não a lei.

Assim, é possível que uma ação política seja legal e ilegítima ao mesmo tempo:
legal, pois estaria enquadrada nas regras em vigor no âmbito de uma determinada ordem
jurídica; e ilegítima caso as regras em vigor que sustentam a ação política não
traduzissem a vontade da comunidade e transcendessem a vontade dos governantes

Legitimação: construção de algo de forma legítima, relacionando-se com


o procedimento para atingir um resultado.
• O procedimento é importante para garantir um resultado positivo, não podendo ser
indiferente, pois pode afetar a legitimidade.

Relação entre o poder político , o direito e o estado

 O Estado é a comunidade política por excelência.


 É uma realidade histórica, não existiu sempre e pode deixar de existir.
 Pode haver poder político acima e abaixo do Estado e podemos encontrar
também poder político noutras entidades sem ser o Estado.

Elementos fundamentais de um estado:

 Povo (comunidade de pessoas que se estabelece num determinado território fixo


daí as fronteiras serem bastante importantes).
 Território.
 Poder político.

Nota: Maquiavel foi o primeiro autor a usar a palavra “Estado” em sentido


moderno.

Todos os Estados, todas as senhorias que tiveram e têm autoridade sobre os


homens, foram, e são, ou repúblicas ou principados. E, destes, alguns são
hereditários, nos quais a estirpe do senhor exerceu durante muito tempo o
domínio, e os outros são novos (...) (MAQUIAVEL, O Príncipe, Cap.
I, Europa-América, 2000, p.13).

Características gerais do Estado

 Complexidade: de organização e de atuação, e por isso estamos


perante comunidades políticas complexas, com diferentes órgãos que
desempenham diferentes funções; dotado de uma estrutura ampla, destinada ao
cumprimento de fins gerais

 Autonomia: identidade própria, com aparelho próprio de poder e atua


prosseguindo fins próprios; a estrutura do Estado e a esfera social são
independentes

 Coercibilidade: suscetibilidade de aplicação das normas pela força

 Institucionalização: algo que permanece no meio social

 Sedentariedade/territoriedade: tem um espaço físico correspondente ao


território.

Estado de direito: limitado ao direito (respeito dos direitos fundamentais, regulado por
normas que limitam o Estado.

Métodos da ciência política:

 Estudo do comportamento dos agentes políticos - perspectivas de tendências


individuais;
 Estudo da razão aplicada às várias decisões políticas (pessoas têm todas formas
de pensar diferentes) – perspectiva de tendências racionais;
 Olhar para o coletivo para a forma como as pessoas de organizam- perspetiva
funcionalista.
 Como se organizam com os impulsos – perspetiva sistémica.

 Parte e baseia-se através de factos – comparação


 Métodos qualitativos: recolher dados por exemplo: realização de entrevistas
para perceber opiniões políticas.
 Métodos quantitativos: abstenções por exemplo
 Método indutivista: do concreto para a generalização
 Método dedutivista: hipótese para o concreto

História das ideias políticas – base das ideias políticas

A História das ideias políticas está dividida em períodos:

 Antiguidade Clássica
 Idade Média
 Pensamento Moderno

Foi na Grécia que surgiu o pensamento político e depois Roma desenvolveu o direito.

A grande reflexão política é grega. Foi na Grécia onde surgiu a democracia. Defendia-se
a igualdade entre cidadãos. Todos os restantes habitantes do território (pólis),
nomeadamente, as mulheres, os metecos e os escravos. Atenas era o paradigma da
Grécia.

Antiguidade

Péricles e a defesa da democracia ateniense (495 a 430 a.C)

- estadista, ateniense, governante


-conduziu Atenas
- faz discurso e enaltece as qualidade do estado que governa
- a democracia ateniense na sua perspetiva:
 Leis iguais para todos;
 Atendem à maioria;
 Apela á participação política;
 Discussão;
 Liberdade

Era, no entanto, uma democracia imperfeita. Uma democracia desigualitária:


escravatura, mulheres e metecos que não tinham direitos, governo de alguns
(oligarquia).
Atualmente, a nossa democracia é mais alargada e mais igualitária e faz distinção entre
público e o privado. Na antiguidade, a democracia não dava vez à divergência.
Platão e as primeiras ideias comunistas (429-347 a.C)

-Natural de Atenas mas tinha no seu pensamento desprezo por esta.


-adorava Esparta
- Escreveu uma obra denominada “ A República”

O modelo ideal de organização política e social da cidade assenta num paralelo entre a
alma individual e a cidade.

a. Idealismo
b. Coletivismo
c. Totalitarismo
d. Sofiocracia

Apresenta uma sociedade coletivista: a comunidade e o estado é o mais importante e o


mais justo.

Arte de conduzir rebanhos – alguém que governa e orienta com o consentimento das
pessoas.

Melhor forma de governo para si: sabedoria (governo de um filósofo que, por sua vez,
tem de ser considerado o mais sábio – sofiocracia.

Grande preocupação para si: justiça, equilíbrio e harmonia

- Defende uma república onde prevalece a razão, a inteligência e a sabedoria.

Na cidade vê três classes:


a.Magistrados – governantes (parte racional da alma, deve atuar segundo a razão e
governar a cidade);
b. Guardas – militares (parte irascível da alma, deve atuar segundo a coragem e deve
garantir a defesa e segurança da cidade);
c. Lavradores e artífices – trabalhadores (parte sensual da alma, deve atuar segundo o
desejo e assegurar o sustendo material da cidade).
i. Quer os guardas quer os lavradores e artífices serão as classes subordinadas aos
magistrados e devem obedecer às suas decisões: temperança

- A abolição da propriedade privada para se focarem na cidade

- Família era formada pelo estado

- O estado é o mais importante

- Mete o coletivo acima do individual


- Igualdade do homem e da mulher (Importância da educação e os interesses da
comunidade acima dos individuais, pelo que negava a necessidade de existência de
propriedade privada).

- A melhor forma de governo para si: sofiocracia


-Não acreditava nas vantagens do direito

5 formas de governo:

Cônsul (monarquia): governo de 1 iluminado pela sabedoria


Tirania: governo de 1 que é tirano – que é o pior para si
Oligarquia: governo de alguns
Plutocracia: governo dos ricos
Democracia: poder de todos

Acredita numa 6ªforma de governo: entre uma oligarquia e uma democracia.


Platão tem opiniões diferentes de Marx embora defenda também o coletivismo.
Muitos atores não estão de acordo com a sofiocracia por ser apenas um governo de um.

Aristóteles e a primeira defesa da sociedade pluralista (384 a 322 a.C)

- Nasceu na Macedónia
- Fundador do Lyceum (liceu)

-Aristóteles
é um realista/naturalista: constata que a sociedade tem origem natural, já que o
Homem é um animal político “feito para viver em sociedade” (“todas as Cidades são
uma espécie de associação”).

-Aluno de Platão, opõe-se ao pensamento do seu mestre, defendendo a efetiva diversidade


dos homens que compõe a espécie humana e a existência de família e propriedade
privada.

-Estado ética – as pessoas devem aperfeiçoar-se com a ajuda do estado

- As virtudes são muito importantes nomeadamente a justiça (realiza o princípio de


igualdade – tratar de forma igual o que é igual e tratar de forma diferente o que é
diferente
Animais políticos/seres sociais que se organizam em comunidade.

Defende sociedades pluralistas e critica a cidade ideal de Platão, defende a família e a


propriedade privada.

Critica o controlo da família e a propriedade coletiva.

Analisa as classes sociais e defende as classes médias de forma a garantir harmonia –


no meio é que está a virtude.

Apoia a prevalência da lei (“é através das leis que nós podemos tornar-nos bons”) –
princípio da legalidade – sobre as decisões dos homens e mostrou preocupação com a
melhoria do estado, sendo um perfeccionista orientado para a moral e a virtude do bom
cidadão – não confiar demasiado nos governantes, mas sim nas leis.
Na sua perspetiva, para haver justiça, é preciso existirem leis.

Formas de governo:

Defende um governo misto com a participação de várias classes no governo para manter
equilíbrio. Formulou uma teoria sobre formas de governo (tentou perceber se governavam de
forma arbitrária ou não), baseada em critérios quantitativos (quantos tem o poder ) e
qualitativos (como exercem o poder), agrupando-as em dois:

A. Formas puras: formas de governo nas quais se procura o bem comum


i. Monarquia (1 governante) ,
ii. Aristocracia (governo de alguns),
iii. “politeia” ou república (governo de todos);

B. Formas degeneradas/corruptas : formas de governo nas quais o princípio que


orienta a conduta dos governantes é a prossecução dos interesses da classe
dirigente (interesse próprio).
i. Tirania (1 governante) ,
ii. Oligarquia (governo de alguns)
iii. Democracia ou demagogia (governo de todos com foco nos mais pobres – apenas
numa parte).

Nem todos os estados estão organizados da mesma forma. Melhor governo para si:
Governo Misto.Combinação de várias tipologias: aristocracia, democracia… órgãos de
diferentes regimes.

As formas de governo não são estáticas. Uma monarquia pode facilmente mudar para
uma aristocracia e, posteriormente, para uma oligarquia. Defende um governo misto.

Em Aristóteles não ser verificam os direitos que se verificam atualmente. A escravatura


era aceite. Defendia a família e a propriedade privada.
Cícero 106- 43 A.C

- pensador romano muito influenciado pela cultura helénica.


-influenciado por Platão e Aristoteles, mas depois acabou por se afastar.
- defendia o estoicismo – razão universal que é a mesma em todos os lugares e que as
pessoas devem viver de acordo com . No princípio do mundo e na realidade está a
razão.

- tem uma concepção moral da política: um bom cidadão é aquele que participa na
política. Refere que o homem bom deve procurar a virtude e que esta só se possui
quando se aplica e a mais alta aplicação é o governo.

-concepção naturalista do poder: espontâneo que resulta das características das


pessoas (necessidade de viver bem, em paz e em comunidade)

- o poder político pode ser exercido de varias formas para si:

Monarquia (1)
Aristocracia (alguns)
Democracia (todos, poder popular)

a. Nenhuma destas formas era vantajosa: na monarquia deveria existir uma ideia por parte
do monarca de amor aos soberanos, porém há abuso do poder.

b. Aristocracia aplicava a ideia de sabedoria, portanto cabia aos mais ricos e aos interesses
destes.

c. A democracia está ligada à liberdade, mas havia mau ou dificuldade de uso


desta mesma forma de governo, devido à cegueira e abusos de poder da multidão.

d. Critica a tiragem à sorte, pois não é regime adequado.

Defende uma monarquia mas num regime misto que acabasse por juntar as várias
formas de exercer o poder.

a. Monarquia para afirmação do poder;


b. Aristocracia para lucidez e conhecimento;
c. Princípio popular para que haja liberdade e justiça para o povo
d. Poder distribuído pelos diferentes estratos sociais
Funções do cônsul: representava o povo,
sustentava a dignidade e honra do país,
executava as leis, respeitava os direitos de
- faz distribuir as funções públicas por ordens do Estado cada um e cumpria as obrigações confiadas
à sua lealdade.
a. O magistrado supremo (Cônsul)
b. Assembleia deliberativa (senado)
c. Órgãos que administrem a justiça (tribunais).

- ideia de governo misto, separação de poderes e diferentes funções para esses poderes.

- Viu em Roma uma inspiração: monarquia (cônsules), aristocracia (senado) e


democracia (comícios e tribunos) . Se estivessem todos unidos e em cooperação, a
governação da cidade teria muito mais sucesso.

- ideia de um justo natural: “ração universal” – igual para todos e em todo lado.
Categoria geral para todos. Ordem natural das coisas criada por Deus. Impõe direitos e
deveres q se n forem respeitados as leis naturais não são cumpridas.

-As leis eram importantes para si porque, na sua perspetiva, permitem orientar a
comunidade.

Pensamento político oriental:


Séc.V e VI a.C

-china e índia
- pensamento virado para a prática
-preservação de valores: igualdade, direito e dever

Tudo isto serve para percebermos como funcionam as relações entre governados e
governantes, ao longo do tempo.

Período Medieval (séc.V – séc.XV)

- autoridade é associada à ideia de serviço

-ideia de que os governantes têm o poder limitado

-pessoas existem na sua dignidade e o estado não pode ultrapassar a esfera individual

- concepção de que o poder vinha de deus (cristinianismo). A legitimidade do


governante era proveniente, nas suas ideias, de Deus. Desobedecer ao poder era
desobedecer a Deus.
- começa a surgir a ideia de separação da igreja do estado – dualismo que mais tarde
converte na laicização do Estado.
ST.AGOSTINHO (354-430 d.c)

-converteu-se ao cristianismo aos 33 anos. Padre e Bispo.


Obras importantes: Civitas Dei – Cidade de Deus.

Distingue:

 A cidade de deus, a cidade celeste que procura justiça


 A cidade terrena: comunidade que procura viver da satisfação/prazer

Uma é a cidade do bem e outra a cidade do mal e ambas estão em luta permanente e
disputam a posse do mundo. A vida presente é uma luta, só no futuro poderá
haver paz.

Um otimista acredita aperfeiçoamento, no entanto, ele é um pessimista. Na sua


perspetiva, as pessoas nascem marcadas pelo pecado e a maior parte não se sabe
redimir.

Se as pessoas são assim tão más precisa-se de um governo que as faça melhorar. Tende-
se a implementar um estado forte.

O direito é importante porque assegura que o estado pode impor o poder pela força.

Função do direito: vivência em comunidade e que as pessoas cumpram as leis.

Origem do poder: Deus.

Os governados devem obedecer aos governantes. A menos que os governantes não


obedeçam a deus e não sigam os seus ensinamentos é que poderá colocar-se em causa a
sua governação. Governo serve para manter a paz. Mandar é servir. Poder como função.

Teoria quanto a ST. AGOSTINHO:


Alguns críticos apontam face a sua obra:

- o poder espiritual era mais importante que a cidade terrena, defendendo que a igreja é
mais importante que o estado

- agostianismo político, supremacia da teoria da igreja sobre o estado

(ST. Agostinho não defendia na sua perspetiva isso mas era assim que o interpretavam)

-critica-se a sua posição pessimista


- critica-se a defesa de um estado forte e autoritário

SÃO TOMÁS DE AQUINO (1125-1224 d.c)

- influenciado em Aristoteles e no cristianismo


-visão otimista sobre a natureza humana, acha que o homem não tem de ser sempre
mau. As pessoas podem melhorar e ter vidas boas

- Desta forma, o estado não tem de ser repressivo

- naturalista, homem foi feito para viver em comunidade, faz parte da sua natureza

- o estado surge para realizar as vontades das pessoas

- o estado existe porque as pessoas consentem que ele existe

- finalidade do estado: bem comum e não deve absorver as pessoas. Existe pessoas e
existe o estado. Afirma-se se a ideia da existência própria da pessoa e que o estado não
pode fazer o que quer das pessoas.

- o poder vem de Deus mas não governa diretamente. Deus governa através de causas
segundas, leis do universo.

-a lei é muito importante. Finalidade: conseguir o bem. Lei: normas que organizam a
vida em comunidade e pretendem atingir o bem comum e é feito através de quem
governa.

4 leis para si:

- lei eterna: lei geral do universo estabelecidas por deus para todos os seres por ele
criados, o plano de deus para o universo

-lei natural: proveniente da concretização da lei eterna, possibilidade de todos os seres


dotados de razão participarem dessa lei eterna. Fazer o bem evitar o mal.

-lei humana: leis do dia a dia . Leis humanas devem respeitar a lei natural.

- lei divina: normas que Deus estabeleceu.

-Poder vem de Deus para o povo e o povo escolhe os governantes – soberania popular
——fórmula atribuído a st.tomas de Aquino

- Para st tomas de Aquino, a tirania é a pior das formas de governo porque assenta nos
interesses pessoais do soberano. Admite que se o tirano não for tão tirano que possa ser
considerado aceitável.

-Admite a contrariação ao poder caso os valores do povo não sejam cumpridos. Mas em
geral tem de ser obedecido.

- Separação entre poder estadual e temporal

Idade Moderna
Reforço do poder dos Reis - fortalecimento do poder real
Aparecimento das monarquias absolutas na Europa

Maquiavel
- 1469- 1527
-nasceu em Florença
- primeiro a autor a usar o termo do tempo “moderno”
-interessa analisar a política tal como ela é, quer ver como é que a política funciona.
- deu contributos para a ciência dos factos políticos

- vai buscar informações à história

-obra: o príncipe, dar conselhos ao príncipe Lourenço de Médicis. Como conservar o


poder? Se sendo amado não consegue manter o poder, que seja temido . Os fins
justificam os meios.

- tudo o que for necessário para manter o poder é aceitável

- faz uma analise da república e tira algumas conclusões: o que deve ser feito para ter
uma boa república: transparência, envolvimento/participação na vida política,
cumprimento dos princípios e condutas da comunidade

- simplifica as tipologias das formas políticas. O seu critério é a sua eficiência.


 Monarquia (governo de uma vontade singular)
 Republica (vários-aristocracia ou se forem muitos – democracia)

-adora a república mas diz que há casos onde a república não funciona porque há a
necessidade, por vezes, de existir apenas um governo de um só – monarquia.

Francisco Suarez
1548-1617

-jesuíta espanhol, professor na faculdade de Coimbra

- o homem é uma animal social e tem de existir um governo que governe a comunidade

- afasta se das doutrinas do direito dos reis. Nenhum governante teve o poder por causa
de deus, o poder é uma faculdade humana. O PODER TEM ORIGEM POPULAR.

Entende que existem dois contratos (ideias contratualistas):

Pacto de união: unem-se entre si para criar o estado para sobreviverem e cooperarem..
Deus concede-lhe o poder de ser organizarem numa comunidade e, posteriormente, por
ato da sua vontade, consentem em unir-se e formar uma comunidade política.
Pacto de sujeição: depois da formação da comunidade política, ocorre um segundo
momento em que o povo entrega o poder a um soberano e fica sujeito à vontade do
soberano. Aliena todo o poder nesse governante e , por isso, tem de lhe obedecer. Em
caso de tirania, o povo pode resistir a esse poder.

Suárez está preocupado com a legitimidade de título (povo transfere poder para o
governante) e legitimidade de exercício (governante governa segundo vontade do povo).

Jean Bodin
1530-1596

- Para ele a república é do género do estado. A república é um governo reto


que visa atingir a justiça e o direito natural e condena a tiraria. Governo
subordinado a moral e a justiça.

- conceito de soberania: poder absoluto e perpétuo de uma república


(estado). Reforço do poder político do estado. Soberania una e indivisível.
Soberania é irrevogável, ou seja, o povo não pode tirar o poder ao rei.

É suprema na ordem interna (poder máximo / absoluto do governante) e


independente na ordem internacional (o Estado não depende de poderes
supranacionais).

O poder tem de respeitar o direito e as leis naturais e a moral. Deve aceitar


o pluralismo que existe na sociedade.

No caso de o soberano desrespeitar / violar estas limitações, só responde


perante Deus;

Na prática, tem-se um poder que é fracamente limitado uma vez que o


governo do estado deve pautar-se por determinados critérios, por exemplo,
critérios de justiça e do direito natural.

Thomas Hobbes (1588-1697)

- preservação da vida
-vivia na insegurança. Via só guerra à sua volta
- defendia um estado forte para garantir a paz e a segurança
- faz da política uma ciência. Viveu na época do desenvolvimento das
ciências.
-concepção do poder: o estado tem como finalidade a paz e a segurança
dos cidadãos.
- pessimista, concepção negativa da natureza. Há uma fase inicial na vida
das comunidades em que as pessoas estão por sua conta e é uma espécie de
guerra de todos contra todos. Desgoverno e confusão total. É preciso
ultrapassar isto através da criação de um estado forte. Ato de vontade e de
união de criar um estado, até para evitar uma guerra.

- necessidade de autoconservação: criam o estado e elaboram um contrato.

Deste modo, renunciam à sua liberdade. Por exemplo: fazer justiça pelas
próprias mãos. Atribuem ao estado a função de fazer cumprir as regras.
Entrega do poder ao soberano. Sujeitam-se à submissão a um governante.
Alienam o poder a favor do soberano. Não podem voltar atrás.

- soberano:
 os súbditos não podem desobedecer-lhe,
 pode fazer leis,
 Poder forte, autoritário, arbitrário
 Poder soberano é uno e indivisível
 Os poderes não estão divididos, nem devem, porque se não for desta
forma, o poder acabaria por ser dissolvido.

Há uma alienação do poder a favor do soberano, o que significa que os


atos do soberano não são contestáveis pelos súbitos.

Limites do poder para Hobbes: se o poder ultrapassa fronteiras aí sim é


possível contestar, mas o soberana apenas deverá responder perante Deus.

Iluminismo

Principais autores

John Locke
1632-1704

- viveu num período de paz religiosa

-perspectiva otimista

-liberal
-ninguém aliena a favor dos governantes

- o poder permanece no povo e os direitos não lhe podem ser retirados

- origem do estado é voluntária

-pessoas livres - lei natural

-não há tribunais as pessoas têm de fazer justiça pelas próprias mãos. Deste
modo, é necessário existir uma entidade que imponha o respeito dos
direitos: estado de sociedade:

 Há poder político, há tribunais.


 A passagem para estado de sociedade provém de um contrato -
contratualista - em que todos concedem livremente para alienar o
poder. Atribuem ao governante a possibilidade de governar, transferem
os poderes mas não de forma definitiva, uma delegação: governar de
uma determinada forma num determinado tempo.

 O poder para Locke é limitado. As pessoas mantêm os seus direitos e


acesso ao poder. O povo permanece soberano. A vida privada das
pessoas não está ao alcance do estado.

-Limites do poder político: os direitos individuais (saude, propriedade,


direitos inalienáveis…) e que o estado não pode meter em causa. Os
direitos humanos e fundamentais são um importante limite do poder
político.

-Divisão do poder: titulação de órgãos com poderes diferentes.


- três faculdades:
 poder legislativo (fazer leis),
 poder executivo (tribunais e administração onde são aplicadas as
leis) e;
 poder federativo (estabelecer contactos com outros estados).

- governo misto - (parlamento) e monarquia

-se um governante não respeita as liberdades individuais, os parlamentos


podem desobedecer ao rei – há limites de poder
- quer Locke quer Hobbes tiveram grande influencia na revolução
americana.

- absolutistas criticaram, claramente, as suas ideias.

• Montesquieu 1689-1755

-aristocrata
- defensor de uma monarquia limitada – história inglesa
-estudar em q contexto são feitas as leis
- teorias dos climas, teorias do território – o clima e o território pode
influenciar a governação desse pais. Países do norte há mais riqueza. Um
território pequeno pede um regime menos fortes. Estuda os contextos. Um
governante bom é aquele que consegue governar de forma mais inovadora
e centralizada.
- republica (vários ou todos), monarquia (um ).
- despostismo governa segundo o seu interesse (governa de um). Déspota faz
o q quer.
-melhor forma de governo: monarquia em q o soberano tem limites e é
limitado pelo pluralismo e pela separação de poderes. O direito tbm limita
o seu poder.

-poder legislativo, executivo e judicial. Divisão dos poderes por diferentes


órgãos, de modo evitar abusos do poder.

-faculdades do estado: statuer (poder fazer coisas) empêcher (poder de criar


obstáculos)

Jean Jacques Rosseau


1712-1778

-contratualista

-otimista

- as relações em comunidade começam a torna-se difíceis. Ambições e


rivalidades. É necessário criar uma sociedade política.

- IGUALDADE E LIBERDADE. VALORES MUITO IMPORTANTES


PARA SI.
- como todos são iguais participam todos da mesma forma

-vontade geral - quando o povo se reúne e faz o contrato social os


governantes ficam obrigados a governar de acordo com o bem comum, a
vontade geral, o que é melhor para aquela comunidade, através do critério
da maioria o que significa que se uma maioria não se revê naquela decisão,
aquela decisão não é aprovada.

Para Rosseau apenas a democracia de tipo direta é legítima – o governo é


um conjunto de funcionários que não apresenta poderes próprios, apenas
aqueles que o povo decide atribuir, aparecendo como uma espécie de
comissários.

Estes autores influenciarão todas as grandes revoluções liberais

 Constitucionalismo liberal

(Revolução Americana 1787)


É a base do constitucionalismo liberal. Surge a ideia de que uma comunidade só deve
ser tributada caso a mesma o consinta. Em 1776, Thomas Paine publica “Common
Sense”, onde divulga o ideal independentista. Defende a ideia da soberania popular e da
república. Para ele, a monarquia é uma forma de governo ilegítima, argumentando a
necessidade das colónias se tornarem independentes da Inglaterra.

(Revolução Francesa 1789)


Representa o núcleo fundamental da perspetiva liberal do poder com a Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão. Foi influenciada pela revolução americana e pelo
Iluminismo (Rosseau e o seu abade Sieyès). Este último foi o impulsionador da
revolução, com a sua obra“Qu’est-ce que le tiers État?”. Contesta o absolutismo real e
afirma que o povo deveria ser representado por verdadeiros elementos do povo e não
membros do clero e da nobreza. Defende que o voto deveria ser por cabeça e não por
ordens. Defende a representação política (o povo deve escolher os seus representantes),
avançando com a ideia dos poderes constituintes.

Burk
É um conservador que critica a proposta de rotura e a revolução, pois acredita na
continuidade,tradução e permanência dos valores. Apesar de não pôr em causa o
liberalismo político e a divisão dos poderes, acredita num estado mínimo- pouca
interferência no plano económico e nas matérias sociais.

Tocqueville
Grande entusiasta da revolução americana. É um dos fundadores da ciência política
moderna,com a perspetiva, de certa forma, sociológica. Para ele, o liberalismo assenta
na ideia de liberdade e igualdade. Também considera que há riscos na democracia- a
teoria da maioria (ideia de que a maioria pode fazer aquilo que quiser). Defende a
descentralização e a participação das pessoas no poder político.

O liberalismo assenta na abolição do absolutismo, na defesa das liberdades individuais e


dos direitos das pessoas, na limitação do poder, na generalização das repúblicas (ou
monarquias de poder limitado), no desenvolvimento das Constituições escritas, no
alargamento do sufrágio e no desenvolvimento dos partidos políticos.

Surge um tempo depois, a revolução industrial em Inglaterra que levanta a questão dos
direitos dos trabalhadores, aparecendo aqui o socialismo. Freitas do Amaral afirma que
o socialismo faz uma análise económica para perceber a política, propondo uma nova
ordem económica e social e atacando a propriedade privada e defendendo o controlo
dos meios de produção.

Socialismo Científico:
Assenta numa análise rigorosa da história, da economia e da sociologia. É com base
nesta análise científica que surge esta proposta. É revolucionário porque quer substituir
o capitalismo liberal pelo seu oposto, o socialismo coletivista. O direito, a política, o
estado e a religião são classificadas como supraestruturas, que refletem a realidade
económica existente. Nesta concepção, o direito não estabelece limites ao poder, sendo
aquilo que o poder económico entender que é.

Bioética: construção filosófica que assenta na luta de opostos

Determinismo: ideia de que a história tem um rumo definido, será criticado por Popper.
Quando se atingir pela luta de classes — o comunismo, o Estado deixa de ser
necessário. Do ponto de vista da analise política, o Estado marxista não conduziu à
supressão do Estado, mas sim a um estado totalitário – o Estado soviético. O poder
serve-se de alienações para que as pessoas sejam obedientes à classe dominante. Esta
corrente socialista foi uma resposta às condições sociais. Surgem outras teorias como:
Doutrina Social da Igreja e Social democracia.

Doutrina Social da Igreja ou Democracia cristã: a doutrina social da Igreja Católica


afirmava que o Estado deveria interferir na economia e no trabalho quando
necessário, já que a base do Estado é a pessoa. Apoia o associativismo através de
sindicatos católicos – estruturas intermédias próximas às pessoas. Vão desenvolver-se
partidos políticos com estas bases, como o CDS-PP em Portugal.

Doutrina Social Democracia: Corrente política pautada pelos ideais de liberdade e


igualdade. Entre seus valores básicos está a defesa da democracia representativa, das liberdades
individuais, da propriedade privada(capitalismo) e da justiça social. Assim, defende que o
Estado é provedor do bem-estar e que deve criar mecanismos que garantam o bem-estar social,
intervindo na economia e “redistribuindo a riqueza”. Estado- Social. Ex: Segurança Social,
SNS...

Autores desta corrente:

Bernstein (1850-1932) – marxista, mas que fez uma revisão dos


princípios. Distingue comunista de socialista. Recusa o determinismo de Marx
para atingir a melhoria das condições sociais, propõe a evolução ao invés da
revolução. Defende o alargamento do sufrágio para permitir representação
social no parlamento, para que as leis estivessem de acordo com a
vontade popular.

Jean Jaurés (1859-1914): meio termo entre Bernstein e Marx. Propõe


melhorar a democracia para atingir o socialismo, sendo que deveria haver uma
luta de partidos e não de classes. Para este fim é necessário alargar o sufrágio.

Dois tipos de regimes políticos diferentes que se desenvolveram:


1º Desenvolvimento das ideias marxistas (Estalinismo)
2º Desenvolvimento do fascismo (Fascismo italiano ou alemão)

1º - Partindo da obra de Marx, em 1917 ocorreu a Revolução Russa, onde


Lenine liderou os bolcheviques. Entre 1917 e 1924 ele é o chefe do partido de
governo, concentrando em si todos os poderes. Em 1918 é publicado o
primeiro texto constitucional que estabelecia uma democracia socialista
dirigida pelo comunismo. Em 1922 é criada a URSS. Para Lenine o
socialismo teria de começar na Rússia e expandir-se pelo resto do mundo (III
Internacional). Era necessária uma estrutura que permitisse obter e manter o
poder - um partido único. É uma estrutura organizada e centralizada-
hierarquizada até ao topo- Centralismo Democrático. O Estado é o partido e
o partido é o Estado. É um Estado coletivista, que visa satisfazer os interesses
de uma classe e não do bem geral, centrando-se no partido único. Não há
separação de poderes, não há liberdade eleitoral. Em termos económicos,
durante o período da NEP foi permitido a existência de propriedade privada e
uma série de medidas capitalistas de modo a melhorar os níveis económicos.
Posteriormente, vem Estaline. É de destacar o reforço do Estado, sendo que o
direito serve para reforçar os poderes do estado. Estaline desenvolveu a
industrialização da URSS, lançando um conjunto de propostas dirigidas à
economia:

 coletivização da agricultura (expropriando terras) e, também,


 os planos quinquenais- programação estatal da economia.

O regime pautou-se por ser totalitário, assente na perseguição- polícia


política. Há também o controlo dos meios de comunicação social, a
ausência de pluralismo, o recurso à violência e ao terror para a
obediência como arma política.

2º Posteriormente desenvolvem-se os regimes fascistas…Regimes


totalitários de extrema-direita.
Assentes em propostas que não confiavam na ideia liberal (ideia do
parlamento). Temem a ameaça comunista. Desenvolveu-se à volta da ideia de
um chefe forte, que conduz o estado e que é temido. Utiliza uma linguagem de
tipo nacionalista de modo a unir a população.
Têm a sua primeira manifestação em Itália quando o partido nacional fascista
liderado por Mussolini tomou conta do poder. São antiliberais, propõem um
estado forte, estado este que concentra o poder, não há pluralismo partidário,
há forte limitação das liberdades individuais, o estado controla a economia, a
política e a sociedade.

O que têm em comum o fascismo e o nazismo?

 aceitação da violência,
 o estado é mais importante que o indivíduo,
 a figura do chefe é muito importante- culto do chefe,
 existência do partido único, ditadura ideológica e governo de poucos,
 o Estado recorre à polícia secreta, censura para controlo de tudo.
 o direito não serve para limitar o chefe, mas sim para realizar o melhor
para a comunidade (que é decidido pelo chefe), ou seja, o direito é um
instrumento de poder.

Quais são as diferenças entre nazismo e fascismo?

Fascismo Italiano- assenta no conceito de estado


Nazismo (alemão)- assenta da ideia de racismo, supremacia de uma raça
Com o fim da II guerra mundial, estes dois regimes desapareceram. Contudo
existiam inspirações na Europa destes regimes, como o salazarismo em
Portugal.

Surgem autores como: Karl Popper e Hannah Arendt


Desenvolveram obras sobre a divisão da europa de leste e ocidental- cortina de ferro de
Churchill. Criticaram os regimes totalitários.

Karl Popper
Antifascista convicto. “A sociedade aberta e os seus inimigos” – defesa de uma
sociedade aberta e crítica dos inimigos dessa sociedade- Platão, Marx, Engels. Uma
sociedade aberta é aquela que deixa as pessoas circular, desenvolver a vida noutro sítio
e podem voltar a qualquer momento- mostra o grau de abertura de um estado.
Também se caracteriza pela liberdade de pensamento e de expressão. Assente,
sobretudo, na democracia ateniense.
Uma sociedade fechada é aquela onde o estado controla as pessoas, onde não há
liberdade de pensamento nem de expressão (associada a Esparta). Os inimigos da
sociedade aberta, defendiam as limitações das liberdades individuais para criarem
sociedades onde submetiam o indivíduo ao Estado. Outro aspeto que condenou foi o
determinismo histórico de Marx. Defende que não há um determinismo absoluto na
história nem na vida das pessoas. Popper definia a democracia como um regime em que
os governados conseguem mudar os governantes sem recorrer à violência. Na
democracia, as pessoas participam e podem eleger os seus governantes,
onde há alternativas de escolha e garantias de participação política. A democracia é um
meio para atingir a sociedade aberta.

Hannah Arendt
Alemã que fugiu do regime nazi. Exilou-se no EUA e tornou-se americana.
Para Hannah o estalinismo e o nazismo é algo de novo- o
chamado totalitarismo. Assentam num fator novo, o terror. Não se trata apenas de
violência, mas do controlo através do terror, seja ameaças físicas ou não, de modo
a manter as pessoas dominadas.

• Discussão sobre as hipóteses do fim das ideologias

Podemos identificar correntes que procuram e defendem uma sociedade justa:

-Liberais igualitários: a justiça deve passar por liberdades e igualdades, com destaque
as liberdades individuais. Podemos encaixar aqui um contratualista- Rawls
-Libertalista: Acentuam o aspeto da liberdade e a intervenção mínima do estado-
liberdade económica- Hayek.

-Comunitaristas: temos de considerar todas as comunidades e todos os grupos onde


nos inserimos, acabando por defender as perspectivas multiculturalistas.

Na Ciência Política, as ideologias surgem como um conjunto e sistema de ideias-


sentido neutro. Têm como objetivo a organização da vida política efetiva. Há que ter em
conta a teoria, mas sobretudo o modo como as ideias foram aplicadas na realidade.

Adriano Moreira afirma “as ideologias são ideias com peso social” - influenciam e
orientam os comportamentos. No fundo é uma forma de interpretar o mundo e dar-lhe
um significado. São representações coletivas que servem para orientar comportamentos,
dar sentido e orientar a ação política.

Podemos classifica-las de várias formas:

 Liberalismo, conservadorismo, socialismo


-Liberalismo: salientam a importância das liberdades individuais e a preservação das
liberdades.
-Conservadorismo: ansiedade face à mudança.
-Socialismo: assente na igualdade social.

 Esquerda VS Direita
Conceito proveniente da revolução francesa. Nas Cortes francesas- Estados Gerais,
aqueles que eram mais favoráveis ao poder real sentaram-se à direta do presidente da
assembleia, os mais favoráveis à limitação do poder do rei sentaram-se à esquerda.
Também se apareceu o chamado centro.

Conceito de esquerda e direita segundo autores

Freitas do Amaral:
Direta- preservação dos valores tradicionais e da situação economia existente
Esquerda- mudança dos valores antigos, criando, tirando privilégios e melhorando a
situação dos mais desfavorecidos

Desenvolve-se a teoria do apaziguamento das ideologias

A esquerda e a direta estavam com tendência de se deslocar para o centro, graças à


convergência dos interesses das pessoas. Nos anos 80 com o fim da Guerra
Fria, Fukuuyana, vem propor o triunfo da democracia liberal- o fim da história. Foi
muito criticado, uma vez que acaba por ser uma ideologia.
Ou seja…
Na realidade, não desapareceram as ideologias, apenas os espaços se transformaram,
surgindo novas esquerdas e diretas de modo a dar resposta aos novos desafios e
problemas.

Estado

O estado é definido por uma comunidade de pessoas, fixa num determinado território
para aí exercer um determinado poder politico.

Diferentes formas de explicar a ideia de Estado:

-contratualista: o estado rege-se por um conjunto de tratados/pactos, vontade das


pessoas que se unem para criar uma comunidade política. A base do estado é uma
vontade das pessoas em estarem ligadas a esse mesmo estado. Até a atualidade existem
autores contratualistas.

-correntes organicistas/ naturalista: entidade natural com necessidades, o estado


funciona como um organismo vivo, logo tem de criar órgãos para se manter, tem de ter
funções que permitam executar ações.

-correntes normativistas: entidade jurídica, entendida e organizada por normas, o


estado é uma ordem jurídica que abrange um conjunto de pessoas num determinado
território – Kelsen

- na concenção marxista, o estado tenderá a desaparecer quando se atingir uma


sociedade económica sem classes.

- estado como realidade social e como realidade jurídica – Jellinek

- Smend: o estado é uma associação de pessoas que só funciona se essas pessoas


estiverem aliadas a alguma coisa – integrações, para que o estado se mantenha uno,
impedindo a sua fragmentação.

O estado como aparelho de poder


O Estado como comunidade—grupo de pessoas
O Estado está juridicamente regulado por normas

As vicissitudes é o estudo dos eventos que se projectam sobre a vida do estado


(surgimento, evolução e desaparecimento). Estas podem ser:

 Parciais: modificações do estado mas que não afetam a sua existência


 Totais: afetam completamente o Estado, ou seja, surgimento ou até
desaparecimento de um estado pela perda de soberania ou pela até pela junção a
outro estado, por exemplo.

- Nem todas as vicissitudes constitucionais têm impacto na existência estadual.


- Estas alterações a que o estado esta sujeito não são alheias ao direito, muitas das
vezes o direito pode prever mecanismos jurídicos para estas alterações do estado.

O Estado tem personalidade jurídica é titular de direitos e obrigações.


O Estado é uma pessoa jurídica coletiva e pública – há a possibilidade ou
suscetibilidade de ser titular de direitos e obrigações, tendo órgãos próprios. Age, do
ponto de vista interno e do ponto de vista internacional, como um sujeito: como alguém
que pode exercer direitos, que pode estabelecer contratos, que tem obrigações e que
pode ser responsabilizado pelo cumprimento (ou não) dessas mesmas obrigações.
Para existir um Estado tem de estar reunidas 5 características:

• Complexidade
• Autonomia
• Coercibilidade
• Institucionalização
• Sedentariedade / territorialidade

Ao Estado moderno de tipo europeu acresce outras características: fator nacional,


laicidade e soberania.

Estado moderno de tipo europeu ( séc. XV ao séc. XVIII) baseou se no estado


oriental e na antiguidade clássica. O movimento decisivo foi a paz de Vestefália-
encerrar guerras entre várias entidades políticas que depois se assumiram como estados.
É a partir daqui que os estados se começam a tornar autónomos sobretudo face ao poder
religioso, segundo alguns autores, tornando-se soberanos. O estado não se desenvolveu
ao mesmo tempo em todos os sítios. O estado para se afirmar precisou de reforçar o
poder, afirmar o elemento territorial. Começa a diferenciar -se quem governa e a
comunidade política.
3 características diferentes:

-Soberania: Estado supremo na ordem interna e independente na ordem internacional,


independente do papa e do imperador

-Nação: fator de coesão entre a comunidade

- Laicidade/Secularização – separação entre o religioso e o político.


Fases do Estado Moderno

1ªfase: Estado Estamental

 Numa primeira fase é ainda um estado estamental – classes, os reis têm de ouvir
os estamentos, ou seja, corporações com as quais o rei disputa os seus poderes. A
representação dos estamentos limita o poder do monarca. Por exemplo: cortes.
2ªfase: Estado absoluto

 O poder começa a concentrar-se no rei conduzindo futuramente (séc.XVII e


XVIII), aos estados absolutos.

- Num primeira fase: monarquia de direito divino (governa de acordo com a graça
divina)

- Numa segunda fase: despostismo esclarecido (séc.XVIII) – o monarca é iluminado


pela razão, monarquia de “tipo racional”.

3ªfase: Estado Constitucional, representativo e de direito

 Surge no auge das revoluções liberais. A lei incorpora a razão geral que constitui
um guia. Constitucional porque se assiste à proliferação das constituições
escritas, por uma questão de segurança. Representativo porque surgem
mecanismos representativos como solução à democracia direta e ao poder
centralizado. De Direito porque o único critério de atuação possível é o critério
legal, princípio das leis, pelas leis e através das leis.
- Estado liberal: Estado não intervencionista- liberdade económica
- Estado social de Direito: respeito pelos direitos fundamentais e reforço das
questões sociais, levando a uma mudança da abordagem estatal na economia, ao reforço
do constitucionalismo e à limitação dos poderes e dos governos.

 Surgem vários tipos de estados muito diferentes nos seus pressupostos com
Constituições não para limitar o poder, mas sim como instrumentos do poder:
-Estado marxismo-leninismo (associada à Revolução de1917)
Posteriormente, também se implanta na China, Coreia do norte, Cuba. Com a queda do
muro de Berlim estes sistemas vão-se desmoronado ou reconfigurando,aproximando-se
do estado social de direito.

-Fascista (na Itália em 1922) e (na Alemanha em 1933).Extinguem-se com fim


da II Guerra Mundial, mas influenciam outros regimes, nomeadamente o Estado Novo e
o regime de Francisco Franco (Espanha).

Com o fim da II Guerra Mundial e da Guerra Fria surge ainda o estado fundamentalista
islâmico (Islão 1979), com a legitimidade do poder divino e uma lei religiosa como
fonte de direito.

Atualmente, discute-se a hipótese de o Estado estar em crise enquanto modelo. Outros


autores dizem que é Estado social e não o Estado enquanto modelo.
O Estado não desaparecerá (ainda faz muito sentido que exista), mas isto não significa,
que não evoluiu, aspetos como a globalização, grandes empresas internacionais que
influenciam a economia, organizações internacionais, o desenvolvimento tecnológico e
o surgimento de problemas transfronteiriços. Por isso, para alguns autores, o estado tem
menos poder e autonomia, entrando em declínio. Outros autores discordam e dizem que
apenas o estado mudou, perdem autonomia em alguns casos e ganham noutros.
Crise do Estado social

Muitas tarefas sociais levam a problemas, como a carência de recursos económicos.


Exemplo: a elevada esperança média de vida e a baixa natalidade. Para alguns autores a
solução é diminuir os apoios socias. Outros defendem uma reestruturação e o
surgimento do Estado participativo ou corporativo: as pessoas são chamadas a participar
nas políticas públicas e na gestão das tarefas públicas.
Alguns autores acreditam que estamos num estado pós social- Vasco Pereira
da Silva. O novo modelo de estado com direitos fundamentais novos,
está relacionado com ameaças novas, como a proteção ambiental, a diversidade
cultural e o mundo digital. É um estado onde se afirma a componente participativa com
mecanismos que o permitam. Exemplo: cidadãos apresentam propostas de leis.

Elementos do Estado:

POVO:

 Elemento humano do estado.


 Comunidade de pessoas. Jorge Miranda diz que os elementos dos estado são
manifestações da existência do estado. Do ponto de vista jurídico, falando em
povo, fala se de um conjunto de pessoas ligadas ao estado por um vinculo
jurídico politico- a cidadania. Autores defendem que a cidadania é um vínculo
mais interno e nacionalidade num conceito internacional, outros que a cidadania
pertence à comunidade política, nacionalidade remete às tradições culturais.

 Povo designa os cidadãos do estado mesmo que não residam no estado.

População: conjunto de residentes em certo território, sejam cidadãos ou estrangeiros -


conceito demográfico e económico. Natureza Estatística.

Nação: conjunto de pessoas que estão ligadas entre si por vínculos históricos, culturais e
sociais. Principio das nacionalidades que levou à formação de alguns estado -
normalmente tem uma vocação política. Existem Estados multinacionais e nações
repartidas em vários estados, remete à formação histórica. Movimentos migratórios,
atualmente, levam à diversificação da realidade cultural do Estado, levando à
multiculturalidade da realidade do Estado.

Do ponto de vista interno, os Estados podem apresentar uma realidade cultural muito
diversificada por alguns motivos: ou formação histórica ou fluxos migratórios, mas
se o povo é constituído por cidadãos, quem são os cidadãos? Essa determinação é da
soberania do estado. Progressivamente, o direito internacional tem ganhado terreno e
poder que condicionam essa soberania do Estado. Princípio do effective bond. -
Princípio da proteção contra a apatridia.

 O povo é aquele que é titular do poder (governante), ao mesmo tempo que é


governado por esse poder . Povo como conjunto de pessoas com o estatuto de
cidadãos, que forma o Estado e perante o mesmo, detém determinados direitos e
deveres – vínculo jurídico-político.

Artigos iniciais da constituição detêm os elementos do estado. Artigo 26/1- CRP -


cidadania direito fundamental:

1. A todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, ao desenvolvimento


da personalidade, à capacidade civil, à cidadania, ao bom nome e reputação, à
imagem, à palavra, à reserva da intimidade da vida privada e familiar e à
protecção legal contra quaisquer formas de discriminação.

Ninguém deve ser privado da cidadania.

Quais são os critérios usados pelos estados para definirem a cidadania de uma
pessoa?

 Ius (direito) soli


 ius sanguinis,
 atualmente, o ius domicili, ou seja, a residência é um critério que tem grande
relevância.

A lei portuguesa da nacionalidade – lei 37/81- 3 outubro consagra desde inicio o ius soli
e o ius sanguinis.

Distingue-se:

 Nacionalidade originaria: provém do nascimento;

 Nacionalidade derivada: nacionalidade que é adquirida por facto diferente de


nascimento. Por exemplo: casamento ou naturalização

Em Portugal: a nossa lei é mista, mas o preponderante é o do sangue. O critério do ius


soli tem sido reforçado por ser um pais de imigração, de modo a permitir as pessoas que
cá vivem tenham acesso à nacionalidade portuguesa.

TÍTULO I
Atribuição, aquisição e perda da nacionalidade
CAPÍTULO I
Atribuição da nacionalidade
Artigo 1.º
Nacionalidade originária
1 - São portugueses de origem:
a) Os filhos de mãe portuguesa ou de pai português nascidos no território português;
b) Os filhos de mãe portuguesa ou de pai português nascidos no estrangeiro se o
progenitor português aí se encontrar ao serviço do Estado Português;
c) Os filhos de mãe portuguesa ou de pai português nascidos no estrangeiro se tiverem o
seu nascimento inscrito no registo civil português ou se declararem que querem ser
portugueses;
d) Os indivíduos com, pelo menos, um ascendente de nacionalidade portuguesa
originária do 2.º grau na linha reta que não tenha perdido essa nacionalidade, se
declararem que querem ser portugueses e possuírem laços de efetiva ligação à
comunidade nacional;
e) Os indivíduos nascidos no território português, filhos de estrangeiros, se pelo menos
um dos progenitores também aqui tiver nascido e aqui tiver residência,
independentemente de título, ao tempo do nascimento;
f) Os indivíduos nascidos no território português, filhos de estrangeiros que não se
encontrem ao serviço do respetivo Estado, que não declarem não querer ser
portugueses, desde que, no momento do nascimento, um dos progenitores resida
legalmente no território português, ou aqui resida, independentemente do título, há pelo
menos um ano;
g) Os indivíduos nascidos no território português e que não possuam outra
nacionalidade.
2 - Presumem-se nascidos no território português, salvo prova em contrário, os recém-
nascidos que aqui tenham sido expostos.
3 - A existência de laços de efetiva ligação à comunidade nacional, para os efeitos
estabelecidos na alínea d) do n.º 1, verifica-se pelo conhecimento suficiente da língua
portuguesa e depende da não condenação a pena de prisão igual ou superior a 3 anos,
com trânsito em julgado da sentença, por crime punível segundo a lei portuguesa, e da
não existência de perigo ou ameaça para a segurança ou a defesa nacional, pelo
envolvimento em atividades relacionadas com a prática do terrorismo, nos termos da
respetiva lei.
4 - A prova da residência legal referida na alínea f) do n.º 1 faz-se mediante a exibição
do competente documento de identificação do pai ou da mãe no momento do registo.

Efetivamente, estados diferentes reconhecem diferentes critérios de atribuição de


cidadania. Assim, podem surgir casos de:

 Dupla cidadania: Quando um indivíduo é considerado por mais de um estado


como seu cidadão.

 Apatridia: Quando um indivíduo não é considerado por nenhum estado como


seu cidadão.

A declaração universal dos direitos do homem prevê, no artigo 15º, nº 1 e 2 que todos os
indivíduos têm direito à cidadania e que ninguém pode ser privado da obtenção de
cidadania ou de mudar de nacionalidade.

Como é que alguém se pode tornar apátrida?


Diferentes estados têm diferentes critérios e isso pode trazer implicações para as
classificações de cidadania. Uma pessoa pode não ter os requisitos definidos por cada
estado.

Conflitos positivo de cidadania/multicidadania: pessoas que têm varias cidadanias.

Quem não tem cidadania não tem os direitos daquele estado? Ás vezes para votar ou ser
eleito é preciso ser cidadão daquele estado. Mas também se tem entendido que o voto e
a participação no poder político mesmo alguém não sendo cidadão e vivendo naquele
território há muito e por um questão de justiça poder participar na política do seu estado.
Há estados que reconhecem poderes políticos a esses cidadãos dependendo de
determinados requisitos. Surgem muitas questões quanto aos votos, migrações e assim.

Os estrangeiros q vivem em Portugal podem votar nas eleições autárquicas.

Um estrangeiro em Portugal não tem direitos??? Os direitos políticos estão, por norma,
associados a pessoas com nacionalidade daquele estado. Votar, eleger e ser eleito são
exemplos dessas ações. No entanto, dependendo do estado existem diferentes
conceções:

Art 15º CRP – principio da equiparação.

Artigo 15.º
(Estrangeiros e apátridas, cidadãos europeus)
1. Os estrangeiros e os apátridas que se encontrem ou residam em
Portugal gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres do cidadão
português.

Cidadanias transacionais: pessoas movem-se, pessoas que vivem num


estado diferente daquele que tem a sua cidadania.

Cidadania europeia: prevista nos tratados, não é cidadania originária uma


vez que a União Europeia não é um estado. Trata-se de uma cidadania de
segundo grau, concedida àqueles que têm a cidadania de um estado da
União Europeia. Liberdade de circulação é um dos benefícios. Esta
cidadania é um alagamento de direitos e deveres. Não tem a natureza de
uma cidadania de um estado.

TERRITÓRIO DE UM ESTADO:

 sendentariedade: povo fixo num determinado território;

 sitio onde exerce o poder do estado;


 território é o sitio onde estão os órgãos estaduais, regras do estado,
poder político do estado – princípio da territoriedade – é no
território do estado onde este pode exercer a coercibilidade. No
entanto, por vezes, é possível aplicar direito português fora de
território nacional, se um português no estrangeiro pode votar – aplica
as normas portuguesas noutro estado. No estado português também se
pode aplicar poder de outro estado ou de outra entidade sem ser
considerada estado, por exemplo, o direito canónico nos casamentos,
estamos a aplicar em Portugal um direito que não é estabelecido pelo
direito político português. Por regra o direito português aplica-se em
território português.

 verifica-se que o território do estado está limitado, vários instrumentos


internacionais estabelecem limites por exemplo na forma como estado
utiliza os seus recursos, espécies marinhas, circulação marinha etc etc.
Os estado não são totalmente livres de exercerem o poder político
como pretendem.

 alguns autores dizem que o território é do estado, para outros, o estado


não tem propriamente a propriedade mas tem a possibilidade de afetar
os recursos que existem nesse território – estado tem jurisdição no seu
território que é apresentada como indivisível e inalienável – Art 5º
CRP.

Artigo 5.º - (Território)

1. Portugal abrange o território historicamente definido no continente europeu e os


arquipélagos dos Açores e da Madeira.
2. A lei define a extensão e o limite das águas territoriais, a zona económica
exclusiva e os direitos de Portugal aos fundos marinhos contíguos.
3. O Estado não aliena qualquer parte do território português ou dos direitos de
soberania que sobre ele exerce, sem prejuízo da rectificação de fronteiras.

 No território, os cidadãos têm o direito de sair e entrar livremente - Art.33 da


CRP.

Artigo 33.º
(Expulsão, extradição e direito de asilo)
1. Não é admitida a expulsão de cidadãos portugueses do território nacional.
2. A expulsão de quem tenha entrado ou permaneça regularmente no território
nacional, de quem tenha obtido autorização de residência, ou de quem tenha
apresentado pedido de asilo não recusado só pode ser determinada por
autoridade judicial, assegurando a lei formas expeditas de decisão.

3. A extradição de cidadãos portugueses do território nacional só é admitida, em


condições de reciprocidade estabelecidas em convenção internacional, nos
casos de terrorismo e de criminalidade internacional organizada, e desde que a
ordem jurídica do Estado requisitante consagre garantias de um processo justo
e equitativo.

4. Só é admitida a extradição por crimes a que corresponda, segundo o direito do


Estado requisitante, pena ou medida de segurança privativa ou restritiva da liberdade
com carácter perpétuo ou de duração indefinida, se, nesse domínio, o Estado
requisitante for parte de convenção internacional a que Portugal esteja vinculado e
oferecer garantias de que tal pena ou medida de segurança não será aplicada ou
executada.

5. O disposto nos números anteriores não prejudica a aplicação das normas de


cooperação judiciária penal estabelecidas no âmbito da União Europeia.

6. Não é admitida a extradição, nem a entrega a qualquer título, por motivos políticos
ou por crimes a que corresponda, segundo o direito do Estado requisitante, pena de
morte ou outra de que resulte lesão irreversível da integridade física.

7. A extradição só pode ser determinada por autoridade judicial.

8. É garantido o direito de asilo aos estrangeiros e aos apátridas perseguidos ou


gravemente ameaçados de perseguição, em consequência da sua actividade em favor
da democracia, da libertação social e nacional, da paz entre os povos, da liberdade e
dos direitos da pessoa humana.

9. A lei define o estatuto do refugiado político.

 O estado controla as fronteiras.


 Apesar deste princípio em que o estado pode não permitir a entrada de pessoas
ou até expulsar pessoas, há limites, a proteção da vida familiar é um dos limites
ao poder desses estados – não se pode separar crianças de progenitores. Outro
exemplo é o movimento de refugiados e migrantes na Europa em que os estados
meio que estão obrigados a respeitar direitos fundamentais.

- território, parte da superfície terrestre que pode incluir águas do mar.

Tipos de território:

 Terrestre: massa de terra seca


 Aéreo: camada de ar subjacente ao território terrestre e marítimo
 Marítimo: parcela de água que rodeia o território terrestre (não existe sempre)
 Mar territorial: massa de agua salgada ate 12 milhas
 Arquipélagos: ilhas

Tipos de território:
• Terrestre: massa de terra seca
• Aéreo: camada de ar subjacente ao território terrestre e marítimo
• Marítimo : parcela de água que rodeia o território terrestre (não existe sempre) – mar
territorial: massa de água salgada ate às 12 milhas, ZEE
• Áreas arquipelágicas: ilhas

Podem aproveitar a ZEE (zona económica exclusiva).

Portugal tem território marítimo, aéreo e terrestre – Art6º CRP

Artigo 6.º - (Estado unitário)

1. O Estado é unitário e respeita na sua organização e funcionamento o regime


autonómico insular e os princípios da subsidiariedade, da autonomia das autarquias
locais e da descentralização democrática da administração pública.
2. Os arquipélagos dos Açores e da Madeira constituem regiões autónomas
dotadas de estatutos político-administrativos e de órgãos de governo próprio.

Perspectivas transnacionalistas:

O movimento globalizador é mais relacionado com as pessoas e não tanto com as


entidades políticas. As pessoas não se fixam num território. Circulam. Temos de ter em
conta a mobilidade através das fronteiras. As novas tecnologias, internet e redes, ligam
as pessoas para alem das fronteiras. Opinião pública e comunidade transacional –
começam a surgir e são alvo de estado por parte da ciência política. Por exemplo, qual é
o papel da sociedade civil internacional? Grandes empresas q operam em vários estados,
por exemplo, no caso económico, as fronteiras do estado também se relativizam nessas
questões. As fronteiras atualmente por foca da relações económicas, realidade digital e
empresas multinacionais são vistas de forma diferente.
PODER POLÍTICO OU SOBERANIA (TAMBÉM DESIGNADO DESDE O
ESTADO MODERNO):

É um poder que é exercício pelo povo num determinado território.

Objetivo do poder: segurança, vida coletiva em condições de bem estar.

O poder político utiliza o direito que é um instrumento que tem como objetivo realizar
os objetivos daquela comunidade. Pode ser-lhe atribuído as seguintes características:

 Poder constituinte: o poder político tem a capacidade de dar a si próprio uma


constituição - Sem constituição não há estado - o estado precisa da
constituição. O poder político manifesta-se pelo poder constituinte e pela criação
de poderes constituintes. Há pessoas que afirmam que só existem constituições
se existirem estados, mas outros dizem que podem porventura existir
constituições sem existirem estados (caso a UE tivesse constituição por
exemplo).
 Poder de auto-organização: tem objetivo permanente de criar condições para a
manutenção de segurança, administrar a justiça e promover o bem-estar da
comunidade política

 Poder de decisão: faz as opções consideradas adequadas à organização da vida


da comunidade política, através da promoção de regras jurídicas.

Este poder politico em estados democráticos está limitado em termos formais


(distribuição por vários órgãos) , em termos procedimentais (regras por exemplo de
como se legisla) e em termos substancionais (o poder está limitado porque tem de
respeitar os valores e princípios daquela sociedade). O poder está limitado pelo
direito.O direito constitui o poder mas também o acaba por limitar, sobretudo, a partir
da constituição.

A conceção de poder político foi muito influenciado por Jean Bodin e depois pelo
estado moderno que lhe chama soberania em vez de poder politico, mas a soberania é
sempre poder politico. É a mesma coisa. Esta soberania não é hoje vista como Jean
bodin definiu, no entanto, continua vista como manutenção de ordem interna e por
vezes na ordem internacional.

Poder politico na ordem interna:

O estado é superior e outras entidades que estão submetidas ao seu poder. O estado é do
género de uma autoridade máxima. Mesmo num estado que seja soberano não significa
que seja o único com poder. Soletra-se o poder por outras entidades do estado mas que
não são soberanas: regiões autónomas é uma manifestação deste processo: têm poderes
políticos, certas capacidades para se organizarem, fazem leis próprias, têm órgãos de
governos próprio: parlamentos e governos regionais.

Devem distinguir-se 2 modalidades:

 Desconcentração: distribuição dos poderes dentro da mesma pessoa coletiva,


isto é, os poderes são partilhados pelos diferentes órgãos do mesmo;

 Descentralização: processo pelo qual o estado cria pessoas coletivas, distribui o


seu poder, atribui funções e poderes, mas não são soberanas

 descentralização política: refere-se às regiões autónomas –


entidades de base territorial que exercem poderes próprios
( legislativo por exemplo) mas sempre enquadrados no Estado
português;

 descentralização administrativa: não podem ser essas entidades


a definir as leis mas têm poderes de se administrar consoante as
suas necessidades – municípios e freguesias.
Poder politico na ordem externa:

Ius tractum: poder de fazer tratados


Ius legaciones – poder de estabelecer relações com outros Estados;
Ius bellium – direito de legítima defesa mas que hoje esta um pouco limitado

Com a Carta das Nações Unidas (1945) a ius bellium desaparece e é substituído pelo
direito de utilizar a força apenas em legítima defesa. Hoje ainda se acrescentam:
- o direito de fazer parte de organizações internacionais.
- o direito de reclamação internacional (tribunais internacionais)

Contudo, há casos onde o poder político não é soberano, podendo ser:

 Semi-soberanos- não têm soberania plena nas relações internacionais:


-Estados confederados (membros de confederações, têm poderes, mas atribuem alguns,
deixando de ter determinados poderes);
-Estados vassalos- estado de vassalagem perante outro estado;
-Estados neutralizados- não intervêm em assuntos militares no plano internacional.
-Exíguos- Estados com território reduzido que por si só não têm soberania externa
completa e têm necessidade de associação a um outro Estado numa ordem externa (ex.:
Andorra, Mónaco, Liechtenstein
-Protegidos – protetora dos coloniais (ex.: Commonwealth, Gronelândia, Dinamarca);
- Estados membros de relações internacionais

 Estados não-soberanos: soberanos do ponto de vista interno mas no externo


não:
- Estado federado (estados membros de federações)
-Estados membros de uma união real (estados têm competências nacionais mas os
internacionais são exercícios por órgãos da união real).

Portugal: estado português e soberano na ordem interna e externa Art.1,9,288 da


CRP. Princípios das relações internacionais – Art.7 da CRP.

Artigo 1.º
República Portuguesa
Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na
vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária.

Artigo 9.º
Tarefas fundamentais do Estado
São tarefas fundamentais do Estado:
a) Garantir a independência nacional e criar as condições políticas, económicas,
sociais e culturais que a promovam;
b) Garantir os direitos e liberdades fundamentais e o respeito pelos princípios do
Estado de direito democrático;
c) Defender a democracia política, assegurar e incentivar a participação democrática
dos cidadãos na resolução dos problemas nacionais;
d) Promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os
portugueses, bem como a efetivação dos direitos económicos, sociais, culturais e
ambientais, mediante a transformação e modernização das estruturas económicas e
sociais;
e) Proteger e valorizar o património cultural do povo português, defender a natureza e
o ambiente, preservar os recursos naturais e assegurar um correto ordenamento do
território;
f) Assegurar o ensino e a valorização permanente, defender o uso e promover a difusão
internacional da língua portuguesa;
g) Promover o desenvolvimento harmonioso de todo o território nacional, tendo em
conta, designadamente, o carácter ultraperiférico dos arquipélagos dos Açores e da
Madeira;
h) Promover a igualdade entre homens e mulheres.

Artigo 288.º
Limites materiais da revisão
As leis de revisão constitucional terão de respeitar:
a) A independência nacional e a unidade do Estado;
b) A forma republicana de governo;
c) A separação das Igrejas do Estado;
d) Os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos;
e) Os direitos dos trabalhadores, das comissões de trabalhadores e das associações
sindicais;
f) A coexistência do sector público, do sector privado e do sector cooperativo e social
de propriedade dos meios de produção;
g) A existência de planos económicos no âmbito de uma economia mista;
h) O sufrágio universal, direto, secreto e periódico na designação dos titulares eletivos
dos órgãos de soberania, das regiões autónomas e do poder local, bem como o sistema
de representação proporcional;
i) O pluralismo de expressão e organização política, incluindo partidos políticos, e o
direito de oposição democrática;
j) A separação e a interdependência dos órgãos de soberania;
l) A fiscalização da constitucionalidade por ação ou por omissão de normas jurídicas;
m) A independência dos tribunais;
n) A autonomia das autarquias locais;
o) A autonomia político-administrativa dos arquipélagos dos Açores e da Madeira

Artigo 7.º
Relações internacionais
1. Portugal rege-se nas relações internacionais pelos princípios da independência
nacional, do respeito dos direitos do homem, dos direitos dos povos, da igualdade entre
os Estados, da solução pacífica dos conflitos internacionais, da não ingerência nos
assuntos internos dos outros Estados e da cooperação com todos os outros povos para
a emancipação e o progresso da humanidade.
2. Portugal preconiza a abolição do imperialismo, do colonialismo e de quaisquer
outras formas de agressão, domínio e exploração nas relações entre os povos, bem
como o desarmamento geral, simultâneo e controlado, a dissolução dos blocos político-
militares e o estabelecimento de um sistema de segurança coletiva, com vista à criação
de uma ordem internacional capaz de assegurar a paz e a justiça nas relações entre os
povos.
3. Portugal reconhece o direito dos povos à autodeterminação e independência e ao
desenvolvimento, bem como o direito à insurreição contra todas as formas de opressão.
4. Portugal mantém laços privilegiados de amizade e cooperação com os países de
língua portuguesa.
5. Portugal empenha-se no reforço da identidade europeia e no fortalecimento da ação
dos Estados europeus a favor da democracia, da paz, do progresso económico e da
justiça nas relações entre os povos.
6. Portugal pode, em condições de reciprocidade, com respeito pelos princípios
fundamentais do Estado de direito democrático e pelo princípio da subsidiariedade e
tendo em vista a realização da coesão económica, social e territorial, de um espaço de
liberdade, segurança e justiça e a definição e execução de uma política externa, de
segurança e de defesa comuns, convencionar o exercício, em comum, em cooperação
ou pelas instituições da União, dos poderes necessários à construção e
aprofundamento da união europeia.
7. Portugal pode, tendo em vista a realização de uma justiça internacional que
promova o respeito pelos direitos da pessoa humana e dos povos, aceitar a jurisdição
do Tribunal Penal Internacional, nas condições de complementaridade e demais termos
estabelecidos no Estatuto de Roma.

O poder politico não é estático, vai se adaptando.


Há quem entenda que a soberania do estado está enfraquecida pela participação em
organizações internacionais. Outros dizem q não, o estado passa a ter o poder de
colaborar com outros estados e influenciar políticas globais. O estado coopera e partilha
soberania mas com isso ganha a possibilidade de interferir e participar em políticas
globais. Pode reforçar os seus poderes.
Fins do estado

Cada estado é geral e existe para atingir determinados fins. Os fins do estado português
encontram-se na CRP. Se olharmos para a teoria das ideias políticas, denota-se que
diferentes autores apresentam diferentes fins do estado. Ex: Aristóteles- atingir a justiça;
Locke- garantir as liberdades individuais.

De um modo geral, os fins do estado são: segurança, justiça e bem estar social e
cultural.

Contudo, estes fins do estado não são sempre os mesmos ao longo tempo e do local. Os
fins do estado mudaram quando passamos de um estado liberal para um estado social.
No estado liberal, a atuação visa principalmente alcançar a segurança e a justiça
comutativa. No estado social, a atuação concentra-se na procura da justiça
distributiva e no bem estar económico, social e cultural

Desta forma, se o Estado tem fins, tem de ter meios, órgãos e atividades para alcançar
esses fins, meios esses denominados funções do Estado. Desta forma, as funções do
estado são um conjunto de atos e procedimentos desenvolvidos pelos órgãos do
estado para atingir os seus fins, são juridicamente reguladas. Atualmente, no estado
enquanto estrutura que desempenha varias funções existe o principio da separação de
poderes. Nos estados de direito temos os poderes do estado organizados segundo a
técnica de separação de poderes- desenvolvida por Montesquieu mas não foi inventada
por ele, já vem desde a antiguidade e Locke também a introduz. A separação de poderes
não era da mesma forma compreendida no estado de direito e no estado social.
Passamos a ter formas de distribuição de poderes mais complicados. Governos que
legislam que em termos clássicos é uma atividade associado ao parlamento. Quando
olhamos para uma separação de poderes, podemos ter o mesmo órgão a desempenhar
várias funções. O governo português faz e executa leis. A mesma função exercida por
vários órgãos, legislar, que em Portugal é exercido pelo governo, parlamento e
assembleias regionais – artigo 111 da CRP. Há uma separação de poderes mas não é
uma trilogia tão rígida. como mostesquieu defendeu. Não temos uma divisão 1 poder –
1 órgão.

Artigo 111.º - (Separação e interdependência) - CRP

1. Os órgãos de soberania devem observar a separação e a interdependência


estabelecidas na Constituição.
2. Nenhum órgão de soberania, de região autónoma ou de poder local pode
delegar os seus poderes noutros órgãos, a não ser nos casos e nos termos
expressamente previstos na Constituição e na lei.
Atualmente, tipicamente as funções do estado são as funções base, mais mais
elaboradas. Existem varias teorias para as funções do estado.

 Todas as teorias concordam que existe função administrativa, legislativa e


jurisdicional.
 Hoje em dia os autores tendem a autonomizar a ação política, cabe lhe a
condução da vida política em geral.

 Há também uma distinção entre funções ditas primárias – primeiro grau – e


funções secundarias – segundo grau.

 Percebe-se que algumas funções são lógica e cronologicamente anteriores às


outras.
A administração executa a lei, logo a lei é anterior ao ato executivo da lei. É lógico percebermos que
algumas destas funções têm que se exercer antes das outras.

A lei há-de ser função primária, e a função judicial será função secundária.

Funções primárias Funções secundárias

 Há uma função pela qual o estado


estabelece as opções políticas
fundamentais ;  Desenvolvimento das opções
políticas fundamentais;
 Conduzem e antecedem as funções
secundárias;  Primeiro existe a lei e só depois se
pode executar a mesma - função
 Função legislativa e função política administrativa e jurisdicional
(concretizar as finalidades políticas
da comunidade).

Função jurídica em sentido amplo

Funções independentes, principais ou primarias:

-Função política em sentido restritivo ou governativo: traduz-se na definição e prossecução pelos órgãos
do poder político dos interesses essenciais da coletividade

-Função legislativa: traduz-se tipicamente em fazer leis, autonomização da função constituinte porque é uma
lei específica – segundo o PR

Esta divisão é feliz porque demonstra que a função legislativa associada a fazer leis ainda é associada à
política, ou seja. ainda é um bem comum da pólis. As leis são um meio para identificarmos aquilo que é
importante para aquela comunidade.
Funções dependentes, subordinadas ou secundárias

- Função administrativa: “consiste na satisfação das necessidades coletivas que, por virtude de prévia opção
política ou legislativa se entende que incumbe ao Estado prosseguir, encontrando- se tal tarefa cometida a
órgãos interdependentes, dotados de iniciativa e de parcialidade na realização do interesse público, e com
titulares amovíveis e responsáveis pelos seus atos. A função administrativa cumpre a lei . Pode ser
desempenhada por outras entidades nomeadas pelo estado -descentralização. Tem por objetivo realizar o
interesse público. Muitos autores dizem que se define pela parcialidade.

-Função jurisdicional: “consiste no julgamento de litígios, resultantes de conflitos de interesses privados, ou


públicos e privados, bem como a punição da violação da Constituição e das leis, através de órgãos entre si
independentes, colocados numa posição de passividade ( a sua intervenção tem de ser pedida) e
imparcialidade, e cujos titulares (os juízes) são inamovíveis e, em princípio, não podem ser sancionados pela
forma como exercem a sua atividade”. Tribunais são órgãos independentes e os seus juizes também.
Enquanto que na administrativa está organizada de forma hierárquica, aqui não há hierarquia de “submissão”.
Há hierarquia mas não é para dar ordens, se não concordarmos com determinada decisão podemos recorrer a
um tribunal superior.

Loewenstein fez uma teoria sobre o organização do estado: decisão que é


tomada, efectuada pelo legislador, administração, tribunais e depois alguém
que fiscaliza e controla. Esta função de fiscalização e controlo materializa-se
em varias dimensões: controlo entre os vários orgãos (presidente da república
que veta uma lei, fiscaliza a função do legislador).

Estado como pessoa coletiva:

O Estado é uma pessoa coletiva, ou seja, é “distinta de cada uma das pessoas físicas que
compõem a comunidade e dos próprios governantes e suscetível de entrar em relações
jurídicas com outras entidades”

Estado é uma pessoa jurídica com capacidade de estabelecer relações jurídicas no plano
interno e no plano internacional;

O estado não se confunde com as pessoas que estão a ocupar os órgãos que integram o
estado. As pessoas mudam e o estado mantém-se. Como o estado não é uma pessoa
física tem de ter uma organização interna, permanece porque tem órgãos – centros
autónomos, institucionalizados de formação e emanação da vontade da pessoa coletiva.

É nestes órgãos que se forma a vontade jurídica do estado. A sua vontade é a vontade do
estado. O que as pessoas que são titulares dos órgãos fazem? A vontade desse órgão.

Órgão é um “centro autónomo institucionalizado de emanação de uma vontade que


lhe é atribuída, sejam quais forem a relevâncias, o alcance ou os efeitos que ela
assuma; centro de formação de atos jurídicos do Estado; instituição, tornada efetiva
através de uma ou mais de uma pessoa física, de que o Estado carece para agir”.

Perdura ao longo do tempo, embora as pessoas mudem.

 Competências: poderes que o órgão tem. Ordem jurídica que estabelece as


competências: principio da prescrição normativa das competências. Desta forma,
competência não se presume tem de estar expressa.

 Titular: pessoa que num determinado momento pertence aquele órgão e cumpre
a vontade do órgão. As pessoas mudam – principio da renovação. Quem ocupa o
lugar e como exerce as suas funções (legitimidade).

Cargo ou mandato: é uma expressão que se utiliza quando se trata de um órgão


eletivo. Função do titular que manifesta um conjunto de atos de acordo com a vontade
do órgão por um determinado período de tempo.

Nota:
Um órgão pode extinguir-se. A vida dos órgãos pode sofrer vicissitudes. A CRP regula
bastante os órgãos do estado – artigo 110, 119 e outros vamos encontrar muitas regras
de funcionamento do estado.

Artigo 110º CRP: 1. São órgãos de soberania o Presidente da República, a Assembleia


da República, o Governo e os Tribunais. 2. A formação, a composição, a competência e
o funcionamento dos órgãos de soberania são os definidos na Constituição

Artigo 119º CRP: 1. São publicados no jornal oficial, Diário da República:

a) As leis constitucionais;
b) As convenções internacionais e os respectivos avisos de ratificação, bem
como os restantes avisos a elas respeitantes;
c) As leis, os decretos-leis e os decretos legislativos regionais;
d) Os decretos do Presidente da República;
e) As resoluções da Assembleia da República e das Assembleias
Legislativas das regiões autónomas;
f) Os regimentos da Assembleia da República, do Conselho de Estado e das
Assembleias Legislativas das regiões autónomas;
g) As decisões do Tribunal Constitucional, bem como as dos outros
tribunais a que a lei confira força obrigatória geral;
h) Os decretos regulamentares e os demais decretos e regulamentos do
Governo, bem como os decretos dos Representantes da República para as regiões
autónomas e os decretos regulamentares regionais;
i) Os resultados de eleições para os órgãos de soberania, das regiões
autónomas e do poder local, bem como para o Parlamento Europeu e ainda os
resultados de referendos de âmbito nacional e regional.

2. A falta de publicidade dos actos previstos nas alíneas a) a h) do número


anterior e de qualquer acto de conteúdo genérico dos órgãos de soberania, das regiões
autónomas e do poder local implica a sua ineficácia jurídica.
3. A lei determina as formas de publicidade dos demais actos e as consequências
da sua falta.

Classificações de órgãos:

Órgãos singulares: aqueles q só tem um titular


Órgãos colegiais: têm vários titulares. Podemos ter:

- assembleias que são um tipo de órgão colegial que se caracterizam por ter pluralidade
(membros de diferentes ideologias) que existem para representar uma comunidade e os
seus interesses. A assembleia toma decisões que conseguem reunir algum acordo entre
estes membros muitas vezes por recurso à regra da maioria. Órgão colegial de tipo
assembleia. A assembleia da republica portuguesa tem 230 deputados;

- conselho de ministros.

Mas se os órgãos colegiais tem vários membros como se tomam as decisões? Existem
regras. Essas regras estão na CRP: funcionamento dos órgãos colegiais em geral. Temos
regras mais específicas para a assembleia da republica: regimento interno para o seu
funcionamento. Para os órgãos administrativos há o código administrativo. Há regras
gerais e regras mais especiais.

Quorum: número mínimo de pessoas que têm de estar presentes para o órgão funcionar
e para poder tomar uma decisão. 1/5 dos deputados para discutir um assunto –
regimento da AR. Para a assembleia da republica tomar uma decisão têm de estar
presentes 116 pessoas (maioria absoluta – metade mais um). Porque existem estas
regras? Para garantir que no momento de tomar a decisão esta la um nº suficiente para
representar os interesses do comunidade.

Votações:
- maioria absoluta: 50% + 1
-maioria relativa – mais votos a favor do que contra
- maiorias qualificadas: 2/3, ¾

Maioria relativa em pt: art.116º CRP - 1. O sufrágio directo, secreto e periódico


constitui a regra geral de designação dos titulares dos órgãos electivos da soberania,
das regiões autónomas e do poder local.
2. O recenseamento eleitoral é oficioso, obrigatório e único para todas as
eleições por sufrágio directo e universal.
3. As campanhas eleitorais regem-se pelos seguintes princípios:

a) Liberdade de propaganda;
b) Igualdade de oportunidades e de tratamento das diversas candidaturas;
c) Imparcialidade das entidades públicas perante as candidaturas;
d) Fiscalização das contas eleitorais.
4. Os cidadãos têm o dever de colaborar com a administração eleitoral, nas
formas previstas na lei.
5. A conversão dos votos em mandatos far-se-á de harmonia com o princípio da
representação proporcional.
6. O julgamento da validade dos actos eleitorais compete aos tribunais.

Órgãos simples
Órgãos complexos: órgãos que se desdobram em mais órgãos. Ex: o governo é um
órgão em si mas dentro do governo podemos encontrar outro órgão chamado conselho
de ministros.O próprio ministro também é um órgão dentro do governo

Os órgãos podem ser:


• Eletivos : eleição é o modo de designação de titulares
• Não eletivos : eleição não é o modo de designação de titulares

E ainda:
• Constitucionais : previstos na constituição
- órgãos de soberania: ligação ao poder soberano do Estado
• Não constitucionais : reguladores, que não estão previstos na CRP

Órgãos: tribunais, assembleia da república, governo, presidente da republica

Nem todos os órgãos constitucionais são soberanos: provedor de justiça é um órgão


constitucional mas não e um órgão de soberania.

Competências dos órgãos:

Órgãos deliberativos
Órgãos consultivos: dar conselhos

O mesmo órgão pode ter estas duas competências.

Órgãos primários: condições de normalidade


Órgãos vicários- aqueles que substituem. Quando o PR não pode assumir funções,
quem as assume é o presidente da AR.

Órgãos hierarquizados: tribunais


Órgãos independentes: presidente da república

Formas de designação dos Titulares dos órgãos:


São aquelas que têm na sua origem o Direito vigente, nomeadamente as previstas na
Constituição.

• Herança/Sucessão hereditária – forma de designação que tem na sua base a


transmissão hereditária de funções, isto é, em que o titular do órgão vai
desempenhar o cargo em resultado da aplicação das regras da sucessão numa
mesma família;
• Sorteio: as regras do acaso determinam quem será o titular do órgão; não é muito
utilizado atualmente

• Inerência: quando o desempenho de funções num órgão implica o desempenho de


funções num órgão distinto; pode acontecer ao mesmo tempo, ou sucessivamente
o Exemplo: por ser PR passa a ser membro do conselho de Estado)

• Rotação: forma de designação que resulta de sequência temporal de pessoas. No


momento em que a pessoa anterior deixa de exercer o cargo, é chamada a suceder
a pessoa que lhe segue de acordo com a ordem da rotação.
- Exemplo: presidência rotativa

• Antiguidade: o titular é escolhido consoante a idade ou o tempo de exercício de


funções; critério cronológico

• Eleição: escolha dos governantes feita através de votos de uma pluralidade de


pessoas; critério de vontade; todos aqueles que podem votar para escolher são
eleitores e todos os eleitores juntos formam o colégio eleitoral

• Cooptação : escolha do titular de um órgão por outros titulares do mesmo órgão.


Pode ser:
o Sucessiva (quando o titular de um órgão escolhe o seu sucessor)
o Simultânea (quando num órgão colegial os titulares em exercício têm o
direito de escolher as pessoas que irão ocupar as vagas disponíveis);

• Nomeação : designação do titular de um órgão pelo titular de um órgão diferente

• Aclamação: escolha de alguém para a titularidade de um órgão por efeito de


manifestação coletiva de vontade em público.
o Por exemplo, a aclamação dos reis, vontade coletiva publicamente expressa
para a titularidade do órgão (rei D: João I)
- aquisição revolucionaria: quando os titulares de um órgão soa escolhidos após
um momento revolucionário (Junta salvação nacional)

A eleição é um ato de sufrágio (ato de escolha).

Notas:
• A eleição, no constitucionalismo moderno, tornou-se a forma de
designação mais recorrente
• Se chamamos eleição : sufrágio de pessoas
• Se chamamos referendo: sufrágio de ideias, soluções legislativas
• O sufrágio é um direito fundamental, consagrado na CRP
- ligado a uma ideia de renovação (PR não pode ser eleito para um 3º
mandato consecutivo)
Forma de estado: modo como se relacionam entre si os elementos de estado.
Obriga nos a olhar para a forma como o poder se organiza nesse território.
Forma de estado é aquilo que permite organizar os estados em simples/
unitários ou compostos/complexos.

Do ponto de vista interno, os estados podem ser:

Estados unitários/simples

 Centro do poder político;

 Uma só constituição,

 Existe um único poder politico para todo o território;

 Podem e têm, normalmente, descentralização. Há, desta forma, partilha


do poder com outras entidades. No entanto, tudo se passa dentro do
estado.

 Podem ser estados regionalizados. A descentralização implica sempre a


criação de novas pessoas coletivas. Esta descentralização política pode
afetar a forma de estado. Podemos ter estados unitários que estão
divididos em regiões políticas – estados unitários regionalizados. A
descentralização administrativa não tem implicações no estado.

Exemplo: caso português – duas regiões autónomas com órgãos de


poder próprios. Portugal: estado unitário regionalizado parcialmente.

Regionalização política: total ou parcial.


Estatuto do estado unitário: homogéneo ou heterogéneo

Os estados regionalizados, segundo alguns autores, nem deviam estar na


categoria de estados unitários. Deveria existir uma outra categoria para além
do estado composto e do estado unitário: o estado regionalizado. O estado
regionalizado é um estado unitário que pode ser total, todo o território se
divide em regiões autónomas (caso espanhol) ou parcial, território que não
está todo dividido em regiões autónomas (caso português). Essas regiões
podem ter um estatuto homogéneo (as vários regiões têm os mesmo poderes -
RA) ou um estatuto heterogéneo (as comunidades não têm todas exatamente
os mesmo poderes – Espanha).

Artigo 225.º
(Regime político-administrativo dos Açores e da Madeira)
1. O regime político-administrativo próprio dos arquipélagos dos
Açores e da Madeira fundamenta-se nas suas características geográficas,
económicas, sociais e culturais e nas históricas aspirações autonomistas das
populações insulares.
2. A autonomia das regiões visa a participação democrática dos
cidadãos, o desenvolvimento económico-social e a promoção e defesa dos
interesses regionais, bem como o reforço da unidade nacional e dos laços de
solidariedade entre todos os portugueses.
3. A autonomia político-administrativa regional não afecta a
integridade da soberania do Estado e exerce-se no quadro da Constituição.

NOTA: Há uma constituição para todo o território No entanto, as RA têm


uma lei onde estão previstas os seus poderes: estatutos político-
administrativos (226º CRP). Estes estatutos, que expressam a sua autonomia,
são aprovados pela AR e não pelas RA. Têm uma organização própria mas
não têm uma constituição. Poderes das RA (227º CRP): administrativos,
poderes em matéria financeira, mas também importantes poderes legislativos.
O poder de legislar é um exemplo de uma função política por excelência. As
RA podem exercer poderes legislativos. Não podem legislar em matérias
exclusivas da AR. Têm importantes poderes próprios. Têm órgãos de governo
próprios (231º CRP). Existe um representante da república (230º CRP). É um
órgão da república mas não é um órgão da RA. Esta estrutura aplica-se a
ambas as regiões.

Artigo 226.º
(Estatutos e leis eleitorais)
1. Os projectos de estatutos político-administrativos e de leis relativas à
eleição dos deputados às Assembleias Legislativas das regiões autónomas
são elaborados por estas e enviados para discussão e aprovação à
Assembleia da República.

2. Se a Assembleia da República rejeitar o projecto ou lhe introduzir


alterações, remetê-lo-á à respectiva Assembleia Legislativa para apreciação
e emissão de parecer.

3. Elaborado o parecer, a Assembleia da República procede à discussão e


deliberação final.

4. O regime previsto nos números anteriores é aplicável às alterações dos


estatutos político-administrativos e das leis relativas à eleição dos deputados
às Assembleias Legislativas das regiões autónomas.

Artigo 227.º
(Poderes das regiões autónomas)

1. As regiões autónomas são pessoas colectivas territoriais e têm os


seguintes poderes, a definir nos respectivos estatutos:

a) Legislar no âmbito regional em matérias enunciadas no


respectivo estatuto político-administrativo e que não estejam reservadas aos
órgãos de soberania;
b) Legislar em matérias de reserva relativa da Assembleia da
República, mediante autorização desta, com excepção das previstas nas
alíneas a) a c), na primeira parte da alínea d), nas alíneas f) e i), na segunda
parte da alínea m) e nas alíneas o), p), q), s), t), v), x) e aa) do n.º 1 do artigo
165.º;
c) Desenvolver para o âmbito regional os princípios ou as bases
gerais dos regimes jurídicos contidos em lei que a eles se circunscrevam;
d) Regulamentar a legislação regional e as leis emanadas dos
órgãos de soberania que não reservem para estes o respectivo poder
regulamentar;
e) Exercer a iniciativa estatutária, bem como a iniciativa
legislativa em matéria relativa à eleição dos deputados às respectivas
Assembleias Legislativas, nos termos do artigo 226.º;
f) Exercer a iniciativa legislativa, nos termos do n.º 1 do artigo
167.º, mediante a apresentação à Assembleia da República de propostas de
lei e respectivas propostas de alteração;
g) Exercer poder executivo próprio;
h) Administrar e dispor do seu património e celebrar os actos e
contratos em que tenham interesse;
i) Exercer poder tributário próprio, nos termos da lei, bem como
adaptar o sistema fiscal nacional às especificidades regionais, nos termos de
lei quadro da Assembleia da República;
j) Dispor, nos termos dos estatutos e da lei de finanças das
regiões autónomas, das receitas fiscais nelas cobradas ou geradas, bem como
de uma participação nas receitas tributárias do Estado, estabelecida de
acordo com um princípio que assegure a efectiva solidariedade nacional, e de
outras receitas que lhes sejam atribuídas e afectá-las às suas despesas;
l) Criar e extinguir autarquias locais, bem como modificar a
respectiva área, nos termos da lei;
m) Exercer poder de tutela sobre as autarquias locais;
n) Elevar povoações à categoria de vilas ou cidades;
o) Superintender nos serviços, institutos públicos e empresas
públicas e nacionalizadas que exerçam a sua actividade exclusiva ou
predominantemente na região, e noutros casos em que o interesse regional o
justifique;
p) Aprovar o plano de desenvolvimento económico e social, o
orçamento regional e as contas da região e participar na elaboração dos
planos nacionais;
q) Definir actos ilícitos de mera ordenação social e respectivas
sanções, sem prejuízo do disposto na alínea d) do n.º 1 do artigo 165.º;
r) Participar na definição e execução das políticas fiscal,
monetária, financeira e cambial, de modo a assegurar o controlo regional
dos meios de pagamento em circulação e o financiamento dos investimentos
necessários ao seu desenvolvimento económico-social;
s) Participar na definição das políticas respeitantes às águas
territoriais, à zona económica exclusiva e aos fundos marinhos contíguos;
t) Participar nas negociações de tratados e acordos
internacionais que directamente lhes digam respeito, bem como nos
benefícios deles decorrentes;
u) Estabelecer cooperação com outras entidades regionais
estrangeiras e participar em organizações que tenham por objecto fomentar o
diálogo e a cooperação inter-regional, de acordo com as orientações
definidas pelos órgãos de soberania com competência em matéria de política
externa;
v) Pronunciar-se por sua iniciativa ou sob consulta dos órgãos de
soberania, sobre as questões da competência destes que lhes digam respeito,
bem como, em matérias do seu interesse específico, na definição das posições
do Estado Português no âmbito do processo de construção europeia;
x) Participar no processo de construção europeia, mediante
representação nas respectivas instituições regionais e nas delegações
envolvidas em processos de decisão da União Europeia, quando estejam em
causa matérias que lhes digam respeito, bem como transpor actos jurídicos
da União, nos termos do artigo 112.º

2. As propostas de lei de autorização devem ser acompanhadas do


anteprojecto do decreto legislativo regional a autorizar, aplicando-se às
correspondentes leis de autorização o disposto nos n.ºs 2 e 3 do artigo 165.º
3. As autorizações referidas no número anterior caducam com o termo
da legislatura ou a dissolução, quer da Assembleia da República quer da
Assembleia Legislativa a que tiverem sido concedidas.
4. Os decretos legislativos regionais previstos nas alíneas b) e c) do n.º
1 devem invocar expressamente as respectivas leis de autorização ou leis de
bases, sendo aplicável aos primeiros o disposto no artigo 169.º, com as
necessárias adaptações.

Artigo 230.º
(Representante da República)

1. Para cada uma das regiões autónomas há um Representante da


República, nomeado e exonerado pelo Presidente da República ouvido o
Governo.
2. Salvo o caso de exoneração, o mandato do Representante da
República tem a duração do mandato do Presidente da República e termina
com a posse do novo Representante da República.
3. Em caso de vagatura do cargo, bem como nas suas ausências e
impedimentos, o Representante da República é substituído pelo presidente da
Assembleia Legislativa.

Artigo 231.º
(Órgãos de governo próprio das regiões autónomas)

1. São órgãos de governo próprio de cada região autónoma a


Assembleia Legislativa e o Governo Regional.
2. A Assembleia Legislativa é eleita por sufrágio universal, directo e
secreto, de harmonia com o princípio da representação proporcional.
3. O Governo Regional é politicamente responsável perante a
Assembleia Legislativa da região autónoma e o seu presidente é nomeado
pelo Representante da República, tendo em conta os resultados eleitorais.
4. O Representante da República nomeia e exonera os restantes
membros do Governo Regional, sob proposta do respectivo presidente.
5. O Governo Regional toma posse perante a Assembleia Legislativa da
região autónoma.
6. É da exclusiva competência do Governo Regional a matéria
respeitante à sua própria organização e funcionamento.
7. O estatuto dos titulares dos órgãos de governo próprio das regiões
autónomas é definido nos respectivos estatutos político-administrativos.

Estados complexos/compostos

 Há pluralidade de níveis estaduais, centros políticos e constituições.

 Exemplo por excelência do estado composto: federação, que assenta


numa dupla estrutura de sobreposição: duas constituições, dois
aparelhos de poder, leis que vêm de dois níveis de órgãos legislativos e
de dois níveis de órgãos jurisdicionais.

 Para além da sobreposição, existe também uma participação, o poder


político central partilha poderes com os níveis federados. Os estados
federados participam na tomada de decisões dos orgãos da federação e
participam na aprovação e revisão da constituição.

 Os Federalismos não são todos iguais. O federalismo americano é o


exemplo.

 Existem diferentes caracterizações de federalismo:


- Federalismos perfeitos: resultam da vontade de todos os estados
- Federalismos imperfeitos: são impostos – um estado unitário
transforma- se em estado federal por imposição
- Federalismo igualitário: todos os estados com os mesmos poderes
-Federalismo desigualitário: estados com poderes diferentes,
exemplo: ex URSS
-Federalismo de tipo horizontal: há matérias respetivas da federação
e há matérias específicas do estados federais
-Federalismo de tipo vertical: uma mesma matéria pode ser tratada
pelos dois tipos, mistura entre as competências

 O federalismo tenta conciliar a unidade e a diversidade, poderes


próprios e poderes partilhados. Tem de dividir competências entre o
nível federal e os níveis federados.

 O governo federal tem tarefas que dizem respeito a todo o território.


Educação, transportes, por exemplo, são temas mais vocacionados para
os estados federais por perceberem melhor as necessidades das pessoas
uma vez que estão mais ligados a elas.

 Do ponto de vista constitucional, uma federação tem uma constituição


e os estados federados também têm uma constituição, no entanto, os
últimos referidos têm de respeitar a constituição da federação, caso não
o façam há sanções.

 Há diferenças entre um estado regional e um estado federal. Um estado


regional não tem constituição mas os estados federais têm, mas é
apenas estadual, como referido anteriormente, ou seja, têm de respeitar
a de federação.

 Uniões reais são diferentes de estados federais. Num estado federal há um


estrutura federal própria, constituição, órgãos próprios, nas uniões reais, há
alguns órgãos dos estados membros que são postos em comum, o chefe de
estado, por exemplo. Há órgãos que são comuns e depois cada um dos estado
tem órgãos próprios. Para alguns autores, são uniões compostas. Exemplos:
Portugal 1815 a 1822 e também a Commonwealth. União pessoal e união
real??? Perguntar diferenças.

Porque se adota uma ou outra forma de estado?

 Os estados unitários refletem uma certa homogeneidade em termos históricos,


territoriais, ao passo que os estados federais refletem um conjunto de
comunidades unidas mas que revelam uma certa heterogeneidade. Realidade
históricas diferentes por exemplo.
 A forma como organizamos o estado também traduz a forma como se dividem
os poderes. Divisão desde os órgãos centrais para os órgãos locais para existir
maior democracia. E há outros estados que em vez de dividirem no mesmo
território, atribuem poderes a outras pessoas coletivas ou a outras regiões. O
facto de um estado ser plural ao nível de nações pode justificar que um estado
adote um tipo de estado regionalizado ou até mesmo uma federação. Há fatores
biológicos também implícitos.

 As formas de estado composto podem ter problemas: divisão de poderes, por


exemplo. É necessário ter unidade e igualdade.

 Há vários fatores, desta forma, que podem afetar a adoção ou não destas formas.

Os estados podem também associar-se a outros estados: associações de estados. São


também formas políticas mas que resultam de tratados não de constituições. Dentro
destas associações, temos as confederações. É algo menos intenso. São laços que se
estabelecem mas não criam novos estados. Umas das modalidades clássicas é a
confederação, como referido anteriormente. Com a confederação podemos verificar
alguns fenómenos: ou desaparece ou torna-se muito forte levando à criação de um novo
estado. A confederação constitui -se por um tratado que cria uma entidade: órgãos
próprios com competências próprias normalmente em matéria internacionais. Um estado
tem uma competência genérica e o que temos aqui é abordagem de apenas algumas
matérias. Nos EUA e na Suíça antes de se verificar uma federação, existia uma
confederação.

Outra forma dos estados se associarem entre si: organizações internacionais


– organizações supra nacionais. Plano económico (inicialmente) que depois
evolui para uma intervenção política, habitualmente. Não se trata de criar
estados nem organizações simples . A União Europeia está algures entre a
confederação e a federação. A supra nacionalidade traduz se na criação de
uma entidade que está acima dos estados, mas que não é um estado. Têm
órgãos próprios que têm autonomia face aos estados e, desta forma, têm
poderes de fazer normas jurídicas que se aplicam diretamente nos estados. Ex:
União Europeia.

Tratados: acordo vinculativo entre os estados.

As organizações internacionais tomam decisões que necessitam de unanimidade de


todos os estados para aprovarem uma decisão. Atualmente, existem formas mais
intensas de organização, com transferências mais intensas do estados membros para
estas organizações. Há mais poderes conferidos pelos estados a estas organizações, por
exemplo, matérias cuja união tem exclusiva competência ou, por vezes, competências
partilhadas com os estados.

União Europeia

 Este sistema criado tem órgãos próprios;


 Tem um parlamento (representa os povos da união);
 Tem um sistema jurídico com características próprias.
Mudanças feitas: Muitas decisões são tomadas por maioria (fim do critério da
unanimidade).

No âmbito da União Europeia há uma produção de normas associada. O sistema


jurídico da união tem características diferentes.

Dois atos típicos:

 Regulamentos: conjunto de normas que se aplicam diretamente na ordem


jurídica dos estados e os estados adaptam-se a essas normas) e;

 Diretivas: também são normas mas são transpostas. São definidas pela UE e
depois o estado cria normas para atingir os fins decididos.

O tribunal de justiça da união fiscaliza o direito da união e o direito comunitário


(princípio do primado) - deve aplicar-se da mesma forma e intensidade no espaço
europeu. Aplicar de forma uniforme. Grande território jurídico.
Estes elementos são “federalizantes” – reforçam o poder da união e apontam para uma
identidade política com poderes muito fortes. No entanto, não se trata de um estado.
Não há território da união, o território pertence a cada estado. Não há um povo da união.
Existe a cidadania europeia mas é uma cidadania de segunda linha. Não há um vínculo
originário que ligue à união. Mesmo o poder politico da união, hoje em dia, tem muitas
tarefas típicas da soberania de um estado mas ainda não tem a competência das
competências. As suas competências são competências que os estados atribuem à união.
Não tem um poder originário. Elementos que apontam para uma estadualização mas ao
mesmo tempo não. Não é uma uma federação nem uma organização internacional
simples, é uma organização supranacional de integração. “Objeto politico não
identificado”.

Um estado pode sempre abandonar a união e durante muito tempo discutiu-se isso.

Multiculturalidade e multiculturalismo

 reflexão sobre a realidade do estado


 o estado já não esta sozinho
 as fronteiras são transpostas por pessoas, bens, mercadorias, recursos naturais,
fatores climáticos…

Não há um estado mundial mas podemos ter questões a serem resolvidas em comum.
Há uma governança comum, de questões comuns, que o estados não podem nem devem
resolver sozinhos. Nas teorias políticas e jurídicas encontramos muitas vezes a ideia de
uma perspetiva cosmopolita (termo que discorda da existência de fronteiras
geográficas): ideia de que há direitos que devem ser respeitados para alem das
fronteiras. Independentemente das nossas origens, há direitos e deveres comuns. A
lógica dos direitos humanos é, de facto, a existência de direitos para as pessoas
independentemente do local onde se encontram. Os direitos humanos são uma
linguagem universal.

A multiculturalidade é um conceito de facto. Num território de um estado podemos


encontrar pessoas que se identifiquem culturalmente de forma diferente. Com as
migrações, podemos ter pessoas com origens culturais diferentes. No território do
estado há, de facto, um diversidade cultural.

Há vários tipos de multiculturalidade:

 Estados multinacionais historicamente existentes no interior dos estados ( nações


com língua e costumes em comum).
Exemplo: Bélgica dividida em regiões linguistas – nações diferentes dentro dos
estados/ Comunidades indígenas;

 Multiculturalidade decorrente da imigração, pessoas que vêm para o estado, por


norma para trabalhar ou como refugiados (para pedir asilo), de modo a terem
melhores condições de vida (novas minorias);

 Diversidade entendida num sentido muito amplo abrigando vários


grupos historicamente vitimas de opressão/dominação pela sociedade
(“diferença posicional” -Iris marionete young);

 Minoria cigana;

 Minorias culturais.

Não há uma noção geral de multiculturalismo, visto que até a própria cultura é
difícil de definir de definir. Não tem essência, pois esta muda ao longo do
tempo.

Cultura

- Conceito muito amplo e que tem vindo a ser cada vez mais abrangente. No
seio da UNESCO traduz -se a cultura como um conjunto de traços distintivos
espirituais e materiais, intelectuais e afetivos, que caracterizam uma
sociedade ou um grupo social e que abrange, alem das artes e das letras, os
modos de vida, as maneiras de viver juntos, os sistemas de valores, as
tradições e as crenças. É um conceito que se molda. As pessoas são
dinâmicas e , por conseguinte, o conceito também assim se torna.

Erro: essencialismo – as pessoas são todas assim/ Os portugueses são todos


assim. Não se pode incorrer a um conceito de essencialismo para falar de
cultura. Não se pode limitar as pessoas a determinados atos generalizados. As
pessoas são diversificadas e em estados democráticos respeita-se essa
diversidade.

Minorias culturais

Há alguns grupos difíceis de integrar, por exemplo, a comunidade cigana –


minoria étnica.
No âmbito da cultura, a religião também pode estar aqui implícita. A religião
com maior aderência em Portugal é a católica embora com a diversidade de
pessoas também comece a existir uma diversidade religiosa. Ou seja, mesmo
que os estados sejam laicos há homogeneidade religiosa que é diversificada
pelos movimentos migratórios.

NOTA :
É relevante para a ciência política?
Que política deve o estado desenvolver? Como se deve posicionar o estado?
Como vamos valorar esta questão? Já não é uma questão de facto!

Há grupos que se encontram de forma minoraria no estado. É relevante para a


ciência política porque precisamos de perceber porque existem minorias e
quais são os objetivos do estado face a esse grupo.

Às vezes há minorias que têm poder: minorias maioritárias. A maior parte das
vezes as minorias são discriminadas.

Há uma dificuldade de definição. Possível definição:

Qualquer grupo de pessoas, residente, de forma permanente ou temporária,


no território de um estado soberano, em menor número do que o resto da
população do estado ou de uma sua região, cujos membros partilham
características comuns de natureza éticas, cultura, religiosa ou linguística
que os distingue do resto da população e manifestam ainda que apenas
implicitamente, o desejo de ser tratado como um grupo distinto (confirmar se
esta bem escrito)

Políticas que o estado pode adotar:

 não admitir a diversidade cultural (perseguições);


 deixar existir mas não os integrar;
 deixar existir e permitir a integração, numa noção comum de estado,
promovendo a relação entre as várias pessoas.

Multiculturalismo não tem só a ver como imigrantes. Há diferentes realidades.


Posições quanto ação do estado:

 Comunitaristas: há autores que entendem que o estado deve atender à


diversidade cultural e dar importância às culturas. Desta forma, tem de
haver uma regulação do estado.

 Liberais: outros autores são mais defensivos do liberalismo. O estado


não deve discriminar ninguém.O estado não tem de controlar nada,
cada um tem a sua religião e os seus costumes. O estado é laico. O
estado não tem de se envolver em nada. Para o estado todos são iguais.

Houve durante muito tempo confronto de opiniões neste sentido.

Cada cultura é como é, mas poderá existir uma questão de adaptações. Uma
minoria envolvida numa nação maioritária às vezes acaba por se adaptar a
alguns dos seus costumes: feriados católicos por exemplo.

Pessoas que por questões culturais não se adaptam a determinadas questões.


Pode o estado tomar decisões nesse sentido? Pessoas religiosas que não
podem fazer exames ao sábado, por exemplo.
Uns dizem que podemos arranjar uma solução, outros dizem que se abrir
exceções para uns têm de se abrir exceções para outros. São questões
problemáticas. As pessoas podem achar que a pessoa vai ser beneficiada se o
exame for alterado. Podem achar, também, caso o exame não for alterado, que
a pessoa está a ser discriminada.

Imaginemos que o estado proíbe exames ao sábado por questões religiosas,


fará sentido? O Estado não é laico?
Estes problemas não são fáceis porque colocam em causa algumas conceções
que temos do estado. O estado é laico. O estado não pode discriminar.

O estado tem de adaptar as suas normas?

Há alguns atores que dizem que se o estado for sensível a esta diversidade
cultural, nomeadamente, Will Kymlicka (liberal), que se deve preocupar.
Segundo este autor, as pessoas não vivem no vazio. Desenvolvem-se no
contexto cultural onde se inserem e, a partir o momento que envolve pessoas,
o estado tem de se preocupar. Will Kymlicka apresenta uma teoria liberal dos
direitos multiculturais e reconhecimento de direitos diferenciados a grupos.

Proposta de Kymlicka (ver PowerPoint):


Segundo ele, nós temos de perceber que temos diferentes grupos e eles
querem coisas diferentes. Diferentes questões - diferentes respostas. Tipos de
grupos: minorias nacionais, minorias étnicas (imigradas) e movimentos
sociais. Tipos de direitos: direitos de autogoverno, direitos poliétnicos e
direitos especiais de representação.

Apresenta exemplo de políticas destinadas a minorias de origem


imigrante:
 Programa de educação bilingue para filhos de imigrantes;
 Revisão dos curricula escolares para maior reconhecimento das
contribuições históricas e cultuais das minorias etnoculturais;
 Revisão dos calendários laborais para acomodar festividades religiosas
e das normas relativas a uniformes de corpos e forças de segurança ou
de condução (exemplo: capacete) para acomodar crenças religiosas;
 Programas educativos antirracistas;
 Subvenções públicas pata festivais etnoculturais, etc.

Estas teorias de reconhecimento da diversidade são, por vezes, criticadas:

Há estereótipos quanto à migração, há ideias de que há praticas religiosas e


tudo mais que podem colocar em causa os direitos humanos, a igualdade.
Podem existir práticas que fazem regredir, por exemplo, na igualdade de
género.

Kymlicka aprova a igualdade mas diz que existem limites.

Portugal permite a liberdade de religião. Não defende a existência de uma


religião. No entanto, tem um acordo com a concordata da religião católica
quanto aos feriados. Uma questão que surge é: Porque é que Portugal não tem,
também, acordos com outras religiões?

Do multiculturalismo à proposta intercultural

Proposta intercutltual: princípios que são comuns . Promove se o diálogo


entre diferentes comunidade para tentar concretizar a vivência pacifica.
Proposta mais exigente.

Reconhecimento da diversidade cultural:


 Forma de estado
 Conceção de democracia e participação política (deputados que
representam todos sem exceção) ;
 Direito de sufrágio
 Políticas de integração
 Acesso à cidadania (leis de cidadania que ou dificultam o seu acesso ou
facilitam)

Que tipo de políticas pode um estado desenvolver?


 reconhecer normas jurídicas (pluralismo);
 políticas no mercado de trabalho para facilitar a integração dos
migrantes

Há diferentes tipos de políticas há diferentes tipos de caminhos.


Estas questões não tem relevância só pra o direito mas também para a ciência
política. Políticas do estado cabem ao estudo da ciência política. A ciência
política tenta responder àquilo que o estado deve fazer.

Relação entre o aparelho de estado e a própria comunidade

Regime político: alguns autores dizem: tipo de forma política e modo como
lidam e tentam compreender qual é a fonte de legitimidade e como se encara o
poder e como o poder se manifesta sobre os cidadãos. Outros autores
defendem que o regime político tem de levar em conta a relação entre os
cidadãos e o poder .

Quem tem o poder? Quem participa? O poder é ou não é controlado?

Professor Marcelo distingue democracias de ditaduras consoante critérios.


Existe uma ideologia imposta ou são respeitadas todas as ideologias?

Ditadura:
1) ideologia imposta;
2) não existe respeito pelas direitos fundamentais;
3) as pessoas não participam na escolha dos representantes e na tomada de
decisões;
4) o autocrata governa de forma individual, autoritária ou totalitária
(distinguido mais à frente);
5) fonte de legitimidade: critério tipicamente utilizado são as eleições mas
estas não são livres.

Democracia:
1) pluralismo de ideologias;
2) respeito pelos direitos fundamentais;
3) pessoas participam na escolha dos representantes;
4) o poder está no povo;
5) fonte de legitimidade: exercício do poder está limitado e ao serviço dos
direitos e liberdades individuais (estado de direito) .

O significado negativo de ditadura é recente. Em Roma, na Antiguidade, em


situação temporária e excecional, os governantes tinham poderes ditatoriais
uma vez que se entendia ser a melhor forma de se resolverem os problemas.

Em termos gerais, alguns regimes democráticos não são muito resistentes.


Tendem a durar menos que ditaduras. Portugal é uma exceção.

Os regimes ditatoriais podem agrupar-se em 2 grandes tipos:

Ambos são não democráticos mas o regime totalitário é mais intenso.


Alguns autores dizem que não devemos olhar para estas características como
duas alternativas. O totalitarismo diz-se que é a fase seguinte ao
autoritarismo.

O que os regimes autoritários e totalitários têm em comum?


O povo não controla o poder, não há eleições completamente livres, há uma
preferencia por modelos de concentração de poderes, o papel militar é
fundamental, o estado está presente em vários momentos da sociedade mas
com um carácter limitativo.

 Autoritários: regime ditatorial em que se aceita a existência de


liberdades individuais mas de forma controlada. Existe um pluralismo
limitado. O líder é importante e é associado à ideia de conservação.
Mais respeitador, de certo modo, dos direitos dos cidadãos.

Linz, autor, fala-nos dos sistemas autoritários: não há ideia forte do controlo
do poder, não há uma ideologia mas sim mentalidades: conjunto de crenças
fortes mas que são menos rígidas e mais flexíveis. Muitas vezes associadas a
ideologias tradicionais (Exemplo: Deus, Pátria e Família). Diz que não há
ideia de mobilização das massas. A figura do líder é importante daí que
muitos autoritarismos não sobrevivam aos seus lideres.

Para alguns autores, o fascismo italiano nunca chegou a ser um totalitarismo.

 Totalitários: O totalitarismo visa o domínio imperial por parte do


estado. Submete e absorve a sociedade. O estado está acima de tudo.
Existe uma ideologia forte que organiza toda a vida em sociedade. O
líder importa mas há a utilização do aparelho do sistema para mobilizar
as massas. Dá-se o domínio integral da forma social e política do
estado. Controla a sociedade. O líder não depara com tantas resistências
ao seu poder porque provém de um regime autoritário. Ideia de terror
associada às resistências. Partidos únicos, ideologias forte. Controlo
integral da vida em comunidade. Não há divisão dos poderes mas há
um controlo das organizações políticas, forças armadas a serviço do
poder politico e terror - uso da coação física, psicológica. O terror é a
essência dos regimes totalitários (nazismo, período estalinista e para
alguns o fascino italiano).

Regimes sultânicos: não têm ideologia nem mentalidade dominante. Há um


conjunto de ideia em prol de sultão. A figura do chefe e a organização política
dão nome a este regimes. Parecidos com regimes autoritários. Acredita -se
que o poder pertence ao chefe. Não há pluralismo.

Regimes pós- totalitarismo: surge quando certos regimes chegam ao fim. O


que acontece quando um regime começa-se a abrir, a aceitar pluralismo e
assim.

Democracia está ligada ao constitucionalismo liberal. A ideia de separação de


poderes, soberania popular, as pessoas são governadas porque aceitam isso. O
poder esta na mão do povo. Democracia liberal-constitucional. Há diferentes
conceções de democracia:

Popper: liberdades das pessoas. Liberdade de lutarem pelos seus direitos.

Norberto: pluralismo, maiorias

Alguns autores olham para a democracia de acordo com critérios:

Habermas: a democracia vive da troca de ideias, a sociedade civil também


tem um papel fundamental na democracia. Olham para ela como um
procedimento democrático. A legitimidade constrói-se assim.

Robert Dahl: trazer assuntos para discussão política, inclusão.

Existem varias modalidades de democracia:

 Democracia direta: governa diretamente a comunidade.

 Democracia semi-direta: o povo tem o poder mas o povo não governa


diretamente, mas interfere na tomada das decisões. Exemplo: referendo
uma vez que as pessoas são chamadas a participar e consoante a
votação o parlamento ou o governo executa um ato conforme esse
resultado.

 Democracia representativa (caso portuguÊs): regime em que as


pessoas escolhem os seus representantes que respondem perante os seus
atos.

 Democracia participativa: importância das dimensões de


participação. O poder em colaboração com a comunidade. Eleger já e
participar. Mas esta democracia é mais intensa, para além do voto,
verifica-se a existência de mecanismos que afetam a tomada de
decisões. Conceito muito amplo que pode vir desde a participação de
pessoas em partidos, sindicatos, sociedades civis até à criação de
mecanismos através dos quais as pessoas são chamadas a discutir
decisões. Exemplos: orçamentos participativos. Estes direitos estão
expressos e previsto na CRP. Discussão sobre assuntos laborais, por
exemplo, precisam da participação dos representantes dos
trabalhadores.

Todos os princípios constituição são de cariz da democracia representativa


mas que é completada através de outros mecanismos: democracia direta
(artigo 245 nº2 CRP e democracia semi-direta (referendo- artigo 115º CRP,
artigo 167º CRP).

Artigo 245.º - (Assembleia de freguesia)

1. A assembleia de freguesia é o órgão deliberativo da freguesia.


2. A lei pode determinar que nas freguesias de população diminuta a
assembleia de freguesia seja substituída pelo plenário dos cidadãos eleitores.

Artigo 115.º - (Referendo)

1. Os cidadãos eleitores recenseados no território nacional podem ser


chamados a pronunciar-se directamente, a título vinculativo, através de
referendo, por decisão do Presidente da República, mediante proposta da
Assembleia da República ou do Governo, em matérias das respectivas
competências, nos casos e nos termos previstos na Constituição e na lei.
2. O referendo pode ainda resultar da iniciativa de cidadãos dirigida à
Assembleia da República, que será apresentada e apreciada nos termos e nos
prazos fixados por lei.
3. O referendo só pode ter por objecto questões de relevante interesse
nacional que devam ser decididas pela Assembleia da República ou pelo
Governo através da aprovação de convenção internacional ou de acto
legislativo.
4. São excluídas do âmbito do referendo:

a) As alterações à Constituição;
b) As questões e os actos de conteúdo orçamental, tributário ou
financeiro;
c) As matérias previstas no artigo 161.º da Constituição, sem
prejuízo do disposto no número seguinte;
d) As matérias previstas no artigo 164.º da Constituição, com
excepção do disposto na alínea i).

5. O disposto no número anterior não prejudica a submissão a referendo


das questões de relevante interesse nacional que devam ser objecto de
convenção internacional, nos termos da alínea i) do artigo 161.º da
Constituição, excepto quando relativas à paz e à rectificação de fronteiras.
6. Cada referendo recairá sobre uma só matéria, devendo as questões ser
formuladas com objectividade, clareza e precisão e para respostas de sim ou
não, num número máximo de perguntas a fixar por lei, a qual determinará
igualmente as demais condições de formulação e efectivação de referendos.
7. São excluídas a convocação e a efectivação de referendos entre a data
da convocação e a da realização de eleições gerais para os órgãos de soberania,
de governo próprio das regiões autónomas e do poder local, bem como de
Deputados ao Parlamento Europeu.
8. O Presidente da República submete a fiscalização preventiva
obrigatória da constitucionalidade e da legalidade as propostas de referendo
que lhe tenham sido remetidas pela Assembleia da República ou pelo Governo.
9. São aplicáveis ao referendo, com as necessárias adaptações, as normas
constantes dos n.ºs 1, 2, 3, 4 e 7 do artigo 113.º
10. As propostas de referendo recusadas pelo Presidente da República ou
objecto de resposta negativa do eleitorado não podem ser renovadas na mesma
sessão legislativa, salvo nova eleição da Assembleia da República, ou até à
demissão do Governo.
11. O referendo só tem efeito vinculativo quando o número de votantes for
superior a metade dos eleitores inscritos no recenseamento.
12. Nos referendos são chamados a participar cidadãos residentes no
estrangeiro, regularmente recenseados ao abrigo do disposto no n.º 2 do artigo
121.º, quando recaiam sobre matéria que lhes diga também especificamente
respeito.
13. Os referendos podem ter âmbito regional, nos termos previstos no n.º 2
do artigo 232.º

Artigo 167.º - (Iniciativa da lei e do referendo)

1. A iniciativa da lei e do referendo compete aos Deputados, aos grupos


parlamentares e ao Governo, e ainda, nos termos e condições estabelecidos na
lei, a grupos de cidadãos eleitores, competindo a iniciativa da lei, no respeitante
às regiões autónomas, às respectivas Assembleias Legislativas.
2. Os Deputados, os grupos parlamentares, as Assembleias Legislativas
das regiões autónomas e os grupos de cidadãos eleitores não podem apresentar
projectos de lei, propostas de lei ou propostas de alteração que envolvam, no
ano económico em curso, aumento das despesas ou diminuição das receitas do
Estado previstas no Orçamento.
3. Os Deputados, os grupos parlamentares e os grupos de cidadãos
eleitores não podem apresentar projectos de referendo que envolvam, no ano
económico em curso, aumento das despesas ou diminuição das receitas do
Estado previstas no Orçamento.
4. Os projectos e as propostas de lei e de referendo definitivamente
rejeitados não podem ser renovados na mesma sessão legislativa, salvo nova
eleição da Assembleia da República.
5. Os projectos de lei, as propostas de lei do Governo e os projectos e
propostas de referendo não votados na sessão legislativa em que tiverem sido
apresentados não carecem de ser renovados na sessão legislativa seguinte, salvo
termo da legislatura.
6. As propostas de lei e de referendo caducam com a demissão do
Governo.
7. As propostas de lei da iniciativa das Assembleias Legislativas das
regiões autónomas caducam com o termo da respectiva legislatura, caducando
apenas com o termo da legislatura da Assembleia da República as que já tenham
sido objecto de aprovação na generalidade.
8. As comissões parlamentares podem apresentar textos de substituição,
sem prejuízo dos projectos e das propostas de lei e de referendo a que se
referem, quando não retirados.

Como é que uma proposta é aceite? Critério da maioria.

Para alguns autores deve-se adotar a maioria. Para outros, se tem mais votos a
favor do que contra essa proposta deve ser aprovada. Outros, olham para a
maioria como a ideia da igualdade e da liberdade. Prof. Jorge Miranda diz que
o critério da maioria representa maior liberdade e igualdade para todos.
Liberdade - cada um vota no que quer. Contudo, a maioria não deve ser um
critério de verdade porque muitas das vezes não está certa. É um critério
operativo. Há limites à sua maioria: as democracias também são governos das
minorias. As maiorias têm de respeitar as minorias. Muitas vezes, uma lei
pode ser uma inconstitucional por não respeitar estas maiorias. O tribunal
constitucional pode ser considerado uma instituição contra maiorias uma vez
que a decisão da maioria pode ir contra aquilo que está previsto na
constituição.

Relação entre democracia e direito: A democracia é o governo do povo,


mas não significa que seja sempre um estado de direito. Os governantes
podem governar de forma contrária aos valores fundamentais. Verifica-se uma
confluência entre democracia e direito. A democracia tem de respeitar os
direitos fundamentais. A democracia precisa do direito e o direito auxilia a
democracia. Em democracia elegemos representantes que aprovam leis
(direito) que reflete a vontade daquele povo. A democracia permite revelar o
direito. Princípios do direito podem funcionar como um limite à democracia.
Se uma maioria pretende implementar uma lei que viola um direito
fundamental previsto na CRP, mesmo que os nossos governantes
democraticamente eleitos queiram aprovar essa lei, esta não é aprovada.
Por norma confluem mas podem existir momentos de tensão.

Caso português

Exemplo de que as minorias têm importância:

Artigo 114.º - (Partidos políticos e direito de oposição)

2. É reconhecido às minorias o direito de oposição democrática, nos


termos da Constituição e da lei.

Artigo 2.º - (Estado de direito democrático)

A República Portuguesa é um Estado de direito democrático, baseado


na soberania popular, no pluralismo de expressão e organização política
democráticas, no respeito e na garantia de efectivação dos direitos e
liberdades fundamentais e na separação e interdependência de poderes,
visando a realização da democracia económica, social e cultural e o
aprofundamento da democracia participativa.

Vagas de democracia segundo Samuel huntin:

 1ª vaga: A primeira onda de democratização foi longa e ocorreu no


período de 1828 à 1926, compreendendo mais da metade do século
XIX e o pós-1ª Guerra Mundial. Logo em seguida, houve um onda
reversa (desdemocratização) no período de 1922 à 1942, momento
histórico do surgimento de regimes autoritários como o nazismo, sob a
liderança de Hitler, na Alemanha, e o fascismo, na Itália, que teve em
Mussolini seu principal expoente.

 2ª vaga: A segunda onda de democratização ocorreu de forma rápida,


como uma onda curta, de 1943 à 1962, iniciada após a 2ª Guerra
Mundial.

 3ª vaga: revolução democrática em Portugal e transição democrática


em Espanha.
Muitos países fazem a transição para a democracia nesta altura. Caem muitas
ditaduras, mas não ficaram democracias, mas sim regimes autocráticos.
Há um avanço da democracia relativamente a não democracia, mas tem se
verificado um aumento dos regimes autoritários, isto é, não temos um
alargamento da democracia tão elevado e generalizado como era esperado

A partir do séc.XX: denota-se o aparecimento de novos fenómenos e regimes


híbridos – um regime híbrido é um tipo misto de sistema político
frequentemente criado como resultado de uma transição incompleta de um
regime autoritário para um democrático. Há barómetros que medem e testam a
qualidade das democracias.

Atualmente, surgem novos autoritarismos. As democracias caminham para


regimes autoritários.

O que leva a que as democracias comecem a perder legitimidade?


Existem factos que começam a gerar desconfiança. Os jovens não se sentem
representados nem veem os seus direitos a serem defendidos. Existem vários
problemas internos a diversos níveis. Guerras, conflitos e tensões ao nível
internacional também causam alterações no governo interno conduzindo à
mudança de comportamento e expectativas face aos regimes.

Foi abordado ate então as vagas da democracia, no entanto, segundo alguns


autores também existiram vagas de ditaduras.

A par das ditaduras soviética, fascista e nazi, surgem ditaduras na Ásia e na


África devido às descolonizações.
No fim do séc.XX e inícios do séc.XXI, alguns autores dizem que surge uma
nova vaga de autocracias: não há golpes de estado mas verifica-se uma
erosão lenta dos órgãos do estado: eleições menos livres com menos
pluralismo, afirmação contínua e cada vez mais afunilada de um partido
político , reforço do poder dos governantes.
Existem vários termos atribuídos a estas autocracias: autoritarismos
novos, regimes híbridos, autoritarismos eleitorais e democracias iliberais.
São democracias mas que estão progressivamente em decadência. As
democracias iliberais, para alguns autores, é um termo considerado
contraditório.

António Costa Pinto escreveu um livre sobre as ditaduras dando exemplos de


democracias em processos de erosão: Turquia e Rússia. Estas ditaduras têm
alguns elementos que fazem lembrar o passado: importância do líder. No
entanto, são difíceis de identificar porque têm traços democráticos.
O conceito de democracia iliberal utiliza-se para designar regimes com
eleições livres, que estão integrados na União Europeia e em organizações
internacionais, mas que restringem os poderes do parlamento e limitam as
liberdades das pessoas.

Outra expressão utilizada é a pós-democracia proveniente do sociólogo Colin


Crouch que é fundamentada pelo enfraquecimento das instituições
democráticas. Segundo ele, o poder transfere-se para elites político-
económicas. Há um novo reforço do poder das elites.

Verifica-se uma crise da democracia.

O livro: As promessas não cumpridas da democracia (Norberto Borba) diz-


nos o seguinte: por vezes existe uma distância entre a democracia real e a
democracia que existe. Por vezes parece que o povo não é representado.
População não se revê nos partidos políticos.

Populismo

 Principal fenómeno politico do séc.XXI.


 Desafio às democracias.
 É visto, também, por muitos, como uma ameaça aos regimes.
 Alguns autores dedicaram-se a este fenómeno. Cas Mudde, sociólogo
holandês, especialista do populismo, explica este fenómeno do ponto de
vista da ciência política. De acordo com este autor, a sociedade esta
dividida em dois grupos cuja sua constituição é homogénea. São dois
grupos antagónicos: povo, associado à pureza e ao ideal e a elite
associadas à corrupção. O povo não esta a ser representado porque as
elites não o estão a representar. O povo é um só, não há pluralismo.
Este autor diz que todos os políticos podem utilizar um discurso
populista (defesa do povo) no entanto não é disso que se trata. Na sua
perspetiva, a classe política é vista com hostilidade, o líder politico é
visto como salvador.

 O populismo existe um pouco por todo lado. É um conceito contestado,


é um conceito que é visto de várias perspectivas. Todas estão de acordo
quanto ao seguinte: o populismo assenta numa contraposição
fundamental: povo de um lado, elites do outro.

 O populismo é de esquerda e de direita porque não há propriamente


uma ideologia populista. Há uma lógica de pensamento que pode
funcionar tanto de um lado como do outro.
 Há alguns autores que dizem que o populismo ainda parte de uma
soberania popular, o povo é soberano mas este não esta a ser
representado. Para outros autores, este populismo é uma rotura:
antipluralistas, não partem de uma ideia de que existem diferentes
ideologias, mas sim de que existe apenas uma conceção daquilo que é o
povo e a representação política.

 Populismo é antipluralista.

 O populismo tem dois inimigos: elites e pluralismo. Nem todos os que


criticam elites são populistas mas todos os populistas são anti- elites.

 Muitas vezes as constituições são alteradas para permitir certas


modificações no exercício do poder por parte das elites

 Alguns autores das democracias iliberais dizem que este populismo


pode ajudar a perceber o que está a funcionar mal nas democracias
liberais.

 Populismo não foi algo apenas do séc.XXI. Verificou-se já nos séculos


XIX e XX.

A relação entre populismo e democracia é complexa. Forças populistas


ignoram as minorias e os checks and balances. Põe em causa os direitos das
minorias e a limitação do poder.

Porque surgem estes movimentos populistas? Para Cas Mudde, as pessoas


podem sentir-se atraídas por este fenómeno porque estão descontentes com a
política e não veem nas elites formas de resolverem os seus problemas, porque
são todas iguais. As elites desenvolvem discursos que se tornam atraentes e
exercem um fascínio sobre as pessoas mas que no fundo não é bem assim.

Referendo

 Modalidade de democracia.
 O referendo é uma forma de sufrágio. Não escolhemos pessoas mas
escolhemos ideias.
 Encontramos referendos em vários países. Em Portugal, não se
encontram referendos em matérias constitucionais. Há países onde os
referendos são frequentes: Suíça. Há outros onde esta presente mas não
é muito utilizado, por exemplo, Portugal.
 É um complemento da democracia representativa. Ou seja, não muda a
natureza representativa do regime mas completa.
 Trata-se de uma pergunta sobre uma determinada matéria relevante em
termos públicos.
 É diferente de plebiscito. Para alguns a diferença de referendo para
plebiscito é apenas histórica (referendo- regimes democráticos,
plebiscito-autoritários). Para outros, referendo são consultas que
decorrem de acordo com todos os requisitos legais e o plebiscito não.

Tipos de referendos:

Referendo de âmbito nacional: referendos de interesse nacional


generalizado, faz sentido ouvir toda a comunidade.

Referendos de âmbito regionais: referendo de interesse apenas para uma


região

Referendos de âmbito local: referendo de interesse apenas para um local

Podem apresentar propostas de referendo a assembleia municipal ou a


câmara municipal, se se tratar de referendo municipal, e a assembleia de
freguesia ou a junta de freguesia, tratando-se de referendo de freguesia. Em
ambos os casos, pode, ainda, resultar da iniciativa de grupos de cidadãos
recenseados na respectiva área constituídos para o efeito, possibilidade
atribuída pela revisão constitucional operada em 1997 e, posteriormente,
regulamentada pela Lei Orgânica 4/2000.

Referendos constitucionais

Referendos legislativos

Referendos administrativos

Referendos vinculativos: os órgãos políticos estão obrigados a implementar


.
Referendo não vinculativos: pessoas são ouvidas mas os órgãos políticos não
são obrigados a implementar.

A convocação do referendo é obrigatória? É convocação obrigatória


quando há uma norma que impõem e é facultativa quando há a possibilidade
propor ou não.

Quem pede e quem decide o referendo (artigo 115º CRP) ?


Quem decide é o Presidente da República e quem pede pode ser a Assembleia
da República, governo e cidadãos eleitores.
Que matérias podem ser referenciadas? Têm de ser matérias de interesse
nacional.

Em Portugal, o referendo foi encarado com alguma desconfiança. Havia falta


de prática referendária. Em 1989 é que foi inserido o referendo de âmbito
nacional – artigo 115º CRP e o referendo regional – artigo 256º CRP. Há
ainda outras modalidade de referendo previstas na constituição: artigo 232º/2
CRP. O referendo local: artigo 240º CRP.

Este mecanismo não foi logo incluído na CRP de 1976. Artigo 115º da CRP:
lei nº15.A/98 de 3/4

Como podem ser feitas as perguntas? Um referendo uma matéria. Questões


formuladas com clareza com respostas de sim ou não.

Porque não se pode fazer um referendo durante eleições? Não confundir


eleições com referendos e evitar instrumentalização do poder.

Em que circunstâncias é que o referendo tem efeito vinculativo? Quando o


número de votantes for superior à metade dos eleitores inscritos no
recenseamento.

E o que acontece se o referendo tiver efeito vinculativo?


1. Se a resposta à pergunta submetida for AFIRMATIVA: A AR ou o
governo aprovarão, em prazo não superior, respetivamente, a 90 ou a
60 dias, a convenção internacional ou o ato legislativo de sentido
correspondente ao resultado da votação, e o PR não pode recusar a
ratificação, assinatura ou promulgação por discordância com o sentido
apurado em referendo.

2. Se a resposta à pergunta submetida a referendo for NEGATIVA: A AR


ou o Governo não podem aprovar a convenção internacional ou o ato
legislativo correspondentes às perguntas objeto de referendo, salvo
nova eleição da AR ou a realização de novo referendo com resposta
afirmativa.

Portugueses no estrangeiro podem votar ? Um português no estrangeiro


pode votar em referendos de matérias que lhe diga respeito. Mas que matérias
lhe dizem respeito? É relativo, porque o que para uns pode fazer sentido que
os portugueses no estrangeiro possam votar para outros não. É o tribunal
constitucional que decide se aquela matéria diz ou não respeito aos
estrangeiros.
O referendo é facultativo. Só existe referendo obrigatório em regionalização
administrativa para que as instituições possam ser aprovadas (artigo 256º
CRP).

Todos os cidadãos podem votar recenseados no território nacional mas


também portugueses recenseados no estrangeiro desde que sejam matérias que
lhes digam respeito. O referendo pode provir da iniciativa de cidadãos
eleitores que o apresentam ao parlamento. Ou pode ser uma iniciativa da AR
ou do governo. Há fiscalização por parte do TC quando PR decide. Se a
norma não foi verificada há uma inconstitucionalidade.

Artigo 115.º - (Referendo)

1. Os cidadãos eleitores recenseados no território nacional podem ser


chamados a pronunciar-se directamente, a título vinculativo, através de
referendo, por decisão do Presidente da República, mediante proposta da
Assembleia da República ou do Governo, em matérias das respectivas
competências, nos casos e nos termos previstos na Constituição e na lei.
2. O referendo pode ainda resultar da iniciativa de cidadãos dirigida à
Assembleia da República, que será apresentada e apreciada nos termos e nos
prazos fixados por lei.
3. O referendo só pode ter por objecto questões de relevante interesse
nacional que devam ser decididas pela Assembleia da República ou pelo
Governo através da aprovação de convenção internacional ou de acto
legislativo.
4. São excluídas do âmbito do referendo:

a) As alterações à Constituição;
b) As questões e os actos de conteúdo orçamental, tributário ou
financeiro;
c) As matérias previstas no artigo 161.º da Constituição, sem
prejuízo do disposto no número seguinte;
d) As matérias previstas no artigo 164.º da Constituição, com
excepção do disposto na alínea i).

5. O disposto no número anterior não prejudica a submissão a


referendo das questões de relevante interesse nacional que devam ser objecto
de convenção internacional, nos termos da alínea i) do artigo 161.º da
Constituição, excepto quando relativas à paz e à rectificação de fronteiras.
6. Cada referendo recairá sobre uma só matéria, devendo as questões
ser formuladas com objectividade, clareza e precisão e para respostas de sim
ou não, num número máximo de perguntas a fixar por lei, a qual determinará
igualmente as demais condições de formulação e efectivação de referendos.
7. São excluídas a convocação e a efectivação de referendos entre a
data da convocação e a da realização de eleições gerais para os órgãos de
soberania, de governo próprio das regiões autónomas e do poder local, bem
como de Deputados ao Parlamento Europeu.
8. O Presidente da República submete a fiscalização preventiva
obrigatória da constitucionalidade e da legalidade as propostas de referendo
que lhe tenham sido remetidas pela Assembleia da República ou pelo
Governo.
9. São aplicáveis ao referendo, com as necessárias adaptações, as
normas constantes dos n.ºs 1, 2, 3, 4 e 7 do artigo 113.º
10. As propostas de referendo recusadas pelo Presidente da República
ou objecto de resposta negativa do eleitorado não podem ser renovadas na
mesma sessão legislativa, salvo nova eleição da Assembleia da República, ou
até à demissão do Governo.
11. O referendo só tem efeito vinculativo quando o número de votantes
for superior a metade dos eleitores inscritos no recenseamento.
12. Nos referendos são chamados a participar cidadãos residentes no
estrangeiro, regularmente recenseados ao abrigo do disposto no n.º 2 do
artigo 121.º, quando recaiam sobre matéria que lhes diga também
especificamente respeito.
13. Os referendos podem ter âmbito regional, nos termos previstos no
n.º 2 do artigo 232.º
Artigo 256.º - (Instituição em concreto)

1. A instituição em concreto das regiões administrativas, com


aprovação da lei de instituição de cada uma delas, depende da lei prevista no
artigo anterior e do voto favorável expresso pela maioria dos cidadãos
eleitores que se tenham pronunciado em consulta directa, de alcance
nacional e relativa a cada área regional.
2. Quando a maioria dos cidadãos eleitores participantes não se
pronunciar favoravelmente em relação a pergunta de alcance nacional sobre
a instituição em concreto das regiões administrativas, as respostas a
perguntas que tenham tido lugar relativas a cada região criada na lei não
produzirão efeitos.
3. As consultas aos cidadãos eleitores previstas nos números anteriores
terão lugar nas condições e nos termos estabelecidos em lei orgânica, por
decisão do Presidente da República, mediante proposta da Assembleia da
República, aplicando-se, com as devidas adaptações, o regime decorrente do
artigo 115.º

Artigo 232.º - (Competência da Assembleia Legislativa da região


autónoma)

2. Compete à Assembleia Legislativa da região autónoma apresentar


propostas de referendo regional, através do qual os cidadãos eleitores
recenseados no respectivo território possam, por decisão do Presidente da
República, ser chamados a pronunciar-se directamente, a título vinculativo,
acerca de questões de relevante interesse específico regional, aplicando-se,
com as necessárias adaptações, o disposto no artigo 115.º

Artigo 240.º - (Referendo local)

1. As autarquias locais podem submeter a referendo dos respectivos


cidadãos eleitores matérias incluídas nas competências dos seus órgãos, nos
casos, nos termos e com a eficácia que a lei estabelecer.
2. A lei pode atribuir a cidadãos eleitores o direito de iniciativa de
referendo.

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