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CAPÍTULO I
4. Introdução à ideia de constitucional
Constituir: Constituição seria organização/estabelecimento de algo. Constituição como forma ou
natureza de um governo de uma determinada comunidade.
Constituição: como lei fundamental é um diploma um conjunto de normas de uma comunidade
estadual e ainda o resultado de um processo. Esta tem de ser capaz de traduzir os valores
essenciais de uma determinada comunidade.
O conceito de constitucionalismo é útil pelas seguintes razões?
Por nos permitir a relação íntima entre a história das ideias, os movimentos sociais e
políticos e a concretização efetiva dessas ideias nos diversos sistemas.
Evitar a confusão entre constitucionalismo e aprovação de Constituições.
Constitucionalismo não é o mesmo de constituição, uma vez que nem todos os países
possuem uma constituição escrita, ou seja, o constitucionalismo não tem de resultar de uma
constituição escrita. Por exemplo: O UK não tem uma constituição em sentido formal
(escrita).
Por este conceito poder servir de grelha aplicável a qualquer sistema político, nacional ou
supranacional, real ou ideal
É um instrumento particularmente útil para efeitos de comparação entre os diversos
sistemas, seja na perspetiva histórica, seja na atualidade
Constitucionalismo
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o O lado do limite que se traduz nas ideias de moderação e limitação do poder, de
garantia dos direitos individuais, de independência dos tribunais, de separação de
poderes, de tutela judicial.
o O outro lado é a o da construção da unidade política
Com isto a ideia de constitucionalismo implica a garantia de um limite claro destinado a proteger
aqueles que compõem o todo da comunidade.
AULA Constitucionalismo: É uma expressão de origem anglo-saxónica. É uma ideia/movimento que
se transformou numa tradição que visa a limitação do poder político do estado para proteger o
direito das pessoas e para garantir a sua autonomia e liberdade. É uma técnica de limitação do
poder. É uma teoria normativa da política. Tem o objetivo de impedir o exercício arbitrário do
poder político sujeitando o poder político a regras e parâmetros, de modo a garantir a proteção dos
direitos dos cidadãos. Tem também um objetivo de integração como construção da unidade política
(objetivo complementar e secundário) de modo a traduzir os valores essenciais de uma
comunidade. Fenómeno ligado ao estado moderno e soberano e tem diversas fases de evolução
consoante o estado em causa.
Na nossa constituição tudo o que está lá deve ser pensado tendo em conta o direito das pessoas
(art.27; 2; 9; 12 a 79) à uma grande prevalência dos direitos fundamentais sobre outras dimensões
expresso sobre a dignidade da pessoa humana (revela-se na autonomia e liberdade que nos é dada
para fazer as nossas escolhas – numa dimensão material (trabalho) e noutra dimensão de
autodeterminação espiritual (trabalho, família, termos religiosos, políticos, desportivos) –
possibilidade de escolha. Garantir que nas constituições e na organização do poder a pessoa é vista
como um fim e não como um meio, e o estado como um instrumento.
É possível separar o constitucionalismo em dois momentos, o antigo e o moderno:
O constitucionalismo moderno é um fenómeno moderno ligado ao nascimento do Estado moderno
na Europa – séc. XIV. Contudo a ideia de constitucionalismo desde o momento que surgiu até os
dias de hoje já passou por diversos estádios, ruturas e transformações, como aquelas que estamos
neste momento a assistir (de emergências do constitucionalismo para além das fronteiras do
Estado).
Maria Lúcia Amaral defende que constitucionalismo é herdeiro natural do ideal antigo do governo
moderado, mas que traz uma rutura com a tradição clássica
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Poder legislativo como o mais importante – a cargo do parlamento (representando a
vontade do povo)
Decisões políticas de acordo com a vontade da maioria.
Segundo Maurizio Fioravanti identifica as seguintes 4 fases do constitucionalismo:
Constitucionalismo das Origens (século XIV até segunda metade do século XVIII – 4 séculos)
Fica desde logo associado a grandes nomes do modelo constitucional inglês e a filósofos.
Entre eles Maquiavel que propôs o princípio fundamental de moderação, o Althusius que
pôs em destaque o papel do pacto e Montesquieu que recupera o ideal da forma moderada
de governo, inspirado justamente a Constituição de Inglaterra. Características:
o Parte das realidades sociais e jurídicas existentes de facto;
o Não envolve nem a ideia de poder soberano, nem de a igualdade, nem a de direitos
individuais
o É um constitucionalismo historicamente fundado
o Assenta num princípio de moderação, mas também de firmeza
o Tem como objetivos a coexistência, a estabilidade, a concórdia e o evitar as crises
o Representa o ideal da Constituição mista, assente em leis fundadas na história
Constitucionalismo das Revoluções (dura menos de um quarto de século – Nos EUA termina em
1789 e na França em 1799)
Desperta na filosofia política de Hobbes. Este tem um continuador Rousseau que lhe
acrescenta o elemento democrático e tem o seu desenvolvimento em Locke e Kant.
Características:
o Igualdade dos indivíduos como postulado – deixam de ser entendidos como parte
de grupos e/ou classes diferentes
o Não se parte das realidades existentes da sociedade, mas de um estado de natureza
o Proclamação dos direitos naturais como direitos morais (direitos do homem)
o Matriz Radical/ Hobbesiana: recusa da moderação e equilíbrio de poderes. Valoriza
a vontade geral, soberania ilimitada e democracia Direta.
o Matriz Moderada/ Lockeana: não rompe totalmente com a tradição do
constitucionalismo anterior. Requer a separação de poderes, nomeadamente o
poder de fazer a lei e o executivo, coloca como fim da sociedade política a
conservação dos direitos naturais e concebe a Constituição como conjunto de
princípios e que o primeiro é a Liberdade.
Constitucionalismo da época liberal (dura sensivelmente um século, vai de 1814 a 1917)
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o Ignora-se a ideia de soberania da constituição (pensamento EUA). Afirma-se a
supremacia do Estado e o primado da lei, excluindo qualquer forma de controlo
jurisdicional da constitucionalidade das leis.
o Inglaterra: soberania do parlamento.
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Marsílio de Pádua é considerado o precursor da modernidade, ao definir como legislador o povo ou
o conjunto dos cidadãos, cabendo ainda ao poder legislativo eleger o poder governativo, que lhe
está subordinado.
Finalidades do constitucionalismo
O constitucionalismo tem como objetivo a garantia da proteção da liberdade humana. (limitando o
poder político).
Segundo Locke o Estado é criado para preservar e garantir a liberdade, a vida e a propriedade
(entendida esta como o que é próprio do homem os seus direitos). Segundo Montesquieu, a
doutrina da separação de poderes está centrada na necessidade de garantir a liberdade política, a
qual só existe sob governos moderados e segundo Rousseau o contrato social é celebrado para
tentar preservar a liberdade primitiva.
Se passarmos aos grandes textos, é possível observar, que o que está na cabeça dos documentos
fundadores (declaração da independência dos EUA, declaração de direitos de virgínia ou a
Declaração dos direitos do homem e do cidadão francesa) do constitucionalismo das revoluções são
os direitos naturais.
Uma das traves do constitucionalismo da democracia constitucional é a prioridade dos direitos
fundamentais sobre qualquer outro valor constitucional e o dever estrito do poder político de
respeitar e proteger esses direitos. Estes direitos fundamentais vêm normalmente à cabeça das
Constituições, havendo também mecanismos internos e internacionais de reação contra violações
cometidas pelos poderes públicos.
Direitos do Homem
O nascimento dos direitos do homem deu-se com a Revolução Americana e com a Revolução
Francesa no séc. XVII, quando os direitos naturais pensados pelos filosóficos (direitos morais)
transformaram-se em direitos proclamados como válidos para todos os homens (direitos do
homem), estas proclamações não tinham conteúdo jurídico, mas sim político e moral. Desde essa
altura até hoje passaram por duas metamorfoses:
1. Esses direitos transformaram-se em direitos constitucionais (direitos fundamentais) –
garantindo-se a efetividade dos direitos, prevenindo-se eventuais tiranos e garantindo-se
que assim podia ser deferida ao poder judicial. (finais do séc. XVIII e durante o séc. XIX em
numerosos países incluindo Portugal).
2. Com o fim da II Guerra Mundial, perante a violência sofrida pela pessoa humana, os antigos
direitos do homem vieram a sofrer a segunda metamorfose elevando-se a direitos humanos
internacionais (direitos humanos), porque se verificou que não bastava a proteção oferecida
a nível nacional. Quer a soberania dos Estados, quer a ordem jurídica por estes estabelecida
tinham fraquejado na proteção da pessoa humana.
Com isto direitos naturais pertencem ao domínio da Filosofia. Direitos do Homem estudados por
várias disciplinas. Direitos fundamentais estudados pelo Direito Constitucional e direitos humanos
estudados pelo Direito Internacional.
Segunda funcionalidade foi a limitação e racionalização do poder político.
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Em Hobbes, o poder está limitado pelo fim de garantir a segurança dos súbditos, mas também pela
equidade. Quanto à racionalização, este considera a “Igual submissão de todos à lei”.
Em Locke, o poder político está limitado pelo fim de garantir a vida, liberdade, propriedade e pela
prossecução do bem comum e pelo apelo à Revolução. A ideia de racionalização aparece com
separação de poderes e subordinação do poder executivo à lei, mas também com a separação das
Igrejas do Estado.
Em Montesquieu, o poder político está limitado pelo direito, pelo pluralismo social e pela
moderação, e pelo controlo recíproco entre os poderes legislativo e executivo. A ideia de
racionalização aparece na teorização dos regimes políticos e na doutrina da separação de poderes.
Em Rosseau a racionalização surge no conceito de vontade geral, na regra da maioria, na
reclamação da democracia direta e na participação de todos os cidadãos na feitura da lei.
Em Kant o poder político é limitado pelo princípio da liberdade que impõe a garantia dos direitos.
Mas também pela moderação e recusa do despotismo. A racionalização surge pelo princípio da
maioria, na especial função atribuída à lei, bem como na ideia de separação de poderes.
Futuro
No contexto de globalização em que nos encontramos poderemos falar de Constitucionalismo
Global?
Não há dúvidas que existe um poder político para além das fronteiras do Estado, que pode tal como
o poder político no âmbito do estado representar igualmente uma ameaça para a pessoa,
precisando ele também de ser limitado e racionalizado. Formas de regulação do poder político para
além das fronteiras já existente:
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Constitucionalismo Britânico
Diferente de todos os outros do mundo inteiro é o que chega primeiro séc. XIV (idade média) –
Magna Carta do séc. XIII já tinha conferido alguns direitos que serão a base da constituição. Este é o
que inicia o caminho que acabará por ser seguido mais tarde por todo o constitucionalismo
ocidental, com a eclosão de um conjunto de direitos fundamentais que são a base das nossas
constituições.
Constitucionalismo britânico características:
A tradição e o pragmatismo,
A revolução e a reforma
Teve como principais agentes o rei e o parlamento (supremacia da lei – princípio mais
importante é a soberania do parlamento)
Finalidade: expansão da liberdade
Períodos:
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Ideia de que o poder supremo se deve exercer através da lei do parlamento – princípio da
“Rule of Law” (Primado do Direito ou Estado de Direito) – governo das leis e não dos
Homens.
o James Harrington – define:
Governo de Direito – “império das leis e não dos homens”.
Governo de Facto – “império dos homens e não das leis”.
Marcas da Constituição Britânica – constituição histórica não escrita e em grande medida
consuetudinária.
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o Primeiro-Ministro – líder do partido mais votado, por convenção constitucional. Eixo
da vida política. Este é o líder do partido maioritário, líder do Gabinete e líder da
maioria parlamentar. Em 2022 recuperou a iniciativa de dissolução.
o Ministério: os ministros são escolhidos pelo primeiro ministro de entre os membros
da camara dos comuns (pode haver alguns da camara dos Lordes). Ministros
juniores.
O Parlamento Bicameral
o Câmara dos Comuns – eleitos por sufrágio universal (mandato 5 anos), tem 650
deputados e elegem entre eles o speaker que preside e dirige, com máxima
independência os trabalhos parlamentares. Função política, legislativa e de
fiscalização.
o Câmara dos Lordes – são em geral nomeados, são aproximadamente 800 membros.
Poder de retardar a aprovação de leis pelo período de um ano.
Supremo Tribunal do Reino Unido
Direitos e Liberdades: apesar de haver um conjunto de textos históricos e também textos mais
recentes (Ex. Human Rights Act), sobre a matéria, a proteção fundamental continua a advir do
costume e do common law, mas também do enraizamento profundo dos direitos na cultura. O
único problema é que por falta de Constituição formal, não há direitos fundamentais em sentido
estrito no Reino Unido.
Sistema Eleitoral: para a Câmara dos Comuns é um sistema maioritário uninominal a uma volta –
apenas é eleito um deputado em cada um dos 650 círculos, o candidato que tiver mais votos.
Sistema de Partidos: desde o surgimento dos whigs e dos tories no séc. XVIII, o sistema de partidos
é bipartidário, com uma forte organização e disciplina, sendo os dois principais partidos – o
conservador e o trabalhista. Contudo em circunstâncias excecionais pode ter alguma relevância um
terceiro - partido dos liberais democratas. Na última década, tem aumentado a imprevisibilidade
eleitoral, a fragmentação partidária e a instabilidade governativa.
Dado o princípio da supremacia do parlamento e a natureza da constituição, não existe fiscalização
da constitucionalidade das leis em sentido estrito, contudo tem se observado a emergência de uma
forma fraca de fiscalização de common law.
Constitucionalismo Norte Americano
A Revolução Americana (1774 a 1789) e o processo constituinte que lhe virá a estar associado
começam por ser um ato de protesto das colónias contra a Grã-Bretanha, por causa da lei do papel
selado, tendo então os colonos argumentado, no taxation without representation. A reação da
coroa inglesa e o surgimento das leis intoleráveis vão dar lugar à revolta e à guerra das colónias
com Inglaterra.
Entretanto as colonias em guerra convocam dois congressos e a 4 julho de 1776, o II Congresso vota
a Declaração da Independência, que apela aos direitos naturais, ao Povo e à liberdade. Os novos
Estados recém-independentes criam uma confederação, perante a fraqueza desta estrutura, sob o
impulso dos pais fundadores, da proposta de reforma dos Artigos da Confederação, acabará por
resultar a aprovação, na Convenção de Filadélfia, da Constituição Federal de 1787
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Segundo o Professor Gomes Canotilho, podemos sintetizar as marcas do constitucionalismo Norte-
Americano:
Constituição em sentido formal: texto solene, escrito, que se distingue das demais leis
ordinárias e vai sendo enriquecida pelo costume.
Rígida: só pode ser alterada através de um processo especial, que exige 2/3 dos votos no
Congresso e a ratificação por 3/4 dos Estados e há matérias que não são passíveis de
revisão.
Apesar de apenas ter 7 artigos a Constituição adaptou-se através não só dos Adiamentos,
que se tornaram cada vez mais raros, mas também através das interpretações do Supremo
Tribunal (interpretação evolutiva).
Atualidade
Matriz dominante: Moderada ou Lockeana – primado da constituição, governo das leis e não dos
homens, direitos fundamentais como limites da ação do estado, divisão e equilíbrio de poderes e
controlo da constitucionalidade das leis.
Forma de Estado: são um Estado Composto Federal, havendo uma dupla estrutura do poder
político no território e uma sobreposição de Constituições (a do Estado Federal e a dos 50 estados
federados) – Federalismo Perfeito.
Regime político: democracia constitucional
Sistema de governo: presidencialismo
Principais órgãos – função política
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Presidente – escolhe e demite os seus secretários. Eleito por sufrágio universal formalmente
indireto (4 anos), podendo ser reeleito uma vez. Juntamente é eleito um vice-presidente (2
anos). Poder executivo.
Nem o Presidente pode dissolver o Congresso nem o Congresso pode demitir o Presidente, todavia
foi previsto todo um sistema de freios e contrapesos (“checks and balances”).
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Corte com o Passado – procura criar uma ordem social e política totalmente nova, rutura
com a constituição histórica e com os direitos até aí concedidos
Proclamação de novos direitos – os direitos do homem e do cidadão são proclamados como
direitos individuais e totalmente novos.
Repousa no artifício do contrato social – assente nas vontades individuais e exprimindo-se
num texto escrito chamado Constituição
Poder de fazer a Constituição pertence à nação
Marcas da Constituição de França – parâmetro político de regulação dos poderes do Estado:
Em comparação com a Britânica (não há constituição escrita) e a dos EUA (há apenas uma
constituição escrita. Na França houve mais de uma dúzia de Constituições.
Não se pode falar em direitos fundamentais – como Inglaterra – Em França não há a
constitucionalização dos direitos fundamentais pois ainda vigora a Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão (1789)
Não há fiscalização da constitucionalidade – por força da ideia de lei como expressão da
vontade geral (Rosseau); a partir de 2008 começou a surgir um controlo a certas questões –
recusa dos juízes interferirem nos demais poderes
Texto Político apenas – não é uma lei superior como EUA.
Artificial e desligada da realidade
Leis acima da constituição
Distinta das leis ordinárias e feita pelo poder constituinte
Atualidade
Matriz dominante - Confluência de matrizes: Rousseauniana – ideia de lei como expressão da
vontade geral, na soberania popular e no referendo; Constitucionalismo Liberal e Bonapartista.
Forma de Estado: estado unitário descentralizado
Regime Político: democracia constitucional
Sistema de Governo: Hiper-presidencialismo – confluência entre maioria de governo e a maioria
presidencial.
Principais órgãos – função política:
Presidente da República – eleito por sufrágio universal (5 anos) e primazia inequívoca deste
o Eixo da vida política de quem o Governo depende
o Preside ao Conselho de Ministros
o Pode dissolver a Assembleia Nacional
o Exerce veto absoluto sobre diplomas do Governo e veto suspensivo sobre leis
parlamentares
o Tem iniciativa de revisão constitucional e de referendo
o Nomeia o Primeiro Ministro, pode solicitar a sua demissão
O Governo
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o Chefiado pelo Primeiro-Ministro: responsável por dirigir a ação do governo e de
exercer a importante prerrogativa de fazer prevalecer a palavra da Assembleia
Nacional em caso de discordância prolongada do Senado
o Cabe determinar e conduzir a política da Nação
o Poder Executivo Dualista – tanto o governo como o presidente exercem o poder
executivo
O Parlamento bicameral
o Assembleia Nacional – principal camara do parlamento, eleitos por sufrágio universal
(5 anos), com 577 deputados
o Senado – representa as unidades territoriais, eleitos por sufrágio indireto (9 anos) e
cada 3 anos renova-se um terço, com 348 deputados
O Conselho Constitucional – composto por 9 membros e onde participam os antigos
Presidentes da República – exercem funções de controlo da constitucionalidade. São
designados um terço pelo PR, pelo presidente da Assembleia Nacional e pelo presidente do
senado.
Direitos e Liberdades:
Sistema Multipartidário
Tendência de formação de dois blocos: o da esquerda e o da direita
Fiscalização da constitucionalidade: responsável pelo conselho Constitucional
CAPÍTULO II
7. Enquadramento Histórico
O Estado, tal como o concebemos hoje em dia, é uma criação da modernidade e, entendido como
pessoa coletiva, é uma criação ainda mais recente.
Tipos históricos de Estado:
É importante, face a eventos recentes, conhecer os diferentes tipos de Estado, começando pelos
que precederam o Estado moderno.
Podemos separar estes tipos de Estado em: Estado oriental, Estado grego, Estado romano e Estado
medieval. Tem desde logo em comum ausência de uma constituição em sentido formal, ausência
de igualdade jurídica entre as pessoas e normalmente a ausência de direitos e liberdades
fundamentais.
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O Estado oriental:
Grandes impérios do oriente (e.g. assírio, persa) que se caracterizavam por serem impérios
de grande dimensão.
O exercício do poder baseava-se na religião (teocracia).
Eram sociedades desigualitárias e hierarquizadas (estratificação social, escravatura, etc.).
Com garantias individuais escassas ou nulas.
O Estado grego:
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2. Fase do Estado de polícia: tem o seu apogeu no séc. XVIII em que o Monarca já não é dono
do Estado e em que a origem do seu poder já não é divina, mas racional.
O Estado Absoluto:
É um estado que não está limitado pelo direito (está acima do direito)
Há uma concentração de poderes no rei
Não existem os antigos privilégios, mas ainda não foram reconhecidos os novos direitos do
homem, podendo as pessoas estar sujeitas a intervenções arbitrárias por parte do Monarca
O critério de ação política passa a ser a “razão de Estado”, ou seja, a conveniência e não a
legalidade
Prevalência da lei sobre o costume
A intervenção do Estado alarga-se à cultura, à economia, à assistência social, etc.
Desde o séc. XVII até hoje, o Estado Constitucional em sentido amplo, além de momentos de rutura
e de suspensão, já passou por diversas formas históricas, havendo aqui uma obvia relação com as
outras duas fases do constitucionalismo: constitucionalismo liberal (Estado Liberal) e o
constitucionalismo da democracia constitucional (Estado Social e Democrático de Direito)
O Estado Liberal caracteriza-se por:
Chega ao Reino Unido com a Glorious Revolution (séc. XVII), aos EUA e à França com as
revoluções do séc. XVIII e aos restantes países da Europa no séc. XIX
Reino Unido: rule of law; Alemanha: Estado de Direito (rechtsstaat); França: Estado
Constitucional (état constitutionnel)
Contraponto ao estado de polícia: limitado e organizado juridicamente, garantindo direitos
fundamentais, governos representativos e diferença entre titularidade do poder político
(povo) e exercício do mesmo (governantes)
Burguesia como classe dominante: liberdade económica e segurança de propriedade –
separação entre sociedade e Estado, intervenção mínima do Estado (guarda noturno),
regulação pelo Direito.
Estado é pessoa jurídica com funções repartidas e supremacia da lei.
Estado Social e Democrático de Direito:
Totalitarismos do séc. XX (Estados de não-Direito, antiliberais) na Europa terminaram com o
conceito de Estado Liberal. Surge o constitucionalismo a democracia constitucional – Estado Social
e Democrático de Direito.
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Traz transformações no plano dos direitos fundamentais (constitucionalização dos direitos sociais e
alargamento de direitos políticos) e na divisão de poderes (racionalização e eficiência da atuação
estatal, garantindo a supremacia da Constituição e o primado dos direitos fundamentais).
O Estado moderno em que vivemos é um Estado Constitucional. É marcado por características
como:
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mas uma dimensão à própria ideia de Estado e ainda é o resultado da interligação dos três
anteriores por isso não é necessário, e o que interessa são os 3 principais.
Elementos formais de Estado:
O nome: designação dada ao Estado, que lhe confere individualização e pode explicitar
outras referencias, nomeadamente à forma de Estado e à forma de governo. Ex. República
Portuguesa (indica logo a forma de governo do nosso país) = Portugal
Símbolos nacionais: Bandeira (art.11) e o hino Nacional “A Portuguesa”
Reconhecimento do Estado: Língua oficial é o Português
Povo
Antigamente o conceito de Povo estava interligado como sendo uma componente da sociedade de
um estrato social mais baixo. Contudo atualmente entende-se por Povo o conjunto de todos os
cidadãos de um estado, ou seja, como o conjunto das pessoas que se encontram ligadas ao Estado
através de um vínculo jurídico de cidadania ou nacionalidade. Assim, o povo português é o conjunto
de cidadãos portugueses (art.4 da Constituição).
O único termo que interessa é o conceito de Povo no contexto jurídico. Visto que o conceito de
povo corresponde numa perspetiva normativa ao conjunto de todos aqueles para os quais vigora
especificamente uma ordem jurídica, quer, em geral, pelo facto de o povo ser determinado pelo
vínculo jurídico da cidadania.
Contudo não devemos confundir este termo com o de população ou nação.
A População corresponde ao conjunto de pessoas, sejam ou não nacionais, que residam
habitualmente no território do Estado. Não é um conceito jurídico está mais ligado às ciências
sociais, demográficas e económicas, daí interessar mais o conceito de povo.
Nação é uma coletividade identificada pela comunhão de laços culturais ou espirituais e histórico-
geográficos entre os seus membros, permitindo recortar uma alma comum ou espírito comum.
Contudo o conceito de Nação desapareceu da constituição, pois ficou muito ligado ao ideário do
Estado Novo, com isso tornou-se um conceito politicamente tóxico no Pós 25 de Abril. Para além
disso tal como população este conceito não é um conceito útil em termos jurídicos.
Mesmo assim esta ideia de nação esteve na base da formação de uma série de Estados. E permite-
nos distinguir entre Estados, como os Estados Nacionais (ex. Portugal - é um estado Nacional,
porque temos uma Nação - A Nação Portuguesa), Estados Plurinacionais (ex. Espanha) e os Estados
sem espírito nacional (ex. antigas colónias).
Relevância do conceito de nação em Direito Constitucional:
No respeito devido a certas tradições religiosas da comunidade, mesmo num Estado laico
Na proteção devida ao património cultural ou a defesa da língua
No reduto que deve constituir a defesa da identidade nacional, no âmbito da construção da
união europeia.
A cidadania ou nacionalidade – expressões que são usadas como sinónimas no nosso
ordenamento, com tendência da Constituição a privilegiar a primeira e a lei ordinária a segunda – é
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um vínculo jurídico que liga uma determinada pessoa a um determinado Estado. Não estando,
todavia, excluída a possibilidade de alguém ter mais que uma nacionalidade. Caso alguém tenha
mais que uma nacionalidade, só a do Estado em causa, neste caso Portugal é relevante para efeitos
jurídicos. Além de ter mais que uma nacionalidade, uma pessoa pode não ter qualquer
nacionalidade, sendo um apátrida. Este é um fenómeno que tenta ser eliminado, por exemplo pela
determinação que quem nasça no território e não tenha outra cidadania, adquira a portuguesa (lei
da nacionalidade – art.1º/1/g).
O vínculo pode seguir dois critérios tradicionais:
Ius sanguinis: vínculo é determinado pela filiação (são nacionais os que forem filhos de um
nacional)
Ius soli: o vínculo é determinado pelo local de nascimento (são nacionais os que nasceram
no território).
Embora Estados mais antigos tendem a demonstrar uma prevalência do ius sanguinis, e os Estados
mais recentes o ius soli.
Em Portugal, depois da existência secular de um sistema misto, com prevalência do ius soli, a lei da
Nacionalidade de 1981 pretendeu reduzir o peso do ius soli, concedendo prevalência ao ius
sanguini. Todavia, as sucessivas alterações introduzidas nas duas últimas décadas vieram reforçar
de tal modo a relevância do ius soli (tendo em vista a integração de dos filhos de imigrantes),
fazendo com que o Direito Português regressasse novamente a um sistema misto.
O regime jurídico da nacionalidade no ordenamento português é pautado pelos seguintes traços
característicos:
Cidadania originária: atribuída por lei, seja por mero efeito da lei, pelo concurso da vontade
ou condicionada à verificação de outros requisitos (Lei da Nacionalidade – Art.1º).
o Decorre do nascimento ou do ato que se reporte ao nascimento
o É insuscetível de oposição, produz efeitos desde o nascimento
o Garante a plenitude de direitos
Cidadania derivada: não se reporta ao nascimento, resultando sim da vontade, da adoção e
da naturalização:
o Sendo esta progressivamente vista como um direito interessado e em certos casos
passível de oposição por parte do Ministério Público
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o Produz efeitos em momento posterior ao nascimento
o Não garante a plenitude de direitos, na medida em que a elegibilidade ao cargo de
presidente da república está reservada aos portugueses de origem maiores de 35
anos (art.122º CRP)
Princípio da equiparação: todos os estrangeiros e apátridas que se encontrem ou residam em
Portugal gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres do cidadão português
(art.15º CRP). Contudo a constituição consagra nos números seguintes do art.15º todo um sistema
de exceções e desvios ao princípio da equiparação.
Território
O território é um verdadeiro pressuposto existencial do estado. Um estado tem de ter um território
(característica da sedentariedade). Este elemento abrange o território terrestre, aéreo e marítimo.
O território é o verdadeiro elemento aglutinador e unificador do povo, é também um pressuposto
do exercício de determinados poderes ou da presença de certas atribuições, e é ainda condição da
independência nacional, circunscreve o âmbito de poder soberano do estado e representa um meio
de atuação jurídico-político do estado.
A respeito da função de delimitação da soberania do Estado, há que mencionar o princípio da
territorialidade, nos termos do qual as leis e o direito do estado são aplicáveis em princípio dentro
das fronteiras do estado e àqueles que nele se encontrem. Este princípio conhece exceções como:
A atribuição de poderes soberanos a outra entidade que não o estado (ex. Hong Kong)
O privilégio da extraterritorialidade concedida aos chefes de Estado e aos diplomatas
Integração numa organização supranacional como a UE
Atribuição do estatuto de zona franca a uma determinada região dentro do território do
Estado
Poder Político
Conceito de Poder Político: A faculdade exercida por um povo de, por autoridade própria, instituir
órgãos que exerçam o senhorio de um território e nele criem e imponham normas jurídicas,
dispondo dos necessários meios de coação.
Em primeiro lugar, o poder político estadual é uma faculdade que o povo exerce por direito
próprio, admitindo que se exprima também aí uma ideia de inerência do político ao Estado
Em segundo lugar, a característica e a dimensão marcante desta faculdade reside no facto
de ela exprimir uma autoridade constituinte, autoridade essa que é assim originária e
subordinante, o que permite facilmente distinguir esta autoridade do exercício dos demais
poderes políticos
Em terceiro lugar, marca igualmente essencial reside no facto de essa autoridade
constituinte se traduzir não só na instituição dos órgãos de governo, mas também na
correspondente instituição e definição da ordem jurídica da coletividade;
Por fim, o poder político, além da autoridade de que se reveste, implica a suscetibilidade do
uso da força, estando tradicionalmente reservado ao Estado o monopólio do uso da força.
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Estado soberano e outras comunidades políticas
O Estado soberano apresenta-se como uma comunidade política cujo o poder político se aproxima
ao conceito de soberania. A soberania consiste numa qualidade identitária do poder político do
Estado e traduz-se na faculdade de este se poder livremente auto-organizar no plano jurídico, na
liberdade de tomar decisões obrigatórias para os cidadãos e para outros entes públicos e privados e
na capacidade de representar internacionalmente os interesses externos, num quadro de igualdade
formal com outros Estados.
Desta definição decorrem três dimensões:
Estados protegidos: poder político tutelado pelo Estado protetor, que orienta as relações
internacionais ou mesmo a política interna. Ex. de Marrocos até 1957 que era um
protetorado francês e espanhol.
Estados federados: o poder político encontra-se subordinado ao poder político da
Federação, única que dispõem de soberania plena, especialmente no plano internacional.
Ex. de Federações: EUA, México, Argentina, Brasil, Alemanha – os seus estados são estados
não soberanos porque dependem da sua Federação. Ex. o Texas depende dos EUA.
Um Estado é soberano quando é titular dos seguintes direitos:
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Estado Vassalo: tendo personalidade internacional, está ligado por certas obrigações
(vínculo feudal) a um Estado suserano, o que implica o exercício de uma competência
internacional dependa de uma autorização do suserano.
Estado exíguo: pela diminuta extensão do território e consequente escassez de população,
não está em condições de exercer plenamente a soberania, encontrando-se numa situação
especial face ao Estado limítrofe (exerce algumas das competências que o estado Exíguo
não consegue - competência militar. Ex. Mónaco, S. Marino, Liechtenstein ou Andorra).
Estado confederado: por ser membro de uma confederação fica com uma soberania
internacional limitada ao que tiver sido estabelecido no tratado. Existem poucos exemplos
(os que não aguentam desaparecem os que aguentam tornam-se estados federados).
Estados neutralizados: estado em que o seu estatuto internacional o impede de participar
em qualquer conflito armado, salvo em legitima defesa. Como é o caso da Suíça desde 1815.
Estados ocupados: encontram-se numa situação excecional decorrente da guerra ou de
outras vicissitudes, estando sujeitos a ocupação ou a outras formas específicas de limitação
político-militar.
O poder político (não estadual e não soberano) podem ainda ser exercido por outras comunidades
políticas territoriais que não os Estados:
Nível supraestadual: Os estados transferiram parte das suas competências soberanas para
por exemplo a União Europeia, contudo estas transferências são reversíveis (Brexit).
Nível infra estadual: exercem poder político não soberano as regiões políticas (regiões
autónomas - descentralização política – autonomia política) e as autarquias locais
(descentralização administrativa – autonomia local e poder local).
Fatores que tem levado à fragmentação do poder político do estado:
A internacionalização: por um lado, certos assuntos deixaram de ser do domínio dos Estados
para serem atribuições da comunidade internacional (a começar no direito de fazer a guerra
e a terminar nos direitos do homem); por outro lado, mesmo aquilo que há alguns anos era
entendido como sendo do domínio reservado dos Estados tem sofrido uma séria erosão;
A globalização: a existência de questões cuja resolução só pode ser encarada à escala
mundial deixa o Estado numa situação de impotência para lidar com esses problemas
isoladamente (regulação do capital, crises financeiras, aquecimento global, terrorismo, etc.);
A integração europeia: os Estados membros da União Europeia, ao transferirem parcelas da
sua soberania para a União Europeia e ao admitirem que o Direito da União Europeia vigore
diretamente na respetiva ordem interna (art.8º/4 CRP), fragmentaram de facto a sua
autoridade num conjunto de domínios, alguns dos quais verdadeiros atributos da soberania,
como o poder de decidir sobre a moeda própria;
A neo-feudalização interna: verifica-se que há diversos outros centros de poder que
rivalizam e disputam com o Estado parcelas relevantes do poder político, como sucede com
regiões as regiões autónomas e as autarquias locais, mas também com grandes empresas e
grupos económicos, financeiros e comunicacionais.
9. Formas de Estado
21
Tipologia das formas de Estado (organização territorial do Estado - relação entre o estado e o
território):
22
Estados unitário centralizado: monopólio das decisões por parte do poder político central,
um monolitismo que recusa o pluralismo de poderes públicos dentro do território de
Estado. Algo raro nos dias de hoje – ex. Angola.
Estado unitário descentralizado: existem outras pessoas coletivas públicas territoriais para
além do Estado. Ex. regiões administrativas, entes metropolitanos, municípios e freguesias.
A descentralização é de grau administrativo.
o Estado descentralizado aprofundado ou Estado unitário regional: a descentralização
é mais intensa trata de competências administrativas, políticas e legislativas.
Exemplo: Portugal, com as regiões autónomas.
Regiões autónomas e diferenças com estados federais:
Integral (Itália)
Parcial (Reino Unido)
Periférico (Portugal)
Atendendo ao estatuto aplicável, pode falar-se de regionalização uniforme ou diferenciada.
Atendendo às relações entre os ordenamentos jurídicos. Pode haver Estado Regional com
prevalência do Direito do Estado (regra geral - ordenamento da região autónoma tem de respeitar
o ordenamento jurídico de Portugal Continental) ou com sistemas jurídicos derrogatórios do Direito
do Estado.
23
Segurança: segurança contra a Natureza, segurança contra a violência dos outros homens
(acautelando tanto a paz interna como a externa), segurança contra a instabilidade e o
arbítrio. Desde modo, a segurança como fim do Estado envolve a proteção dos interesses
vitais da pessoa humana e da comunidade, a organização da força coletiva, bem como a
determinação jurídica dos direitos e deveres de cada um.
Justiça: de modo a assegurar a paz entre as pessoas é necessário assentar em relações de
mútuo respeito e de equidade.
Bem-estar: promoção das condições materiais de acesso a bens e serviços necessários à vida
da coletividade, uma vez que os indivíduos e os grupos sociais são impotentes para
isoladamente satisfazerem todas as suas necessidades vitais.
Atualmente não parece haver dúvida de que a sustentabilidade se deve perfilar como um
novo fim do Estado: apesar do correspondente desafio ser necessariamente cosmopolita e
universal, tem de caber ao Estado (e cada um dos Estados), na sua qualidade de principal
ator na esfera internacional, uma clara assunção da responsabilidade pela continuidade da
vida no planeta.
Uma sociedade justa tem de integrar e ter estes fins.
Funções do Estado: são as atividades desenvolvidas de forma permanente pelos órgãos do poder
político do Estado, tendo em vista a realização dos respetivos fins.
Critérios de diferenciação das funções do Estado:
Politico-legislativa
Administrativa
Jurisdicional
FUNÇÕES DO ESTADO
Características
Material Órgãos Formas
Institucionais
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decretos-leis
legislativas das
regiões autónomas Assembleias
políticas vão depender no seu
legislativas das
primária) Só estes órgãos é mandato de relações
Regras conduta regiões autónomas
que podem de confiança.
individual aprova decretos-
aprovar atos
legislativos
legislativos
regionais
Organização interna
com um sistema de
dependência
Satisfação das
Governo funcional, visa
necessidades da
Regulamentos assegurar uma logica
Função população (ex. Administração de coordenação e
Administrati saúde, educação, Pública – prestam Atos subordinação
va alimentação, serviços públicos – administrativos (organizar
habitação – fins do universidades,
(função departamentos) –
Estado - prestação escolas, hospitais, Contratos
secundária) sistema de hierarquia
de serviços) tribunais – integra administrativos
muitas entidades Art.199º/d CRP
Executa o direito
Imparcial, mas segue
o interesse público
Princípio da
Resolução de irresponsabilidade
conflitos de
Princípio da
interesses públicos Sentenças/
Tribunais estaduais inamovibilidade
Função e privados através Acórdãos
(fazem parte da
Jurisdicional da aplicação do estrutura do Princípio da
direito – atingir a Despachos (atos
estado e arbitrais independência
(função Paz Jurídica. interlocutórios –
secundária) (constituídos entre não decidem o
as partes) Princípio da terceira-
Os tribunais fundo da causa)
idade
também declaram
o direito Princípio da
passividade
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Princípio da passividade: o juiz não tem iniciativa (está sentado à sua mesa à espera que o
processo lhe chegue) – o juiz não deve fomentar o litígio, deve estar disponível sempre que
necessário, mas só quando é necessário.
Por sua vez o Professor Marcelo Rebelo de Sousa estabelece uma dupla distinção entre:
Político: repartida pelo Presidente da República (art.120º e 133º a 135º), pela Assembleia da
República (art.161º, 162º e 169º) e pelo Governo (art.197º, 200º e 201º)
Legislativa: confiada à Assembleia da República (art.161º, 164º e 165º), ao Governo
(art.198º), bem como às Assembleias Legislativas Regionais (art.227º)
Administrativa: confiada ao Governo (art.199º) e restante administração pública
Jurisdicional: reservado aos tribunais estaduais (art.202º) como arbitrais (art.209º)
Revisão da Constituição: Assembleia da República
As Funções Primárias aproximam-se por estarem situadas num plano de paridade constitucional,
por partilharem a essência do político (tomada de opções sobre a prossecução dos interesses
essenciais da coletividade) e por assumirem tendencialmente caráter inovatório.
A funções Política e Legislativa distinguem-se segundo esta teoria, porque:
A função Política traduz na prática atos que respeitem, de modo direto e imediato, ao poder
político e às relações deste com outros poderes do Estado.
A função Legislativa consiste essencialmente na atividade permanente e de carácter político
de definição de princípios e elaboração de preceitos com eficácia externa, tipicamente de
caráter regulador da vida coletiva e, portanto, com vocação primacial de incidência direta e
imediata nos cidadãos.
As Funções Secundárias aproximam-se por estarem subordinadas às funções primárias. Estas são
também amplamente reguladas pelo direito.
As funções Jurisdicionais e Administrativas distinguem-se segundo esta teoria, porque:
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Legislativa: atos legislativos
Administrativa: atos administrativos, operações materiais, regulamentos e os contratos
administrativos
Jurisdicional: atos de sentenças, acórdãos e despachos
Revisão da Constituição: leis de revisão constitucional
Revisão da Constitucional:
Quem tem poder constituinte é o povo. Poder de revisão constitucional. Constituição pode ser
alterada, contudo tem de respeitar os termos da própria constituição.
Como é que a função de revisão constitucional vai acompanhar as outras funções? A função de
revisão constitucional só ocorre em certos momentos ainda que intervalada e não realizada num
modo diário, esta função vai se desenvolvendo ao longo do tempo.
As Funções do Estado nos diversos sistemas constitucionais
Sistema Constitucional Britânico
Apesar da inexistência de uma Constituição formal, não deixa de ter sentido falar de uma
função constituinte, que compete primordialmente ao Parlamento, sem prejuízo do
costume e da prática ou do papel reservado aos tribunais.
Função Política: confiada ao Parlamento, ao Gabinete e ao monarca (formalmente)
Função Legislativa: confiada ao Parlamento (Câmara do Comuns), no entanto o Governo
pode ser autorizado a produzir legislação delegada
Função Administrativa: desempenhada pelo Governo, pelos governos locais e pela restante
administração pública
Função Jurisdicional: entregue aos tribunais
Sistema Constitucional Norte-Americano
A função da Revisão Constitucional: cometida ao congresso, bem como aos parlamentos dos
Estados federados (e excecionalmente o Supremo Tribunal).
Função Política: confiada ao Presidente, ao Congresso, bem como os órgãos políticos e
legislativos dos estados.
Função Legislativa: compete ao Congresso
Função Administrativa: cabe ao Presidente e aos órgãos das demais administrações públicas
Função Jurisdicional: confiada aos tribunais e residualmente ao Congresso
Sistema Constitucional Francês
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Como é que o Estado pode existir e atuar como unidade, capaz de se exprimir e de agir, se ele não
possui uma vontade física. A resposta é a de que o Estado vai ter de ser entendido e de se organizar
como uma pessoa jurídica, e para tal vai ter de estruturar internamente de um determinada
maneira, a começar pela necessidade de se munir em órgãos.
O Estado é assim uma pessoa coletiva de tipo associativo (resulta num conjunto de pessoas que se
congregam para prosseguirem em conjunto de fins não lucrativos), realizando os seus fins e
desenvolvendo as suas atividades através de órgãos que atuam em representação do povo
Órgão: é uma estrutura da pessoa coletiva que serve para exprimir a sua vontade. Têm presente em
si uma instituição e um cargo e têm poderes (competências conferidas pelas normas ao órgão). Ex.
O órgão 1º ministro exprime a vontade do governo.
Os poderes funcionais são exercidos materialmente por uma pessoa ou por um conjunto de
pessoas que estiverem providas no cargo. Ás pessoas físicas que, em cada instante, emprestam a
sua vontade ao órgão para que ele se possa exprimir chamam-se titulares. Ex. Marcelo Rebelo de
Sousa é titular do órgão de Presidente da República.
O órgão exprime a vontade da pessoa coletiva que faz parte, já o Agente são as pessoas singulares
que se limitam a colaborar no processo deformação da vontade, a preparar ou a dar execução às
decisões tomadas, mas que não exprimem a vontade coletiva. Ex. Funcionários públicos.
Competência: conjunto de poderes que a lei confere a determinado órgão para desempenhar as
suas funções. É através do exercício desses poderes que a pessoa coletiva realiza as suas
atribuições, ou seja, os interesses públicos que como tal lhe são confiados pelas normas jurídicas:
no caso do Estado além dos interesses públicos primários (fins), há uma infinidade de outros
interesses públicos que as diversas normas jurídicas cometem ao Estado.
Há problemas quando a lei estabelece os fins, mas não dá as competências necessárias? Como se
resolve? Teoria dos poderes implícitos: significa que quando é conferido um certo fim, então deve
considerar-se que a ordem jurídica também quis dar os meios necessários para atingir esse fim.
A definição normativa de competência vem exprimir os dois lados do constitucionalismo:
Traduz uma limitação do poder político Estado para garantir a liberdade da pessoa e da
sociedade
Também é um mecanismo de racionalização normativa do poder
Diferença entre:
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Tipologia dos órgãos do Estado
Classificação dos Órgãos:
1. Classificação quanto ao número de titulares:
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Constitucionais: órgãos de soberania (PR, AR, Governo e tribunais), órgãos de direção
política e os demais órgãos constitucionais (Procurador-geral da República, etc.). – art.110º
CRP
Não Constitucionais
3. Classificação quanto à estrutura:
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Esta dimensão clássica da separação de poderes podemos chamar divisão horizontal dos poderes,
ao lado da qual se perfilam outras dimensões:
A divisão vertical de poderes, que se liga à forma de Estado e à repartição do poder político
em sentido amplo pelo território (federalismo, autonomia política e autonomia local).
A divisão social dos poderes, que respeita à repartição do poder político em sentido amplo
entre o Estado e outros grupos sociais qualificados pelos poderes que exercem (como
exemplo as associações sindicais, patronais e profissionais).
A separação entre governo e oposição, resultante da observação do peso do fenómeno
partidário no funcionamento das democracias constitucionais.
No Estado Liberal de Direito foi predominantemente uma conceção clássica da divisão de poderes,
no Estado antiliberal foi negada, completa ou de forma significativa, a divisão de poderes e que no
Estado social e democrático de Direito tende a haver uma conceção flexível da divisão de poderes,
postulando que haja um órgão a exercer predominantemente o poder de legislar e outro ou outros
o poder executivo e reservando o exercício da função jurisdicional ao tribunais.
Representação Política
Não pode haver representação politica quando se verifica a identidade entre o titular do poder e os
governantes, a representação política é antes de mais a representação do povo, enquanto modo de
tornar a o povo presente no exercício do poder, em segundo lugar, a representação implica que os
governantes representam toda a coletividade e não apenas quem os designou, em terceiro lugar,
não há representação politica sem eleição, um elemento que constitui peça essencial dos sistemas
de democracia representativa.
Entende-se que a representação política é, em primeiro lugar, uma forma de representação
voluntária, na medida em que, quando o povo exerce a sua soberania através da eleição das
pessoas que irão ocupar os cargos, ocorre um verdadeiro mandato, e não uma representação
necessária: através da decisão por sufrágio, a "vontade popular" confere a um conjunto de pessoas
a incumbência de decidir e agir em seu nome e no seu interesse.
Em segundo lugar, os governantes não atuam por conta própria, uma vez que os efeitos das suas
decisões são imputados ao Estado tudo se passando como se quem tivesse agido fosse o próprio
povo organizado em Estado. Há, no entanto, e em terceiro lugar uma característica singular que
distingue esta representação o povo não confere nem pode conferir aos seus representantes
nenhumas ordens ou instruções.
Existe também o princípio do mandato livre ou representativo e a proibição do mandato
imperativo, princípio expresso no art.152º/2 da CRP, nos termos do qual os Deputados
representam todo o país e não os círculos por que são eleitos.
No constitucionalismo da democracia constitucional em que nos encontramos, a representação
política passa necessariamente pelos seguintes dois elementos essenciais: o sufrágio universal e a
indispensabilidade da função mediadora dos partidos políticos.
Modos de designação dos titulares:
Por mero efeito do Direito
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Hereditário (não existe no nosso sistema político): Sistemas monárquicos e aristocráticos –
Constitucionalismo Britânico. O novo titular ocupa a posição do sucessor hereditário, após
usualmente a morte do anterior titular.
Sorteio: teve larga difusão na Grécia Antiga e no antigo Direito Municipal Português.
Rotação: praticada na presidência do Tribunal Constitucional.
Antiguidade
Inerência: a titularidade de um cargo corre da titularidade de outro cargo (art.142).
Por efeito do Direito e da vontade
Coaptação: define-se como a forma de designação do titular de um órgão colegial por outro
ou outros titulares do mesmo órgão (acontece no caso da designação de rês juízes do
Tribunal Constitucional).
Nomeação: designação do titular de um órgão pela vontade expressa de outro órgão, seja
singular ou colegial.
Eleição: designação de um titular pela expressão de votos de uma pluralidade de sujeitos.
Aclamação
Adoção
Aquisição revolucionária
Legitimidade dos governantes
Atributo do poder político que esta ligado aos titulares do governo português, que implica
que para terem legitimidade atuem segundo um determinado número de valores e critérios
para que assim sejam aceites reconhecidos pela comunidade.
Dois tipos de legitimidade:
Legitimidade título: o titular daquele cargo foi designado nos termos da lei e isso da lhe
legitimidade que os outros órgão e cidadão respeitem a suas competências.
Legitimidade de exercício: o respeito por parte dos outros depende da forma como o
representante exerce as suas funções. Se este agir de forma que não é vista de maneira
correta perde legitimidade.
Tripartição de Max Weber
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Legitimidade direta: titulares eleitos pelo povo
Legitimidade indireta: nomeados por quem foi eleito pelo povo
Estados:
Normas de ius cogens: conjunto de normas imperativas de direito internacional às quais não
é possível qualquer derrogação, sendo inválidos os atoa dos Estados e das Organizações
Internacionais que com elas colidam. Normas resultantes de costume internacional de
alcance universal.
A Constituição: é o principal limite ao poder político, sobretudo a partir do momento em
que passou a ser considerada verdadeira norma jurídica, a ter prevalência sobre a lei e a
constituir um padrão de regulação e controlo efetivos da vida política do Estado. É dentro da
Constituição que estão previstas as principais estruturas em que se traduz essa limitação, a
começar pelos direitos fundamentais, a passar pelos diversos mecanismos de controlo do
poder do Estado e terminar numa série de princípios.
O Direito Internacional público: desempenham uma importante função de limitação da ação
do Estado, quer na regulação das relações com outros Estados e com os demais sujeitos da
comunidade internacional, quer na relação do Estado com as pessoas que estejam sob a sua
jurisdição.
O Direito da União Europeia: para os Estados nela integrados, constitui um limite do poder
político, devido à transferência e partilha de soberania (art.7º/6 e art.8º/4 CRP).
Lei ordinária: devido à ideia da submissão dos decisores políticos à lei
Limitações não-jurídicas
A moral
O pluralismo de organização política (com destaque para os partidos políticos e as
associações políticas)
A opinião pública
Os meios de comunicação
13. Regimes Políticos
Enquadramento histórico e conceito de regime político
Para Aristóteles, na definição de regime político há a considerar dois elementos:
Um elemento externo que tem a ver com a distribuição dos cargos governativos.
33
Um elemento interno que tem a ver com a conceção de justiça partilhada por governantes e
governados.
Para este havia ainda a necessidade de distinguir entre os regimes:
“Puros”: aquele em que o poder é exercido em vista do bem comum e no respeito das leis.
Seriam a Monarquia (poder político confiado a um só), a Aristocracia (poder político
exercido por poucos) e a República (são muitos os que exercem o poder político).
“Corrompidos”: seriam a Tirania (o poder é exercido por um só no seu interesse), a
Oligarquia (poder exercido por um grupo visando o interesse dos mais ricos) e a Democracia
(muitos exercem o poder no interesse exclusivo dos mais pobres).
Montesquieu distingue os regimes políticos com base na distinção entre a natureza do governo (as
condições e instituições que o definem – aspeto estático) e o princípio do governo (a paixão da
alma que revela o princípio de ação que o anima – aspeto dinâmico). Três regimes políticos
distintos:
República, que tanto pode ser democrática como aristocrática: o poder pertence ao povo ou
a um grupo e tem como princípio a virtude.
Monarquia: em que um só governa, embora com poderes intermédios e leis fixas e
estabelecidas, tendo como princípio a honra.
Despotismo: o poder pertence ao tirano, sem qualquer respeito pelas leis, e cujo princípio é
o medo.
Podemos assim dizer que regime político tem a ver com a relação entre o poder político e a
comunidade, ou seja, tem a ver com a natureza das relações entre os governantes e os governados.
Do conceito de regime político distingue-se o de forma de governo, que se restringe a um aspeto
particular, o da consideração do tempo e modo de sucessão na chefia do Estado enquanto suprema
magistratura de um dado sistema político, distinguindo-se em função do carácter vitalício ou
temporário do exercício do cargo.
Também não devemos confundir forma de governo com o conceito de forma de Estado, que tem a
ver com a articulação do poder político no território.
Tipologia dos regimes políticos:
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Segundo Carlos Blanco Morais, a tipologia contemporânea dos regimes políticos passa pela
distinção entre democracia e autocracia.
Segundo Luís Pereira Coutinho a distinção seria entre regimes totalitários, autoritários,
democráticos e teocráticos.
Deste modo que critérios devemos ter para a classificação de um regime jurídico:
Não há uma ideologia nem uma doutrina abrangente adotada pelo Estado, verifica-se uma
efetiva limitação do poder político pela separação de poderes e sobretudo pelo respeito e
pela proteção efetiva dos direitos e liberdades fundamentais politicamente relevantes e os
cidadãos participam de facto na designação dos governantes e no controlo do exercício do
poder político.
Regimes Autoritários:
O Estado adota uma doutrina abrangente ou impede que as pessoas adotem livremente
outras doutrinas, a separação de poderes e os direitos fundamentais não limitam
efetivamente o poder político e existem restrições graves ao pluralismo e à liberdade de
participação política. Ex. China e Rússia.
Totalitarismo:
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Dentro dos autoritarismos poderíamos também isolar várias formas de autoritarismo, contudo
reservamos um lugar especial para os regimes de teocracia constitucional, que existem países
islâmicos dotados de Constituição Escrita (Irão, Paquistão, Afeganistão).
14. Sistemas de Governo
Se o conceito de regime político tem a ver com as relações entre governantes e governados, o
conceito de sistema de governo tem unicamente a ver com o relacionamento institucional entre os
diferentes órgãos do poder político, podendo aplicar-se ao Estado, mas também a outras
realidades.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, o sistema de governo é a forma como se estruturam os órgãos
do poder político soberano do Estado, envolvendo:
É a Constituição que determina o sistema de Governo, por ser essa a função da Constituição.
Deve partir-se da visão jurídica para a política, na medida em que o enquadramento dos
órgãos do poder político vai depender antes de mais normas constitucionais, cabendo então
à doutrina proceder a uma leitura da Constituição e da prática política que se desenvolve na
sua sombra.
A fisionomia do sistema de Governo deriva tanto ou mais da forma como a Constituição é
efetivamente aplicada (Constituição real) do que das regras da Constituição escrita.
o Ex. no caso Francês o texto da Constituição escrita reconhecia que o Presidente
Francês teria menos poderes na Constituição do que o Presidente Português, ao
passo que como se vê na Constituição real, os poderes do presidente francês eram
maiores do que qualquer outro Presidente.
A melhor resposta é que é inútil separar rigidamente aquilo que está unido desde o início, a
perspetiva jurídica e a perspetiva política.
Para a segunda pergunta, existe também uma divisão da doutrina.
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Para alguns autores só interessa verdadeiramente o estudo dos sistemas de governo nos
regimes democráticos, na medida em que se o regime político for ditatorial, estudar o
sistema de governo torna-se completamente irrelevante.
Já para outros autores, pelo contrário, o tipo de sistema de governo consagrado em certo
Estado não pode deixar de assumir um conteúdo estritamente relacionado com o do regime
político vigente.
Numa posição intermédia, Carlos Blanco Morais, veio defender que no estrito plano do
Direito Constitucional, examinar o sistema de governo de regimes ditatoriais constitui um
exercício pouco produtivo, o mesmo já não se sucedendo no plano da Ciência Política ou do
estudo comparatístico.
A quem assiste a razão? Revemo-nos na segunda orientação.
Por um lado, porque se considera que a ciência política pode funcionar como ciência auxiliar
do Direito Constitucional, pelo que o esforço nela desenvolvido pode ser processado pelo
Cultor do Direito Constitucional.
Por outro lado, a primeira orientação acaba por tratar na mesma bitola dois regimes
absolutamente distintos, o totalitarismo e os autoritarismos. E o facto desta tese, ter o
grave inconveniente de nos deixar sem instrumentos para enquadrar e compreender os
regimes autoritários, quando estes na maioria dos casos têm características próprias que ao
Direito Constitucional muito importa conhecer.
Respondidas estas duas questões, uma primeira grande conclusão seria a de que se deve também
aqui partir de uma tripartição dos sistemas de governo distinguindo entre:
O apagamento da posição do chefe de Estado, o que explica que não possa praticar atos
político sem referenda ministral.
A separação ou dualidade entre chefe de Estado e chefe de Governo.
O Governo é solidário em relação ao seu programa e às deliberações do Gabinete.
o Se estes são os traços básicos do sistema parlamentar, sucede que diferentes
normas constitucionais, diferentes fatores políticos e diferentes práticas
constitucionais conduziram a que o sistema parlamentar assumisse diversas
modalidades:
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Sistema parlamentar orleanista: conciliação da legitimidade monárquica com a legitimidade
democrática, havendo dupla responsabilidade política do Governo perante o rei e perante o
Parlamento.
Sistema parlamentar de assembleia: postula o multipartidarismo e caracteriza-se pelo ascendente
do Parlamento em relação ao Chefe de Estado, que elege e destitui, por não existir poder de
dissolução do Parlamento e pelo facto do Governo não dispor de poderes de intervenção efetiva
junto do Parlamento, sendo este que domina a vida política, com inerente instabilidade
governativa.
Sistema parlamentar de gabinete: pressupõem em regra o bipartidarismo e caracteriza-se
essencialmente pela centralidade do Gabinete na vida política, resultante de diversos fatores, entre
os quais os vastos poderes de intervenção do Governo junto do Parlamento.
Sistema parlamentar racionalizado (existente na Alemanha, Espanha e porventura agora no Reino
Unido): caracteriza-se pela presença de mecanismos que visam dificultar a queda do governo. Uma
vez que Sistema eleitoral proporcional, leva ao pluripartidarismo e obriga a coligações, este sistema
faz também com que existam muitos pequenos partidos e uma pulverização dos votos com isso
cria-se uma necessidade de racionalização através:
Clausulas Barreiras: estabelece-se para que haja atribuição de mandatos é preciso que os
partidos tenham um mínimo percentual de votos e quem não chega lá, afasta-se (afastando-
se assim os micropartidos).
Prémio ao partido que fica em primeiro lugar nas eleições, recebe um prémio de mandatos,
dando-se algo que proporciona estabilidade governativa.
Moção de censura construtiva: tem por objeto provocar a demissão do governo
Art.195º/1/f CRP. Se a assembleia aprovar a moção pode demitir o governo, em cenários de
maioria absoluta a assembleia nunca iria demitir o governo, contudo em cenários sem
maioria era muito fácil para a oposição unir-se e derrubar o governo. Esta moção de censura
refere que estas mesmas forças que pretendem derrubar o governo tem de formar um
governo a seguir (situação que não estão dispostos a fazer), protege o governo de moções
de censura oportunistas.
o Moção: iniciativa promovida por um deputado ou grupo parlamentar
Sistema Presidencialista: nascido nos EUA e sem implantação alguma na Europa, apresenta as
seguintes características:
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Sistema Semipresidencialista: confluência de duas componentes – a componente parlamentar e a
componente presidencial.
O poder executivo está entregue a um órgão colegial (o Diretório) e não a um órgão singular
Os membros do Diretório são eleitos pelo Parlamento
Nem o Parlamento pode demitir o Diretório, nem o Diretório pode dissolver o Parlamento
15. Sistemas Eleitorais e Sistemas de Partidos
A análise dos sistemas eleitorais vai-se cingir aos regimes democráticos e terá apenas em conta o
sistema de eleição para o Parlamento/Assembleias Legislativas.
Sistemas eleitorais: são um elemento que faz funcionar a representação política, funcionando como
um conjunto de regras que definem a forma de expressão da vontade eleitoral/cidadãos na escolha
dos seus representantes. Essa expressão tem duas perspetivas:
Delimitações das circunscrições dos círculos eleitorais: São as parcelas do território do Estado no
seio dos quais são apurados os mandatos.
Podem haver vários círculos de diversa dimensão (como é habitual) ou haver um único
círculo nacional (raro).
Quando em cada círculo apenas é eleito um representante existe sufrágio uninominal (Três
sistemas analisados), quando em cada círculo são eleitos vários representantes, estamos
perante sufrágio plurinominal (Portugal; EUA na eleição do Presidente).
Definição do modo de escrutínio: Formas de apuramento dos mandatos a partir dos votos
expressos pelos eleitores.
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Vantagens: simplicidade, estabilidade governativa, menor influência dos
diretórios partidários (potência bipartidarismo), maior aproximação entre os
eleitos e eleitores (sabe-se exatamente em quem se vota – Uninominal).
Inconvenientes: injustiça, por levar tanto à sub-representação dos partidos
menos votados, como a outras distorções graves no caso das formações
políticas de caráter regional.
No UK existem 650 distritos e cada um elege um representante podendo
resultar que mesmo que um partido tenha uma percentagem de votos mais
elevada, eleja menos. Nos EUA a mesma coisa, cada estado tem um número
fixo de votos, determinado pela população, sendo possível que um
presidente seja eleito tendo menos votos expressos de eleitores.
o No sistema maioritário a duas voltas é eleito o candidato que na primeira volta
obtiver maioria absoluta dos votos, e se tal maioria não tiver sido alcançada, deve
realizar-se nova eleição para os dois candidatos mais votados na primeira volta,
sendo eleito o que obtiver maioria relativa (França; Portugal para Presidente da
República – art.126º CRP).
O sistema de representação proporcional: corresponde necessariamente a um sufrágio
plurinominal, sendo que a representação de cada partido deve ser proporcional ao número
de votos que lhe couberam na eleição.
o Vantagens deste Sistema: retrata mais fielmente a sociedade.
o Inconvenientes deste Sistema: pulverização de sistemas partidários, não
favorecimento da estabilidade governativa, reforço da importância das máquinas
partidárias e afastamento entre eleitos e eleitores (não se sabe especificamente em
quem se vota devido ao diverso número de deputados, sabe-se apenas o partido –
Plurinominal).
o No sistema Português para as eleições da Assembleia da República, utilizamos este
sistema, porque o objetivo é que a Assembleia represente exatamente a expressão
que cada partido tem na sociedade portuguesa. Existem círculos eleitorais
geograficamente definidos, e a cada um destes círculos é atribuído um número de
deputados que corresponde, mais ou menos, à população que está nesse território,
por exemplo Beja tem 2 deputados (problema: há muitos votos inutilizados que não
servem para atribuir mandatos) e Lisboa 48. O sistema utilizado para extrair do
número de votos o número de mandatos/deputados é o método de Hondt (art.149º
CRP).
Método de Hondt - Exemplo
Tendo presente o número de lugares a eleger num determinado círculo (por exemplo, cinco),
divide-se o número de votos que cada partido obteve pelo o número de lugares, ordenando-se os
quocientes assim calculados, distribuindo então os lugares pelos cinco quocientes mais elevados.
40
Lista C: 20 20 10 6.6 5 4
Sistemas sem partidos: Monarquias do Golfo – Arábia Saudita, Catar, EAU, Kuwait, Omã e
Barém.
Sistema de partido único: esse partido é fulcral na determinação da gestão política do
Estado. Ex. China, Cuba, Coreia do Norte. O partido funciona como uma estrutura paralela
ao Estado.
Sistema de partido hegemónico: há mais que um partido, mas é o principal partido o único a
ter efetivo acesso, exercício e controlo do poder, situações de países não democráticos ou
em transição para a democracia. Nestes países não estão asseguradas condições de
verdadeira concorrência e alternância política. Ex. Angola, Moçambique, Singapura, Ruanda.
Sistemas de Partidos de Regimes Democráticos (na sua maioria):
Sistemas bipartidários:
o Bipartidarismo perfeito: os dois maiores partidos obtêm cerca de 90% dos votos. Ex.
EUA, partido democrata e partido republicano e Cabo Verde).
o Bipartidarismo imperfeito: os dois partidos não obtêm mais de 75% a 80% dos votos,
o que confere a outro ou outros partidos um papel relevante no equilíbrio do
sistema. Ex. Reino Unido
Sistemas multipartidários:
o Multipartidarismo perfeito: três ou mais partidos de peso eleitoral aproximado.
o Multipartidarismo imperfeito: quando um dos partidos alcança pelo menos 35% dos
votos. Ex. Portugal, nas últimas décadas.
41
o Multipartidarismo condicionado: os acessos ao poder são controlados por fatores
que não cabem apenas aos eleitores. Ex. Forças Armadas – Tailândia.
Relações entre Sistema Eleitoral, Sistema de Partidos e Sistema de Governo
André Gonçalves Pereira, defende a tese segundo o qual quer o sistema eleitoral quer o
sistema de partidos têm de ser considerados elementos constitutivos da própria definição
de sistemas de governo. E defende também que o sistema eleitoral é a chave do sistema de
governo.
Formuladas inicialmente em 1950 e aperfeiçoadas mais tarde, as chamadas "Leis de Duverger"
dizem basicamente o seguinte:
Por um lado, para a existência de uma regra geral segundo a qual todos os sistemas
eleitorais favorecem os grandes partidos em detrimento dos pequenos (negando por isso a
existência de sistemas proporcionais puros);
Por outro lado, para a importância não só do modo de escrutínio, mas também da dimensão
dos círculos eleitorais: nessa medida, quanto maior for a dimensão dos círculos eleitorais
tanto maior será o número de partidos com representação parlamentar ou o número de
partidos necessários para formar uma coligação, bem como tanto maior será o benefício do
partido mais votado.
A respeito das relações entre sistema de partidos, eleitoral e de governo analisadas, iremos olhar
para a experiência Britânica, a experiência Americana e a experiência Francesa – P.201 a 203.
Capítulo III
16. Conceito e Tipos de Constituição
A constituição deve ser entendida como ordem jurídica fundamental do Estado. Ordem jurídica
significa, antes de mais, que a Constituição não pretende regular tudo o que respeita ao Estado,
mas apenas as regras básicas relativas à organização do poder político do Estado, à definição dos
direitos e liberdades dos cidadãos e ao acatamento das normas constitucionais.
Ordem jurídica fundamental do Estado significa que a Constituição não pode resumir-se a um texto
escrito. A constituição é uma realidade política e culturalmente determinada por um lado, por um
conjunto de fatores externos (cultura política, grau de desenvolvimento humano, o sistema de
partidos, etc.) e por outro, pelo regime político existente.
42
Ordem jurídica fundamental do Estado significa duas coisas: só se pode falar em constituição em
sentido próprio diante da realidade estadual e que a constituição não é uma lei fundamental da
sociedade, ainda que a constituição possa ser vista como parte da ordem fundamental para a
sociedade.
Três sentidos básicos da Constituição:
Constituição material: Delimitação das matérias a que deve ser reconhecida dignidade
constitucional. Conjunto de normas jurídicas fundamentais que regulam a organização do
poder político do Estado, os direitos e liberdades das pessoas, bem como a fiscalização do
acatamento dessas normas por parte do poder político.
Diferenciação entre constituição formal: Permite verificar se uma norma jurídica é ou não
constitucional, através do procedimento adotado, do lugar que ocupa no ordenamento e a
positivação do texto solene. Conjunto de normas jurídicas decretadas através de um
processo específico, dotadas de uma força superior e integradas num documento qualificado
de Constituição ou lei constitucional.
Diferenciação entre constituição instrumental: não tem tanto interesse como as outras. O
texto denominado Constituição ou elaborado como Constituição. É o documento onde está à
partida a Constituição.
Porque existe sempre uma Constituição em sentido material, ainda que possa faltar (como
sucede no Reino Unido ou na Nova Zelândia) a constituição em sentido formal;
Porque, ao lado da Constituição formal, há normalmente ainda, além de leis materialmente
constitucionais, normas de costume ou até "interpretações" de nível constitucional, além de
outros usos e práticas;
Porque, tal como nem todas as normas da Constituição material se encontram na
Constituição formal, do mesmo modo certas normas da Constituição formal não o são em
sentido material;
Porque em certos momentos a Constituição formal é deliberadamente afastada;
Porque se tem registado, com as inerentes perturbações, um significativo alargamento do
âmbito da Constituição, quer em sentido formal, quer em sentido material;
Finalmente, por serem muitos os corolários da Constituição em sentido formal, entre os
quais a supremacia, a rigidez e a necessidade de sistemas de fiscalização do das normas
Outras classificações:
Tem a ver com a dimensão/extensão da constituição
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Outras:
Tem a ver com a carga ideológica
Outras:
Tem a ver com a autoria
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