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Caracteres e aspetos do sistema jurídico

 Busca de pontos fixos que fundem a ordem jurídica.

Primeiro, é mais fácil de entender que, inevitavelmente, existe uma


estreita integração da ordem jurídica na ordem social, com tudo o que esta
comporta. Assim, o Direito surge-nos como uma realidade normativa mas
condicionada à sociedade em si e, portanto, em permanente mudança.

 Valores:

Certeza - intimamente ligada ao conceito de segurança, segundo Santos


Justo, constitui “uma condição de previsibilidade sem a qual a vida teria uma
contínua surpresa e a estabilidade não existiria”.

Justiça - há várias formas de encarar este conceito, porém poderemos


destacar a distinção de Aristóteles: justiça distributiva que preside à
distribuição das vantagens entre todos os membros da comunidade, e justiça
comutativa ou sinalagmática, esta é reparadora e repressiva; nesta as pessoas
apresentam-se em pé de igualdade, e essa igualdade deve ser salvaguardada
pelo direito. Santos Justo destaca três características da justiça. Assim, ela é
impessoal, dinâmica e dotada de alteridade (a justiça encontra-se no
cruzamento entre vida social e vida pessoal, sendo vocacionada para “o
social”).

Segurança - não só é um valor mas também um objetivo do direito.


Assim, a segurança deve ser encarada numa dupla perspetiva: segurança
como sinónimo de certeza jurídica (as consequências dos atos devem ser
expectáveis e previstas pelo direito) e segurança através do Direito, face aos
órgãos do Estado, designadamente no que se refere à atuação do poder
político e da Administração, sempre vocacionada para a constância da paz e
tranquilidade.

Neste contexto, será desejável que as leis sejam claras na sua redação,
para que o sujeito possa, razoavelmente, contar com o seu conteúdo (não
obstante as alterações sociais que influenciam a modificação das normas).
Além disso, aconselha-se a não aplicação retroativa das normas e firmeza em
relação a requisitos, formalidades ou consequências plasmadas na lei.

Por outro lado, o cidadão goza de proteção face a ingerências perniciosas


do poder político no seu âmbito privado, através da possibilidade de recorrer
aos Tribunais: órgãos independentes e imparciais.

Também o princípio do Estado de Direito surge como garante do respeito


pelos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos e, portanto, corolário da
segurança.

Norma jurídica ou regra jurídica

No fundo a norma jurídica é a expressão da ordem jurídica, é a


concretização através de regras. Contém um comando, por isso se diz também
que é imperativa, sendo fundamental para a ordem na convivência humana.

Assim, numa regra jurídica distinguem-se sempre dois elementos


(estrutura):

- Previsão/hipótese: situação da vida que a norma visa;


podem ser, tanto situações meramente fácticas (morte, nascimento) como
situações que têm por base outras relações jurídicas (como o incumprimento
de uma obrigação). Também se designa factispécie, (em Alemão Tabstand)
isto é, factos ou situações.
- Estatuição (ou, segundo outros autores, injunção):
consequência da verificação da previsão.

Note-se que nem todas as normas jurídicas apresentam esta estrutura


típica. Assim, a título de exemplo, pode, em algumas normas, surgir primeiro a
estatuição e só depois a previsão.

EXEMPLOs:

No art 214º cc. Previsão: “Quem colher prematuramente frutos


naturais…”

Estatuição: …”é obrigado a restituí-los…”

A regra jurídica tem sempre as seguintes características:

- generalidade (dirige-se a um grupo de indivíduos, sem sujeitos em


concreto determinados, mesmo que seja um grupo restrito. Ex: uma norma
pode perfeitamente dirigir-se aos empregados da empresa X pois não diz
respeito aos empregados, individualmente considerados da referida empresa.
Neste exemplo a norma não perde o caráter geral. Já não acontece no seguinte
exemplo: “A srª Joaquina Maria Abreu está proibida de deitar baldes de água
para a rua” pois a norma dirige-se a uma pessoa em concreto).

-abstracção (situação abstractamente considerada, não uma situação em


concreto, específica e única. Por exemplo a norma não seria abstracta se se
dirigisse, específicamente, ao facto de o Sr. António Silva ter roubado maçãs
do quintal de sua vizinha Antónia Antunes, esta não seria uma situação
abstractamente considerada, mas concreta).

Há autores como Oliveira Ascensão que entendem que a abstracção não é


característica da norma, e há autores, como Marcello Caetano, que entendem
mesmo que a generalidade é um conceito mais amplo que abrange a
abstracção.
Fontes:

Modos de formação e revelação de normas jurídicas, isto no sentido


técnico-jurídico. Por outras palavras, são a forma de criação e manifestação
do direito positivo, em vigor, em determinado momento e em determinada
sociedade.

Para a exposição desta matéria adotaremos uma posição concreta, apesar


de haver autores que recusam algumas destas fontes, enquanto fontes de
direito, apesar de reconhecerem a sua importância na modernização do
direito.

Quais são?

 Lei- é, sem dúvida, fonte de direito e é a expressão de órgãos


estaduais competentes para a elaboração de leis (órgãos legiferantes), através
da elaboração de um conjunto de normas escritas. Di-lo expressamente o
art.1º c.c.- é um texto significativo de uma ou mais regras jurídicas, emanado
de uma autoridade competente. É, portanto, a materialização de uma norma
jurídica, sendo fonte imediata de direito

 Doutrina- será o labor teórico dos jurisconsultos,


orientações de vários autores. Historicamente, no Direito Romano foi
importante fonte de direito pois era vinculativa. Por outras palavras, na
antiguidde clássica a communis opinio doctorum era fonte de direito (posição
comum dos doutrinários). Atualmente, não é fonte imediata ou directa, na
medida em que as opiniões não são vinculativas, não são obrigatórias, o juíz
não tem de acatar nem seguir essas opiniões. No entanto, pode ser fonte
mediata ou indirecta porquanto as referidas opiniões e posições, ditas
doutrinárias, são transformadas em norma jurídica
 Jurisprudência- será o conjunto de decisões dos tribunais.
Designam-se sentenças quando provenientes de um tribunal singular e
acórdão quando provenientes de um coletivo de juízes. Os magistrados julgam
segundo a Constituição e a Lei, logo não estão vinculados a decisões
anteriores (contrariamente ao sistema anglo saxónico que encerra a regra do
precedente), nem sequer os acórdãos ou sentenças têm intuito generalizador.
Eles vinculam somente as partes entre as quais o litígio se estabeleceu: não
criam normas jurídicas gerais e abstratas (conforme resulta do art.10º do CC).

Refira-se que a existência dos Acórdãos Uniformizadores de


Jurisprudência não colide com a classificação da jurisprudência enquanto
fonte mediata. Isto é, não significa que os mesmos assumam o valor de norma
jurídica. Pelo contrário, apesar de evidenciarem uma orientação que se
recomenda ser seguida por tribunais inferiores, a verdade é que o juiz poderá
decidir diferentemente do Acórdãos Uniformizador de Jurisprudência, desde
que o faça de forma justificada.

 Costume define-se como prática reiterada com convicção de


obrigatoriedade. Distinguem-se dois elementos: usos e convicção de
obrigatoriedade. O nosso código civil não o admite expressamente, mas em
algumas disposições refere-se ao costume, nomeadamente em questões de
prova. Assim, também não há consenso acerca do costume. Oliveira Ascensão,
entre outros autores, entende que é fonte imediata de direito. Para o efeito
sustenta que o art. 348º do CC se refere ao costume como Direito
Consuetudinário, entendendo que este é vinculativo, desde que se prove a sua
existência.

Os usos (art. 3º do CC), por sua vez, podem ser importantes para a
alteração de normas jurídicas, mas são desprovidos de convicção de
obrigatoriedade. Ou seja, há um corpus, mas não um aninus e, na prática,
pouca relevância lhe tem sido atribuída e não são, por si, fonte de direito
(embora alguns autores como Garcia Pereira, David Falcão ou José Gonçalves
Ferreira os incluam na categpria de fontes mediatas). Por exemplo, o uso é
referido no art. 218º, prevendo que o silêncio só terá valor de declaração se
esse for o seu valor atribuído por lei, uso ou convenção.

 Equidade é fonte de direito? É a resolução no caso concreto,


há grande divisão na doutrina, há quem entenda que é fonte mediata de
direito (pois nunca terá o intuito generalizador), há quem entenda que é só
um critério de decisão. Há situações plasmadas no art.4º c.c em que se admite
recurso à equidade.

Ramos

A ordem jurídica é só uma, porém o seu estudo impõe a divisão por


sectores, é a estes sectores que vamos chamar ramos do direito. O conteúdo
de cada ramo deve ser estruturado por intermédio de princípios gerais
próprios desse ramo.

Essencialmente os ramos de direito compreendem a divisão em Direito


Público e Direito Privado. Para a esta separação observam-se alguns critérios
que devem ser conjugados, na medida em que um só poderá não permitir a
determinação se uma norma ou relação se situa no plano público ou privado.

Deste modo, resumimos três critérios: do interesse, da qualidade dos


sujeitos e, finalmente, a posição ou hierarquia dos sujeitos na relação jurídica.

Assim, quanto ao critério do interesse, sempre que o valor maior for o da


coletividade, estaremos no plano público, se o interesse vertente das normas
for vocacionado para os particulares, poderemos estar perante um ramo de
direito privado.

Por sua vez, de acordo com a qualidade dos sujeitos, poderemos afirmar
que, tendencialmente a figura do estado (quer nas normas, quer na relação
jurídica) é sinónimo de direito público, todavia este critério poderá ser
enganoso na medida em que o estado pode intervir em relações de direito
privado.

Finalmente, segundo o critério da hierarquia ou posição dos sujeitos


poderemos afirmar que o Estado (ou seus organismos representativos) figura
na relação jurídica munidos de ius imperii, isto é, poder de supremacia.
Apresenta-se, numa posição de superioridade podendo provocar alterações
na esfera jurídica daqueles com quem se relaciona, independentemente da
vontade destes (ex. expropriação por utilidade ública). Serão assim, as
normas ou relações jurídicas de direito público. Diversamente, no direito
privado os sujeitos na relação jurídica ou as normas reguladoras da mesma
transmitem a ideia de igualdade das partes. Mesmo que o Estado figure neste
tipo de relações, será desprovido do poder de supremacia ou superioridade
característico do direito público (ex. uma junta de freguesia compra um
imóvel que se encontra à venda; aqui o vendedor estipula o preço
disponibilizando-se ou não, no processo de negociação, à variação de preço
acordado, não sendo, nenhuma parte, obrigada a concluir o negócio enquanto
não houver consenso, isto é, acordo sobre todos os termos do negócio).

Vejamos:

Direito público (direito administrativo, direito constitucional,


fiscal ou tributário-este último questiona-se a sua ligação ao direito
administrativo, por vezes direito penal é caracterizado como direito público)

Direito privado pode fazer-se uma divisão em direito privado


comum ou civil (o tronco fundamental do direito privado) e direitos privados
especiais. Por sua vez os preceitos de direito civil dividem-se em:

.dt das Obrigações (regula situações em que alguém


está vinculado a realizar certos benefícios/prestações. Trata questões como
resposabilidade civil pelo risco, dano
.direitos Reais ou das Coisas (regula a atribuição de
coisas. O paradigma é a propriedade)

.direito da Família (regula situações familiares ou


parafamiliares. Ex: adopção, casamento, divórcio…)

.direito das Sucessões (regula as vicissitudes de


sucessão por morte: testamentos, doações post-mortem…)

Direitos privados especiais:

“destacam-se” do direito civil na medida em que regulam situações em


particular, as quais não faria sentido ver reguladas no referido direito civil,
em virtude das suas especificidades.

Direito do Trabalho

Direito Comercial. Este foi historicamente elaborado para subtraír a


actividade económica ao formalismo da lei civil do séc XVIII. Foram, então,
adoptadas as seguintes posturas:

-celeridade da actividade económica ( os intervenientes no


comércio seriam altamente prejudicados se estivessem sujeitos aos processos
morosos típicos das instâncias civis)

- boa-fé deveria sacrificar-se a segurança conferida pelos


processoas formais em benefício do tráfego comercial.

- reforço do crédito, donde resulta maior protecção para o


credor.

- procura do lucro, ora esta é uma característica transversal


a toda a actividade comercial.
Note-se também que há uma certa tendência ou necessidade de
desentranhar do direito comercial outros ramos como direito marítimo,
direito dos seguros, direito bancário…

Direito Industrial

Direito Agrário

Apesar de, aparentemente, a divisão ser estanque, a verdade é que


existem alguns ramos de direito híbridos ou mistos porquanto não
apresentam características de direito público e de direito privado (o direito
do consumo é um exemplo).

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