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INTRODUÇÃO
Ao se deparar com um tema como este a primeira pergunta que o
leitor pode fazer é: O que a Constituição tem a ver com a Deóntica1
Profissional do Advogado? Aparentemente nada. Mas ao apreciador de
pensamentos jurídicos, em especial àquele a quem se reconhece a
função de erguer a dúvida do Juiz e, por isso, trazer a matéria-prima do
juízo ou da sentença, os advogados2, não se espera que se contentem
com o aparente. E é por isso que conseguimos ver uma relação ou
melhor um género de relações entre a Constituição e a Deóntica
Profissional dos Advogados. Este género de relações para que se possa
perceber carece de concentração, o que sucede essencialmente
mediante a abnumeração das espécies que o género comporta. A
primeira espécie de relação entre a Constituição e os Deveres
Profissionais dos Advogados (a Deóntica Profissional dos Advogados),
provocada pela omnipotência jurídica da Constituição que transforma a
toda a norma vigente em seu concretizador, fazendo com que, as
normas contendo os deveres profissionais do advogado em Angola
devam ser concretizadoras da luz ou melhor vis da Constituição. Que
assim seja é consensual, mas dessa resposta brota uma pergunta que
só aos criadores da dúvida do Juiz poderia parecer previsível: seriam as
normas deontológicas normas jurídicas? Ou normas meramente éticas?
E se não forem jurídicas pode a Constituição se impor sobre elas? Ou
deverão elas manter o carácter de densificadoras concretizantes do
Conteúdo da Constituição? Procuraremos resposta a esta pergunta
adiante. A resposta a esta pergunta nos pode dirigir a outra espécie de
relação entre a Constituição da República de Angola e a Deóntica
Profissional, seria uma relação de paralelismo. Mas até ao
estabelecimento destas relações apenas teremos preparado condições
para darmos um passo.
1 É mais comum referir-se à ideia de deóntica como deontologia. Esta expressão tem
subjacente a si a ideia de estudo ou análise de deveres. Mas o que está aqui em causa
é o sistema de deveres e não o estudo ou a lógica dos deveres. E justamente por isso
preferimos deóntica a deontologia. É certo, entretanto, que a única expressão
inequívoca quanto ao sistema de deveres é a própria expressão deveres.
2 CARNELUTTI, Francesco, Arte do Direito, Escolar editora, Lisboa, 2012 p. 47.
Mas daremos o passo apenas quando analisarmos se há
efectivamente as normas deontológicas concretizam a força das normas
constitucionais ou não e se tais normas mantêm a sua validade ou não.
I
GENERALIDADES
Secção
1. Definição de Constituição
2. Caracteres da Constituição
6KELSEN, Hans; Teoria Pura do Direito, traduzido por MACHADO, João Baptista, 6ª
Edição 3ª Tiragem, Martins Fontes, São Paulo, 1999 p. 155 a 157.
temos entre nós, vai implicar necessariamente que, por um lado, a
Constituição é lei sobre a criação das outras normas jurídicas e por
outro que é uma lei rígida.
7 6º
(Supremacia da Constituição e legalidade)
1. A Constituição é a lei suprema da República de Angola.
2. O Estado subordina-se à Constituição e funda-se na legalidade, devendo respeitar e
fazer respeitar as leis.
3. As leis, os tratados e os demais actos do Estado, dos órgãos do poder local e dos
entes públicos em geral só são válidos se forem conformes à Constituição.
concretizem o conteúdo da Constituição e sejam válidos apenas na
medida que o façam. Para esta forma de percepção não há aqui
preocupação com a conformidade à constituição; está em causa a
concretização do conteúdo da Constituição pelas demais leis.
8Neste âmbito pode ser de ajuda o nosso Mandato Constitucional da Ordem dos
Advogados de Angola, 2013, Luanda, disponível em:
pt.slideshare.net/mobile/macklionchimuco/o-mandato-constitucional-da-ordem-dos-
advogados-de-angol1-36303234
Secção
II
11KELSEN, Hans; Teoria Pura do Direito, traduzido por MACHADO, João Baptista, 6ª
Edição 3ª Tiragem, Martins Fontes, São Paulo, 1999 p. 49.
Pode pensar-se que uma tal percepção não admite dentro do
Direito normas com conteúdo ético ou moral. Mas a única verdade é
que esta perspectiva de percepção do Direito não admite apenas que se
entenda que o Direito deva realizar um fim moral. A universalidade
inerente à moral, em especial a moral kantiana, dominante na altura
em alguns círculos ainda hoje, não se compatibiliza com a
particularidade do Direito. Entretanto pode o Direito conter normas
éticas ou morais. Assim e diante do positivismo jurídico as normas
deontológicas podem ser entendidas como sendo normas jurídicas de
conteúdo moral. Sendo que são normas conteudisticamente morais mas
cuja juridicidade resulta do facto de terem sido integradas na ordem
estadual coerciva. Para uma tal concepção as normas deónticas têm
uma natureza dupla: uma jurídica e outra moral. Sendo jurídica por
integrarem a ordem social coerciva do Estado. E éticas por serem
motivadas e terem um conteúdo que interessa naturalmente ético
moral.
CAPÍTULO
II
A RELAÇÃO ENTRE A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE ANGOLA
E AS NORMAS DEONTOLÓGICAS DA ORDEM DOS ADVOGADOS DE
ANGOLA COMO DEVE SER
Recolocação do Problema
Secção
21 Artigo 166.º
(Forma dos actos)
1. A Assembleia Nacional emite, no exercício das suas competências, leis de
revisão constitucional, leis orgânicas, leis de bases, leis, leis de autorização
legislativa e resoluções.
2. Os actos da Assembleia Nacional praticados no exercício das suas
competências revestem a forma de:
a) Leis de revisão constitucional, os actos normativos previstos na alínea a)
do artigo 161.º da Constituição;
b) Leis orgânicas, os actos normativos previstos na alínea a) do artigo 160.º
e nas alíneas d), f), g) e h) do artigo 164.º;
c) Leis de bases, os actos normativos previstos nas alíneas i) e j) do artigo
164.º e nas alíneas a), b), e), f), i), l) p), q) e r) do n.º 1 do artigo 165.º,
todos da Constituição;
d) Leis, os demais actos normativos que versem sobre matérias da
competência legislativa da Assembleia Nacional e que não tenham que
revestir outra forma, nos termos da Constituição;
e) Leis de autorização legislativa, os actos normativos previstos na alínea c)
do artigo 161.º;
f) Resoluções, os actos previstos nas alíneas b) e c) do artigo 160.º, nas
alíneas g), h), i), j), k), l) e m) do art. 161.º, n as alíneas b), c) e d) do
artigo 162.º e nas alíneas a), b), c), d) e e) do artigo 163.º e as demais
deliberações em matéria de gestão corrente da actividade parlamentar,
bem como as que não requeiram outra forma, nos termos da Constituição.
do poder judicial, como a advocacia está estritamente relacionada com a
organização judicial, e o funcionamento dos tribunais22.
Além destes órgãos constitucionais, três outros apresentam como
órgãos constitucionais eventuais em matéria de advocacia. Tais órgãos,
com poderes de iniciativa legislativa, são o Presidente da República, os
Deputados e os Grupos Parlamentares, cuja iniciativa pode ser própria
ou impulsionada por outra entidade pública ou privada incluindo a
Ordem dos Advogados de Angola.
As normas deónticas profissionais dos advogados, devem, em
respeito à, e realização da, CRA, ser aprovadas por lei da Assembleia
Nacional. A não observância deste respeito importa, nos termos do
artigo 6.º n.º 3 da CRA, a sua invalidade23. As normas deónticas devem
não só submeter-se, mas, acima de tudo complementar as normas
constitucionais subjectivas.
22 Isso mesmo é confirmado pelo legislador ordinário que ao disciplinar no artigo 35.º
do Código de Processo Civil possui normas sobre a Advocacia, no artigo 14.º da Lei
das Medidas Cautelares em Processo Penal, aprovada pela Lei n.º 25/ 15 de 18 de
Setembro, e ainda na Lei sobre a Organização e Funcionamento dos Tribunais da
Jurisdição Comum, aprovada pela Lei n.º 2/15 de 2 de Fevereiro, dedicou o Capítulo
XI aos advogados e Defensores Públicos, num total de 5 artigos, do 86.º ao 90.º.
23 3. As leis, os tratados e os demais actos do Estado, dos órgãos do poder local e
II
III
9. Elementos Preliminares
25 Análoga a esta é a ideia de KAUFMANN cit. p. 219, que entende que o direito é a
correspondência entre o dever e o ser.
26 Como dizia Ihering, A realização é a vida e a verdade do Direito. Ela é o próprio
Direito. O que não passa à realidade, o que não existe senão nas leis, e sobre o papel,
não é mais do que um fantasma de direito, não são senão palavras. Ao Contrário o que
se realiza como Direito, isto é Direito. Cfr. NEVES, A. Castanheira, O Actual Problema
Metodológico – Da Interpretação Jurídica I, Coimbra Editora, 1ª Edição Reimpressão,
2010, p. 12.
deónticas profissionais do advogado em Angola será que a Constituição
da República de Angola é Direito? Se concluirmos que esta é realizada
por aquelas então responderemos positivamente, caso contrário, será a
Constituição não será Direito e será necessário e indispensável tomar
providências para que ela se torne Direito.
12. Conclusão
IV
13. Introdução
Bibliografia Doutrinal
Bibliografia Legislativa
Lei das Medidas Cautelares em Processo Penal, aprovada pela Lei n.º
25/ 15 de 18 de Setembro.