Você está na página 1de 26

Ciência Política

Conceito de Ciência Política

A Ciência Política trata-se de uma ciência que vai estudar, ordenar,


sistematizar e dar a conhecer a realidade política e os fenómenos
políticos.

Não é facil dar uma definição de Ciência Política, nem precisar o seu
objeto e método de investigação. A Ciência Política encontrou
dificuldades de autonomização, pois os poderes constituídos
temeram os efeitos decorrentes da análise das situações sociais e
maiores dificuldades se opuseram à autonomização de uma ciência
que teria o próprio Estado por objeto.

O fenómeno político (FP) pressupõe uma relação de poder, ou seja,


uma relação entre governante e governado.

Fenómeno político como fenómeno estadual:

No século XIX, começou por entender-se que o conceito de político


se identificava com o de estadual, tudo o que era estadual era
político e o político identificava-se com as funções do Estado.
Assim, o fenómeno político é considerado um fenómeno estadual
que se desenvolve no interior do Estado, no quadro estadual.
Coincide com a concretização das funções do Estado: legislativa,
executiva e judicial, ou seja, quando o Estado legisla, administra ou
julga, está a desenvolver fenómenos políticos.

Fenómeno político menor que fenómeno estadual:

Outros autores restringiam o conceito de político entendendo que


todo o fenómeno político é fenómeno estadual, mas nem todo o
fenómeno estadual é um fenómeno político. Por exemplo, a função
judicial é técnica, porém não politica.

Fenómeno político mais amplo que fenómeno estadual:

Entende-se que o fenómeno político é algo bastante amplo, com


fronteiras não definidas. Nesta conceção, o fenómeno político não
se reduz ao Estado e inclui os partidos políticos, lobbies, sindicatos,
a opinião pública, as manifestações, etc.

A moderna Ciência Política estuda os fenómenos políticos não


enquadrados na estrutura do Estado, mas no âmbito global das
atividades políticas de uma sociedade enquadradas num sistema
político (conjunto de variáveis que permitem estabelecer relações
entre os fenómenos políticos). Isto porque hoje se entende que o
político é estadual, mas vai além dele, abrangendo a atividade de
estruturas exteriores ao Estado. A Ciência Política é assim
descritiva, não normativa.

A Ciência Política diz "como é" e o Direito Constitucional diz "como


deve ser". O Direito Constitucional é formado por normas, que tem
como objeto uma realidade normativa, enquanto a Ciência Política
tem por objeto uma realidade factual. Trata-se de uma ciência
descritiva, não jurídica, não normativa.

O objeto da Ciência Política

Os esquemas interpretativos da Ciência Política reconduzem-se a


três modos de conceber a política, como:

• Como saber:
A Ciência Política remonta à Antiguidade Clássica em que
Aristóteles estudou as Constituições de várias cidades gregas.
Nessa altura, a política era considerada como um saber. O saber
conjugar uma boa atividade com uma boa organização da cidade,
significando conhecimento.

• Como arte:

No século XVI, passou a conceber-se a política como arte. A


tentativa de formular regras da arte política, para obter e manter o
poder encontra-se em Maquiavel, na obra "O Príncipe". A política
seria o conjunto de regras e de táticas a seguir para a obtenção e
manutenção do poder. A política era a arte de governar. Maquiavel
procurou estudar a realidade política tal como ela é e não como
devia ser.

• Como ciência:

A partir do século XIX, surge a política entendida como ciência, e


como tal, procura ordenar, sistematizar e dar a conhecer a
realidade política. Dedica-se ao estudo dos fenómenos políticos,
aplicando métodos quantitativos e estabelecendo um sistema, isto
é, um conjunto de variáveis ou elementos que permitam chegar à
adoção de modelos teóricos.

Várias definições:

• Segundo Marcel Prélot:

Segundo Marcel Prélot, o objeto de estudo da Ciência Política é o


conhecimento descritivo (como é),
explicativo(razões/motivos/causas) e prospetivo (prever) do Estado
e dos fenómenos que com ele se relacionem, quer por
anterioridade (fenómenos políticos ocorridos antes do Estado), por
simultaneidade (fenómenos políticos ocorridos ao mesmo tempo
que o Estado) e por sobreposição (fenómenos ou agentes que são
anteriores ao Estado, ou seja, são pessoas fora do Estado que
desempenham funções idênticas ao Estado, ex: União Europeia).

• Segundo Thomas Cook:

Segundo Thomas Cook, a noção de poder (sindicatos, partidos


políticos, associações políticas, etc.) é assunto próprio da Ciência
Política:

- A origem, a natureza e os fundamentos do poder na sociedade são


analisados sob as mais diversas formas;

- Logo, estão em causa não só o Estado como as coletividades


locais, os sindicatos, as empresas e as Igrejas.

• Segundo Max Weber:

Segundo Max Weber, o objeto de estudo da Ciência Política é a luta


para participar no poder ou influenciar a distribuição do poder,
quer entre os Estados, quer no interior de um Estado, quer entre os
grupos humanos que nele existem.

• Segundo Raymon Aron:

Segundo Raymon Aron, o objeto de estudo da Ciência Política


consiste no estudo das relações de autoridade entre os indivíduos e
os grupos e da hierarquia de forças que se estabelecem no interior
de todas as comunidades numerosas e complexas.
• Segundo David Easton:

Segundo David Easton, o sistema político é um sistema aberto


através do qual se conseguiam ver as causas e os efeitos de cada
fenómeno, recebendo inputs de outros sistemas intrassociais da
mesma sociedade ou de outros sistemas sociais de outras
sociedades globais.

Ex: O lago está em equilíbrio (calmo), mas quando uma pedra bate
na água ele entra em desequilíbrio (inputs).

Inputs:

- Ação/causa do fenómeno;

- Vêm de outros sistemas (intra ou extra sociais);

- Ex: manifestações, eleições, opinião pública, etc.

Outputs:

- Efeitos/respostas que o sistema produz às pressões a fim de


adaptar as estruturas ao meio ambiente através das funções do
Estado (judicial, legislativa ou administrativa);

- Objetivo: adaptar o sistema;

- Serão novos inputs através do mecanismo de


retroação/feedback.
Leis que organizam o sistema:
- Homeostase- lei segundo a qual os sistemas tendem sempre para
o equilíbrio, apesar das suas naturais disfunções. O sistema tem
capacidade para conservar o equilíbrio interno, apesar de fatores
de alteração, pois apesar de as pressões causarem destabilização,
através dos outputs mantêm o equilíbrio;
- Homeoerese- consiste na capacidade de dar respostas suficientes
para manter o equilíbrio do sistema (a sobrevivência do sistema-
funcionamento);
- Entropia- lei segundo a qual os sistemas tendem para uma ordem
e complexidade cada vez menores, a fim de esbater a força dos
inputs sobre o centro de decisão. O sistema vai-se organizando
cada vez mais de forma a esbater a pressão e a que as demandas
causem menos destabilização.
Conceito de Estado
O Estado é uma entidade abstrata que atua através dos seus órgãos
e é uma verdadeiro objeto de interesse de ciências diversas e com
métodos de análise variados. É possível aludir ao Estado como
entidade atuante na ordem internacional, como pessoa coletiva de
direito público que desempenha a atividade administrativa ou
ainda como forma de organização política. O Estado é alvo de
atenção do Direito Internacional, do Direito Administrativo e na
forma que ele releva para efeitos da Ciência Política, na sua
complementaridade com o Direito Constitucional.
O Estado, organização política pensada como tal, inventada pelos
homens, é acima de tudo, uma ideia, e como tal pensada de forma
diferente por cada autor e necessária para explicar o poder político.
A delimitação do conceito jurídico de Estado por recurso a três
elementos fundamentais- povo (agrupamento humano), território
(base territorial) e poder político (organização do poder político).
Assim, o Estado surge-nos como uma comunidade politicamente
organizada, fixa em determinado território, que lhe é privativo e
tendo como características a soberania e a independência.
Há uma subordinação do Estado a um conjunto de normas que
englobam:
- a Constituição;
- as Leis;
- as normas de Direito Internacional.
Este conjunto de normas dá sentido ao princípio da legalidade
democrática.
Todos os Estados estão subordinados à respetiva Constituição
porque esta tem por finalidade organizar e limitar o poder político.
Cada Estado, com base na sua constituição, exerce a sua função
legislativa, produzindo leis, e fica subordinado a essas leis; não mais
poderá agir como se essas normas não existissem.
E todos os Estados devem respeitar as normas de Direito
Internacional Público, que incluem:
- tratados e acordos internacionais, celebrados por esse Estado;
- costumes internacionais.
Em suma:
• O Estado Soberano:
- vertente externa- soberano perante a comunidade internacional
(DIP);
- pessoa coletiva de direito público (Direito Administrativo);
- Forma de organização política (CP);
- Criação humana;
- 3 elementos centrais;
- Território (vários domínios- ex: domínio terrestre, domínio aéreo,
domínio fluvial, etc.).
• Um Estado de direito:
- Subordina-se a normas: Constituição, Leis e DIP;
- Constituição: organizar e limitar o poder político;
- Legisla limitado por essas leis;
- Ver art 3º CRP+ art 7º e 8º CRP.
A origem do Estado
O Estado é também uma ordem jurídica de uma certa comunidade,
é um conjunto de regras necessário a um mínimo de organização
que é exigível. O Estado é a maior instituição a nível interno. A
palavra Estado vem do latim status (equivale a constituição ou
ordem). O primeiro autor a introduzir o termo foi Maquiavel. O
momento chave para a organização em forma de Estado foi no
século XVI:

- sem vínculo de nacionalidade;


- organização muito dispersa/compartimentalizada.

Sobre a origem do Estado existem várias teses:

• Teses naturalistas:

Partem da ideia de o homem ser, por natureza, um ser que tende a


viver em sociedade.

O primeiro a defender esta ideia foi Aristóteles, no século IV a.C.:


("O homem é, naturalmente, um animal político (...) feito para viver
em sociedade.").

• Teses contratualistas:

A ideia base é a da que homem é um animal social, tem


necessidade de viver em comunidades, maiores ou menores. De
início, vive no chamado estado-natureza (status naturalis), de uma
forma desorganizada, sem regras e com interesses conflituando
continuamente. Até que entende as vantagens de associar-se, para
melhor se defender. Reúne-se em comunidades organizadas,
alienando parte dos seus direitos a favor da sociedade geral em que
fica incorporado. Incorporação que se faz através do contrato
social, que se desdobra em:

- Pactum unionis- criação da sociedade civil organizada;

- Pactum subjectionis- subordinação à vontade da maioria.

Thomas Hobbes:

Afirmava que inicialmente o homem vivia no estado de natureza-


não havia leis nem autoridade. Situação que era má e resultaria de
o facto de o homem ser por natureza mau e naturalmente egoísta,
o que produz o medo. Devido ao medo e instinto de conservação e
enquanto ser racional que é, o homem passa ao estado de
sociedade (status civilis) através de um contrato irrevogável
(absolutismo), no qual aliena a sua liberdade a favor do Estado,
renunciando, em proveito do soberano, a todos os direitos e
liberdades que poderiam prejudicar a paz, permitindo uma
soberania absoluta e indivisível. Pelo contrato social transfere o
direito natural absoluto que possui sobre todas as coisas a um
príncipe ou assembleia e assim, constituem-se, ao mesmo tempo, o
Estado e a sujeição a esse poder.

É uma visão política, preferindo o seu exercício através da


monarquia.

John Locke:

Concebe a mesma passagem de estados por via contratual, no


entanto, o estado de natureza não seria tão negativo, pois viviam
segundo a lei natural e o problema estava nas diferentes
interpreatações dessa lei, que geravam incerteza. Não havia um
grau de certeza e delimitação necessário, daí a necessidade de uma
sociedade política, onde os indivíduos soubessem com o que
podiam contar.

É uma visão jurídica.

Por outro lado, para Locke o poder supremo caberia ao povo, que o
confere ao Estado, mas sem abdicar dos seus direitos fundamentais
que seriam inalienáveis. Assim como confere o poder, pode
retirá-lo.

Jean-Jacques Rousseau:
Para Rousseau, o homem nasce livre e senhor de si próprio,
revelando toda a sua bondade natural. O Estado servirá para o
proteger e defender e aos seus bens.

Mais radical, vê como possível a alienação dos direitos e liberdades


individuais em benefício da vontade geral que prossegue o bem
comum (democracia).

Nasceria assim a sociedade política regida por um direito comum e


detentora de um interesse geral: a res publica (coisa do povo).

• Teses organicistas:

As teses organicistas oscilam entre a consideração do Estado como


unidade espiritual e a equiparação a um organismo natural ou
biológico. Numa primeira vertente, o Direito e o Estado são
expressões do espírito de um povo, como princípio vital; a segunda
vertente liga-se ao positivismo e ao cientismo que procuram alargar
ao domínio do político e do jurídico os esquemas dos cientistas da
natureza, encarando o Estado como um ser vivo.

• Teses voluntaristas:

Segundo estas teses, o homem foi obrigado a agrupar-se para


poder sobreviver. Daí o aparecimento das tribos, dos clãs, em que
existia imensa solidariedade entre os seus membros que acartavam
uma certa ordem derivada de regras naturais de sobrevivência e
que era imposta pelo mais forte, visto que o aparecimento do
Estado nunca pode resultar da vontade de todos.

Destes pequenos grupos ter-se-iam passado a outros mais amplos,


devido à ação de indivíduos ou grupos minoritários cuja autoridade
as massas acabaram por aceitar, com maior ou menor resistência.

O Estado resulta assim de um ato de vontade.

Tipos históricos de Estado

Pré-Constitucional:

• Estados Antigos: Orientais, Grego, Romano;

• "Estado" Medieval;

• Estado Moderno: Estado Estamental, Estado Absoluto


(Patrimonial, de Polícia).

Constitucional:

• Estado de Direito Liberal;

• Estado Social e Democrático de Direito;

• Estados autocráticos séc.XX: Revolucionário anticapitalista


(URSS), Conservador (Nacional-Socialismo alemão, Fascismo
Italiano).

• Os Estados na fase pré-constitucional:

Os Estados Antigos:

- 4000 a.C até 476 d.C (fim do Império Romano do Ocidente).

O Estado Oriental:

- caracterizados por serem estados teocráticos;

- Principal localização: Médio Oriente;


- Elevada desigualdade social e elevada hierarquização;

- Reduzidas garantias jurídicas;

- Diferenças étnicas agregadas pela força;

- Ex: Egito, Babilónia, Síria, etc.

O Estado Grego:

- Cidades-Estado (cada uma representava um estado diferente do


outro);

- Democracia direta;

- Direitos políticos são somente reconhecidos com cidadãos da


cidade;

- Liberdade individual- participação no governo da cidade;

- Exercício da soberania- dever dos cidadãos.

O Estado Romano:

- Conceção territorial mais ampla (não tão restrita);

- O centro é Roma;

- Concessão de alguns direitos básicos aos cidadãos romanos


(direito de propriedade, casamento, direito de voto, ser eleito,
etc.);

- Desenvolve-se a noção de poder político como supremo;

- Surge distinção entre Direito Público (Estado) e Direito Privado


(Pater Familias);
- O Cristianismo introduz algum valor à pessoa humana dentro da
comunidade política e ao contestar o carácter sagrado do
Imperador.

O "Estado" Medieval:

- A Idade Média, situada entre 476 e 1453 (fim do Império Romano


do Oriente), divide-se em duas grandes fases: a das invasões e da
reconstrução;

- Regista a passagem da insegurança total para a pequena


segurança local, lentamente alargada na passagem da ausência de
poder a uma situação complexa , com o poder real estreitado entre
a autoridade da Igreja e o poder parcelar dos senhores;

- Na Idade Média, impropriamente se pode falar de Estado. O que


aí verdadeiramente existia era uma pluralidade de poderes
particulares, de natureza social, religiosa ou territorial: feudos,
senhorios, burgos;

- Há uma ideia de privatização do poder. Em vez do conceito de


imperium (poder público e centralizado), vem o de dominum
(derivado da supremacia territorial). É a conceção patrimonial do
poder;

- O rei detinha apenas o título e estava no topo de uma hierarquia


sem poder efetivo. O monarca estava subordinado ao Papa, o que
enfraquecia o poder político;

- Os direitos das pessoas estavam baseados na classe social: Limite


poder político <<< Cristianismo <<< Garantia indivíduos

Estado Moderno (1453-1789):


- Esforço de concentração do poder por parte do Rei face ao
Papado e face aos senhores feudais;

- Dois grandes períodos: Estado Estamental e Estado Absoluto.

O Estado Estamental:

- Os monarcas conseguiram a centralização do poder em forma de


Cortes, Parlamentos e Dietas, de funções liberativas ou consultivas
e através da dualidade: Rei-Estamentos (Ordem-classe social);

- O Rei tem o poder central, mas limitado pela sociedade;

- Início do desenvolvimento do sentimento nacional;

- Até quando? Até ao monarca ter poder para unificar e centralizar


o poder.

O Estado Absoluto:

- Entre os séculos XVI e XIX;

- Resultado da concentração do poder político no Rei;

- Características: Vontade do Rei=Lei; Limitação jurídica do poder


do rei escassa e Indivíduos sem direitos contra o Estado;

- O Estado: continua ligado ao Direito porém a leis que o soberano


faz e refaz e a sua função é contribuir para a unidade do Estado e
da sociedade;

- Dois subperíodos do Estado Absoluto: Estado Patrimonial (séc.XVI-


início séc.XVIII) e o Estado de Polícia (séc.XVIII).

Estado Patrimonial:
- O Estado é considerado um bem patrimonial do monarca e o
poder deste considerava-se de origem divina. O Rei é escolhido por
Deus, governa pela Graça de Deus e exerce uma autoridade que se
reveste de fundamento religioso;

- Os direitos adquiridos são direitos individuais fundados num título


especial produzido por determinado facto jurídico (ex: concessão
imperial) e protegidos pelos tribunais. Mas, a título excecional,
estando em causa o interesse público (raison d´État), reconhecia-se
ao Monarca a possibilidade de ultrapassar esses limites, fazendo
apelo a um direito supremo. Os particulares não dispunham de
qualquer mecanismo de defesa, pois o monarca só criava normas
para regulamentar as relações entre os particulares e não existiam
quaisquer normas para regular as relações entre estes e o Estado.

Estado de Polícia:

- Típico do século XVIII, o Século das Luzes;

- O Rei é um déspota iluminado, esclarecido pela razão;

- É um Estado da máxima intervenção, onde o Rei pode intervir em


todos os domínios da vida da sociedade. O critério principal da ação
política é a razão do Estado, o bem público, devendo o Monarca ter
plena liberdade nos meios para o alcançar;

- As relações entre o Estado e os particulares integram-se numa


zona em que os direitos dos particulares eram obrigados a ceder
perante a razão do Estado (área de polícia);

-Rei= procura a felicidade dos súbditos e corrige os seus erros;

- Independentemente da matéria em causa, desde que o monarca o


considerasse importante para a prossecução do interesse público,
os particulares tinham que se submeter ao Estado, não dispondo de
quaisquer mecanismos de defesa perante a atuação do rei e dos
seus funcionários administrativos;

- É criado o Fisco no sentido de resolver a contradição entre a


necessidade de garantir o princípio supremo do Estado de Polícia e
a necessidade de proteger os particulares eventualmente lesados
pela atividade de Polícia. Esta entidade foi criada à margem do
direito, sustenta a coroa financeiramente e é responsável por
indemnizar/compensar os súbditos por danos causados pelo
Monarca.

• Os Estados na fase constitucional:

Estado de Direito Liberal:

• Papel do Estado:

- garantir a proteção e as liberdades/direitos fundamentais;

- garantir estabilidade necessária ao desenvolvimento.

• O Estado de Direito Liberal tem um carácter abstencionista,


havendo uma separação entre o Estado e a sociedade (por
exemplo, na economia);

• As funções do Estado são: garantir a segurança dos cidadãos


(por exemplo, forças de segurança); garantir a justiça e a
gestão dos bens públicos (se forem bens geridos
coletivamente);

• Do ponto de vista político, o Estado tem exercícios limitados


pela Constituição, que protege os cidadãos;

• Os direitos fundamentais:

- Originários- nascem com cada indivíduo e nenhum Estado os pode


violar;

- São direitos consagrados na Constituição: A Constituição tem


supremacia jurídica e todas as ações do Estado têm que se lhe
submeter.

- Defendem o cidadão do Estado.

• Divisão de poderes:

O Estado é dividido em funções e cada uma é atribuída a um órgão:

- Legislativo: Parlamento;

- Executivo: Governo;

- Judicial: Tribunais.

A divisão de poderes só se justifica em função da necessidade de


garantir a liberdade individual contra os abusos do poder. Porém, a
aplicação do princípio da divisão de poderes não reflete um
equilíbrio abstrato e neutral entre os três poderes. O Estado de
Direito Liberal consagra a supremacia da função legislativa,
entendida como exprimindo verdadeiramente a vontade de toda a
sociedade. O predomínio do poder legislativo traduz na crescente
supremacia da Burguesia sobre o poder do Estado.

Dois princípios demonstram a verdadeira natureza da divisão de


poderes como técnica de organização do Estado visando a garantia
das liberdades individuais: o princípio do Império da Lei e o
princípio da Legalidade da Administração.

• Império da Lei:

A Lei devia prevalecer sobre todos os atos, como o ato


necessariamente justo. A Lei era legitimada pela aprovação do
órgão que representava a vontade geral (Parlamento), onde todos
estavam representados. Só assim se garantia a liberdade e a justiça.

A Lei garantia a igualdade, a segurança e a previsibilidade, pois,


sendo geral e abstrata excluíria, por definição, a discriminação, o
privilégio e o arbítrio individual. A Lei era igual para todos e todos
iguais perante ela. Era automaticamente justa e só era preciso
garantir o seu cumprimento e aplicação.

Estando o Parlamento dominado pela Burguesia, uma divisão de


poderes dominada pelo princípio do império da lei resultava num
Estado dominado pela Burguesia, o que explica todo o Estado
Liberal. Tornava-se necessário garantir a subordinação dos demais
atos do Estado relativamente à lei, ou seja, ds demais órgãos do
Estado relativamente ao Parlamento.

• Legalidade da Administração:

O princípio da Legalidade da Administração atuava em duas


dimensões:

- Preferência da lei: só são válidos os atos administrativos que não


estejam proibidos pela lei;

- Reserva da lei: só são válidos os atos administrativos previstos na


lei.

Estado Social e Democrático de Direito:


• A ideologia liberal entra em declínio no século XX com a crise
económica que leva à I Guerra Mundial;

• Os cidadãos exigem uma maior intervenção estatal;

• O Estado passa a intervir mais:

- no processo produtivo;

- na redestribuição do produto social;

- na intervenção, direção e planificação global do processo


económico.

• A sociedade deixa de ser considerada como uma área


auto-suficiente, para ser encarada como um objeto suscetível
e carente de uma transformação e estruturação a prosseguir
pelo Estado com vista à realização da justiça social.
Posteriormente, surgirá o Estado Social;

• O Estado Social é caracterizado por:

- Estadualização da sociedade:

. A sociedade pede a intervenção do Estado;

. O Estado intervém, mas é limitado pelas normas jurídicas;

. O Estado preocupa-se com a igualdade de oportunidades;

. O Estado define metas a atingir e começa a orientar, dirigir e


controlar a atividade económica com vista a alcançar essas metas;

. O Estado assegura os serviços e sistemas essenciais ao


desenvolvimento das relações sociais (água, eletricidade, saúde,
educação, etc.).
- Socialização do Estado:

. A sociedade preocupa-se em atuar sobre o Estado;

. Os cidadãos organizam-se por interesses e aumentam a sua


influência e controlo sobre o aparelho do Estado (através dos
partidos políticos, associações políticas, grupos de pressão, etc.);

• O Estado Social e Democrático de Direito apresenta algumas


diferenças face ao Estado de Direito Liberal:

- Exemplo: Mantêm-se a abstenção do Estado na interferência nas


liberdades do cidadão, mas acrescenta-se condições para o livre e
igual desenvolvimento do indivíduo e da sua dignidade.

• Conceção dos direitos e liberdades fundamentais:

- É desvalorizado o direito à propriedade (deixa de ser um direito


absoluto e continua a ser regulado, porém limitado);

- Generalização dos direitos políticos (instaurado o sufrágio


universal, os direitos fundamentais são realizados com a
democracia e é reconhecido o pluralismo partidário, direito de
oposição, eleições, ser eleito, etc.);

- Os direitos fundamentais são concebidos como direitos contra


terceiros (não são só proteção contra o Estado, mas também
proteção contra outros indivíduos- Exemplo: contra o
empregador/patrão através do direito à greve).

• Divisão de poderes:

- Diluição das fronteiras:

- Para além do Parlamento, o Governo tem iniciativa legislativa e


competência legislativa;

- O Parlamento intervém na Política e na Administração e aprecia


diplomas do Governo;

- O poder judicial controla o Parlamento declarando a


inconstitucionalidade das leis, e o Executivo, julgando nulos os atos
ilegais.

• Princípio da justiça constitucional:

- Tem base no valor das normas constitucionais;

- Há uma fiscalização judicial da constitucionalidade;

- É um mecanismo de compensação das tentações de arbítrio.

• Princípio da Legalidade da Administração:

- Tende para o estabelecimento do princípio da reserva total de lei


(junção do princípio da preferência da lei com o princípio da
reserva da lei- toda a atividade carece de fundamento legal).

Estados Autocráticos do século XX:

Revolucionário anticapitalista-URSS:

• Até 1917, para além dos vários problemas económicos e da


entrada na I Guerra Mundial por parte da Rússia,
predominava um regime czarista;

• No ano de 1917, predominaram na Rússia duas revoluções:

- Revolução de Fevereiro: o governo provisório (formado por


socialistas moderados- república liberal) estavam no poder;
- Revolução de Outubro: liderada pelo Partido Bolchevique
(Lenine), que derrubou o governo provisório e a Rússia tornou-se
no primeiro país socialista do mundo até 1991.

• Fundado na crítica marxista do Estado capitalista e no seu


programa revolucionário, o projeto do Partido Bolchevista:

- Opôs-se ao absolutismo czarista;

- Oposição ao liberalismo;

- Objetivo: instauração de uma ditadura do proletariado (uma


minoria de proletários governava todos);

- Área central de intervenção: economia.

• O Marxismo-Leninismo na URSS:

- Adaptação do projeto marxista por Lenine;

- Processo de apropriação coletiva dos meios de produção através


do Estado;

- Objetivo: defender o desenvolvimento do socialismo e a


construção do comunismo;

- Poder do proletariado- socialização dos meios de produção- fim


das classes (fim do Estado);

- Contudo, o Estado não acabou:

. foi-se prolongando;

- teve que reforçar-se porque se agravou a luta de classes;

- Não houve uma socialização dos meios de produção, mas sim a


estatização dos meios de produção;

- Crescimento de um aparelho burocrático;

- Regime de partido único e proibição de todas as formas de


oposição (sindicatos, associações políticas, etc.);

- Sufrágio restrito (não votam proletários e os detentores de


propriedade privada);

• Direitos fundamentais: o cidadão ativo tem o direito e o dever


de participar na vida da sociedade socialista. Os direitos são
simultaneamente deveres- os direitos do cidadão
reconhecidos pela Constituição devem ser ativamente
exercidos a fim de progredir para a sociedade socialista;

• Comunidade dos Estados Independentes (CEI):

- Protocolo ao Acordo de Minsk: confirmação das 11 ex-repúblicas


em participar na CEI (Azerbaijão, Arménia, Bielorrúsia, Moldávia,
Rússia, etc.);

- A CEI não era mais que uma união, no sentido do direito


internacional, agrupando Estados soberanos e independentes;

- A Rússia representava toda a URSS na ONU.

Estado Conservador:

• Anti-liberal;

• Anti-comunista;

• Rejeitam qualquer forma ou mecanismo democrático


(parlamentarismo, multipartidarismo, direito de oposição,
etc.);

• São contra o combate à luta de classes;

• Defendem o culto da autoridade (culto ao chefe);

• As elites estão predestinadas a governar;

• São estados totalitários;

• Exercem o poder de forma limitada;

• Nunca se pode questionar o Estado.

Fascismo Italiano:

• Era um estado conservador, que sempre defendeu a inserção


do indivíduo em grupos sociais controlados pelo Estado;

• A vida tem de ser séria, austera e religiosa;

• O Partido Nacional Fascista surge com muita propaganda, o


que motivou o seu crescimento e foi representante do
orgulho e respeito de Itália como vencedora da I Guerra
Mundial;

• Foi um movimento sem bases filosóficas e surgiu como reação


imeadiata ao Estado de Direito Liberal;

• O Duce é o órgão do Estado;

• São inadmissíveis os grupos fora do Estado (partidos políticos,


associações políticas, sindicatos, etc.);

• Os interesses do indivíduo são protegidos quando coincidem


com os do Estado;
• Foi um Estado corporativista:

- Rejeição da luta de classes entre patrões e sindicatos;

- Rejeição do individualismo defendido pelo Estado de Direito


Liberal;

- O Estado integra as várias associações no seu aparelho.

Você também pode gostar