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Robério Nunes
Em concursos para magistratura, por exemplo, caem mais questões concernentes ao Poder
Judiciário, e para o MP, funções essenciais à justiça e MP.
Manuais mais utilizados para concursos públicos: para concursos mais densos, o professor
indica Daniel Sarmento.
Aula 1
Tal disciplina busca responder perguntas essenciais como: o que é uma constituição, como esta
surgiu na humanidade, qual a sua função e poder capaz de produzir uma Constituição? Como
poderá ser modificada? Formalmente e informalmente? Como as normas constitucionais devem
ser interpretadas?
Foi o ser humano, no correr da história, que inventou a Constituição, o Estado Constitucional e o
próprio Direito. Essa construção histórica ocorreu no bojo de um movimento social, histórico
e jurídico que se chama Constitucionalismo. O estudo do constitucionalismo nos ajuda a
compreender a formação da Constituição moderna e do Estado constitucional moderno.
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Há, ainda, o sentimento de que a Constituição se atrela a um Estado de Direito, no qual o
governante não tem um poder absoluto, e quem comanda é o direito, a lei.
Toda essa noção de Constituição está em consonância com o Estado Constitucional Moderno,
que é regido pela Constituição em sentido Moderno.
A palavra Constitucionalismo, como aliás a palavra Constituição é palavra plurívoca, que admite
diversos significados possíveis.
Já Luis Roberto Barroso diz que Constitucionalismo significa, em primeiro lugar, limitação
do poder, pois não há poder absoluto à luz do Constitucionalismo e em segundo lugar, a
supremacia da lei, do Estado de Direito, o Rule of the Law. Quanto à limitação do poder, o
professor lembra que no Estado Constitucional Moderno, existem três espécies de
limitações:
Em segundo lugar, outra espécie de limites são os relativos à separação de poderes e aos
mecanismos de freios e contrapesos, de forma que o detentor do poder não pode violar a
separação de poderes e os freios e contrapesos.
Além disso, Barroso traz duas outras características do Constitucionalismo. Ele menciona que o
constitucionalismo sugere a adoção de uma Constituição escrita, embora o ideal trazido pelo
Constitucionalismo possa estar presente mesmo na ausência de constituição formal e escrita,
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como é o caso do Reino Unido, que possui Constituição consuetudinária, mas há alguns ideais
do Constitucionalismo.
Barroso traz outra observação no sentido de que o Constitucionalismo tem íntima relação com a
Democracia, normalmente havendo sobreposição entre estes. elementos Contudo, são
conceitos que não se confundem necessariamente.
A vontade da maioria será limitada, pois sempre que possível, a vontade da maioria
prevalecerá, mas não é absoluta a vontade da maioria quando ferir os direitos
fundamentais das minorias.
A maioria, que impõe a sua vontade a qualquer custo à minoria é maioria ditatorial, e portanto
não se pode falar em uma Democracia, que é marcada pela soberania popular e pelo
governo limitado da maioria. Um sistema no qual a maioria resolva, por exemplo, escravizar a
minoria não é sistema democrático, mas sim de ditadura da maioria.
A maioria não pode violar os limites materiais impostos pelo Estado Constitucional para
negar direitos fundamentais da minoria e afastar valores básicos como dignidade
humana, solidariedade, justiça e fraternidade.
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transforma decisão política em uma norma jurídica suprema, sendo tomada decisão
política, como a instituição de Estado Democrático, Presidencialista e Federal. Essa é decisão
política é a atividade constituinte, que transforma sua decisão política em um documento
jurídico maior.
● Constitucionalismo:
Como observa Barroso, embora o uso da palavra Constitucionalismo seja recente, que se
acentuou à sua associação aos processos Revolucionários Francês e Americano do Século
XVIII, as ideias centrais abrigadas em seu conteúdo são bem mais antigas e remontam à
Antiguidade Clássica. Por isso na doutrina há diversas posições distintas acerca da organização
histórica do Constitucionalismo. Por isso, os autores falam em fases ou ciclos do
Constitucionalismo.
a) Constitucionalismo Hebreu
Carl Levenstein afirma que a lei de Deus, a Torá (texto central do Judaísmo,
composto pelos cinco primeiros livros do antigo testamento, que formam o pentateuco),
teria sido a primeira Constituição.
b) Constitucionalismo Grego:
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A Constituição era vista como identidade do poder político e não como fundamento
do Estado. Há, aqui, como lembra Barroso, na Grécia Antiga, há separação entre o
poder secular (Estado Laico) e a religião. Aqui, não há mais Teocracia, mas há
separação entre religião e Estado. Há, ainda, limitação ao poder político com a
supremacia da lei. É o governo das leis e não o governo dos homens.
A lei era considerada válida para todos e fruto de processo de elaboração formal.
Havia a divisão das funções do Estado entre órgãos distintos.
c) Constitucionalismo Romano:
2) Constitucionalismo Antigo (Séc. XIII ao final do Séc. XVIII – Revoluções Francesa e Norte
Americana);
O Constitucionalismo Moderno ganha impulso nesta fase, que não existia no Constitucionalismo
da Antiguidade Clássica.
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- Habeas Corpus Act (1679)
- Bill of Rights (1689)
Mas é na Idade Média que o Constitucionalismo ressurge, o que ocorre com alguns
fenômenos, como a distinção entre leis do reino e leis do rei . As leis do reino eram
superiores às leis do rei (exemplo – a forma de transmissão do poder real – quem
herda a coroa é lei do reino e não do rei) e surgem os primeiros documentos escritos
que dizem respeito à limitação do poder real, já que os reis terão seus poderes
paulatinamente limitados pelos documentos escritos, dentre eles a Magna Carta, que foi
pacto medieval, contrato de domínio firmado entre o Rei João Sem Terra e os Barões do
Reino. Havia um conflito entre estes por diversas causas e os Barões cercaram Londres
e em troca da renovação do juramento de fidelidade ao Rei, obrigaram-no a assinar os
artigos dos barões, documento em que o Rei reconheceu limites ao seu próprio poder.
Dentre estes, especialmente o Rei reconheceu que poderia ser atacado pelos barões
caso não cumprisse suas promessas. A Magna Carta não é o primeiro documento no
qual o Rei, na Idade Média, promete algo, já existiam outros documentos, já que a
própria Magna Carta foi inspirada na carta de coroação de Henrique I. A verdadeira
novidade é que o rei, com a Magna Carta, permitiu ser atacado pelos barões caso
desobedecesse às suas promessas.
“39. Nenhum homem livre será detido ou sujeito à prisão, ou privado dos seus bens, ou
colocado fora da lei, ou exilado, ou de qualquer modo molestado, e nós não
procederemos nem mandaremos proceder contra ele senão mediante um julgamento
regular pelos seus pares ou de harmonia com a lei do país.” (em vigor - estabelece o
Due process of law); e
Essa transição da soberania, que passou do do Rei ao Parlamento, teve como marco a
Revolução Gloriosa de 1688, que transformou a Monarquia Absoluta em uma
Monarquia Constitucional.
Essa Revolução tem como marco a imposição, pelo Parlamento, ao novo Rei, do Bill of
Rights, documento de 1689, feito pelo Parlamento, condição para que um novo Rei,
Guilherme De Orange assumisse o trono após a fuga forçada do antigo Rei Jaime II.
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Parlamento. Assim, o Bill of Rights é documento escrito pelo Parlamento, impondo
condições para que o Rei assumisse, que deixa explícito que o Rei não tem poderes
absolutos.
Que é ilegal a faculdade que se atribui à autoridade real para suspender as leis ou seu
cumprimento; (...)” – o rei deve cumprir as leis do Parlamento, estando submisso a
estas, não sendo detentor de uma vontade absoluta ou soberana.
b) Constitucionalismo norte-americano:
Aqui há a Democracia dualista, pois formada por duas espécies de decisões diferentes:
de um lado, as decisões raras do povo, tomadas em momentos raros e específicos que
são os momentos constitucionais e são decisões que dão origem à Constituição,
enquanto de outro lado há as decisões frequentes dos governantes, do integrantes do
Executivo e do Legislativo. As decisões raras do povo prevalecem caso se choquem
com as decisões cotidianas dos governantes.
O Parlamento poderia, por sua natureza majoritária de deliberação, tomar decisões e legislar
oprimindo o povo, e isso não era desejável. A Constituição tentava evitar isso. Os norte-
americanos tiveram experiências ruins nesse sentido, já que quando eram colônia britânica,
o Parlamento inglês legislou de maneira tirânica, do ponto de vista dos norte-americanos,
editando leis, para eles, opressoras. Assim, visando a limitar o poder dos governantes,
se defendendo de uma tirania da maioria, a Constituição estabelecia limites a estes,
sendo a ideia de que democracia não se confunde com assembleísmo.
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Assim, encontra-se a necessidade de limitar o poder do Parlamento para que seus membros
não possam oprimir o povo e por exemplo, instituir tributos sem legitimidade. Dentre as leis
impostas à antiga colônia britânica, havia leis tributárias que incidiam sobre os colonos. Aqui
era o momento de defender-se dessas possibilidades, como a de tributar exageradamente.
A Constituição tem como função garantir direitos e limitar poderes, sendo o modelo
de CONSTITUIÇÃO GARANTIA. Não é ainda o modelo de Constituição programática ou
dirigente. Aqui, nesta primeira Constituição escrita em sentido moderno, há o papel de
garantir direitos e limitar poderes.
Há, ainda, grande contribuição para o surgimento dos Direitos Fundamentais, que está
em diversos documentos do Constitucionalismo norte-americano, como a Declaração do
Bom Povo da Virgínia, de 1776, que iria influenciar a Declaração dos Direitos do Homem e
do Cidadão Francesa de 1789, na Declaração da Independência dos EUA (1776) e ainda
no conjunto das 10 Emendas à Constituição, o Bill of Rights, de 1791, norte-americano,
que forma catálogo de direitos fundamentais.
Contudo, vale destacar que embora houvesse ênfase na liberdade e na igualdade, o fato é
que houve escravidão na boa parte dos EUA durante muito tempo após esta primeira
Constituição, que vem a ser abolida apenas em 1865, quase um século após a Constituição
de 1787.
Vigorava na França um sistema medieval no qual se entendia ser natural que algumas
pessoas tivessem privilégios legais em relação às demais pessoas.
Eram privilégios reconhecidos pela lei conforme a classe estamental que a pessoa
ocupasse. A sociedade francesa era dividida em estamentos: o clero, a nobreza e os
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demais integrantes do povo, e cada um, dependendo do estamento a qual pertencia,
possuía regime jurídico diferente.
A Revolução Francesa acabou com esses privilégios formais, já que houve uma
ruptura em relação aos privilégios do Antigo Regime estamental. A Revolução
Francesa promove a igualdade formal, perante a lei, principalmente perante a
tributação. Assim, os direitos das pessoas deixam de derivar do estamento a que
pertencem e passam a decorrer da natureza humana, da condição de ser humano .
Assim, o que determina a existência de direitos não é mais a posição estamental
ocupada, e passam a decorrer da posição humana. Os homens passam a ser
considerados iguais e livres em direitos. Para isso, com o objetivo de alterar o estado
de coisas até então existentes, para mudar a Constituição do estado francês, no bojo da
Revolução Francesa, no final do século XVIII, ocorreu a formatação teórica do Poder
Constituinte, já que o Poder Constituinte foi teorizado e sistematizado, o que
ocorreu a partir da obra:
“Qu’est-ce que le Tiers État?” (“O que é o Terceiro Estado” ou “A Constituinte Burguesa”)
- Emmanuel Joseph Sieyès.
Para o autor, o Poder Constituinte é o poder originário que pertence à Nação, capaz
de criar, de maneira autônoma e independente, a Constituição Escrita.
É por isso que alguns professores como Canotilho afirmam que o Constitucionalismo
Francês provocou o aparecimento de novas categorias políticas, expressas em “palavras
de combate”, que seriam Estado-nação, Poder Constituinte, Soberania Nacional,
Constituição Escrita, etc.
Houve a adoção da igualdade formal, que rompe com o Antigo Regime estamental e
que é simbolizada no dispositivo da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão:
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Francesa, que traz repositório do que conhecemos como os Direitos Fundamentais de
Primeira Geração. A ideia de geração de direitos nasce posteriormente.
O Estado Liberal é o Estado mínimo, que interfere o mínimo possível na vida dos
cidadãos, que não se intromete nas relações sociais e econômicas, regidas por
aquilo que Adam Smith chamou de a mão invisível, sendo um Estado de
abstenção.
É um Estado que deve cumprir principalmente obrigações de não fazer: não impedir
o cidadão de se manifestar, não tirar sua vida, não o impedir de se reunir, não retirar sua
propriedade, não retirar sua liberdade, etc.
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1) Documento escrito (formal);
Assim, o conceito de Constituição ideal é documento formal que tem como conteúdo material
normas destinadas à garantia de Direitos Civis e Políticos Clássicos e à limitação do
poder. O conceito ideal de Constituição já estava presente na Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão da Assembleia Francesa, de 1789:
“Toda sociedade na qual não está assegurada a garantia dos direitos nem determinada a
separação de poderes, não tem Constituição”.
Este movimento nos legou a ideia de Constituição escrita, que foi um grande avanço, pois
proporcionou, dentre outros benefícios, publicidade, clareza e segurança.
Assim, o Constitucionalismo nos legou a Constituição escrita com todos esses benefícios. No
início do Século XX, o Constitucionalismo Liberal encontra seu momento de declínio e surge
novo modelo de Constitucionalismo: o Constitucionalismo Social.
O Estado, que era modelo de Estado Liberal, da abstenção, passa a ser um Estado Social,
de bem estar social, que agora se preocupa também com obrigações de fazer, em prestar
direitos, direitos prestacionais que existem obrigações de fazer pelo Estado, que presta
serviços de educação, saúde e assistência social.
A Constituição passa por processo de expansão, com novos temas que surgem na
Constituição, capitaneados pelos Direitos Sociais e Econômicos típicos do Estado de
bem estar social.
Há um modelo citado pela doutrina como modelo de transição que é a Constituição Francesa de
1848, que seria Constituição de transição entre os modelos liberal e social.
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● Neoconstitucionalismo (Constitucionalismo Contemporâneo):
Na primeira metade do Século XX, predominava no direito o Positivismo Jurídico, que teve
como principal nome Hans Kelsen.
Nesse quadro do Positivismo Jurídico, havia clara separação entre o direito e a moral, pois o
Positivismo Jurídico entendia que a norma jurídica era válida independentemente de
qualquer julgamento moral ou valorativo, já que a validade da norma jurídica independia
de qualquer valor subjetivo ou valoração moral. A norma jurídica era válida
independentemente de ser boa, má, justa ou injusta, pois isto são valores subjetivos e
indeterminados que variam conforme o intérprete. Valores denotam uma preferência de uma
coisa em detrimento da outra pelo intérprete, de maneira que se poderia chegar a resultados
distintos, o que não se coaduna com a ideia de ciência, que deve ser exata.
A norma jurídica tinha sua validade por outros critérios que não critérios de valoração. Os
critérios de validade da norma jurídica para o Positivismo Jurídico eram relativos à sua
elaboração.
Assim, a norma era válida independentemente de seu conteúdo, sem julgamento moral,
se obedecesse aos procedimentos para ela previstos.
Assim, o mundo clamava por novas concepções jurídicas. Há muita discussão sobre a relação
entre o Positivismo Jurídico e o nazismo. Pois o Positivismo Jurídico leva a uma concepção
muito formalista do Direito, já que uma norma será válida se formatada de acordo com o
procedimento previsto na Constituição, independentemente de valor moral ou das
consequências práticas do conteúdo das normas, e isso foi útil para os nazistas que
utilizaram normas jurídicas para discriminar judeus e outras minorias, e os oficiais nazistas se
defenderam no julgamento realizado em Nuremberg dizendo que apenas defendiam e
executavam as normas de seu país. Mas isso não é o suficiente para afirmar que o nazismo foi
Positivista, já que muitas premissas teóricas do Positivismo Jurídico foram desprezadas pelos
nazistas, Kelsen era judeu e foi perseguido, tendo que se refugiar nos EUA, havendo quem diga
que o nazismo era Antipositivista, mas de qualquer forma, após a II GM, o Positivismo Jurídico
entrou em declínio pois se passou a buscar a legitimidade do Direito à luz de valores
morais e não apenas com base em questões formais relativas ao procedimento de
elaboração das normas jurídicas.
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No Neoconstitucionalismo, a dignidade da pessoa humana passa a ser valor jurídico
supremo, o fundamento do Direito.
A Constituição não é vista mais como mero documento político, passando a ter valor jurídico
muito importante e todas as suas disposições são entendidas como normas jurídicas, havendo o
reconhecimento da força jurídica de todas elas, inclusive das normas Constitucionais
programáticas.
Assim, tudo no Estado, no âmbito Legislativo ou Executivo, deve ser feito à luz dos
valores e normas constitucionais especialmente no campo dos direitos fundamentais.
Assim, tudo é filtrado e constitucionalizado à luz dos direitos fundamentais e da
dignidade da pessoa humana. A Constituição passa a ter peso decisivo em todas as questões
jurídicas e mesmo em todos os conflitos de interesse, decorrentes das relações humanas em
geral, e há novos fenômenos como a constitucionalização do direito, a filtragem
constitucional, a onipresença da Constituição, que está presente em tudo.
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a decisão judicial tem amplo destaque na arena política, pois muitas vezes a decisão judicial
analisa o mérito legislativo e administrativo.
O antigo Estado Legiscêntrico é abalado, Estado no qual a lei é o centro da decisão política, em
que o Legislativo faz a lei, o Judiciário cumpre a lei na solução dos conflitos de interesse e o
Executivo cumpre a lei na realização das tarefas materiais inerentes ao bem comum.
Há muitas críticas ao Neoconstitucionalismo, pois há quem diga que este leva a um excesso de
protagonismo do Poder Judiciário, e seus membros não são eleitos, assumindo o poder por
meio de concursos públicos, diferentemente dos membros dos Poderes Legislativo e Executivo,
que tem mandatos populares, diretamente ligados à manifestação do eleitor. Os membros do
Judiciário não são perfeitos, tendo os homens seus defeitos e virtudes.
Por outro lado, pode elevar a dignidade da pessoa humana a um patamar de suma importância.
É uma teoria que tem como principal expoente o professor José Roberto Dromi, para quem as
Constituições do futuro serão guiadas pelos seguintes valores fundamentais:
1) Verdade: A Constituição do futuro não trará mentiras, promessas não factíveis, e para tanto,
será necessário distinguir entre o que é uma norma programática inalcançável, ou seja, uma
promessa que nunca será realizada, o que deverá ser retirado da Constituição, mas de outro
lado, deverão ser identificados conjunto de normas constitucionais que não se concretizam
por falta de motivação ou de vontade política dos governantes, que deverão ser
concretizadas pela atuação dos membros do Judiciário, MP, Legislador, Executivo... De
qualquer forma, a Constituição não trará promessas irrealizáveis, mas o que nela for
colocado, será concretizado;
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para a efetivação de um novo tipo de igualdade: a igualdade civil-moral de minorias, tendo
em vista o proto-valor da integração comunitária. (...)” (STF, PET 3388, Pleno, Rel. Min.
Carlos Ayres Britto, j. em 19/03/2009) – caso da raposa serra do sol que faz menção a um
constitucionalismo fraternal, que se coaduna com a ideia de solidariedade do constitucionalismo
do futuro.
5) Participação: a Constituição do futuro ensejará participação cada vez mais plena, ativa,
equilibrada e integral do povo e de toda a sociedade nos processos deliberativos,
políticos e decisórios, havendo promoção da Democracia participativa a um maior grau;
● Constitucionalismo globalizado:
Seria a fase final do Constitucionalismo. Preconiza a ampliação dos ideais e dos princípios
jurídicos ocidentais, como democracia, direitos humanos, etc, para todos os povos,
tornando esses princípios e ideias universais. A ideia implica em universalização da
Constituição em sentido ocidental, o modelo ocidental de Constituição, que é calcado nesses
valores, que passaria a ser universalizado.
● Constitucionalismo e internacionalização:
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Embora o Estado Nacional ainda tenha papel muito relevante na arena político social, convive
com outras fontes de poder, como instâncias supranacionais e internacionais, podendo-se citar,
além da comunidade europeia, a ONU e outros arranjos internacionais.
No Brasil, no § 3º, do art. 5º, trazido pela EC 45, segundo o qual os tratados e
convenções internacionais sobre DH, aprovados em cada casa do CN em dois
turnos, por 3/5 dos votos, serão equivalentes às EC.
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constitucional, em interconstitucionalidade, em transjudicialismo, em
constitucionalismo transnacional e outros fenômenos referidos na doutrina – sugere a
leitura do livro Guilherme Peña (Constitucionalismo Multinacional)
Os grandes marcos desta modalidade são as constituições da Bolívia (2009) e Equador (2008).
Assim, há menção de ampla gama de povos originários, com sua valorização de sua cultura nos
textos constitucionais.
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No Brasil, há a valorização dos nossos povos originários, índios e quilombolas no art. 231 da
CF, e no art. 68 do ADCT.
Aula 2
Em sentido comum, indica a particular maneira de ser de um Estado, como diz André
Ramos Tavares.
Uma definição ou conceito interessante é aquele do professor José Afonso da Silva, para
quem Constituição é o sistema de normas jurídicas costumeiras, que regula a forma de Estado,
a forma de governo, o modo de aquisição e o exercício do poder, o estabelecimento de seus
órgãos, os limites de sua ação, os direitos fundamentais do homem e as respectivas garantias.
Em síntese, a Constituição é o conjunto de normas que organiza os elementos
constitutivos do Estado.
No Brasil, adota-se modelo federativo de Estado, que reparte o poder (elemento político) no
território (elemento geográfico/físico) .
- Tem como principal autor Ferdinand Lassale, que discute essa concepção em sua obra
“A Essência da Constituição”.
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- Esta soma ou acomodação dos fatores reais de poder é a verdadeira Constituição de um
Estado.
# Ao aplicar esta concepção ao Brasil, é possível indagar-se se teria ocorrido conflito entre a
constituição real e a escrita quanto à revogada disposição constitucional sobre taxa de juros,
que constava do art. 192, § 3º, da CF/88, revogado pela EC 40/2003.
A CF limitava a taxa de juros a 12% ao ano. Isso não era resultado da soma de fatores de poder
reais, pois ocorreram acontecimentos supervenientes:
Como o direito posto destoava dos fatores reais de poder, foi dispositivo nunca aplicado.
Desde o surgimento das primeiras Constituições escritas em sentido moderno, a dos EUA
de 1787 e a Francesa de 1791, o modelo adotado foi o do constitucionalismo liberal, que
formatou a ideia de que a constituição ideal deveria ser escrita e possuir determinado conteúdo
material: a garantia dos direitos fundamentais de primeira geração, organização do estado
e a separação e limitação dos poderes.
No início do Séc. XX, surge o Well Fare State, e em seu bojo, surge o Constitucionalismo
Social, que tem como marcos a Constituição Mexicana de 1917 e a Constituição de Weimar, de
1919, com a ideia de que a Constituição deve prestar direitos sociais aos cidadãos, houve
a inclusão de direitos fundamentais de segunda geração à Constituição, que
extrapolaram os temas antes adotados. O conteúdo da Constituição passou, então, a incluir
outros temas, tendo sido alargado o seu texto.
- Para o positivismo jurídico, a Teoria da Constituição deve ser meramente descritiva, não
devendo se ocupar de determinar qual é o conteúdo material e ideológico da
Constituição, como ocorrera para o liberalismo constitucional.
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- O direito e a Constituição devem ter como objeto a norma pura, as normas como são, e
não como hipoteticamente deveriam ser.
- O positivismo jurídico prega a separação entre o direito e a moral, pois havia relativismo
ético, já que não seria possível de forma objetiva identificar o que era certo, errado, justo
ou injusto, pois essas conclusões dependem de juízo de valor com forte dose de
subjetividade do intérprete, o que não se poderia admitir, pois se a conclusão
dependesse da subjetividade do intérprete, isso geraria irracionalidade, pois a conclusão
seria variável conforme o intérprete, e não seria conclusão única, mas variável conforme
o intérprete, e não seria científico, pois o científico é aquilo que é, independentemente
do observador.
- Os valores morais não poderiam, portanto, ser incluídos na Constituição , pois cada
intérprete valora algo de acordo com sua subjetividade.
- Os valores possuem caráter axiológico.
- É indiferente qualquer questão relativa à justiça ou injustiça da norma, pois o que
importa, o parâmetro comum a todas as Constituições não é valoração moral de seu
conteúdo, mas sim a sua supremacia hierárquica formal, pois qualquer Constituição
é o documento supremo e hierarquicamente mais elevado da ordem jurídica, que
serve de fundamento de validade para todas as demais normas jurídicas
inferiores, e a validade das normas jurídicas depende de sua elaboração de acordo
com as disposições formais previstas na Constituição.
- Uma norma jurídica vale por ser criada de forma determinada, de modo que todo e
qualquer conteúdo pode ser direito, e sua validade não depende de seu conteúdo, mas
de sua criação de acordo com procedimento previamente determinado.
- O conteúdo da Constituição deve ser as normas procedimentais para elaboração das
leis inferiores, sendo esta a Constituição material, formada por normas superiores
que tratam da elaboração das demais normas jurídicas.
- O positivismo jurídico se adequa ao direito costumeiro, visto por Kelsen como forma de
direito positivo, afirmando que a Constituição em sentido material pode ser escrita ou
produzida por via consuetudinária, sendo fonte importante, inclusive, do Direito
Internacional. O positivismo não se alinha ao direito natural.
- A Constituição formal, para Kelsen, é o documento escrito integrado por normas
materialmente constitucionais, e também por outras normas sobre outros temas,
formalmente inseridas na Constituição.
- A Constituição pode ser entendida em sentido jurídico-positivo, positivo pois é algo
que se insere dentro do direito positivo, sendo conjunto de regras que ocupa o ápice
do ordenamento jurídico normativo, que possui supremacia, o documento
supremo, de patamar hierárquico mais elevado, todas as demais normas jurídicas
tem seu fundamento de validade na Constituição. Ex. Pirâmide normativa com a
constituição no ápice. As leis existem pois a constituição determina as normas
procedimentais para a sua elaboração.
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3.3. Concepção Política
- Tem como principal autor doutrinário Konrad Hesse, em sua obra “A Força normativa da
Constituição.”
- A Constituição não configura apenas a expressão de dada realidade. Graças ao
elemento normativo, ela ordena e conforma a realidade política e social.
- Há crítica à concepção sociológica de Lassalle, que só seria válida se consoante aos
fatores reais de poder, pois para o prof. Konrad Hesse, a Constituição é influenciada
pela realidade histórica, mas a Constituição escrita não é somente a expressão desta
realidade, não é somente a soma dos fatores reais de poder, pois é norma, é capaz
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de obrigar, de ordenar, conformar e modificar a realidade política e social. Assim,
quando há conflito entre a norma posta e os fatores reais de poder, a realidade política e
social, a constituição escrita não necessariamente será a parte mais fraca, pois em
muitas situações, esta será capaz de alterar a realidade social, da vida em sociedade.
- A Constituição tem poder de mudar a realidade, mas não é absoluto e ilimitado, razão
pela qual a realidade muitas vezes prevalece à Constituição escrita, o que varia
conforme a força da Constituição escrita. Essa força é variável, e está ligada à vontade
de Constituição, que é o maior ou menor empenho dos cidadãos em lutas pela
efetivação e concretização das normas constitucionais. Quanto maior o empenho
popular, maior será a força normativa da Constituição.
- Para a Teoria da Força Normativa, a Constituição não deve tratar de outros assuntos,
e alguns devem ser tratados com adequado grau de indeterminação, abertos, para
proporcionar discussão livre entre as forças políticas, pois a vida que a Constituição
quer ordenar é dinâmica, que muda, para permitir as mudanças na sociedade pelos
mecanismos comuns na vida política cotidiana.
- A Constituição, de acordo com a força normativa, deve ser interpretada por meio de
processo de concretização, que deve considerar o texto escrito e a realidade, e por
isso, interpretar a Constituição é concretizá-la. É teoria concretista, que prega que
interpretar é concretizar a Constituição.
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5. Teoria da Constituição dirigente:
6. Constitucionalização simbólica
7. Pós Positivismo
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Após a II GM, o positivismo jurídico, idealizado por Hans Kelsen entrou em crise, pois o direito
foi utilizado pelos nazistas para negar a igualdade de todas as pessoas e para negar os direitos
fundamentais a todos, com práticas desumanas e de extermínio.
O positivismo não considerava o conteúdo das normas jurídicas. A ideia era de que o
direito deveria ser neutro e avalorado, mas esta neutralidade jurídica não mais se
justificava, e se passou a buscar a legitimidade do direito à luz dos valores morais.
- Características:
Não se nega que o direito e a moral tem objetos próprios, mas a política e o direito devem ter
leitura moral.
- Divisão clássica
- Quanto à forma:
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2. Normas elaboradas pelo poder de reforma, que não integram o texto principal da CF,
que permanecem no bojo das ECs de forma autônoma no texto da própria EC.
Assim, as ECs, que são documentos próprios apartados da CF, são normas escritas
de natureza constitucional.
São aquelas, segundo José Afonso da Silva, formadas por plebiscito popular sobre
determinado projeto elaborado por imperador ou ditador (plebiscito de Pinochet no Chile). É
apenas participação formal, visando apenas a ratificar a vontade do detentor do poder,
não havendo liberdade autêntica. Seria modalidade especial de outorga, por não haver
verdadeira participação popular.
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Para Paulo Bonavides, é aquela que exprime compromisso instável entre duas forças
políticas rivais, normalmente entre a Realeza Absoluta, enfraquecida, e determinada
classe ou grupo em ascensão. Ex. Constituição Francesa de 1791.
Alguns autores citam a Magna Carta como hipótese de Constituição pactuada, pois não era
Constituição, mas pacto medieval.
a) Constituição rígida
James Bryce foi o primeiro a fazer a distinção entre Constituição rígida e flexível.
Oswaldo Aranha Bandeira de Mello foi o autor brasileiro que aprofundou tal distinção.
A Constituição rígida é aquela na qual a alteração formal ocorre por processo distinto e
mais difícil que o processo de elaboração da lei comum (todas as brasileiras, exceto a de
1824).
Lei ordinária é elaborada com base no art. 47 da CF - maioria simples é suficiente para a
elaboração de lei comum, ordinária.
Leis Complementares - art. 69, CF - exigem aprovação por maioria absoluta de votos.
A Emenda Constitucional tem natureza jurídica distinta da lei ordinária, o que permite afirmar a
supremacia da CF, pois em choque entre a Constituição e qualquer norma, haverá supremacia
da norma constitucional, sendo a Constituição suprema e hierarquicamente superior.
b) Flexível
Aqui, EC e lei comum são institutos idênticos, podendo a lei comum alterar a
Constituição, não havendo ideia de supremacia da Constituição. Os conflitos são
superados não pela hierarquia, mas pelo critério da temporalidade.
É chamada de Constituição plástica por Pinto Ferreira, mas é utilizada por outros autores
com outros significados, para identificar Constituição que necessita de grande regulamentação
pelo legislador ordinário.
c) Semirrígida
Art. 178. É só constitucional o que diz respeito aos limites e atribuições respectivas dos Poderes
políticos, e aos direitos políticos e individuais dos cidadãos. Tudo o que não é constitucional
pode ser alterado sem as formalidades referidas, pelas legislaturas ordinárias
Tudo que não é matéria verdadeiramente constitucional, mesmo presente na constituição, pode
ser alterada por lei ordinária, sem emenda.
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Por isso é Constituição que é em parte rígida e em parte flexível.
Nesse caso a matéria que é tipicamente constitucional, pode ser alterada somente por
emenda, e a matéria que não for substancialmente constitucional pode ser alterada por lei
ordinária.
d) Transitoriamente flexível
É flexível por algum tempo, findo o qual se torna rígida (Uadi Lammêgo Bulos)
e) Fixa/Silenciosa
É aquela que nada prevê acerca de sua mudança formal, sendo alterável somente pelo
próprio poder constituinte originário.
f) Imutável/Permanente/Granítica/Intocável
É a que se pretende eterna, fundando-se na crença de que não haveria órgão competente
para proceder à sua reforma. Relacionada normalmente a fundamentos religiosos.
g) Super Rígida
Uma Constituição Rígida pode ter ou não núcleo de matérias imutáveis, inalteráveis até
mesmo por EC. Quando existe rol de cláusulas pétreas, não alteráveis nem pelo poder
constituinte reformador, trata-se de Constituição super rígida.
Os demais autores não citam essa classificação, pois no fundo o que seria super rígido não
seria a própria Constituição, mas apenas parte dela, as cláusulas pétreas.
Há quem diga então que se pode falar apenas em dispositivos super rígidos inseridos em
constituição rígida, e que então não haveria constituição super rígida, mas sim núcleo super
rígido incluído em constituição rígida.
- Quanto à extensão
a) Concisa (breve, sumária, sucinta, básica, sintética) : trata somente dos princípios
fundamentais e da estrutura do Estado, não descendo a minúcias. É mais estável. Ex.
Constituição Americana de 1787.
b) Prolixa (analítica, longa, volumosa, inchada, ampla, extensa, desenvolvida, larga,
expansiva) - veicula muitos temas e entra em detalhes que poderiam ser tratados
por leis comuns, ordinárias. Normalmente necessita de mudanças frequentes e
rápidas. Ex. CF/88.
Para alguns autores, a Constituição prolixa tende a se transformar em Constituição total, que
abrange todos os aspectos da vida política, do Estado e da sociedade.
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- Quanto à finalidade:
a) Constituição normativa
b) Constituição nominal/nominalista
Há dissenso doutrinário.
- Quanto ao sistema:
- Quanto à função:
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a) Provisória (pré-Constituição, Constituição Revolucionária e Transitória)
a) Constituição lei - fala-se em constituição que se encontra no mesmo nível das demais
normas, não havendo hierarquia ou supremacia da constituição, que não vincula o
legislador. Na prática, é constituição flexível, pois não limita o legislador.
c) Constituição moldura - é aquela que serve como limite para o legislador, e moldura
sem preenchimento, sendo tela pois estabelece limites, mas dentro deles, pode o
legislador pintar a tela como desejar. Essa modalidade confere liberdade relativa ao
legislador. A Constituição traça limites e deixa o legislador livre dentro destes, dando à
jurisdição constitucional o papel de limitar o legislador, para que ali atue.
Aula 3
● Elementos da Constituição
1. Elementos orgânicos
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Ex. Título III (Estrutura do Estado) e Título IV (Organização dos Poderes e do Sistema de
Governo)
2. Elementos limitativos
São normas que limitam a ação dos poderes Estatais em nome do Estado de Direito.
Consubstanciam o elenco dos direitos fundamentais, que limitam os poderes do Estado,
protegendo o cidadão.
3. Elementos sócio-ideológicos
4. Elementos de estabilização
1. Preâmbulo
PREÂMBULO da CF/88
# A menção à proteção de Deus contraria a liberdade de crença prevista no art. 5º, VI, e a
laicidade do Estado, prevista no art. 19, I, ambos da CF?
O Brasil é Estado secular, estando separados o Estado e a religião. Isto se choca com
o preâmbulo, que invoca a proteção de Deus, algo que invoca crença monoteísta.
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“Como se sabe, há aqueles que vislumbram, no preâmbulo das Constituições, valor
normativo e força cogente, ao lado dos que apenas reconhecem, no texto preambular, o caráter
de simples proclamação, que, embora revestida de significado doutrinário e impregnada de
índole político ideológica, apresenta-se, no entanto, destituída de normatividade e
cogência, configurando, em função dos elementos que compõem seu conteúdo, mero
VETOR INTERPRETATIVO do que se acha inserido no corpus da lei fundamental”.
Para uma corrente, o preâmbulo possui valor normativo e força cogente, e para outra,
serve de vetor interpretativo para a Constituição , e não é norma, não possuindo força
cogente.
2. Parte dogmática
É composta pelos arts. 1º a 250 da CF, que possuem força normativa, que servem de
parâmetro de controle de constitucionalidade de todas as normas infraconstitucionais.
Existem normas com status constitucional, com pretensão de permanência, fora da parte
dogmática, de forma autônoma nas emendas ou nos tratados internacionais de direitos
humanos.
3. Disposições transitórias
São normas, possuem força cogente e podem servir como parâmetro para fins de controle
de constitucionalidade em relação a normas infraconstitucionais.
Essas normas podem ser de eficácia plena, contida ou limitada. Após cumprirem a sua
função, que é temporária, essas normas deixam de ter eficácia, ainda que não tenham
sido formalmente revogadas.
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Alguns autores chamam essas normas de normas de eficácia exaurida, normas transitórias
que cumpriram sua função. Ex. Art. 4º ADCT;
# Normas de eficácia exaurida podem ser utilizadas como parâmetro superior de controle de
constitucionalidade? Se sua eficácia se exauriu completamente, não faz sentido utilizá-la
como parâmetro superior. Contudo, se faz sentido utilizá-la como parâmetro do controle, há
ainda eficácia e não se trata de norma de eficácia exaurida.
Podem ser modificadas por meio de Emendas Constitucionais, e o STF, inclusive, fez
menção a esta questão na ADIN 830.
Podem ser encontradas normas transitórias fora do âmbito das disposições transitórias.
Ex. Nas próprias ECs, de forma autônoma, sendo possível incluir normas transitórias.
O STF manifestou-se sobre este art. na ADIN 3239 julgada em 2018, cujo acórdão foi publicado
em 01/02/2019.
● PODER CONSTITUINTE
Para Canotilho, o poder constituinte é conceito limite do Direito Constitucional, pois está na
fronteira entre o Direito Constitucional e a política, sendo o poder de juridicizar o político, é
aquele que transforma decisão política em norma jurídica, em norma jurídica de mais
elevada hierarquia no ordenamento jurídico, uma norma constitucional.
O professor José Afonso da Silva entende o poder constituinte como a mais alta expressão
do poder político, sendo o poder que cabe ao povo de dar-se a Constituição.
- Conceito:
Poder Constituinte é o poder capaz de estruturar e organizar o Estado por meio de uma
Constituição, definindo seus elementos constitutivos, seus princípios regentes e os direitos
fundamentais dos cidadãos, estipulando poderes e limites Estatais e fixando a competência das
entidades, órgãos e instituições que o compõem.
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Essa identificação e descrição teórica do poder constituinte surge ao final do Século XVIII. Essa
expressão “poder constituinte” surge no bojo do constitucionalismo Francês, em 1788,
tendo sido feita distinção teórica entre poder constituinte (pertence à nação) e poderes
constituídos (que derivam do poder constituinte), em obra “O que é o terceiro Estado? de
Emmanuel Joseph.
No final do século XVIII, a França era governada pelo Rei Luís XVI, que passava por grave crise
econômica, orçamentária e social, e uma das razões da crise era o Antigo Regime Estamental,
com base em estamentos sociais, que veiculava distinções jurídicas, privilégios entre as
pessoas, com base em estamentos sociais aos quais pertenciam. O Antigo Regime era pautado
pela desigualdade jurídica, não havendo, sequer, igualdade formal.
Os primeiros estamentos possuíam privilégios, dentre eles, o de não pagar impostos. Assim, isto
gerava agravamento da crise. Assim, em 1788, Luís XVI convocou Assembleia para se reunir e
conclamou os franceses a apresentarem ideias para sair-se da crise.
A Assembleia Geral do Reino tinha 2 características: órgão consultivo e a deliberação era voto
por Estado.
Foi proposto: igualdade entre os números de representantes do terceiro estado e os outros dois,
privilegiados, que sejam representantes do terceiro estado pessoas que realmente
pertencessem a ele, bem como o voto unipessoal, abandonando-se a votação por Estado.
- Seria possível a alteração desta estrutura que sempre integrou o Estado Francês? Se
sim, a quem caberia tal alteração? Seria possível a alteração desta forma de
deliberação, constituída há séculos?
Sobre o conceito de nação, há quem defenda ser sinônimo de povo, mas há discussão
doutrinária acerca disso.
No Brasil, Manoel Gonçalves Ferreira Filho, em sua obra O Poder Constituinte, afirma que
para o autor, nação é conceito que envolve a permanência de uma comunidade, seria a
33
expressão dos interesses permanentes de uma comunidade, ao passo que povo seria o
conjunto de homens que compõem a nação em dado momento.
Os interesses dos homens que compõem o povo em dado momento são interesses
momentâneos, que podem se contrapor aos interesses permanentes da nação, então
seriam conceitos que não se identificariam.
Não houve definição satisfatória sobre o procedimento de votação, àquela época. Diante disso,
eclodiu conflito entre o terceiro estado e os privilegiados, o Rei Luís XVI tentou dissolver a
Assembleia, mas o terceiro estado instituiu Assembleia Nacional, o que ocorreu em 1789, que
terminou se autoproclamando Assembléia Nacional Constituinte, que no mesmo ano decreta
a igualdade tributária, extinguindo os privilégios tributários do primeiro e segundo Estados. No
mesmo ano, promulga a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, com a ideia de que a
nação é titular do poder constituinte, com autoridade anterior ao direito positivo e ao
próprio Rei. Em 1791 foi promulgada a primeira Constituição Francesa.
Locke teria se referido às distinções entre poder constituído e poder constituinte, expressões
que surgem na obra do autor francês.
Para esta corrente, o poder constituinte é de fato, histórico, é força fática que não se funda
em nenhuma norma jurídica anterior, não se admitindo o direito natural. Seria poder pré
jurídico, anterior ao direito, força fática-histórica da qual emana a Constituição, e, em
consequência, da qual emana o direito.
No Brasil, não se admite o direito natural e adota-se, em geral, visão do poder constituinte
mais próxima de que se trata de poder de fato, histórico.
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Para alguns autores como Luís Roberto Barroso, que entende que o poder constituinte é
poder de direito, não porque fundado no direito natural, mas sim porque fundado nas
concepções existentes na sociedade sobre ética, dignidade humana, justiça, igualdade,
liberdade, e fundado nas instituições jurídicas necessárias à sua positivação e que
resguardam a sua cosmovisão.
Para o autor francês Emmanuel Joseph, é a nação, pela Teoria da Soberania Nacional.
Há quem diga que seu titular é Deus (linha de teocracia, de Estado confessional)
O detentor da força
Povo é palavra plurívoca, que pode admitir diversos significados diferentes. No preâmbulo da
Constituição, há a menção a povo, a representantes do povo brasileiro.
- Conceito (Canotilho)
Povo “é pluralidade de forças culturais, sociais e políticas tais como partidos, grupos,
igrejas, associações, personalidades, decisivamente influenciadoras da formação de
opiniões, vontades, correntes ou sensibilidades políticas nos momentos pré constituintes
e nos procedimentos constituintes.”.
Assim, é a pluralidade de forças culturais, sociais e políticas que não incluem somente
pessoas físicas, mas todos aqueles que têm capacidade de influência decisiva na
formação de opiniões nos momentos pré constituintes e nos procedimentos
constituintes.
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1. Eleitos:
2. Não eleitos
- Divisão clássica:
- Doutrina moderna
Para a doutrina moderna, existe somente o poder constituinte, não havendo subdivisão em
originário e derivado.
É poder que convive com outro, o poder desconstituinte. Para a doutrina moderna, o poder
desconstituinte é o capaz de desconstituir toda a ordem jurídica previamente
estabelecida.
O Ministro Carlos Ayres Britto afirma que esses poderes podem ser representados na figura de
professor que tem a figura do apagador em uma mão (poder desconstituinte da ordem jurídica) e
o giz (poder constituinte, de escrever uma nova ordem jurídica).
- Divisão atual:
2. Poderes Constituídos:
- Por emenda
- Por revisão
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2.2. Poder Decorrente: poder de elaboração das Constituições estaduais;
O poder de reforma é poder constituído e não constituinte, e isto encontra-se claro no texto
constitucional, pois o poder de reforma encontra-se dentro do Poder Legislativo, poder
constituído. Art. 59, I, CF - o processo legislativo compreende a elaboração de emendas
constitucionais. O art. 60 disciplina as ECs. Assim, do ponto de vista formal, o poder de
reforma encontra-se inserido no Poder Legislativo, poder constituído.
OBS: o poder material precede o formal, pois antes é tomada a decisão política em
Assembleia Constituinte e posteriormente tal decisão será formalizada na forma de
Constituição Escrita.
- Momentos de Ruptura:
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b) Ruptura Pacífica (simbólica, não belicosa)
- Transação Constitucional
O poder constituinte tem conexão direta com o direito à revolução, que é debatido no
constitucionalismo norte-americano.
Georges Burdeau diz que garantias contra o excesso de poder podem ser organizadas,
previstas na CF, como HC, Impeachment, ou não organizada, não prevista na CF. O direito
à revolução seria a principal garantia não organizada, de modo que mesmo não prevista,
existe no regime democrático, pertencente ao povo como direito público subjetivo, sendo
o direito do povo de rebelar-se contra os direitos constituídos, quebrando a ordem
constitucional vigente e adotando outra ordem constitucional frente a situações
excepcionais.
A ruptura que leva à manifestação do Poder Constituinte pode estar relacionada ao que a
doutrina chama de HIATO CONSTITUCIONAL, que aparece na obra do prof. Ivo Dantas.
Segundo o professor, a norma constitucional, escrita, deve estar ajustada à realidade
social, aos fatores reais de poder presentes em sociedade, como diria Ferdinand Lassalle
em sua concepção sociológica. O ajuste fino entre a norma constitucional escrita e a
realidade social evita os hiatos constitucionais, as revoluções, golpes, etc. Assim, no HIATO
CONSTITUCIONAL, há período no qual o que está escrito na Constituição não encontra
correspondência nos fatores reais de poder, com a realidade social .
A manifestação do poder constituinte, em momento de ruptura, poderia ser legítima, mas a rigor,
não seria legal, pois o momento de ruptura rompe com o direito positivo anterior, e viola a
legalidade estrita até então vigente.O legal pode não ser legítimo e legítimo pode não ser legal.
O direito posto, contudo, pode ser utilizado de forma contrária aos interesses do povo, o
que pode gerar ruptura.
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Ex. A Grã-Bretanha, através de seu parlamento, fez as constituições (heteroconstituições): do
Canadá (1867), Austrália (1901) e África do Sul (1909)
Ex. Constituição de 1988, decorrente de abandono de período ditatorial pela evolução política. A
Assembleia Constituinte que deu origem à CF/88 foi convocada pela EC 26/85 da CF/67.
Ademais, não houve Assembleia Constituinte exclusiva para elaboração da CF/88, mas foram
exercidos simultaneamente os poderes constituinte e legislativo constituído em uma mesma
Assembleia.
Nessa Assembleia, havia a presença de Senadores que não foram eleitos para esta
Assembleia, que estavam no meio do mandato. Foram eleitos Deputados e Senadores
conferindo-se poderes a estes para a elaboração de uma nova Constituição.
Esses problemas não afetaram a legitimidade da Constituição de 1988 que tem forte carga de
legitimidade democrática.
- Doutrina Clássica
1. Inicial
É inicial pois inicia a ordem jurídica, e acima dele, não há qualquer outra ordem jurídica,
não se admitindo o Direito Natural.
2. Autônomo
É autônomo pois não existe nenhum poder jurídico de mesma hierarquia e estatura.
3. Juridicamente incondicionado (pois não é limitado pela ordem jurídico-normativa
anterior)
Na CF/88, há exemplos que denotam a ausência de limites jurídicos ligados ao direito positivo
anterior. Vejamos:
STF: “A eficácia das regras jurídicas produzidas pelo poder constituinte (redundantemente
chamado de “originário”) não está sujeita a nenhuma limitação normativa, seja de ordem
material, seja formal, porque provém do exercício de um poder de fato ou suprapositivo”.
STF - ADI 2356 - 25/11/2010.
Ex. ADCT, art. 17 - “(...) não se admitindo, neste caso, invocação de direito adquirido ou
percepção de excesso a qualquer título.”
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Não há direito adquirido com base na ordem jurídica anterior em face do Poder
Constituinte.
Art. 18, ADCT - “Ficam extintos os efeitos jurídicos (...)” - ADCT extinguiu efeitos jurídicos e
qualquer pessoa que ingressou sem concursos públicos não poderiam ser efetivadas.
Art. 231, § 6º, CF - “São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos” (...)
Não, pois embora o poder constituinte não esteja limitado pelo direito positivo anterior,
possui limites de outra natureza.
A ideia de onipotente, de força poderosa que pode qualquer coisa é refutada por paradoxos.
No campo religioso, a afirmação da onipotência de Deus é refutada pelo paradoxo da pedra. Ex.
Deus pode criar uma pedra tão pesada que não pode ser erguida por ele mesmo? Caso possa
fazê-la, não será onipotente, pois não poderá erguer a pedra que ele mesmo criou, e então não
será onipotente. E se não pode fazê-lo, não é onipotente, pois não pode tudo.
Carlos Ayres Britto afirma que nem Deus é onipotente, e que pode apenas quase tudo. Deus,
segundo o Ministro, não pode deixar de existir. O Prof. Canotilho anota que o poder
constituinte, embora se afirme como originário, não se exerce em vácuo histórico-
cultural, e, por isso, estará sempre limitado não pelo direito positivo anterior, mas sim por
fatores históricos, sociais e políticos que levaram à deflagração do processo de
elaboração de nova constituição, e estaria limitado pela motivação do momento de
ruptura que levou à elaboração de nova constituição.
Assim, boa parte da doutrina determina que embora não haja limites jurídicos impostos pela
ordem jurídica anterior, ao Poder Constituinte, há limites metajurídicos, veiculados por
meio de pressões de grupos sociais, econômicos, políticos, religiosos, por
circunstâncias históricas, etc.
3. Limitações Substanciais:
3.1. Transcendentes: seriam aquelas que transcendem o direito positivo, posto. Seriam o
direito natural, os valores éticos superiores, a consciência jurídica coletiva, os direitos humanos,
os direitos conexos à dignidade do homem, etc.
3.2. Imanentes: são aquelas que dizem respeito à configuração histórica do Estado, o
monarca, soberano, republicano, federal, unitário, etc.
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Ex. Constituição de 1824 não poderia ser republicana, mas sim monárquica, havendo limite
estabelecido pela configuração histórica daquele determinado momento.
Não há como negar a inserção de determinado Estado na ordem internacional, o que influencia
o poder constituinte.
O prof. Canotilho traz, ainda, limites ao poder constituinte ligados a princípios de justiça e
a princípios gerais e estruturantes do Direito Internacional.
No Brasil, Barroso diz que embora o Poder Constituinte não esteja subordinado à ordem
jurídico formal anterior, pelo Direito Positivo preexistente, o Poder Constituinte não é
ilimitado ou totalmente livre do direito, pois o exercício do poder constituinte está
condicionado à realidade fática e por determinados valores civilizatórios, pela justiça e
pelos princípios de Direito Internacional, e, ainda, principalmente, pelos Direitos
Humanos.
Daniel Sarmento e Cláudio Pereira Neto entendem, ainda, que o Poder Constituinte está
limitado por princípios supraconstitucionais de justiça, seriam “limites decorrentes de
valores historicamente sedimentados, radicados na cultura do constitucionalismo e
voltados à garantia de patamar mínimo de respeito aos DH e à Democracia”. Dizem,
porém, que apenas em casos extremos de profunda e inaceitável injustiça é que se pode pôr em
causa decisões do poder constituinte originário.
Barroso entende, ainda, que os condicionamentos jurídicos do poder originário podem ser
de duas espécies. Aponta limites jurídicos e os subdivide em:
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A Constituição norte americana, primeira em sentido moderno, escrita, de 1787, foi
submetida a ratificação dos estados membros, por meio de processo de ratificação,
condicionamento pós-constituinte.
Assim, Barroso entende que o poder constituinte é de direito, pois está fora e acima
do direito posto preexistente, mas é limitado pela cosmovisão da sociedade, por
suas concepções sobre ética, dignidade humana, justiça, igualdade, liberdade, e
limitado pelas instituições jurídicas necessárias à sua positivação. Fora disto, pode
haver outorga, dominação e força, mas não haverá constitucionalismo democrático.
Aula 4
● POSITIVAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO
- Mecanismos de positivação:
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3.2. Injusto (“plebiscito constituinte” ou “plebiscito napoleônico”): é consulta popular
realizada sem verdadeira liberdade do povo, que não é verdadeiramente livre para
deliberação.
Alguns autores mencionam a existência de poder constituinte difuso, como se verá adiante.
a) Desconstitucionalização:
A regra, quando surge nova Constituição, é que a Constituição antiga seja integralmente
revogada pela nova Constituição, que possui eficácia imediata.
Para que este fenômeno ocorra, deve ser previsto expressamente, e normalmente vem
previsto no âmbito do ADCT.
Isso pode ser útil quando se der a substituição de Constituição analítica por concisa,
determinando a desconstitucionalização de dispositivos da constituição anterior, rebaixando o
status constitucional dessas normas a leis ordinárias, para fins de evitar vazios legislativos.
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Quando esta recepção é temporária, pode ser em caso de período de vacatio
constituciones. A vigência da Constituição, em regra, é imediata, mas é possível que por
norma expressa da própria Constituição nova, pode haver período de vacância total ou
parcial, no qual a Constituição antiga permanece totalmente ou parcialmente válida, com
status constitucional. Assim, é o período entre a publicação da promulgação da nova
Constituição e sua entrada em vigor. É semelhante à vacacio legis.
A regra é que com a promulgação da nova Constituição, esta entre em vigor imediatamente.
A CF/88 entrou em vigor imediatamente, mas alguns dos seus dispositivos tiveram sua
vigência postergada no tempo, por determinação expressa da CF/88, havendo ao mesmo tempo
uma recepção material temporária de algumas normas da Constituição anterior.
Assim, quando advém nova Constituição, as leis anteriores, cujo conteúdo seja
compatível com a nova Constituição, permanecem no sistema, sendo recepcionadas pela
Constituição.
Não recepção é o fenômeno pelo qual as normas infraconstitucionais que não sejam
materialmente compatíveis com a nova Constituição ou nova EC, não são recepcionadas
ou, como determina o STF, são revogadas.
A incompatibilidade formal não impede a recepção. Isso significa, por ex, que a CF aboliu o
antigo decreto lei, não existente a espécie normativa a partir de 1988. Se a incompatibilidade
formal fosse relevante, nenhum decreto lei anterior seria recepcionado pela Constituição, mas a
incompatibilidade relevante é a material, de conteúdo da norma infraconstitucional, assim
todos os decretos leis anteriores à CF cujo conteúdo não a contrariam, houve a sua recepção.
Ex. CP. O que importa é a incompatibilidade material, de conteúdo, e não formal.
Quando a incompatibilidade formal versa sobre não as formas normativas, mas sim sobre
a competência legislativa das entidades políticas da federação.
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Ex. Matéria era de competência dos estados e passou a ser da União, e o STF entendeu que
não haviam sido recepcionadas as normas estaduais anteriores pela EC que tratou da alteração
da competência legislativa - ADIN 49.
Art 83 - Continuam em vigor, enquanto não revogadas, as leis do antigo regime no que explícita
ou implicitamente não forem contrárias ao sistema do Governo firmado pela Constituição e aos
princípios nela consagrados
O novo texto constitucional, pode, ainda, estipular não recepção ou revogação para o futuro,
o que ocorreu na CF/88, no art. 25 do ADCT (houve recepção temporária de dispositivos da
legislação anterior, e houve previsão de sua não recepção para o futuro, espécie de recepção
temporária dos antigos atos normativos legais que tratam dessa matéria, tendo sido
temporariamente recepcionados, ficando a não recepção programada para ocorrer em 180
dias a partir da promulgação da Constituição).
b) Repristinação:
Assim, há LO que não é recebida por nova Constituição, revogada a norma, portanto.
Posteriormente, surge nova Constituição que substitui a antiga e restaura a lei anteriormente
revogada.
● PODER DE REFORMA
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OBS: O Poder de Reforma tem previsão na Declaração de Direitos do Homem e do
Cidadão, na redação da Constituição Francesa de 1793, no art. 28: “Um povo tem, sempre,
direito de rever, de reformar e de mudar a sua Constituição. Uma geração não pode sujeitar a
suas leis as gerações futuras.”.
É preciso encontrar-se ponto de equilíbrio entre estas necessidades, essencial pois caso a
mudança seja muito fácil, por meio de processo simples de mudança, a supremacia da
Constituição desaparece. Não se pode falar em Constituição suprema se esta se altera com
facilidade. Por outro lado, se a mudança for muito difícil, a situação pode terminar em
descompasso entre a Constituição e as necessidades atuais da sociedade, o que pode levar a
momento de ruptura com a própria Constituição.
Há a MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL.
46
a ser outra que não aquela que inicialmente existia. A mudança, na mutação
constitucional, ocorre no significado, no sentido das normas extraídas.
É a mudança de contexto sem a mudança de texto, como diz Ana Cândida Ferraz;
Barroso lembra que a mutação constitucional pode ocorrer por 3 diferentes formas:
- Mutação pelo costume: uma prática até então considerada válida é alterada
pelo costume constitucional.
Assim, o STF acaba exercendo parcela do poder de reforma através da interpretação conferida
à CF.
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1. Possibilidades semânticas do texto: os sentidos possíveis do texto que está sendo
interpretado ou afetado. Esse limite, em tese, pode ser superado apenas pelo poder de
reforma formal, por meio de EC.
ATENÇÃO!
Barroso adverte que para que mutação seja legítima, deve ter lastro democrático, e deve
refletir demanda social efetiva por parte da coletividade, devendo estar respaldada pela
soberania popular.
ATENÇÃO!
A expressão “poder constituinte difuso” tem origem na obra de Georges Burdeau, que diz:
“Se o poder constituinte é um poder que faz ou transforma as constituições, deve-se admitir que
sua atuação não se limita às modalidades juridicamente disciplinadas de seu exercício. (...) Há
um exercício quotidiano do poder constituinte que, embora não esteja previsto pelos
mecanismos constitucionais ou pelos sismógrafos das revoluções, nem por isso é menos
real. (...) Parece-me, de todo o modo, que a ciência política deve mencionar a existência desse
poder constituinte difuso, que não é consagrado em nenhum procedimento, mas sem o
qual, no entanto, a Constituição oficial e visível não teria outro sabor que o dos registros
de arquivos”.
Para Barroso, em sua obra doutrinária, a titularidade do Poder Constituinte Difuso continua
sendo do povo, titular do poder, inclusive do poder constituinte difuso.
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Contudo, este poder acaba sendo exercido, por via representativa, pelos órgãos do poder
constituído, em sintonia com as demandas e sentimentos sociais, assim como em caso
de necessidade de afirmação de certos direitos fundamentais. Ademais, é poder exercido
em caráter permanente por mecanismos informais, não expressamente previstos na
Constituição, mas admitidos de forma implícita por ela, como os mecanismos de
interpretação de suas normas e o desenvolvimento de costumes constitucionais.
Além disso, segundo Barroso, o Poder Constituinte Difuso pode ser exercido diante da
necessidade de afirmação de direitos fundamentais. Contudo, sendo direitos fundamentais
cláusulas pétreas, a mutação não pode ser tendente a abolir direitos fundamentais, pois
haveria violação do espírito da constituição, pois os direitos fundamentais fazem parte do
espírito da Constituição.
Assim, a mutação pode tratar de temas relativos a direitos fundamentais, mas não pode
ser tendente a aboli-los. As escolhas fundamentais realizadas pelo Constituinte não podem ser
alteradas pois são cláusulas pétreas. As escolhas fundamentais possuem correspondência com
as cláusulas pétreas e a mutação não pode se dar para violá-las.
Há casos de mutação que dizem respeito direta ou indiretamente a cláusulas pétreas, mas
os limites constitucionalmente previstos para o poder de reforma e de elaboração de
emendas devem ser observados no caso da mutação.
1. Equiparação do prazo da licença adotante ao prazo da licença gestante - art. 7º, XVIII,
da CF - RE 778889, 10/03/2016
2. Equiparação da união homoafetiva à união estável - art. 226, § 3º, CF (ADPF 132 e ADI
4277, j. em 05/05/2011).
3. Perda do mandato parlamentar no caso de infidelidade partidária - art. 55 CF (MS
26.602 e 26.603 - 04/10/2010)
4. Incidência da individualização da pena na fase executória - Art. 5º, XLVI, CF (JC 82.959)
5. Restrição do foro por prerrogativa de função aos crimes praticados no exercício do cargo
e em razão dele (AP 937/2018)
6. Impossibilidade de prisão do depositário infiel - art. 5º, LXVII, CF - há quem entenda
reconhecimento do caráter supralegal do pacto de san josé de costa rica é que teria
esvaziado as normas infraconstitucionais que tratam da prisão do depositário infiel, e
que não teria ocorrido mutação constitucional. O STF, contudo, citou tal decisão como
hipótese de mutação constitucional.
Parte da doutrina diz que a mutação seria constitucional, e outra, que seria inconstitucional.
49
8. Natureza da participação do Senado (Art. 52, X, da CF) e dos efeitos da decisão do STF no
controle difuso de constitucionalidade - A mutação foi inicialmente refutada pelo STF, mas
depois o tema foi revisto no julgamento das ADIS 3406 e 3470, em 2017, ainda pendente de
apreciação de embargos de declaração.
A mutação, ideia de que o Senado não precisa mais exercer o controle difuso, que teria papel
de dar apenas publicidade à decisão do STF, que teria, de imediato, efeito erga omnes e
eficácia imediata, como decisão tomada em sede de ADIN e ADC, essa espécie de mutação foi
inicialmente rejeitada pelo STF em 2014, mas em 2017, foi revisto o tema, mas pendente de
Embargos de Declaração.
- INICIAL
- AUTÔNOMO
- JURIDICAMENTE INCONDICIONADO PELO DIREITO POSITIVO ANTERIOR, ainda
que possam existir limites ao poder originário ligados ao direito.
- O PODER DE REFORMA É:
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão traz dispositivo que diz respeito a este
debate, no art. 28, supracitado. As gerações futuras ou atuais estariam limitadas, portanto, pela
geração anterior, o que seria algo contramajoritário e antidemocrático.
Rui Barbosa trouxe a seguinte lição: “Creio que a própria soberania popular necessita de
limites, e que esses limites vêm a ser as suas Constituições, por ela mesma criadas, nas suas
horas de inspiração jurídica - seriam os momentos de decisão rara do povo -, em garantia
contra os seus impulsos de paixão desordenada”.
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- Espécies de limitação ao Poder de Reforma:
a) Temporais
São ligadas ao fator tempo. São limitações que servem para impedir modificação muito
precoce da Constituição, antes de ocorrido determinado lapso temporal.
- Constituição de 1824:
A CF de 88 não traz às EC comuns qualquer limitação temporal, mas houve limitação temporal
ao poder de revisão.
Existe discussão sobre a legitimidade das cláusulas pétreas, ligada ao debate sobre ser ou não
possível que uma geração presente esteja limitada por decisão de geração passada. A doutrina
de Jorge Miranda menciona que há 3 correntes sobre a legitimidade ou não das cláusulas
pétreas:
1. Cláusulas pétreas são ilegítimas pois o povo sempre tem o direito de mudar;
2. São legítimas e insuperáveis (linha adotada no Brasil);
3. Cláusulas pétras são legítimas, porém superáveis com base no poder constituinte
evolutivo, através do procedimento constituinte formal de dupla revisão. Segundo
autores como Vital Moreira, o poder constituinte evolutivo seria o poder de alterar
as normas constitucionais que o poder constituinte originário clausulou como
intangíveis. Seria o poder de alterar as cláusulas pétreas. No caso das explícitas, o
poder constituinte evolutivo se manifestaria através do procedimento da dupla revisão.
Essa teoria admitiria a alteração de cláusulas pétreas implícitas, como o procedimento
de elaboração de ECs.
Na Constituição de 1969, houve alteração do art. 48 pela EC 8/77, que reduziu o quórum
de aprovação de EC, que de ⅔ foi reduzido pela EC ao quórum de maioria absoluta.
51
Dupla revisão é procedimento pelo qual uma primeira EC suprime matéria do rol de
cláusulas pétreas e segunda EC realiza a alteração substancial pretendida desde o início.
É procedimento feito com base no poder constituinte evolutivo.
A violação de quaisquer das regras de limitação ao poder de reforma é desafiada por meio de
controle de constitucionalidade. O STF pode declarar a inconstitucionalidade de EC, o que já
ocorreu no país.
II - do Presidente da República;
Deve-se considerar a Câmara Legislativa para fins de atender ao quórum numérico. Não há
entendimento do STF ou do CN acerca disto, mas na opinião do professor, não se pode deixar
de realizar o cômputo no cálculo de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades
da Federação.
OBS 4: Não há previsão expressa de iniciativa privativa de EC. Assim, não se aplica por
analogia o art. 61, § 1º, da CF. Não há iniciativa reservada de matérias, e a edição de EC
pode ser de temas afetos a temas do Poder Judiciário e do Executivo.
52
requisitos para nomeação de delegado chefe da polícia civil é de matéria privativa do
Executivo, e não pode, portanto, ser tratada por EC de iniciativa parlamentar, entendendo
pela inconstitucionalidade formal da EC 86/2013, do Estado de Rondônia, por vício de
iniciativa.
No texto originário da Constituição Estadual, entendeu o STF, não haver este limite: “A regra do
Diploma Maior quanto à iniciativa do Chefe do Poder Executivo para projeto a respeito de certas
matérias não suplanta o tratamento destas últimas pela vez primeira na Carta do próprio
Estado.”.
Presentes essas circunstâncias: estado de defesa, intervenção federal ou estado de sítio, não
poderá haver EC.
Essa limitação demonstra a coragem e autoconfiança da Constituição, que não admite ser
alterada nos momentos de maior crise, em que se encontra mais ameaçada, como em caso de
guerra externa, uma das hipóteses de estado de sítio, não será possível realizar EC,
estabelecendo ser instrumento jurídico apto a enfrentar qualquer ocorrência e qualquer situação
de crise, para evitar que seu espírito ou identidade sejam alterados por aqueles que se
encontram momentaneamente no poder nestas situações, oferecendo mecanismos para
enfrentar tais situações com suas próprias regras, sem a necessidade de alteração.
À luz da CF/88, a primeira intervenção foi decretada em 2018, na segurança pública do Estado
do RJ, e não houve estado de defesa e estado de sítio sob a égide desta constituinte. Não
houve jurisprudência do STF acerca deste tema.
O professor Paulo Napoleão Nogueira da Silva entende que pode haver tramitação mas não
pode haver decisão final quanto à edição de EC.
O prof. Ingo Wolfgang Sarlet entende que a Constituição proíbe qualquer fase do processo
legislativo, desde a iniciativa, e toda a tramitação deve ser suspensa.
53
§ 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos,
considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos
membros.
O quórum de ⅗ (60%) não é o maior quórum exigido pela Constituição em termos de processo
legislativo, o de ⅔ (66.66%) é encontrado para o processo de elaboração de lei orgânica
municipal, no art. 29 da CF e no art. 32, no processo de elaboração da lei orgânica do DF.
Isto já ocorreu na PEC que deu origem à Reforma do Judiciário, que deu origem à EC/45.
Se deve haver intervalo, como poderia ser admitido que em EC os dois turnos fossem votados
no mesmo dia? No entanto, prevaleceu interpretação literal ou gramatical no CN que votou
os 2 turnos no mesmo dia, e o STF não reconheceu a inconstitucionalidade formal que
deu origem à EC 62/2009 em que houve a votação dos 2 turnos no mesmo dia. Foi admitida
a realização da votação dos 2 turnos no mesmo dia.
OBS: Caso haja alteração na casa revisora, as propostas de EC devem ser aprovadas na
Câmara e no Senado, e se a casa revisora mudar o que foi proposto pela casa iniciadora,
a proposta de EC retornará à casa iniciadora, e isto só ocorrerá se houver mudança
substancial na proposta de EC, pois se a mudança for meramente gramatical e não
substancial do sentido do texto, não será necessário que o projeto de EC retorne à Casa
Iniciadora - assim entende o STF.
Assim, uma casa inicia o processo legislativo, aprova, e o encaminha à casa revisora, que
altera o texto e então o devolverá à Casa iniciadora, que pode derrubar todas as
mudanças feitas pela casa revisora, restabelecer o que havia aprovado antes e
54
encaminhar o projeto de lei à sanção ou veto presidencial. Assim, a casa iniciadora tem
prevalência quando há prevalência entre as duas casas. Nos projetos de lei comum, a casa
que inicia o processo legislativo fica com a última palavra sobre as alterações produzidas
pela casa revisora. ISSO NÃO SE APLICA ÀS PROPOSTAS DE EC, não sendo aplicável
este princípio, pois o texto deve ser aprovado em AMBAS as casas, em 2 turnos de
votação, por ⅗ dos votos.
Aula 5
A matéria objeto de PEC que sofreu rejeição ou prejuízo não pode ser objeto de nova proposta
na mesma sessão legislativa (período de 1 ano) - IRREPETIBILIDADE DAS PROPOSTAS DE
EC REJEITADAS OU PREJUDICADAS;
Não confundir este dispositivo com o art. 67, da CF, que determina que a matéria constante de
projeto de lei rejeitado somente poderá constituir novo projeto, na mesma sessão,
mediante proposta da maioria absoluta dos membros de qualquer das casas do CN.
Trata-se, para a maioria da doutrina, limitação formal, há quem diga que é temporal e mista
(forma, tempo e matéria específica).
Não há decisão específica do STF sobre esse tema, mas há quem entenda ser possível por
serem sessões legislativas distintas. O STF tem decisão sobre projeto de lei na cautelar da
ADIN 2010 e que menciona interpretação restrita, vejamos:
“É preciso ter presente que a cláusula de vedação prevista no art. 67 da CF - precisamente por
implicar restrição ao exercício da prerrogativa institucional de fazer iniciar o processo de
formação das leis - deve merecer interpretação restrita, sob pena de paralisar-se a atividade
parlamentar e de frustrar-se a utilização da lei como instrumento democrático de prática de
governo”.
Aplicando-se por analogia, entendendo-se que não se deve paralisar a atividade parlamentar,
poderia-se interpretar ser possível a propositura de nova PEC com mesmo objeto rejeitado em
sessão ordinária, mas em sessão extraordinária.
55
STF: “É de ver-se, pois, que tendo a Câmara dos Deputados apenas rejeitado o
substitutivo e não o projeto que veio por mensagem do Poder Executivo, não se cuida de
aplicar a norma do art. 60, § 5º, da CF. Por isso mesmo, afastada a rejeição do
substitutivo, nada impede que se prossiga na votação do projeto originário. O que não
pode ser votado na mesma sessão legislativa é a emenda rejeitada ou havida por
prejudicada, e não o substitutivo que é uma subespécie do projeto originariamente
proposto.”.
O § 4º traz rol de cláusulas pétreas, considerado rol de preceitos fundamentais para fins de
ADPF. Essas matérias são consideradas princípios de hermenêutica constitucional, que
orientam a interpretação de toda a CF.
Art. 2º, ADCT - poderia ter ocorrido a alteração do sistema e forma de governo.
- Qual é o real alcance desse rol de cláusulas pétreas? O STF entende que a proteção
pétrea diz respeito ao núcleo essencial tratado nesses dispositivos, o que não
significa intangibilidade absoluta e literal. O protegido é o núcleo essencial dessas
matérias.
- Não haverá deliberação acerca de PECs tendentes a abolir cláusulas pétreas , e o
vício já existe durante a tramitação da PEC, e sequer pode haver sua votação ou
tramitação, pois o vício se encontra presente na fase de exame legislativo da proposta,
podendo haver controle judicial e preventivo de constitucionalidade por meio de
MS, o que foi admitido pelo STF desde que preenchidos determinados requisitos.
Vejamos:
“(...) É sabido que nosso sistema constitucional não prevê nem autoriza o controle
de constitucionalidade de meros projetos normativos (...) Somente em duas
situações a jurisprudência do STF abre exceção a essa regra: a primeira, quando se
trata de PEC que seja manifestamente ofensiva a cláusula pétrea; e a segunda em
relação a PL ou de PEC em cuja tramitação for verificada manifesta ofensa a
alguma das cláusulas constitucionais que disciplinam o correspondente processo
legislativo (...)”.
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para invalidar normas originárias, pois não há hierarquia entre essas
normas, não sendo aceita a TEORIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS
INCONSTITUCIONAIS, do prof. Oto Barrof.
- ESPÉCIES
I. A forma federativa de Estado - a federação é cláusula pétrea. Pode haver alteração dos
detalhes da federação, pois há diversos modelos de federação, e a modificação de seus
detalhes não significa reforma tendente a abolir a federação. Não seria possível esvaziar
completamente as competências constitucionais, esvaziando o núcleo essencial, de um
dos entes federativos, mas seria possível a realização de ajustes.
A EC 15/96 alterou a redação do art. 18, § 4º, alterando competência legislativa que
passou a ser do Estado e União, para criação, incorporação, fusão e desmembramento
de municípios, que antes era somente da competência do Estado. Segundo o STF, não
houve ataque ao núcleo essencial do Federalismo.
O voto obrigatório não é cláusula pétrea, e o voto, por meio de EC, poderia ser
transformado em facultativo.
Os pormenores da separação de poderes não foram petrificados, mas sim o núcleo essencial
da separação de poderes.
Ex. Instituição pela EC 45 da Súmula Vinculante e efeito vinculante das decisões do STF em
sede de controle de constitucionalidade, que se refere à Administração Pública e ao Poder
Judiciário, e a separação de poderes foi abrangida, pois o Judiciário vincula o Executivo, mas o
STF entende que não houve violação à cláusula pétrea da separação dos poderes.
57
poderes teria sido substancialmente alterada em relação ao modelo estabelecido em 1988,
originariamente.
1) Corrente restritiva (literal) - são cláusulas pétreas somente “os direitos e garantias
individuais”;
2) Corrente ampliativa - são cláusulas pétreas os direitos fundamentais como um
todo e não somente os individuais; Essa corrente subdivide-se em:
Por esse princípio, a regra deve ser interpretada de forma ampliativa, e se é exceção, a
interpretação deve ser restritiva. Assim, a interpretação da expressão direitos e garantias
individuais deve ser ampliativa, pois a regra é a permanência da CF, e a exceção é sua
modificação, e as cláusulas pétreas existem para preservar a CF, para impedir a mudança
da CF, mantendo-se o texto originário. Assim, as cláusulas pétreas são os direitos
fundamentais, devendo haver interpretação ampliativa.
Não, pois o STF já entendeu que alguns direitos do contribuinte, por exemplo, presentes
no art. 150, da CF, são protegidos pela imutabilidade prevista no art. 60, § 4º, IV, da CF;
- Todos os direitos previstos no art. 5º, da CF, são protegidos pela cláusula pétrea em
questão?
Adotando-se interpretação literal, não, pois não há tão somente direitos individuais neste
rol. Assim, o MSI seria cláusula pétrea, mas o MSC não. Adotando-se a interpretação
ampliativa que considera DF do ponto de vista formal, todo o Título II da CF é cláusula
pétrea, mas se considerar-se somente os direitos materialmente constitucionais, apenas os
dispositivos que dizem respeito à dignidade da pessoa humana seriam cláusulas pétreas.
Os serviços de saúde são prestados por meio do SUS, e a educação é prestada por sistemas
dos entes federados. A forma de prestação de direitos fundamentais pode ser alterada,
58
sem que isto signifique violação à cláusula pétrea. O que não pode se dar é modificação
tendente a esvaziar o núcleo essencial dos direitos.
OBS: Imunidade recíproca entre entes federados - existe proteção pétrea adicional relativa
à federação, além da proteção relativa a direitos e garantias individuais.
O STF entendeu posteriormente, em outra matéria, que as imunidades tributárias têm teor de
cláusulas pétreas. Vejamos: “As limitações constitucionais ao poder de tributar são o
conjunto de princípios e demais regras disciplinadoras da definição e do exercício da
competência tributária, bem como das imunidades (...). As imunidades têm o teor de
cláusulas pétreas, expressões de direitos fundamentais, na forma do art. 60, § 4º, da
CF/88, tornando controversa a possibilidade de sua regulamentação através do poder
constituinte derivado e/ou ainda mais, pelo legislador ordinário” (2014).
Há quem defenda que sim, não havendo decisão específica do STF acerca do tema, mas há
decisões do STF determinando que a limitação formal do quorum de ⅗ e 2 turnos de votação da
CF não pode ser ampliado para ⅘ na constituição estadual - ADIN 486/97.
Esse raciocínio sugere que deveria haver simetria em relação às limitações materiais, mas não
há posicionamento explícito;
STF: “Não há dúvida de que, em face do novo sistema constitucional, é o STF competente para,
em controle difuso ou concentrado, examinar a constitucionalidade, ou não, de EC (...)
impugnada por violadora de cláusulas pétreas explícitas ou implícitas”. (STF, ADIs 829, 830
e 833).
O STF admite a existência de cláusulas pétreas implícitas. Segundo a doutrina, são temas
que preservam a identidade material básica da Constituição.
Ex. A titularidade do poder, que é do povo; Órgão exercente do poder de reforma; Procedimento
de elaboração das ECs; A república e o presidencialismo, após o plebiscito de 1993 (alguns
autores afirmam ser possível superar a cláusula pétrea implícita por meio de novo plebiscito
popular); o rol de cláusulas pétreas expressas (não poderia ser diminuído ou aumentado - as
cláusulas pétreas são força jurídica superior que limita a atuação de força jurídica inferior - o
poder de reforma, que não poderia limitar a si mesmo, sendo falso limite jurídico pois seria um
poder limitando a si próprio);
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Considera-se pela doutrina, cláusula pétrea implícita, ainda, a dignidade da pessoa
humana, fundamento do poder constituinte, da constituição e de todo o direito positivo, e
não seria possível, portanto, a modificação de dispositivos que tangenciem tal valor por
meio de EC.
São consideradas cláusulas pétreas implícitas, ainda, os fundamentos da República (art. 1º,
CF), e os objetivos fundamentais da República (art. 3º, CF), e seriam limitações materiais
implícitas, pois com sua alteração, estaria se modificando o espírito e identidade da
CF/88.
O MP é, conforme o art. 127 da CF, instituição permanente, e para alguns autores como
Hugo Mazzili, o MP e suas atribuições constitucionais não podem ser alteradas ou
suprimidas, pois caso contrário, não seria instituição permanente. A DP, Forças Armadas,
Polícia Federal, dentre outras, são permanentes, e para alguns, essas instituições
permanentes seriam cláusulas pétreas tão somente ligadas de forma direta à democracia.
A democracia, para alguns, seria também cláusula pétrea. Para o Min. Ayres de Britto, a
democracia não é cláusula pétrea, pois estas existem para proteger a democracia, sendo
esta sua razão de ser, e é o objeto de proteção dessas cláusulas, que são mecanismos de
proteção.
Na oportunidade de revisão, foi possível modificar a CF por procedimento mais fácil que o
de EC comum, e o constituinte originário relativizou a rigidez constitucional em momento
preciso.
O texto do ADCT expressamente não traz limitação material, mas tão somente temporal e
formais. O STF decidiu que as cláusulas pétreas eram limites materiais implícitos ao
procedimento de revisão constitucional.
- Havia limitação implícita circunstancial, ou seja, deveria ser realizada tão somente diante
da circunstância de modificação no plebiscito realizado no mesmo ano, prevista no art.
2º do ADCT ou era independente de sua alteração?
O STF afirmou isto no âmbito da ADI 981 - MC/PR. Ademais, na ADI 1722 - MC/TO, determinou:
“Ao Poder Legislativo, Federal ou Estadual, não está aberta a via da introdução, no
cenário jurídico, do instituto da revisão constitucional”.
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Assim, privilegiando a rigidez constitucional, o STF entendeu não ser possível nova
revisão constitucional, e nova EC que viesse a estabelecer nova revisão esbarraria na
limitação implícita ao poder de reforma que diz respeito à impossibilidade de diminuir os
requisitos formais de novas emendas constitucionais.
C) Tratados e Convenções Internacionais que versem sobre DH (Art. 5º, § 3º, CF)
Nos moldes do supracitado artigo, são equivalentes às ECs. Assim, as limitações ao poder de
reforma se aplicam ao art. 5º, § 3º, da CF?
Não há consenso doutrinário e nem decisão do STF a esse respeito, mas na doutrina, há quem
entenda que a resposta pode depender da natureza das limitações.
Limitações formais - quorum e 2 turnos de votação - aplica-se por força do art. 5º, § 3º, da
CF.
# DIREITOS FUNDAMENTAIS
1. TERMINOLOGIA
Os direitos humanos, reconhecidos no plano internacional, são trazidos ao plano interno, por
isso muitas vezes essas expressões são utilizadas indistintamente, mas são expressões que
não se confundem. Ex. Existe o direito humano à vida, previsto na Declaração Universal de DH,
da ONU, e o direito fundamental à vida, previsto no art. 5º, caput, da CF;
São direitos subjetivos pois trata-se de direitos em sua concepção clássica, relativa a
obrigação subjacente, com relação jurídica obrigacional, envolvendo credor, devedor e objeto.
O credor é o homem, ou seja, a pessoa humana, aquele que pode reivindicar o direito, o
devedor, em visão clássica, é o Estado, embora atualmente haja visão horizontal, privada, dos
direitos fundamentais, e o objeto do direito fundamental do homem é prestação positiva ou
negativa, fundamental para a dignidade da pessoa humana.
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# CORRENTES FILOSÓFICAS JUSTIFICADORAS DA EXISTÊNCIA DOS DIREITOS
HUMANOS:
Existe crítica a essa procura por embasamento filosófico para os DH, pois não haveria nenhuma
utilidade prática para tanto, pois o necessário, na prática, é proteger e concretizar os DH, e não
justifica-los. Segundo Bobbio, o problema fundamental é como proteger os DH, sendo
ilusão buscar fundamentação única e absoluta, havendo inúmeras justificativas para
elevar direito a categoria de fundamental.
Para o prof. Fábio Konder Comparato, o fundamento último dos DH “só pode ser a
consciência ética coletiva, a convicção, longa e largamente estabelecida na comunidade,
de que a dignidade da condição humana exige o respeito a certos bens ou valores em
qualquer circunstância, ainda que não reconhecidos no ordenamento estatal, ou em
documentos normativos internacionais”. É, portanto, a dignidade da pessoa humana.
- Antecedentes remotos
1. Cilindro de Ciro: é artefato do século VI, A.C, descoberto na Mesopotâmia, que possui
declaração do Rei da Pérsia, que para muitos foi a primeira declaração escrita de DH,
que inclui textos sobre a garantia da liberdade religiosa e proibição à escravidão -
Ciro, o Grande.
- Antecedentes próximos
1. Pensamento de autores como Hobbes, Kant, Locke, dentre outros, que contribuíram
para a formação dos DH, intimamente conectados, por alguns, à religião.
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l) Constituições francesas de 1791, 1793 e 1848;
m) Constituição mexicana de 1917;
n) Constituição Alemã de Weimar de 1919;
o) Carta das Nações Unidas (26/06/1945);
p) Declaração Universal dos Direitos do Homem (10/12/48);
Foi documento escrito imposto pelo Parlamento Inglês a Guilherme D’Orange, como condição
para assumir o trono inglês. É o primeiro documento legislativo a garantir direitos e traçar
limites ao poder monárquico, e o rei deixou de ser Absoluto, passando a ter seu poder
limitado pela lei do parlamento, e a soberania deixou de ser do monarca e passou a ser
do parlamento.
O Bill of Rights determinou que o rei está sujeito às leis, sendo a semente do Estado de Direito,
em que o governante é submetido à legislação. A monarquia passou a ser limitada e
constitucional.
Foi declaração proposta por Lafayette, inspirada na Declaração de Direitos do Bom Povo da
Virgínia, com papel fundamental na afirmação da expressão DH e na universalidade dos
Direitos Humanos, com direitos de todos os tempos e todos os povos, dirigidos a toda a
humanidade, segundo o prof. Fábio Konder Comparato.
A declaração fala em direitos naturais, que decorrem do simples fato da condição humana,
inalienáveis, sagrados do homem, demonstrando a íntima relação entre pensadores
religiosos e os direitos do homem.
A declaração dos homens e do cidadão, obra de Jellinek, que concluiu que a declaração
francesa não traz nenhuma idéia jurídica original que não estivesse na declaração do bom povo
da virgínia, sendo concisa, deixando de prever o direito de petição, de associação e reunião,
liberdade de circulação, o que foi garantido somente na Constituição Francesa de 1791. A
declaração de direitos da virgínia já possuía elementos da ideia de universalidade dos direitos
humanos.
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A declaração de direitos do homem e do cidadão é marco do que se denomina primeira
geração de direitos humanos, civis e políticos clássicos, conectados a abstenção do
Estado, a obrigação de não fazer, voltados para a liberdade e igualdade formal, e os
direitos políticos clássicos são os direitos de votar e ser votado.
Aula 6
A universalidade aparece, ainda, no campo temporal e cultural, pois são direitos que devem
estar presentes em todas as culturas dos povos e em todos os tempos, de forma
intertemporal.
Todo ser humano possui dignidade, e a dignidade da pessoa humana foi alçada como
fundamento último de todo o direito e da Constituição.
Para tanto, a teoria Kantiana, de Immanuel Kant, teve vital relevância, pois para ele, a relação
entre pessoas e coisas:
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1. PESSOA
-É um fim em si mesmo;
-Possui dignidade;
-É insubstituível;
2. COISA
Todo e qualquer discurso que diz que parcela de pessoas não possui direitos humanos as trata
como coisas.
-Declaração Universal dos Direitos do Homem das Nações Unidas (Com forte influência de
Eleanor Roosevelt)
É direito integrado por normas que formam o direito internacional peremptório, com
normas obrigatórias, que se impõem a todos os Estados, erga omnes, independentemente
de sua aceitação, que excepcionam a regra da vontade dos sujeitos de direito
internacional, da vontade dos Estados, razão pela qual os direitos humanos independem
de previsão formal, correspondendo aos costumes e princípios jurídicos internacionais, que
são exigências básicas de respeito à dignidade humana, como preceitua o prof. Fábio
Konder Comparato, sendo obrigatórios a todos os Estados.
André de Carvalho Ramos: “Tais normas cogentes de DI são aquelas que contém valores
considerados essenciais para a comunidade internacional, prevalecendo quando em
choque com outras normas de DI. O jus cogens vem a ser o conjunto de normas
65
internacionais insuscetíveis de serem derrogadas por outra norma que não seja uma
norma pertencente ao mesmo jus cogens”
A Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados, a Corte Interamericana de DH, o Estatuto de
Roma reconhecem o jus cogens.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem das Nações Unidas, de 48, iniciou o processo
de construção do sistema internacional de proteção dos DH, estágio avançado de construção.
1. Sistema Global
- Documentos Gerais:
- Documentos específicos:
Dentre outros;
2. Sistemas Regionais
2.1. Europeu;
2.2. Africano;
Carta de Banjul (Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos) (1950).
66
2.3. Interamericano;
2) Convenção Americana de Direitos Humanos (1969) (Pacto de San José da Costa Rica);
2.4. Asiático;
1) Plano universal:
Comitês previstos em tratados (Comitê de Direitos Humanos, Comitê Contra a Tortura, etc.);
Tribunais “ad hoc” criados por convenções do Conselho de Segurança da ONU (ex-Iugoslávia,
Ruanda); e
Art. 5º, § 4º: “O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação
tenha manifestado adesão.” (EC nº 45/2004 ); e
ADCT, art. 7º: “Art. 7º. O Brasil propugnará pela formação de um tribunal internacional dos
direitos humanos.”
- Bibliografia complementar:
Atenção! O Brasil está ligado ao sistema internacional de proteção de DH, podendo ser,
em âmbito internacional, sancionado, em caso de graves violações a DH, que se afigura
67
como um dos requisitos do IDC - Incidente de Deslocamento de Competência, que pode
ser movido frente ao STJ pelo PGR para que haja modificação da competência da JE para
a JF. Vejamos:
(...)
V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; (incluído pela EC
45/2004).
CF/88:
Art. 109. (...) § 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador Geral
da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de
tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar,
perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo
incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal (incluído pela EC
45/2004).
A União terá especial interesse na solução do processo, a ser julgado pela JF, pois a
União é que, eventualmente, será punida em âmbito internacional, em caso de graves
violações a DH que remanesçam impunes em âmbito local.
# Direitos Fundamentais:
# Características:
a) Historicidade;
Ex. DF ao acesso à internet, assim reconhecido por diversos países - a ONU defende que o
acesso à internet deve ser reconhecido como DH básico.
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A PEC nº 06/2011 do Senado Federal modifica o art. 6º da CF/88, que passa a vigorar com a
seguinte redação:
“Art. 6.º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer,
o acesso à Rede Mundial de Computadores (Internet), a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.”
b) Inalienabilidade (indisponibilidade);
Art. 199. (...) § 4º A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de
órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem
como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo
tipo de comercialização.
c) Personalidade;
Terceiros podem herdar bens, coisas sobre as quais recaíam os direitos do falecido, mas os
herdeiros não herdam DF do instituidor da herança, que se extinguem com a morte do titular.
d) Imprescritibilidade;
Os DH e DF são imprescritíveis, e não se perdem pelo seu desuso com o tempo, sendo
sempre exigíveis. José Afonso da Silva relembra que a prescrição atinge a exigibilidade
de direitos patrimoniais comuns, e não de DF personalíssimos.
e) Irrenunciabilidade;
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Não se pode renunciar a titularidade de DF, não sendo possível a sua renúncia, e no
máximo, pode ocorrer o não exercício voluntário de DF pois seu titular não deseja exercê-lo,
o que é autodeterminação revogável a qualquer tempo. A autolimitação voluntária é possível.
f) Constitucionalização;
g) Inviolabilidade;
São invioláveis pois devem ser obrigatoriamente observados e respeitados pelos agentes
estatais, pelas normas infraconstitucionais, pelo judiciário e pelos particulares
(horizontalização dos DF);
i) Aplicabilidade imediata;
Os DH e DF devem ter a máxima aplicação possível. Art. 5º. (...) § 1º. As normas definidoras
dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata
j) Limitabilidade (relatividade);
“OS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS NÃO TÊM CARÁTER ABSOLUTO. Não há, no
sistema constitucional brasileiro, direitos ou garantias que se revistam de caráter absoluto,
mesmo porque razões de relevante interesse público ou exigências derivadas do princípio de
70
convivência das liberdades legitimam, ainda que excepcionalmente, a adoção, por parte dos
órgãos estatais, de medidas restritivas das prerrogativas individuais ou coletivas, desde que
respeitados os termos estabelecidos pela própria Constituição (...) pois nenhum direito ou
garantia pode ser exercido em detrimento da ordem pública ou com desrespeito aos
direitos e garantias de terceiros” (STF, MS 23.452/RJ, 16/09/1999)
Os DF não são absolutos, nem mesmo o direito à vida, sendo admitido o sacrifício à vida em
determinadas circunstâncias - Ex. legítima defesa e pena de morte em caso de guerra
declarada.
Atenção! Existe, na doutrina, posicionamento que defende que 2 DF são absolutos: o direito à
não tortura e à não escravização, pois um DF pode ser limitado por outro valor constitucional
ou DF, não sendo possível conceber direito à tortura ou à escravização para que estes direitos
possam ser relativizados, e no atual estágio civilizatório, não seria possível a sua relativização
ou concepção.
“Entendo por valor absoluto’ o estatuto que cabe a pouquíssimos direitos do Homem, válidos em
todas as situações e para todos os Homens sem distinção. Trata se de um estatuto privilegiado,
que depende de uma situação que se verifica muito raramente: é a situação na qual existem
direitos fundamentais que não estão em concorrência com outros direitos igualmente
fundamentais . É preciso partir da afirmação óbvia de que não se pode instituir um direito em
favor de uma categoria de pessoas sem suprimir um direito de outras categorias de pessoas. O
direito a não ser escravizado implica a eliminação do direito de possuir escravos, assim como o
direito de não ser torturado implica a eliminação do direito de torturar. Esses dois direitos podem
ser considerados absolutos, já que a ação que é considerada ilícita em sequência de sua
instituição e proteção ao direito de possuir escravos e o direito de torturar é universalmente
condenada ” (BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, p. 42).
l) Indivisibilidade e Interdependência;
Os direitos civis e políticos são indivisíveis em relação aos direitos econômicos, sociais e
culturais, sendo interdependentes entre si. A existência de 2 pactos internacionais de 1966 pode
dar a entender que seria possível a cisão de tais direitos, e que uns direitos não dependem dos
demais, mas é equívoco, pois de nada adianta ter direitos civis sem os econômicos, por
exemplo.
m) Não taxatividade;
Art. 5º. (...) § 2º. Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que
a República Federativa do Brasil seja parte.
71
“Tenho por fundamental, ainda, (...) o reconhecimento de que assiste, a todos, sem qualquer
exclusão, o direito à busca da felicidade, verdadeiro postulado constitucional implícito, que se
qualifica como expressão de uma idéia-força que deriva do princípio da essencial dignidade
da pessoa humana. (...)” (STF, RE 477554/MG, Rel. Min. Celso de Mello, 01/07/2011, DJe de
3.8.2011). Vide ainda: ADI 3.300 MC/DF, Rel. Min. Celso de Mello; STA 223 AgR/PE, Rel. p/ o
acórdão Min. Celso de Mello;
Artigo 2º. Item 1. Cada Estado Parte do presente Pacto compromete se a adotar medidas, tanto
por esforço próprio como pela assistência e cooperação internacionais, principalmente nos
planos econômico e técnico, até o máximo de seus recursos disponíveis, que visem a
assegurar, progressivamente, por todos os meios apropriados, o pleno exercício dos direitos
reconhecidos no presente Pacto, incluindo, em particular, a adoção de medidas legislativas.
Artigo 5º. Item 2. Não se admitirá qualquer restrição ou suspensão dos direitos humanos
fundamentais reconhecidos ou vigentes em qualquer país em virtude de leis, convenções,
regulamentos ou costumes, sob pretexto de que o presente Pacto não os reconheça ou os
reconheça em menor grau.
Este princípio poderia se enquadrar, dentro da classificação do prof. Jorge Miranda sobre as
limitações ao poder originário, este princípio pode se enquadrar em limitações substanciais,
especialmente nas transcendentes que dizem respeito aos valores éticos superiores, DH,
consciência jurídica coletiva e direitos conectados à dignidade do homem e limitações
heterônomas, que derivam do direito internacional, incluindo o jus cogens e tratados
internacionais de DH.
Atenção! Este princípio é, em geral, conectado aos direitos sociais, prestacionais, e o prof.
Canotilho, ao tratar deste princípio, o estuda em relação aos direitos sociais e econômicos. O
STF tem aplicado este princípio especialmente no que se refere a direitos sociais.
Segundo o prof, contudo, este princípio deve ter aplicação nos demais DF, não havendo
qualquer incompatibilidade quanto à sua aplicação aos direitos civis e políticos clássicos.
72
Vejamos:
Pacto de San José da Costa Rica, de 22/11/1969 (Convenção Americana de Direitos Humanos)
– Decreto Presidencial 678/1992:
Item 2. Nos países que não houverem abolido a pena de morte, esta só poderá ser imposta
pelos delitos mais graves, em cumprimento de sentença final de tribunal competente e em
conformidade com lei que estabeleça tal pena, promulgada antes de haver o delito sido
cometido. Tampouco se estenderá sua aplicação a delitos aos quais não se aplique atualmente .
Item 3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam abolido.
(...)
b. limitar o gozo e exercício de qualquer direito ou liberdade que possam ser reconhecidos de
acordo com as leis de qualquer dos Estados Partes ou de acordo com outra convenção em que
seja parte um dos referidos Estados.
Isto representa o princípio aplicado a outros direitos além dos direitos sociais.
CESPE - Opinião restritiva - vedação ao retrocesso aplicável somente aos direitos sociais;
o) Concorrência;
Os DF concorrem entre si, se autolimitam, podendo haver situação em que dois DF sejam
aplicados um concorrendo com o outro, devendo-se buscar cedência recíproca para que
um direito não aniquile o outro.
Autores como Gilmar Mendes, contudo, entendem a concorrência como algo que significa
que determinada situação ou conduta pode ser subsumida no âmbito de proteção de
diversos DF, que podem ser exercidos cumulativamente em um mesmo caso concreto.
p) Universalidade.
Tem premissas cujas raízes remontam à antiguidade, tendo sido impulsionada pelo
constitucionalismo norte-americano e francês.
A universalidade teve que ser reconstruída no pós II-GM após os retrocessos ocorridos na
Guerra, com esforço na reconstrução da ideia de universalidade, tendo como marco a
afirmação da dignidade da pessoa humana, que é a base da universalidade dos DH e DF.
- Planos da Universalidade
73
3) Plano Cultural; e
4) Plano da Vinculação.
Há, portanto, processo de universalização, ainda que seja forçada pelo jus cogens,
formada por normas cogentes no âmbito internacional, que ocorre de forma progressiva, e
não instantânea, o que faz com que alguns Estados reconheçam alguns direitos
fundamentais e outros não.
A universalidade não significa que todos os DF serão usufruídos por todas as pessoas de
forma indistinta, pois há alguns direitos fundamentais e humanos dirigidos para fruição
específica de determinados grupos de pessoas, mas serão universais na medida em que
todas as pessoas na mesma situação exercerão os mesmos direitos humanos e
fundamentais.
Desde o caso LUFF (1958) decidido pela corte federal constitucional da alemanha, a doutrina e
jurisprudência tem entendido que os DF existem em perspectiva objetiva, e não só em
perspectiva subjetiva, havendo dupla dimensão dos DF.
Corresponde ao modelo histórico dos DH e DF, que entende que esses direitos são
subjetivos dos indivíduos, exigíveis juridicamente, em especial do Estado. Significa que
os cidadãos possuem a faculdade de agir em face do Estado para dele exigir atuação ou
abstenção ligada à dignidade da pessoa humana. São direitos que podem ser judicializados,
exigidos judicialmente do Estado.
74
Atualmente, concebe-se direito subjetivo também em face de particulares (eficácia
horizontal dos direitos fundamentais);
Não exclui a subjetiva, mas se agrega àquela. Significa que os DF e DH são também valores
ou finalidades dirigidos ao poder público, com eficácia dirigente, e também aos
particulares, na visão de deveres fundamentais. Assim, são além de situações que podem
gerar direitos subjetivos, representam os valores mais importantes de determinada
sociedade, exigíveis do poder público e dos particulares.
O mais comum é que essas dimensões coexistam, mas é possível que a dimensão objetiva
exista e independentemente da subjetiva, ou seja, é possível que um valor seja
constitucionalizado como DF sem que esteja ligado a uma relação subjetiva de DF respectiva
pela qual possa ser exigida judicialmente prestação correspondente do Estado.
O Estado exige do particular determinadas obrigações - o direito à vida gera direitos subjetivos
em relação ao Estado e outras pessoas, mas gera, ainda, obrigações, pois é valor fundamental.
Nem todos reconhecem a incidência dos DF nas relações privadas. Dentre os que aceitam a
eficácia horizontal, há divergência quanto à aplicabilidade, pois alguns autores defendem que
os DF são aplicados indiretamente às relações privadas, através da lei. Para outros,
contudo, são aplicados imediatamente, desde logo, diretamente, sem necessidade de
interposição do legislador, a partir da própria Constituição.
75
1) Direitos fundamentais não se aplicam às relações privadas , sendo exigíveis apenas do
Estado;
Daniel Sarmento: “(...) é possível concluir que, mesmo sem entrar na discussão das teses
jurídicas sobre a forma de vinculação dos particulares aos direitos fundamentais, a
jurisprudência brasileira vem aplicando diretamente os direitos individuais consagrados
na Constituição na resolução de litígios privados.” (SARMENTO, Daniel. Direitos
Fundamentais e Relações Privadas. Rio de Janeiro: Lumen Iuris, 2004, p. 297).
STF:
No RE nº 161.243-DF (Rel. Min. Carlos Velloso, DJ de 19/12/1997), o Tribunal não admitiu que
a invocação do princípio da autonomia fosse argumento legítimo para discriminar nacionais de
estrangeiros no que concerne à percepção de benefícios constantes no estatuto pessoal de
determinada empresa, fazendo prevalecer a igualdade.
No RE nº 201.819/RJ (rel. p. o acórdão Min. Gilmar Mendes), o STF afirmou a aplicação direta
dos direitos fundamentais concernentes ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla
defesa (art. 5°, LIV e LV, da CF ) em processo de exclusão de um sócio de uma entidade
privada.
76
O capítulo I, do Título II, da CF/88 é denominado “dos direitos e deveres individuais e coletivos”,
reconhecendo-se esta ideia de forma implícita.
Arts. 205, 225 (traz, ainda, relação intergeracional de direitos fundamentais) e 227, todos da
CF/88 - demonstram a eficácia horizontal dos DH.
O sujeito está em situação passiva, de subordinação frente ao Estado, que tem deveres
frente ao Estado, que pode impor obrigações e proibições ao cidadão. Ex. Serviço militar
obrigatório.
Há esfera de liberdade do indivíduo na qual o Estado não pode interferir, que deve ser
respeitada pelo Estado, que são direitos de defesa frente ao Estado, podendo-se exigir do
Estado que não atue, que se abstenha de interferir na esfera de liberdade.
O indivíduo pode exigir do Estado determinada prestação, com direito a que o Estado
preste determinados serviços; Ex. Prestações relativas ao direito à saúde e educação.
Aula 7
77
1) Funções de Defesa (ou de liberdade);
2) Funções de Prestação;
Referem-se ao fato de que Direitos Fundamentais servem para que o Estado seja obrigado
a prestar serviços, a legislar, a atuar positivamente em prol do indivíduo , exigindo não
apenas atuação negativa, mas atuações positivas, materializadas em prestações materiais
e normativas, que muitas vezes devem ser traduzidas em políticas públicas. Encontram-se
vinculadas aos direitos à prestações, ao status positivo, na classificação de Jellinek, e à
segunda geração de Direitos Fundamentais.
O Estado tem posição de garantidor de não violação, por parte de terceiros, dos DF de
cada um. Esses direitos são exigíveis não só em relação de eficácia vertical, mas também de
eficácia horizontal, entre particulares, em que o Estado funciona como garantidor de que
esses direitos não sejam violados por particulares.
O prof. Canotilho em sua obra lembra que muitos direitos impõem ao Estado o dever de
proteção frente a terceiros, e o Estado é garantidor, não sendo garantia absoluta, mas sim
relativa.
78
A função contramajoritária do STF é ligada “ao relevantíssimo papel que compete a esta
Suprema Corte exercer no plano da jurisdição das liberdades: o de órgão investido do poder e
da responsabilidade institucional de proteger as minorias contra eventuais excessos da maioria
ou, ainda, contra omissões que, imputáveis aos grupos majoritários, tornem-se lesivas, em face
da inércia do Estado, aos direitos daqueles que sofrem os efeitos perversos do preconceito, da
discriminação e da exclusão jurídica” (...), como, por exemplo, “grupos minoritários expostos a
situações de vulnerabilidade jurídica, social, econômica ou política e que, por efeito de tal
condição, tornam-se objeto de intolerância, de perseguição, de discriminação e de injusta
exclusão”, a exemplo do que ocorre no caso das situações que envolvem uniões homoafetivas
(RE 4 77554/MG, Rel. Min. Celso de Mello, 01/07/2011).
1. Quanto ao conteúdo
São aqueles que têm conteúdo próprio de Direito Fundamental, cujo conteúdo está ligado
à dignidade da pessoa humana.
Contudo, desde Sampaio Doria, essa divisão é contestada, pois declarar por escrito na CF um
direito, constitucionalizando-o é algo que em si mesmo significa uma garantia, mas pode
haver direito à utilização de garantia previsto na CF, e seriam categorias fluidas que não
poderiam ser categorizadas separadamente;
79
4. Gerações de Direitos Fundamentais:
Segundo muitos autores, a Constituição Francesa de 1848, apontou na direção do que viria
a ser o Estado de bem estar social, como precursora deste movimento.
80
Karel Vasak: Texto publicado em 1977; e Palestra “Pelos Direitos Humanos da Terceira
Geração: os Direitos de Solidariedade” (Instituto Internacional dos Direitos do Homem, em
Estrasburgo, 1979).
1ª Geração - Liberdade;
2ª Geração - Igualdade; e
3ª Geração - Fraternidade.
a) Direito à democracia, direito à informação e direito ao pluralismo, que são direitos decorrentes
da globalização política (Paulo Bonavides);
c) Direitos referentes aos “efeitos cada vez mais traumáticos da pesquisa biológica, que
permitirá manipulações do patrimônio genético de cada indivíduo” (Norberto Bobbio); e
Os direitos intergeracionais são direitos entre as gerações, em que uma geração tem
direitos em relação a outra. Ex. Uma geração futura tem direitos em relação à geração
presente.
“Art. 225, CF/88. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”
a) Para Paulo Bonavides é caracterizada pelo direito à paz mundial (migrou da 3ª para a 5ª)
81
b) para outros autores, seria referente a direitos ligados à internet, ao seu acesso, etc;
Fala-se, ainda, sobre outras gerações de direitos, também alvo de divergências, categorizados
como direito à genética, à água potável, à bioética, direitos dos animais, da natureza, e,
ainda, em direito ao patrimônio da humanidade.
1) Bens Culturais
a) Materiais; e
Ex. Ouro preto, centro histórico de olinda e salvador, brasília, missões jesuítas, etc.
2) Bens Naturais
Direitos dos animais não humanos - não seria geração de DH, nem se fala em proteção de
direitos dos animais em visão antropocêntrica, mas sim em direito novo. Alguns autores
defendem que os animais podem ser vistos como sujeitos de direito. Vejamos:
CF/88:
“Art. 225. (...) § 1º Para assegurar a efetividade desse direito [ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado], incumbe ao Poder Público: (…) VII- proteger a fauna e a flora,
vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica,
provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.”
Este dispositivo daria ensejo a direito aos animais de não serem submetidos à crueldade.
REXT 153531/97, ADIN 2514, 1856, 4983 (o ministro Barroso distingue 2 correntes, uma que
fala em bem estar dos animais e outra em direitos dos animais, mas o STF entende que o
direito previsto no art. 225, § 1º, VII é direito humano de 3ª geração e não direitos dos
animais - ver julgado abaixo) e 494601/2019.
“(...)
Para alguns autores, pode-se, atualmente, falar não só em direitos dos animais, mas em
direitos da própria natureza, que, em si, poderia ser considerada sujeito de direitos, não
sendo nova geração de Direitos Humanos em visão antropocêntrica, mas sim
ecocêntrica.
82
“Art. 71. La naturaleza o Pacha Mama, donde se reproduce y realiza la vida, tiene derecho a que
se respete integralmente su existencia y el mantenimiento y regeneración de sus ciclos vitales,
estructura, funciones y procesos evolutivos. Toda persona, comunidad, pueblo o nacionalidad
podrá exigir a la autoridad pública el cumplimiento de los derechos de la naturaleza.
Art. 72.
A ampla violação de direitos fundamentais pode dar ensejo ao que se tem chamado de
configuração de um estado de coisas inconstitucional.
3) Transgressões que exigem a atuação não apenas de um órgão, mas sim de uma
pluralidade de autoridades.
Nem tudo é DF e nem tudo está abrangido por um DF, protegido por DF, sendo importante
delimitar qual o âmbito de proteção de um DF, e só então pode-se dizer que determinado DF
foi limitado ou restringido.
- Há diferença entre:
83
2) Pelo Legislador ordinário, por delegação do constituinte (atividade de “conformação”, ou
de “regulação”).
1) Teoria interna: os limites aos direitos fundamentais são “imanentes” aos mesmos, ou
seja, os direitos fundamentais já nascem com essas limitações, são limites “desde
sempre” ou “desde dentro”; e
Art. 136. (...) § 1º O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua
duração, especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e limites da lei, as
medidas coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes: I- restrições aos direitos de : a) reunião,
ainda que exercida no seio das associações; b) sigilo de correspondência; c) sigilo de
comunicação telegráfica e telefônica; (…)
Art. 138. O decreto do estado de sítio indicará sua duração, as normas necessárias a sua
execução e as garantias constitucionais que ficarão suspensas, e, depois de publicado, o
Presidente da República designará o executor das medidas específicas e as áreas abrangidas.
84
- A Constituição prevê a restrição de forma expressa e direta:
Art. 5º, XV: “é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz (…)”; e
Art. 5º, XVI: “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público,
independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente
convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente.”
Há exigência de que eventual restrição ocorra por lei, sem exigência sobre conteúdo ou
finalidade da lei, com ampla liberdade concedida ao legislador ordinário quanto à edição
da norma.
Gilmar Mendes diz que essa atividade legislativa restritiva está implicitamente autorizada
pela CF com base na cláusula da reserva legal subsidiária representada pelo princípio da
legalidade - art. 5º, II, CF - quando a própria norma de direito fundamental não autoriza que o
legislador limite o DF, subsidiariamente, aplica-se a cláusula de reserva legal subsidiária, e
essa norma traria autorização implícita para que o legislador restrinja direitos
fundamentais mesmo quando sua norma definidora não traga autorização expressa para
que a lei restrinja aquele Direito Fundamental.
# Robert Alexy:
85
1) Restrições diretamente constitucionais:
-Explícitas; e
-Implícitas.
# Canotilho:
Alguns autores como Vieira de Andrade dizem que o núcleo essencial último de todos os
Direitos Fundamentais é a dignidade da pessoa humana como ser livre, que deve ser vista
como princípio geral do direito, sendo limite absoluto ao legislador ordinário.
A doutrina debate e afirma que cada direito fundamental tem seu próprio núcleo essencial,
que funciona como limite às possibilidades de restrição ao direito fundamental pelo
legislador ordinário, que não poderia esvaziar o núcleo essencial do direito fundamental
específico.
1) Teoria absoluta: cada direito fundamental possui um núcleo essencial, o qual pode
ser abstratamente determinado e, além disso, é intangível, absoluto, pois no
86
mesmo não é possível intervir em hipótese alguma” (Alexy); e - é possível
determinar em abstrato o núcleo essencial de cada Direito Fundamental;
2) Teoria relativa: o núcleo essencial de cada Direito Fundamental não pode ser
determinado abstratamente, pois “é aquilo que resta após o sopesamento [a
ponderação]”, sendo portanto relativo. É determinado caso a caso, após a
ponderação com outros direitos fundamentais. Nesse caso, “A garantia do
conteúdo essencial é reduzida à máxima da proporcionalidade” (Alexy) - não é
possível determinar abstratamente o núcleo essencial de cada direito
fundamental, o que seria possível tão somente após o sopesamento/ponderação
deste Direito Fundamental com outros;
A CF/88 não traz disposição expressa sobre a adoção da teoria absoluta ou relativa, mas o
destaque que a jurisprudência traz à ponderação sugere a preferência pela teoria relativa.
O princípio de proteção do núcleo essencial dos direitos fundamentais pode vir em norma
expressa da CF ou pode ser postulado constitucional implícito, como é o caso da
proporcionalidade. Na CF, este princípio não é trazido explicitamente. A CF/88, contudo,
vedou expressamente qualquer proposta de EC tendente a abolir direitos fundamentais,
proibindo o poder de reforma que restrinja direitos e garantias fundamentais - art. 60, CF.
Assim, esta proibição se aplica à legislação ordinária, pois se o núcleo essencial está protegido
pelo poder de reforma, estará ao Poder Legislativo, ao legislador ordinário.
STF já se posicionou no sentido de que o legislador ordinário deve balizar sua atuação,
devendo respeitar a proporcionalidade e a razoabilidade. Vejamos:
“No âmbito do modelo de reserva legal qualificada presente na formulação do art. 5º, XIII, da
Constituição de 1988, paira uma imanente questão constitucional quanto à razoabilidade e
proporcionalidade das leis restritivas, especificamente das leis que disciplinam as qualificações
profissionais como condicionantes do livre exercício das profissões. (...) A reserva legal
estabelecida pelo art. 5º, XIII, não confere ao legislador o poder de restringir o exercício da
liberdade profissional a ponto de atingir o seu próprio núcleo essencial.” (RE 511961, Rel. Min
Gilmar Mendes, 17/06/2009). Vide ainda: ADI 3540 MC.
d) produzir normas claras e genéricas, sendo vedadas restrições casuísticas que violam a
igualdade.
1) Justificar o ilícito;
87
O que são relações especiais de sujeição?
Todas as pessoas estão sujeitas ao poder do Estado, é o status passivo de Jellinek, embora
este não seja absoluto, há autoridade em relação às pessoas, ainda que esta autoridade
seja limitada, há sujeição das pessoas ao Estado. O Estado exerce o poder sujeitando as
pessoas de diversas formas: legisla, obrigando a todos, julga lides, adota medidas de poder de
polícia, etc, o que atinge todas as pessoas. Existe relação geral de sujeição das pessoas ao
Estado.
Além dessa relação geral de sujeição, há situações nas quais algumas pessoas encontram-
se sujeitas ao poder do Estado de forma especial, quando os particulares mantém
relações com o Estado nas esferas mais íntimas da Administração Pública, no âmbito
interno dos órgãos e instâncias administrativas, como na condição de alunos em escolas
públicas, servidores trabalhando no interior da administração, situação de presos
inseridos no sistema carcerário, etc, havendo relações especiais de sujeição, que podem
ser voluntárias - decorrem da vontade - ou involuntárias - independentemente da vontade
do particular.
Durante algum tempo, especialmente na Alemanha, o entendimento era de que, no âmbito das
relações especiais de sujeição, não haveria verdadeiras relações jurídicas, e a lei, editada pelo
Poder Legislativo, não poderia interferir no âmbito interno da Administração, e seria imperativa a
autonomia administrativa plena, não incidindo o princípio da legalidade, sem controle judicial
dos atos praticados, sendo espaço livre de direito, submetido à vontade única do Estado, sendo
regido por direito de organização ditado pelo administrador, o que foi afastado pela
consolidação do Estado Democrático de Direito, e da expansão e consolidação dos
direitos fundamentais, e o marco de afastamento dessa concepção se deu quando o tribunal
constitucional alemão decidiu, em caso de violação de correspondência de preso, que as
violações de direitos fundamentais, mesmo ocorridas no âmbito interno da administração
só podem ser realizadas com base na lei, e não com base somente em norma
administrativa sem embasamento legal.
Lei nº 7.210/1984:
Art. 41
(...)
XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros
meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes. (...)
Essas restrições devem ser proporcionais e razoáveis, com ônus de fundamentação mais
severo, e os limites dos limites devem ser mais severos, pois é mais factível que o Estado
pratique abusos nas relações especiais de sujeição que no âmbito das relações gerais de
sujeição.
88
# COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS
Os direitos fundamentais não são absolutos e podem sofrer restrições, que podem ser
impostas por outros direitos fundamentais, em caso de colisão entre direitos
fundamentais, e ocorrerá, então, a imposição de restrições recíprocas.
Art. 5º, V: “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por
dano material, moral ou à imagem”;
Art. 5º, X: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
A proporcionalidade pode ser vista como princípio, regra ou critério de solução de conflitos
de direitos fundamentais.
A ideia básica da proporcionalidade é de que o poder público deve agir com adequação e de
forma proporcional aos objetivos a serem alcançados, e que também assim deve ocorrer
nas relações entre particulares que envolvem Direitos Fundamentais, devendo haver
adequação entre os fins perseguidos e os meios utilizados para a obtenção de
finalidades.
“(...) O Tribunal deve sempre levar em conta que a Constituição confere ao legislador amplas
margens de ação para eleger os bens jurídicos penais e avaliar as medidas adequadas e
necessárias para a efetiva proteção desses bens. Porém, uma vez que se ateste que as
medidas legislativas adotadas transbordam os limites impostos pela Constituição o que poderá
ser verificado com base no princípio da proporcionalidade como proibição de excesso
(Übermassverbot) e como proibição de proteção deficiente (Untermassverbot) ––, deverá o
Tribunal exercer um rígido controle sobre a atividade legislativa, declarando a
89
inconstitucionalidade de leis penais transgressoras de princípios constitucionais” (STF, HC
104410/RS, R el. Min. Gilmar Mendes, j. em 06/03/2012)
Uma lei pode ser inconstitucional por violar o princípio da proporcionalidade por haver
excesso ou por haver proteção deficiente, e a atuação do Estado deve ser, portanto,
adequada, sem excessos e deficiente, sob pena de inconstitucionalidade.
ADI 4066 e ADI 3937, j. em 24/08/2017; ADI 3407 e ADI 3470, j. em 29/11/2017 (vedação à
utilização ao amianto - prejudicial à saúde);
90
menor ingerência possível na esfera dos direitos fundamentais do cidadão. ” (Daniel
Sarmento, op. cit., p. 88);
1) Na Lei 9.472/97, art. 179, § 1°: “Na aplicação de multa [por infração à legislação dos serviços
de telecomunicação serão considerados a condição econômica do infrator e o princípio da
proporcionalidade entre a gravidade da falta e a intensidade da sanção”;
2) Na Lei 9.784/99, art. 2°: “A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.”
Aula 8
# DIREITOS FUNDAMENTAIS NA CF
91
Art. 5º, CF/88 Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)
O dispositivo afirma que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, e
poderia-se imaginar, a princípio, que todos os brasileiros usufruem todos os direitos igualmente,
mas a igualdade não é medida desta forma.
A igualdade deve ser aferida assim: todos que se encontram em uma mesma situação
usufruem os mesmos direitos. Assim, é possível identificar grupos distintos de brasileiros e
direitos que são dirigidos apenas a brasileiros que se enquadram em determinada situação,
razão pela qual há Direitos Fundamentais dirigidos a grupos específicos de brasileiros e
Direitos Fundamentais titularizados por todos.
Em relação aos Direitos Fundamentais dirigidos a apenas parte dos brasileiros, pode-se indicar
a distinção entre brasileiros natos e naturalizados.
# Art. 5°, LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime
comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;
O brasileiro naturalizado poderá ser extraditado nas hipóteses de crime comum praticado
antes da naturalização ou em caso de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de
entorpecentes, e o brasileiro nato não poderá ser extraditado.
92
V - da carreira diplomática;
VII - de Ministro de Estado da Defesa (Incluído pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999).
Art. 103-B. (...) § 1º. O Conselho [Nacional de Justiça] será presidido pelo Presidente do
Supremo Tribunal Federal e, nas suas ausências e impedimentos, pelo Vice-Presidente do
Supremo Tribunal Federal. (Redação da EC 61/2009)
Art. 119. O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á, no mínimo, de sete membros, escolhidos:
Parágrafo único. O Tribunal Superior Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-Presidente dentre
os Ministros do Supremo Tribunal Federal (...).
Art. 5°, LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular
ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo
comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;
Cidadão é o brasileiro no gozo dos direitos políticos, e somente este poderá propor ação
popular. Qualquer brasileiro que esteja privado dos seus direitos políticos não poderá ajuizar
ação popular.
93
Art. 5°. (...) I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição; (...)
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus
filhos durante o período de amamentação;
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de
sua condição social: (...)
STF: “2. O princípio da igualdade não é absoluto, sendo mister a verificação da correlação
lógica entre a situação de discriminação apresentada e a razão do tratamento desigual. 3.
A Constituição Federal de 1988 utilizou-se de alguns critérios para um tratamento
diferenciado entre homens e mulheres: i) em primeiro lugar, levou em consideração a
histórica exclusão da mulher do mercado regular de trabalho e impôs ao Estado a
obrigação de implantar políticas públicas, administrativas e/ou legislativas de natureza
protetora no âmbito do direito do trabalho; ii) considerou existir um componente orgânico a
justificar o tratamento diferenciado, em virtude da menor resistência física da mulher; e iii)
observou um componente social, pelo fato de ser comum o acúmulo pela mulher de atividades
no lar e no ambiente de trabalho – o que é uma realidade e, portanto, deve ser levado em
consideração na interpretação da norma. 4. Esses parâmetros constitucionais são
legitimadores de um tratamento diferenciado desde que esse sirva, como na hipótese,
para ampliar os direitos fundamentais sociais e que se observe a proporcionalidade na
compensação das diferenças. (...)” (RE 658312, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Pleno, j. em
27/11/2014).
Art. 5°, LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos;
b) a certidão de óbito.
Há direito fundamental não usufruído por nenhum brasileiro, mas somente por
estrangeiros.
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- Art. 5°, LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de
opinião;
STF:
Art. 203, V, CF - benefício assistencial devido a idosos ou pessoas com deficiência, em ambos
os casos quando haja situação de miserabilidade, caracterizada por renda per capita
familiar inferior a ¼ do SM, beneficia brasileiros natos, naturalizados e estrangeiros residentes
no país.
Nem todos os direitos fundamentais garantidos aos cidadãos brasileiros podem ser usufruídos
pelos estrangeiros residentes no brasil. Ex. Estrangeiros não usufruem direitos políticos como os
brasileiros, assim como os direitos relativos à propositura de ação popular, direitos exclusivos
dos brasileiros, que não serão usufruídos por estrangeiros residentes no país.
Ao contrário do que ocorre com as distinções entre brasileiros natos e naturalizados, a lei
comum pode estabelecer distinções jurídicas entre estrangeiros residentes no país e
brasileiros, desde que a lei respeite o princípio geral da igualdade, seja proporcional,
razoável, e desde que a discriminação tenha fundamento constitucional relevante.
STF: “A Constituição de 1988 não estabeleceu qualquer regra jurídica que interdite a distinção
entre brasileiro e estrangeiro, ao contrário do que acontece com a situação do brasileiro nato e
do naturalizado, para a qual há explícita reserva constitucional acerca das hipóteses de
tratamento diferenciado (CRFB, art. 12, §2º). Destarte, é juridicamente possível ao legislador
ordinário fixar regimes distintos, desde que, em respeito ao princípio geral da igualdade
(CRFB, art. 5º, caput), revele fundamento constitucional suficiente para a discriminação,
bem como demonstre a pertinência entre o tratamento diferenciado e a causa jurídica
distintiva.” (STF, ADIs 4679, 4747, 4756 e 4923, Rel. Luiz Fux, Pleno, j. em 08/11/2017)
A lei não pode diferenciar brasileiros natos e naturalizados, mas pode criar distinções
entre brasileiros e estrangeiros.
95
Há na doutrina quem diga que os estrangeiros não residentes não usufruem os direitos
constitucionais do art. 5º, por não estarem incluídos expressamente no caput. José Afonso da
Silva, dentre outros, entende que somente os estrangeiros residentes no país usufruem
dos direitos subjetivos relativos aos enunciados constitucionais dos direitos e garantias
fundamentais, e os não residentes teriam proteção jurídica, mas não do art. 5º da CF, e
sim de outras normas jurídicas do direito internacional e direito interno
infraconstitucional. Essa posição não é majoritária, pois a doutrina majoritária e jurisprudência
do STF entendem que a interpretação do caput do art. 5º da CF não deve ser literal,
devendo se dar no sentido de que os estrangeiros não residentes no país também podem
usufruir direitos previstos no art. 5º da CF.
O estrangeiro não residente no país pode exercer Direitos Fundamentais previstos no art.
5º, da CF. É evidente que o estrangeiro não residente no país pode não usufruir de todos
os direitos usufruídos por estrangeiros residentes no país, como o benefício de assistência
social supracitado.
Art. 5°, XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer
pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
ATENÇÃO! O crime político previsto no art. 5º, inciso LII, não é o mesmo mencionado no art.
109, IV, da CF.
Art. 5°, LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião;
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (…) IV - os crimes políticos e as
infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas
entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a
competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
A) O crime político previsto no art. 5º, inciso LII, da CF, é aquele definido como crime no
exterior, cuja prática eventual dos atos viola legislação estrangeira, tendo motivação de
96
natureza política. Assim, é crime definido como crime no exterior, e a violação é violação à
lei estrangeira.
B) Art. 109 - Trata-se de crimes definidos no Brasil como crimes políticos, de motivação
política. Embora exista discussão sobre a recepção integral ou não pela CF/88, os crimes
políticos, de competência da JF, são aqueles previstos na Lei de Segurança Nacional.
- Qual seria a distinção entre o crime político em que não é possível a extradição do estrangeiro
e o crime de terrorismo, repudiado pela CF?
- No crime político:
Art. 2º. O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste
artigo [no § 1º], por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e
religião, quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado,
expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública.
# Terrorismo:
Art. 4º. A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos
seguintes princípios: (...) VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
Art. 5º. (...) XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia
a prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos
como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo
evitá-los, se omitirem;
# Crime político:
Art. 4º. A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos
seguintes princípios: (...) X - concessão de asilo político (em caso de crimes políticos);
Art. 5º. (...) LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião;
Extradição 615, 794, 853, 994, 855, dentre outras, do STF, para estudar melhor o tema.
O terrorismo deve ser ato grave, perigoso para a sociedade como um todo, com
repercussão internacional, não sendo possível dizer que qualquer ato será considerado
terrorismo.
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Ao adotar perspectiva puramente material para os direitos fundamentais, a resposta tende
a ser negativa, pois a perspectiva material diz que os direitos fundamentais são aqueles
necessários à concretização da dignidade da pessoa humana. Assim, ao se adotar este
critério de forma absoluta, as PJ não poderiam usufruir DF por não possuírem o atributo da
dignidade da pessoa humana.
José Afonso da Silva afirma que as PJ brasileiras podem usufruir de diversos direitos do art. 5º,
da CF, apresentando lista exemplificativa que inclui a legalidade, isonomia, direito de resposta,
sigilo de correspondência, inviolabilidade de domicílio, dentre outros.
Art. 5°, XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua
utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes
de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o
desenvolvimento tecnológico e econômico do País;
Nem todos os DF podem ser usufruídos por PJ de Direito Privado, como o direito à vida, o
direito a ajuizar ação popular, dentre outros titularizados por pessoas físicas, em razão da
incompatibilidade biopsicológica.
STF: “Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular” (Súmula 365 do
STF)
A concepção clássica dos Direitos Fundamentais afasta essa ideia, pois são direitos do
homem, do cidadão, exercidos em face do Estado, sendo direitos exercidos contra o
Estado, e não pelo Estado.
Adotando-se concepção formal dos Direitos Fundamentais, definidos como aqueles que
estão formalmente inseridos na CF, com essa natureza, a doutrina majoritária e a
jurisprudência admitem que PJ de Direito Público podem usufruir alguns direitos
previstos no art. 5º, especialmente os procedimentais.
- Exemplos de direitos que podem ser usufruídos por pessoas jurídicas, inclusive de
direito público:
Art. 5°. (...) II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude
de lei;
Art. 5°. (...) XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito;
Art. 5°. (...) XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa
julgada;
Art. 5°. (...) LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;
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Art. 5°. (...) LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal;
Art. 5°. (...) LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral
são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; e
Art. 5°. (...) LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo,
não amparado por “habeas-corpus” ou “habeas-data”, quando o responsável pela ilegalidade ou
abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições
do Poder Público; (Vide: STF, RMS 22021, j. em 18/04/1995).
Alguns autores apontam que a dimensão objetiva dos DF auxilia a justificativa de que PJ de
Direito Público podem titularizar alguns direitos fundamentais, especialmente os de
cunho procedimental. A jurisprudência do STF se manifestou sobre o tema:
- Nem todos os direitos fundamentais podem ser exercidos por PJ de Direito Público.
Ademais, pode haver restrições específicas à fruição de determinados Direitos
Fundamentais em determinadas situações. Vejamos:
Assim, o ente estatal que edita a lei não pode invocar a irretroatividade da lei por ele editada.
Ademais, é preciso ter cuidado com o reconhecimento de que PJ de Direito Público podem
usufruir de DF. Quando esses direitos são exercidos por PJ de Direito Público em face de outra
PJ também de Direito Público, a questão fica menos difícil, pois de qualquer forma, trata-se do
exercício de DF contra o Estado, ainda que exercido por uma PJ de Direito Público.
99
modo geral, a doutrina e jurisprudência nacionais só têm reconhecido às pessoas jurídicas de
direito público direitos fundamentais de caráter processual ou relacionados à proteção
constitucional da autonomia, prerrogativas ou competência de entidades e órgãos públicos, ou
seja, direitos oponíveis ao próprio Estado e não ao particular. Porém, ao que se pôde
pesquisar, em se tratando de direitos fundamentais de natureza material pretensamente
oponíveis contra particulares, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal nunca
referendou a tese de titularização por pessoa jurídica de direito público. Na verdade, há
julgados que sugerem exatamente o contrário, como os que deram origem à Súmula n. 654,
assim redigida: ‘A garantia da irretroatividade da lei, prevista no art. 5º, XXXVI, da Constituição
da República, não é invocável pela entidade estatal que a tenha editado’. 4. Assim, o
reconhecimento de direitos fundamentais - ou faculdades análogas a eles - a pessoas
jurídicas de direito público não pode jamais conduzir à subversão da própria essência
desses direitos, que é o feixe de faculdades e garantias exercitáveis principalmente
contra o Estado, sob pena de confusão ou de paradoxo consistente em se ter, na mesma
pessoa, idêntica posição jurídica de titular ativo e passivo, de credor e, a um só tempo, devedor
de direitos fundamentais, incongruência essa já identificada pela jurisprudência do Tribunal
Constitucional Alemão (...). 5. No caso em exame, o reconhecimento da possibilidade teórica de
o município pleitear indenização por dano moral contra o particular constitui a completa
subversão da essência dos direitos fundamentais (...).” (RESP 1258389, Rel. Min. Luís Felipe
Salomão, 4ª Turma, j. em 17/12/2013).
STJ:
“O acórdão recorrido está em sintonia com o atual entendimento do STJ, consoante o qual é
impossível à pessoa jurídica de Direito Público (Administração Pública direta, autarquias,
fundações públicas), de índole não comercial ou lucrativa, ser vítima de dano moral por
ofensa de particular, já que constituiria subversão da ordem natural dos direitos
fundamentais.” (REsp 1505923/PR, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, j. em
21/05/2015, DJe 19/04/2017).
Assim, nem todos os Direitos Fundamentais podem ser usufruídos por PJ de Direito Público,
situação nebulosa quando a PJ de Direito Público pretende exercer DF em face do particular.
Em relação a direitos procedimentais não há muito problema, mas em relação a direitos
materiais, o STJ afirma que não podem ser exercidos pelo Estado em face de particulares,
a princípio, mas a doutrina admite em algumas situações que alguns direitos materiais
podem ser exercidos por PJ de Direito Público, como o caso do direito à propriedade.
§ 1º. As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.
Os Direitos Fundamentais, como regra geral, devem ter a máxima aplicabilidade possível.
A aplicação imediata das normas definidoras de direitos e garantias fundamentais significa que
esses direitos e garantias previstos nessas normas podem ser judicialmente exigidos
desde logo, independentemente de se tratar de norma de aplicabilidade imediata ou não.
Aplicação imediata está vinculada à possibilidade de os DF serem judicialmente exigidos desde
logo, independentemente de a sua aplicabilidade ser mediata ou imediata.
100
mediata, em que é necessária a atuação do legislador para concretizar o conteúdo da
norma constitucional.
Como regra, todos os direitos e garantias fundamentais terão aplicabilidade imediata, de eficácia
plena ou contida, não necessitando de intermediação legislativa para que o seu conteúdo seja
concretizado.
- Há incisos do art. 5º que mencionam a necessidade de lei ordinária, o que não significa que se
esteja diante de norma programática, mas apenas de uma norma de eficácia contida, de
aplicabilidade imediata.
Ex.
Art. 5º. (...) XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as
qualificações profissionais que a lei estabelecer;
Art. 5º. (...) LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo
nas hipóteses previstas em lei.
Assim, a menção a lei não significa que seja norma programática, de aplicabilidade mediata,
podendo estar referida em dispositivo constitucional de eficácia contida, ou seja, que não
precisa dela para se concretizar, mas que admite que a lei faça restrição ao seu conteúdo. É
o caso dos supracitados dispositivos, que possuem aplicação e aplicabilidade imediata,
podendo existir as leis ordinárias, mas não são necessárias para a concretização do
conteúdo do direito fundamental, podendo restringir o alcance do seu conteúdo.
- Por outro lado, muitas vezes encontra-se menção a uma lei em dispositivo que aparentemente
não tem aplicabilidade imediata, podendo-se buscar a aplicabilidade imediata. Vejamos:
Art. 5º. (...) XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;
Art. 5º. (...) XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades
fundamentais;
Neste caso, pode-se entender que se tratam de normas de aplicabilidade mediata, ou seja,
que a lei é necessária para a concretização dos direitos fundamentais, mas pode-se, em
exercício de hermenêutica, buscar aplicabilidade imediata, independentemente da lei,
podendo-se extrair do inciso XXXII, o princípio do in dubio pro consumidor, aplicável
desde logo, independentemente da lei. No inciso XLI, é possível extrair-se princípio in
dubio pro Direitos Fundamentais, imediatamente aplicável, independentemente da lei,
ainda que o dispositivo possa conduzir a norma programática, de aplicabilidade mediata,
pensando-se em promoção efetiva da defesa do consumidor por parte do Estado em
forma de lei específica, bem como em lei que sancionará todas as discriminações
atentatórias aos direitos e liberdades fundamentais.
101
Art. 5º. (...) XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada
pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua
atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;
Não é possível a proteção da pequena propriedade rural sem uma lei que concretize o seu
conteúdo.
Art. 5º. (...) XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para
sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos
nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o
desenvolvimento tecnológico e econômico do País;
Art. 5º. (...) XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena
de reclusão, nos termos da lei;
Art. 5º. (...) XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a
prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos
como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo
evitá-los, se omitirem;
Em todos esses casos, há exceção à aplicabilidade imediata, que é regra, sendo hipóteses de
normas de aplicabilidade mediata, que necessitam de leis ordinárias para a concretização
de seu conteúdo, o que é comum, também, no âmbito dos direitos sociais, assim, as
normas são de eficácia limitada e aplicabilidade mediata ou indireta.
Assim, pode-se concluir que o art. 5º, § 1º, da CF, ao definir a aplicação imediata, desde logo,
estatui ainda, presunção relativa de aplicabilidade imediata e plena eficácia para as
normas definidoras de direitos e garantias fundamentais, admitindo-se excepcionalmente
a aplicabilidade mediata - José Afonso da Silva, Ingo Wolfgang Sarlet.
Os poderes públicos devem extrair a maior eficácia possível das normas de direitos
fundamentais, as quais só podem ser entendidas como programáticas
fundamentadamente e em hipóteses extremas, dando-se prevalência à sua máxima
efetividade.
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- Quando a norma de direito ou garantia fundamental for de aplicabilidade mediata, não
autoaplicável e programática, podem ocorrer duas situações:
A) A lei já foi editada, e o legislador já atuou, não havendo omissão legislativa, e nesse caso, o
direito será líquido e certo e a aplicação imediata mencionada no § 1º do art. 5º se revela pela
possibilidade de o interessado ajuizar as ações competentes, inclusive o MS.
B) A norma é de aplicabilidade mediata, não autoaplicável, e o legislador ainda não atuou, havendo
omissão legislativa. Neste caso, não há direito líquido e certo.
- Assim, como se pode dizer que a norma possui aplicação imediata, nos termos do
art. 5º, § 1º?
STF:
“Impenhorabilidade da pequena propriedade rural de exploração familiar (CF, art. 5º, XXVI):
aplicação imediata. (...) A falta de lei anterior ou posterior necessária à aplicabilidade de regra
constitucional - sobretudo quando criadora de direito ou garantia fundamental -, pode ser
suprida por analogia: donde, a validade da utilização, para viabilizar a aplicação do art. 5º, XXVI,
CF, do conceito de ‘propriedade familiar’ do Estatuto da Terra.” (STF, RE 136.753, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, j. em 13.02/1997)
Ex. Art. 5º. (...) XXXII: O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor.
Não se trata de entender lei dessa natureza como norma constitucional interposta, o que não é
admitido pelo STF, mas se reconhece que determinados efeitos do dispositivo constitucional que
excepcionalmente cria norma de direito fundamental programática, combinado com o art. 5º, §
1º, da CF, impede o vazio legislativo, a revogação, e um dos efeitos reconhecidos pela
doutrina em relação às normas programáticas é a eficácia impeditiva do retrocesso
social, não sendo possível retroceder socialmente, algo que se aplica especialmente aos
direitos sociais, aplicável também aos direitos fundamentais em geral. É possível a
substituição das normas, mas não o retorno ao vazio legislativo.
103
O descumprimento total do dever de legislar pode caracterizar inconstitucionalidade por
omissão total, ou o seu cumprimento parcial, de forma insuficiente, pode caracterizar
inconstitucionalidade por omissão parcial, ou violação à proporcionalidade, que tem
duplo aspecto, podendo ser violada pelo excesso, mas também pela proteção insuficiente
do ser humano no que se refere a um direito fundamental.
A reserva do possível não pode ser utilizada como desculpa para nada ser realizado, pois dizer
que o Estado não precisa prestar nada em nome da reserva do possível seria fraude aos direitos
fundamentais prestacionais. Ademais, não cabe sua aplicação quando esta tese implicar
negativa de vigência ao núcleo essencial de um direito fundamental . Além disso, ainda que
se aceite a tese da reserva do possível, deve ser assegurado a todos o mínimo
existencial.
104
É o núcleo material mínimo da dignidade da pessoa humana, é o necessário para a
sobrevivência e exercício da liberdade, pois sem o mínimo existencial, ainda que a
pessoa sobreviva, não terá dignidade, pois não terá a possibilidade de exercer sua
liberdade ou autonomia mínima como seres humanos, e na filosofia de Kant, o que difere
as pessoas das coisas, é que as pessoas têm dignidade, autonomia, são um fim em si
mesmo.
- O mínimo existencial existe na CF, e pode ser extraído de diversos dispositivos legais, como:
- Proteção da dignidade da pessoa humana (Art. 1º, III, CF) - fundamento do Estado
Democrático de Direito;
- Previsão dos objetivos fundamentais da República, previstos no art. 3º, da CF,
intimamente ligados ao mínimo existencial;
- Previsão do SM, no art. 7º, IV, da CF, fixado em lei nacionalmente unificado deve ser
capaz de atender às necessidades básicas do trabalhador e de sua família, com
reajustes periódicos que garantam sua subsistência;
STF:
“Não se mostrará lícito, no entanto, ao Poder Público, em tal hipótese - mediante indevida
manipulação de sua atividade financeira e/ou político-administrativa - criar obstáculo artificial
que revele o ilegítimo, arbitrário e censurável propósito de fraudar, de frustrar e de inviabilizar o
estabelecimento e a preservação, em favor da pessoa e dos cidadãos, de condições materiais
mínimas de existência. (...) Cumpre advertir, desse modo, que a cláusula da ‘reserva do
possível’ - ressalvada a ocorrência de justo motivo objetivamente aferível - não pode ser
invocada, pelo Estado, com a finalidade de exonerar-se do cumprimento de suas
obrigações constitucionais, notadamente quando, dessa conduta governamental
negativa, puder resultar nulificação ou, até mesmo, aniquilação de direitos
constitucionais impregnados de um sentido de essencial fundamentalidade. (...)” (ADPF
45 MC, Rel. Min. Celso de Mello, decisão monocrática de 29/04/2004).
O mínimo existencial deve, portanto, ser protegido da tese da reserva do possível, que
não pode tentar justificar o retrocesso de direitos fundamentais, e diversos autores
reconhecem a eficácia impeditiva do retrocesso social, que dá origem ao princípio da
proibição do retrocesso como um dos efeitos naturais das normas constitucionais e
programáticas.
105
Em suma, a reserva do possível não pode justificar a omissão total das prestações relativas
aos direitos sociais, devendo ser assegurado o mínimo existencial, não podendo justificar
o retrocesso social e nem atingir o núcleo essencial dos direitos prestacionais.
- STF:
Art. 5º. (...) § 2º. Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em
que a República Federativa do Brasil seja parte.
Assim, pode haver direitos e garantias expressos não somente no art. 5º, da CF, mas em
toda a Constituição, o que não exclui outros direitos e garantias que podem ser
implícitos, decorrentes do regime e princípios adotados pela CF ou decorrentes de
tratados internacionais assinados pela República Federativa do Brasil.
106
serão assegurados os meios mínimos para viver e exercer a liberdade e autonomia, que
serão exercidos buscando ser feliz da maneira que o indivíduo entender que deve fazê-lo.
No Brasil, tal direito não tem previsão expressa, mas é considerado Direito Fundamental
implícito por parte da doutrina e o STF já se manifestou sobre o tema. Vejamos:
“(...) Tenho por fundamental, ainda, (...) o reconhecimento de que assiste, a todos, sem qualquer
exclusão, o direito à busca da felicidade, verdadeiro postulado constitucional implícito,
que se qualifica como expressão de uma idéia-força que deriva do princípio da essencial
dignidade da pessoa humana. (...)” (RE 477554/MG, Rel. Min. Celso de Mello, j. em
01/07/2011). Vide ainda no STF: ADI 3300 MC; STA 223 AgR; etc.
“(...) O direito à busca da felicidade, implícito ao art. 1º, III, da Constituição, ao tempo que
eleva o indivíduo à centralidade do ordenamento jurídico-político, reconhece as suas
capacidades de autodeterminação, autossuficiência e liberdade de escolha dos próprios
objetivos, proibindo que o governo se imiscua nos meios eleitos pelos cidadãos para a
persecução das vontades particulares. (...) 7. O indivíduo jamais pode ser reduzido a mero
instrumento de consecução das vontades dos governantes, por isso que o direito à busca da
felicidade protege o ser humano em face de tentativas do Estado de enquadrar a sua realidade
familiar em modelos pré-concebidos pela lei. (...)” (STF, RE 898060, Rel. Min. Luiz Fux, Pleno, j.
em 21/09/2016).
O Estado não pode impor modelo único de encontrar a felicidade, devendo oferecer meios
mínimos para que cada um busque a sua felicidade, a partir do exercício da liberdade e
autonomia.
O Brasil aderiu ao Sistema Internacional de Proteção aos Direitos Humanos, iniciado com a
declaração da ONU de 1948, e sobre este tema, imprescindível a leitura do art. 5º, § 3º, da CF.
Vejamos:
Art. 5º. (...) § 3º. Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos
dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
a) Anteriores à EC/45; e
O art. 5º, § 3º, da CF, introduzido pela EC 45, traz previsão de mecanismo especial de
alteração da Constituição, mecanismo especial de exercício do poder de reforma, pois a
CF é alterada para a inclusão de tratados de DH aprovados por quórum especial, que
passam a integrar o bloco de constitucionalidade.
107
1ª C: É inconstitucional, pois viola cláusula pétrea dos direitos e garantias individuais,
pois os tratados internacionais de direitos humanos já eram equivalentes à EC antes da
introdução do supracitado dispositivo, exigindo-se quórum simples, e passou-se a exigir
quórum qualificado e 2 turnos de votação, dificultando o ingresso de tratados
internacionais de DH, o que o dota de inconstitucionalidade, já que os tratados
internacionais de DH já eram equivalentes às ECs por força do art. 5º, § 2º, que determina que:
“Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do
regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte.”
A jurisprudência clássica do STF entendia que todos os tratados (de direitos humanos ou
não) têm força de lei ordinária (não poderiam sequer versar sobre matéria reservada à lei
complementar): RE 80.004/SE (01/06/1977); HC 72.131/RJ (22/11/1995); HC 73044/SP
(19/03/1996); RE 253071/GO (29/05/2001); RE 205962 AgR/SP (30/05/2003); ADI 1480 MC;
etc.
Desde o RE 466343 e o RE 349703 (j. em 03/12/2008) a maioria do STF passou a defender que
os tratados internacionais de direitos humanos anteriores à EC 45/2004 subscritos pelo
Brasil possuem status normativo supralegal, o que torna inaplicável a legislação
infraconstitucional com eles conflitantes, seja ela anterior ou posterior ao ato de
ratificação.
“(...) Desde a adesão do Brasil, sem qualquer reserva, ao Pacto Internacional dos Direitos Civis
e Políticos (art. 11) e à Convenção Americana sobre Direitos Humanos - Pacto de San José da
Costa Rica (art. 7º, 7), ambos no ano de 1992, não há mais base legal para prisão civil do
depositário infiel, pois o caráter especial desses diplomas internacionais sobre direitos humanos
lhes reserva lugar específico no ordenamento jurídico, estando abaixo da Constituição, porém
acima da legislação interna. O status normativo supralegal dos tratados internacionais de
direitos humanos subscritos pelo Brasil torna inaplicável a legislação infraconstitucional com ele
conflitante, seja ela anterior ou posterior ao ato de adesão. (...)” (RE 349703, Rel. p/ Acórdão
Min. GILMAR MENDES, Pleno, j. em 03/12/2008). Vide ainda: RE 466343; HC 90172; etc.
108
ATENÇÃO! O professor André de Carvalho Ramos, em sua obra Curso de Direitos Humanos,
anota que a tese da supralegalidade não apareceu pela primeira vez na jurisprudência do STF
nos supracitados julgados, mas sim que a tese apareceu pela primeira vez em outro
julgamento, na fundamentação do voto do Ministro Sepúlveda Pertence, no julgamento do
HC 79785, em 29/03/2000, quando se discutia o duplo grau de jurisdição.
Esse tema ainda não é pacífico, sendo possível que o STF reconheça o status constitucional
dos tratados internacionais de DH anteriores à EC/45, pois há divergências entre os ministros.
Em voto no HC 87585 (j. em 03/12/2008) o Min. Celso de Mello, revendo sua posição, passou
a defender a tese da natureza constitucional:
Aula 9
Houve colisão entre a CF/88 e a CADH (Pacto de San José da Costa Rica), sobre o tema da
prisão civil do depositário infiel.
- Constituição de 1988:
Art. 5º, LXVII: “não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento
voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel”.
Art. 7º. (...) § 7º: “Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os mandados
de autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação
alimentar”.
No que se refere ao depositário infiel, a CF/88 admite a prisão daquele que esteja nesta
condição, o que não é admitido pela CADH.
O STF vedou a prisão civil do depositário infiel, seguindo a linha do Pacto de San José da
Costa Rica, e editou a SV 25, que determina ser ilícita a prisão civil de depositário infiel,
qualquer que seja a modalidade do depósito.
109
O STF não falou em inconstitucionalidade, mas sim em ilicitude. Assim, isto indica que o
tratado internacional de DH pode ampliar a proteção de Direitos Humanos dos cidadãos.
Muitos enxergam possibilidade de modificação informal da Constituição, por meio de
mutação constitucional. Vejamos:
STF: “PRISÃO CIVIL. Depósito. Depositário infiel. Alienação fiduciária. Decretação da medida
coercitiva. Inadmissibilidade absoluta. Insubsistência da previsão constitucional e das normas
subalternas. Interpretação do art. 5º, inc. LXVII e §§ 1º, 2º e 3º, da CF, à luz do art. 7º, § 7, da
Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica). (...). É ilícita a
prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.” (RE
466343, Rel. Min. Cezar Peluso, Pleno, j. em 03/12/2008)
Ao dizer que a previsão constitucional não subsiste, estaria o STF sugerindo mutação da
Constituição.
OBS 1: No STF há quem entenda que a Convenção não é norma constitucional, mas que
revogou as normas ordinárias:
“(…) o Pacto de San José da Costa Rica, passando a ter como fundamento de validade o § 2º
do art. 5º da CF/88, prevalece como norma supralegal em nossa ordem jurídica interna e,
assim, proíbe a prisão civil por dívida. Não é norma constitucional – à falta do rito exigido
pelo § 3º do art. 5º –, mas a sua hierarquia intermediária de norma supralegal autoriza
afastar regra ordinária brasileira que possibilite a prisão civil por dívida.(…)” (HC 94013,
Rel. Min. Carlos Britto, Primeira Turma, j. em 10/02/2009)
Essa é a tese prevalecente, de que a CADH tem status supralegal, não alterando a
Constituição, mas por estar acima das leis ordinárias e complementares, o pacto se
sobrepõe às leis ordinárias brasileiras que possibilitam a prisão civil por dívida.
Assim, a Constituição autoriza que a legislação comum possa permitir a prisão civil do
depositário infiel, mas com a CADH, a legislação comum não pode prender o depositário
infiel, prevalecendo o pacto de San José da Costa Rica em face da legislação comum, que
revogou a legislação comum que regulava a matéria, razão pela qual a SV 25 afirma ser
ilícita e não inconstitucional a prisão civil do depositário infiel.
OBS 2: No STF também há posição acerca da aplicação da norma mais benéfica de direitos
humanos:
Essa linha não se afasta da anterior, sendo norma supralegal que prevalece em relação às
leis comuns e complementares, e é norma mais benéfica, sendo teses que não se
repelem, podendo ser utilizadas em conjunto.
110
# Audiência de Custódia.
O preso deve ser levado à presença do juiz imediatamente, não bastando a comunicação
da prisão. Neste caso, houve colisão entre a CADH e a CF/88.
- Constituição de 1988:
Art. 5º, LXII: “a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados
imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;”.
Art. 7º. (...) § 5º: “Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à
presença de um juiz ou outra autoridade autorizada por lei a exercer funções judiciais
(...)”.
Contudo, como se trata de objeto de estudo novo, não há forma única de compreender o
controle de convencionalidade. Na doutrina há posições distintas sobre o seu conceito.
111
Outros autores entendem que o controle de convencionalidade é feito em âmbito interno,
especialmente por órgãos jurisdicionais nacionais, tomando como parâmetro os tratados
internacionais de DH. Nesse caso do exercício interno pelos órgãos judiciais nacionais do
controle de convencionalidade, há quem entenda que este controle tem como parâmetro
superior todos os tratados internacionais de DH, tenham eles natureza constitucional, de
emenda ou natureza supralegal.
Quanto a tratados comuns, que não versam sobre DH, tem status de lei ordinária, e nesse
caso, a doutrina majoritária entende que o controle é de mera legalidade, e não de
convencionalidade, mas há quem entenda que os tratados comuns também teriam natureza
supralegal, e dariam ensejo a espécie de controle de convencionalidade.
STF: “A questão surgiu com a Emenda nº 45, que veio a conferir certas características especiais
às convenções sobre direitos humanos. Essa convenção [o Pacto de San José da Costa Rica]
foi anterior à Emenda nº 45, por isso que se gerou debate. Mas, mesmo que seja considerada,
como reza a jurisprudência do Supremo, uma norma de hierarquia supralegal (e não
constitucional), penso que o controle - que se poderia encartar no sistema de controle da
convencionalidade - deve ser exercido para aferir a compatibilidade da relação entre uma
norma supralegal e uma norma legal. E o exercício desse controle só pode ser da
competência do Supremo Tribunal Federal. De modo que não vejo nenhuma dificuldade
em exercer esse controle de convencionalidade no caso concreto.” (STF, ADI 5240, voto do
Min. Teori Zavascki, j. em 20/08/2015).
No caso dos tratados internacionais de DH internalizados na forma do art. 5º, § 3º, da CF,
equivalentes às ECs e inseridos no bloco de constitucionalidade, o meio pode ser ação
qualquer no controle incidental de convencionalidade ou ação própria do controle
abstrato no STF, uma ADIN, por exemplo, pode ser utilizada, já que os tratados são
equivalentes às ECs e integram o bloco de constitucionalidade. Em relação aos tratados
anteriores à EC/45, com status supralegal, o controle deve ser feito em qualquer ação nos
casos concretos de forma incidental. Não há ação própria de controle concentrado de
supralegalidade. Assim, o controle concentrado será realizado no que se refere somente a
tratados internacionais de DH, equivalentes às ECs e que integram o bloco de
constitucionalidade.
112
1) Fase da assinatura (atribuição do chefe de Estado – presidente da república);
# Caso novo tratado internacional de DH não atinja a aprovação com o quórum de ⅗ dos votos
em 2 turnos de votação em cada casa, obtendo apenas o quórum de maioria e não o quórum de
⅗, esse tratado poderá ingressar na forma anterior, com natureza meramente supralegal,
sem ser considerado equivalente às ECS, ou não?
1ª C: Esses novos tratados só podem ingressar no direito interno na forma do art. 5º, § 3º, da
CF, e nesses casos, ou ingressam no Brasil como equivalentes às ECs ou não são
internalizados no Brasil.
Se entende que depende das naturezas das limitações. Quanto às limitações materiais, seria
incongruência imaginar que tratado internacional de DH violaria cláusula pétrea de
direitos fundamentais, deve ser aplicado o princípio da máxima proteção, prevalecendo a
norma mais benéfica, e o tratado de DH não poderia se sobrepor à Constituição.
Quanto aos limites formais, a iniciativa não se aplica aos tratados internacionais de DH,
que possui procedimento diferenciado. Contudo, o quórum de ⅗ e os 2 turnos de votação
se aplicam por força expressa do art. 5º, § 3º, da CF.
113
Segundo o professor, a melhor doutrina é a do Prof. André de Carvalho Ramos: em primeiro
lugar que toda denúncia de tratados internacionais de DH deve ser apreciada pelo CN com
quórum qualificado, de ⅗ em 2 turnos de votação - no caso dos tratados que tenham sido
aprovados na forma do art. 5º, § 3º, da CF. Além disso, defende que a denúncia não pode
contrariar o princípio da proibição do retrocesso. Por fim, defende que o Judiciário pode
fazer o controle de constitucionalidade da denúncia de um tratado internacional de DH,
especialmente diante da denúncia conduzir a retrocesso, o que é vedado pelo
ordenamento jurídico pátrio.
CF/88:
§ 4°. O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha
manifestado adesão. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
Art. 7°. O Brasil propugnará pela formação de um tribunal internacional dos direitos humanos.
Essas dúvidas dizem respeito a distinção entre entrega (“surrender”) ao TPI e extradição.
O Brasil demonstrou ao longo dos anos, preocupação com a previsão da pena de prisão
perpétua no TPI, o que se deu em razão da vedação prevista na CF, no art. 5º, expressamente,
à prisão perpétua, mas o Brasil assinou o Tratado de Roma e o mesmo foi internalizado no
direito positivo.
Em relação aos supracitados questionamentos, não há certeza definitiva sobre isto, pois o STF
ainda não se manifestou.
Se essa linha for seguida, as limitações à extradição não se aplicam à entrega, superadas
as objeções à entrega de brasileiro nato ou de qualquer pessoa que possa ser submetida
à prisão perpétua no TPI.
A doutrina afirma que os direitos e garantias individuais do art. 5º devem ser entendidos
como portadores da natureza de verdadeiros preceitos fundamentais da ordem
114
constitucional. Por isso, a ofensa aos direitos e garantias individuais do art. 5º pode vir a
ensejar a interposição de ADPF, respeitados os contornos constitucionais da ação.
Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos Brazileiros, que tem por
base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do
Imperio, pela maneira seguinte. (...)
A novidade é o direito à subsistência, que se pode entender como algo que preconiza a
ideia de mínimo existencial, o direito de existir com o mínimo de dignidade.
Art. 122. A Constituição assegura aos brasileiros e estrangeiros residentes no País o direito à
liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: (...)
115
- Constituição Brasileira de 1946:
Art. 141. A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança individual e à
propriedade, nos termos seguintes: (...)
Art. 150. A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes: (...)
Art. 153. A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes: (...)
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)”
A novidade é a menção à igualdade, reforçada no caput do art. 5º, da CF, que começa
dizendo que todos são iguais perante à lei, sem distinção de qualquer natureza, com
menção expressa ao direito à igualdade.
a) Existência;
- A vida é processo que abarca a existência, que possui início e fim, e entre o início e o
fim, há o ciclo vital, e durante o ciclo vital, pode-se falar em direito à existência, que é o
direito de estar vivo, de defender sua vida, de permanecer vivo. Há o direito de
permanecer vivo durante o ciclo vital, que possui início e fim.
- Termo inicial
116
4) Concepção nemológica: o termo inicial se daria com a atividade cerebral (entre
a 8ª e a 20ª semana);
1) Teoria natalista: a personalidade tem início a partir do nascimento com vida. Não há
direitos sem sujeito, e o nascituro não é um ser humano já formado;
“ESTADO – LAICIDADE. O Brasil é uma república laica, surgindo absolutamente neutro quanto
às religiões. Considerações. FETO ANENCÉFALO – INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ –
MULHER – LIBERDADE SEXUAL E REPRODUTIVA – SAÚDE – DIGNIDADE –
AUTODETERMINAÇÃO – DIREITOS FUNDAMENTAIS – CRIME – INEXISTÊNCIA. Mostra-se
inconstitucional interpretação de a interrupção da gravidez de feto anencéfalo ser conduta
tipificada nos artigos 124, 126 e 128, incisos I e II, do Código Penal.” (ADPF 54, Rel. Min. Marco
Aurélio, Pleno, j. em 12/04/2012)
# STF:
117
“3. (...) é preciso conferir interpretação conforme a Constituição aos próprios arts. 124 a 126 do
Código Penal – que tipificam o crime de aborto – para excluir do seu âmbito de incidência
a interrupção voluntária da gestação efetivada no primeiro trimestre. A criminalização,
nessa hipótese, viola diversos direitos fundamentais da mulher, bem como o princípio da
proporcionalidade. 4. A criminalização é incompatível com os seguintes direitos fundamentais:
os direitos sexuais e reprodutivos da mulher, que não pode ser obrigada pelo Estado a
manter uma gestação indesejada; a autonomia da mulher, que deve conservar o direito de
fazer suas escolhas existenciais; a integridade física e psíquica da gestante, que é quem
sofre, no seu corpo e no seu psiquismo, os efeitos da gravidez; e a igualdade da mulher,
já que homens não engravidam e, portanto, a equiparação plena de gênero depende de se
respeitar a vontade da mulher nessa matéria. 5. A tudo isto se acrescenta o impacto da
criminalização sobre as mulheres pobres. É que o tratamento como crime, dado pela lei penal
brasileira, impede que estas mulheres, que não têm acesso a médicos e clínicas privadas,
recorram ao sistema público de saúde para se submeterem aos procedimentos cabíveis. Como
consequência, multiplicam-se os casos de automutilação, lesões graves e óbitos. 6. A tipificação
penal viola, também, o princípio da proporcionalidade por motivos que se cumulam: (i) ela
constitui medida de duvidosa adequação para proteger o bem jurídico que pretende tutelar (vida
do nascituro), por não produzir impacto relevante sobre o número de abortos praticados no país,
apenas impedindo que sejam feitos de modo seguro; (ii) é possível que o Estado evite a
ocorrência de abortos por meios mais eficazes e menos lesivos do que a criminalização, tais
como educação sexual, distribuição de contraceptivos e amparo à mulher que deseja ter o filho,
mas se encontra em condições adversas; (iii) a medida é desproporcional em sentido estrito, por
gerar custos sociais (problemas de saúde pública e mortes) superiores aos seus benefícios. 7.
Anote-se, por derradeiro, que praticamente nenhum país democrático e desenvolvido do mundo
trata a interrupção da gestação durante o primeiro trimestre como crime, aí incluídos Estados
Unidos, Alemanha, Reino Unido, Canadá, França, Itália, Espanha, Portugal, Holanda e Austrália.
8. Deferimento da ordem de ofício, para afastar a prisão preventiva dos pacientes, estendendo-
se a decisão aos corréus.” (HC 124306, Rel. p/Acórdão Min. Roberto Barroso, 1ª Turma, j. em
09/08/2016, acórdão publicado em 17/03/2017).
Quanto ao início da vida, há discussão acerca do marco exato, o que se dá no âmbito do direito
e das ciências biológicas. No campo do direito, o STF já afirmou que a Constituição não dispõe
sobre o início da vida humana ou o preciso instante em que começa a vida humana. Quanto ao
início do direito à vida, o STF afirmou que quando a Constituição fala em direito da
pessoa humana ou direitos e garantias da pessoa humana como cláusula pétrea, refere-
se a indivíduo, pessoa, pessoa humana, ou seja, alguém que nasceu com vida, pois
somente esse é pessoa, já que o início da personalidade se dá com o nascimento com
vida, o que não impede que os momentos da vida humana anteriores ao nascimento
sejam objeto de proteção pelo direito comum. Essa é a posição do STF.
À luz do CP, dispositivos como o DIU, que impedem a nidação, não são considerados
criminosos, pode-se considerar que desde a nidação, há proteção da futura pessoa humana.
Contudo, há decisão do STF afirmando que é preciso conferir interpretação conforme à CF
quanto ao crime de aborto, para excluir do seu âmbito de incidência a interrupção voluntária da
gestação efetivada no primeiro trimestre. Assim, conforme o entendimento da 1ª turma, a
proteção da vida humana não começaria na nidação, mas sim após o terceiro mês de gestação.
- Termo final da vida na projeção da existência : morte, que pode ser natural ou
provocada.
118
A morte obedece convenção para fins jurídicos. Essa convenção já foi a ausência de
batimentos cardíacos e de atividade cardiorespiratória. Para fins de direito, a morte passou a
ser ausência de atividade neurológica.
“Art. 3º A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a
transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica,
constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e
transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do
Conselho Federal de Medicina.”
Houve redefinição da convenção humana sobre a morte em todo o mundo, que passou a ser
considerada a morte encefálica.
Em princípio, toda morte provocada é ofensiva ao direito à vida. O ciclo vital deve ser
encerrado com a morte natural.
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional
ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas
mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional;
a) morte; (…)
Art. 57. A sentença definitiva de condenação à morte é comunicada, logo que passe em julgado,
ao Presidente da República, e não pode ser executada senão depois de sete dias após a
comunicação.
É válido ressaltar que há tendência mundial de abolição da pena de morte. Todos os países que
integram a UE ratificaram o Protocolo nº 6, da Convenção Europeia dos Direitos do Homem
relativo à abolição da pena de morte. A abolição da pena de morte é uma das condições
necessárias para a adesão à UE.
119
Em 2002, foi vedada a pena de morte em relação a pessoas com deficiência mental, e em 2005,
determinou-se que a aplicação da pena de morte a pessoas que cometeram crimes antes dos
18 anos é inconstitucional - EUA.
Não basta o direito à existência, pois a existência deve ser digna. A dignidade da pessoa
humana é considerada atualmente fundamento do próprio direito, da Constituição, do
Poder Constituinte, etc.
1) PESSOA:
- É um fim em si mesmo;
- Possui dignidade;
- Deve ser dotada de autonomia; e
- É insubstituível.
2) COISA:
STF: “Vivemos a era neokantiana. Ainda no Século XVIII, Immanuel Kant nos ensinava que,
independente de nossas crenças religiosas, é uma exigência da racionalidade reconhecer que o
ser humano não tem preço, tem dignidade, e que não é possível fazer dele meio para a
consecução do que quer que seja. É a sobrepujança do ser sobre o ter. A cada dia essa
lição, cravada no art. 1º, III, da Carta de outubro, nos revela novas nuanças, em um aprendizado
perene.” (voto do Min. Luiz Fux na ADI 4424, Rel. Min. Marco Aurélio, Pleno, j. em 09/02/2012).
Artigo I - Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de
razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.”
- Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos:
(...)
120
- Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da
justiça social, observados os seguintes princípios: (...)
Ademais, como lembra o professor Walter Claudius Rothenburg, quando há colisão entre
Direitos Fundamentais, há conflito de dignidades, sendo necessário deliberar qual deve
prevalecer e em que medida.
Ex. Dignidade da pessoa que fotografa outra e publica a imagem como parte de seu trabalho x
dignidade da pessoa fotografada e que tem direito à intimidade.
Walter Claudius Rothenburg: A dignidade não deve ser entendida de ponto de vista
individual, pois é exercida no bojo das relações com os demais seres humanos,
relacionada com a solidariedade, implicando na existência de deveres fundamentais, e
não apenas de direitos.
121
STF: “O preceito fundamental de liberdade de expressão não consagra o ‘direito à incitação ao
racismo’, dado que um direito individual não pode constituir-se em salvaguarda de
condutas ilícitas, como sucede com os delitos contra a honra. Prevalência dos princípios da
dignidade da pessoa humana e da igualdade jurídica.” (HC 82424, Rel. p/ Acórdão: Min.
Maurício Corrêa, Pleno, j. em 17/09/2003 – “Caso Ellwanger”)
STF: “O fato de o paciente estar condenado por delito tipificado como hediondo não enseja, por
si só, uma proibição objetiva incondicional à concessão de prisão domiciliar, pois a dignidade da
pessoa humana, especialmente a dos idosos, sempre será preponderante, dada a sua condição
de princípio fundamental da República (art. 1º, inciso III, da CF/88). Por outro lado, incontroverso
que essa mesma dignidade se encontrará ameaçada nas hipóteses excepcionalíssimas em que
o apenado idoso estiver acometido de doença grave que exija cuidados especiais, os quais não
podem ser fornecidos no local da custódia ou em estabelecimento hospitalar adequado.” (HC
83358, Rel. Min. Carlos Britto, 1ª Turma, j. em 04/05/2004)
STF: “(...) 2. Paciente primária, de bons antecedentes, com emprego e residência fixos, flagrada
com pequena quantidade de maconha quando visitava o marido na penitenciária. Liberdade
provisória deferida pelo Juiz da causa, posteriormente cassada pelo Tribunal de Justiça local.
Mandado de prisão expedido há cinco anos, não cumprido devido a irregularidade no
cadastramento do endereço da paciente. Superveniência de doença contagiosa [AIDS],
acarretando outros males. Intenção, da paciente, de entregar-se à autoridade policial. Entrega
não concretizada ante o medo de morrer no presídio, deixando desamparada a filha menor. A
afirmação da dignidade da pessoa humana acode à paciente. (...) De vingança se trata, pois é
certo que manter presa em condições intoleráveis uma pessoa doente não restabelece a ordem,
além de nada reparar. A paciente apresenta estado de saúde debilitado e dela depende,
inclusive economicamente, uma filha. Submetê-la ao cárcere, isso é incompatível com o direito,
ainda que se possa ter como adequado à regra. (...) Ordem deferida, a fim de que a paciente
permaneça em liberdade até o trânsito em julgado de eventual sentença penal condenatória.”
(HC 94916, Rel. Min. Eros Grau, 2ª Turma, j. em 30/09/2008)
STF: “(...) 1. O Supremo Tribunal Federal já decidiu ser lícito ao Judiciário impor à Administração
Pública obrigação de fazer, consistente na promoção de medidas ou na execução de obras
emergenciais em estabelecimentos prisionais, tendo em conta a supremacia da dignidade da
pessoa humana (RE 592.581-RG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski) (...)” (RE 930454 AgR, Rel.
Min. ROBERTO BARROSO, 1ª Turma, j. em 26/08/2016).
STF: “(...) 1. A licença maternidade prevista no artigo 7º, XVIII, da Constituição abrange tanto a
licença gestante quanto a licença adotante, ambas asseguradas pelo prazo mínimo de 120 dias.
Interpretação sistemática da Constituição à luz da dignidade da pessoa humana, da igualdade
entre filhos biológicos e adotados, da doutrina da proteção integral, do princípio da prioridade e
do interesse superior do menor. (...) 4. Tutela da dignidade e da autonomia da mulher para
eleger seus projetos de vida. (...) 5. Mutação constitucional. Alteração da realidade social e nova
compreensão do alcance dos direitos do menor adotado. Avanço do significado atribuído à
licença parental e à igualdade entre filhos, previstas na Constituição. Superação de antigo
entendimento do STF.” (RE 778889, Rel. Min. Roberto Barroso, Pleno, j. em 10/03/2016)
STF: “(...) Acesso de paciente à internação pelo sistema único de saúde (SUS) com a
possibilidade de melhoria do tipo de acomodação recebida e de atendimento por médico de sua
confiança mediante o pagamento da diferença entre os valores correspondentes.
Inconstitucionalidade. (...) O procedimento da “diferença de classes”, tal qual o atendimento
médico diferenciado, quando praticados no âmbito da rede pública, não apenas subverte a
lógica que rege o sistema de seguridade social brasileiro, como também afronta o acesso
equânime e universal às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde,
violando, ainda, os princípios da igualdade e da dignidade da pessoa humana.” (RE 581488,
Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Pleno, j. em 03/12/2015)
122
c) Integridade; e
b) a lei considerará a tortura crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia, e por ela
responderão os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-la, se omitirem (5°, XLIII);
f) o preso será informado dos seus direitos, dentre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada a assistência da família e de advogado (5°, LXIII);
g) o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório
policial (5°, LXIV);
h) a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária (5°, LXV); e
i) ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com
ou sem fiança (5°, LXVI).
Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (Cartagena das Índias, Colômbia, em
9 de Dezembro de 1985).
Art. 5°, III – “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;” e
Art. 5°, XLIII – “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a
prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos
como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo
evitá-los, se omitirem;”
123
- Sobre tortura vide ainda a Lei 9.455/97.
A tortura é uma das exceções à afirmação de que DFs são absolutos. Há quem defenda
que os direitos fundamentais não são absolutos, são sempre relativos, mas há duas exceções,
dois direitos fundamentais absolutos como exceção, o que se encontra na obra de
Bobbio, que são o direito de não ser escravizado e o direito de não ser torturado, pois
não se pode admitir direito contraposto a escravizar e nem a torturar ninguém.
Art. 5°, X – “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;” e
Art. 5°, XLIX – “é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;”.
d) Privacidade.
Art. 5°, X – “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;”
1) Intimidade;
2) Vida privada;
3) Honra; e
4) Imagem.
- Inviolabilidade do domicílio:
Art. 5°, XI - “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial”;
Diante disso, eventual lei que autorize outra autoridade a quebrar a inviolabilidade do domicílio
será, a princípio, inconstitucional.
Casa, para fins do direito de inviolabilidade do domicílio é não só a residência, mas todo
espaço não aberto ao público em geral no qual exista expectativa de privacidade do
ocupante, ou no qual exerça profissão ou atividade.
124
§ 4º - A expressão “casa” compreende:
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade.
# SIGILO
Art. 5°, XII - “é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados
e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na
forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual
penal”.
O sigilo de dados inclui dados telefônicos, dados bancários e dados fiscais. Esses sigilos
de dados estão protegidos pela cláusula da reserva de jurisdição ou não?
A leitura do dispositivo parece indicar que somente a quebra do sigilo aos dados telefônicos
encontra-se acobertado pela cláusula de reserva de jurisdição, em razão da expressão
“no último caso”. Os demais sigilos poderiam ser quebrados, inclusive de dados, não só
por ordem judicial, mas também por quem a lei autorizar. Ex. Sigilo de correspondência,
comunicação telegráfica e dados fiscais, bancários e telefônicos.
Há quem diga que alguns sigilos de dados, como o bancário e fiscal também seriam
acobertados pela reserva de jurisdição.
A LC 105/2001 autorizou, ainda que indiretamente, a quebra de sigilo bancário e fiscal por
parte de autoridades fiscais.
Artigo 6°. As autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios somente poderão examinar documentos, livros e registros de
instituições financeiras, inclusive os referentes a contas de depósitos e aplicações financeiras,
quando houver processo administrativo instaurado ou procedimento fiscal em curso e
tais exames sejam considerados indispensáveis pela autoridade administrativa
competente.
Parágrafo único. O resultado dos exames, as informações e os documentos a que se refere este
artigo serão conservados em sigilo, observada a legislação tributária.
A autorização legal para que outras autoridades acessem o sigilo de dados é constitucional ou
inconstitucional?
No STF foram tomadas diversas decisões com conclusões divergentes, até que a questão foi
enfrentada definitivamente. Vejamos:
125
“O art. 6º da Lei Complementar 105/01 não ofende o direito ao sigilo bancário, pois realiza a
igualdade em relação aos cidadãos, por meio do princípio da capacidade contributiva, bem
como estabelece requisitos objetivos e o translado do dever de sigilo da esfera bancária
para a fiscal” (RE 601314, j. em 24/02/2016 com repercussão geral. No mesmo dia as ADIs
2390, 2386, 2397 e 2859, todas sobre a LC 105, foram julgadas improcedentes).
Segundo o prof, esses sigilos de dados podem ser quebrados por autoridade prevista em
lei e pelo Juízo.
STF:
Segundo o prof, se não há sigilo em relação à correspondência dos presos, não pode haver em
relação ao sigilo de dados, pois estão no mesmo dispositivo constitucional.
O STF entendeu, ainda, que a quebra de sigilo de dados fiscais, bancários e telefônicos
podem ser quebrados por CPIs. Vejamos:
STF: “O sigilo bancário, o sigilo fiscal e o sigilo telefônico (sigilo este que incide sobre os
dados/registros telefônicos e que não se identifica com a inviolabilidade das
comunicações telefônicas) - ainda que representem projeções específicas do direito à
intimidade, fundado no art. 5º, X, da Carta Política - não se revelam oponíveis, em nosso
sistema jurídico, às Comissões Parlamentares de Inquérito, eis que o ato que lhes decreta
a quebra traduz natural derivação dos poderes de investigação que foram conferidos,
pela própria Constituição da República, aos órgãos de investigação parlamentar.” (STF,
MS-23452/RJ)
STF: Há, no STF, decisões afirmando que o TCU não está autorizado por lei a fazer a quebra
do sigilo bancário. Vejamos:
STF: Não há sigilo de contas e recursos públicos, pois neste caso, vigora o princípio da
publicidade, que está no art. 37, caput, da CF, e nisto a jurisprudência é firme. Vejamos:
126
“Não cabe ao Banco do Brasil negar, ao Ministério Público, informações sobre nomes de
beneficiários de empréstimos concedidos pela instituição, com recursos subsidiados pelo
erário federal, sob invocação do sigilo bancário, em se tratando de requisição de
informações e documentos para instruir procedimento administrativo instaurado em
defesa do patrimônio público. Princípio da publicidade, ut art. 37 da Constituição. (...)” (MS
21729, Rel. p/Acórdão: Min. NÉRI DA SILVEIRA, Pleno, j. em 05/10/1995).
STF: O sigilo de verbas públicas não pode ser oposto ao MP e nem ao TCU.
“(...) 4. Operações financeiras que envolvam recursos públicos não estão abrangidas pelo
sigilo bancário a que alude a Lei Complementar nº 105/2001, visto que as operações
dessa espécie estão submetidas aos princípios da administração pública insculpidos no
art. 37 da Constituição Federal. Em tais situações, é prerrogativa constitucional do Tribunal
[TCU] o acesso a informações relacionadas a operações financiadas com recursos
públicos. (...) 7. O Tribunal de Contas da União não está autorizado a, manu militari, decretar a
quebra de sigilo bancário e empresarial de terceiros, medida cautelar condicionada à prévia
anuência do Poder Judiciário (é a reserva de jurisdição), ou, em situações pontuais, do Poder
Legislativo. Precedente: MS 22.801 (...). 8. In casu, contudo, o TCU deve ter livre acesso às
operações financeiras realizadas pelas impetrantes, entidades de direito privado da
Administração Indireta submetidas ao seu controle financeiro, mormente porquanto
operacionalizadas mediante o emprego de recursos de origem pública. Inoponibilidade de
sigilo bancário e empresarial ao TCU quando se está diante de operações fundadas em
recursos de origem pública. Conclusão decorrente do dever de atuação transparente dos
administradores públicos em um Estado Democrático de Direito. (...)” (MS 33340, Rel. Min.
LUIZ FUX, 1ª Turma, j. em 26/05/2015)
No mesmo sentido: RHC 133118, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, 2ª Turma, j. em 26/09/2017.
O STF entendeu não ser possível obrigar alguém a realizar exame de DNA pois isto
violaria série de direitos fundamentais.
Outra decisão foi tomada pelo STF no caso Glória Trevi, artista mexicana cuja extradição foi
solicitada, e estava presa nas dependências da polícia federal, engravidou, e alegou ter sido
estuprada. Os policiais federais solicitaram o exame de DNA e ela se negou a fornecer material
para o exame.
127
‘persecução penal pública’ e ‘segurança pública’ que se acrescem (...) ao direito fundamental à
honra (CF, art. 5°, X), bem assim direito à honra e à imagem de policiais federais acusados de
estupro da extraditanda, nas dependências da Polícia Federal, e direito à imagem da própria
instituição, em confronto com o alegado direito da reclamante à intimidade e a preservar a
identidade do pai de seu filho. (...) 9. Mérito do pedido do Ministério Público Federal julgado,
desde logo, e deferido, em parte, para autorizar a realização do exame de DNA do filho da
reclamante, com a utilização da placenta recolhida, sendo, entretanto, indeferida a súplica de
entrega à Polícia Federal do ‘prontuário médico’ da reclamante.” (Rcl 2040 QO, Rel. Min. NÉRI
DA SILVEIRA, Pleno, j. em 21/02/2002)
O exame foi realizado contra a vontade de alguém que não queria que fosse realizado exame
com seu material genético, a fim de salvaguardar a moralidade administrativa.
STF: Deve o Estado custear exame de DNA para beneficiários de assistência judiciária
gratuita.
STF:
STF: A coisa julgada pode ser relativizada quando na primeira ação proposta de investigação de
paternidade não foi realizado exame de DNA.
Atualmente, o exame de DNA pode ser realizado por meio de técnicas indolores. Por isso, a
negativa na concessão de material genético em ações de investigação de paternidade, nas
quais estão em jogo valores constitucionais ligados à dignidade da pessoa humana e direito à
identidade da pessoa, isso tem gerado consequências processuais. Vejamos:
S. 301, STJ:
“Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz
presunção juris tantum (relativa) de paternidade.”
Art. 9º-A. Os condenados por crime praticado, dolosamente, com violência de natureza grave
contra pessoa, ou por qualquer dos crimes previstos no art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de
1990, serão submetidos, obrigatoriamente, à identificação do perfil genético, mediante
128
extração de DNA - ácido desoxirribonucleico, por técnica adequada e indolor. (Incluído
pela Lei nº 12.654, de 2012)
Essas modificações têm dado ensejo à discussão sobre a constitucionalidade ou não de tal
dispositivo.
O Plenário do STF irá decidir se é constitucional ou não a coleta de material genético com o
objetivo de manter banco de dados estatal de material genético, ainda que contrário à vontade
do preso.
# DIREITO À LIBERDADE
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)”
O ser humano é dotado de autonomia, de liberdade, o que implica que este possui autonomia
em diversos aspectos da sua vida. O Estado deve ser neutro em relação ao estado de bem viver
das pessoas. A liberdade, contudo, não pode ser ilimitada, pois esta seria a negação do
próprio direito. A liberdade está garantida à luz da legalidade. Vejamos:
Art. 5º. (...) II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude
de lei;
OBS: “Liberdade é o poder de fazer tudo o que a lei autoriza. Pois se o Homem pudesse
fazer o que ela proíbe, ele já não teria liberdade, porque os outros também teriam esse
poder.” (Montesquieu, “O Espírito das Leis”).
A liberdade de todos é exercida nos limites da lei, havendo presunção relativa de liberdade, pois
embora a Constituição autorize que as pessoas façam tudo, o direito, a lei, pode proibir
determinadas condutas, mas o legislador só pode limitar a liberdade no que é
imprescindível à lei comum, devendo evitar ingerências indevidas na autonomia das
pessoas, atuando-se de acordo com os ditames da proporcionalidade. O legislador tem
limites, são os limites dos limites.
Aula 10
129
A liberdade possui relação direta com o desenvolvimento humano, pois a expansão das
liberdades das pessoas é algo necessário ao desenvolvimento humano.
Desenvolver-se é expandir o máximo possível as opções de escolha de cada um, e quanto mais
escolhas, mais desenvolvidos são os indivíduos. Assim, a ampliação das liberdades de
escolha dos seres humanos é a nota fundamental do desenvolvimento.
Segundo Amart Assen, em sua obra “desenvolvimento como liberdade”, para ser livre, o ser
humano precisa principalmente de saúde, educação e renda. Esses 3 itens são os indicadores
principais do IDH. Ademais, é importante para o desenvolvimento humano a igualdade, em
todos os seus aspectos, e também ambiente democrático.
Segundo o autor, quanto maior a saúde, educação e renda, maior será a liberdade, mas
nenhum desses itens, sozinhos, são suficientes para garantir o desenvolvimento humano.
# Espécies de liberdade:
Liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar (art. 5°, incisos
XVII, XVIII, XIX, XX e XXI);
130
Liberdade de criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos (art. 17, incisos I
a IV da CF/88); e
Liberdade de locomoção no território nacional em tempo de paz (art. 5°, inciso XV: “é livre a
locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei,
nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”), inclusive com a garantia constitucional do
habeas corpus (Art. 5º, LXVIII – “conceder-se-á ‘habeas-corpus’ sempre que alguém sofrer ou
se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder”).
- Direito à igualdade
1) Corrente Nominalista;
2) Corrente Idealista;
3) Corrente Realista;
Reconhece que as pessoas são desiguais sob múltiplos aspectos, desigualdades naturais,
físicas, políticas e morais, mas as pessoas, por outro lado, em essência, são iguais, pois
todos são seres humanos. Assim, ao mesmo tempo em que há desigualdades, há igualdade
essencial, que é a condição de ser humano.
1) Desigualdades naturais (físicas) – têm origem na natureza, pois cada um dos indivíduos
possui cor, altura, peso, etc;
- Espécies de igualdade
Diz respeito ao tratamento conferido pelo direito positivo, no mundo das normas jurídicas,
que deve ser igual para todos.
2) Igualdade material;
A proteção constitucional à igualdade, nos aspectos formal e material tem seu núcleo no
art. 5º, mas remonta ao preâmbulo e aos objetivos fundamentais da república, que estão
intimamente ligados à promoção da igualdade material.
131
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para
instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e
individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça
como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na
harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das
controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação.
O art. 5º, abaixo elencado, traz a igualdade formal e a igualdade material, quando se diz que
todos são iguais perante a lei (igualdade formal), sem distinção de qualquer natureza
(menção à igualdade formal e material).
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
Ex. Regras de aposentadoria de homens e das mulheres (Art. 201, § 7º, I e II e 40, § 1º, III,
ambos da CF).
- AÇÕES AFIRMATIVAS
132
A ideia é tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais.
As ações afirmativas são instrumentos que realizam tratamentos formais desiguais para
pessoas que se encontram em situação de desigualdade real, com o objetivo de alcançar
tratamento material igualitário.
A previsão de cotas é uma das espécies de ação afirmativa. As ações afirmativas buscam
realizar as duas dimensões da justiça, conhecidas desde Aristóteles.
- Dimensões da Justiça:
“4. Pluralidade e igualdade são duas faces da mesma moeda. O respeito à pluralidade não
prescinde do respeito ao princípio da igualdade. E na atual quadra histórica, uma leitura
focada tão somente em seu aspecto formal não satisfaz a completude que exige o princípio.
Assim, a igualdade não se esgota com a previsão normativa de acesso igualitário a bens
jurídicos, mas engloba também a previsão normativa de medidas que efetivamente
possibilitem tal acesso e sua efetivação concreta. 5. O enclausuramento em face do
diferente furta o colorido da vivência cotidiana, privando-nos da estupefação diante do que se
coloca como novo, como diferente. 6. É somente com o convívio com a diferença e com o
seu necessário acolhimento que pode haver a construção de uma sociedade livre, justa e
solidária, em que o bem de todos seja promovido sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (Art. 3º, I e IV, CRFB).” (STF,
ADI 5357 MC-Ref, Rel. Min. Edson Fachin, Pleno, j. em 09/06/2016)
STF:
133
humana e, como tal, cabe ao Estado apenas o papel de reconhecê-la, nunca de constituí-
la. 3. A pessoa transgênero que comprove sua identidade de gênero dissonante daquela que
lhe foi designada ao nascer por autoidentificação firmada em declaração escrita desta sua
vontade dispõe do direito fundamental subjetivo à alteração do prenome e da classificação
de gênero no registro civil pela via administrativa ou judicial, independentemente de
procedimento cirúrgico e laudos de terceiros, por se tratar de tema relativo ao direito
fundamental ao livre desenvolvimento da personalidade. 4. Ação direta julgada procedente.”
(STF, ADI 4275, Rel. p/Acórdão Min. EDSON FACHIN, Pleno, j. em 01/03/2018, publicado em
07/03/2019)
Art. 5°, LXXIV – “o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos”;
Art. 5°, LXXVI – “são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei: a) o registro
civil de nascimento; b) a certidão de óbito;”
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de
sua condição social:
(...)
Art. 37, VIII – “a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas
portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão;”
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa,
tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes princípios: (…)
134
buscam reverter, no âmbito universitário, o quadro histórico de desigualdade que caracteriza as
relações étnico-raciais e sociais em nosso País, não podem ser examinadas apenas sob a ótica
de sua compatibilidade com determinados preceitos constitucionais, isoladamente considerados,
ou a partir da eventual vantagem de certos critérios sobre outros, devendo, ao revés, ser
analisadas à luz do arcabouço principiológico sobre o qual se assenta o próprio Estado
brasileiro. V - Metodologia de seleção diferenciada pode perfeitamente levar em consideração
critérios étnico-raciais ou socioeconômicos, de modo a assegurar que a comunidade acadêmica
e a própria sociedade sejam beneficiadas pelo pluralismo de ideias, de resto, um dos
fundamentos do Estado brasileiro, conforme dispõe o art. 1º, V, da Constituição. VI - Justiça
social, hoje, mais do que simplesmente redistribuir riquezas criadas pelo esforço coletivo,
significa distinguir, reconhecer e incorporar à sociedade mais ampla valores culturais
diversificados, muitas vezes considerados inferiores àqueles reputados dominantes. VII – No
entanto, as políticas de ação afirmativa fundadas na discriminação reversa apenas são legítimas
se a sua manutenção estiver condicionada à persistência, no tempo, do quadro de exclusão
social que lhes deu origem. Caso contrário, tais políticas poderiam converter-se benesses
permanentes, instituídas em prol de determinado grupo social, mas em detrimento da
coletividade como um todo, situação – é escusado dizer – incompatível com o espírito de
qualquer Constituição que se pretenda democrática, devendo, outrossim, respeitar a
proporcionalidade entre os meios empregados e os fins perseguidos. (...)” (ADPF 186, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, Pleno, j. em 26/04/2012). OBS: vide ainda o julgamento da ADC 41,
sobre cotas no serviço público.
As ações afirmativas devem ser temporárias, e devem vigorar até produzir a igualdade
material. Quando houver a igualdade material, as ações afirmativas devem cessar para
que não causem desigualdade inversa.
Essa teoria busca demonstrar que norma geral a princípio neutra, mesmo sem intenção,
pode impactar de forma desproporcional certos grupos minoritários que se encontram
em situação de desigualdade real em relação ao grupo majoritário, causando danos
excessivos e violando o princípio da igualdade, agravando desigualdade social. Assim,
norma neutra pode acabar por desigualar ainda mais grupos em situação de
desigualdade material.
Nos EUA, no caso Griegs vs. Dug Power Company, de 1971, a Suprema Corte norte-americana,
com base nesta teoria, invalidou testes de inteligência aplicados pela empresa na seleção de
trabalhadores, pois se estava diante de contexto histórico de discriminação racial, e esses testes
prejudicavam candidatos negros. A Suprema Corte invalidou os testes.
135
ou administrativo, ainda que não provida de intenção discriminatória no momento de sua
concepção, deve ser condenada por violação do princípio constitucional da igualdade
material se, em consequência de sua aplicação, resultarem efeitos nocivos de incidência
especialmente desproporcional sobre certas categorias de pessoas” (Ação afirmativa e
princípio constitucional da igualdade. Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 24).
Jurisprudência do STF: ADPF 291 - Inteiro teor do voto de Barroso; Inicial da ADIN 4424 sobre a
Lei Maria da Penha.
Não prevalece, atualmente, a ideia de que há hierarquia entre culturas, não havendo culturas
avançadas e superiores e culturas atrasadas ou inferiores. O Estado Moderno abarca muitas
culturas e etnias, sendo Estado pluriétnicos, com muitos povos, culturas e grupos que
convivem entre si em posição de igualdade. Essa convivência intercultural ocorre com
base em igualdade.
O Estado deve ser neutro em relação às diferentes culturas e formas de bem viver e ver o
mundo. Essa visão foi abraçada pela CF/88 que tem como um de seus objetivos a promoção
do bem de todos, sem preconceitos de qualquer natureza, razão pela qual, nos arts. 216 e
216-A, da CF, há proteção de todas as formas de cultura, sem qualquer hierarquia, razão
pela qual a CF agasalha políticas de igualdade material, de ações afirmativas, pautadas
não somente pela concretização da justiça redistributiva, mas também da justiça de
reconhecimento das diversas identidades dos povos que formam o Brasil. É por isso que a
CF protege especialmente certos grupos culturais em situação de fragilidade, como os índios e
quilombolas.
Assim, deve-se compreender o Brasil como Estado pluricultural que possui diversas
culturas em convivência igualitária.
# DIREITO À SEGURANÇA
3) Segurança jurídica (art. 5°, XXXVI – “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico
perfeito e a coisa julgada;”).
Há quem afirme que o direito à segurança é incompatível com outros direitos fundamentais, o
que tem ocorrido após o 11 de setembro, no Brasil e no mundo, o que provoca retrocesso nos
direitos humanos, não sendo necessária a realização de escolha entre tais direitos, pois o
direito à segurança é direito humano e fundamental, e com suas projeções, o que se quer
é assegurar os direitos humanos e fundamentais, e o Estado deve assegurar todos os
direitos humanos e fundamentais, sendo falsa opção, pois a premissa verdadeira é de
que o direito à segurança é direito humano e fundamental, havendo direito à
concretização do direito à segurança e dos demais direitos fundamentais.
Segundo Benjamin Franklin, quem joga fora a liberdade essencial para obter pequena
segurança não merece nem a liberdade e nem a segurança.
136
# DIREITO À PROPRIEDADE
A propriedade não é mais puro direito individual, mas sim instituição de interesse geral da
sociedade, e por isso, a CF/88 afirmou não só a propriedade, mas também a função social da
propriedade, sendo direito de finalidade social, não podendo mais ser compreendido
como direito fundamental absoluto, exclusivo e perpétuo. Não há único regime
constitucional de propriedade. A CF traz diversos regimes jurídicos ligados a propriedades
diferentes.
Há, na CF, regime jurídico da propriedade em geral, assim como regime jurídico da
propriedade pública, privada, urbana, rural, dos meios de comunicação social, dos meios
de produção de riqueza econômica, de terras indígenas, de terras em relação às quais no
subsolo há minérios.
Alguns dos dispositivos constitucionais sobre a propriedade mais debatidos na doutrina estão
abaixo elencados. Vejamos:
1) Propriedade em geral:
Art. 182. (...) § 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às
exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente,
segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
OBS: Vide os artigos 184 (desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária), 185
(bens insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária), 187 (política agrícola), 188
(destinação de terras públicas e devolutas), 189 (beneficiários da distribuição de imóveis rurais
pela reforma agrária), 190 (aquisição ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa física
ou jurídica estrangeira) e 191 (usucapião especial rural).
137
A propriedade em geral está submetida a limitações constitucionais ou legais, não sendo
mais a propriedade absoluta e perpétua. A propriedade absoluta era aquela em que o
proprietário poderia fazer com ela o que bem entendesse. Exclusiva - aquela que servia
unicamente ao proprietário; Perpétua - o proprietário permanecia nessa condição
enquanto assim desejasse.
O caráter exclusivo é limitado por exemplo pela requisição temporária, que autoriza, no
caso de iminente perigo público, a autoridade competente a usar a propriedade
particular, ensejando indenização em caso de dano, a posterirori.
O caráter perpétuo é limitado, por exemplo, pela desapropriação, nos termos do art. 5º,
XXIII, 184, 185, 182, 186, 216, § 1º, todos da CF, bem como a usucapião.
Art. 5º. (...) XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada
pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua
atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento.
# NACIONALIDADE
Artigo 15.
Cada Estado tem a liberdade de decidir quem são as pessoas que serão consideradas seus
nacionais, sendo decisão interna de cada Estado, e a nacionalidade é tema materialmente
constitucional, e cada Estado deve decidir e inserir em sua Constituição quem são seus
nacionais, ainda que possa haver tratamento jurídico em textos infraconstitucionais.
No Brasil, a CF/88 traz a previsão da nacionalidade brasileira, ainda que faça remissão a
possível disciplina da nacionalidade na legislação infraconstitucional.
138
Existem 3 situações relativas às relações entre o elemento humano e os demais elementos do
Estado.
A CF/88 trata, por um lado, do nacional (brasileiro nato ou naturalizado), e trata, ainda, da
situação do cidadão, que é o nacional no gozo dos direitos políticos, participante da vida
política do Estado. A CF cuida, ainda, da situação do estrangeiro, que é o nacional de
outro Estado.
Ex. Filho de pais que são nacionais de Estado que adota como critério geral o jus sanguinis,
mas o nascimento ocorre em local que adota como critério de nacionalidade o jus solis. Haveria,
portanto, duas nacionalidades.
Ex. Alguém que nasce de pais nacionais de Estado que adota como regra geral o jus solis, e o
nascimento se dá em território de Estado que adota o jus sanguinis. Nesse caso, não haverá
nenhuma das duas nacionalidades.
139
# HIPÓTESES DE NACIONALIDADE PRIMÁRIA NA CF/88
I – natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que
estes não estejam a serviço de seu país;
Para haver a exclusão da nacionalidade brasileira, é necessário que ambos os pais sejam
estrangeiros e estejam a serviço do seu país de origem, ou basta que ambos sejam estrangeiros
e apenas um deles esteja a serviço de seu país de origem?
Existe resolução 155 de 2012, do CNJ, que adotou posição mais restritiva da nacionalidade
brasileira, no sentido de que não será concedida a nacionalidade brasileira mesmo
quando apenas um dos pais, estrangeiros, esteja a serviço de seu país se origem.
Vejamos:
I – natos: (...)
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles
esteja a serviço da República Federativa do Brasil;
O serviço pode estar sendo prestado a qualquer entidade federada, segundo entende a
doutrina, podendo ser serviço no âmbito da administração centralizada ou descentralizada.
140
O Ministro Francisco Resek inclui ainda os funcionários brasileiros de organizações
internacionais das quais o Brasil participe. Assim, funcionários brasileiros que trabalhem
na ONU estão incluídos.
Lei nº 13.445/2017:
Art. 63. O filho de pai ou de mãe brasileiro nascido no exterior e que não tenha sido registrado
em repartição consular poderá, a qualquer tempo, promover ação de opção de nacionalidade.
141
O STF determina que quando a criança ou adolescente filha de pais brasileiros, nascida no
exterior, não registrada, vem residir no Brasil antes da maioridade, passa a ser
considerado brasileiro nato, e ao atingir a maioridade, a condição de brasileiro nato resta
suspensa, até que o interessado faça a opção pela nacionalidade.
A 1ª Turma do STF se pronunciou na mesma linha, mas exigiu o registro provisório. Vejamos:
“Opção de nacionalidade brasileira (CF, art. 12, I, c): menor residente no País, nascido no
estrangeiro e filho de mãe brasileira, que não estava a serviço do Brasil: viabilidade do registro
provisório (L. Reg. Públicos, art. 32, § 2º), não o da opção definitiva. 1. A partir da maioridade,
que a torna possível, a nacionalidade do filho brasileiro, nascido no estrangeiro, mas residente
no País, fica sujeita à condição suspensiva da homologação judicial da opção. 2. Esse
condicionamento suspensivo, só vigora a partir da maioridade; antes, desde que residente no
País, o menor - mediante o registro provisório previsto no art. 32, § 2º, da Lei dos
Registros Públicos - se considera brasileiro nato, para todos os efeitos. 3. Precedentes
(RE 418.096, 2ª T., 23.2.05, Velloso; AC 70-QO, Plenário, 25.9.03, Pertence, DJ 12.3.04).” (RE
415957, Rel Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira Turma, j. em 23/08/2005)
Atingida a maioridade, a nacionalidade brasileira fica suspensa, e uma vez feita a escolha,
torna-se o interessado brasileiro nato definitivamente, e isto se aplica de forma retroativa
à data de nascimento do interessado. Vejamos o entendimento do STF:
(...) Homologação da opção de nacionalidade. Artigo 12, inciso I, alínea c, da CF. Efeitos ex
tunc. 1. A jurisprudência firmada pelo Plenário da Corte é no sentido de que a homologação,
por sentença judicial, da opção pela nacionalidade brasileira possui efeitos ex tunc. Vide:
AC 70/RS-QO, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 12/3/04. (...)” (RE
909499 AgR, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, 2ª Turma, j. em 02/12/2016)
Decreto nº 9.199/2017:
Art. 215. O filho de pai ou mãe brasileira nascido no exterior e cujo registro estrangeiro de
nascimento tenha sido transcrito diretamente em cartório competente no País terá a
confirmação da nacionalidade vinculada à opção pela nacionalidade brasileira e pela
residência no território nacional.
A lei 13.445 nos arts. 64 a 71, estabelece que a naturalização pode ser:
a) Ordinária
142
b) Extraordinária
c) Especial
d) Provisória
II – naturalizados:
OBS: A lei mencionada é atualmente a “Lei de Migração” (Lei nº 13.445/2017, artigos 64/76).
A lei 13.445, no art. 67, que trata dessa hipótese não trata do tema; Contudo, a mesma lei,
quanto à naturalização ordinária e especial (art. 65, IV e 69, III) expressamente incluiu
entre as exigências da naturalização a de não possuir o requerente condenação penal ou
estar reabilitado nos termos da lei, e esse mesmo raciocínio se aplica à naturalização
extraordinária, o que é reforçado pelo fato de que a jurisprudência federal, mesmo antes
da edição da lei, que já trazia entendimento neste sentido.
TRF4:
143
Contudo, quando o interessado já cumpriu critérios previamente estipulados na CF, como
ocorre com a naturalização extraordinária, a doutrina tende a reconhecer direito subjetivo
à naturalização.
Segundo o STF, os requisitos do art. 12, II, b, da CF, daria espécie de direito à
naturalização com o mero requerimento.
# PROCEDIMENTO DE NATURALIZAÇÃO
Os pedidos são feitos à Polícia Federal, mas são decididos no âmbito da divisão de
nacionalidade e naturalização do Ministério da Justiça.
144
As diferenças relativas ao tratamento jurídico de brasileiros natos e naturalizados só
podem ser de natureza constitucional, não podendo a lei comum estabelecer novas
diferenças não previstas na CF (Art. 12, § 2º, CF).
# PERDA DA NACIONALIDADE
- Perda da nacionalidade na CF
Art. 12. (...) § 4º. Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao
interesse nacional;
OBS: a respeito dessa hipótese específica de perda, vide o art. 75 da Lei nº 13.445/2017:
STF:
Sim, a reaquisição da nacionalidade secundária cancelada por sentença judicial pode ser
feita por meio de ação rescisória, que se rescindir a sentença transitada em julgado gera
a reaquisição da nacionalidade secundária que havia sido cancelada pela sentença.
Art. 12. (...) § 4º. Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
Isso se aplica aos brasileiros natos e naturalizados. O brasileiro nato ou naturalizado que
voluntariamente adquirir outra nacionalidade secundária - a nacionalidade originária pode
ser cumulada, pois a CF prevê que o brasileiro perderá a nacionalidade se adquirir outra,
145
salvo em caso de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira,
podendo tratar-se de polipátrida.
Art. 12. (...) § 4º. Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
Assim, neste caso, em hipótese de aquisição de outra nacionalidade que não é originária,
não haverá perda da nacionalidade brasileira, pois estará havendo coação para que se
adquira outra nacionalidade.
STF:
146
Isso porque nos casos de outorga de nacionalidade pelo casamento e de imposição
unilateral de nacionalidade, não houve manifestação de vontade do brasileiro no sentido
de aquisição de nacionalidade estrangeira.
# QUASE NACIONALIDADE
Art. 12. (...) § 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade
em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos
previstos nesta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de
1994)
-Lei nº 13.445/2017:
I – ordinária;
II – extraordinária;
III - especial; ou
IV – provisória.
Art. 65. Será concedida a naturalização ordinária àquele que preencher as seguintes condições:
Nacionalidade
Lei nº 13.445/2017:
Art. 66. O prazo de residência fixado no inciso II do caput do art. 65 será reduzido para, no
mínimo, 1 (um) ano se o naturalizando preencher quaisquer das seguintes condições:
I - (VETADO);
147
II - ter filho brasileiro;
III - ter cônjuge ou companheiro brasileiro e não estar dele separado legalmente ou de fato no
momento de conces-são da naturalização;
IV - (VETADO);
Art. 66. O prazo de residência fixado no inciso II do caput do art. 65 será reduzido para, no
mínimo, 1 (um) ano se o naturalizando preencher quaisquer das seguintes condições:
Parágrafo único. O preenchimento das condições previstas nos incisos V e VI do caput será
avaliado na forma disposta em regulamento.
Art. 68. A naturalização especial poderá ser concedida ao estrangeiro que se encontre em uma
das seguintes situações:
III - não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei.
Art. 70. A naturalização provisória poderá ser concedida ao migrante criança ou adolescente que
tenha fixado residência em território nacional antes de completar 10 (dez) anos de idade e
deverá ser requerida por intermédio de seu representante legal.
Art. 71. O pedido de naturalização será apresentado e processado na forma prevista pelo órgão
competente do Poder Executivo, sendo cabível recurso em caso de denegação.
§ 2º Será mantido cadastro com o nome traduzido ou adaptado associado ao nome anterior.
Art. 72. No prazo de até 1 (um) ano após a concessão da naturalização, deverá o naturalizado
comparecer perante a Justiça Eleitoral para o devido cadastramento.
Art. 73. A naturalização produz efeitos após a publicação no Diário Oficial do ato de
naturalização.
148
Existe modelo liberal de Estado, que surge no fim do Séc. XVIII, modelo que prega papel
mínimo do Estado nas relações sociais e econômicas, que devem ser resolvidas pela mão
invisível do mercado, como menciona Adam Smith. Nesse modelo o Estado intervém
pouco na ordem econômica e social.
O modelo social, surgido no início do Séc. XX, prega maior intervenção do Estado nas
relações sociais e econômicas, com atuação grande do Estado nos direitos sociais.
O modelo neoliberal, que aparece a partir dos anos 70, principalmente na Inglaterra, no
Governo Tatcher e Reagan, nos EUA, que prega a retomada do modelo liberal clássico,
através de medidas como privatização, desregulamentação de leis trabalhistas, livre
circulação de capitais, abertura para o mercado de capitais e ênfase na globalização
econômica. Esse modelo admite a intervenção do Estado em caso de graves crises
sociais e econômicas.
A CF nasceu adotando modelo social, mas passou por reformas, especialmente nos anos
90, por meio de ECs que aproximaram a CF/88 do modelo neoliberal. Vejamos a disciplina
da ordem econômica e social na CF/88.
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
149
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis
brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 6, de 1995)
O art. 170 revela, dentre outros aspectos, alguns muito interessantes como aponta a doutrina: a
soberania nacional econômica, adotando-se como regra a propriedade privada dos meios
de produção - o que caracteriza o capitalismo - mas deve ser capitalismo nacional
autônomo e humanizado.
Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade
econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança
nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.
Ademais, o art. 170 prevê a defesa do meio ambiente como um dos princípios da ordem
econômica, determinando que a exploração econômica poluidora não possui amparo
constitucional.
A busca do pleno emprego, como lembra o prof. José Afonso da Silva, é a busca do grau
máximo de todos os recursos produtivos e sua utilização para propiciar trabalho a todos
que estejam em condições de exercer atividade produtiva. É o pleno emprego da força de
trabalho capaz. Esse princípio se harmoniza com o fato de que a ordem econômica se funda
na valorização do trabalho humano.
O tratamento favorecido para empresas de pequeno porte, constituídas sob as leis brasileiras e
que tenham sede e administração no país encontra desdobramento no art. 179 da CF, abaixo
elencado. Vejamos:
150
1) Prestação de serviços públicos (art. 175); e
A atuação direta do Estado é excepcional, pois a regra é a atuação do setor privado, que
pode ocorrer:
2) No domínio econômico:
As empresas públicas e sociedades de economia mista serão criadas por lei e podem ser
prestadoras de serviços públicos ou prestadoras de atividade econômica.
151
4) Favorecimento à organização da atividade garimpeira em cooperativas, levando em conta a
proteção do meio ambiente e a promoção econômico-social dos garimpeiros, concedendo às
mesmas prioridade na autorização ou concessão para pesquisa e lavra dos recursos e jazidas
de minerais garimpáveis (art. 174, §§ 3º e 4º);
5) Disciplina das jazidas, em lavra ou não, dos recursos minerais e dos potenciais de energia
hidráulica (art. 176, §§ 1º a 4º);
6) Monopólio da União (art. 177, §§ 1º a 4º) sobre 3 áreas: a) petróleo; b) gás natural; e c)
minérios e minerais nucleares e seus derivados;
7) Ordenação dos transportes aéreo, aquático e terrestre, inclusive internacional (art. 178);
10) Disciplina da política urbana e da função social da propriedade urbana, inclusive das
hipóteses de desapropriação sanção e usucapião especial urbano (artigos 182 e 183);
# DA ORDEM SOCIAL
1) Disposição geral da Ordem Social (art. 193): A ordem social tem como base o primado do
trabalho, e como finalidades o bem-estar e a justiça sociais.
152
10) Índios (arts 231 e 232).
Ordem Social.
CF/88:
Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e
a justiça sociais.
Princípios gerais: primado do trabalho, bem estar social e a justiça social. Há harmonia
entre a ordem social e econômica, pois nos termos do art. 170, a ordem econômica tem a
finalidade de assegurar a todos a existência digna de acordo com os ditames da justiça social,
bem como é fundada na valorização do trabalho humano.
Ordem Social
“A atuação do poder público no domínio econômico e social pode ser viabilizada por intervenção
direta ou indireta, disponibilizando utilidades materiais aos beneficiários, no primeiro caso, ou
fazendo uso, no segundo caso, de seu instrumental jurídico para induzir que os particulares
executem atividades de interesses públicos através da regulação, com coercitividade, ou através
do fomento, pelo uso de incentivos e estímulos a comportamentos voluntários.” (ADI 1923, Rel.
p/Acórdão Min. Luiz Fux, Pleno, j. em 16/04/2015)
“Os setores de saúde (CF, art. 199, caput), educação (CF, art. 209, caput), cultura (CF, art. 215),
desporto e lazer (CF, art. 217), ciência e tecnologia (CF, art. 218) e meio ambiente (CF, art. 225)
configuram serviços públicos sociais, em relação aos quais a Constituição, ao mencionar que
‘são deveres do Estado e da Sociedade’ e que são ‘livres à iniciativa privada’, permite a atuação,
por direito próprio, dos particulares, sem que para tanto seja necessária a delegação pelo poder
público, de forma que não incide, in casu, o art. 175, caput, da Constituição. (...)” (ADI 1923, j.
em 16/04/2015)
“(...) 1. Os serviços de educação, seja os prestados pelo Estado, seja os prestados por
particulares, configuram serviço público não privativo, podendo ser desenvolvidos pelo
setor privado independentemente de concessão, permissão ou autorização. (...)” (ADI
1007, Rel. Min. EROS GRAU, Pleno, j. em 31/08/2005)
“(...) TERCEIRO SETOR. (...) LEI Nº 9.637/98 (...). O marco legal das Organizações Sociais
inclina-se para a atividade de fomento público no domínio dos serviços sociais (...) posta em
prática pela cessão de recursos, bens e pessoal da Administração Pública para as entidades
privadas, após a celebração de contrato de gestão, o que viabilizará o direcionamento, pelo
Poder Público, da atuação do particular em consonância com o interesse público, através da
inserção de metas e de resultados a serem alcançados, sem que isso configure qualquer forma
de renúncia aos deveres constitucionais de atuação. (...)” (ADI 1923, Pleno, j. em 16/04/2015)
STF (saúde):
153
porquanto responsabilidade solidária dos entes federados. O polo passivo pode ser
composto por qualquer um deles, isoladamente, ou conjuntamente.” (RE 855178 RG, Rel.
Min. Luiz Fux, j. em 05/03/2015)
“Os tratamentos experimentais (sem comprovação científica de sua eficácia) são realizados por
laboratórios ou centros médicos de ponta, consubstanciando-se em pesquisas clínicas. A
participação nesses tratamentos rege-se pelas normas que regulam a pesquisa médica e,
portanto, o Estado não pode ser condenado a fornecê-los.” (Trecho do voto do Min. Gilmar
Mendes, Relator da STA 175 AgR, j. em 17/03/2010).
Ordem Social.
Ordem Social
STF (educação):
OBS: Vide nesta mesma decisão (dentre outros julgados do STF) as questões relativas às
“escolhas trágicas”, à “reserva do possível”, ao “mínimo existencial” e à “proibição do
retrocesso”.
Súmula Vinculante 12: “A cobrança de taxa de matrícula nas universidades públicas viola o
disposto no art. 206, IV, da Constituição Federal”.
“Ante o teor dos artigos 206, inciso IV, e 208, inciso VI, da Carta de 1988, descabe a instituição
pública de ensino profissionalizante a cobrança de anuidade relativa à alimentação.” (RE
357148, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, j. em 25/02/2014)
154
Não há lei que ampare o direito de educar crianças e adolescentes em casa (ensino domiciliar
ou homeschooling) (RE 888.815 RG/RS, Rel. p/acórdão Min. Alexandre de Moraes, j. em
12/09/2018, Tema 822 da repercussão geral).
Ordem Social
Ordem Social
“Expressão ‘em horário diverso do autorizado’, contida no art. 254 da Lei nº 8.069/90 (Estatuto
da Criança e do Adolescente). Classificação indicativa. Expressão que tipifica como infração
administrativa a transmissão, via rádio ou televisão, de programação em horário diverso do
autorizado, com pena de multa e suspensão da programação da emissora por até dois dias, no
caso de reincidência. Ofensa aos arts. 5º, inciso IX; 21, inciso XVI; e 220, caput e parágrafos, da
Constituição Federal. Inconstitucionalidade. (...) Não há horário autorizado, mas horário
recomendado.” (ADI 2404, Pleno, j. em 31/08/2016)
Ordem Social
“(...) MEIO AMBIENTE. (...) ARTIGO 225, § 1º, III, CB/88. DELIMITAÇÃO DOS ESPAÇOS
TERRITORIAIS PROTEGIDOS. VALIDADE DO DECRETO. (...) 1. A Constituição do Brasil
atribui ao Poder Público e à coletividade o dever de defender um meio ambiente ecologicamente
equilibrado. [CB/88, art. 225, §1º, III]. 2. A delimitação dos espaços territoriais protegidos pode
ser feita por decreto ou por lei, sendo esta imprescindível apenas quando se trate de alteração
155
ou supressão desses espaços. (...)” (MS 26064, Rel. Min. EROS GRAU, Pleno, j. em
17/06/2010)
Ordem Social
Ordem Social
Ordem Social
STF (família):
“A compreensão jurídica cosmopolita das famílias exige a ampliação da tutela normativa a todas
as formas pelas quais a parentalidade pode se manifestar, a saber: (i) pela presunção
decorrente do casamento ou outras hipóteses legais, (ii) pela descendência biológica ou (iii) pela
afetividade. (...) A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o
reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com os
efeitos jurídicos próprios.” (RE 898060, Rel. Min. Luiz Fux, j. em 21/09/2016)
156
“(…) O caput do art. 226 confere à família, base da sociedade, especial proteção do Estado.
Ênfase constitucional à instituição da família. Família em seu coloquial ou proverbial significado
de núcleo doméstico, pouco importando se formal ou informalmente constituída, ou se integrada
por casais heteroafetivos ou por pares homoafetivos. A Constituição de 1988, ao utilizar-se da
expressão ‘família’, não limita sua formação a casais heteroafetivos nem a formalidade
cartorária, celebração civil ou liturgia religiosa. (…) Avanço da Constituição Federal de 1988 no
plano dos costumes. (...) A Constituição não interdita a formação de família por pessoas do
mesmo sexo. Consagração do juízo de que não se proíbe nada a ninguém senão em face de
um direito ou de proteção de um legítimo interesse de outrem, ou de toda a sociedade, o que
não se dá na hipótese sub judice. Inexistência do direito dos indivíduos heteroafetivos à sua
não-equiparação jurídica com os indivíduos homoafetivos. Aplicabilidade do §2º do art. 5º da
Constituição Federal, a evidenciar que outros direitos e garantias, não expressamente listados
na Constituição, emergem ‘do regime e dos princípios por ela adotados’ (…)” (ADPF 132, Rel.
Min. AYRES BRITTO, Pleno, j. em 05/05/2011)
Vide ainda: ADI 4277, Rel. Min. AYRES BRITTO, Pleno, j. em 05/05/2011.
Ordem Social
“(...) “O marco temporal de ocupação. A Constituição Federal trabalhou com data certa - a data
da promulgação dela própria (5 de outubro de 1988) - como insubstituível referencial para o
dado da ocupação de um determinado espaço geográfico por essa ou aquela etnia aborígene;
ou seja, para o reconhecimento, aos índios, dos direitos originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam. (...) O marco da tradicionalidade da ocupação. (...) A tradicionalidade
da posse nativa, no entanto, não se perde onde, ao tempo da promulgação da Lei Maior de
1988, a reocupação apenas não ocorreu por efeito de renitente esbulho por parte de não-índios.
(...)” (PET 3388, Rel. Min. Carlos Britto, Pleno, j. em 19/03/2009)
Ordem Social
157