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DPE-RS

Técnico Administrativo

Noções de Direito Civil


Lei de introdução às normas do Direito brasileiro. Vigência, aplicação, interpretação e integração
das leis. Conflito das leis no tempo. Eficácia da lei no espaço.......................................................01

Noções de Direito Civil


Pessoas naturais. Personalidade. Capacidade. Nome. Estado. Direitos da personalidade...........25
Pessoas jurídicas. Disposições gerais. Associações e fundações.................................................41
Domicílio..........................................................................................................................................57
Bens................................................................................................................................................64
Fatos jurídicos. Negócio jurídico. Atos jurídicos lícitos. Atos ilícitos................................................73
Prescrição: disposições gerais. Decadência...................................................................................95
Exercícios......................................................................................................................................106
Gabarito.........................................................................................................................................116

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Lei de introdução às normas do Direito brasileiro. Vigência, aplicação, interpretação e
integração das leis. Conflito das leis no tempo. Eficácia da lei no espaço

— LINDB e Introdução ao Direito Civil Brasileiro

De antemão, infere-se que a LEI de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, ou LINDB, (antes denomina-
da LICC), não faz parte do Código Civil, apesar de se encontrar anexa a esta legislação. Cuidando-se, assim,
de um acoplado de normas que possuem como finalidade, disciplinar as próprias normas jurídicas, ou, lex
legum – norma sobre normas.

Ressalta-se que a legislação em estudo, predispõe condições genéricas para a formação, elaboração, vi-
gência, eficácia, interpretação, integração e aplicação das leis como um todo.

Denota-se que a troca de nomes da LINDB ocorreu com o objetivo de colocar o devido adequamento à apli-
cação prática, bem como a abrangência real da lei de introdução ao seu aspecto formal pelo nome da ementa.

Desta forma, a Lei n. 12.376/2010 passou a predispor que o decreto é Lei de Introdução às Normas do Direi-
to Brasileiro, e não somente norma de cunho civil. Nesta seara, a LINDB se dirige ao legislador e aplicador do
direito de maneira diferente das demais normas jurídicas, haja vista, estas possuírem o atributo da generalidade
e se encontrarem destinadas à toda a sociedade.

Incumbe-se a LINDB de tratar das seguintes situações:

•Da vigência e da eficácia das normas jurídicas;

• Do referente ao conflito de leis no tempo;

• Do conflito de leis no espaço;

• Dos critérios hermenêuticos;

• Do referente aos critérios de integração do ordenamento jurídico;

• Das normas de direito internacional privado, nos moldes dos artigos 7º a 19;

•Das normas de direito público, nos ditames do artigo 20 ao 30.

— Das Fontes do Direito

Podemos conceituar fonte como sendo a origem, ou, formas de expressão do direito. O jurista Miguel Reale
conceitua as fontes do direito como sendo os “processos ou meios em virtude dos quais as regras jurídicas se
positivam com legítima força obrigatória”. Já o ilustre Hans Kelsen, define a fonte do direito como: “o fundamen-
to de validade da norma jurídica, decorre de uma norma superior, válida”.

Ressalta-se que classificar e dividir as fontes do direito, não é tarefa fácil segundo a doutrina. Sendo assim,
a maioria dos doutrinadores edita sua classificação, dividindo-a da seguinte forma:

• Fontes formais: São aquelas que se encontram dispostas de forma expressa na LINDB, se dividindo em
fontes primárias, que são as leis; e fontes secundarias, que se referem à analogia, aos costumes e aos princí-
pios gerais do direito.

• Fontes informais: São aquelas que se encontram dispostas na LINDB, tais como a doutrina, a jurispru-
dência e equidade.

Registra-se que existem doutrinadores que classificam as fontes formais secundárias como fontes indiretas

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ou mediatas, tendo em vista o fato de poderem ser aplicadas em situações de lacuna legal nas omissões da
lei, conforme o art. 4º que aduz: “quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito”.

— Da Analogia

Trata-se a analogia, de um método de aplicação de determinada situação que não se encontra prevista em
lei, de uma norma jurídica aproximada, ou propriamente dita, ou, de um conjunto de normas jurídicas que se
encontram sintonia com a situação a ser julgada.

Exemplo: A aplicação das regras do casamento para a constituição de união estável.

Nesse diapasão, vale a pena mencionar que a analogia não se confunde com a interpretação extensiva,
haja vista que por meio da analogia, existe rompimento com os limites previstos na norma, existindo, desta
forma, integração jurídica, ao passo que na interpretação extensiva, amplia-se somente o seu campo, havendo
subsunção.

Além disso, a subsunção e a integração tratam-se de institutos diferentes. Ao passo que a subsunção é a
aplicação direta da lei, a integração se refere ao método por meio do qual o julgador supre as lacunas da legis-
lação, vindo a aplicar as ferramentas determinadas pelo art. 4º da LINDB que predispõe sobre a analogia, os
costumes e os princípios gerais do Direito.

• Obs. importante: As normas de exceção não admitem analogia ou interpretação extensiva.

A exemplo do exposto, podemos citar as normas que colocam restrição à autonomia privada ou que são
diminuidoras da proteção de direitos referentes à dignidade da pessoa humana.

— Dos Costumes

Os costumes são as práticas reiteradas no tempo relativas à repetição de usos de comportamentos, com ca-
pacidade para criar a convicção interna no cidadão de uma necessidade jurídica de sua obediência, conforme
preconiza o artigo 113 do Código Civil.

Art. 113 . Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua cele-
bração.

São espécies de costumes:

• Costumes segundo a lei, ou, secudum legem: São aqueles expressamente previstos. Exemplo: Art. 187
do Código Civil;

• Na ausência de lei, ou, praeter lege: Aqui, os costumes são aplicados quando a lei for omissa. Exemplo:
cheque pré-datado;

• Contra a lei, ou, contra legem: Quando os costumes não são admitidos.

— Dos Princípios Gerais do Direito

Os princípios são as fontes basilares para qualquer área do direito, sendo que possuem ampla influência em
sua formação, bem como em sua aplicação.

De acordo com o Código Civil Brasileiro, três são os princípios consagrados, de acordo com a sua exposição
de motivos:

• Princípio da eticidade, ou da valorização da ética e da boa-fé;

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• Princípio da socialidade, que se trata do induzimento do princípio da função social da propriedade e dos
contratos;

• Princípio da operabilidade, ou da simplicidade e efetividade alcançada através das cláusulas gerais.

Destaca-se que existem alguns princípios gerais do Direito Civil, que surgiram com a promulgação da Cons-
tituição Federal de 1.988, e também por meio do movimento de constitucionalização do Direito Civil. Tais prin-
cípios receberam status constitucional, de forma que de acordo com o entendimento do professor Paulo Bona-
vides, terão prioridade de aplicação, ainda que haja lei específica a respeito da matéria. Exemplos: a dignidade
da pessoa humana, prevista no art. 1º, III, CFB/1988; a solidariedade social, disposta no art. 3º, I, CFB/1988; e
também, a isonomia ou igualdade material predisposta no art. 5º, caput da CFB/1.988.

— Da Equidade

Segundo o filósofo Aristóteles, a equidade é a correção do justo legal, haja vista que ela corrige a lei, quando
esta vier a se demonstrar injusta ao extremo.

Denota-se que a equidade não se encontra disposta na LINDB como forma de integração de lacunas legais.
Entretanto, o artigo 140 do CPC/2015, aponta que “o juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei”.

Assim sendo, explicita-se que o sistema jurídico aceita a equidade como uma forma de integração, quando
indicado pela própria norma e apenas em situações de previsão legal, nos termos do art. 7º, do CDC.

Norma Agendi: a Lei

A Lei é a norma jurídica e como tal, trata-se de fonte primária e direta do direito, sendo assim, uma ordem
advinda do legislador com caráter geral, universal e permanente, devendo, desta forma, advir da autoridade
competente.

— Vigência, Vigor, Ultratividade, Eficácia e Validade da Lei

Cuida-se a vigência do tempo de duração de uma norma jurídica, ou seja, o lapso temporal por intermédio
do qual a lei pode produzir efeitos, dentro do qual a lei possui vigor.

A vigência tem início com a publicação, ou, após decorrido o prazo da vacatio legis, vindo a persistir até que
seja revogada ou extinta.

Ressalta-se que o termo a quo da vigência da lei é estabelecido de forma livre pelo legislador, tendo em vista
que a vigência da norma tem forte conexão com a força vinculante da lei.

Assim sendo, para a criação de uma lei, ressalta-se que existe um procedimento próprio estabelecido pela
CFB/1988, no tocante ao Processo Legislativo, fator que envolve dentre outras etapas, a tramitação no poder
legislativo, a sanção pelo poder executivo, a promulgação e, por último, a publicação da lei que passará a vigo-
rar, segundo o art. 1º da LINDB, 45 dias após a sua publicação oficial, salvo disposição em contrário.

Ressalta-se que o início de vigência da lei se encontra previsto no art. 1º da LINBD. Normalmente as leis
indicam seu prazo de início de vigência, sendo que estes poderão ser inferior aos 45 dias mencionados na lei. 

Registra-se que no Brasil, normalmente as leis entram em vigor na data de sua publicação, fator que é con-
siderado inoportuno, haja vista que a entrada imediata em vigor deve ser reservada às leis que apresentem de
forma expressa, urgência em sua aplicabilidade. 

Em relação ao vigor da lei, trata-se da qualidade da lei em produzir efeitos jurídicos, mesmo que a lei tenha
sido revogada, sendo assim, uma força vinculante que se une ao princípio da obrigatoriedade e vincula todos
os fatos e pessoas à norma agendi, ou lei.

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Vejamos no quadro abaixo as definições diferenciadas entre a vigência e o vigor da lei:

Vigência da Lei Vigor da Lei


Trata-se da força
vinculante que se
Trata-se do período entre une ao princípio da
a entrada em vigor e a obrigatoriedade e
revogação da lei. vincula todos os fatos e
pessoas à norma agendi,
ou lei.

Já a ultratividade, trata-se de mecanismo por meio do qual, uma norma ainda sem vigência, em decorrência da
sua revogação, possui vigor, vindo a dar continuidade da regência de determinados fatos. Desta forma, normas sem
vigência podem ainda estar em vigor culminando assim o fenômeno da ultratividade, que se trata da possibilidade
material e concreta que uma lei revogada ainda venha a produzir efeitos.

No condizente à eficácia, infere-se que nada mais é do que a aptidão da norma para produzir efeitos, poden-
do ser de espécie social, técnica ou jurídica. Vejamos:

• Eficácia social ou efetividade da norma: Trata-se do cumprimento do direito por parte da sociedade;

• Eficácia técnica: Encontra-se ligada à presença de condições técnicas para sua produção de efeitos.
Exemplo: As normas constitucionais de eficácia limitada.

• Eficácia jurídica: Cuida-se do poder que toda norma possui para produzir efeitos jurídicos. Exemplo: A
revogação de norma anterior incompatível.

Em relação à validade da lei, adverte-se que esta não pode ser confundida com a vigência, haja vista ser a
validade da lei, norma válida que foi formada, originada e elaborada por órgão plenamente competente, obser-
vando-se a fiel obediência ao devido processo legal legislativo.

Em trâmites normais, ressalta-se que a lei válida se refere àquela que obedece a todos os ditames legais de
formação, bem como no que se refere ao processo legislativo.

Já na seara material, denota-se que a lei válida é aquela que se encaixa de acordo com os preceitos da
Constituição Federal Brasileira, sendo que a vigência se encontra relacionada ao instante em que a norma vá-
lida, sob a égide do aspecto formal e material, passa a ter força vinculante para os seus destinatários.

Nesse sentido, vejamos o que dispõe o artigo 1º e o parágrafo 1º, sobre o assunto em deslinde:

Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias depois de oficialmente pu-
blicada.

§ 1º Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia 3 meses depois
de oficialmente publicada.

Assim sendo, temos:

Brasil = 45 (quarenta e cinco) dias, salvo disposição em contrário.

Estado Estrangeiro = 03 (três) meses.

Registra-se, que havendo omissão da lei em relação ao início da vigência, deverá ser adotada a aplicação
da regra geral do art. 1º, vindo tal lei a entrar em vigor 45 dias após a sua publicação. Entretanto, dispondo a lei

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a data de vigência, prevalecerá a norma específica.
Obs. importante: Em relação ao assunto em deslinde, existe um importante princípio, bastante cobrado
pelas bancas examinadoras em provas de concurso, que se trata do princípio da obrigatoriedade simultânea ou
vigência sincrônica, que determina que a vigência se dá em todo o território nacional de forma simultânea, sen-
do também conhecido como critério do prazo único, porque se coloca em posicionamento contrário ao sistema
da vigência progressiva, gradual, sucessiva, que pode ser aplicada para a vigência da lei brasileira no Estado
estrangeiro no que condiz à sua aplicação no território nacional.

Vale ressaltar que o período existente entre a publicação da lei e o início de vigência é conhecido como
vacatio legis, sendo que o prazo desse instituto e o modo de cômputo do prazo deverá ser computado nos
conformes do art. 8º da Lei Complementar n. 95/1998 da seguinte forma:

Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que
dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula “entra em vigor na data de sua publicação” para as
leis de pequena repercussão.

§ 1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com
a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consu-
mação integral [vale destacar: independentemente se o dia for ou não útil]

§ 2º As leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a cláusula ‘esta lei entra em vigor após
decorridos (o número de) dias de sua publicação oficial.

Vejamos abaixo, algumas situações nas quais não se aplica o prazo da vacatio legis da LINDB:

• Para os atos administrativos: pelo fato de entrarem em vigor na data da publicação no órgão oficial. Isso
ocorre porque nesse instante, presume-se a ciência do destinatário;

• Para a vacatio constitutionis: devido ao fato das emendas constitucionais entrarem em vigor na data de
sua publicação, exceto se houver a existência de previsão expressa em outro sentido.

Além disso, dispõe o art. 2º da LINDB sobre outro notável princípio que se trata do princípio da continuidade
ou permanência da lei, que enuncia que “não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra
a modifique ou revogue”.

No entanto, em se referindo a exceções do mencionado acima, pode-se citar a lei excepcional ou temporária,
que são leis autorrevogáveis por possuírem vigência por período condicional ou temporário, sendo por isso,
ultrativas, haja vista que os efeitos dos atos praticados não se extinguem com elas. Exemplo: A Lei n. 14.010,
de 10 de junho de 2020, que na ementa, determina sobre o Regime Jurídico Emergencial e Transitório das re-
lações jurídicas de direito privado no período da pandemia da Covid-19.

Assim, a revogação põe fim à vigência de uma norma por outra, podendo ser:

a) Em relação à extensão:

• Revogação total: Ab-rogação, absoluta e total;

• Revogação parcial: Derrogação.

b) Em relação ao modo:

• Revogação direta ou expressa: É prevista na norma de forma taxativa;

• Revogação tácita ou por via oblíqua: Quando não seja com ela compatível, ou quando regule a matéria
de que tratava a lei anterior.

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Por último, vale registrar que quando a lei se torna obrigatória, passa a ter vigor com a vigência e não com
a publicação, haja vista que depois da publicação, a lei poderá ou não vir a cumprir o período de vacatio legis.

Por isso, vale a pena mencionar a importância da formação da lei que envolve três etapas, sendo elas:

• A Elaboração da lei, que ocorre desde a iniciativa até a sanção ou veto, correspondendo a todo o processo
legislativo disposto na Constituição Federal de 1988 e na Lei Complementar nº. 95/1998;

• A promulgação da lei, que pode vir a ser dispensada e trata-se da última etapa do processo legislativo,
sendo constituída na declaração de existência formal da lei, mesmo que esta ainda não tenha entrado em vigor;

• A publicação da lei, que se refere ao ato que dá publicidade à lei, tendo em vista ser a condição para que
a lei possa entrar em vigor, obedecido o lapso de vacatio legis, caso haja.

— Da Repristinação da Lei

Sobre o tema, trata o parágrafo 3º do art. 2º da LINDB nos seguintes termos: “salvo disposição em contrário,
a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência”.

Assim, de modo geral, denota-se que a repristinação não é admitida no Direito brasileiro, sendo que esse
fenômeno jurídico se encontra relacionado ao fato por meio qual uma norma revogada volta a ter vigência, em
razão da revogação da lei que a revogou. Exemplo: A Lei X foi revogada pela Lei Y, surge a Lei C que revoga a
Lei Y, aduzindo que a Lei X voltará a produzir seus efeitos.

Admite-se a repristinação em território nacional apenas nas seguintes situações:

• Na existência de previsão expressa, ou, repristinação legal;

• Em situações de declaração de inconstitucionalidade da norma revogadora, dando origem ao efeito repris-


tinatório, previsto no Direito Constitucional;

• Quando uma lei for revogada por uma Medida Provisória, porém, não foi convertida em lei.

— Da Eficácia da Lei no Tempo

Denota-se de antemão, que a eficácia da legislação no tempo é detentora de grande relevância, principal-
mente nas situações que envolvem o direito intertemporal, haja vista a existência de relações jurídicas que
foram estabelecidas sob a vigência de uma lei, porém, acabam por projetar seus efeitos quando outra lei já se
encontra em vigor.

Desse modo, o direito intertemporal trata de regular e disciplinar tais situações jurídicas nas quais os efeitos
de fato jurídico nascido com origem na vigência de uma legislação, refletirão em período quando outra legisla-
ção já estiver em vigor. A exemplo disso, podemos citar o art. 6º da LINDB que retrata e reproduz esses pres-
supostos, ao determinar que a lei em vigor terá efeito imediato e geral, sendo sempre respeitados o ato jurídico
perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

Pondera-se que as situações jurídicas já assentadas sob a vigência da lei antiga deverão ser mantidas e
preservadas pela nova legislação, haja vista que a regra no ordenamento jurídico pátrio é a irretroatividade da
lei, sendo que tal princípio possui como objetivo garantir a segurança, a confiança e a estabilidade do ordena-
mento jurídico.

Para que haja a retroatividade, são necessários alguns requisitos, sendo eles:

• A necessidade da existência de permissão legal;

• A não prejudicância do direito adquirido, do ato jurídico perfeito e da coisa julgada, que são obstáculos

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previstos na LINDB e também na CFB/1988.

Vejamos a respeito dos referidos pressupostos a que se refere o artigo 6º da LINDB em relação ao imediato
e geral efeito da lei:

Direito Adquirido

Nos parâmetros do § 2º do art. 6º da LINDB,  “Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou
alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-es-
tabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.”

Nesse diapasão, para uma melhor compreensão do tema, vale a pena mencionar o entendimento do ilustre
Caio Mario, que aduz: “são os direitos definitivamente incorporados ao patrimônio do seu titular, sejam os já
realizados, sejam os que simplesmente dependem de um prazo para o seu exercício, sejam ainda os subordi-
nados a uma condição inalterável ao arbítrio de outrem”.

Um exemplo de direito adquirido segundo a LINDB, é a distinção referente à expectativa de direito que se
caracteriza quando não se encontrarem presentes todos os fatos que são exigidos para a aquisição do direito,
sendo que o seu titular possui somente a expectativa de que um dia poderá se tornar titular do mencionado
direito. Isso ocorre quando existe um acoplado de regras autorizadoras da aquisição de um direito depois do
cumprimento de fatos predeterminados. Assim, caso o suposto titular ainda não tenha cumprido os fatos neces-
sários, não terá como alegar direito adquirido em desfavor de novo acoplado de regras.

Do Ato Jurídico Perfeito

Nesse ponto, convém mencionar que existe diferença entre ato jurídico perfeito e direito adquirido, sendo
que o direito adquirido advém de forma direta da lei, e o ato jurídico perfeito advém da vontade das partes, que
exterioriza tal vontade em consonância com a lei. Exemplo: Um contrato de compra e venda.

Da Coisa Julgada

Podemos conceituar a coisa julgada material, com o ato de autoridade que torna imutável e indiscutível a
decisão de mérito que não caiba mais interposição de recurso, sendo que a decisão de mérito transitou em
julgado.

Acontece que quando se trata de direitos disponíveis, denota-se que as partes terão o direito de dispor dos
seus direitos, ainda que a sentença já tenha transitado em julgado, haja vista que o efeito negativo da coisa
julgada evita que a mesma causa seja discutida em outro processo, com as mesmas partes, mesma causa de
pedir e mesmo pedido, sendo que o efeito positivo da coisa julgada, acaba por criar vínculo do magistrado
com o que foi decidido em lide anterior com decisão que foi protegida pela coisa julgada material ao julgar uma
segunda lide.

Entretanto, ressalta-se que o dispositivo faz coisa julgada, sendo que modificadas a situação fática e jurídica que
serviram de base e fundamento para a decisão em questão, é possível, em decorrência dos limites objetivos da coisa
julgada, que haja o proferimento de uma nova decisão com vistas à modificação da situação para o futuro.

Por fim, aduz-se que a irretroatividade não se trata de regra absoluta, posto que pode ceder em algumas
situações em decorrência da existência de outros princípios constitucionais de grande repercussão e importân-
cia.

Já a retroatividade é exceção, e se refere a mecanismo por meio do qual uma lei é aplicada para fatos an-
teriores à sua vigência.

No entendimento da maior parte da doutrina, a retroatividade pode ocorrer em graus, sendo eles:

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• Pela retroatividade de grau máximo, ou, restitutória: Aqui, a lei nova retroage para atingir os atos ou
fatos já consumados que são o direito adquirido, o ato jurídico perfeito ou coisa julgada;

• Pela retroatividade em grau médio: Nesse caso, a lei nova, sem atingir a causa que pretendia, retroage
com o fito de atingir os efeitos do fato passado, efeitos esses que se encontram pendentes;

• Pela retroatividade de grau mínimo, mitigada, ou temperada: Acontece no momento em que a lei nova
incide de forma imediata sobre os efeitos futuros dos atos ou fatos pretéritos, não conseguindo atingir os atos
ou fatos pretéritos e nem, tampouco, os seus efeitos pendentes.

— Da Eficácia da Lei no Espaço

De início, ressalta-se que o conflito de leis no espaço acontece no instante em que determinadas relações
jurídicas ultrapassam a ordem jurídica interna, vindo a se interconectar com leis estrangeiras, autônomas e in-
dependentes, sendo que irá reivindicar a definição de qual desses ordenamentos jurídicos regerá o fato e quais
serão as suas consequências ou efeitos jurídicos pertinentes.

De modo geral, aplica-se o direito nacional, sendo que o direito internacional é aplicado somente de forma
excepcional. Por esse motivo, a LINDB aplica o princípio da territorialidade moderada, ou temperada mitigada.

Entretanto, explicita-se que a Constituição Federal Brasileira sempre irá predominar sobre a norma estran-
geira que preconize a desigualdade entre homens, entre filhos durante o casamento, bem como por motivos de
raça ou religião, tendo em vista que não se aplica as normas de direito estrangeiro que contrariem as normas
de caráter constitucional.

De acordo com o artigo 7º da LINDB, o mecanismo de conexão adotado no Brasil, é o estatuto pessoal.
Assim sendo, denota-se que a lei do país em que a pessoa se encontrar domiciliada, irá determinar as regras
a respeito do início e do término da personalidade, o nome, a capacidade e também os direitos de família.
Poderá ser assim aplicada a norma legal do domicílio do estrangeiro para tais situações, bem como para bens
móveis que o proprietário tiver consigo, nos termos do artigo 8º, como o penhor e capacidade para sucessão,
por exemplo, como dispõe o artigo 10º, § 2º da LINDB.

Vale a pena ressaltar que as pessoas jurídicas se encontram vinculadas a esse critério, haja vista deverem
obedecer a lei estatal em que foram constituídas.

Nesse diapasão, são exceções do critério do estatuto pessoal:

• As relações jurídicas possuidoras de objeto imóvel: Aqui, é usado o critério real para a aplicação da lei
do lugar da coisa com o objetivo de regular as relações de posse e propriedade sobre imóveis;

• As obrigações: Nesse caso, usa-se a regra conducista, mecanismo que determina a aplicação do lugar
em que foi constituído o motivo para as relações obrigacionais;

• A sucessão: Nesse caso, usa-se a norma que for mais favorável em relação aos bens de estrangeiro
morto, situado do Brasil, em favor do cônjuge e dos filhos, nos termos do art. 10, § 1º da LINDB.

Destaca-se, por fim, que a sucessão deverá ser regida pela lei do local de domicílio do falecido, sendo que
nesta situação, tanto a nacionalidade, quanto o local da situação dos bens, não são considerados fatores rele-
vantes.

Em relação ao mencionado acima, ressalta-se que a sucessão de bens de estrangeiros situados no País
deverá ser regulamentada pela legislação brasileira, que deverá beneficiar o cônjuge ou os filhos brasileiros,
ou, ainda, os seus representantes, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus, sendo
que esta disposição contida no artigo 10, § 1º, repetido pelo art. 5º, XXXI, da Constituição Federal de 1988,

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constitui fator de exceção ao critério do último domicílio, caso a lei de nacionalidade do de cujus seja mais viável
ao cônjuge ou filhos, desde que mais favorável.

Obs. importante: A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder

— Da Competência e da Jurisdição

Nos trâmites do art. 12 da LINDB, será considerada competente a autoridade judiciária brasileira quando
for o réu domiciliado no Brasil ou, estiver no país por ter que cumprir por aqui a obrigação, sendo que nestas
situações, a jurisdição será concorrente com outros países estrangeiros. Nesses casos, de acordo com o artigo
105, I, “i”, da CFB/1988, caso exista jurisdição prestada no estrangeiro, a sentença será válida e eficaz no Brasil
após ser homologada pelo STJ. Além disso, dispõe o artigo 24 do CPC/2015 que não existe há litispendência
entre as ações no Brasil e no estrangeiro. Entretanto, denota-se que que esta norma não pode ser aplicada às
hipóteses de jurisdição exclusiva, segundo o disposto no artigo 23 do CPC/2015 e o § 1º do art. 12 da LINDB.

— Do Casamento – Direito Espacial

De antemão, infere-se que o artigo 7º da LINDB utiliza o critério do estatuto pessoal, ou, lei do domicílio da
pessoa para questões que se referem ao direito de família. Assim sendo, os parágrafos desse dispositivo apre-
sentam situações especiais, sendo que caso o casamento seja realizado no Brasil, a lei brasileira deverá ser
aplicada no que concerne aos impedimentos obstruídos, bem como às formalidades da celebração.

Nesse diapasão, caso os cônjuges sejam estrangeiros, o casamento poderá ser celebrado perante autori-
dades diplomáticas ou consulares do país de qualquer um dos nubentes, sendo que nesta situação, as regras,
formalidades e procedimentos serão as do país de origem. Lembrando que de igual forma, existe a possibilida-
de da celebração do casamento de brasileiros no exterior com a aplicação da lei brasileira, desde que seja ce-
lebrado perante autoridade consular brasileira, nos termos do artigo 18 da LINDB, devendo ambos os nubentes
ser de nacionalidade brasileira.

Sobre o tema em deslinde, vejamos alguns pontos importantes que merecem destaque, haja vista sua imen-
sa aplicação em provas de concursos e similares:

– Nos termos do parágrafo 1º do artigo 18 da LINDB, as autoridades consulares brasileiras também possuem
o condão de celebrar a separação consensual e o divórcio consensual de brasileiros, desde que não haja filhos
menores ou incapazes do casal, devendo constar da respectiva escritura pública as disposições que se referem
à descrição e à partilha dos bens comuns e à pensão alimentícia;

– Na situação acima, segundo o disposto no parágrafo 2º, é indispensável a assistência de advogado;

– O parágrafo 5º do art. 7º da LINDB dá ao estrangeiro casado que se naturaliza brasileiro, o direito de adotar
o regime da comunhão parcial de bens;

– O divórcio realizado por brasileiro no estrangeiro e seu reconhecimento no Brasil, é regulamentado pelo
parágrafo 6º do art. 7º da LINDB, sendo que para que ocorra, basta que um dos cônjuges seja brasileiro;

– Ante a situação acima, para que o divórcio tenha eficácia no Brasil, deverá se submeter a determinadas
condições para homologação de sentenças estrangeiras, sendo elas: a necessidade do lapso temporal de um
ano da data da sentença, exceto se antecedida de separação judicial por igual prazo, situação na qual, a homo-
logação irá produzir efeito imediato; a sentença deverá ser compelida aos pressupostos para a homologação
de sentenças estrangeiras no país, nos termos do artigo 960 a 965 do CPC/2015;

– De acordo com o seu regimento interno, o STJ poderá reexaminar, a pedido da parte interessada, decisões
que já foram proferidas em pedidos de homologação de sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, com

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o objetivo de que estas passem a produzir todos os efeitos legais;

– A eficácia de decisão estrangeira depende da homologação desta no Brasil;

– O parágrafo 5º do artigo 961 do CPC/2015, determina que a sentença estrangeira de divórcio consensual
ocasionará efeitos no Brasil, ainda que não haja homologação pelo Superior Tribunal de Justiça, podendo ser
levada ao cartório para registro, havendo, ou não, atividade judicial;

– São condições indispensáveis para a homologação de sentença estrangeira, de acordo com o artigo 963
do CPC/2015: autoridade competente, citação regular, eficácia no país em que proferida, não ofender a coisa
julgada brasileira, tradução oficial e não ofensa à ordem pública;

– Poderá ser executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro que acumule os seguintes requisitos:
ter sido proferida por juiz competente; terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia;
ter passado em julgado e estar revestida das formalidades indispensáveis para a execução no lugar em que foi
proferida; estar traduzida por intérprete devidamente autorizado; e ter sido homologada pelo STJ;

— Da Prova

Pondera-se que a LINDB também se encontra apta a disciplinar a questão da prova de fatos que ocorreram
no exterior.

Nesta seara, o artigo art. 13 da LINDB, determina que a prova dos fatos que aconteceram em país estran-
geiro, rege-se pela lei que naquele país vigorar, em relação ao ônus e aos meios de produzir-se, sendo que os
tribunais brasileiros não admitem provas que não sejam conhecidas pela lei brasileira. Exemplo: A Constituição
Federal Brasileira proíbe a utilização de provas ilícitas.

Desta forma, vale a pena ressaltar que o Código de Processo Civil Brasileiro utiliza o princípio da atipicidade
das provas, conforme disposto no artigo 369, sendo que, além dos meios de provas previstas em lei, também
são admitidas as provas que não se encontram previstas, desde que sejam levados em conta os meios lícitos
e morais.

Além disso, registra-se que o sistema processual brasileiro é aberto, haja vista não especificar os meios que
podem ser adotados para a demonstração da verdade dos fatos. Assim, o uso de provas atípicas não é de for-
ma ilimitada, devendo levar em conta o respeito aos direitos e garantias fundamentais de natureza processual
e material.

Nesse sentido, caso o magistrado não possua conhecimento da lei estrangeira, poderá solicitar de quem a
invoca prova do texto e da vigência, de acordo com o disposto no artigo 14 da LINDB.

Sobre o mencionado acima, denota-se que existe regra semelhante no CPC/2015 disposta no artigo 376,
que determina que a parte que alegar direito estrangeiro, entre outros, deverá provar o teor e a vigência, caso
assim o magistrado determine, sendo que esta autoridade, em caso concreto, irá averiguar a pertinência de se
determinar a prova do teor e também da vigência de lei estrangeira que é manifestada pelas partes.

— Do Direito Público e suas Inovações

De antemão, infere-se que a teoria consequencialista foi introduzida no Brasil através da edição da Lei n.
13.655/2015, que alterou a LINDB com o objetivo de trazer segurança jurídica e eficiência na criação e na apli-
cação do direito público pátrio.

Nesse sentido, o art. 20 dispõe:

Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores jurídicos

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abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.

O disposto no dispositivo acima, possui o condão de evitar que as decisões proferidas em âmbito judicial e
administrativo apresentem somente argumentos principiológicos vagos e sem precisão, sem a devida funda-
mentação, tendo em vista que o objetivo da norma é de reforçar a responsabilidade decisória estatal em des-
favor da existência de normas jurídicas indeterminadas que admitem diversas hipóteses interpretativas e mais
de uma solução para determinada demanda.

Nesta seara, denota-se que a Constituição Federal se encontra amplamente eivada de valores jurídicos
abstratos, como: a dignidade da pessoa humana, a moralidade, o bem-estar e a justiça social, o direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, dentre outros valores que são, portanto, princípios constitucionais que
possuem força normativa. Com a aplicação da norma da LINDB em estudo, o legislador busca reduzir e com-
bater o ativismo judicial.

Ressalta-se que o STF, usa muitas decisões com argumentos consequencialistas. Um exemplo disso, é uma
situação narrada por Daniel Sarmento sobre um caso no qual o STF voltou atrás em uma de suas decisões, sen-
do que havia manifestado a inconstitucionalidade da lei de conversão da Medida Provisória que criara o Instituto
Chico Mendes, pelo fato de seus precursores não terem observado a exigência determinada pela Constituição
Federal, que exige que uma comissão mista da Câmara e do Senado emita parecer sobre a Medida Provisória.

Entretanto, registra-se que o STF acabou voltando atrás nesta decisão. Isso ocorreu porque no dia seguinte
ao julgamento, a AGU, por motivos de ordem, informou que centenas de outras Medidas Provisórias se encon-
travam com o mesmo vício entre elas, tendo, inclusive, algumas delas, criado políticas públicas essenciais, a
exemplo da Bolsa Família. Desta forma, por temer as consequências práticas que o mencionado precedente
viria a causar, o STF optou por voltar atrás na invalidação da norma.

Vale a pena mencionar que o fato mais marcante da utilização do consequencialismo pelo STF se encontra
previsto na própria Lei n°. 9.868/1999, Lei da ADI, que no artigo 27 garante a modulação dos efeitos da decisão
de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, tendo em vista motivações de segurança jurídica ou de inusi-
tado interesse social.

Sobre a necessidade da existência dos órgãos de controle e do Poder Judiciário observarem, em seara admi-
nistrativa, com indicação e de maneira expressa, as consequências jurídicas e administrativas de suas decisões ao
decretar a invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, dispõe o artigo 21 da LINDB:

Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação de ato,
contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas consequências jurí-
dicas e administrativas.

Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso, indicar as condi-
ções para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos interesses gerais,
não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades do caso, sejam
anormais ou excessivos.

Ademais, em seguida, vem o parágrafo único do art. 21 tratar a respeito da regularização da situação em
situação de invalidação de ato contrato ou ajuste.

O art. 22 trata do que a doutrina chama de primado da realidade, significando que a realidade deve ser ob-
servada no condizente à interpretação das normas sobre gestão pública. Vejamos:

Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e as dificulda-
des reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos adminis-

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trados.

§ 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma
administrativa, serão consideradas as circunstâncias práticas que houverem imposto, limitado ou condicionado
a ação do agente.

§ 2º Na aplicação de sanções, serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos


que dela provierem para a administração pública, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os anteceden-
tes do agente

§ 3º As sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na dosimetria das demais sanções de mesma
natureza e relativas ao mesmo fato.

Assim, os criadores do projeto argumentam o seguinte: “a norma em questão reconhece que os diversos
órgãos de cada ente da Federação possuem realidades próprias que não podem ser ignoradas. A realidade de
gestor da União evidentemente é distinta da realidade de gestor em um pequeno e remoto município”.

Entretanto, atenta-se para o alerta de que se trata de norma perigosa, pelo fato de poder ser empregada
como método para vencer comandos legais impositivos, sob o engano das probabilidades da realidade, sendo
que as dificuldades orçamentárias não podem ser utilizadas como defesa para a não implementação de políti-
cas públicas mínimas.

Obs. Importante: a teoria da reserva do possível não pode ser invocada diante da garantia do mínimo exis-
tencial.

Explicita-se com destaque que a conduta a se seguir na interpretação da norma, pelos órgãos de controle, é
de que a realidade não pode vencer a garantia de direitos fundamentais da coletividade de modo geral.

Por último, o parágrafo do artigo em estudo, lista as circunstâncias que devem ser levadas em conta na
aplicação das sanções. Vejamos:

a) A natureza e a gravidade da infração cometida;

b) Os danos que dela advirem para a administração pública;

c) As circunstâncias agravantes ou atenuantes;

d) Os antecedentes do agente.

No condizente à consagração do direito à segurança jurídica disposto no artigo 5º, caput da CFB/1.988, que
possui como objetivo garantir a certeza e a estabilidade das relações ou situações jurídicas, sendo que em sua
vertente subjetiva a proteção à confiança legitima, de acordo com os artigos 23 e 24 da LINDB, assim prevê o
art. 23:

Art. 23. a decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer interpretação ou orientação nova
sobre norma de conteúdo indeterminado, impondo novo dever ou novo condicionamento de direito, deverá
prever regime de transição quando indispensável para que o novo dever ou condicionamento de direito seja
cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente e sem prejuízo aos interesses gerais [consagração dos
regimes de transição e a modulação dos efeitos de decisão administrativa baseada em novo entendimento.

Entende-se por regime de transição, o regime jurídico de passagem detentor de duração temporária com
vistas a buscar oferecer condições diferenciadas para possibilitar o cumprimento de nova interpretação jurídica
aos seus destinatários, que sob o regime anterior se achavam em posição mais favorável.

Por sua vez, o CPC/2015 também apresenta a variante dos efeitos das decisões, proferidas pelo STF, da

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seguinte forma:

Art. 927, § 3º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal e dos
tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode haver modulação dos efeitos
da alteração no interesse social e no da segurança jurídica.

Nesse sentido, denota-se que o legislador buscou, através do princípio da razoabilidade, que o julgador ve-
nha a considerar os custos e o tempo que for preciso para que os administrados possam se acomodar ao novo
sistema.

Desta maneira, o artigo 24 da LINDB aplica a permanência das relações e situações jurídicas já constituídas
com fundamento no direito nas orientações gerais da época, mesmo que posteriormente venha a existir alguma
mudança de orientação geral. Sobre o assunto, vejamos o que dispõe o artigo 24 da LINDB:

Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade de ato, contrato,
ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já se houver completado levará em conta as orienta-
ções gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança posterior de orientação geral, se declarem
inválidas situações plenamente constituídas.

Parágrafo único. Consideram-se orientações gerais as interpretações e especificações contidas em atos


públicos de caráter geral ou em jurisprudência judicial ou administrativa majoritária, e ainda as adotadas por
prática administrativa reiterada e de amplo conhecimento público.

Sobre o encerramento da prioridade da segurança jurídica, afirma o artigo 30 da LINDB que: “as autoridades
públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na aplicação das normas, inclusive por meio de regu-
lamentos, súmulas administrativas e respostas a consultas”. Em conclusão, aludiu no parágrafo único que “os
instrumentos previstos no caput deste artigo terão caráter vinculante em relação ao órgão ou entidade a que se
destinam, até ulterior revisão”.

Direcionado à característica da bidirecionalidade da segurança jurídica em relação ao passado/futuro, aduz


Paula de Barros Carvalho que em relação ao passado, é reivindicado um único postulado, sendo este a irre-
troatividade. No condizente ao futuro, infere-se que diversos são os expedientes principiológicos necessários.
Exemplo: A garantia do direito adquirido, do ato jurídico perfeito, da coisa julgada e a utilização da interpretação
apresentada por várias normas, destacando a que foi analisada acima.

Em análise aos artigos 26 e 27 da LlNDB, percebe-se que a lei estabelece a possibilidade da celebração
de termos de compromisso e ajustamento de conduta na administração pública entre autoridades públicas e
particulares. Assim, denota-se que a implantação desse dispositivo se trata de mais um exemplo do abandono
de uma administração pública autoritária para uma administração disciplinada na consensualidade e na parti-
cipação.

Nesse sentido, ao invés de se aplicar a atuação unilateral e impositiva da vontade administrativa, a reso-
lução para o caso concreto deverá ser produzida a partir do consenso e da participação social como um todo.

Desta maneira, infere-se que não é a vigência da norma jurídica que será contrastada, mas, sim, a interpre-
tação que for considerada a melhor em decorrência do alto grau de ausência de determinação da maior parte
de seus comando, sendo que assim, a lei irá suprimir do administrador a responsabilidade de buscar a melhor
interpretação da norma, vindo a trazer a possibilidade de solução negociada, sendo considerada indispensável
a manifestação antecipada do órgão jurídico para a realização de tal compromisso, aliado, ainda, a audiências
públicas em situações de maior repercussão.

Com o objetivo de permitir a imposição de compensação em favor da parte que tenha sofrido prejuízos in-

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justos, ou que tenha adquirido benefícios indevidos advindos do processo ou da conduta omissiva ou comissiva
das partes envolvidas na seara judicial, administrativa e controladora, o legislador criou o artigo 27 da LINDB.

Já o artigo 28 da LINDB, se encarregou do tratamento da responsabilidade do agente público por razão de


decisões ou opiniões técnicas em situações de dolo ou de erro grosseiro. Vejamos:

Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em caso de dolo
ou erro grosseiro.

Ante o estudo do retro disposto, verifica-se que o erro grosseiro é sinônimo de culpa grave haja vista ser o
dispositivo em comento, aplicável, em geral, em situações de responsabilidade regressiva.

Entretanto, nesse caso, ressalta-se que o dispositivo entra em conflito com a regra determinada na CF/1988
em seu artigo 37, § 6º. Isso acontece pelo fato de a responsabilidade regressiva da CF/1988 se contentar com
dolo ou culpa. Vejamos, in verbis:

§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos respon-
derão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso
contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Aduz-se que o retro mencionado artigo se refere à responsabilidade pessoal do agente, mas, não da pessoa
jurídica ao qual ele se encontra vinculado, à paridade com a LIA- Lei de Improbidade Administrativa.

Nesse diapasão, a maior parte da doutrina entende que a disciplina do art. 28 da LINDB não se encontram
apta a entrar em contradição com a da LIA, que por sua vez, através do art. 10 reconhece a configuração da
improbidade administrava por mera culpa no agente.

Considera-se que a culpa pronunciada na LIA, se trata da culpa prevista na seara do Direito Administrativo,
ou seja, a culpa decorrente de erro técnico ou de violação deveres de cargo, emprego ou função. Assim, temos:

ILEGALIDADE + IMORALIDADE = VIOLAÇÃO DA LEGALIDADE QUALIFICADA.

Nesse sentido, conclui-se que a aludida culpa mencionada acima, se trata da mesma culpa grave imposta
pela LINDB.

Por fim, registra-se que o artigo 29 da LINDB se encontra eivado da possibilidade de se realizar consultas
públicas em qualquer órgão ou poder, no condizente à edição de atos normativos pela autoridade administra-
tiva, com exceção dos de simples organização interna, haja vista não ter necessidade de se fazer tal consulta.

Nesse cenário, reforça-se a legitimidade democrática da administração através do instrumento da consulta


pública, como meio de participação dos cidadãos na tomada de decisões administrativas. Sendo que tais no-
vidades normativas adquirem relevo no atual momento de pandemia da Covid-19, fator que tem demandado
dos agentes públicos a adoção de um rol de medidas, que em momento posterior serão alvo de controle pelos
órgãos que possuírem atribuição para tal.

Assim, conclui-se que o referido controle dos atos administrativos praticados, deverá ser levado em conta,
a partir do momento da verificação futura dos atos íntegros ou não, advindos do agente público, sendo o argu-
mento trágico da situação de emergência da pandemia e das medidas adotadas, como a quarentena, a restri-
ção de liberdades, o lockdown, o aumento do poder de polícia, dentre outros pertinentes.

— Para que haja melhor compreensão acerca da aplicação da LINDB no Direito Civil, a título de conheci-
mento, vejamos alguns aspectos importantes em relação ao histórico da Legislação Civil, bem como da sua
evolução no Ordenamento Jurídico Brasileiro.

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Breve Histórico do Direito Civil

De início, aduz-se que para uma melhor compreensão da LINDB, necessário se faz com que haja um
estudo acerca do Direito Civil, posto que este passou por grandes transformações a partir dos séculos XIX e
XX, em especial, devido à socialização das relações privadas, de uma tutela de forma diferente para a pessoa
humana, da previsão de direitos fundamentais, do prelúdio de cláusulas gerais nesse sistema jurídico, bem
como do agregamento de princípios de natureza constitucional essenciais, como portadores da nova ordem
legal responsável pela regulação das relações entre particulares.

Nesse diapasão, pondera-se que a bipartição do direito em público e privado não reflete mais à realidade
jurídica contemporânea em decorrência da evolução da sociedade que veio a obter maior heterogeneidade nas
suas relações intersubjetivas, bem como em função da constitucionalização que o Direito Civil suportou.

Infere-se que o Direito Civil teve seu ápice no Estado Liberal, período no qual a liberdade e a autonomia dos
indivíduos nas relações privadas eram exaltadas, sendo que a consequência disso, foi a não intervenção do
poder público nos assuntos particulares.

Nesse sentido, o Estado Liberal foi consagrado através da Revolução Francesa de 1789. Assim, o próprio
Código Civil passou a ser considerado a Constituição das relações privadas.

Dando prosseguimento, ressalta-se que com o Estado Liberal, o Direito Civil tinha como objetivo, assegurar
a autonomia completa do cidadão em suas relações privadas, sendo que a Constituição passou a servir como
instrumento de limitação do poder do Estado, ao passo que o Código Civil passou a controlar as relações pri-
vadas.

Nesse período, os burgueses, que possuíam o domínio do Parlamento e que ainda tinham certo receio dos
juízes, egressos da nobreza, passaram a manter domínio sobre os juízes por meio de um sistema fechado de
leis, que não admitia qualquer espécie de interpretação, fazendo do juiz, a boca da lei, sendo que somente no
final do século XIX passou-se a aceitar a interpretação literal da lei.

Entretanto, durante a Revolução Francesa, o que se verificou foi somente o poder sendo transferido do mo-
narca para a burguesia, que seguindo a mesma diretriz do antigo regime absolutista, veio a dominar o povo.

Destaca-se que a primeira guerra mundial marcou o início da transição do Estado Liberal para o Estado So-
cial, sendo que tal transição aconteceu em concomitância com os direitos fundamentais de segunda geração,
posto que mais tarde, o Estado Social veio a se transviar para o atual Estado Democrático de Direito.

Assim sendo, a ideologia do Estado Social era baseada unicamente na justiça social e distributiva, sendo
que a Constituição nesse Estado passou a apresentar regras sobre a respeito da ordem econômica e social,
vindo a permitir a intervenção do Estado nas relações privadas.

Salienta-se que no Estado Social, o Direito Civil passou a condescender com a ideologia de justiça social,
se voltando para a necessidade de regulamentação das relações privadas pelo Estado todas as vezes que
houvesse necessidade de intervenção por parte do Estado.

Acontece que a consolidação da mencionada ideologia no Brasil, ocorreu apenas com a promulgação da
Constituição Federal de 1988. Desta maneira, o Estado passou a irromper nas relações sociais com o objetivo
de sempre prestar tutela ao mais fraco em situações concretas.

Cumpre observar que na seara do Direito Civil, a tutela mencionada acima fica evidente, tendo em vista que
as normas de ordem pública se multiplicaram e ampliaram-se as limitações à autonomia da vontade, havendo,
desta forma, mudança de paradigmas, em favor do interesse coletivo e não mais apenas do indivíduo.

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Assim, a autonomia da vontade veio a ser abrandada por princípios e valores sociais. Já a propriedade, por
se tratar de instituto pilar do Estado Liberal ao lado do contrato, no Estado Social passou a receber a tutela do
Estado apenas se tivesse uma função social.

Nesse sentido, o Direito Civil deixou de ser um mecanismo para a garantia da autonomia e liberdade dos
cidadãos, para servir como forma de promoção de justiça social nas relações privadas e a Constituição deixou
de ter concepção apenas política, vindo a utilizar também uma concepção jurídica.

Desta maneira, todas as normas constitucionais passaram a ter força normativa e o Código Civil passou a
interagir com a CFB/1988 vindo a constituir um diálogo de fontes, se tornando necessário uma reavaliação do
Direito Civil à luz do Direito Constitucional.

Do Direito Civil Clássico

De antemão, aduz-se que o Direito Civil Clássico é resultado do Pós-Estado liberal, patrimonialista, imperia-
lista adulterado em regras de conduta, sendo que nesse sistema, o legislador resolve as demandas de forma
prévia já entregando a solução pronta em uma regra.

São três pilares de sustentação do Direito Civil Clássico. Vejamos:

• Positivismo: Pode ser dividido em positivismo clássico e positivismo normativo, sendo que no primeiro, a
atividade hermenêutica era altamente restrita e o juiz era a boca da lei, além do direito se encontrar centraliza-
do no poder legislativo. Já no positivismo normativo, Kelsen, afirma a teoria pura do Direito, entendendo que o
sistema jurídico é autossuficiente.

• Estrutura e formalidade: Nesse caso, os institutos de Direito Civil são analisados sob perspectiva estru-
tural/formal. Exemplo: Tendo o indivíduo a posse, basta que a situação fática esteja adequada ao que prevê a
legislação.

• Estado Liberal: O Código Civil é o figurante das relações privadas, haja vista que os institutos de Direito
Civil são um fim em si mesmos e o Estado Liberal se desdobra somente no concernente aos direitos fundamen-
tais de primeira geração.

Do Direito Civil Contemporâneo

Nesta seara, o paradigma das relações jurídicas existente entre os entes privados, que é o objeto de estudo
do Direito Civil, é a CFB/1988. Por esse motivo, é necessário compreender o Direito Civil por meio dos funda-
mentos do elemento constitucional, sendo que tais fundamentos são amplamente abertos e valorativos.

Dois são os pilares que fundamentam o instituto do Direito Civil Clássico, sendo eles: o fundamento e a
finalidade.

Denota-se que no Direito Civil contemporâneo, todos os institutos são considerados instrumentais. Exemplo:
A instituição familiar é um instrumento para que se possa tutelar a dignidade das pessoas que integram aquele
núcleo.

Sobre o assunto, ressalta-se que o ECA determina em seu caderno, que a adoção é irrevogável. Entretanto,
o STJ, ao interpretar esta regra, predispõe que nem sempre a adoção será irrevogável, e apenas assim será, se
o vínculo de filiação que advém da adoção dispuser de dignidade para o adotado, caso contrário, ele pode des-
constituir esse vínculo e procurar outro. Nesse caso, os direitos são funcionalizados e devem ter uma finalidade,
haja vista que tudo deve servir como instrumento para a finalidade maior do Direito Civil, que é a concretização
da dignidade da pessoa humana.

Paradigmas do Direito Civil Contemporâneo

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Pós-Positivismo: No pós-positivismo o Direito se encontra relacionado à moral, sendo que esses valores
morais adentram no ordenamento jurídico através dos princípios.

No Brasil possuímos um sistema misto composto de regras e de princípios. No entanto, o pós-positivismo


transforma toda a postura de análise e de entendimento do Direito Civil no que concerne a essas questões,
principalmente no que se refere ao âmbito da hermenêutica.

Desta forma, valores morais contidos na CFB/1988 passaram a interagir com as regras supracitadas que
passarão a ser o seu fundamento, formando, assim, o Direito Civil Constitucional.

Análise Estrutural Funcional dos Institutos de Direito Civil: Na seara contemporânea, para uma melhor
compreensão do instituto, é necessário agregar à estrutura uma ideologia de finalidade, tendo em vista que é a
partir dela que será possível averiguar no caso concreto, se o seu direito se encontra em sintonia com os valo-
res sociais constitucionais que venham a justificar ou fundamentar o seu direito, sendo que tal finalidade integra
o conteúdo do seu direito. Exemplo: Quando alguém possui o direito de propriedade, desse direito transcorrem
poderes do proprietário, segundo a visão clássica/liberal.

Obs. importante: Na atualidade, o Direito Civil Brasileiro pode ser sintetizado na forma: DIREITO CIVIL =
FUNÇÃO + PODER/DEVER. Exemplo: Aduz-se que a capacidade de fato ou de exercício, trata-se do poder
que o indivíduo possui para exercer direitos. Entretanto, na atualidade, tal capacidade se encontra condiciona-
da pela finalidade, sob pena de configurar abuso de poder.

Das Características do Direito Civil Pós-Positivismo

No pós-positivismo, o sistema civil passou a ser de forma aberta, sendo que as regras jurídicas também
passaram a ser gênero, dos quais são espécies as regras e os princípios.

Desta maneira, os princípios passaram a ser possuidores de força normativa primária, onde a pessoa hu-
mana é inclusa no centro do sistema jurídico e por ela deve se laborar em prol da garantia de uma vida digna,
onde a moral e a ética interagem com o direito no pós-positivismo.

Nesse sentido, o sistema acabou por se abrir para ter contato com esses valores sociais. No pós-positivis-
mo para que a norma fosse considerada justa, deveria se encontrar adepta a valores morais, que no modelo
contemporâneo se encontram relacionadas à finalidade e à função do direito, vindo, assim, a justificar todos
os institutos pertencentes ao Direito Civil, ao passo que no positivismo, os princípios são fontes secundárias e
acessórias de direito.

Por último, convém destacar que o pós-positivismo é mecanismo conectável ao neoconstitucionalismo, ten-
do em vista que se trata de fundamento jusfilosófico deste, sendo que o neoconstitucionalismo é possuidor das
seguintes características:

• Constitucionalização do direito com difusão das normas e valores constitucionais para todo o sistema;

• Princípios com força normativa;

• Reaproximação entre direito e moral;

• Judicialização da política e das relações sociais como um todo;

• Modificação da teoria das normas, fontes, interpretação e teoria dos direitos fundamentais edificados no
princípio da dignidade da pessoa humana.

Dos Princípios Constitucionais e sua Importância para o Direito Civil

Contemporaneamente, tanto a força normativa dos princípios constitucionais, quanto a eficácia jurídica dos

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direitos sociais previstos na Constituição Federal são fatores reais e de grande importância para o ordenamen-
to jurídico. Por esse motivo, foi constituída uma teoria dos direitos fundamentais com fundamento no princípio
constitucional, bem como na cláusula geral da dignidade da pessoa humana, sendo que assim, a CFB/1988
veio a pôr a pessoa humana no centro das relações jurídicas, vindo a conferir-lhe uma tutela diferenciada, em
especial na seara dos direitos fundamentais.

Desse modo, pelo fato da pessoa humana ter passado a possuir a tutela especial do Estado, ressalta-se que
a preservação da sua dignidade constitui o próprio fundamento do Estado Democrático de Direito, sendo que
os direitos fundamentais cumprem esse papel.

Os valores constitucionais sociais podem ser aplicados de acordo com os seguintes critérios constitucionais:

Dignidade da Pessoa Humana

Com fundamento no artigo 1º, III da CFB/1.988, destaca-se que a República Federativa do Brasil possui
como fundamento a dignidade da pessoa humana. Explicitando que a cláusula geral de tutela da pessoa huma-
na possui repercussão de forma direta nas relações privadas, nas quais os princípios de Direito Civil possuem
a função de identificar valores existenciais garantidores de que a pessoa humana possa viver com dignidade.

É importante salientar que o princípio da dignidade da pessoa humana coloca o ser humano no centro do
sistema jurídico e que ao seu redor, circulam todos os demais institutos.

Assim, explica-se a existência da teoria do patrimônio mínimo no Código Civil, haja vista que esta teoria se
trata de patrimônio como forma de garantia do mínimo existencial material para que a pessoa consiga viver com
dignidade e em consequência disso, é nula a doação de todos os bens, de acordo com o artigo 548 do Código
Civil.

Sobre os fundamentos de aferição para a concretização informativa da dignidade humana, vejamos:

FUNDAMENTOS DE AFERIÇÃO PARA A CONCRETIZAÇÃO

INFORMATIVA DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

– Não instrumentalização, pois, a pessoa não é meio, mas fim em si mesma;

– Autonomia existencial com o direito de fazer escolhas, projetos de vida e de atuar segundo essas esco-
lhas;

– Direito ao mínimo existencial;

– Direito ao reconhecimento ante a necessidade de respeito às identidades singulares.

Solidariedade Social

Na atualidade, as relações privadas são de cooperação e mútua assistência. Nesse diapasão, com o princí-
pio da solidariedade, os conceitos de adimplemento, inadimplemento e a caracterização da relação entre credor
e devedor sofreram notáveis modificações.

Assim, aduz-se que a teoria do adimplemento substancial trata-se de um desdobramento do princípio da


solidariedade constitucional, levando em conta que existe a possibilidade de se preservar a obrigação e evitar
a resolução desta com fundamento no inadimplemento mínimo.

Assim, o princípio da solidariedade projeta conciliar as exigências coletivas e os interesses particulares,


sendo que atualmente o Direito Civil acaba por suportar grande alteração em seu conteúdo, tendo em vista que
os valores mudaram e as relações são privadas, porém, o direito é privado, mas sempre deverá prevalecer o

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interesse público.

Igualdade Substancial

Com o surgimento do Estado Social, ressalta-se que o princípio da isonomia passou a vigorar com outro
significado, não bastando que todos os indivíduos sejam iguais considerados perante a lei, tendo em vista que
é dever do Estado tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida da sua desigualdade.

Nesse âmbito, o Código Civil busca estabelecer tal igualdade nas relações privadas. Um exemplo disso se
encontra inserido no artigo 157 que permite a anulação do negócio jurídico se restar caracterizada a lesão, posto
que as relações devem nascer equilibradas.

Denota-se também que a igualdade material concede sustentação aos princípios da função social e da boa-
-fé objetiva, que são considerados como fundamentos do Direito Civil, sendo que a relação jurídica somente
terá função social, dentre outras razões, se a dignidade humana estiver sendo preservada, com a prevalência
da solidariedade, equilíbrio econômico e financeiro, bem como tratamento materialmente igualitário.

Por fim, registra-se que embora os princípios e regras de direito privado tenham sido transladados para a
Constituição Federal, o Código Civil ainda continua sendo considerado o ramo do direito que aglutina o conjunto
de princípios e normas com vistas a disciplinar as relações jurídicas comuns e possuidoras de natureza privada.

Nesse sentido, verifica-se que a expressão “direito civil constitucional”, trata-se de uma mudança de postura
no ato de interpretar a Legislação Civil, significando um notável processo de elevação ao plano constitucional
dos princípios fundamentais de Direito Civil.

Dos Paradigmas do Direito Civil Contemporâneo

Em relação a esse subtema, ressalta-se que o Direito Civil contemporâneo devidamente constitucionalizado
e incluído dentro de um padrão ou sistema pós-positivista, se encontra se subjugado a alguns paradigmas.
Vejamos cada um deles:

a) Operabilidade: Com o objetivo de conferir maior flexibilidade ao intérprete, a Legislação Civil utiliza
cláusulas gerais e conceitos jurídicos indeterminados. Desse modo, a técnica utilizada pela Legislação Civil é
permissionária de análise concreta, efetiva, pontual e adequada para que casos difíceis e complexos sejam
solucionados.

b) Socialidade: Trata-se da superação do individualismo e do sentido absoluto da vontade, onde os direitos


subjetivos, desde que com fundamento na vontade, passam a ter uma função dentro do direito, que se trata da
adequação da vontade aos valores sociais constitucionais.

c) Eticidade: Se refere à obediência e aplicação do princípio da boa-fé objetiva ou boa-fé de comporta-


mento/conduta, sendo que nas relações de natureza privada, esse princípio impõe às partes, padrão ético de
comportamento e conduta em suas relações como um todo. A eticidade aliada à boa-fé, possui três funções de
alta relevância no Direito Civil contemporâneo, sendo elas:

• A função de Interpretação, inclusa no artigo 113 do Código Civil, que serve como parâmetro de interpreta-
ção para atos jurídicos e sentido estrito e negócio jurídico;

• A função de controle, disposta no artigo art. 187 do Código Civil, que informa que a boa-fé objetiva é impo-
sitora de limitações ao exercício de direitos subjetivos e potestativos, que são fundamentos da teoria do abuso
de direito, tanto por ação, quanto por omissão.

• A função de complemento, devidamente inclusa no artigo 422 do Código Civil que dispõe sobre a criação
de deveres anexos, colaterais, secundários, mesmo que sejam implícitos, ou não, nas obrigações em geral,

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como por exemplo: o dever de lealdade, de proteção, dentre entre outros considerados essenciais para o adim-
plemento de obrigações, tendo em vista que caso esses deveres sejam violados, caracterizar-se-á inadimple-
mento com violação positiva do contrato, havendo, ou não o do cumprimento da prestação principal.

DECRETO-LEI Nº 4.657, DE 4 DE SETEMBRO DE 1942

Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. (Redação dada pela Lei nº 12.376, de 2010)

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que lhe confere o artigo 180 da Constituição, de-
creta:

Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de
oficialmente publicada.

§ 1o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses
depois de oficialmente publicada. (Vide Lei nº 1.991, de 1953) (Vide Lei nº 2.145, de 1953) (Vide Lei nº 2.410,
de1955) (Vide Lei nº 2.770, de 1956) (Vide Lei nº 3.244, de 1957) (Vide Lei nº 4.966, de 1966) (Vide Decreto-Lei
nº 333, de 1967) (Vide Lei nº 2.807, de 1956) (Vide Lei nº 4.820, de 1965)

§ 2o (Revogado pela Lei nº 12.036, de 2009).

§ 3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo
deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.

§ 4o As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.

Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.

§ 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou
quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.

§ 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem
modifica a lei anterior.

§ 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigên-
cia.

Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.

Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios
gerais de direito.

Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.

Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a
coisa julgada. (Redação dada pela Lei nº 3.238, de1957)

§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. (In-
cluído pela Lei nº 3.238, de 1957)

§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como
aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de
outrem. (Incluído pela Lei nº 3.238, de 1957)

§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso. (Incluído pela
Lei nº 3.238, de 1957)

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Art. 7o A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personali-
dade, o nome, a capacidade e os direitos de família.

§ 1o Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes
e às formalidades da celebração.18/11/2021 20:31 Del4657compilado www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
-lei/del4657compilado.htm 2/5

§ 2oO casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas ou consulares do


país de ambos os nubentes. (Redação dada pela Lei nº 3.238, de 1957)

§ 3o Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio a lei do primeiro
domicílio conjugal.

§ 4o O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os nubentes domicílio,
e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal.

§ 5º - O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa anuência de seu cônjuge,
requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de
comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e dada esta adoção ao competente registro.
(Redação dada pela Lei nº 6.515, de 1977)

§ 6º O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasileiros, só será reconhecido


no Brasil depois de 1 (um) ano da data da sentença, salvo se houver sido antecedida de separação judicial por
igual prazo, caso em que a homologação produzirá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas
para a eficácia das sentenças estrangeiras no país. O Superior Tribunal de Justiça, na forma de seu regimento
interno, poderá reexaminar, a requerimento do interessado, decisões já proferidas em pedidos de homologação
de sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos legais.
(Redação dada pela Lei nº 12.036,de 2009).

§ 7o Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se ao outro cônjuge e aos filhos não
emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob sua guarda.

§ 8o Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua residência ou naquele
em que se encontre.

Art. 8o Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que
estiverem situados.

§ 1o Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens moveis que ele trouxer
ou se destinarem a transporte para outros lugares.

§ 2o O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre a coisa ape-
nhada.

Art. 9o Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á alei do país em que se constituírem.

§ 1o Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será esta ob-
servada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato.

§ 2o A obrigação resultante do contrato reputa-se constitui dano lugar em que residir o proponente.

Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto ou o de-
saparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens.

§1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício

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do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei
pessoal do de cujus. (Redação dada pela Lei nº 9.047, de 1995)

§ 2o A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder.

Art. 11. As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as fundações, obe-
decem à lei do Estado em que se constituírem.

§ 1o Não poderão, entretanto ter no Brasil filiais, agência sou estabelecimentos antes de serem os atos
constitutivos aprovados pelo Governo brasileiro, ficando sujeitas à lei brasileira.

§ 2o Os Governos estrangeiros, bem como as organizações de qualquer natureza, que eles tenham consti-
tuído, dirijam ou hajam investido de funções públicas, não poderão adquirir no Brasil bens imóveis ou suscep-
tiveis de desapropriação.

§ 3o Os Governos estrangeiros podem adquirir a propriedade dos prédios necessários à sede dos represen-
tantes diplomáticos ou dos agentes consulares. (Vide Lei nº 4.331, de 1964)18/11/2021.

Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver
de ser cumprida a obrigação.

§ 1o Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações relativas a imóveis situados no Brasil.

§ 2o A autoridade judiciária brasileira cumprirá, concedido o exequature segundo a forma estabelecida pela
lei brasileira, as diligências deprecadas por autoridade estrangeira competente, observando a lei desta, quanto
ao objeto das diligências.

Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto ao ônus e
aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desconheça.

Art. 14. Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem a invoca prova do texto e da vigência.

Art. 15. Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reúna os seguintes requisitos:

a) haver sido proferida por juiz competente;

b) terem sido os partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia;

c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a execução no lugar em que
foi proferida;

d) estar traduzida por intérprete autorizado;

e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal. (Vide art.105, I, i da Constituição Federal).

Parágrafo único. (Revogado pela Lei nº 12.036, de 2009).

Art. 16. Quando, nos termos dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista
a disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão por ela feita a outra lei.

Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão
eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.

Art. 18. Tratando-se de brasileiros, são competentes as autoridades consulares brasileiras para lhes celebrar
o casamento e os mais atos de Registro Civil e de tabelionato, inclusive o registro de nascimento e de óbito
dos filhos de brasileiro ou brasileira nascido no país da sede do Consulado. (Redação dada pela Lei nº 3.238,
de 1957)

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§ 1º As autoridades consulares brasileiras também poderão celebrar a separação consensual e o divórcio
consensual de brasileiros, não havendo filhos menores ou incapazes do casal e observados os requisitos legais
quanto aos prazos, devendo constar da respectiva escritura pública as disposições relativas à descrição e à
partilha dos bens comuns e à pensão alimentícia e, ainda, ao acordo quanto à retomada pelo cônjuge de seu
nome de solteiro ou à manutenção do nome adotado quando se deu o casamento. (Incluído pela Lei nº 12.874,
de 2013) Vigência

§ 2o É indispensável a assistência de advogado, devidamente constituído, que se dará mediante a subscri-


ção de petição, juntamente com ambas as partes, ou com apenas uma delas, caso a outra constitua advogado
próprio, não se fazendo necessário que a assinatura do advogado conste da escritura pública. (Incluído pela
Lei nº 12.874,de 2013) Vigência

Art. 19. Reputam-se válidos todos os atos indicados no artigo anterior e celebrados pelos cônsules brasilei-
ros na vigência do Decreto-lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942, desde que satisfaçam todos os requisitos
legais. (Incluído pela Lei nº 3.238, de 1957)

Parágrafo único. No caso em que a celebração desses atos tiver sido recusada pelas autoridades consula-
res, com fundamento no artigo 18 do mesmo Decreto-lei, ao interessado é facultado renovar o pedido dentro
em90 (noventa) dias contados da data da publicação desta lei. (Incluído pela Lei nº 3.238, de 1957)

Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores jurídicos
abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão. (Incluído pela Lei nº13.655, de
2018) (Regulamento)

Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta ou da invali-


dação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das possíveis alternativas.
(Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)18/11/2021 20:31

Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação de ato,
contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas consequências jurí-
dicas e administrativas. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018) (Regulamento)

Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso, indicar as condi-
ções para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos interesses gerais,
não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades do caso, sejam
anormais ou excessivos. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e as dificulda-
des reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos adminis-
trados. (Regulamento)

§ 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma ad-
ministrativa, serão consideradas as circunstâncias práticas que houverem imposto, limitado ou condicionado a
ação do agente. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

§ 2º Na aplicação de sanções, serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos


que dela provierem para a administração pública, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os anteceden-
tes do agente. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

§ 3º As sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na dosimetria das demais sanções de mesma
natureza e relativas ao mesmo fato. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

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Art. 23. A decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer interpretação ou orientação nova
sobre norma de conteúdo indeterminado, impondo novo dever ou novo condicionamento de direito, deverá
prever regime de transição quando indispensável para que o novo dever ou condicionamento de direito seja
cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente e sem prejuízo aos interesses gerais. (Regulamento)

Parágrafo único. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade de ato, contrato,
ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já se houver completado levará em conta as orienta-
ções gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança posterior de orientação geral, se declarem
inválidas situações plenamente constituídas. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018) (Regulamento)

Parágrafo único. Consideram-se orientações gerais as interpretações e especificações contidas em atos


públicos de caráter geral ou em jurisprudência judicial ou administrativa majoritária, e ainda as adotadas por
prática administrativa reiterada e de amplo conhecimento público. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Art. 25. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Art. 26. Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na aplicação do direito públi-
co, inclusive no caso de expedição de licença, a autoridade administrativa poderá, após oitiva do órgão jurídico
e, quando for o caso, após realização de consulta pública, e presentes razões de relevante interesse geral, ce-
lebrar compromisso com os interessados, observada a legislação aplicável, o qual só produzirá efeitos a partir
de sua publicação oficial. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018) (Regulamento)

§ 1º O compromisso referido no caput deste artigo: (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

I - buscará solução jurídica proporcional, equânime, eficiente e compatível com os interesses gerais; (Incluí-
do pela Lei nº 13.655, de 2018)

II – (VETADO); (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

III - não poderá conferir desoneração permanente de dever ou condicionamento de direito reconhecidos por
orientação geral; (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

IV - deverá prever com clareza as obrigações das partes, o prazo para seu cumprimento e as sanções apli-
cáveis em caso de descumprimento. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

§ 2º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)18/11/2021

Art. 27. A decisão do processo, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, poderá impor compen-
sação por benefícios indevidos ou prejuízos anormais ou injustos resultantes do processo ou da conduta do
envolvidos. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018) (Regulamento)

§ 1º A decisão sobre a compensação será motivada, ouvidas previamente as partes sobre seu cabimento,
sua forma e, se for o caso, seu valor. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

§ 2º Para prevenir ou regular a compensação, poderá ser celebrado compromisso processual entre os en-
volvidos. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em caso de dolo
ou erro grosseiro. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018) (Regulamento)

§ 1º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

§ 2º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

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§ 3º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Art. 29. Em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por autoridade administrativa, salvo os de
mera organização interna, poderá ser precedida de consulta pública para manifestação de interessados, pre-
ferencialmente por meio eletrônico, a qual será considerada na decisão. (Incluído pela Lei nº 13.655,de 2018)
(Vigência) (Regulamento)

§ 1º A convocação conterá a minuta do ato normativo e fixará o prazo e demais condições da consulta pú-
blica, observadas as normas legais e regulamentares específicas, se houver. (Incluído pela Lei nº 13.655, de
2018) (Vigência)

§ 2º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018) (Vigência)

Art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na aplicação das normas,
inclusive por meio de regulamentos, súmulas administrativas e respostas a consultas. (Incluído pela Lei nº
13.655, de 2018) (Regulamento)

Parágrafo único. Os instrumentos previstos no caput deste artigo terão caráter vinculante em relação ao
órgão ou entidade a que se destinam, até ulterior revisão. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Rio de Janeiro, 4 de setembro de 1942, 121o da Independência e 54oda República.

Pessoas naturais. Personalidade. Capacidade. Nome. Estado. Domicílio. Direitos da


personalidade

— Das Pessoas Naturais

Podemos conceituar as pessoas naturais como sendo as pessoas físicas, haja vista serem o ser humano
considerado como sujeito de direitos e obrigações. Assim sendo, pondera-se que para ser uma pessoa, basta
existir, nascer com vida e adquirir personalidade jurídica.

Personalidade Jurídica

Personalidade jurídica é a capacidade abrangente para titularizar direitos e contrair obrigações, ou, seja, é o
atributo para ser sujeito de direito, sendo que após adquirida a personalidade, poderá atuar o ente na condição
de sujeito de direito, tanto como pessoa natural quanto como pessoa jurídica, podendo operar com a prática de
atos e negócios jurídicos de diferentes situações.

No condizente à pessoa natural ou física, denota-se que o Código Civil de 2002 determina no artigo 1º, o
seguinte:

Art. 1º. Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.

A determinação acima, é permissionária da inferência de que a personalidade é um atributo de toda e qual-


quer pessoa, independentemente de ser ela natural ou jurídica, tendo em vista que a própria norma civil não faz
tal distinção em seu caderno processual.

De acordo com o artigo 2º do Código Civil de 2002, a personalidade jurídica, ocorre a partir do nascimento
com vida. Desta maneira, no momento em que inicia o funcionamento do aparelho cardiorrespiratório, clinica-
mente aferível pelo exame de docimasia hidrostática de Galeno, o recém-nascido passa a adquirir personali-
dade jurídica, vindo a se tornar sujeito de direito, ainda que venha a falecer minutos depois do seu nascimento.

Ao processo mencionado acima, de acordo com a Doutrina, dá-se o nome de teoria natalista, sendo que

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de acordo com essa diretriz, caso o recém-nascido, cujo pai já tenha falecido, venha a falecer minutos após o
parto, irá adquirir todos os direitos sucessórios do seu genitor deverão ser transferidos para a sua mãe.

Do nascituro

Trata-se o nascituro do ser humano concebido, mas que ainda não nasceu.

Nesse sentido, denota-se que o Código Civil trata do nascituro mesmo quando ele não é considerando exa-
tamente uma pessoa, colocando a salvo a proteção legal dos seus direitos desde a concepção, nos ditames do
artigo 2º do Código Civil. Vejamos:

Art. 2 o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a
concepção, os direitos do nascituro.

Denota-se que embora haja profunda controvérsia doutrinária, no Brasil, é adotada a tradicional teoria na-
talista, por intermédio da qual a aquisição da personalidade é operada a partir do nascimento com vida, sendo
que não sendo pessoa, o nascituro possuiria somente mera expectativa de direito.

São direitos do nascituro:

a) A titularidade de direitos personalíssimos: o direito à vida, o direito à proteção pré-natal, dentre outros;

b) Receber doação, sem que haja prejuízo do recolhimento do imposto de transmissão inter vivos;

c) O benefício do legado e da herança;

d) O Código Penal tipifica o crime de aborto;

e) Como consequência da proteção garantida pelos direitos da personalidade, o nascituro tem direito à rea-
lização do exame de DNA, para efeito de verificação de paternidade;

f) Direito a alimentos gravídicos que compreendem todos os gastos necessários à proteção do feto, por não
ser justo que a genitora suporte todos os encargos da gestação sem a colaboração econômica do pai da crian-
ça que está irá nascer.

Da Capacidade

Após adquirida a personalidade jurídica, toda pessoa passa a ser capaz de direitos e obrigações, vindo a
possuir, desta forma, capacidade de direito ou de gozo.

Nesse diapasão, toda pessoa possui capacidade de direito advinda do fato de que a personalidade jurídica
se trata de atributo inerente à sua condição.

Ressalta-se que nem toda pessoa possui aptidão para exercer de forma pessoal os seus direitos com a
prática de atos jurídicos, em decorrência de limitações orgânicas ou psicológicas. Assim sendo, caso possam
atuar pessoalmente, possuem, também, capacidade de fato ou de exercício, sendo que reunidos esses dois
atributos, possuirão capacidade civil plena. Desta forma, temos:
CAPACIDADE CIVIL PLENA = a pessoa não possui aptidão para exercer de forma pessoal os seus direitos
com a prática de atos jurídicos, por razão de limitações orgânicas ou psicológicas + podendo as pessoas atuar
pessoalmente, possuirão capacidade de fato ou de exercício.

Em relação à capacidade, aduz-se que nem toda pessoa capaz pode estar apta à prática de determinado ato
jurídico, sendo que a legitimação traduz uma capacidade específica.

Em decorrência de um interesse que se pretende preservar, ou considerando a situação particular de deter-


minada pessoa que se deseja proteger, foram criados impedimentos circunstanciais, que não podem ser con-

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fundidos com as hipóteses legais incapacidade. A título de exemplo, podemos citar o tutor que mesmo sendo
maior e capaz, não poderá adquirir bens móveis ou imóveis do tutelado, segundo o artigo 1.749, I, do CC/2002).

Da mesma forma, depreende-se que dois irmãos, sendo maiores e capazes, não poderão se casar, de acor-
do com o artigo 1.521, IV, do CC/2002, sendo que em tais situações o tutor e os irmãos estarão impedidos de
praticar o ato por ausência de legitimidade ou de capacidade específica para o ato.

O ilustre Sílvio Venosa se manifesta sobre o assunto, da seguinte maneira: “Não se confunde o conceito de
capacidade com o de legitimação. A legitimação consiste em se averiguar se uma pessoa, perante determinada
situação jurídica, tem ou não capacidade para estabelecê-la. A legitimação é uma forma específica de capa-
cidade para determinados atos da vida civil. O conceito é emprestado da ciência processual. Está legitimado
para agir em determinada situação jurídica quem a lei determinar. Por exemplo, toda pessoa tem capacidade
para comprar ou vender. Contudo, o art. 1.132 do Código Civil estatui: ‘os ascendentes não podem vender aos
descendentes, sem que os outros descendentes expressamente consintam’. Desse modo, o pai, que tem a ca-
pacidade genérica para praticar, em geral, todos os atos da vida civil, se pretender vender um bem a um filho,
tendo outros filhos, não poderá fazê-lo se não conseguir a anuência dos demais filhos. Não estará ele, sem tal
anuência, ‘legitimado’ para tal alienação. Num conceito bem aproximado da ciência do processo, legitimação é
a pertinência subjetiva de um titular de um direito com relação a determinada relação jurídica. A legitimação é
um plus que se agrega à capacidade em determinadas situações”.

Desta maneira, de forma esquematizada, temos:

CAPACIDADE

Capacidade de direito = capacidade genérica;

Capacidade de fato, ou, de exercício = capacidade em sentido estrito que se trata da medida do exercício
da personalidade;

Capacidade específica = legitimidade com a ausência de impedimentos jurídicos circunstanciais para a


prática de determinados atos.

Da Incapacidade

Estando ausente a capacidade de fato, nos encontraremos diante da incapacidade civil absoluta ou relativa,
que se tratam de temas que passaram por significativas mudanças com a Lei n. 13.146, de 6 de julho de 2015
— Estatuto da Pessoa com Deficiência — após a sua entrada em vigor, em janeiro de 2016.

Da Incapacidade absoluta

A previsão legal da incapacidade é a falta de aptidão para praticar pessoalmente atos da vida civil, haja vista
encontrar-se nesta condição a pessoa que não possua capacidade de fato ou de exercício, se encontrando
impossibilitada de manifestar real e juridicamente a sua vontade.

Segundo o Código Civil de 2002 são absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:

A) Os menores de 16 anos;

B) Os que por enfermidade, ou, doença mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática des-
ses atos;

C) Os que mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.

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Obs. importante: A incapacidade jurídica não é excludente absoluta de responsabilização patrimonial, tendo
em vista que nos ditames do art. 928 do Código Civil de 2002, “o incapaz responde pelos prejuízos que causar,
se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes”.

Com efeito, ressalta-se que a disciplina acima, foi dada desde a entrada em vigor do atual Código Civil. No
entanto, com a provação da Lei nº. 13.146/2015 — Estatuto da Pessoa com Deficiência — ocorreu uma ver-
dadeira reconstrução jurídica.

Nesse sentido, o Estatuto suprimiu a pessoa com deficiência da categoria de incapaz, ou seja, a pessoa com
deficiência, caracterizada como aquela que possui impedimento de longo prazo, de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial.

De acordo com o art. 2º do Estatuto da Pessoa com Deficiência, a pessoa com deficiência não deverá mais
ser considerada civilmente incapaz, tendo em vista que os artigos 6º e 84 da mesma legislação determinam que
a deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa. Vejamos:

Art. 6º A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para:

I — casar-se e constituir união estável;

II — exercer direitos sexuais e reprodutivos;

III — exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre
reprodução e planejamento familiar;

IV — conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória;

V — exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e

VI — exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade
de oportunidades com as demais pessoas.

(...)

Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício de sua capacidade legal em igual-
dade de condições com as demais pessoas.

Em alusão aos mencionados dispositivos, verifica-se que que o Estatuto, com o objetivo de prestigiar o
princípio da dignidade da pessoa humana, fez com que a pessoa com deficiência deixasse de ser considerada
como incapaz, para, dentro de uma perspectiva constitucional isonômica ser considerada como possuidora
de plena capacidade legal, mesmo com a necessidade de acolhimento de institutos assistenciais específicos,
como a tomada de decisão apoiada, bem como a curatela, para a prática de atos na vida civil.

Em síntese, vejamos os principais pontos de destaque a respeito da incapacidade absoluta:

– Nos termos do artigo 85, § 2º do CC/2002, “a curatela constitui medida extraordinária, devendo constar da
sentença as razões e motivações de sua definição, preservados os interesses do curatelado”.

– A pessoa com deficiência é dotada de capacidade legal, mesmo que se valha de institutos assistenciais
para a condução da sua própria vida.

– Em relação ao direito matrimonial, nos parâmetros do § 2º do art. 1.550, a pessoa com deficiência mental
ou intelectual, em idade núbil, poderá contrair núpcias, podendo expressar sua vontade diretamente ou por
meio do seu responsável ou curador.

– A pessoa com deficiência passou a ser considerada legalmente capaz.

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– O art. 4º do Código Civil que se responsabiliza pela incapacidade relativa, foi modificado no inciso I, no qual
permaneceu a previsão dos menores púberes, que são aqueles que possuem idade entre 16 anos completos
e 18 anos incompletos;

– Já o inciso II do referido dispositivo acima, suprimiu a menção à deficiência mental, fazendo referência
somente aos “ébrios habituais e os viciados em tóxico”;

– Referente ao inciso III, do retro mencionado artigo, depreende-se que este passou a tratar, somente das
pessoas que, “por causa transitória ou permanente, não possam exprimir a sua vontade”;

– O pródigo permaneceu como incapaz.

Da Incapacidade Relativa

De antemão, infere-se que existe diferença entre a absoluta incapacidade e a plena capacidade civil, as
capacidades de discernimento e de autodeterminação, se referindo a legislação aos relativamente incapazes.

Quando da promulgação do Código Civil de 2002, foram considerados como incapazes, relativamente a
certos atos ou à maneira de os exercer:

a) Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos:

b) Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento
reduzido;

c) Os excepcionais sem desenvolvimento mental completo;

D) Os pródigos.

Ocorre que a Lei n. 13.146/2015 - Estatuto da Pessoa com Deficiência - refez essa disciplina normativa,
vindo a fazer mudanças no inciso II, retirando a menção à deficiência mental, passando a prever apenas “os
ébrios habituais e os viciados em tóxico”, alterando ainda, o inciso III, que mencionava sobre “o excepcional
sem desenvolvimento mental completo”, vindo esse o dispositivo legal a tratar, apenas das situações relativas
às pessoas que, “por causa transitória ou permanente, não possam exprimir a sua vontade”.

Dos maiores de dezesseis e menores de dezoito anos

Nesse dispositivo, ressalta-se que a incapacidade relativa, em seguimento ao disposto no Projeto do Código
Civil de 1965, não mais se situou na faixa dos dezesseis aos vinte e um anos, passando a reduzir o seu limite
etário máximo para os dezoito anos de idade.

Assim, com o advento do Código Civil de 2.002, passou-se a considerar a maioridade civil a partir dos dezoi-
to anos de idade, com o fito de chamar os jovens à responsabilidade um pouco mais cedo, vindo, desta forma
a igualá-la à maioridade criminal e trabalhista.

Dos Ébrios Habituais e dos Viciados em Tóxicos

Sobre o tema em estudo, entendem da seguinte forma os ilustres juristas Eugênio Raúl Zaffaroni e José
Henrique Pierangel: “deparamos com diferentes períodos e ideologias em torno da problemática da embria-
guez. Em todos os tempos, o homem procurou fugir da realidade mediante a utilização de tóxicos. Em geral, as
pessoas que têm de suportar maior miséria e dor são aquelas que procuram fugir dessa realidade miserável ou
dolorosa, decorra ela de conflitos predominantemente individuais ou de condições sociais (no fundo, sempre
existem condições sociais, só que mais ou menos mediatas). Quem fugir da realidade, na maioria dos casos,
é quem suporta as piores condições sociais, ou seja, os marginalizados e carentes. O uso de tóxicos visa o
rompimento dos freios, ou criar as condições para fazê-lo”.

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Sensível ao fato de que a embriaguez se trata de mal que atinge parte da sociedade, o Código Civil de 2002
optou por promover ao nível de causa de incapacidade relativa, a embriaguez habitual que reduz, porém, não
restringe por completo a capacidade de discernimento do homem.

Na mesma direção, os viciados em tóxicos com reduzida capacidade de entendimento também são con-
siderados relativamente incapazes. No entanto, para tal, necessário se faz com que seja avaliado o grau de
intoxicação e dependência averiguando-se a existência de prática de atos na vida civil, bem como se há a ne-
cessidade de internação para tratamento.

Aqueles que por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade

As pessoas que “mesmo por causa transitória, não puderem exprimir a sua vontade”, foram inseridas no
caderno processual do Código Civil de 2002, como absolutamente incapazes.

No entanto, a Lei n. 13.146/2015 - Estatuto da Pessoa com Deficiência - converteu aqueles que eram consi-
derados absolutamente incapazes em relativamente capazes.

Os Pródigos

Nos dizeres do ilustre Clóvis Beviláqua, pode se considerar como pródigo “aquele que desordenadamente
gasta e destrói a sua fazenda, reduzindo-se à miséria por sua culpa”.

Trata-se o comportamento do pródigo, de um desvio que refletindo-se no patrimônio individual, que acaba
por prejudicar em demasia, mesmo que por meio de contrafeita, a estrutura familiar e social, sendo que o indi-
víduo que age descontroladamente dilapida o seu patrimônio e poderá, posteriormente vir a buscar a ajuda de
um parente próximo ou do próprio Estado, sendo por esta razão que a lei justifica a interdição do pródigo e o
reconhece com relativa capacidade.

De acordo com o artigo 1.782 do código Civil de 2001, a interdição do pródigo apenas o privará de, sem
curador, emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral,
atos que não sejam de mera administração.

Por fim, registra-se que a legitimidade para promover a interdição do pródigo, possui respaldo nos artigos
747 e 748 do Código de Processo Civil, vindo a admitir, segundo boa parte da doutrina, a “auto interdição”, fator
contido no Estatuto da Pessoa com Deficiência, em sua parte final, que acrescentou em seu caderno proces-
sual, a prerrogativa de a própria pessoa pleitear a curatela.

Sobre a Capacidade Jurídica dos Indígenas

O atual Código Civil remeteu a responsabilidade sobre a capacidade jurídica dos indígenas para a legisla-
ção especial, sendo que o indígena passou a figurar entre as pessoas absolutamente incapazes e privadas
de discernimento para os atos da vida civil, fato que não condiz de forma correta com a sua atual situação na
sociedade brasileira.

Obs. importante: De acordo com a Lei n. 6.015, de 31 de dezembro de 1973, (Lei de Registros Públicos),
“os índios, enquanto não integrados, não estão obrigados a inscrição do nascimento. Este poderá ser feito em
livro próprio do órgão federal de assistência aos índios”.

Vale a pena destacar que a Lei nº. 13.146/2015 - Estatuto da Pessoa com Deficiência – fez alterações no
parágrafo único do artigo 4º do Código Civil para substituir a palavra “índios” por “indígenas”, porém, o teor da
norma, foi conservado.

Suprimento da Incapacidade – Representação e Assistência

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De início convém destacar que o suprimento da incapacidade absoluta ocorre por meio da representação.

Ressalta-se que no Código de 1916, os absolutamente incapazes atuavam através de seus representantes
legais, como pais, tutores ou curadores.

No entanto, esta matéria não foi substancialmente modificada pelo Código Civil de 2002 em sua redação
original, antes da entrada em vigor do Estatuto da Pessoa com Deficiência, tendo em vista que os menores de
dezesseis anos seriam representados por seus pais ou tutores; já os enfermos ou deficientes mentais, privados
de discernimento, além das pessoas impedidas de manifestar a sua vontade, mesmo que por causa transitória,
representados por seus curadores, nos termos do artigo 3º do Código Civil.

Em relação aos relativamente incapazes elencados no artigo 4º do Código Civil, percebe-se que a forma de
representação ocorre a partir do momento em que o assistente não pratica o ato em nome do representado,
mas juntamente consigo. Desta forma, atuando o absoluta ou relativamente incapaz sem o seu representante
ou assistente, o ato praticado sofrerá de invalidade jurídica acarretando nulidade absoluta ou relativa, devendo,
assim, o representante praticar o ato no interesse do incapaz.

Vale a pena mencionar que o Código Civil de 2002 reservou na redação de sua Parte Geral, um capítulo que
trata dos preceitos genéricos a respeito da representação legal e a voluntária.

A respeito do assunto, denota-se que durante a Exposição de Motivos do Anteprojeto de Código de Obriga-
ções do ano de 1941, Hahnemann Guimarães, Orozimbo Nonato e Philadelpho Azevedo, aduziram: “O insti-
tuto da representação foi libertado da sua condição servil ao mandato, deixando-se à disciplina deste contrato
apenas as relações entre as próprias partes contratantes. A representação, seja qual for a sua origem, legal
ou convencional, obedecerá a princípios uniformes, que devem resguardar a boa-fé de terceiros, obrigados a
tratar com interposta pessoa”.

Por tais razões, em qualquer das formas de representação, denota-se que a comprovação é fator essencial
pelo representante, da sua qualidade, e também da extensão de seus poderes para que ele possa atuar em
nome do representado, sendo que a punição para o excesso de atuação, é a responsabilidade pessoal do re-
presentante pelos atos que tiver excedido, de acordo com o artigo 118 do Código Civil de 2002, que predispõe:

Art. 118. O representante é obrigado a provar às pessoas, com quem tratar em nome do representado, a
sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob pena de, não o fazendo, responder pelos atos que a estes
excederem.

Emancipação

Trata-se a emancipação da aquisição da plena capacidade civil pelo menor. Sendo que a emancipação Ju-
dicial, se refere a instrumento por intermédio do qual, o menor, sob tutela, poderá adentrar com o ajuizamento
de ação para conseguir ser emancipado civilmente.

Sobre a emancipação, dispõe o artigo 5º do Código Civil:

Art. 5 o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos
os atos da vida civil.

Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:

I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independen-
temente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos
completos;

II - pelo casamento;

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III - pelo exercício de emprego público efetivo;

IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;

V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função
deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.

De acordo com o dispositivo acima, a menoridade cessa aos 18 anos completos, sendo que desta forma, a
pessoa ficará habilitada para praticar todos os atos da vida civil. Já em se tratando de obtenção de emancipa-
ção judicial, se refere à aquisição da capacidade civil antes da idade legal permitida.

Desta maneira, a emancipação consiste na antecipação da aquisição da capacidade de fato ou de exercício,


podendo, desta forma, a pessoa exercer, por si só, os atos da vida civil.

A emancipação também pode advir de concessão dos pais ou por sentença do juiz, e também por outros
meios específicos que conferem emancipação civil.

No condizente à emancipação judicial predisposta no artigo 5°, parágrafo único, I, da segunda parte do Có-
digo Civil, trata-se de instituto concedido pelo juiz, ouvido o tutor, se o menor contar com 16 anos completos.

A emancipação se subdivide em três categorias. São elas:

a) Voluntária: É aquela que acontece através da manifestação de vontade dos pais em emancipar o filho,
ou, também, de um deles na ausência do outro;

b) Judicial: Predisposta no artigo 5°, parágrafo único, I, da segunda parte do Código Civil, trata-se de insti-
tuto concedido pelo juiz, ouvido o tutor, se o menor contar com 16 anos completos. Tal espécie de emancipação
será concedida por meio de sentença ouvindo-se o tutor que é o responsável pelo menor, bem como com oitiva
do Ministério Público.

c) Legal: Acontece a partir da realização das prerrogativas contidas no artigo 5º do Código Civil, onde foi pre-
sumida a capacidade. Pode ocorrer pelo casamento, pela colação de grau em Ensino Superior, dentre outros.

Obs. importante: Mesmo com a obtenção da capacidade civil plena, o menor não se encontrará apto a exer-
cer alguns direitos contidos em legislação específica para apenas maiores de 18 anos. Exemplos: A obtenção
de Carteira Nacional de Habilitação

Direitos da Personalidade

Os direitos da personalidade são uma das principais inovações da Parte Geral do Código Civil de 2002,
sendo dispostos em capítulo próprio.

São direitos da personalidade aqueles que possuem por objeto, os atributos físicos, morais e psíquicos da
pessoa em si, bem como em suas projeções sociais.

Desse modo, infere-se que a pessoa humana é a titular da tutela dos direitos da personalidade. No entanto,
o instituto também alcança os nascituros, que mesmo não possuindo personalidade jurídica, possuem seus
direitos resguardados pela lei, desde a concepção, o que inclui, também, os direitos da personalidade.

Em relação às pessoas jurídicas, estabelece o artigo 52 do código Civil:

Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.

São características dos direitos da personalidade:

a) Absolutos: Eivados de oponibilidade erga omnes, vindo a irradiar efeitos em todas as áreas e impondo à
coletividade o dever expresso de respeitá-los;

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b) Gerais/Necessários: São direitos outorgados a todas as pessoas pelo simples fato de existirem;

c) Extrapatrimoniais: Se caracterizam pela falta de um conteúdo patrimonial direto e conferido de forma


objetiva, mesmo que sua lesão venha a gerar efeitos de ordem econômica:

d) Indisponíveis: São aqueles que não se pode mudar de titular nem mesmo por vontade própria do indi-
víduo, fato que faz com que os direitos da personalidade sejam elevados a um nível diferenciado dentro dos
direitos privados. Assim, a indisponibilidade dos direitos da personalidade engloba tanto a intransmissibilidade,
quanto a irrenunciabilidade que se trata da impossibilidade de reconhecimento jurídico da manifestação por
vontade de abandono de direito;

e) Imprescritíveis: Não existe prazo determinando o seu exercício, sendo que não se extinguem por não
serem usados;

f) Impenhoráveis: são advindos da extrapatrimonialidade e indisponibilidade de direitos morais, porém,


jamais poderão ser penhorados. Em se tratando de direitos patrimoniais correspondentes, não existe impedi-
mento legal na penhora;

g) Vitalícios: São direitos que acompanham a pessoa desde a sua concepção de vida até a morte. São
inerentes à pessoa e extinguem-se normalmente com o seu desaparecimento, sendo que há direitos da perso-
nalidade que continuam tendo validade mesmo após a morte da pessoa. Exemplo: Havendo lesão à honra da
pessoa após a morte, em atenção a sua memória, sendo que poderá, nos termos do parágrafo único do art. 12
do CC/2002, o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau, exigir
judicialmente que cesse a lesão ou ameaça.

Os principais direitos da personalidade são:

a) O direito à vida: Trata-se do direito mais valoroso do ser humano, vindo a sintetizar e concretizar em sim,
todos os demais direitos.

b) Direito à integridade física: O ser humano tem direito à incolumidade corpórea e intelectual, rejeitando-
-se as lesões causadas ao correto funcionamento normal do corpo da pessoa.

c) Direito à voz: a voz do ser humano também encontra respaldo de proteção como direito da personalida-
de. Mesmo se tratando de um componente físico, que se coaduna com a ideia de imagem, ganha individualida-
de, vindo a identificar pessoas e estilos.

d) Direito à integridade psíquica: Considera a pessoa como ser psíquico atuante, que interage de modo
social e que possui direito à liberdade de pensamento, de intimidade, privacidade, bem como ao segredo, além
do direito à criação intelectual;

e) Direito à liberdade: Trata-se do direito de agir de acordo com a sua consciência, observando os limites
da liberdade alheia, sendo que o artigo 5º da CFB/1.988, enumera com especificidade vários aspectos referen-
tes à liberdade em todas as suas formas, anunciando a liberdade de locomoção, de trabalho, de estipulação
contratual, de exercício de atividade, de comércio, de culto, dentre outras.

f) Direito à liberdade de pensamento: O direito de liberdade compreende a liberdade de pensamento,


referindo-se a direito autônomo. Sobre o assunto, determina a CFB/1988 no inciso IV do art. 5º que “é livre
a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. Advindo da primeira regra, a “manifestação do
pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão
qualquer restrição”, atentando-se o disposto pela própria Carta Magna no artigo 220.

g) Direito às criações intelectuais: Se refere à autoria científica, artística e literária como manifestações

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diretas da liberdade de pensamento. Sendo que a CFB/1988, por meio do artigo 5º, dispõe sobre tais direitos.
Exemplos: Inciso XXVII — aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução
de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar; inciso XXVIII — são assegurados, nos
termos da lei: a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz
humanas, inclusive nas atividades desportivas; b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das
obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sin-
dicais e associativas.

h) Direito à privacidade: Esse instituto também é considerado inviolável pelo inciso X do art. 5º da CFB/1988,
no qual a vida privada é compreendida como a vida particular da pessoa natural, ou, right of privacy, como
sendo uma de suas manifestações o direito à intimidade, sendo, assim, um direito da personalidade, no qual
a tutela jurídica foi consagrada pelo art. 21 do CC/2002, que aduz: Art. 21. A vida privada da pessoa natural é
inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer
cessar ato contrário a esta norma”.

i) Direito ao segredo pessoal, profissional e doméstico: Abrange três esferas, sendo elas: o segredo das
comunicações, o segredo doméstico reservado ao lar, e à vida privada como segredo profissional, referente ao
direito da pessoa que revelou segredo da sua vida íntima a terceiro, por motivos da atividade profissional deste,
como é o caso dos padres, por exemplo;

j) Direito à honra: Esse direito acompanha a pessoa desde o seu nascimento e até depois de sua morte,
podendo ser manifestado de duas maneiras, sendo eles a honra objetiva que se refere à reputação da pessoa,
englobando o seu bom nome e a sua fama no seio da sociedade; e a honra subjetiva, que corresponde ao sen-
timento pessoal de estima à própria dignidade. Esse direito também se encontra ligado à condição de liberdade
pública, com previsão expressa no inciso X do art. 5º da CF/88 aduzindo que “X — são invioláveis a intimidade,
a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação”.

k) Direito à imagem: Nesse padrão, englobam-se dois tipos de imagem que são a imagem-retrato, que se
refere ao aspecto físico da pessoa, e a imagem-atributo, referente à exteriorização da personalidade do indiví-
duo e à maneira como ele é visto socialmente.

O Código Civil atual consagra de maneira expressa, o direito à imagem através do artigo 20 da seguinte
forma: “Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem
pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da
imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber,
se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. Parágrafo
único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os
ascendentes ou os descendentes”.

l) Direito à identidade: Traz a noção de proteção jurídica aos elementos diferenciadores da pessoa natural
ou jurídica dentro da sociedade. Sobre o assunto, vale a pena conferir os artigos 16, 17, 18 e 19 do Código Civil
de 2002;

Sobre a proteção dos direitos da personalidade, verifica-se que ocorre em diversas searas do ordenamento
jurídico. De modo geral, a proteção dos direitos da personalidade poderá ser:

a) Preventiva: Ocorre de forma especial através do ajuizamento de ação com postulação de tutela inibitória,
com o fito de evitar a concretização da ameaça de lesão ao direito da personalidade;

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b) Repressiva: Ocorre através da imposição de sanção civil com o adimplemento de indenização, ou em
âmbito penal, no caso de a lesão já haver se efetivado.

Extinção da pessoa natural

De acordo com o artigo 6º do Código Civil, termina a existência da pessoa natural com a morte.

A extinção do poder familiar, a dissolução do vínculo conjugal, a abertura da sucessão, a extinção de con-
trato personalíssimo, são exemplos dos efeitos da morte, valendo a pena explicitar também, a existência de
direitos da personalidade cuja atuação, efeito e eficácia se projetam post mortem, sendo esse tipo, a morte
real, como extinção do sopro de vida no ser humano, porém, não da morte civil que foi banida do ordenamento
jurídico brasileiro.

Vejamos, abaixo outras interpretações que a morte a partir do âmbito jurídico possui:

Morte presumida

A atual legislação civil pátria aponta a existência da morte presumida, quanto aos ausentes, nas situações
em que a lei autoriza a abertura da sucessão definitiva, nos termos do art. 6º do CC/2002.

Nesse ponto, denota-se que a mesma legislação determina por meio do art. 9º, IV, a inscrição da sentença
declaratória de ausência e de morte presumida.

Assim sendo, ressalta-se que enquanto não ocorrer o reconhecimento judicial da morte presumida, nas
situações em que se admite a sucessão definitiva, os bens do ausente não poderão ser transferidos de forma
definitiva aos seus sucessores.

Entretanto, a declaração de morte presumida não se dá somente em hipóteses de ausência, haja vista a lei
elencar outras hipóteses, através do artigo 7º, I e II. Vejamos:

Art. 7º Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:

I — se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;

II — se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o
término da guerra.

Parágrafo único. A declaração de morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de
esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.

Nesse sentido, são hipóteses de morte presumida:

a) A ausência: A ausência é um estado de fato no qual a pessoa desaparece de seu domicílio, não deixando
quaisquer notícias, devendo assim, a pedido de qualquer interessado direto ou mesmo do Ministério Público,
o Poder Judiciário reconhecer tal circunstância, com a devida declaração fática da ausência, nomear curador,
que passará a gerir os negócios do ausente até seu eventual retorno, providenciando-se a arrecadação de seus
bens para o devido controle.

O Código Civil de 2002 aponta a ausência como uma morte presumida, em seu art. 6º da seguinte forma:

Art. 6  o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos
casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.

Sendo a sucessão definitiva, o ausente terá direito aos seus bens, se ainda ilesos, situação na qual, os
sucessores não responderão pelos bens havidos em sua integridade, de acordo com o disposto no art. 39 do
Código Civil:

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Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, ou algum de seus
descendentes ou ascendentes, aquele ou estes haverão só os bens existentes no estado em que se acharem,
os sub-rogados em seu lugar, ou o preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos
bens alienados depois daquele tempo.

Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este artigo, o ausente não regressar, e nenhum interes-
sado promover a sucessão definitiva, os bens arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito
Federal, se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da União, quando situados
em território federal.

b) Justificação de óbito: O art. 88 da LRP consagra um procedimento de justificação, com a necessária


intervenção do Ministério Público, que tem por finalidade proceder ao assento do óbito em hipóteses de campa-
nha militar, desastre ou calamidade, em que não foi possível proceder a exame médico no cadáver:

Art. 88. Poderão os Juízes togados admitir justificação para o assento de óbito de pessoas desaparecidas
em naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra catástrofe, quando estiver provada a sua pre-
sença no local do desastre e não for possível encontrar-se o cadáver para exame.

Parágrafo único. Será também admitida a justificação no caso de desaparecimento em campanha, provados
a impossibilidade de ter sido feito o registro nos termos do art. 85 e os fatos que convençam da ocorrência do
óbito.

O CC/2002, em verdade, em seu art. 7º, I e II, apenas amplia, generalizando tais hipóteses de morte presu-
mida, que, de forma bastante coerente, somente pode ser requerida “depois de esgotadas as buscas e averi-
guações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento”.

O procedimento judicial para essa declaração de morte presumida, se dá da mesma forma que a produção
antecipada da prova, conforme estabelecido pelo § 5º do art. 381 do CPC/2015, aplicável a todas as situações
em que se pretender justificar a existência de algum fato ou relação jurídica, seja para simples documento e
sem caráter contencioso, seja para servir de prova em processo regular.

c) Da morte simultânea ou comoriência: Prevista no artigo 8º do CC/2002, a comoriência se trata dos ca-
sos em quando dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos
comorientes precedeu aos outros, quando, presumir-se-ão simultaneamente mortos.

No caso da impossibilidade de apuração da ordem cronológica das mortes dos comorientes, a legislação
firmará a hipótese de haverem falecido no mesmo instante, situação que ocasiona consequências práticas
destacantes.

A título de exemplo, suponhamos que Roberto e Jane casados entre si, sem descendentes ou ascendentes
vivos, venham a falecer em decorrência do mesmo acidente. Assim, Paula, prima de Roberto, e Marcelo, primo
de Jane, irão concorrer à herança dos falecidos. Desta forma, atestando a perícia que Roberto veio a óbito an-
tes de Jane, a herança daquele, com a aplicação do princípio da saisine e pela ordem de vocação legal, será
transferida para a sua esposa e, posteriormente, após se agregar ao patrimônio dela, arrecadada por Marcelo.
Situação inversa aconteceria caso Jane falecesse antes de Roberto.

No exemplo acima, havendo o falecimento sem que haja a possibilidade de saber o instante das mortes, a
legislação firma a presunção de morte simultânea, fato que irá ensejar a abertura de cadeias sucessórias distin-
tas, posto que não sendo os comorientes tidos como sucessores entre si, não existirá a transferência de bens
entre eles, de forma que Paula e Marcelo arrecadarão a meação pertencente a cada sucedido.

Para fins de melhor explanação do tema estudado, recomenda-se também o estudo da lei seca sobre o

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assunto:

Vejamos:
CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO
PARTE GERAL
LIVRO I
DAS PESSOAS
TÍTULO I
DAS PESSOAS NATURAIS
CAPÍTULO II
DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE

Art. 1 o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.

Art. 2 o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a
concepção, os direitos do nascituro.

Art. 3 o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (de-
zesseis) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

I - (Revogado) ; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

II - (Revogado) ; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

III - (Revogado) . (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

Art. 4 o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: (Redação dada pela Lei nº
13.146, de 2015) (Vigência)

I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;

II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; (Redação dada
pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

IV - os pródigos.

Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. (Redação dada pela Lei
nº 13.146, de 2015) (Vigência)

Art. 5 o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos
os atos da vida civil.

Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:

I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independen-
temente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos
completos;

II - pelo casamento;

III - pelo exercício de emprego público efetivo;

IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;

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V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função
deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.

Art. 6 o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos
casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.

Art. 7 o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:

I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;

II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o
término da guerra.

Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de
esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.

Art. 8 o Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos
comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.

Art. 9 o Serão registrados em registro público:

I - os nascimentos, casamentos e óbitos;

II - a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz;

III - a interdição por incapacidade absoluta ou relativa;

IV - a sentença declaratória de ausência e de morte presumida.

Art. 10. Far-se-á averbação em registro público:

I - das sentenças que decretarem a nulidade ou anulação do casamento, o divórcio, a separação judicial e o
restabelecimento da sociedade conjugal;

II - dos atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou reconhecerem a filiação;

III - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009)


CAPÍTULO II
DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE

Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenun-
ciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.

Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e
danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.

Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o
cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.

Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminui-
ção permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.

Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida
em lei especial.

Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em
parte, para depois da morte.

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Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.

Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a inter-
venção cirúrgica.

Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome.

Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a
exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória.

Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial.

Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome.

Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem públi-
ca, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem
de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe
atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. (Vide ADIN 4815)

Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção
o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.

Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as
providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma. (Vide ADIN 4815)
CAPÍTULO III
DA AUSÊNCIA
SEÇÃO I
DA CURADORIA DOS BENS DO AUSENTE

Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não houver deixado repre-
sentante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado
ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador.

Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará curador, quando o ausente deixar mandatário que
não queira ou não possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes.

Art. 24. O juiz, que nomear o curador, fixar-lhe-á os poderes e obrigações, conforme as circunstâncias, ob-
servando, no que for aplicável, o disposto a respeito dos tutores e curadores.

Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado judicialmente, ou de fato por mais de dois
anos antes da declaração da ausência, será o seu legítimo curador.

§ 1 o Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe aos pais ou aos descendentes, nesta
ordem, não havendo impedimento que os iniba de exercer o cargo.

§ 2 o Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos.

§ 3 o Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha do curador.


SEÇÃO II
DA SUCESSÃO PROVISÓRIA

Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou representante ou pro-
curador, em se passando três anos, poderão os interessados requerer que se declare a ausência e se abra
provisoriamente a sucessão.

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Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente se consideram interessados:

I - o cônjuge não separado judicialmente;

II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários;

III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte;

IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas.

Art. 28. A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória só produzirá efeito cento e oitenta dias
depois de publicada pela imprensa; mas, logo que passe em julgado, proceder-se-á à abertura do testamento,
se houver, e ao inventário e partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido.

§ 1 o Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo interessados na sucessão provisória, cumpre ao
Ministério Público requerê-la ao juízo competente.

§ 2 o Não comparecendo herdeiro ou interessado para requerer o inventário até trinta dias depois de passar
em julgado a sentença que mandar abrir a sucessão provisória, proceder-se-á à arrecadação dos bens do au-
sente pela forma estabelecida nos arts. 1.819 a 1.823.

Art. 29. Antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente, ordenará a conversão dos bens móveis, sujeitos
a deterioração ou a extravio, em imóveis ou em títulos garantidos pela União.

Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente, darão garantias da restituição deles,
mediante penhores ou hipotecas equivalentes aos quinhões respectivos.

§ 1 o Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não puder prestar a garantia exigida neste artigo, será
excluído, mantendo-se os bens que lhe deviam caber sob a administração do curador, ou de outro herdeiro
designado pelo juiz, e que preste essa garantia.

§ 2 o Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, uma vez provada a sua qualidade de herdeiros, pode-
rão, independentemente de garantia, entrar na posse dos bens do ausente.

Art. 31. Os imóveis do ausente só se poderão alienar, não sendo por desapropriação, ou hipotecar, quando
o ordene o juiz, para lhes evitar a ruína.

Art. 32. Empossados nos bens, os sucessores provisórios ficarão representando ativa e passivamente o
ausente, de modo que contra eles correrão as ações pendentes e as que de futuro àquele forem movidas.

Art. 33. O descendente, ascendente ou cônjuge que for sucessor provisório do ausente, fará seus todos os
frutos e rendimentos dos bens que a este couberem; os outros sucessores, porém, deverão capitalizar metade
desses frutos e rendimentos, segundo o disposto no art. 29, de acordo com o representante do Ministério Pú-
blico, e prestar anualmente contas ao juiz competente.

Parágrafo único. Se o ausente aparecer, e ficar provado que a ausência foi voluntária e injustificada, perderá
ele, em favor do sucessor, sua parte nos frutos e rendimentos.

Art. 34. O excluído, segundo o art. 30, da posse provisória poderá, justificando falta de meios, requerer lhe
seja entregue metade dos rendimentos do quinhão que lhe tocaria.

Art. 35. Se durante a posse provisória se provar a época exata do falecimento do ausente, considerar-se-á,
nessa data, aberta a sucessão em favor dos herdeiros, que o eram àquele tempo.

Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existência, depois de estabelecida a posse provisória,
cessarão para logo as vantagens dos sucessores nela imitidos, ficando, todavia, obrigados a tomar as medidas

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assecuratórias precisas, até a entrega dos bens a seu dono.
SEÇÃO III
DA SUCESSÃO DEFINITIVA

Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a abertura da sucessão provisória,
poderão os interessados requerer a sucessão definitiva e o levantamento das cauções prestadas.

Art. 38. Pode-se requerer a sucessão definitiva, também, provando-se que o ausente conta oitenta anos de
idade, e que de cinco datam as últimas notícias dele.

Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, ou algum de seus
descendentes ou ascendentes, aquele ou estes haverão só os bens existentes no estado em que se acharem,
os sub-rogados em seu lugar, ou o preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos
bens alienados depois daquele tempo.

Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este artigo, o ausente não regressar, e nenhum interes-
sado promover a sucessão definitiva, os bens arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito
Federal, se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da União, quando situados
em território federal.

Pessoas jurídicas. Disposições gerais. Associações e fundações

— Das Pessoas Jurídicas

Disposições Importantes

Podemos conceituar a pessoa jurídica, como sendo determinado grupo humano, criado de acordo com a
legislação e composto de personalidade jurídica própria, para a realização de fins comuns.

Destaca-se que a pessoa jurídica, enquanto sujeito de direito, poderá através de seus órgãos e representan-
tes legais, atuar no comércio e na sociedade, praticando atos e negócios jurídicos de modo geral.

As pessoas jurídicas possuem origem pelo artigo 45 do CC/2002. Vejamos:

Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato consti-
tutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo,
averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.

Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito priva-
do, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação e sua inscrição no registro.

Denota-se que da mesma forma que a natural surge no momento do nascimento com vida, a pessoa jurídica
também possui um período de existência.

A existência legal da pessoa jurídica no âmbito do sistema das disposições normativas, exige a fiel obser-
vância da lei em vigor, que considera indispensável o registro para a aquisição de sua personalidade jurídica.

Desta forma, a inscrição do ato constitutivo ou do contrato social, se trata de requisito indispensável para a
atribuição de personalidade à pessoa jurídica, que deverá ser feito no registro competente, sendo a junta co-
mercial, para as sociedades empresárias em geral, e o Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas, para as
fundações, associações e sociedades simples.

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Nos parâmetros do artigo 44 do CC/2002, são pessoas jurídicas de direito privado:

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:

I - as associações;

II - as sociedades;

III - as fundações;

IV - as organizações religiosas; 

V - os partidos políticos;

VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. 

Para algumas espécies de pessoas jurídicas, independentemente do registro civil, em alguns casos, a lei
impõe que se faça o registro em algum outro órgão, com o objetivo único de cadastro e de reconhecimento de
validade de atuação. Um exemplo disso, é o caso dos partidos políticos, que, nos moldes do § 2º do art. 17 da
CFB/1988, bem como dos parágrafos do art. 7º da Lei n. 9.096/1995, devem ser inscritos no Tribunal Superior
Eleitoral.

De igual modo, as entidades sindicais conseguem obter personalidade jurídica com o registro civil. Porém,
deverão informar a sua criação ao Ministério do Trabalho para controle do sistema da unicidade sindical, que
ainda vigora no País, de acordo com o art. 8º, I e II, da CFB/1988.

Entretanto, vale ressaltar que em alguns casos, será preciso que haja autorização do Poder Executivo para
o funcionamento das pessoas jurídicas, observando-se desta maneira, que o registro da pessoa jurídica possui
natureza constitutiva, por ser atributivo de sua personalidade, de modo diferente do registro civil de nascimento
da pessoa natural, que para tal, basta a declaração da condição de pessoa que já é adquirida no momento do
nascimento com vida.

De acordo com o Código Civil, o registro declarará, nos ditames do artigo 46:

Art. 46. O registro declarará:

I - a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social, quando houver;

II - o nome e a individualização dos fundadores ou instituidores, e dos diretores;

III - o modo por que se administra e representa, ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente;

IV - se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração, e de que modo;

V - se os membros respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais;

VI - as condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do seu patrimônio, nesse caso.

Da Classificação das Pessoas Jurídicas

A doutrina informa a existência de pessoas jurídicas de direito público, interno ou externo, e de direito privado
nos moldes do artigo 40 do CC/2002, que aduz:

Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de direito privado.

Das Pessoas Jurídicas de Direito Público

O artigo 42 do CC/2002 predispõe:

Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que

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forem regidas pelo Direito internacional público.

Sobre o dispositivo acima, denota-se que a origem dos Estados soberanos ou das entidades supraestatais,
irá depender da ocorrência de fatos históricos tais como as revoluções ou criações constitucionais, bem como
pela edição de tratados internacionais.

Já as pessoas jurídicas de direito público interno, nos termos do art. 41 do CC/2002, são as seguintes:

Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno:

I - a União;

II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;

III - os Municípios;

IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; (Redação dada pela Lei nº 11.107, de 2005)

V - as demais entidades de caráter público criadas por lei.

Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha dado
estrutura de direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas deste Có-
digo.

Das Pessoas Jurídicas de Direito Privado

O atual Código Civil brasileiro, classifica as pessoas jurídicas de direito privado da seguinte forma:

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:

I - as associações;

II - as sociedades;

III - as fundações.

IV - as organizações religiosas; (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)

V - os partidos políticos. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)

VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada.

Sobre o dispositivo legal retro mencionado, podemos extrair o seguinte entendimento:

– As sociedades civis ou empresárias, e as associações, são consideradas corporações e são também o


resultado da fusão de indivíduos, ou universitas personarum;

– As fundações se compõem de simples patrimônio que possui vínculo a uma finalidade e advém da afe-
tação patrimonial demandada por seu instituidor universitas bonorum, incluindo-se, com mais propriedade, na
categoria das instituições;

– Tanto as organizações religiosas, quanto os partidos políticos se encaixam no conceito jurídico de asso-
ciação;

– A Lei nº 12.441/2011 alterou o Código Civil brasileiro, acrescentando por meio do inciso VI, a empresa
individual de responsabilidade limitada, (EIRELI);

Nesse diapasão analisemos nos próximos subtemas, cada uma desses importantes tipos de pessoas jurídi-
cas de direito privado.

As associações

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São entidades de direito privado, formadas pela união de indivíduos com o objetivo de realizar fins de cunho
não econômicos.

Assim determina o Código Civil de 2002 no artigo 53:

Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos.

O marco principal relacionado às associações civis, é a sua finalidade não econômica, sendo que poderá ser
lúdica, educacional, religiosa, etc.

De acordo com o referido dispositivo, as associações são o resultado da união de pessoas, normalmente em
grande número, que são os associados, e na forma estabelecida em seu ato constitutivo, chamado de estatuto.

Obs. importante: O fato de não buscar lucro, não significa que a associação está impedida de gerar renda
para a manutenção de suas atividades, bem como do adimplemento do seu quadro funcional, tendo em vista
que em uma associação, os seus membros não estão pretensos a partilhar lucros ou dividendos, como ocorre
nas sociedades simples e empresárias, sendo que a receita gerada, deverá ser utilizada em benefício da pró-
pria associação com o objetivo da melhoria de sua atividade.

Nos ditames do artigo 54 do CC/2002, pela redação alterada pela Lei n. 11.127/2005, o estatuto das asso-
ciações deverá abranger, sob pena de nulidade, os seguintes requisitos:

Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá:

I - a denominação, os fins e a sede da associação;

II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados;

III - os direitos e deveres dos associados;

IV - as fontes de recursos para sua manutenção;

V – o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos; (Redação dada pela Lei nº 11.127,
de 2005)

VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução.

VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas. (Incluído pela Lei nº 11.127,
de 2005)

Ante a verificação do mencionado dispositivo legal, ressalta-se que a lei tratou de estabelecer o conteúdo
mínimo necessário do estatuto de uma associação, com o fim de evitar abusos de inidôneos que constituem
associações fraudulentas somente para causar danos à Fazenda Pública ou a terceiros de boa-fé.

Em relação à Assembleia Geral, órgão máximo da associação, em geral, o seu estatuto autoriza a composi-
ção de um Conselho Administrativo ou Diretoria e de um Conselho Fiscal.

Desta parte dispõe o Código Civil de 2002 da seguinte forma:

Art. 59. Compete privativamente à assembleia geral: 

(Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)

I – destituir os administradores; (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)

II – alterar o estatuto. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)

Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem os incisos I e II deste artigo é exigido deliberação da
assembleia especialmente convocada para esse fim, cujo quorum será o estabelecido no estatuto, bem como

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os critérios de eleição dos administradores. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005).

Além do exposto, denota-se que o Código Civil em vigor, prevê a exclusão do associado, desde que exista
justa causa, e esteja na forma prevista no estatuto social, instrumento que controla a existência de um procedi-
mento que assegure direito de defesa e de recurso. Vejamos o que dispõe o artigo 57:

Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em procedimento
que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto.

Por fim, vale mencionar que o Código Civil de 2002, determina no artigo 61, que em situações de dissolução,
o patrimônio líquido, desde que deduzidas as quotas ou frações ideais de propriedade do associado e também
dos respectivos débitos sociais, deverá ser aplicado à entidade de fins não econômicos designada no estatuto,
sendo que na omissão deste, por meio de deliberação dos associados, a instituição municipal, estadual ou
federal, de fins idênticos ou semelhantes, os bens remanescentes deverão, por força de lei ser devolvidos à
Fazenda do Estado, do Distrito Federal ou da União, nos termos do art. 61, § 2º do CC/2002.

Obs. importante: Havendo cláusula do estatuto ou, ausente este, por ato dos associados, dispõe o § 1º do
art. 61, a permissão aos respectivos membros, antes da destinação do remanescente a entidades congêneres,
receber em restituição, inclusive com valor atualizado, as contribuições que houverem prestado ao patrimônio
da entidade.

As sociedades

Podemos conceituar a sociedade como uma espécie de corporação com personalidade jurídica própria, e
instituída através de um contrato social, com o fim de exercer atividade econômica e partilhar lucros.

Nesse contexto, trata-se o contrato social, desde que devidamente registrado, como sendo o ato constitutivo
da sociedade.

Estabelece o artigo 981 do CC/2002:

Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens
ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados.

Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados.

A depender da espécie de atividade realizada, boa parte da doutrina entende que a sociedade poderá ser
civil ou mercantil, sendo que a sociedade mercantil pratica atos de comércio com o objetivo de produção de
lucros, e as sociedades civis, a despeito de perseguirem proveito econômico, não realizam atividade mercantil.

O Código Civil de 2002, classifica as sociedades quanto ao objeto social em:

• Sociedades empresárias: De acordo com o art. 982 do CC/2002, são as sociedades que possuem como
objetivo, o exercício de atividade própria de empresário sujeita a registro na Junta Comercial, bem como à
legislação falimentar. Podem assumir as seguintes formas, de acordo com os artigos 983 e 1.039 a 1.092 do
CC/2002:

a) sociedade em nome coletivo;

b) sociedade em comandita simples;

c) sociedade limitada;

d) sociedade anônima;

e) sociedade em comandita por ações.

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•Sociedades simples: São as pessoas jurídicas que, perseguem proveito econômico, porém, não empreen-
dem atividade empresarial. Podem ser comparadas às sociedades civis, e não possuem a obrigação legal de ins-
crever os seus atos constitutivos no Registro Público de Empresas Mercantis, mas apenas no Cartório de Registro
Civil de Pessoas Jurídicas. Seu campo de atuação é vasto e é aplicado em sociedades de profissionais liberais,
instituições de ensino, entidades de assistência médica ou social, dentre outras pertinentes.

Obs. importante: Em relação à sociedade de advogados, por disposição de norma especial contida no art.
15, § 1º, da Lei n. 8.906, de 1994, o seu registro deverá ser realizado na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),
respectivamente), em virtude de suas peculiaridades.

As fundações

Vejamos no estudo das fundações, seus principais pontos de destaque.

As fundações resultam da afetação de um patrimônio, seja por testamento ou por escritura pública, que faz
o seu instituidor, especificando este, a finalidade para a qual se destina.

Assim dispõe o art. 62, caput, do Código Civil de 2002:

Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial
de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.

Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins de: (Redação dada pela Lei nº 13.151,
de 2015)

I – assistência social; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015)

II – cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015)

III – educação; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015)

IV – saúde; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015)

V – segurança alimentar e nutricional; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015)

VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável; (In-


cluído pela Lei nº 13.151, de 2015)

VII – pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas, modernização de sistemas de gestão,


produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos; (Incluído pela Lei nº 13.151, de
2015)

VIII – promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos; (Incluído pela Lei nº 13.151,
de 2015)

IX – atividades religiosas; e (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015).

Para que seja criada uma fundação, o instituidor deverá de forma obrigatória, destacar determinada parcela
de seu patrimônio pessoal, que esteja acompanhada por bens móveis ou imóveis, com as devidas especifica-
ções, dando-lhes finalidade não econômica, indicando também a forma de administração desses bens.

Duas são as formas de concretização do ato de dotação patrimonial: escritura pública ou testamento, sendo
que em situações de instituição por escritura pública, de acordo com o artigo 64 do CC/2002, o instituidor é obri-
gado a transferir à fundação a propriedade, ou outro direito real que tenha sobre os bens dotados, sob pena de
a transcrição ou inscrição se efetivar por meio de ordem judicial; já a instituição por testamento poderá ocorrer
por meio de qualquer modalidade testamentária

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Vejamos outros importantes pontos que merecem destaque em relação às fundações:

– O órgão responsável por aprovar estatutos da fundação, com recurso ao juiz competente, em caso de
divergência é o Ministério Público, (art. 66 CC/2002);

– Poderá haver também atuação fiscalizatória de forma conjunta do Ministério Público do Estado ou do Dis-
trito Federal e Territórios com o Ministério Público Federal, caso exista interesse que justifique a intervenção
deste último;

– Nos ditames do artigo 114 da Lei n. 6.015/1973 (Lei de Registros Públicos), da mesma forma que toda
pessoa jurídica de direito privado, o ciclo constitutivo da fundação só se consuma com a inscrição de seus atos
constitutivos no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas;

– Para que se possa alterar o estatuto da fundação, o artigo 67 do CC/2002, exige a observância dos pres-
supostos de deliberação de dois terços dos competentes para gerir e representar a fundação; que haja respeito
à finalidade da fundação; aprovação pelo órgão do ministério público no prazo máximo de 45 dias, sendo que
caso seja esgotado o lapso temporal, ou no caso de o ministério público denegar a aprovação, poderá o magis-
trado supri-la, a requerimento do interessado;

– Nos ditames do artigo 68, quando a alteração não tiver sido aprovada por votação unânime, os adminis-
tradores da fundação, ao submeterem o estatuto ao órgão do Ministério Público, requererão que se dê ciência
à minoria vencida para impugná-la, se quiser, no prazo de dez dias;

– Nos dizeres do artigo 69 do CC/2002: “Tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a
fundação, ou vencido o prazo de sua existência, o órgão do Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe
promoverá a extinção, incorporando-se o seu patrimônio, salvo disposição em contrário no ato constitutivo, ou
no estatuto, em outra fundação, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante”.

– A extinção da fundação privada coloca fim à personalidade jurídica, devendo ser liquidado o passivo com
o ativo existente, sendo que depois de tal procedimento é que o resultado patrimonial positivo será destinado à
fundação com fim igual ou semelhante;

– De acordo com o artigo 167 do CC/2002, qualquer interessado ou o Ministério Público poderão promover
em juízo a extinção da fundação quando se tornar ilícito o seu objeto; for impossível a sua manutenção; e; ven-
cer o prazo de sua existência.

As Organizações Religiosas

No âmbito jurídico, podem ser consideradas organizações religiosas todas as entidades de direito privado
que forem formadas pela junção de indivíduos com o objetivo de culto em homenagem a determinada força
ou forças sobrenaturais, por intermédio de doutrina e ritual próprios, envolvendo, normalmente, preceitos de
caráter ético.

Nesse sentido se encaixam as igrejas, seitas e até mesmo as comunidades leigas, como confrarias ou ir-
mandades.

Nesse diapasão, vale mencionar o parágrafo 1º que foi inserido no art. 44 do CC/2002, pela Lei n. 10.825/2003,
que determina serem livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organiza-
ções religiosas, sendo proibido ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos
e necessários ao seu funcionamento.

Isso ocorre pelo fato do art. 19, I, da CFB/1988 já vedar à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Mu-
nicípios “estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter

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com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colabora-
ção de interesse público”.

Trata-se, assim, do que se ajustou denominar de liberdade de organização religiosa, uma das formas de
expressão da liberdade religiosa, coincidindo com a liberdade de crença e de culto.

Destaca-se, por fim, que a liberdade de organização e funcionamento das entidades religiosas não as livra
da averiguação judicial de seus atos, tendo em vista que seria inconstitucional abrir uma exceção ao princípio
da indeclinabilidade do Poder Judiciário , nos moldes do art. 5º, XXXV, da CFB/1988.

Os partidos políticos

A ilustre Maria Helena Diniz, conceitua os partidos políticos como: “entidades integradas por pessoas com
ideias comuns, tendo por finalidade conquistar o poder para a consecução de um programa. São associações
civis, que visam assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e
defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal. Adquirem personalidade jurídica com o re-
gistro de seus estatutos mediante requerimento ao cartório competente do Registro Civil das pessoas jurídicas
da capital federal e ao Tribunal Superior Eleitoral. Os partidos políticos poderão ser livremente criados, tendo
autonomia para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento, devendo seus estatutos estabele-
cer normas de fidelidade e disciplina partidária. Ser-lhes-á proibido receber recursos financeiros de entidade ou
governo estrangeiro, devendo prestar contas de seus atos à Justiça Eleitoral”.

Nesse sentido, o parágrafo 3º, inserido no art. 44 do CC/2002 pela Lei n. 10.825/2003, estabelece somente
a informação de que os “partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o disposto em lei espe-
cífica”.

Assim sendo, na ausência de norma posterior, esta legislação específica continua sendo a Lei nº. 9.096/95
que ao fundamentar a respeito dos partidos políticos, veio também, a regulamentar os artigos 17 e 14, § 3º, V,
da CFB/1988.

As empresas individuais de responsabilidade limitada

Sobre o tema, denota-se que a lei nº. 12.441/2011, consagrou, no ordenamento jurídico brasileiro uma pos-
sibilidade que anteriormente não era autorizada na criação de pessoa jurídica a ser composta por apenas uma
pessoa natural, sem a necessidade de um conjunto de vontades.

Nesse sentido, ressalta-se que antes as empresas eram constituídas normalmente somente “no papel”.

Isso acontecia por causa da exigência de participação de mais de uma pessoa, sendo que eram criadas
pessoas jurídicas sem qualquer espécie de affectio societatis, fato que era constatado de forma fácil a partir do
momento em que era averiguado que um dos sócios possuía a maior parte das quotas de uma sociedade, ao
passo que o outro sócio, era figura titular sem significativa participação no capital social, além de não possuir
qualquer interesse concreto no negócio.

Desta forma, surgindo a EIRELI — Empresa Individual de Responsabilidade Limitada — veio a novidade per-
missionária de uma única pessoa natural poder constituir uma pessoa jurídica com responsabilidade limitada
ao capital integralizado, sem ter a necessidade de formar sociedade com outra pessoa, tendo em vista, ainda,
que outra grande vantagem da EIRELI, é o fato da sua responsabilidade ser limitada ao capital constituído e
integralizado.

Obs. importante: A EIRELI não é uma sociedade empresária, mas, sim, uma pessoa jurídica unipessoal.

A respeito do nome empresarial, vale a pena mencionar que ele deverá ser formado pela incorporação da

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expressão “EIRELI”, após a firma ou a denominação social da empresa individual de responsabilidade limitada,
de acordo com o artigo 980-A, § 1º do CC/2002.

Sobre a EIRELI, vejamos alguns outros importantes pontos que merecem destaque:

– De acordo com o artigo 980-A, § 2º do CC/2002, a pessoa natural que constituir empresa individual de
responsabilidade limitada, somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade;

– A instituição da EIRELI pode ser originária, quando advir de ato de vontade de criação específica desta
modalidade de pessoa jurídica; ou, superveniente, se nos moldes do § 3º do art. 980-A, for o resultado da
concentração das quotas de outra modalidade societária num único sócio, independentemente das razões que
motivaram tal concentração;

– Estabelece o artigo 5º do artigo 980 do CC/2002 que “Poderá ser atribuída à empresa individual de respon-
sabilidade limitada constituída para a prestação de serviços de qualquer natureza a remuneração decorrente
da cessão de direitos patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou voz de que seja detentor o titular da
pessoa jurídica, vinculados à atividade profissional”;

– Não será considerado como empresário, aquele que exerce profissão intelectual, de natureza científica,
literária ou artística, mesmo com o concurso de auxiliares ou colaboradores, exceto se o exercício da profissão
constituir elemento de empresa;

– A matéria disciplinar jurídica das sociedades limitadas é aplicável, subsidiariamente, no que couber, às
EIRELI, na forma do § 6º do art. 980-A do CC/2002;

– Nos moldes do § 7º do art. 980 do CC/2002, inserto pela Lei n. 13.874/2019 - Lei da Declaração de Direi-
tos de Liberdade Econômica - “somente o patrimônio social da empresa responderá pelas dívidas da empresa
individual de responsabilidade limitada, hipótese em que não se confundirá, em qualquer situação, com o patri-
mônio do titular que a constitui, ressalvados os casos de fraude”.

Desconsideração da Personalidade Jurídica

O instituto da desconsideração da personalidade da pessoa jurídica, disregard of legal entity, obteve notorie-
dade na década de 1950, com a publicação do trabalho de Rolf Serick, que à época era professor da Faculdade
de Direito de Heidelberg.

Desta forma, com base em sua teoria, buscou-se justificar a superação da personalidade jurídica da socieda-
de em situações de abuso, vindo a permitir o reconhecimento da responsabilidade ilimitada dos sócios. Porém,
o precedente jurisprudencial com a permissão do desenvolvimento da teoria ocorreu na Inglaterra, em 1897
com o advento do famoso caso Salomon & Co.

Em sentido geral, a desconsideração objetiva a superação episódica da personalidade jurídica da socieda-


de, em situações de ocorrência de fraude, abuso, ou simples desvio de função, buscando satisfazer o terceiro
que foi lesado junto ao patrimônio dos próprios sócios, que, por sua vez, passam a ter responsabilidade pessoal
pelo ilícito que causaram.

Ressalta-se que a medida de afastamento determinada pela personalidade jurídica deverá ser temporária,
permanecendo apenas na situação concreta, até que os credores se satisfaçam no patrimônio pessoal dos
sócios infratores.

No entanto, em situações de maior gravidade, a despersonalização da pessoa jurídica poderá ser justifica-
da em regime definitivo, na forma de extinção compulsória, pela via judicial, da personalidade jurídica.

Assim sendo, cabe diferenciar o rigor terminológico que diferencia a despersonalização, que se trata da

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própria extinção da personalidade jurídica, da desconsideração, que diz respeito somente à sua superação
episódica, em decorrência de fraude, abuso ou desvio de finalidade, sendo que ambas não se confundem com
a responsabilidade patrimonial direta dos sócios, nem por ato próprio, e nem em relação às hipóteses de cor-
responsabilidade e solidariedade.

Ademais, destaca-se o fato de a teoria da desconsideração da personalidade jurídica também pode ser apli-
cada de maneira “inversa”, fato que significa ir ao patrimônio da pessoa jurídica, quando a pessoa física que a
compõe esvazia de forma fraudulenta o seu patrimônio pessoal.

Na situação acima, haverá a possibilidade de o magistrado aplicar a desconsideração da autonomia patri-


monial da pessoa jurídica, promovendo a busca de bens que estão em seu próprio nome, para responder por
dívidas que não são suas, mas são de seus sócios, fator que de início, foi sendo aceito pela jurisprudência, pas-
sando tal matéria a ser prevista no Código de Processo Civil de 2015, por meio do parágrafo 2º do artigo 133.

Nesse diapasão, é importante frisar a importância da contribuição oferecida pelo Código de Defesa do Con-
sumidor - Lei n. 8.078/90 - que incorporou em seu caderno processual, norma expressa sobre a aplicação da
teoria da desconsideração. Vejamos:

Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do con-
sumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos
ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência,
encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.

Em observação aos pressupostos indicados pela norma acima, depreende-se que ela foi influenciada por
uma concepção objetivista, principalmente se em comparação, passarmos a analisar a previsão ainda mais
genérica do parágrafo 5º do mesmo dispositivo, que assim dispõe:

§ 5º Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma
forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores.

A discussão acima tem sido conhecida pela doutrina e jurisprudência especializadas, como a dicotomia de
teorias da Desconsideração da Jurídica que pode ser desmembrada em:

– Teoria Maior: Exige a comprovação de desvio de finalidade da pessoa jurídica ou a confusão patrimonial;

– Teoria Menor: Decorre da insolvência do devedor, e é aplicada de forma especial no Direito Ambiental e
do Consumidor.

Já o Código Civil de 2002, posicionando-se ao lado das legislações modernas, consagrou a teoria da des-
consideração da personalidade jurídica da seguinte forma:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confu-
são patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir
no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens par-
ticulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.

Desta maneira, de acordo com a regra legal, a desconsideração será possível, a requerimento da parte ou
do Ministério Público, quando lhe couber intervir, consistindo o abuso em:

a) Desvio de finalidade: Onde foi desvirtuado o objetivo social para a perseguição de fins não previstos
contratualmente ou proibidos por lei;

b) Confusão patrimonial: Nesse caso, a atuação do sócio ou administrador foi confundida com o funcio-
namento da própria sociedade, utilizada como verdadeiro escudo, não sendo possível identificar a separação

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patrimonial entre ambos.

Nesse sentido, ante as duas situações acima, denota-se a imprescindibilidade da ocorrência de prejuízo
tanto individual, quanto o que justifique a suspensão temporária da personalidade jurídica.

Por fim, destaca-se dentre os pressupostos da desconsideração da personalidade jurídica, uma importante
mudança no regramento ocorrida em 2019, que se trata da Lei da Declaração de Direitos de Liberdade Econô-
mica, Lei nº. 13.874/2019, que teve como base de criação a Medida

Provisória nº. 881/2019, que fez com que o art. 50 do Código Civil passasse a ter a seguinte redação:

Art. 50 do Código Civil. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade
ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber
intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações se-
jam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta
ou indiretamente pelo abuso.

§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com o pro-
pósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza.

§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os patrimônios, caracteri-
zada por:

I – cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou vice-versa;

II – transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de valor proporcional-


mente insignificante; e

III – outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial.

§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensão das obrigações de sócios
ou de administradores à pessoa jurídica.

§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata o caput deste artigo
não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica.

§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade original da atividade
econômica específica da pessoa jurídica.

Ante todo o enunciado do retro dispositivo, destaca-se principalmente, o final do atual texto, com a expres-
são “beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso”, porquanto a desconsideração se trata de instrumento
de imputação de responsabilidade, não podendo, desta maneira, sob pena de se ignorar a exigência do próprio
nexo causal, atingir nenhum sócio que não tenha usufruído de nenhum benefício direto ou indireto, por causa
do ato abusivo praticado por outrem.

Vejamos no quadro elucidativo abaixo, outras importantes considerações acerca do assunto em deslinde:

IMPORTANTE SABER

* A desconsideração inversa ou invertida vai de encontro ao patrimônio da pessoa jurídica, quando a


pessoa física que a compõe, esvazia fraudulentamente o seu patrimônio pessoal, sendo que tal visão é desen-
volvida notadamente nas relações de família;

* Na situação acima, poderá o magistrado desconsiderar a autonomia patrimonial da pessoa jurídica, bus-
cando bens que estão em seu próprio nome, para responder por dívidas que não são suas e sim de seus só-

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cios, fato que tem sido aceito pela jurisprudência;

* Nenhuma desconsideração poderá ser decretada se os requisitos legais não forem obedecidos;

*Desconsideração indireta, é a desconsideração da personalidade jurídica que possui como objetivo o al-
cance de quem se encontra por trás dela e não se afigura de forma suficiente, pois poderá existir outra ou outras
pessoas integrantes das constelações societárias que possuem o objetivo encobrir algum fraudador;

* Não constitui desvio de finalidade, a expansão ou a alteração da finalidade original da atividade econô-
mica específica da pessoa jurídica;

* A desconsideração da personalidade jurídica é aplicável também para as empresas individuais de


responsabilidade limitada;

* No âmbito do Direito Empresarial, de acordo com o art. 82-A da Lei de Falências e de Recuperação de
Empresas (Lei n. 11.101, de 9-2-2005), com as alterações da Lei nº. 14.112/2020, é “vedada a extensão da
falência ou de seus efeitos, no todo ou em parte, aos sócios de responsabilidade limitada, aos controladores
e aos administradores da sociedade falida, admitida, contudo, a desconsideração da personalidade jurídica”.

Da Extinção da Pessoa Jurídica

Da mesma forma que a pessoa natural, a pessoa jurídica completa o seu ciclo existencial através da extin-
ção.

A dissolução poderá ser:

a) Convencional: É a dissolução deliberada entre os próprios integrantes da pessoa jurídica, desde que
respeitado o estatuto ou o contrato social;

b) Administrativa: Advém da cassação da autorização de funcionamento, sendo exigida para determinadas


sociedades se constituírem e funcionarem;

c) Judicial: Em observação a uma das hipóteses de dissolução determinadas pela lei ou no estatuto, o ma-
gistrado, por iniciativa de qualquer um dos sócios, poderá, por meio de sentença, determinar a sua extinção;

Por fim, em se tratando de dissolução da sociedade, os bens que excederem, deverão por força de lei, ser
divididos entre os sócios, desde que observada a participação social de cada um deles.
CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO
TÍTULO II
DAS PESSOAS JURÍDICAS
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de direito privado.

Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno:

I - a União;

II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;

III - os Municípios;

IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; (Redação dada pela Lei nº 11.107, de 2005)

V - as demais entidades de caráter público criadas por lei.

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Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha dado
estrutura de direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas deste Có-
digo.

Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que
forem regidas pelo direito internacional público.

Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agen-
tes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do
dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:

I - as associações;

II - as sociedades;

III - as fundações.

IV - as organizações religiosas; (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)

V - os partidos políticos. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)

VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. (Incluído pela Lei nº 12.441, de 2011) (Vigência)

§ 1 o São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religio-
sas, sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários
ao seu funcionamento. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)

§ 2 o As disposições concernentes às associações aplicam-se subsidiariamente às sociedades que são ob-
jeto do Livro II da Parte Especial deste Código. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)

§ 3 o Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o disposto em lei específica. (Incluído
pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)

Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitu-
tivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo,
averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.

Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito priva-
do, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro.

Art. 46. O registro declarará:

I - a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social, quando houver;

II - o nome e a individualização dos fundadores ou instituidores, e dos diretores;

III - o modo por que se administra e representa, ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente;

IV - se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração, e de que modo;

V - se os membros respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais;

VI - as condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do seu patrimônio, nesse caso.

Art. 47. Obrigam a pessoa jurídica os atos dos administradores, exercidos nos limites de seus poderes defi-
nidos no ato constitutivo.

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Art. 48. Se a pessoa jurídica tiver administração coletiva, as decisões se tomarão pela maioria de votos dos
presentes, salvo se o ato constitutivo dispuser de modo diverso.

Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular as decisões a que se refere este artigo, quando vio-
larem a lei ou estatuto, ou forem eivadas de erro, dolo, simulação ou fraude.

Art. 49. Se a administração da pessoa jurídica vier a faltar, o juiz, a requerimento de qualquer interessado,
nomear-lhe-á administrador provisório.

Art. 49-A.  A pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios, associados, instituidores ou administrado-
res. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

Parágrafo único. A autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é um instrumento lícito de alocação e se-
gregação de riscos, estabelecido pela lei com a finalidade de estimular empreendimentos, para a geração de
empregos, tributo, renda e inovação em benefício de todos.

Art. 50.  Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confu-
são patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no pro-
cesso, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos
aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente
pelo abuso. (Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019)

§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com o pro-
pósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza. (Incluído pela Lei nº 13.874, de
2019)

§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os patrimônios, caracteri-
zada por: (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou vice-versa; (Incluí-


do pela Lei nº 13.874, de 2019)

II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de valor proporcional-


mente insignificante; e (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

§ 3º  O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensão das obrigações de só-
cios ou de administradores à pessoa jurídica. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

§ 4º  A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata o caput deste artigo
não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

§ 5º  Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade original da atividade
econômica específica da pessoa jurídica. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização para seu funcionamento, ela
subsistirá para os fins de liquidação, até que esta se conclua.

§ 1º Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a averbação de sua dissolução.

§ 2º As disposições para a liquidação das sociedades aplicam-se, no que couber, às demais pessoas jurídi-
cas de direito privado.

§ 3º Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica.

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Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.
CAPÍTULO II
DAS ASSOCIAÇÕES

Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos.

Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos.

Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá:

I - a denominação, os fins e a sede da associação;

II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados;

III - os direitos e deveres dos associados;

IV - as fontes de recursos para sua manutenção;

V – o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos; (Redação dada pela Lei nº 11.127,
de 2005)

VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução.

VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas. (Incluído pela Lei nº 11.127,
de 2005)

Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto poderá instituir categorias com vantagens
especiais.

Art. 56. A qualidade de associado é intransmissível, se o estatuto não dispuser o contrário.

Parágrafo único. Se o associado for titular de quota ou fração ideal do patrimônio da associação, a transfe-
rência daquela não importará, de per si , na atribuição da qualidade de associado ao adquirente ou ao herdeiro,
salvo disposição diversa do estatuto.

Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em procedimen-
to que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto. (Redação dada pela Lei nº
11.127, de 2005)

Parágrafo único. (revogado) (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)

Art. 58. Nenhum associado poderá ser impedido de exercer direito ou função que lhe tenha sido legitima-
mente conferido, a não ser nos casos e pela forma previstos na lei ou no estatuto.

Art. 59. Compete privativamente à assembléia geral: (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)

I – destituir os administradores; (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)

II – alterar o estatuto. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)

Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem os incisos I e II deste artigo é exigido deliberação da
assembléia especialmente convocada para esse fim, cujo quorum será o estabelecido no estatuto, bem como
os critérios de eleição dos administradores. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)

Art. 60. A convocação dos órgãos deliberativos far-se-á na forma do estatuto, garantido a 1/5 (um quinto) dos
associados o direito de promovê-la. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)

Art. 61. Dissolvida a associação, o remanescente do seu patrimônio líquido, depois de deduzidas, se for o

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caso, as quotas ou frações ideais referidas no parágrafo único do art. 56, será destinado à entidade de fins não
econômicos designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos associados, à instituição municipal,
estadual ou federal, de fins idênticos ou semelhantes.

§ 1 o  Por cláusula do estatuto ou, no seu silêncio, por deliberação dos associados, podem estes, antes da
destinação do remanescente referida neste artigo, receber em restituição, atualizado o respectivo valor, as con-
tribuições que tiverem prestado ao patrimônio da associação.

§ 2 o Não existindo no Município, no Estado, no Distrito Federal ou no Território, em que a associação tiver
sede, instituição nas condições indicadas neste artigo, o que remanescer do seu patrimônio se devolverá à
Fazenda do Estado, do Distrito Federal ou da União.
CAPÍTULO III
DAS FUNDAÇÕES

Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial
de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.

Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins de: (Redação dada pela Lei nº 13.151,
de 2015)

I – assistência social; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015)

II – cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015)

III – educação; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015)

IV – saúde; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015)

V – segurança alimentar e nutricional; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015)

VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável; (In-


cluído pela Lei nº 13.151, de 2015)

VII – pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas, modernização de sistemas de gestão,


produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos; (Incluído pela Lei nº 13.151, de
2015)

VIII – promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos; (Incluído pela Lei nº 13.151,
de 2015)

IX – atividades religiosas; e (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015)

X – (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015)

Art. 63. Quando insuficientes para constituir a fundação, os bens a ela destinados serão, se de outro modo
não dispuser o instituidor, incorporados em outra fundação que se proponha a fim igual ou semelhante.

Art. 64. Constituída a fundação por negócio jurídico entre vivos, o instituidor é obrigado a transferir-lhe a
propriedade, ou outro direito real, sobre os bens dotados, e, se não o fizer, serão registrados, em nome dela,
por mandado judicial.

Art. 65. Aqueles a quem o instituidor cometer a aplicação do patrimônio, em tendo ciência do encargo, for-
mularão logo, de acordo com as suas bases (art. 62), o estatuto da fundação projetada, submetendo-o, em
seguida, à aprovação da autoridade competente, com recurso ao juiz.

Parágrafo único. Se o estatuto não for elaborado no prazo assinado pelo instituidor, ou, não havendo prazo,

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em cento e oitenta dias, a incumbência caberá ao Ministério Público.

Art. 66. Velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde situadas.

§ 1 º Se funcionarem no Distrito Federal ou em Território, caberá o encargo ao Ministério Público do Distrito
Federal e Territórios. (Redação dada pela Lei nº 13.151, de 2015)

§ 2º Se estenderem a atividade por mais de um Estado, caberá o encargo, em cada um deles, ao respectivo
Ministério Público.

Art. 67. Para que se possa alterar o estatuto da fundação é mister que a reforma:

I - seja deliberada por dois terços dos competentes para gerir e representar a fundação;

II - não contrarie ou desvirtue o fim desta;

III – seja aprovada pelo órgão do Ministério Público no prazo máximo de 45 (quarenta e cinco) dias, findo o
qual ou no caso de o Ministério Público a denegar, poderá o juiz supri-la, a requerimento do interessado. (Re-
dação dada pela Lei nº 13.151, de 2015)

Art. 68. Quando a alteração não houver sido aprovada por votação unânime, os administradores da funda-
ção, ao submeterem o estatuto ao órgão do Ministério Público, requererão que se dê ciência à minoria vencida
para impugná-la, se quiser, em dez dias.

Art. 69. Tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação, ou vencido o prazo de sua
existência, o órgão do Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção, incorporando-se o
seu patrimônio, salvo disposição em contrário no ato constitutivo, ou no estatuto, em outra fundação, designada
pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante.

DOMICÍLIO

— Conceituação e Particularidades

De antemão, aduz-se que o domicílio civil da pessoa, pode ser conceituado como o lugar onde ela estabe-
lece residência com ânimo definitivo, vindo a fazer desse lugar, em regra, o centro principal de seus negócios
jurídicos ou de sua atividade profissional.

Constituído por duas noções, a primeira noção de domicílio se encontra relacionada à vida privada da pes-
soa, às suas relações internas, preconizando o local no qual esta reside, seja de forma permanente, sozinha
ou, também com os seus familiares. Já a segunda noção, diz respeito aos interesses da atividade externa da
pessoa, à sua vida social e profissional, referindo-se ao lugar onde ela fixa o centro de seus negócios jurídicos
ou de suas ocupações habituais de modo geral, sendo que ambas as noções, são alternativas de domicílio.

Ressalta-se que o atual Código Civil de 2.002 consentiu em seu caderno processual, as duas opções acima,
vindo a aceitar a sua cumulação. Tal fato se comprova por meio do disposto nos artigos 70 e 72 do CPC/2002.
Vejamos:

Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo.

(...)

Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde
esta é exercida.

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Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio
para as relações que lhe corresponderem.

Desse modo, com a intenção de obter uma efetiva compreensão da matéria, necessário se faz, com que se
faça a distinção de morada, residência e domicílio, conforme veremos a seguir:

a) Morada: Cuida-se da localidade, ou, do lugar onde a pessoa natural se estabelece de forma provisória. Tal
conceito acaba por se confundir com a noção de estadia, que segundo o entendimento de Roberto de Ruggiero,
morada é: “a mais tênue relação de fato entre uma pessoa e um lugar tomada em consideração pela lei”, vindo,
ainda, a alertar que “a sua importância é, porém, mínima e subalterna, não produzindo em regra qualquer efeito,
senão quando se ignora a existência de uma sede mais estável para a pessoa”.

Desta maneira, pressupõe-se que o aluno que é contemplado com uma bolsa de estudos nos Estados Uni-
dos, vindo a morar lá e permanece por um ano e meio, por exemplo, possui lá, a sua morada ou estadia, sendo
que muito se especula sobre a caracterização de tal relação transitória de fato, ser também, sua habitação.

b) Residência: Dá a noção de uma maior estabilidade, haja vista ser a residência o lugar onde a pessoa
natural se estabelece com habitualidade.

O renomado jurista Ruggiero, afirma com precisão a respeito de ser a residência, a sede estável da pessoa
natural. Desta maneira, se o indivíduo que mora e permanece habitualmente em uma cidade, local onde é en-
contrado normalmente, ali, por certo, é a sua residência.

c) Domicílio: Para ser conceituado, denota-se que o domicílio possui regras mais complexas, uma vez que
tal noção de conceito abrange a de residência e também a de morada. Assim, o domicílio, de acordo com o vis-
to anteriormente, se trata do lugar onde a pessoa natural estabelece residência com ânimo definitivo, fazendo
dele, o centro principal de seus negócios jurídicos ou de sua atividade profissional, sendo que não é suficiente
para a sua configuração, o simples ato material de residir no lugar, mas, também, a intenção de permanecer
ali, transformando aquele lugar no centro fixo e necessário para a prática de suas atividades.

A base legal do domicílio se encontra disposta no artigo 70 do Código Civil de 2002:

Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo.

O domicílio é constituído por duas bases. São elas:

a) Base objetiva: Traduz-se no ato de fixação em determinado local;

b) Base subjetiva: É o ânimo definitivo de permanência no local.

Desta maneira, se o indivíduo vem a se fixar em um certo local, com a intenção de nele permanecer, vindo
a transformá-lo no centro de seus negócios, depreende-se que tal indivíduo constituiu, ali, o seu domicílio civil.

Em outra seara, vale a pena registrar que não existe empecilhos para que uma pessoa resida em mais de um
local com habitualidade, considerando somente um desses locais como um centro principal de seus negócios,
ou, como seu domicílio.

No entanto, caso uma pessoa tenha várias residências e viva de forma alternada em cada uma delas, sem
que seja possível saber qual é de fato o seu domicílio, ou, seja difícil considerar apenas uma como seu centro
principal, denota-se o correto de acordo com o artigo 71 do Código Civil de 2002, é considerar qualquer uma
delas como sendo o seu centro principal.

Vejamos o que dispõe o aludido dispositivo legal:

Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á

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domicílio seu qualquer delas.

— Do Tratamento Legal e da Mudança de Domicílio

Ressalta-se de antemão, que o Código Civil de 1.916 conceituava que o domicílio civil da pessoa natural,
segundo o seu artigo 31, se tratava do lugar onde ela estabelece sua residência com ânimo definitivo.

Entretanto, de acordo com o artigo 32 do referido Código, caso a pessoa natural tivesse várias residências
onde alternadamente vivia, ou, ainda, diversos centros de ocupações habituais, o seu domicílio era considerado
qualquer destes ou daquelas, vindo, desta forma, a admitir, a pluralidade de domicílios.

Nesse sentido, aplicando-se o princípio da pluralidade domiciliar, se a pessoa mora em um lugar com sua
família, mas, exerce em outro a sua profissional, ou realiza ali os seus principais negócios jurídicos, qualquer
um desses lugares, é considerado seu domicílio.

À luz do próprio Código de Processo Civil de 2.015, nota-se o uso do princípio da pluralidade domiciliar,
quando esse caderno processual determina em seu artigo 46, § 1º, o seguinte:

Art. 46. A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis será proposta, em regra, no
foro de domicílio do réu.

§ 1º Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles.

Desta maneira, o Código Civil de 2002 também condescendeu a pluralidade de domicílios, vindo a anunciar
sobre o assunto em seus artigos 70 e 71, o seguinte:

Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo.

Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á
domicílio seu qualquer delas.

Denota-se que o legislador usou de inovação, ao substituir a expressão “centro de ocupações habituais”,
por outra de uso mais abrangente, ao dispor, no art. 72, que: “é também domicílio da pessoa natural, quanto às
relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida”, e, ainda, “se a pessoa exercitar profissão em
lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem”.

Em consonância com a maior parte da doutrina, a consagração do critério relacionado à relação profissional
é mais adequada, tendo em vista que a preferência pelo local onde ocorrem as relações profissionais servirá
tanto para definir o domicílio do comerciante, quanto para definir o domicílio do empregado, podendo aplicar-se
as regras contidas nos artigos 469 e 651, § 1º, da CLT.

Para que seja feita a mudança de residência, basta que a pessoa manifeste tal vontade e a faça valer, tendo
em vista que a prova da intenção resulta do que declarar a pessoa às autoridades do lugar que deixa de morar,
e para onde irá, bem como, caso não venha a fazer tais declarações, da própria mudança juntamente com as
circunstâncias que a determinaram. É o que predispõe o artigo 74 CC/2002. Vejamos:

Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar.

O dispositivo acima, cuida-se de norma jurídica imperfeita, haja vista a ausência de declaração não ocasio-
nar nenhuma sanção ao omitente.

— Do Domicílio Aparente ou Ocasional

De início, considera-se que a necessidade de fixação do domicílio advém de imperativo de segurança jurí-
dica. Assim, pelo fato de existirem pessoas que não possuam residência fixa, ou que vivam sempre viajando, a

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legislação criou a teoria do domicílio aparente ou ocasional, segundo a qual, aquele que cria as aparências de
um domicílio em determinado lugar, pode ser considerado pelo terceiro como tendo ali o seu domicílio.

O artigo 73 do Código Civil de 2.002 tratou de aplicar de forma, a teoria do domicílio aparente ou ocasional.
Vejamos:

Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for encon-
trada.

Assim sendo, no local em que a pessoa for encontrada, a lei acabou por criar uma aparência de domicílio,
podendo a pessoa ser demandada judicialmente em tal local. Exemplos: Ciganos, andarilhos, artistas de circo,
dentre outros.

É importante frisar, por último, que o Código de Processo Civil de 2015, também faz o uso da regra acima,
estabelecendo no parágrafo 2º do art. 46, o seguinte:

Art. 46 . Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele poderá ser demandado onde for encontrado
ou no foro de domicílio do autor.

— Do Domicílio da pessoa jurídica

De modo geral, o domicílio civil da pessoa jurídica de direito privado é a sua sede, devidamente indicada em
seu estatuto, contrato social ou ato constitutivo equivalente, sendo considerado assim, o seu domicílio especial.

Denota-se que caso não exista tal fixação, a legislação irá operar de forma supletiva ao considerar como seu
domicílio, o lugar onde funcionarem as suas diretorias e administrações, bem como verificar se existem filiais
em diversos lugares, sendo que caso assim seja, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele
praticados, nos moldes do artigo 75, IV e § 1º, do Código Civil de 2.002.

Sobre o tema, o Supremo Tribunal Federal consolidou entendimento por meio da súmula 363 da seguinte
maneira:

Súmula 363 – STF – A pessoa jurídica de direito privado pode ser demandada no domicílio da agência ou
do estabelecimento em que se praticou o ato.

Assim, caso a administração ou diretoria da pessoa jurídica de direito privado se encontre no estrangeiro, a
lei considera como seu domicílio, em relação às obrigações contraídas por qualquer uma de suas agências, o
lugar do estabelecimento, situado no Brasil, a que ela corresponder, de acordo com o artigo 75, § 2º, do Código
Civil de 2.002.

Em relação à pessoas jurídicas de direito público, nos ditames do artigo 75 do Código Civil de 2002, elas tem
domicílio em lei da seguinte maneira:

a) A união: Possui como domicílio o Distrito Federal;

b) Os estados e os territórios: Possuem como domicílio as capitais;

c) Os municípios: Possuem como domicílio o lugar onde se encontre funcionando a Administração Munici-
pal;

d) As demais pessoas jurídicas de direito público: Possuem por domicílio o lugar onde funcionarem as
respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial nos seus estatutos ou atos cons-
titutivos.

Em termos de lei seca, temos:

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Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:

I - da União, o Distrito Federal;

II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;

III - do Município, o lugar onde funcione a administração municipal;

IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou
onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos.

Vale a pena registrar que o critério estabelecido por lei para a fixação do domicílio das pessoas jurídicas de
direito público nem sempre se identifica com a regra adotada para determinar a competência de foro ou terri-
torial.

Desta maneira, o Código de Processo Civil de 2.015, predispõe por meio dos artigos 51 e 52, o seguinte:

Art. 51. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autora a União.

Parágrafo único. Se a União for a demandada, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no
de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou no Distrito Federal.

Art. 52. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autor Estado ou o Distrito Fe-
deral.

Parágrafo único. Se o Estado ou o Distrito Federal for o demandado, a ação poderá ser proposta no foro
de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou na
capital do respectivo ente federado.

Nesse sentido, depreende-se que a lei processual optou por tornar menos rígida a diretriz contida no inciso
I do art. 99 do CPC/1.973, que conduzia a competência para o foro da capital do Estado, ou, do Território para
as ações nas quais a União ou o Território eram autores, rés ou, também, intervenientes.

— Das Espécies de Domicílio

De antemão, denota-se que o domicílio voluntário é o usual e comum no Ordenamento Jurídico, uma vez
que advém do ato de livre vontade do indivíduo, que fixa residência em um determinado local, com ânimo defi-
nitivo, animus manendi, sendo que esta espécie de domicílio não sofre interferência da lei.

No condizente ao domicílio legal ou necessário, verifica-se que ele advém de determinação legal como for-
ma de atenção à condição especial que determinadas pessoas possuem.

Desta maneira, de acordo com o artigo 76 do Código Civil de 2.002, são possuidores de domicílio necessá-
rio: o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso.

Em alusão ao regimento dado pelo artigo 76 do Código Civil de 2.002, podemos esquematizar da seguinte
forma:

DOMICÍLIO (Art. 76, § U, CC/2.002)


DO INCAPAZ É o do seu representante ou assistente;
DO SERVIDOR O lugar em que exerce permanentemente as suas
PÚBLICO funções;
O lugar onde serve, e, sendo da Marinha ou da
DO MILITAR Aeronáutica, a sede do comando a que se encontra
imediatamente subordinado;

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DO MARÍTIMO O lugar onde o navio estiver matriculado;
DO PRESO O lugar onde estiver cumprindo a sentença.
Art. 76 (...)
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu
LEGISLAÇÃO: representante ou assistente; o do servidor público, o
lugar em que exercer permanentemente suas funções;
art. 76, § U, o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da
CC/2.002 Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar
imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o
navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que
cumprir a sentença.

Nesse ponto, vale a pena destacar que o agente diplomático, ao ser citado no estrangeiro, alegue extraterri-
torialidade sem informar onde tem, no país, o seu domicílio, poderá ser demandado no Distrito Federal, ou, no
último ponto do território brasileiro onde o teve, nos ditames do artigo 77 do Código Civil de 2.002.

Em relação ao domicílio de eleição ou especial, destaca-se que ele advém do ajuste feito entre as partes de
um contrato. Para regularizar a situação, dispõe o artigo 78 do Código Civil de 2.002:

Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e cumpram
os direitos e obrigações deles resultantes.

Esse dispositivo se encontra coadunado com o determinado nos artigos 62 e 63 do Código de Processo Civil
de 2015. Vejamos:

Art. 62. A competência determinada em razão da matéria, da pessoa ou da função é inderrogável por con-
venção das partes.

Art. 63. As partes podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde será
proposta ação oriunda de direitos e obrigações.

No entanto, convém registrar que o dispositivo acima, poderá ser apenas em relações jurídicas nas quais
predomine o princípio da igualdade dos contratantes, bem como de sua autonomia de vontade.

Isso acontece pelo fato de que no campo do Direito do Consumidor, considera-se ilegal a cláusula contratual
que estabelece o foro de eleição em proveito do fornecedor do produto ou serviço, em prejuízo do consumidor,
por violar a norma contida no artigo 51, IV, do CDC que considera nula de pleno direito a cláusula de obrigação
iníqua, abusiva, que coloque o consumidor em desvantagem exagerada, sendo assim, incompatível com a
boa-fé e a equidade de forma geral.

Infere-se que ainda, que se dê ciência antecipada da cláusula ao consumidor, isso porque o sistema de
proteção oferecido pelo Código, fundado por superior interesse público, não permite que o fornecedor seja
beneficiado por tal prerrogativa.

Por fim, ressalta-se que é inegável o fator de desigualdade econômica existente entre as partes contratan-
tes, somente mitigada pelos mecanismos legais de freios e contrapesos advindos do comando contratual do
Código de Defesa do Consumidor, assim, verifica-se a compensação da desigualdade econômica através de
uma igualdade jurídica.

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CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO
TÍTULO III
DO DOMICÍLIO

Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo.

Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á
domicílio seu qualquer delas.

Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde
esta é exercida.

Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio
para as relações que lhe corresponderem.

Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for encon-
trada.

Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar.

Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às municipalidades dos lugares,
que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que
a acompanharem.

Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:

I - da União, o Distrito Federal;

II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;

III - do Município, o lugar onde funcione a administração municipal;

IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou
onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos.

§ 1 o Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será conside-
rado domicílio para os atos nele praticados.

§ 2 o Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídi-
ca, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no
Brasil, a que ela corresponder.

Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso.

Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do servidor público, o


lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da
Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio
estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.

Art. 77. O agente diplomático do Brasil, que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem designar
onde tem, no país, o seu domicílio, poderá ser demandado no Distrito Federal ou no último ponto do território
brasileiro onde o teve.

Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e cumpram
os direitos e obrigações deles resultantes.

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Bens

De acordo com a concepção jurídica, lato sensu, bem jurídico é a utilidade, física ou imaterial, objeto de uma
relação jurídica pessoal ou real.

Ressalta-se que o Código Civil de 1916, na Parte Geral, ao se referir ao objeto das relações jurídicas, fazia
menção às coisas, mas, não aos bens. Já na Parte Especial, tratava do direito das coisas, e não do direito dos
bens.

Contemporaneamente, o Código Civil de 2002 através dos artigos 79 ao 103, pela Parte Geral, não faz mais
menção ao direito das coisas, mas, sim sobre o direito dos bens.

Desta forma, ante tais fatos, originou-se uma controvérsia em relação à distinção entre bem e coisa.

Nesse diapasão, ressalta-se que dentre algumas correntes doutrinárias, destaca-se a corrente defendida
por Maria Helena Diniz que afirma que coisa é tudo o que se encontra no Universo, com exceção das pessoas.
Nesse conjunto das “coisas”, estão os bens.

Já em relação ao conceito de bens, para a referida jurista, aduz-se que bens são as coisas que podem ser
objeto de apropriação pelo ser humano, sendo, desta forma, um objeto de direito por parte das pessoas. Exemplo: o
ar é uma coisa, mas, não um bem, sendo que tal elemento, no caso seria um gênero do qual o bem seria em espécie.

Nesse sentido, infere-se que existem bens jurídicos que não são considerados como coisas, que são os
direitos autorais, os créditos, o direito de imagem, dentre outros.

Ressalta-se que o Código Civil de 2002, embora não diferencie os conceitos, considera o vocábulo “bem
jurídico” como sendo o instituto que compreende as coisas e os bens imateriais.

— Da Classificação

Dos bens considerados em si mesmos

Nessa classificação, depreende-se que os bens são analisados dentro da seara de sua individualidade.

— Bens corpóreos e incorpóreos

De antemão, informa-se que a classificação formal em estudo não se encontra em lei codificada, porém, na prática, pos-
sui grande aplicabilidade.

Um grande exemplo disso, é o fato de o Código Penal trazer em seu caderno processual, vários tipos pró-
prios para os ilícitos praticados contra a propriedade imaterial que se trata dos bens incorpóreos, como a viola-
ção de direito autoral disposta no artigo 184, dentre outros crimes desta natureza.

Podemos classificar os bens em corpóreos e incorpóreos da seguinte maneira:

a) Bens corpóreos: Tratam-se daqueles que possuem existência material de forma manifestamente per-
ceptível aos sentidos humanos. Exemplos: os bens móveis como os automóveis, livros; e os bens imóveis,
como os terrenos, dentre outros;

b) Bens incorpóreos: São bens considerados abstratos, de visualização ideal não concreta, com existên-
cia apenas jurídica, por força da atuação do Direito. Exemplos: vida, saúde, liberdade, direitos autorais, etc.

Desta maneira, apesar de as relações jurídicas possuírem como objeto bens corpóreos e incorpóreos, des-
taca-se a existência de diferenças na sua disciplina jurídica. Um exemplo disso, é o fato de que apenas os bens

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corpóreos se encontram sujeitos ao objeto de contrato de compra e venda, ao passo que os bens imateriais
se transferem apenas através do contrato de cessão, além de não poderem, via de regra, ser adquiridos por
usucapião e nem ser objeto de tradição, posto que esta acaba por provocar a entrega da coisa.

— Dos Bens Imóveis e Móveis

Esta espécie de classificação trata do bem em sua origem natural substancial. Desse modo, temos:

Bens Imóveis

São os bens que impossibilitados de ser transportados de um lugar para outro sem que a sua substância
sofra alteração. Exemplo: um loteamento de casas urbanas.

Sobre o assunto, dispõe o Código Civil de 2.002, englobando ainda os bens imóveis que não perdem o ca-
ráter de imóveis:

Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente.

Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:

I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;

II - o direito à sucessão aberta.

Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis:

I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local;

II - os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem.

Bens Móveis

São os bens que podem ser deslocados sem quebra ou fratura, como uma geladeira, por exemplo.

Nesta categoria, englobam-se os bens suscetíveis de movimento próprio, considerados como móveis, os
bens semoventes, como por exemplo, um animal de tração.

Tal diferenciação acima possui grande importância pelo fato de a alienação de bens móveis se encontrar
revestida de formalidades que não são exigidas para os bens móveis.

Nesta seara, na legislação pátria, ao título aquisitivo, que normalmente é o contrato, se segue a solenidade
do instrumento do registro. Porém, para os bens móveis, o registro é dispensado havendo somente a tradição
da coisa.

De acordo com o Código Civil de 1916, em seus artigos 235, I, e 242, I, qualquer um dos cônjuges, a inde-
pender do regime de bens adotado no casamento, só poderia alienar ou gravar de ônus real os bens, com a
expressa autorização do outro.

Porém, em inovação, o Código Civil de 2002, por meio do artigo 1.647, manteve a mesma restrição, porém,
não aplicou esta limitação aos cônjuges casados sob regime de separação absoluta.

A doutrina classifica os bens imóveis da seguinte maneira:

a) Bens imóveis por sua própria natureza: O atual Código Civil afirma no artigo 79, serem imóveis “o solo
e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente”.

b) Imóveis por acessão física, industrial ou artificial: Nesse rol, está tudo o que o indivíduo incorporar
de forma permanente ao solo, como os edifícios e construções, por exemplo, de maneira que não é possível
retirá-los sem que haja destruição;

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Obs. importante: Acessão, quer dizer incorporação e união física com aumento de volume da coisa prin-
cipal, tendo em vista que os bens móveis incorporados de forma intencional ao solo adquirem a sua natureza
imobiliária. Exemplo: A argamassa usada na construção de casas.

Além do exposto, aduz-se que não perdem a natureza de bens imóveis, os materiais que são separados de
forma provisória da construção de uma casa, por exemplo, para nesse imóvel serem reutilizados.

Tal matéria se encontra devidamente regulada pelo artigo 81, I e II do Código Civil. Vejamos na íntegra:

Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis:

I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local;

II - os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem.

c) Imóveis por acessão intelectual: Cuidam-se dos bens que o proprietário de forma intencional, destina
e mantém no imóvel para exploração industrial, aformoseamento ou comodidade. Exemplo: Escadas de emer-
gência;

d) Imóveis por determinação legal: Prevalece a vontade do legislador, mas, não o aspecto naturalístico do
bem. Tais bens podem ser assim classificados:

• Bens móveis por sua própria natureza: São os bens que podem ser transportados de um local para outro
com o uso da força alheia, sem deterioração de sua substância. Exemplo: um livro.

• Bens imóveis por antecipação: São os bens que mesmo estando integrados ao solo, são destinados a se-
rem extraídos e transformados em móveis. Exemplo: As árvores plantadas com destino ao corte.

• Bens móveis por determinação legal: São bens considerados de natureza mobiliária por expressa deter-
minação de lei específica. Exemplo: Artigo 83 do CC/2002.

• Bens semoventes: São os bens que se movem de um lugar para outro, por movimento próprio. Exemplo:
O cavalo.

Vale destacar, que recentemente foi aprovado o Projeto de Lei 27/18 que estabelece que os animais pas-
sam a ter natureza jurídica sui generis, como sujeitos de direitos despersonificados. Ou seja, animais não são
coisas, são seres sencientes dotados de natureza biológica e emocional e passíveis de sofrimento e precisam
de carinho e proteção.

Com efeito, os Tribunais tem decidido sobre o assunto, sempre de forma a tutelar os animais como seres
sencientes, e não como coisas. Sobre o tema, vejamos um recente julgado do Tribunal de Justiça de São Paulo:

Apelação. Sentença de improcedência. Tutela de animais de estimação. Tratamento jurídico destinado


aos animais que, à luz das atuais demandas da sociedade, não são mais considerados como coisa na
acepção jurídica do termo. Seres sencientes, passíveis de emoção, dor e sofrimento. Crise de direito material
que deve ser apreciada à luz de tal perspectiva. Resultado da prova demonstra que a separação das gatas, que
foram adotadas conjuntamente, pode causar grandes prejuízos ao bem-estar e saúde destas, inclusive com
risco, ainda que pequeno, de morte. Ademais, também restou demonstrada a existência de um vínculo mais
intenso estabelecido entre as gatas e a ré. Impossibilidade de separação total dos animais. Sentença mantida.
Recurso não provido. (TJ-SP - AC: 10066649120198260704 SP 1006664-91.2019.8.26.0704, Relator: Ana Lu-
cia Romanhole Martucci, Data de Julgamento: 22/02/2021, 33ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação:
23/02/2021)

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— Dos Bens Fungíveis e Infungíveis

A classificação legal encontra respaldo no art. 85 do Código Civil de 2.002. Vejamos de forma detalhada a
descrição de cada ema delas:

Bens Fungíveis

São os bens passíveis de serem substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. Tal
classificação é característica dos bens móveis. Exemplos: Arroz, dinheiro, soja, dentre outros.

Bens Infungíveis

São os bens de natureza insubstituível, como uma obra de arte, por exemplo. São destaques marcantes
dos bens infungíveis:

Em geral, o atributo da fungibilidade advém da natureza do bem. Entretanto, há ressalvas, pois, a vontade
das partes poderá tornar um bem fungível em bem infungível. Exemplo: O empréstimo gratuito de um arranjo
somente para servir de enfeite para ornamentar um ambiente. Esse bem terá que ser devolvido ao final da ce-
lebração, não se admitindo sua substituição por outro;

• A fungibilização, em alguns casos, poderá advir do valor histórico de um determinado bem;

• Os contratos de mútuo e comodato possuem como elemento diferenciador a natureza fungível ou infungí-
vel, concomitantemente do bem emprestado.

Assim, em suma, temos:

BENS
FUNGÍVEIS INFUNGÍVEIS
São bens que podem
ser substituídos por São bens que não
outros da mesma podem ser substituídos.
espécie, quantidade e Exemplo: Uma obra de
qualidade. Exemplo: O arte.
dinheiro.

— Dos Bens Consumíveis e Inconsumíveis

Bens Consumíveis

São considerados consumíveis, os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância,
bem como aqueles que são destinados à alienação, como o alimento, por exemplo.

Bens Inconsumíveis

São os bens que suportam uso continuado, sem prejuízo do seu perecimento progressivo e natural. Exem-
plo: Um barco de pesca.

Existem determinados direitos que não recaem sobre bens consumíveis, como é o caso do direito real de
usufruto. Havendo tal acontecimento, estaremos diante do usufruto impróprio ou quase usufruto.

Vejamos abaixo, de forma sintetizada:

BENS

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BENS
BENS CONSUMÍVEIS
INCONSUMÍVEIS
São bens móveis cujo São bens móveis
uso importa destruição que suportam o uso
imediata da própria
continuado. Exemplo:
substância. Exemplo: Uma bicicleta.
Pizza

— Dos Bens divisíveis e indivisíveis

Bens Divisíveis

De acordo com o Código Civil de 2002, os bens divisíveis podem ser assim conceituados:

Art. 87 . Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração nasua substância, diminuição consi-
derável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam.

Desta maneira, de acordo com o dispositivo mencionado acima, bens divisíveis são aqueles que podem ser
fracionados em tamanhos reais e distintos, vindo a formar cada um deles um todo perfeito.

Bens Indivisíveis

Os bens poderão ser indivisíveis das seguintes formas:

a) Por sua própria natureza. Exemplo: um cachorro;

b) Por expressa determinação legal. Exemplo: a servidão;

c) Por convenção. Exemplo: Em uma obrigação de pagar em dinheiro a ser satisfeita por diversos devedo-
res, com cláusula de obrigação de indivisibilidade do pagamento.

Obs. importante: De acordo com Orlando Gomes, “a distinção entre bens divisíveis e indivisíveis aplica-se
às obrigações e aos direitos. A regra dominante para as obrigações é que, mesmo quando a prestação é divi-
sível, o credor não pode ser compelido a receber por partes, se assim não convencionou. Se a prestação for
indivisível e houver pluralidade de devedores, cada qual será obrigado pela dívida toda”.

Sobre o assunto, vejamos o quadro abaixo:

BENS
BENS DIVISÍVEIS BENS INDIVISÍVEIS
São bens que podem se São bens que não
repartir em porções reais admitem divisão
e distintas, formando cômoda sem
cada uma delas um todo desvalorização ou
dano.
perfeito. Exemplo: saca
de café. Exemplo: cavalo.

— Dos Bens Singulares e Coletivos

Bens Singulares

Os bens singulares são coisas consideradas em sua individualidade. Geralmente são representados por
uma unidade autônoma, sendo por esse motivo, diferenciada de quaisquer outras.

Os bens simples podem ser considerados simples quando as partes que os compõem se encontram coadu-
nadas de forma natural, como uma árvore, por exemplo. Já os bens compostos, são caracterizados quando a

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harmonia de seus componentes advém de criação humana. Exemplo: Um computador.

Bens Coletivos

São considerados coletivos, os bens que sendo compostos de várias coisas singulares, são considerados
em conjunto, formando um todo homogêneo. Exemplo: Uma biblioteca.

É importante salientar que as coisas coletivas são formadoras de universalidades de fato ou de direito,
sendo que a universalidade de fato é um acoplado de coisas singulares simples ou compostas, aglutinadas pela
vontade da pessoa com destinação comum, como um rebanho, por exemplo.

Sobre o assunto acima, o Código Civil de 2002, dispõe através do artigo 90, caput:

Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que, pertinentes à mesma pessoa, te-
nham destinação unitária.

Nesta seara, o atual Código Civil acaba por dispensar-lhe tratamento novo, em seu art. 91, ao afirmar que
constitui universalidade de direito de uma pessoa, o complexo de relações jurídicas dotadas de valor econômi-
co, como o patrimônio, por exemplo.

Em suma, vejamos no quadro abaixo a respeito de tema apresentado:

BENS
BENS SINGULARES BENS COLETIVOS
São coisas consideradas São coisas que, em
em sua individualida- conjunto, formam um
de, representadas por todo homogêneo.
uma unidade autônoma. Exemplo: uma biblio-
Exemplo: um livro. teca;

— Dos Bens Reciprocamente Considerados

De início, aduz-se que esta forma de classificação leva em consideração o vínculo jurídico que existe entre
o bem jurídico principal e o acessório. Assim, temos:

Principal

Trata-se do bem que possui autonomia estrutural, ou seja, tal bem existe sobre si, de maneira abstrata ou
concreta.

Acessório

De acordo com o artigo 92 do CC/2002, trata-se do bem, cuja existência supõe a do principal, sendo que a
regra geral é que o acessório segue sempre a sorte do principal, inclusive no campo do Direito das Obrigações,
lembrando que o contrato de fiança é acessório em desfavor do contrato principal de compra e venda.

Assim, temos:

BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS


PRINCIPAL ACESSÓRIO

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É o bem que existe Trata-se do bem cuja
sobre si, de forma existência supõe a do
abstrata ou concreta. principal. Exemplo:
Exemplo: a árvore em o fruto em relação à
relação ao fruto. arvore.
Regra geral: Segundo o princípio da “gravitação
jurídica”, o bem acessório segue o principal.

Assim, destaca-se que são considerados bens acessórios:

• Os frutos: Que são as utilidades que a coisa principal periodicamente produz, sendo que a sua percepção
não diminui a sua substância. Exemplo: A maçã, haja vista que os rendimentos consistem em frutos civis;

• Os produtos: São as utilidades que a coisa principal produz, através das quais, a percepção ou extração
diminui a sua substância. Exemplo: Metal extraído das rochas;

• As pertenças: Se tratam de coisas acessórias que servem para conservar ou facilitar o uso das coisas
principais, sem que destas venham a fazer parte. Exemplo: Máquina usada em fábrica;

• As benfeitorias: Cuida-se de obra realizada pelo indivíduo na estrutura da coisa principal, com o objetivo
de conservá-la, melhorá-la ou embelezá-la. Podem ser úteis, sendo aplicadas com o objetivo de facilitar o uso
da coisa, como a abertura de uma nova entrada para servir como garagem para a casa; e, voluptuárias, que
são utilizadas apenas para simples deleite ou prazer, sem implicar aumento da utilidade da coisa. Exemplo: A
decoração da sacada de um apartamento;

• As partes integrantes: Não se encontram disciplinadas de forma expressa pelo Código Civil, porém, são
os bens que quando unidos a um bem principal, formam com ele um todo. As partes integrantes não são provi-
das de existência material própria, embora mantenham sua identidade.

— Dos Bens Públicos e Particulares

Em relação ao titular do domínio, ressalta-se que os bens poderão ser públicos ou particulares.

Bens Particulares

São bens que não pertencem ao domínio público, vindo a fazer parte da iniciativa privada, sendo que sua
matéria é de interesse exclusivo do Direito Civil.

Bens Públicos

São os bens que nos ditames do artigo 98 do CC/2002, pertencem à União, aos Estados ou aos Municípios.

Tal categoria, objeto de domínio público, em decorrência de sua grande importância, se encontra subdividida
em:

a) Bens de uso comum do povo: Cuidam-se de bens, cujo uso, não se encontra subordinado a qualquer
tipo de discriminação ou ordem especial de fruição e são inalienáveis. Exemplo: As estradas;

b) Bens de uso especial: São inalienáveis e considerados bens públicos que por título especial na forma
da lei, são atribuídos a determinada pessoa, sendo também aqueles usados pela Administração Pública para a
realização dos seus serviços, nos ditames do artigo 99, II, do CC/2002. Exemplo: Os imóveis em que funcionam
as escolas públicas;

c) Bens dominicais ou dominiais: Se tratam dos bens públicos que não são afetados em relação ao uso
direto e imediato do povo, nem aos usuários de serviços, porém, pertencem ao patrimônio estatal. Exemplo: As

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terras devolutas.

Obs. importante: O Código Civil de 2002 em seu artigo 102, seguindo diretriz consagrada no direito brasi-
leiro, proíbe de forma expressa a usucapião de bens públicos.
CÓDIGO CIVIL
LIVRO II
DOS BENS
TÍTULO ÚNICO
DAS DIFERENTES CLASSES DE BENS
CAPÍTULO I
DOS BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS
SEÇÃO I
DOS BENS IMÓVEIS

Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente.

Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:

I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;

II - o direito à sucessão aberta.

Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis:

I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local;

II - os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem.


SEÇÃO II
DOS BENS MÓVEIS

Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem altera-
ção da substância ou da destinação econômico-social.

Art. 83. Consideram-se móveis para os efeitos legais:

I - as energias que tenham valor econômico;

II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes;

III - os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações.

Art. 84. Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados, conservam sua
qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da demolição de algum prédio.
SEÇÃO III
DOS BENS FUNGÍVEIS E CONSUMÍVEIS

Art. 85. São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quan-
tidade.

Art. 86. São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância, sendo
também considerados tais os destinados à alienação.

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SEÇÃO IV
DOS BENS DIVISÍVEIS

Art. 87. Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração na sua substância, diminuição consi-
derável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam.

Art. 88. Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por determinação da lei ou por vontade
das partes.
SEÇÃO V
DOS BENS SINGULARES E COLETIVOS

Art. 89. São singulares os bens que, embora reunidos, se consideram de per si , independentemente dos
demais.

Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que, pertinentes à mesma pessoa,
tenham destinação unitária.

Parágrafo único. Os bens que formam essa universalidade podem ser objeto de relações jurídicas próprias.

Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma pessoa, dotadas de
valor econômico.
CAPÍTULO II
DOS BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS

Art. 92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente; acessório, aquele cuja existência
supõe a do principal.

Art. 93. São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo duradouro,
ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro.

Art. 94. Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o
contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso.

Art. 95. Apesar de ainda não separados do bem principal, os frutos e produtos podem ser objeto de negócio
jurídico.

Art. 96. As benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias.

§ 1 o São voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o
tornem mais agradável ou sejam de elevado valor.

§ 2 o São úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem.

§ 3 o São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore.

Art. 97. Não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao bem sem a inter-
venção do proprietário, possuidor ou detentor.
CAPÍTULO III
DOS BENS PÚBLICOS

Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público inter-
no; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.

Art. 99. São bens públicos:

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I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças;

II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da adminis-
tração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias;

III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de di-
reito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.

Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os bens pertencentes às pes-
soas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de direito privado.

Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conser-
varem a sua qualificação, na forma que a lei determinar.

Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências da lei.

Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião.

Art. 103. O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido legal-
mente pela entidade a cuja administração pertencerem

Fatos jurídicos. Negócio jurídico. Atos jurídicos lícitos. Atos ilícitos

Fato jurídico é o acontecimento de ordem natural ou humana que sistematiza a ocorrência de efeitos consti-
tutivos, modificativos ou extintivos de direitos e obrigações, no campo do direito.

Desta forma, depreende-se que o fato jurídico é o fato que concretiza a hipótese contida na norma, abran-
gendo não somente os acontecimentos naturais, mas também os fatos nos quais, mesmo existindo atuação
humana, esta se encontra desprovida de manifestação de vontade, sendo que ainda assim, produzirá efeitos
jurídicos.

— Negócio jurídico

Conceituação

Podemos conceituar o negócio jurídico, como a declaração de vontade enviada em cumprimento aos seus
pressupostos de existência, validade e eficácia, com o objetivo de produzir efeitos que são aceitos pelo orde-
namento jurídico pretendidos pelo agente.

Ressalta-se que a regra geral de interpretação dos negócios jurídicos é o predisposto no artigo 112 do
CC/2002, que aduz que a manifestação de vontade é seu elemento mais importante.

Sobre o assunto, registra-se que a Lei nº 13.874/2019 que instituiu a Declaração de Direitos de Liberdade
Econômica, acrescentou dois parágrafos ao artigo 113 do Código Civil. Vejamos:

“§ 1º A interpretação do negócio jurídico deve lhe atribuir o sentido que:

I − for confirmado pelo comportamento das partes posterior à celebração do negócio;

II − corresponder aos usos, costumes e práticas do mercado relativas ao tipo de negócio;

III − corresponder à boa-fé;

IV − for mais benéfico à parte que não redigiu o dispositivo, se identificável; e

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V − corresponder a qual seria a razoável negociação das partes sobre a questão discutida, inferida das
demais disposições do negócio e da racionalidade econômica das partes, consideradas as informações dispo-
níveis no momento de sua celebração.

§ 2º As partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, de preenchimento de lacunas e de inte-


gração dos negócios jurídicos diversas daquelas previstas em lei.

Assim, caso as partes não tenham pactuado regras diversas, a Lei nº 13.874/2019, estabeleceu regras inter-
pretativas dos negócios jurídicos para favorecer a vontade das partes, nos moldes do artigo 113, § 1º.

Vejamos em síntese, as regras previstas nos incisos do § 1º do art. 113 do Código Civil, a serem aplicadas
de maneira cumulada:

a) Regra do contra proferentem, prevista no inciso IV: Em situações duvidosas, prevalece interpretação
favorável a quem não redigiu a cláusula contratual;

b) Regra da vontade presumível, disposta no inciso V: Em caso de dúvida, adota-se a interpretação que
for compatível com a vontade presumível das partes, verificando a racionalidade econômica, a pertinência com
as demais cláusulas do negócio e o contexto da época da celebração do negócio jurídico;

c) Regra da confirmação posterior, contida no inciso I: O comportamento das partes após a formalização
do contrato deve ser considerado compatível com a correta interpretação do negócio jurídico;

d) Regra da boa-fé e dos costumes, disposta nos incisos II e III: Deverá ser dada a preferência para a
interpretação mais compatível com a ética e a boa-fé das partes, bem como com os costumes relacionados à
espécie de negócio.

Dos Planos de análise do Negócio Jurídico

O negócio jurídico pode ser analisado sob a ótica de três planos. Vejamos:

a) Existência: Para que o negócio jurídico exista, é necessário o atendimento mínimo a determinados re-
quisitos;

B) Validade: A existência de um negócio jurídico não significa que ele é perfeito e com aptidão legal para
produzir efeitos, sendo também necessário que ele possua validade, tratando-se de um plano por meio do qual,
e se assentam os elementos de existência;

c) Eficácia: Mesmo que um negócio jurídico existente seja válido, não significa que ele irá produzir de ime-
diato os seus efeitos, tendo em vista que estes podem se achar limitados por elementos acidentais da decla-
ração.

Obs. importante: Sendo existente e válido um negócio jurídico, ele deverá estar apto a produzir efeitos de
forma imediata.

Dos defeitos do negócio jurídico

Os defeitos dos negócios jurídicos se classificam em:

a) Vícios de consentimento: São aqueles por meio dos quais, a vontade não é expressada de forma abso-
lutamente livre;

b0 Vícios sociais: São aqueles nos quais a vontade manifestada não possui a intenção pura e de boa-fé
que enuncia.

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Erro ou ignorância

O erro é considerado como causa de anulabilidade do negócio jurídico caso seja essencial, (substancial) ou,
escusável (perdoável).

Desta forma, dispõe o artigo 138 do CC/2002:

Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro subs-
tancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.

O erro substancial se trata de instituto que incide sobre a substância do ato que se pratica, sem o qual este
não haveria possibilidade de se realizar.

De acordo com o artig0 139 Código Civil de 2002 são hipóteses de erro:

Art. 139. O erro é substancial quando:

I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele
essenciais;

II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade,


desde que tenha influído nesta de modo relevante;

III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio
jurídico.

Nesse sentido, aduz-se que o erro poderá incidir no negócio, no objeto ou na pessoa, sendo que o erro inva-
lidante, poderá ser, escusável, ou seja, perdoável, dentro do esperado do indivíduo que atue com grau normal
de diligência. No entanto, ressalta-se que a alegação de erro não é admitida por parte do indivíduo que tenha
agido com acentuado grau de displicência.

Até aqui tratamos do erro de fato, porém, em relação ao erro de direito, pondera-se que em geral, o error
juris (aquilo que não se confunde com a ignorância por parte da lei), não constitui motivo de anulabilidade do
negócio.

Entretanto, em concordância com boa parte da doutrina, o erro de direito somente deve ser recebido em
caráter excepcional, por força da regra contida no artigo 3º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro
– LINDB - de que ninguém pode se escusar de cumprir a lei, alegando que não a conhece.

Assim, se não existe a pretensão de descumprir preceito de lei, caso o agente, de boa-fé venha incorrer na
prática de ato, caindo em erro substancial e escusável, aduz-se que por força da equidade, resulta a ocorrência
do erro de direito. Exemplo: A celebração de um contrato de importação de mercadoria, sem se ter o conhe-
cimento de que, momentos antes, foi publicado um decreto com norma proibitiva da entrada de determinado
produto no território nacional, fato que caso se anulasse o contrato apenas pela determinação legal da LINDB,
seria fazer com que o criador da legislação simplesmente fosse insensível para a realidade do que rotineira-
mente pode ocorrer, o que é tido como inadmissível.

Nesse diapasão, denota-se que o Código Civil de 2002, em seu artigo 39, acolheu o erro de direito subs-
tancial, sob a condição de que não haja recusa à aplicação da legislação, sendo que o requisito da boa-fé é
elemento indispensável para o reconhecimento desse tipo de erro.

Em alusão ao assunto mencionado, vale a pena destacar a referência feita pelo Código Civil de 2002 no arti-
go 144 que deduz que o pressuposto de erro que não torna inválido o negócio, caso a pessoa a quem a declara-
ção de vontade se dirige, se oferecer para executá-la de acordo com a vontade real daquele que se manifestou.

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Vejamos:

Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de
vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante.

Nesse diapasão, convém mencionar a respeito do vício redibitório e o erro, sendo que tais institutos não se
confundem, tendo em vista que o erro demonstra uma representação equivocada da realidade, uma falsa opi-
nião sobre o negócio, o seu objeto ou da parte com quem se trava a relação jurídica, sendo que tal defeito do
negócio acaba pela vontade do agente.

Em relação ao vício redibitório, denota-se que ele possui garantia legal prevista para os contratos comuta-
tivos, sendo que caso o adquirente, em decorrência de uma compra e venda, por exemplo, venha a receber
a coisa com defeito oculto que lhe diminui o valor, ou, prejudicar a sua utilização, terá o direito de rejeitá-la,
rescindindo o contrato, ou, caso opte, exigir o abatimento no preço.

Do dolo

Trata-se o dolo de erro provocado por terceiro, sendo, desta forma, todo artefato maléfico utilizado por uma
das partes ou por terceiro com a intenção certa de prejudicar outrem, quando da celebração do negócio jurídico.

Além disso, o dolo não pode ser presumido pelas circunstâncias de fato, devendo ser provado por quem o
alega.

Em relação à classificação de extensão dos seus efeitos no negócio jurídico, o dolo pode ser classificado da
seguinte forma:

a) Principal ou essencial: Para invalidar o ato, o dolo deve ser principal, vindo a atacar a causa do negócio
em si;

b) Acidental: É o dolo que apenas impede realização do negócio e gera a obrigação de indenizar.

Em relação à atuação do agente, o dolo poderá ser:

a) Positivo: Que advém de uma atuação comissiva. Exemplo: O vendedor que engana o cliente quanto à
natureza do produto colocado no mercado;

B) Negativo: Trata-se do resultado de uma omissão, interpretando uma abstenção maliciosa de valor ju-
rídico relevante. Exemplo: Quando uma das partes silencia de forma intencional, levando a outra a celebrar
negócio jurídico diferente do que pretendia realizar.

Sobre o dolo o Código Civil, traz uma clara previsão sobre o dolo negativo através do art. 147. Assim, temos:

Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou
qualidade que a outra parte haja ignorado constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não
se teria celebrado.

Além disso, poderá também o negócio jurídico ser anulado por dolo de terceiro. Desta maneira, o Código
Civil de 2002 prevê que o dolo de terceiro invalida o ato, não somente quando a parte a quem aproveite efeti-
vamente soube do expediente malicioso, mas também se dele devesse ter conhecimento, criando-se assim um
tipo de dolo eventual advindo da parte a quem aproveita o conluio.

Vejamos o que dispõe o artigo 148 sobre o assunto:

Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele
tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro res-

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ponderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou.

Por fim, outro ponto importante a respeito do dolo no negócio jurídico, é que dispõe o artigo 150 do CC/2002
ao determinar que quando ambas as partes do negócio agiram com dolo, por força do princípio que veda a
alegação da própria maldade em juízo, o chamado nemo propriam turpitudinem allegans, a lei proíbe que se
possa anular o negócio ou pleitear indenização.

Coação

Juridicamente falando, a coação é toda violência psicológica que se encontra capacitada para influenciar a
vítima a realizar negócio jurídico que por vontade própria não deseja efetuar.

As espécies de coação são as seguintes:

a) Coação física, ou, “vis absoluta”: Boa parte da doutrina defende que esta espécie de coação neutraliza
de modo completo a manifestação de vontade, tornando o negócio jurídico inexistente, e não apenas anulável;

b) Coação moral, ou, “vis compulsiva”: É a coação que que provoca na vítima um medo constante e
capaz de perturbar seu ego, levando-a a manifestar seu consentimento de forma viciada, sendo que a vontade
da pessoa coagida não se encontra neutralizada por inteiro, mas, sim, turbada e viciada pela ameaça que lhe
é dirigida pelo coator, sendo, por isso, causa de anulabilidade do negócio jurídico.

Nos ditames do art. 151 do Código Civil de 2002, a coação vicia o ato nas seguintes circunstâncias:

Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor
de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.

Em relação ao dispositivo acima, deduz-se que podem ser apontados os seguintes requisitos para a carac-
terização da coação:

a) A violência psicológica;

b) A declaração de vontade viciada;

c) O receio sério e fundado de grave dano à pessoa, à família, bem como de pessoa próxima desta, e tam-
bém aos bens do paciente.

Para um melhor entendimento do assunto, vejamos o que dispõe o artigo 152 do CC/2002:

Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do
paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela.

Nesse sentido, denota-se que se considera coação, a ameaça do exercício normal de um direito, haja vista
que reconhecendo a ordem jurídica o legítimo e regular exercício de um direito, a ameaça de seu exercício
não poderá ser considerada abusiva. Exemplo: O devedor, ao se tornar inadimplente, não poderá afirmar que
sofreu coação pelo fato de o credor o ter repreender no sentido de que caso não pagasse sua dívida, recorreria
à justiça.

Em relação à coação praticada por terceiro, determina o artigo 154 do CC/2002:

Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimen-
to a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos.

Ante a análise do referido dispositivo, verifica-se que a anulação do negócio é admitida se o beneficiário
sabia, ou devesse saber da coação, sendo que desta forma, irá responder de forma solidária com o terceiro
pelas perdas e danos sofridos.

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Por fim, destaca-se que caso a parte não coagida não sabia de nada, perdura o negócio jurídico, sendo que
o autor da coação irá responder por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto, nos ditames do
art. 155 do Código Civil de 2002.

Nesse sentido, a manutenção do negócio se trata de questão de justiça, haja vista que a parte contrária, de
boa-fé, não sabendo da coação advinda de terceiro, aplica gastos, vindo a realizar investimentos, de forma que
a sua anulação virá a lhe causar prejuízo injusto, podendo, nesse caso, o coagido exigir indenização do coator,
na proporção exata do dano sofrido.

Lesão

Trata-se do prejuízo decorrente da desproporção entre as prestações de um determinado negócio jurídico,


em desfavor do abuso da inexperiência, necessidade econômica ou futilidade de um dos declarantes.

Sobre a lesão, dispõe o artigo 157 do CC/2021:

Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a
prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.

§ 1º Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado
o negócio jurídico.

§ 2º Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favoreci-
da concordar com a redução do proveito.

De modo geral, a lesão é composta por dois requisitos básicos, sendo eles:

a) Objetivo ou material: Cuida-se da desproporção das prestações avençadas;

b) Subjetivo, imaterial ou anímico: Trata-se da ausência de experiência ou leviandade da parte lesada e


o dolo de proveito da parte beneficiada, característica que é destacada pela concepção tradicional do instituto
do negócio jurídico.

Obs. importante: A lesão é um vício que surge em concomitância com o negócio. No entanto, a teoria da
imprevisão pressupõe negócio válido que possui equilíbrio rompido pela superveniência de circunstância im-
prevista e imprevisível.

Estado de Perigo

O estado de perigo é um defeito do negócio jurídico possuidor de características comuns com o estado de
necessidade, que é uma causa de exclusão de ilicitude no direito penal.

O estado de perigo ocorre quando o agente, ao estar diante de situação de perigo devidamente conhecido
pela outra parte, emite declaração de vontade para resguardar direito seu, ou de pessoa próxima, assumindo
excessiva obrigação onerosa, vindo a se identificar por meio de uma especial hipótese de inexigibilidade de
conduta diversa, perante a ameaça de dano por que passa o agente, a quem não resta outra alternativa, senão
praticar o ato.

Sobre o assunto, dispõe o art. 156 do Código Civil de 2002:

Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pes-
soa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.

Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as
circunstâncias.

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Merece destaque, o parágrafo único do mencionado dispositivo, uma vez que a incidência da norma se mos-
tra perfeita ante a necessidade do declarante em salvar pessoa próxima, de perigo de grave dano conhecido
da outra parte, acaba por assumir obrigação excessivamente onerosa, sendo que no estado de perigo, diferen-
temente do que ocorre na coação, o beneficiário não empregou violência psicológica ou ameaça para que o
declarante assumisse obrigação excessivamente onerosa.

Simulação

De acordo com a maioria da doutrina, na simulação, é celebrado negócio jurídico que aparentemente é
normal, mas que na realidade, não possui a pretensão de atingir o efeito que juridicamente deveria estar apto
a produzir.

Trata-se de um defeito que não vicia a vontade do declarante, tendo em vista que este se encontra confa-
bulado de livre vontade e com o objetivo de atingir fins ilícitos, em detrimento da lei ou da sociedade como um
todo.

Sobre a simulação, predispõe o Código Civil de 2002:

Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância
e na forma164.

§ 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:

I — aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem,
ou transmitem;

II — contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;

III — os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.

§ 2º Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado.

A legislação civil pátria admite a simulação das seguintes formas:

a) Absoluta: O negócio é formado a partir de uma declaração de vontade ou, ainda, de uma confissão de
dívida emitida para não gerar efeito jurídico algum, criando-se determinada situação jurídica irreal, que lesa o
interesse de terceiro através da prática de ato jurídico que se demonstrava perfeito, mas, que era ineficaz.

b) Relativa: Aqui, é emitida declaração de vontade ou confissão falsa com o objetivo de encobrir ato de
natureza diversa, tendo em vista que os efeitos desejados pelo agente, são terminantemente proibidos por lei.

Pode ocorrer situações por meio das quais, a declaração de vontade é emitida aparentando conferir direitos
a uma pessoa, mas que acaba por transferir tais direitos para terceiro que não faz parte da relação jurídica,
configurando, assim a simulação relativa subjetiva.

Em outro âmbito, destacam-se situações nas quais as partes, na verdade não realizam nenhum negócio
jurídico, sendo que simulam a realização de tais negócios com o objetivo de criar uma aparência, sem que na
verdade desejem a realização do ato. Tratam-se tais situações de simulação objetiva, uma vez que a declara-
ção de vontade não se destina a produzir o resultado por que o agente não possui tal intenção.

Fraude contra credores

A fraude contra credores consiste no ato de alienação ou oneração de bens, praticado pelo devedor insol-
vente, ou que se encontre prestes a passar por ela, com o objetivo de prejudicar credor preexistente, em decor-
rência da diminuição experimentada pelo seu patrimônio.

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A fraude é composta por dois elementos, sendo eles:

a) Consilium fraudis: É o conluio fraudulento que possui natureza subjetiva;

b) Eventus damni: É o prejuízo causado ao credor que possui natureza objetiva.

Vejamos alguns importantes pontos sobre o tema em estudo que merecem destaque:

• Na fraude contra credores, o ato praticado é lesivo ao direito do credor, e deve ter a sua ineficácia judicial-
mente declarada;

• A anulação do ato praticado em fraude contra credores ocorre através de ação revocatória, denominada
ação pauliana;

• Quando ocorre a antecipação de pagamento feita a um dos credores quirografários, em detrimento dos
demais, nos termos do art. 162 do CC/2002, a ação é proposta também em desfavor do beneficiário do paga-
mento da dívida que ainda não venceu, sendo que tal beneficiário ficará obrigado a repor, em proveito do acervo
sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores, aquilo que já tenha recebido;

• O credor quirografário que já existia antes do ato fraudulento que tornou o devedor insolvente, possui legi-
timidade ativa para ajuizar a ação revocatória nos termos do artigo 158 do CC/2002, ação tal que não depende
de outorga uxória ou autorização marital, por que é de natureza pessoal;

• O devedor insolvente deverá figurar no polo passivo da ação, em conjunto com a pessoa que ele celebrou
o ato e o terceiro que haja atuado de má-fé, nos ditames do art. 161 do CC/2002;

• Caso o negócio fraudulento seja anulado, a vantagem que dele advir, será revertida em proveito do acervo
sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores.

Invalidade do negócio jurídico

No entendimento de Grinover, Cintra e Dinamarco, o reconhecimento da nulidade de um ato viciado se trata


de uma maneira de defender e proteger o ordenamento jurídico que se encontra em vigor, sendo que a previsi-
bilidade doutrinária e normativa da teoria das nulidades, é considerada como fator de empecilho da proliferação
de atos jurídicos ilegais eivados de vícios mais ou menos graves, dependendo da natureza do interesse jurídico
que sofreu a degradação.

Assim sendo, dentro dessa perspectiva, a nulidade absoluta viola norma de ordem pública, de natureza co-
gente, e carrega em si vício considerado grave.

Já o negócio anulável, ou nulidade relativa, se encontra dotado de vício menos grave, advindo da infringên-
cia de norma jurídica protetora de interesses privados.

Além das principais categorias já demonstradas, sendo elas a absoluta e relativa, as nulidades também po-
dem ser classificadas da seguinte forma:

a) Originária: Surge com o próprio ato, contemporaneamente à sua formação;

b) Sucessiva: Advém de causa superveniente;

c) Total: A nulidade atinge todo o ato, contaminando-o por completo;

d) Parcial: A nulidade contamina somente parte do negócio, conservando as demais disposições que por
força do princípio da conservação, podem ser preservadas.

Os artigos 166 e 167 do Código Civil de 2002, afirmam que é nulo o negócio jurídico quando:

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a) For celebrado por pessoa absolutamente incapaz;

b) For ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;

c) O motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;

d) Não revestir a forma prescrita em lei;

e) Preterir alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;

f) Tiver como objetivo fraudar a lei imperativa;

g) A lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção;

h) Tiver existido simulação.

São pressupostos de validade do negócio jurídico:

PLANO DE VALIDADE
Agente capaz e legitimado.
Manifestação de vontade livre e de boa-fé.
Forma livre ou prescrita em lei.
Objeto lícito, possível e determinado ou determi-
nável.

Como se percebe, todas as hipóteses legais retro mencionadas se encontram diretamente relacionadas com
um dos pressupostos estabelecidos de validade.

No que condizente à fraude, ressalta-se que de antemão, que a fraude que causa nulidade absoluta, não se
confunde com a fraude contra credores que se refere à vício social do negócio jurídico que justifica sua anula-
ção.

Além disso, a respeito das nulidades dos artigos anteriores, aduz o artigo 168 do Código Civil:

Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Mi-
nistério Público, quando lhe couber intervir.

Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou
dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das
partes.

Do dispositivo em comento, denota-se que o negócio nulo não admite confirmação. Isso ocorre pelo fato de que,
caso consiga se constatar o vício, o ato deverá ser refeito, afastando-se, assim, o seu defeito.

Quanto à prescritibilidade, boa parte da doutrina entende que “se a nulidade é de negócio jurídico relativo a
direito imprescritível, a ação para decretar-lhe a nulidade não prescreve jamais”.

Nesse sentido, o Código Civil de 2002, consagrou através de norma expressa, a imprescritibilidade da de-
claração de nulidade do negócio jurídico da seguinte forma:

Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo.

Entretanto, sobre o fato de a lei ter firmado norma expressa sobre o assunto, a teoria da imprescritibilidade
dos efeitos do ato nulo não é aceita de forma facilitada.

Obs. Importante: A imprescritibilidade dirige-se somente à declaração de nulidade absoluta do ato e não
atinge as eventuais pretensões condenatórias correspondentes.

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Sobre o tema em deslinde, vale a pena registrar que o artigo 171 do Código Civil, determina que o negócio
jurídico, além de outros casos expressamente previstos em lei, pode ser caracterizado pelos seguintes fatores:

a) Por incapacidade relativa do agente;

b) Por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.

Sobre os efeitos da anulabilidade antes de julgada por sentença, dispõe o artigo 177 do CC/2002:

Art. 177. A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se pronuncia de ofício; só os
interessados a podem alegar, e aproveita exclusivamente aos que a alegarem, salvo o caso de solidariedade
ou indivisibilidade.

Desta forma, se o objeto do negócio jurídico for indivisível, ou na possibilidade de solidariedade ativa ou
passiva entre as partes, a arguição de nulidade relativa feita por um dos envolvidos, aproveita aos demais.

Sobre a impugnação do ato anulável, depreende-se que ela ocorre através de ação anulatória de negócio
jurídico e o seu prazo decadencial é de quatro anos, nos ditames do artigo 178 do CC/2002), podendo ser
contando da seguinte maneira:

a) Em situação de coação, do dia em que ela cessar;

b) No caso de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o
negócio jurídico;

c) No caso de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.

Infere-se que esse prazo é reduzido para dois anos caso aconteça de a norma legal não estabelecer prazo
para a anulação, nos termos do artigo 179 do CC/2002:

Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a
anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato.

No que condiz ao ato anulável, infere-se que merece destaque a medida sanatória da confirmação, também
chamada ratificação, que se trata de medida sanatória voluntária, própria dos atos anuláveis, que consiste em
uma declaração de vontade com o fim de validar um negócio jurídico defeituoso por erro, dolo, coação, lesão, es-
tado de perigo ou fraude contra credores, desde que já se encontre desobrigado o vício de que padecia, levando
em conta que os seus efeitos retroagem à data do negócio que se pretende confirmar.

Sobre o assunto, dispõe o Código Civil de 2002:

Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de terceiro.

Quando da ocorrência de tal situação na qual um determinado contrato foi firmado sob ameaça e com
coação moral, e, posteriormente, averiguar-se que a avença terminou por beneficiar o coagido, poderá este
confirmar o negócio, vindo a renunciar ao direito de anulá-lo, sendo que tal confirmação poderá ocorrer das
seguintes formas:

a) Expressa: Ocorre quando as partes manifestam firme e claro propósito de reafirmar todos os termos do
negócio, devendo esta confirmação conter a substância do negócio celebrado e a vontade expressa de mantê-
-lo, nos termos do art. 173 do CC/2002);

b) Tácita: Mesmo que não haja manifestação clara de confirmá-lo, a parte comporta-se diante da outra
nesse sentido, como acontece quando, a despeito do vício, o devedor, que poderia alegá-lo, cumpre a sua
obrigação, nos ditames do art. 174 do CC/2002.

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Convém mencionar que o Código Civil de 2002, se posicionando ao lado dos ordenamentos jurídicos mais
modernos, adotou importante medida para os negócios jurídicos nulos. Vejamos:

Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que
visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade.

Aduz o referido dispositivo a respeito de medida sanatória, através da qual os elementos materiais de um
negócio jurídico nulo ou anulável são aproveitados, vindo a converter o negócio na forma legal e de acordo com
a vontade das partes, em outro negócio válido e com fins lícitos.

Sobre a conversão mencionada acima, é exigido para a sua configuração, a concorrência alguns requisitos,
sendo eles:

a) Material: Os elementos fáticos do negócio inválido são aproveitados e o negócio é convertido para a
categoria jurídica do ato válido;

b) Imaterial: Aqui, a intenção dos declarantes é designada à obtenção da conversão negocial, bem como à
recategorização jurídica do negócio inválido.

Por fim, registra-se que em se tratando da situação de terceiro de má-fé, que experimente prejuízo advindo
da confirmação de um determinado negócio jurídico, este nada poderá alegar, tendo em vista que a lei não deve
prestar tutela aos que agem de má-fé, posto que a confirmação não poderá em nenhuma hipótese violar direito
de terceiro de boa-fé.

Sobre o assunto, ressalta-se que a noção de boa-fé também se encontra presente em duas outras regras
legais específicas, nas quais é conservado o interesse de quem não deu causa à anulação do negócio jurídico,
sem prejuízo da disciplina geral de proteção aos incapazes. Vejamos a letra de lei:

Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a
sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se
maior.

Art. 181. Ninguém pode reclamar o que, por uma obrigação anulada, pagou a um incapaz, se não provar que
reverteu em proveito dele a importância paga.

Por último, cumpre mencionar a respeito dos efeitos da anulabilidade ou nulidade relativa do negócio jurí-
dico, sendo que a sentença proferida ao final da ação anulatória de negócio jurídico é detentora de natureza
desconstitutiva ou constitutiva negativa, posto que determina que o ato seja desfeito, vindo por conseguinte a
pôr fim à relação jurídica viciada.

Elementos acidentais do negócio jurídico

São considerados elementos acidentais do negócio jurídico:

a) O termo: É uma espécie de determinação acessória, sendo conceituado como acontecimento futuro e
certo que subordina o início ou o término da eficácia jurídica de determinado ato negocial, possuindo duas ca-
racterísticas fundamentais que são a futuridade e a certeza;

b) A condição: Se refere à determinação acessória, que faz com que a eficácia da vontade declarada, de-
penda de algum acontecimento futuro e incerto, sendo assim, um elemento acidental, por intermédio do qual
subordinam-se ou resolvem-se os efeitos jurídicos de um determinado negócio, podendo ser caracterizada por
meio da incerteza e da futuridade;

c) O modo ou encargo: Se refere à determinação acessória acidental do negócio jurídico que impõe ao

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beneficiário um ônus a ser cumprido, em proveito de uma liberalidade maior, sendo, assim, uma autolimitação
da vontade, que é um elemento típico dos negócios gratuitos.

— Atos Jurídicos Lícitos

São atos jurídicos aqueles que a legislação defere os efeitos que o agente almeja e que são praticados de
acordo com o que determina o Ordenamento Jurídico, vindo, assim, a produzir efeitos voluntários desejados
pelo agente.

Devido aos fatos dos negócios jurídicos serem mais complexos e envolvedores de mais elementos, bem
como se encontrarem sujeitos a mais requisitos que os atos jurídicos lícitos, o Código Civil optou por reservar
um tratamento exaustivo para os primeiros, vindo a destinar um único artigo para os últimos, conforme se
verifica no artigo 185 do CC/2002:

Art. 185. Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que couber, as disposi-
ções do Título anterior.

Desta maneira, sendo ambos os institutos espécies de um só gênero, sendo o negócio jurídico, por sua vez,
fato voluntário mais amplo que o simples ato lícito, é normal que tudo que diga respeito a este já esteja, de certa
maneira, compreendido na disciplina daquele. Por esse motivo, determina o artigo 185 do CC/2002, que sejam
aplicadas aos atos jurídicos lícitos, as disposições relacionadas ao negócio jurídico, porém, não de forma com-
pleta, sendo que as regras do negócio jurídico deverão incidirão sobre o ato jurídico lícito naquilo que couber.
Classificação dos atos jurídicos lícitos

No âmbito da divisão binária do Código Civil de 2002, os atos jurídicos podem ser:

a) Ato jurídico em sentido estrito (stricto sensu): Possui núcleo voltado à manifestação de vontade, porém,
sem a presença da autonomia ou do autorregramento que se trata do fato em que o desejo do agente existe
e é voltado para o efeito jurídico, porém, tal desejo não pode alterar o efeito determinado pela lei. Exemplos: A
autorização para a sublocação, a notificação da cessão de crédito, dentre outros.

b) O ato fato-jurídico: Aqui, o comportamento do indivíduo é considerado a causa de determinado efeito ju-
rídico, independentemente da vontade do agente. Exemplos: Na descoberta científica, no abandono da posse,
etc.

Sobre o tema em estudo, vejamos importantes considerações que merecem destaque:

• A quitação não pode ser tratada como ato-fato jurídico por que o seu conteúdo é a manifestação da vonta-
de liberatória feita pelo credor em favor do devedor, sendo que tal ato é vinculado, mas, o credor que recebe a
prestação devida, não pode recusar a quitação ao devedor, vindo assim, a lhe faltar autonomia para determinar
a existência e o conteúdo da declaração e o que se tem na quitação é um ato jurídico strictu sensu;

• Sobre o mencionado acima, poderão as partes transigir no momento da quitação, vindo a alterar os termos
da obrigação, dando-a como extinta de forma diferente do que foi convencionado originariamente, vindo a for-
mar-se entre as partes, um novo contrato, sendo que a quitação será apenas um dos ajustes negociados por
elas, formando-se assim, um negócio jurídico liberatório;

• A diferenciação entre os casos de ato jurídico em sentido estrito e ato-fato jurídico é relevante pelos reflexos
que opera tanto no terreno da capacidade, quanto dos vícios de consentimento;

• Quando a quitação é passada pela parte que recebe o pagamento, é assentada em declaração de vonta-
de, exigindo assim, a capacidade de quem a emite, sendo desta forma, ato jurídico stricto sensu, que pode ser
invalidado por defeito de vontade, da mesma forma que ocorre com o negócio jurídico.

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— Atos Ilícitos

No estudo do fato jurídico, aprendemos que o ato jurídico em sentido amplo, se trata de toda ação humana
lícita, positiva ou negativa, apta a criar, modificar ou extinguir direitos e obrigações.

Acontece que por algumas vezes, o indivíduo poderá vir a agir de forma contrária ao direito, descumprindo
as normas jurídicas e causando prejuízo a outrem, situação na qual, nos encontraremos diante de uma cate-
goria específica denominada de ato ilícito, conceito adotado pelo Código Civil alemão, que compreende o com-
portamento humano voluntário, contrário ao direito e grande causador de prejuízo de ordem material ou moral.

O ilustre Sérgio Cavaliere Filho ensina que ato ilícito é “o ato voluntário e consciente do ser humano, que transgride
um dever jurídico”.

São elementos componentes do ato ilícito:

a) Ação humana, tanto positiva quanto negativa;

b) A contrariedade ao direito ou ilicitude, que se trata da violação de dever jurídico preexistente;

c) O prejuízo de ordem material ou moral.

Sobre o assunto em deslinde, o Código Civil de 2002, por sua vez, aprimorou a regra legal a respeito das
consequências do ato ilícito através dos seus artigos 186 e 187. Vejamos:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limi-
tes impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Assim, ante a análise dos dispositivos acima citados, aduz-se que além de admitir, seguindo orientação da
Constituição Federal, que o ato ilícito poderá produzir dano de ordem moral, o legislador também cuidou de
prever, em norma expressa, a teoria do abuso de direito, que outrora era conhecida somente de forma indireta
pelo Código de 1916.

Obs. importante: A teoria do abuso de direito desenvolveu-se a partir do célebre caso de Clement Bayard,
julgado por um tribunal francês, no início do século passado, no qual o proprietário de um imóvel, sem justificar
suas razões e ações, veio a construir altas hastes pontiagudas para prejudicar o voo de aeronaves no terreno
vizinho, abusando, desta forma, do direito de propriedade.

Em acirrada análise do já citado artigo 187 do CC/2002, aduz-se que não é imprescindível para o reconheci-
mento da teoria do abuso de direito, que o agente possua a intenção de prejudicar terceiro, bastando, apenas,
de acordo com o dispositivo, que sejam excedidos de forma explícita os limites impostos pela finalidade econô-
mica ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Assim sendo, para melhor uso da referida teoria, deverá o julgador recorrer ao contido no artigo 5º da LINDB - Lei
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro- que assim determina em seu artigo 5º:

Art. 5º Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.

Ante o exposto, verifica-se que foi utilizado o critério finalístico para a identificação do abuso de direito, sen-
do que o exercício regular do direito, a legítima defesa e o estado de necessidade são causas excludentes de
ilicitude, previstas no Ordenamento Jurídico pátrio.

Sobre o assunto, dispõe o art. 188 do CC/2002:

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Art. 188. Não constituem atos ilícitos:

I — os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;

II — a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente.

Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem
absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.

Nesse diapasão, embutido na noção de exercício regular de um direito enquadra-se de forma convincente,
o estrito cumprimento do dever legal, sendo que a legítima defesa disposta no artigo 188, I, primeira parte, do
CC/2002, pressupõe a reação de modo proporcional a uma injusta agressão, atual ou iminente, utilizando-se
de forma moderada as formas de defesa colocadas à disposição daquele que foi ofendido, cabendo mencionar
aqui, que caso o agente, no exercício de prerrogativa de defesa, alcançar terceiro inocente, será obrigado a
indenizá-lo, cabendo-lhe, ajuizar ação regressiva contra o real agressor.

É o que informam os artigos 929 e 930 do CC/2002:

Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados do
perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram.

Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o autor
do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado.

Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se causou o dano (art. 188,
inciso I).

Em relação ao estado de necessidade contido no artigo 188, II, do CC/2002, se refere à situação de agres-
são a um direito alheio, de valor jurídico igual ou inferior àquele que se pretende proteger, para remover perigo
expresso e iminente, quando as circunstâncias do fato não autorizarem outra forma de atuação.

Desta maneira, de modo diverso do que se passa na legítima defesa, o agente não reage a uma situação in-
justa, porém, atua como forma de subtração de um direito seu ou de outrem que se encontra diante de situação
de perigo concreto. Exemplo: Motorista que desvia o automóvel de um pedestre para não o atropelar, porém,
acaba atingindo um comércio, atuando, nesse caso, em estado de necessidade.

Por fim, ressalta-se em situações excepcionais, que os atos lícitos poderão impor a obrigação de indenizar,
conforme demonstra a situação relativa à passagem forçada, devidamente disposta no artigo 1.285 do atual
Código Civil:

Art. 1.285. O dono do prédio que não tiver acesso a via pública, nascente ou porto, pode, mediante paga-
mento de indenização cabal, constranger o vizinho a lhe dar passagem, cujo rumo será judicialmente fixado,
se necessário.

Analisando o referido dispositivo, verifica-se que a obrigação de indenizar naquela situação específica, ad-
vém de um ato perfeitamente lícito que se trata do direito de passagem.

Da seara dos Direitos Reais, decorre ainda, a obrigação de indenizar advinda de um ato lícito na situação
prevista no artigo 1.313 do Código Civil que determina, in verbis:

Art. 1.313. O proprietário ou ocupante do imóvel é obrigado a tolerar que o vizinho entre no prédio, mediante
prévio aviso, para:

I — dele temporariamente usar, quando indispensável à reparação, construção, reconstrução ou limpeza de


sua casa ou do muro divisório;

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II — apoderar-se de coisas suas, inclusive animais que aí se encontrem casualmente.

§ 1º O disposto neste artigo aplica-se aos casos de limpeza ou reparação de esgotos, goteiras, aparelhos
higiênicos, poços e nascentes e ao aparo de cerca viva.

§ 2º Na hipótese do inciso II, uma vez entregues as coisas buscadas pelo vizinho, poderá ser impedida a
sua entrada no imóvel.

§ 3º Se do exercício do direito assegurado neste artigo provier dano, terá o prejudicado direito a ressarci-
mento.

Infere-se, portanto, quanto ao dispositivo de lei acima mencionado, que de forma excepcional, a responsa-
bilidade civil poderá advir de um comportamento humano que for aceito pelo direito.
LIVRO III
DOS FATOS JURÍDICOS
TÍTULO I
DO NEGÓCIO JURÍDICO
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:

I - agente capaz;

II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;

III - forma prescrita ou não defesa em lei.

Art. 105. A incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra em benefício próprio,
nem aproveita aos co-interessados capazes, salvo se, neste caso, for indivisível o objeto do direito ou da obri-
gação comum.

Art. 106. A impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes
de realizada a condição a que ele estiver subordinado.

Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expres-
samente a exigir.

Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos
que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor supe-
rior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.

Art. 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público, este é da
substância do ato.

Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer
o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento.

Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for neces-
sária a declaração de vontade expressa.

Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido
literal da linguagem.

Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua cele-

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bração.

§ 1º  A interpretação do negócio jurídico deve lhe atribuir o sentido que: (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

I - for confirmado pelo comportamento das partes posterior à celebração do negócio; (Incluído pela Lei nº
13.874, de 2019)

II - corresponder aos usos, costumes e práticas do mercado relativas ao tipo de negócio; (Incluído pela Lei
nº 13.874, de 2019)

III - corresponder à boa-fé; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

IV - for mais benéfico à parte que não redigiu o dispositivo, se identificável; e (Incluído pela Lei nº 13.874,
de 2019)

V - corresponder a qual seria a razoável negociação das partes sobre a questão discutida, inferida das de-
mais disposições do negócio e da racionalidade econômica das partes, consideradas as informações disponí-
veis no momento de sua celebração. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

§ 2º  As partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, de preenchimento de lacunas e de


integração dos negócios jurídicos diversas daquelas previstas em lei. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente.


CAPÍTULO II
DA REPRESENTAÇÃO

Art. 115. Os poderes de representação conferem-se por lei ou pelo interessado.

Art. 116. A manifestação de vontade pelo representante, nos limites de seus poderes, produz efeitos em
relação ao representado.

Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o representante, no
seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo.

Parágrafo único. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante o negócio realizado por aquele
em quem os poderes houverem sido subestabelecidos.

Art. 118. O representante é obrigado a provar às pessoas, com quem tratar em nome do representado, a
sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob pena de, não o fazendo, responder pelos atos que a estes
excederem.

Art. 119. É anulável o negócio concluído pelo representante em conflito de interesses com o representado,
se tal fato era ou devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou.

Parágrafo único. É de cento e oitenta dias, a contar da conclusão do negócio ou da cessação da incapacida-
de, o prazo de decadência para pleitear-se a anulação prevista neste artigo.

Art. 120. Os requisitos e os efeitos da representação legal são os estabelecidos nas normas respectivas; os
da representação voluntária são os da Parte Especial deste Código.
CAPÍTULO III
DA CONDIÇÃO, DO TERMO E DO ENCARGO

Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina
o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto.

Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costu-

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mes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem
ao puro arbítrio de uma das partes.

Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados:

I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas;

II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;

III - as condições incompreensíveis ou contraditórias.

Art. 124. Têm-se por inexistentes as condições impossíveis, quando resolutivas, e as de não fazer coisa
impossível.

Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não veri-
ficar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa.

Art. 126. Se alguém dispuser de uma coisa sob condição suspensiva, e, pendente esta, fizer quanto àquela
novas disposições, estas não terão valor, realizada a condição, se com ela forem incompatíveis.

Art. 127. Se for resolutiva a condição, enquanto esta se não realizar, vigorará o negócio jurídico, podendo
exercer-se desde a conclusão deste o direito por ele estabelecido.

Art. 128. Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o direito a que ela se opõe;
mas, se aposta a um negócio de execução continuada ou periódica, a sua realização, salvo disposição em
contrário, não tem eficácia quanto aos atos já praticados, desde que compatíveis com a natureza da condição
pendente e conforme aos ditames de boa-fé.

Art. 129. Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo implemento for maliciosamente
obstado pela parte a quem desfavorecer, considerando-se, ao contrário, não verificada a condição maliciosa-
mente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu implemento.

Art. 130. Ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou resolutiva, é permitido praticar
os atos destinados a conservá-lo.

Art. 131. O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito.

Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos, excluído o dia do
começo, e incluído o do vencimento.

§ 1 o Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte dia útil.

§ 2 o Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia.

§ 3 o Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no imediato, se faltar exata
correspondência.

§ 4 o Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto.

Art. 133. Nos testamentos, presume-se o prazo em favor do herdeiro, e, nos contratos, em proveito do de-
vedor, salvo, quanto a esses, se do teor do instrumento, ou das circunstâncias, resultar que se estabeleceu a
benefício do credor, ou de ambos os contratantes.

Art. 134. Os negócios jurídicos entre vivos, sem prazo, são exeqüíveis desde logo, salvo se a execução tiver
de ser feita em lugar diverso ou depender de tempo.

Art. 135. Ao termo inicial e final aplicam-se, no que couber, as disposições relativas à condição suspensiva

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e resolutiva.

Art. 136. O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando expressamente im-
posto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva.

Art. 137. Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir o motivo determinante
da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico.
CAPÍTULO IV
DOS DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
SEÇÃO I
DO ERRO OU IGNORÂNCIA

Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro subs-
tancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.

Art. 139. O erro é substancial quando:

I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele
essenciais;

II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade,


desde que tenha influído nesta de modo relevante;

III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio
jurídico.

Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante.

Art. 141. A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos casos em que o
é a declaração direta.

Art. 142. O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o
negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada.

Art. 143. O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade.

Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de
vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante.
SEÇÃO II
DO DOLO

Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.

Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito,
o negócio seria realizado, embora por outro modo.

Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou
qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não
se teria celebrado.

Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele
tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro res-
ponderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou.

Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente

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até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado
responderá solidariamente com ele por perdas e danos.

Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou re-
clamar indenização.
SEÇÃO III
DA COAÇÃO

Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor
de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.

Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstân-
cias, decidirá se houve coação.

Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do
paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela.

Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reve-
rencial.

Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento
a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos.

Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite
dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as perdas e danos que
houver causado ao coacto.
SEÇÃO IV
DO ESTADO DE PERIGO

Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pes-
soa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.

Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as
circunstâncias.
SEÇÃO V
DA LESÃO

Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a
prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.

§ 1 o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado
o negócio jurídico.

§ 2 o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favore-
cida concordar com a redução do proveito.
SEÇÃO VI
DA FRAUDE CONTRA CREDORES

Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já
insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores
quirografários, como lesivos dos seus direitos.

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§ 1 o Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente.

§ 2 o Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles.

Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for
notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante.

Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este for, aproxima-
damente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a citação de todos os interessados.

Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço que lhes cor-
responda ao valor real.

Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e 159, poderá ser intentada contra o devedor insolvente, a pessoa
que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de
má-fé.

Art. 162. O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da dívida ainda não venci-
da, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores, aquilo
que recebeu.

Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de dívidas que o devedor
insolvente tiver dado a algum credor.

Art. 164. Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis à manutenção de
estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e de sua família.

Art. 165. Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito do acervo sobre
que se tenha de efetuar o concurso de credores.

Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais, mediante hipote-
ca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da preferência ajustada.
CAPÍTULO V
DA INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO

Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:

I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;

II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;

III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;

IV - não revestir a forma prescrita em lei;

V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;

VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;

VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.

Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância
e na forma.

§ 1 o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:

I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem,
ou transmitem;

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II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;

III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.

§ 2 o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado.

Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Mi-
nistério Público, quando lhe couber intervir.

Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou
dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das
partes.

Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo.

Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que
visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade.

Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:

I - por incapacidade relativa do agente;

II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.

Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de terceiro.

Art. 173. O ato de confirmação deve conter a substância do negócio celebrado e a vontade expressa de
mantê-lo.

Art. 174. É escusada a confirmação expressa, quando o negócio já foi cumprido em parte pelo devedor,
ciente do vício que o inquinava.

Art. 175. A confirmação expressa, ou a execução voluntária de negócio anulável, nos termos dos arts. 172 a
174, importa a extinção de todas as ações, ou exceções, de que contra ele dispusesse o devedor.

Art. 176. Quando a anulabilidade do ato resultar da falta de autorização de terceiro, será validado se este a
der posteriormente.

Art. 177. A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se pronuncia de ofício; só os
interessados a podem alegar, e aproveita exclusivamente aos que a alegarem, salvo o caso de solidariedade
ou indivisibilidade.

Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado:

I - no caso de coação, do dia em que ela cessar;

II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio
jurídico;

III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.

Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a
anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato.

Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a
sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se
maior.

Art. 181. Ninguém pode reclamar o que, por uma obrigação anulada, pagou a um incapaz, se não provar que

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reverteu em proveito dele a importância paga.

Art. 182. Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele se achavam, e,
não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente.

Art. 183. A invalidade do instrumento não induz a do negócio jurídico sempre que este puder provar-se por
outro meio.

Art. 184. Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico não o prejudicará na
parte válida, se esta for separável; a invalidade da obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas
a destas não induz a da obrigação principal.
TÍTULO II
DOS ATOS JURÍDICOS LÍCITOS

Art. 185. Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que couber, as disposi-
ções do Título anterior.
TÍTULO III
DOS ATOS ILÍCITOS

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limi-
tes impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:

I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;

II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente.

Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem abso-
lutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.
TÍTULO IV
DA PRESCRIÇÃO E DA DECADÊNCIA
CAPÍTULO I
DA PRESCRIÇÃO
SEÇÃO I
DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que alu-
dem os arts. 205 e 206.

Art. 190. A exceção prescreve no mesmo prazo em que a pretensão.

Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de
terceiro, depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado,
incompatíveis com a prescrição.

Art. 192. Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes.

Art. 193. A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita.

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Art. 194. (Revogado pela Lei nº 11.280, de 2006)

Art. 195. Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os seus assistentes ou repre-
sentantes legais, que derem causa à prescrição, ou não a alegarem oportunamente.

Art. 196. A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu sucessor.

Prescrição: disposições gerais. Decadência

Podemos conceituar a prescrição como sendo a perda da pretensão de reparação do direito violado em de-
corrência da inércia do seu titular, no prazo previsto pela legislação.

Em relação ao instituto da decadência, trata-se da extinção de um direito em virtude de este não ter sido
exercido no prazo legal, sendo que assim, quando o indivíduo deixa de respeitar o prazo estabelecido por lei
para o exercício de seu direito, acaba por perder o direito tal direito, sendo, desta maneira, a perda do pró-
prio direito ante a inércia de ação de seu titular.

— Prescrição e Decadência no Código Civil Brasileiro

Com o objetivo de corrigir falha histórica, o Código Civil de 2002, trouxe em seu caderno processual a disci-
plina referente à decadência, haja vista que o Código Civil de 1916 tratava todos os prazos sob a denominação
comum de prescrição, fato que provocava no aplicador do direito, insurreição em desfavor do texto legal, bem
como contra o princípio de hermenêutica, vindo a impor diferenças onde este não fazia, baseando-se na essên-
cia e no sentido do prazo previsto.

Desta maneira, com a vigência do atual Código Civil, depreende-se que o fato de este instituto legal tratar
a matéria de forma explícita, fica mais viável de se tratar a respeito da diferença entre os institutos em estudo.

Nesse sentido, ressalta-se que a possibilidade de renúncia prévia constitui um importante elemento para dis-
tinguir os institutos, tendo em vista que a decadência, de acordo com a lei, é irrenunciável conforme preconiza
o artigo 209 do Código Civil de 2002, ao passo que a renúncia à prescrição é admissível e possui aceitação
tácita, sendo que para renunciar à aplicação da prescrição, é necessário que esta já tenha sido consumada e
que terceiro não tenha sido prejudicado.

Ressalta-se que renunciar à prescrição é ato que implica na possibilidade de um inadimplente de uma dívida
prescrita, que uma vez tendo sido consumado o prazo prescricional, desde que terceiro não tenha sido preju-
dicado, significa renunciar ao direito de alegar meio de defesa indireta de mérito, (a prescrição), em desfavor
do seu credor.

Desta forma, anunciado o pagamento e se este é executado, houve a renúncia expressa. Porém, caso tal
pagamento não tenha sido afirmado de forma explícita, tendo constituído procurador com a providência das
guias bancárias para o depósito ou tenha existido a prática de qualquer ato que não seja compatível com a
prescrição, significa dizer que o indivíduo renunciou de forma tácita.

Ante o exposto, em função da particularidade relativa em à renúncia proibida para o prazo decadencial legal,
deverá o magistrado, de ofício, conhecer da decadência, quando esta se encontrar prevista em lei.

Obs. importante: Em relação ao pronunciamento de ofício da prescrição, depreende-se que de acordo com
a regra contida no artigo 193 do Código Civil de 2.002, a prescrição poderá ser alegada em qualquer grau de
jurisdição, pela parte a quem aproveita.

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Art. 193. A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita.

Dando continuidade ao tema em estudo, denota-se que antes da aprovação da Lei nº. 11.280/2006, instituto
legal que autorizou o conhecimento de ofício da prescrição, e que ainda na vigência do Código de Processo
Civil/1973, a previsão de determinadas situações de acolhimento ex officio de prescrição, já existia. Um exem-
plo disso, é o caso dos absolutamente incapazes, que, por terem direito à tutela especial do Estado, tinham a
prescrição declarada de ofício no momento em que tal ato jurídico os favorecia, (informação contida no artigo
194 do CC/2002, ora revogado), na condição tanto de sujeito passivo, quanto como terceiro interessado juridi-
camente no desfecho da lide processual.

Assim, tendo sido revogado o artigo 194 do CC/2002 pela Lei nº. 11.280/2006, passou a ser permitido ao
órgão judicante reconhecer de ofício a prescrição, sem quaisquer restrições à situações específicas, sendo que
tal norma também veio a alterar o contido no parágrafo 5º do art. 219 do CPC/1973, que previa que o magis-
trado poderia pronunciar de ofício, a prescrição, fato que anteriormente só poderia acontecer, caso a lide não
envolvesse direitos de ordem patrimonial.

Nesse sentido, utilizando esse regulamento, o Código de Processo Civil de 2015 estabeleceu de forma ex-
pressa através do parágrafo único do artigo 487, o seguinte:

Art. 487 (...)

Parágrafo único. Ressalvada a hipótese do § 1º do art. 332, a prescrição e a decadência não serão reconhe-
cidas sem que antes seja dada às partes oportunidade de manifestar-se.

A hipótese de ressalva contida no retro dispositivo, se refere ao julgamento de improcedência prima facie,
termo que significa que quando determinada prova é suficiente para permitir a suposição ou consolidação de
um fato, a menos que seja controvertida.

No condizente à decadência, infere-se que ela não pode ser declarada de ofício se for estipulada de forma
convencional, que se trata de hipótese na qual os próprios contratantes, e não a legislação, previram prazo
decadencial para o exercício de um direito.

Entretanto, em decorrência da importância do instituto que implica a perda do direito material discutido em
juízo, denota-se que também não haverá preclusão temporal para sua arguição, segundo o artigo 211 do Có-
digo Civil de 2002.

Nesse diapasão, registra-se que a discussão relacionada à possibilidade de alteração convencional dos pra-
zos prescricionais, também é fato que outrora era tido como questão controvertida na doutrina, mas, no entanto,
tal questionamento foi também foi desfeito pelo Código Civil de 2002.

Assim, de acordo com o artigo 192 do Código Civil de 2002, que colocou fim à controvérsia, os “prazos de
prescrição não podem ser alterados por acordo das partes”.

Sobre a matéria, destaque-se nos conformes do artigo 195 do CC/2002, norma que também é aplicável à
decadência, por força do contido no artigo 208 do CC/2002 o seguinte:

Art. 195.   Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os seus assistentes ou
representantes legais, que derem causa à prescrição, ou não a alegarem oportunamente.

Tal regulamento demonstra a importância dos institutos, bem como sua arguição em juízo, tendo em vista
que podem facilitar o ajuizamento de ações de responsabilização civil por perdas de chance.

Vale ressaltar que a respeito do assunto, o Código Civil de 1916 carregava dispositivo similar, porém, com-
posto por mais requisitos, sendo que dispunha que as pessoas que a lei privasse de administrar os próprios

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bens, teriam o direito de ação regressiva contra os seus representantes legais, quando estes, por dolo ou ne-
gligência, dessem causa à prescrição.

Por fim, vejamos duas regras que merecem destaque:

1ª) A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu sucessor, conforme preceitua o
art. 196 do atual Código Civil;

2ª) Com o principal, prescrevem os direitos acessórios, de acordo com o artigo 167 do Código Civil de 1916,
que embora não possua previsão expressa no Código Civil de 2002, tal regra continua sendo adotada pela
legislação, haja vista ser acolhida com peso pela doutrina.

Desfechando, denota-se que haja a consumação da prescrição, bem como da decadência, necessário se
faz, em resumo, sejam citados quatro fatores. Vejamos no quadro abaixo:

CONSUMAÇÃO DA PRESCRIÇÃO E DA
DECADÊNCIA
A existência de um direito exercitável;
A inércia do titular pelo não exercício;
A Continuidade da inércia por certo tempo;
A ausência de fato ou ato impeditivo, suspensivo
ou interruptivo do curso da prescrição, que se trata
de requisito que pode ser aplicado à decadência
excepcionalmente, somente por previsão legal
específica contida no art. 207 do CC/2002.

— Das causas impeditivas e suspensivas

O direito brasileiro prevê várias causas impeditivas e suspensivas da prescrição, sendo que por suposição,
não existe diferença doutrinária entre o impedimento e a suspensão da prescrição, haja vista as duas serem
consideradas como formas de paralisação do prazo prescricional.

Entretanto, a diferença fática entre a decadência e a prescrição se refere ao termo inicial, tendo em vista que
no impedimento, o prazo não correu, ao passo que na suspensão, o prazo, já se encontra fluindo, e por isso,
acaba por se congelar, enquanto pendente a causa suspensiva.

Pelos motivos acima expostos, as causas impeditivas e suspensivas da prescrição são tratadas de igual
maneira pelos artigos 197 a 199 do Código civil de 2002. Vejamos:

Art. 197. Não corre a prescrição:

I — entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;

II — entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;

III — entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela.

Art. 198. Também não corre a prescrição:

I — contra os incapazes de que trata o art. 3º;

II — contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios;

III — contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.

Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:

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I — pendendo condição suspensiva;

II — não estando vencido o prazo;

III — pendendo ação de evicção.

Sobre os dispositivos acima citados, aduz-se tal disciplina não se justifica em três pontos diversos, pois a
sua caracterização tanto como impedimento, quanto por suspensão, irá depender em peso do caso concreto.
Exemplo: Havendo união dos devedores através do casamento, suspender-se-á a prescrição já iniciada, por
força da aplicação do artigo 197, I, do Código Civil de 2.002.

Vejamos em síntese, outras situações nas quais não corre a prescrição:

• A prescrição não corre contra os absolutamente incapazes, os ausentes do País em serviço público da
União, dos Estados e dos Municípios, e os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra;

• Caso um credor se ausente do País para prestar serviços em uma embaixada brasileira em outro país, o
prazo prescricional ficará suspenso até o seu retorno. Mas se o ausente for o devedor, a prescrição irá correr a
seu favor, de forma que durante o tempo em que estiver fora, o prazo irá fluir de forma normal;

• Por força do artigo 199 do CC/2002, não corre a prescrição pendendo condição suspensiva, não estando
vencido o prazo, ou estando em curso ação de evicção;

• Também não corre a prescrição estando pendente ação de evicção, que consiste na perda total ou parcial
do direito do adquirente sobre a coisa, em de uma decisão judicial, que reconhece a propriedade anterior de
outrem, de acordo com o previsto nos artigos 447 a 457 do CC/2002;

• Pelos riscos da evicção, irá responder o alienante perante o adquirente de maneira que caso a ação de
evicção esteja pendente, proposta pelo terceiro em desfavor do adquirente, tanto os prazos prescricionais em
geral, quanto o prazo de usucapião que seria uma prescrição aquisitiva, ficarão suspensos até que se decida a
respeito de quem realmente é o proprietário do bem;

• Existem demandas que geram repercussões tanto no juízo cível, quanto no juízo criminal pelo fato de cor-
rerem de forma simultânea, podendo, assim gerar sentenças contraditórias, caso aconteça de a sentença civil
ser prolatada antes da penal. Por esse motivo, no caso de demanda por homicídio, por exemplo, a despeito da
relativa independência entre a jurisdição penal e a civil, ressalta-se que enquanto não houver sentença criminal
definitiva, a prescrição não poderá correr contra os herdeiros da vítima;

• De acordo com o artigo 201 do Código Civil, a suspensão da prescrição em favor de um dos credores soli-
dários somente aproveitará aos outros se a obrigação for indivisível.

— Das Causas Interruptivas

De antemão, ressalta-se que existe diferença entre a interrupção e a suspensão da prescrição. Nesse pon-
to, podemos distinguir esses institutos da seguinte forma:

*Na suspensão da prescrição, o prazo fica paralisado;

* Na interrupção, todo o prazo decorrido é zerado, vindo a recomeçar a contagem, de acordo com o parágra-
fo único do artigo 202 do Código Civil de 2002, “do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a
Interromper”.

Desta maneira, após o lapso de dois anos do prazo prescricional para a elaboração de uma pretensão, por
meio de ação ordinária de cobrança que possui o prazo máximo de dez anos de acordo com o atual Código Ci-
vil, caso seja averiguada depois uma causa interruptiva, todo o lapso temporal recomeça a ser contado do zero.

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Nesse sentido, destaca-se uma outra particularidade da prescrição pelo atual Código Civil que se refere à
interrupção da prescrição, que, contemporaneamente poderá ocorrer apenas por uma única vez.

De acordo com o artigo 202 do Código Civil são causas interruptivas da prescrição:

Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:

I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo
e na forma da lei processual;

II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;

III - por protesto cambial;

IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores;

V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;

VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo deve-
dor.

Nesta seara, denota-se que houve importante alteração, se examinarmos a regra semelhante que se en-
contra inserida no artigo 172, I, do Código Civil de 1916, tendo em vista que esta última norma, que predisposta
a interrupção da prescrição “pela citação pessoal feita ao devedor, ainda que ordenada por juiz incompetente”,
já havia passado por modificações à vista do elucidado no parágrafo 1º do art. 219 do Código de Processo Ci-
vil de 1973, já com redação demandada pela Lei n°. 8.952/1.994, com o seguinte conteúdo: “A interrupção da
prescrição retroagirá à data da propositura da ação”.

Desta forma, desde que a parte interessada viesse a promover os atos necessários para uma eficaz citação,
no prazo estipulado por lei, não mais a data da citação válida, mas, sim, a datada propositura da ação, determi-
naria a interrupção do prazo prescricional.

Sobre o matéria acima, ressalta-se que ela foi conservada no Código de Processo Civil de 2015, vindo a
determinar de forma clara no parágrafo único do artigo 802 o seguinte:

Art. 82. A interrupção da prescrição retroagirá à data de propositura da Ação.

Seguindo esta diretriz, aduz o artigo 240 do CPC/2015:

Art. 240. A citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente, induz litispendência, torna litigiosa
a coisa e constitui em mora o devedor, ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398 da Lei n. 10.406, de 10 de
janeiro de 2002 (Código Civil).

§ 1º A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a citação, ainda que proferido por juízo
incompetente, retroagirá à data de propositura da ação.

§ 2º Incumbe ao autor adotar, no prazo de 10 (dez) dias, as providências necessárias para viabilizar a
citação, sob pena de não se aplicar o disposto no § 1º.

§ 3º A parte não será prejudicada pela demora imputável exclusivamente ao serviço judiciário.

§ 4º O efeito retroativo a que se refere o § 1º aplica-se à decadência e aos demais prazos extintivos previstos
em lei.

Entretanto, caso a parte interessada deixe de promover os atos necessários à efetivação da citação no prazo
determinado por lei, excedidos os prazos dispostos no CPC/2015, o renomado Barbosa Moreira ensina que “a
citação apenas surtirá o efeito interruptivo ou obstativo na data em que se realizar desde que até então não se

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haja consumado a prescrição ou a extinção do direito...”.

Mas, levando em conta o entendimento da doutrina majoritária, o disposto no art. 202, I, do Código Civil de
2002 não entraria em confronto com o disposto no artigo 219 e seus respectivos parágrafos do Código de Pro-
cesso Civil de 1973, devendo as mencionadas normas ser interpretadas de forma proporcional.

Obs. importante: lançado o despacho positivo inicial de citação, (o famoso “cite-se”), ressalta-se que os
efeitos da interrupção do prazo prescricional irão retroagir até a data da propositura da ação. Isso, caso a parte
viesse a praticar os atos processuais que lhe fossem determinados, obedecendo os prazos determinados por
lei para proporcionar a citação.

Destaca-se com importância, que a causa da interrupção da prescrição é a citação. Porém, se do despacho
que a determina até a sua consumação, não se detectar qualquer ato imputável à parte, como o despacho ini-
cial, por exemplo, tal ato do juiz, poderá vir a se confundir com a citação.

Assim, infere-se que a regra processual se encontra coadunável com a legislação de direito material, fato
que ocorre por se tratar de um dado objetivo para a contagem do lapso da prescrição.

Todavia, havendo a interrupção, ressalta-se que a prescrição voltará a contar novamente. No entanto, diante
do pressuposto de que “o fundamento da prescrição é a inércia da parte, e não do Poder Judiciário”, infere-se
que a partir do trânsito em julgado da sentença condenatória, haverá o início de novo prazo para a pretensão
executória, bem como para o cumprimento da prestação jurisdicional que foi fixada.

Entretanto, caso seja ajuizado no prazo correto, não haverá a interrupção da prescrição, mas, sim, a respeito
da sua não consumação, quando a parte pratica os atos que lhes são cabíveis por lei.

Sobre o tema em estudo, façamos a análise de alguns outros importantes pontos que merecem destaque:

• De acordo com o inciso II do artigo 202 do CPC/2002, o protesto, nas mesmas condições do inciso antece-
dente, por ser matéria de medida cautelar de protesto, prevista nos artigos 726 a 729 do Código de Processo
Civil de 2015, poderá o credor, vencendo a sua inércia, se utilizar da medida judicial acima mencionada para
mencionar a respeito do seu interesse no cumprimento da obrigação ao devedor, atitude que irá prontamente
interromper a prescrição;

• A medida judicial só poderá interromper o curso do prazo prescricional se o interessado promovê-la no


prazo e na forma da lei processual;

• Sobre a interrupção da prescrição por protesto cambial, de acordo com o inciso III do Código Civil de 2002,
tal protesto cambial é considerado como causa interruptiva, vindo a revogar de forma notória o entendimento
anterior já assegurado pelo Supremo Tribunal Federal na Súmula 153 que afirma o seguinte: “Simples protesto
cambiário não interrompe a prescrição”;

• Sobre o contido no inciso IV do artigo 202 do CC/2002, sobre a apresentação do título de crédito em juízo
de inventário ou em concurso de credores, ressalta-se que o credor que habilitar o seu crédito no inventário ou
no concurso de credores aberto contra o devedor, ensejará a interrupção do curso do prazo prescricional que
corria contra si;

• As interpelações, as notificações e as medidas cautelares em geral, podem interromper o curso do prazo


prescricional;

• De acordo com o inciso VI do artigo 202 do CC/2002, qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que
importe reconhecimento do direito pelo devedor poderá causar a interrupção da prescrição;

• Ao praticar atos que não sejam compatíveis com a Prescrição e fazendo a nomeação de procurador para

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que seja efetuado o depósito do valor devido, o devedor atua de forma inequívoca com o objetivo de reconhecer
o direito do credor, vindo, desta forma, a interromper o curso da prescrição;

• Nos ditames do artigo 203 do CC/2002a prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado.

Obrigações com Pluralidade de sujeitos

Em relação às obrigações com pluralidade de sujeitos, aduz-se que tanto no polo passivo e ativo, bem como
na condição de sujeito principal ou de obrigado em relação acessória, determina o art. 204 do CC/2002:

Art. 204. A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros; semelhantemente, a interrup-
ção operada contra o codevedor, ou seu herdeiro, não prejudica aos demais coobrigados.

§ 1º A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros; assim como a interrupção efetuada
contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros.

§ 2º A interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário não prejudica os outros herdeiros
ou devedores, senão quando se trate de obrigações e direitos indivisíveis.

§ 3º A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador.

Em alusão ao dispositivo acima citado, ressalta-se que podemos dividir sua interpretação em duas escalas,
conforme demonstrado no quadro abaixo:

PLURALIDADE
A interrupção da prescrição feita por um deles não poderá
DE favorecer os demais.
CREDORES
A interrupção da prescrição operada contra um dos
PLURALIDADE DE codevedores, ou seu herdeiro, não poderá prejudicar os
DEVEDORES demais coobrigados, para os quais continuará fluindo,
normalmente, o lapso prescricional.

No entanto, caso haja solidariedade ativa, por existir um vínculo interno ligando os credores entre si, a inter-
rupção promovida por um deles aproveita a todos.

Da mesma forma, caso haja solidariedade passiva, a interrupção que foi executada em desfavor do devedor
solidário envolve os demais e também os seus herdeiros.

É importante registrar que caso a interrupção seja promovida de forma direta contra um dos herdeiros do
devedor solidário, os seus efeitos não terão o condão de prejudicar os outros herdeiros ou devedores, salvo
quando se tratar de obrigações e direitos indivisíveis.

Por último, infere-se que quando a interrupção for produzida contra o principal devedor alcançará pela rela-
ção de acessoriedade, ao fiador.

— Do Direito Intertemporal

De antemão, convém mencionar a respeito dos prazos prescricionais na seara de Direito Intertemporal, que
se trata de um instituto que ocorre quando existe conflito de normas jurídicas no tempo que acabam por fixar
prazos distintos.

Nesse âmbito, determina o artigo 6º da LINDB:

Art. 6º. A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a
coisa julgada.

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Desta maneira, existem dois princípios fundamentais que tratam do tema. São eles:

a) A imediatidade dos efeitos da lei;

b) A irretroatividade da nova regra legal.

Além disso, com a entrada de nova legislação em vigor, poderão ocorrer três diferentes situações jurídicas,
sendo elas:

a) Situações pretéritas: São as iniciadas e terminadas antes da vigência da nova lei;

b) Situações pendentes: São as iniciadas antes da vigência da lei;

c) Situações futuras: São as iniciadas após a vigência da lei nova e que ainda não foram concluídas.

Referente às situações pretéritas, trata de uma situação jurídica que já se encontra consolidada e mesmo em
sede de prazos prescricionais, não existe maiores discussões a respeito do assunto.

Já nos casos das situações futuras stricto sensu, deverá ser aplicada a nova regra prescricional.

Porém, em relação às situações jurídicas pendentes, por meio das quais são inseridas as situações futuras
ainda não concluídas quando da edição da nova norma, a situação é um pouco mais complicada.

Desta forma, caso uma nova lei não venha a estabelecer regras de transição, o jurista Wilson de Souza
Campos Batalha, com base no direito alemão, ensina o seguinte:

a) Caso a nova lei venha a aumentar o prazo de prescrição ou de decadência, deverá ser aplicado o novo
prazo, computando-se o tempo decorrido na vigência da lei antiga;

b) Mas, se a lei nova reduzir o prazo de prescrição ou decadência, é necessário que se saiba diferenciar
alguns pontos, pois, se o prazo maior da lei antiga acabar antes de findar o prazo menor determinado pela lei
nova, adota-se o prazo da lei anterior; porém, caso o prazo menor da lei nova venha a se consumar antes de
terminado o prazo maior previsto pela lei anterior, aplica-se o prazo da lei nova, contando-se o prazo a partir da
vigência desta.
TÍTULO IV
DA PRESCRIÇÃO E DA DECADÊNCIA
CAPÍTULO I
DA PRESCRIÇÃO
SEÇÃO I
DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos
a que aludem os arts. 205 e 206.

Art. 190. A exceção prescreve no mesmo prazo em que a pretensão.

Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de
terceiro, depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado,
incompatíveis com a prescrição.

Art. 192. Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes.

Art. 193. A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita.

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sentantes legais, que derem causa à prescrição, ou não a alegarem oportunamente.

Art. 196. A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu sucessor.
SEÇÃO II
DAS CAUSAS QUE IMPEDEM OU SUSPENDEM A PRESCRIÇÃO

Art. 197. Não corre a prescrição:

I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;

II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;

III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela.

Art. 198. Também não corre a prescrição:

I - contra os incapazes de que trata o art. 3 o ;

II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios;

III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.

Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:

I - pendendo condição suspensiva;

II - não estando vencido o prazo;

III - pendendo ação de evicção.

Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição
antes da respectiva sentença definitiva.

Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só aproveitam os outros se a obri-
gação for indivisível.
SEÇÃO III
DAS CAUSAS QUE INTERROMPEM A PRESCRIÇÃO

Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:

I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo
e na forma da lei processual;

II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;

III - por protesto cambial;

IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores;

V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;

VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo deve-
dor.

Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último
ato do processo para a interromper.

Art. 203. A prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado.

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Art. 204. A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros; semelhantemente, a interrup-
ção operada contra o co-devedor, ou seu herdeiro, não prejudica aos demais coobrigados.

§ 1 o A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros; assim como a interrupção efetuada
contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros.

§ 2 o A interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário não prejudica os outros herdeiros
ou devedores, senão quando se trate de obrigações e direitos indivisíveis.

§ 3 o A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador.


SEÇÃO IV
DOS PRAZOS DA PRESCRIÇÃO

Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.

Art. 206. Prescreve:

§ 1 o Em um ano:

I - a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a consumo no próprio estabeleci-


mento, para o pagamento da hospedagem ou dos alimentos;

II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo:

a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é citado para responder
à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a anuência do
segurador;

b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão;

III - a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais, árbitros e peritos, pela percepção
de emolumentos, custas e honorários;

IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a formação do capital de so-
ciedade anônima, contado da publicação da ata da assembléia que aprovar o laudo;

V - a pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e os liquidantes, contado o prazo da
publicação da ata de encerramento da liquidação da sociedade.

§ 2 o Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem.

§ 3 o Em três anos:

I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;

II - a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou vitalícias;

III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias, pagáveis, em períodos
não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela;

IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;

V - a pretensão de reparação civil;

VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé, correndo o prazo da data em
que foi deliberada a distribuição;

VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da lei ou do estatuto, contado o prazo:

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a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da sociedade anônima;

b) para os administradores, ou fiscais, da apresentação, aos sócios, do balanço referente ao exercício em


que a violação tenha sido praticada, ou da reunião ou assembléia geral que dela deva tomar conhecimento;

c) para os liquidantes, da primeira assembléia semestral posterior à violação;

VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do vencimento, ressalvadas as dis-
posições de lei especial;

IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso de seguro de res-


ponsabilidade civil obrigatório.

§ 4 o Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das contas.

§ 5 o Em cinco anos:

I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular;

II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores e professores pelos
seus honorários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos contratos ou man-
dato;

III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo.


CAPÍTULO II
DA DECADÊNCIA

Art. 207. Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as normas que impedem, sus-
pendem ou interrompem a prescrição.

Art. 208. Aplica-se à decadência o disposto nos arts. 195 e 198, inciso I.

Art. 209. É nula a renúncia à decadência fixada em lei.

Art. 210. Deve o juiz, de ofício, conhecer da decadência, quando estabelecida por lei.

Art. 211. Se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la em qualquer grau de
jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação.

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Exercícios

1. (FGV - AFFC (CGU)/CGU/CORREIÇÃO E COMBATE À CORRUPÇÃO/2022)


XX S/A ajuizou ação para a rescisão do contrato atípico que celebrara com a YY Ltda., em virtude de esta ter
descumprido o avençado, mas a YY alega que, embora ela tenha dado execução normal ao contrato durante
anos, ele não chegou a se constituir de forma válida, porque o instrumento não foi assinado.
Com base no exposto, sua alegação:
(A) deve ser acolhida, pois os contratos devem ser formalizados por escrito, sob pena de nulidade;
(B) é respaldada pela função social do contrato, tendo em vista o interesse coletivo na segurança jurídica;
(C) baseia-se no princípio da intervenção mínima e na excepcionalidade da revisão contratual;
(D) contraria a boa-fé objetiva, por se contradizer com a legítima expectativa criada pela execução voluntária
do negócio;
(E) deve ser rejeitada, porque a alocação de riscos definida pelas partes deve ser respeitada e observada.

2. (FGV - PROC J (CM ARACAJU)/CM ARACAJU/2021)


Jane dá aula de inglês para três estudantes: Cristiano, 16 anos, emancipado voluntariamente por seus pais;
Haroldo, 17 anos, universitário; e Andressa, 19 anos, parcialmente interditada e sob curatela porque dilapidava
descontroladamente todo o seu patrimônio.
De acordo com o Código Civil, entre os estudantes, são relativamente incapazes:
(A) Cristiano, Haroldo e Andressa;
(B) Haroldo e Andressa;
(C) Cristiano e Haroldo;
(D) Cristiano e Andressa;
(E) somente Cristiano.

3. (FGV - PROC J (CM ARACAJU)/CM ARACAJU/2021)


João pegou o automóvel de Almir emprestado, mas antes de devolvê-lo, apesar de todo o seu cuidado, foi as-
saltado e levaram o veículo, que jamais foi localizado novamente.
Diante disso, Almir, perante João:
(A) não pode exigir nada;
(B) pode exigir somente o valor de mercado do automóvel;
(C) pode exigir somente indenização por perdas e danos;
(D) pode exigir o valor de mercado do automóvel e indenização por perdas e danos;
(E) pode exigir um novo automóvel, com as mesmas características do que foi roubado.

4. (FGV - PROC J (CM ARACAJU)/CM ARACAJU/2021)


Jurema comprou um carro de seu vizinho Clóvis pelo valor de R$ 40.000,00, a serem pagos dali a uma semana.
Ocorre que no dia do pagamento, Jurema disse a Clóvis que sofreu um imprevisto e não tinha condições de pa-
gar o dinheiro prometido. Jurema então ofereceu a Clóvis, em lugar da prestação original, um colar de pérolas.
Clóvis aceitou a proposta e recebeu o colar naquele mesmo momento, entregando-lhe o automóvel.

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No caso, houve:
(A) dação em pagamento;
(B) novação;
(C) compensação;
(D) remissão;
(E) confusão.

5. (FGV - PROC J (CM ARACAJU)/CM ARACAJU/2021)


Quando Renata celebrou contrato com Marcelo para a locação de um apartamento no centro de Aracaju, nada
ficou acertado sobre as taxas condominiais.
Diante disso, Renata, na condição de locatária:
(A) deverá celebrar novo contrato com Marcelo, pois o atual é nulo por falta de elemento essencial;
(B) deverá arcar com a totalidade das despesas condominiais, que incumbem ao locatário;
(C) deverá arcar somente com as despesas condominiais ordinárias, ficando a cargo do locador as despesas
condominiais extraordinárias;
(D) deverá arcar com metade das despesas condominiais, incumbindo ao locador arcar com a outra metade;
(E) não deverá arcar com as despesas condominiais, que incumbem ao locador.

6. (FGV - PROC J (CM ARACAJU)/CM ARACAJU/2021)


Paulo e seu filho, Mário, sempre tiveram um relacionamento difícil. Em meio a uma discussão mais acalorada,
Mário chegou a dar um soco no pai, e desde então nunca mais se falaram. Agora que Paulo morreu, seus ou-
tros filhos, irmãos de Mário, querem que ele seja excluído da sucessão por ter cometido agressão contra o pai.
A ofensa física de Mário ao falecido exclui Mário da sucessão de Paulo:
(A) automaticamente, que fica privado de qualquer direito sucessório diretamente relacionado à herança de
Paulo;
(B) independentemente de sentença judicial, se Paulo determinou a deserdação em testamento, indicando
expressamente a sua causa;
(C) após sentença judicial, em ação que só pode ser ajuizada por um dos demais herdeiros, independente-
mente de manifestação de Paulo nesse sentido;
(D) após sentença judicial, em ação que pode ser ajuizada por qualquer interessado ou mesmo pelo Minis-
tério Público, independentemente de manifestação de Paulo nesse sentido;
(E) após sentença judicial, se Paulo determinou isso em testamento, indicando expressamente a causa da
deserdação, e se a veracidade dessa causa for provada por um dos demais herdeiros.

7. (FGV - PROC J (CM ARACAJU)/CM ARACAJU/2021)


Elvira deseja permitir que sua sobrinha Adriane resida em um dos imóveis que possui, pois a sobrinha não tem
onde morar. Mas pretende evitar que Adriane colha qualquer fruto dele, por exemplo, dando-o em locação para
terceiros e auferindo aluguel.
Para tanto, Elvira deve atribuir a Adriane, sobre o imóvel em questão, o direito real de:
(A) propriedade;
(B) habitação;
(C) uso;

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(D) usufruto;
(E) servidão.

8. (FGV - PROC J (CM ARACAJU)/CM ARACAJU/2021)


Rogério, 40 anos, e Priscila, 45 anos, vivem há quinze anos em união estável. O casal tem dois filhos e se
preparam para a chegada do terceiro. No entanto, não celebraram contrato escrito acerca das questões patri-
moniais envolvendo a sua união.
Nesse caso, deve ser aplicado o regime de:
(A) comunhão parcial de bens;
(B) comunhão universal de bens;
(C) participação final nos aquestos;
(D) separação legal de bens;
(E) separação convencional de bens.

9. (FGV - PROC J (CM ARACAJU)/CM ARACAJU/2021)


Disputam a herança de Ademir: Isaías, pai de Ademir; Djalma, filho de Ademir; e Vilma, neta de Ademir e filha
de Djalma.
A herança de Ademir deve ser recebida por:
(A) somente Isaías;
(B) somente Djalma;
(C) Isaías e Djalma;
(D) Djalma e Vilma;
(E) Isaías, Djalma e Vilma.

10. (FGV - PROC J (CM ARACAJU)/CM ARACAJU/2021)


Um casal de alemães veio visitar o Brasil e ficou sensibilizado ao conhecer uma organização que cuidava de
crianças abandonadas. Decidiu que gostaria de levar uma criança para viver com eles na Alemanha, para cri-
á-la e educá-la.
Nesse caso, a colocação em família substituta far-se-á mediante:
(A) somente guarda;
(B) somente tutela;
(C) somente adoção
(D) guarda ou adoção;
(E) tutela ou adoção.

11. (FGV - DP MS/DPE MS/2022)


Juliano viveu uma vida de excessos e se preocupa em dar um fim útil ao considerável conjunto de bens que
amealhou durante a sua vida. Por isso, deseja que, após a sua morte, 20% dos seus bens sejam destinados à
instituição de uma fundação para fins de defesa, conservação e promoção do meio ambiente dos povos ribei-
rinhos.
A partir disso, é correto afirmar que:

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(A) se insuficientes para instituir a fundação, os bens deixados por Juliano deverão retornar ao monte a ser
inventariado, a fim de que se faça a partilha;
(B) para alterar o estatuto da fundação, a reforma deve ser deliberada por 2/3 dos competentes para gerir e
representá-la e não desvirtuar ou contrariar o seu fim;
(C) se o estatuto não for elaborado no prazo assinado pelo instituidor, ou, não havendo prazo, em 180 dias,
a incumbência caberá ao Ministério Público;
(D) tornando-se inútil, impossível ou ilícita a finalidade a que visa a fundação, ou vencido o prazo da sua
existência, o juiz lhe promoverá a extinção, incorporando o seu patrimônio a outra fundação.

12. (FGV - DP MS/DPE MS/2022)


Geraldo, depois de alguns meses percebendo que não conseguiria pagar o empréstimo que contraíra, procurou
seu credor para renegociar a dívida. Firmaram então um termo de novação, em que Geraldo se comprometia
a pagar um montante maior, mas com taxas de juros mais baixas. Somente depois de celebrada a novação,
Geraldo constatou que a dívida original crescera tão rapidamente porque o contrato inicial continha cláusulas
proibidas.
A partir disso, é correto afirmar que:
(A) não é mais possível a Geraldo questionar os termos do contrato original porque a novação o extinguiu,
restando somente a nova dívida;
(B) a novação opera a confirmação do contrato original, implicando renúncia ao direito de impugná-lo judi-
cialmente, salvo comprovado vício na própria novação;
(C) ainda é possível a Geraldo impugnar os termos da dívida anterior, pois não podem ser objeto de novação
obrigações nulas;
(D) a revisão do valor devido é possível, contanto que o termo de novação faça referência expressa às cláu-
sulas proibidas do contrato original.

13. (FGV - DP MS/DPE MS/2022)


Andréa sempre foi bastante cautelosa, tendo celebrado seguro de vida em benefício dos filhos e também fez
seguro sobre o seu automóvel. No último dia 15, todavia, bebeu três cervejas com amigos e faleceu em decor-
rência de um acidente ao conduzir seu veículo.
A partir disso, é correto afirmar que:
(A) os filhos de Andréa não poderão exigir a indenização pelo seguro de vida, pois sua embriaguez é repu-
tada agravamento intencional do risco;
(B) a ingestão de álcool gera uma presunção relativa de agravamento do risco no seguro do automóvel, ad-
mitindo-se que os herdeiros provem a ausência de nexo causal;
(C) a perda da cobertura securitária nos dois seguros dependerá de a seguradora comprovar o nexo causal
entre a embriaguez e o acidente;
(D) os herdeiros poderão exigir ambas as indenizações securitárias, pois somente ocorreria a perda do direi-
to à garantia se houvesse a intenção de agravar o risco.

14. (FGV - DP MS/DPE MS/2022)


Quando Hermenegildo morreu, deixou o pequeno casebre onde residiu nos últimos anos da sua vida e alguns
bens pessoais. Sua vizinha tentou alegar que era companheira do falecido, mas não houve comprovação sa-
tisfatória dessa alegação. Há notícia de que ele teria deixado um filho, que o abandonara há muitos anos, bem
como teria um primo em outro Estado, mas não há elementos indicativos de quem sejam.
Diante disso, é correto afirmar que:

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(A) a herança ficará jacente, figurando sua vizinha como curadora até que se obtenha a localização do filho
e, na ausência deste por cinco anos, ela se torna proprietária dos bens;
(B) o juiz mandará arrolar e arrecadar os bens, mas pode ser dispensada a expedição de editais, ante a
notícia de que haveria herdeiros;
(C) findo o prazo de um ano, a herança passará à propriedade do ente público, extinguindo-se os direitos de
eventuais herdeiros;
(D) declarada a vacância da herança, seu primo não terá mais qualquer direito, mas seu filho ainda poderá
reivindicar os bens por cinco anos.

15. (FGV - DP MS/DPE MS/2022)


Renata vem sofrendo grandes dificuldades em fruir com tranquilidade de sua chácara, por conta dos transtor-
nos decorrentes de obras que vêm sendo realizadas na propriedade de seu vizinho, Evandro. Depois de anos
de desleixo, com construções de integridade questionável, Evandro foi obrigado a realizar algumas dessas
obras por imposição do poder público, para reparar inclusive violações à regulamentação ambiental aplicável
àquela área.
Sobre o caso, é correto afirmar que:
(A) por se tratar de obras justificadas por interesse público, não pode Renata pretender de Evandro indeni-
zação pelos prejuízos sofridos, mas poderá exigir a sua redução, ou eliminação, quando estas se tornarem
possíveis;
(B) no tocante às construções de integridade questionável, ante o risco de ruína iminente, poderá Renata
exigir de Evandro não somente a demolição ou reparação delas, mas também que lhe preste caução pelo
dano iminente;
(C) se as obras no terreno de Evandro ensejarem curso de água para o terreno de Renata, ela poderá exigir
que ele seja desviado ou que ela seja indenizada pelos prejuízos sofridos, independentemente de o novo
curso de água lhe trazer algum benefício;
(D) Renata poderá recusar que a tubulação subterrânea de serviços de utilidade pública destinada ao terre-
no de Evandro passe pelo seu terreno, salvo se ele comprovar que seja impossível proceder de outro modo.

16. (FGV - DP RJ/DPE RJ/2021)


Em 2003, Francisco adquiriu de Pedro lote de terreno de 330 m2, em área urbana, através de contrato particular
de compra e venda, contrato esse não levado a registro. No contrato estava previsto o pagamento de 30 par-
celas de R$ 300,00. Francisco reside no local desde 2003 e não possui qualquer outro imóvel urbano ou rural.
Em janeiro de 2021, Francisco procura o(a) Defensor(a) Público(a) da Comarca em que reside para regularizar
a situação imobiliária do imóvel. O(A) Defensor(a) Público(a), ao analisar a documentação, verifica o seguinte:
a parte apresentou comprovante de pagamento de todas as parcelas, o contrato não está assinado por Pedro
e o lote em questão não é registrado no Registro de Imóveis competente.
O(A) Defensor(a) Público(a) deverá:
(A) ajuizar ação de usucapião ordinário;
(B) ajuizar ação de adjudicação compulsória;
(C) ajuizar ação de usucapião constitucional urbano;
(D) informar que não é possível o ajuizamento de qualquer demanda, oficiando para a Corregedoria-Geral
da Defensoria Pública;
(E) encaminhar as partes para o cartório do Registro Geral de Imóveis (RGI) competente para lavratura de
escritura de usucapião extrajudicial.

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17. (FGV - DP RJ/DPE RJ/2021)
A respeito dos direitos da personalidade, é correto afirmar que:
(A) o exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária, ainda que permanente e geral;
(B) as partes destacadas e recuperáveis do corpo humano – como fio de cabelo, saliva, sêmen – merecem
a mesma proteção recebida pelas partes não recuperáveis do corpo;
(C) a disposição do próprio corpo, ainda que gratuita, com objetivos exclusivamente científicos, é autorizada;
(D) a substituição de um dos patronímicos por ocasião do matrimônio não poderá ser revertida ainda na
constância do matrimônio, sob alegação de que o sobrenome adotado assumiu posição de protagonismo em
detrimento do sobrenome familiar;
(E) o uso não autorizado da imagem de torcedor inserido no contexto de uma torcida pode induzir a reparação
de danos morais, ainda que não configurada a projeção e a individualização da pessoa nela representada.

18. (FGV - DP RJ/DPE RJ/2021)


Eduardo é casado com Josefa, pelo regime de comunhão parcial de bens. Eduardo trabalhou com carteira as-
sinada até se aposentar, em janeiro de 2018. Da união nasceram Lúcio e Nádia, maiores, casados e com filhos.
Antes do casamento, Eduardo já possuía um imóvel de sua propriedade e adquiriu mais um após o matrimônio.
Em fevereiro de 2021, Eduardo começou a se sentir mal e foi levado para a emergência, ocasião em que foi
constatada uma doença cardíaca. Eduardo ficou preocupado, pois, além de Lúcio e Nádia, criou sua enteada,
Cecília, e optou por realizar um testamento particular no próprio hospital, eis que Cecília não era sua herdeira
legítima. Contudo, por estar acamado, Eduardo não conseguiu redigir o testamento de próprio punho, e o ditou
para a enfermeira do hospital, tendo aposto sua digital no documento. O testamento foi feito na presença de três
técnicos de enfermagem, que o subscreveram. Horas depois, Eduardo faleceu em razão de infarto fulminante.
Diante da situação, é correto afirmar que:
(A) tratando-se de circunstância excepcional, o testamento feito por Eduardo poderia ser confirmado pelo
juiz, independentemente da presença de testemunhas;
(B) esse testamento pode ser validado, mesmo sem a assinatura do testador, em razão do princípio da pre-
valência da vontade do testador;
(C) Josefa não é herdeira de Eduardo, eis que já é meeira, possuindo, no entanto, direito real de habitação;
(D) na hipótese de um dos filhos de Eduardo renunciar à herança, os netos dele sucedem por cabeça;
(E) Cecília não poderá receber quinhão maior do que os filhos biológicos de Eduardo, eis que herdeira tes-
tamentária.

19. (FGV - ADV (FUNSAÚDE CE)/FUNSAÚDE CE/2021)


A sociedade empresária Y é compradora de insumos da sociedade X há muito tempo, razão pela qual celebram,
constantemente, contratos semelhantes de compra e venda entre si. Nesses instrumentos, sempre resta con-
signado que, ao final de cada mês, a sociedade Y deverá fazer o pedido da quantidade de insumos que dese-
jará adquirir no mês seguinte, junto a X. Após o pedido ser acolhido, Y deve pagar a totalidade do valor relativo
a ele e, finalizados esses trâmites, é obrigação de X entregar os insumos em até três dias úteis. Esta dinâmica
se cumpria sem maiores problemas ou mudanças circunstanciais ao longo da relação comercial.
No final de março de 2021, durante a execução de um contrato de compra e venda com cláusulas idênticas
àquelas mencionadas acima, Y formalizou o pedido de insumos referente ao mês de abril de 2021 por e-mail,
que foi prontamente acolhido por X. Contudo, Y deixou de pagar os valores devidos por essa encomenda e,
mesmo assim, passados três dias úteis do aceite do fornecimento, exigiu de X a entrega dos insumos, que não
os entregou
A respeito da situação hipotética apresentada, assinale a afirmativa correta.
(A) As partes criaram obrigação diversa daquela existente na lei, pois, nas vendas à vista, o vendedor é
obrigado a entregar a coisa antes de receber o preço.

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(B) A conduta da sociedade X é lícita, vez que, tanto pelo contrato, como pela lei, ela poderá reter a entrega
da coisa até o pagamento do preço.
(C) A sociedade X poderia reter a entrega da coisa até o pagamento do preço devido por Y, se a venda tra-
tada pelas partes fosse a crédito.
(D) A hipótese de autotutela inexiste no direito brasileiro, razão por que o não cumprimento da obrigação
sinalagmática pela sociedade X depende de autorização judicial.
(E) A sociedade X pode depositar judicialmente os produtos, para receber os valores que por ele são devidos.

20. (FGV - ADV (FUNSAÚDE CE)/FUNSAÚDE CE/2021)


Paulo e Augusta estão preparando seu casamento. A fim de cuidar da parte musical do evento, contrataram a
banda Caramelo. No contrato, as partes estabeleceram que o valor pecuniário devido seria pago após a apre-
sentação no evento. Em tal instrumento, estipulou-se que a banda Caramelo poderia cobrar a integralidade da
dívida tanto de Paulo, quanto de Augusta e, ainda, de Laércio, pai de Paulo, sem ordem de preferência para
exigir-se o cumprimento da obrigação pecuniária de quaisquer desses devedores.
Neste caso, é correto dizer que se trata, segundo o Código Civil, de
(A) obrigação solidária presumida.
(B) assunção de obrigação subsidiária.
(C) obrigação alternativa a ser concentrada por Laércio.
(D) assunção de obrigação solidária.
(E) obrigação facultativa a ser concentrada por Paulo.

21. (FGV - ADV (IMBEL)/IMBEL/2021)


Segundo o Código Civil, os bens que compõem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como
objeto de direito pessoal, ou real, são
(A) bens particulares afetados ao serviço público.
(B) bens públicos de uso comum não sujeitos a usucapião.
(C) bens públicos dominicais que estão sujeitos a usucapião.
(D) bens públicos de uso especial que podem ser alienados, observadas as exigências legais.
(E) bens públicos dominicais que podem ser alienados, observadas as exigências legais.

22. (FGV - ADV (IMBEL)/IMBEL/2021)


A Sociedade X, fabricante de produtos para a construção civil, forneceu materiais para a Sociedade Y. Alguns
dias após a entrega dos produtos, mas antes da data acordada para que a Sociedade Y pagasse pelo rece-
bimento, a Sociedade X notificou a Sociedade Y acerca da transmissão do crédito, advindo daquele contrato,
para a Sociedade Z. Porém, a Sociedade Y não concorda em pagar o valor da aquisição à Sociedade Z, embora
no contrato com a Sociedade X não houvesse previsão de qualquer proibição dessa prática. Sobre a situação,
segundo o Código Civil, assinale a afirmativa correta.
(A) A Sociedade X pretende realizar uma novação da obrigação, que não é admitida sem autorização do
devedor.
(B) A Sociedade X realizou uma cessão de crédito à Sociedade Z, admitida, pois não há vedação legal, con-
tratual e a natureza da obrigação a permite.
(C) A Sociedade X imputou a Sociedade Z no pagamento, o que não pode ser impugnada pela Sociedade Y,
ainda que haja cláusula proibitiva.

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(D) Operou-se, entre as Sociedades X e Z, uma compensação de crédito, pelo que a Sociedade Y não possui
meios para excepcionar o pagamento.
(E) A consignação do crédito efetuada pela Sociedade X junto à Sociedade Z, a qual somente pode ser proi-
bida por lei, determina que a Sociedade Y pague a Z.

23. (FGV - ADV (IMBEL)/IMBEL/2021)


A sociedade empresária W e a sociedade empresária Y são parceiras comerciais de longa data. Diante dessa
antiga relação de confiança, a sociedade Y aceitou assumir a posição de fiadora da sociedade W em contrato
de compra de equipamento, celebrado entre W e a sociedade K. Tal avença foi estipulada por escrito. A respeito
dessa hipótese, segundo o Código Civil, é correto afirmar que
(A) W e Y são devedores solidários em razão do contrato de fiança celebrado.
(B) O patrimônio de W será responsabilizado primeiramente pelo pagamento, não sendo lícito Y renunciar a
esta ordem.
(C) Y, caso renuncie ao benefício de ordem, não poderá exigir que sejam primeiro executados os bens de W.
(D) W e Y são devedores solidários, não sendo lícita convenção em contrário.
(E) O patrimônio de Y será responsabilizado primeiramente pelo pagamento, caso renuncie ao benefício de
ordem.

24. (FGV - ESTAG (MPE BA)/MPE BA/DIREITO/2022)


Juliana se casou com o seu namorado de adolescência, Raul. Os sogros dela, Ana e Ricardo, não ficaram muito
satisfeitos, pois preferiam que Raul tivesse se casado com outra pessoa. A irmã de Raul, Eunice, aproveitou
para atormentar Juliana com esse fato. Tudo isso gerou uma animosidade entre Juliana e a família de Raul,
que não conseguiam conviver no mesmo ambiente. Juliana se arrependeu de ter se tornado parente dos fami-
liares de Raul e passou a considerar o divórcio para extinguir esse vínculo. Diante disso, o divórcio extinguiria
o parentesco entre Juliana e:
(A) Ana, por serem parentes por afinidade em linha reta;
(B) Eunice, por serem parentes por afinidade na linha colateral;
(C) Ricardo, por serem parentes socioafetivos em linha reta;
(D) Eunice, por serem parentes socioafetivos na linha colateral;
(E) Ana, Ricardo e Eunice, por serem parentes por afinidade de Juliana.

25. (FGV - ESTAG (MPE BA)/MPE BA/DIREITO/2022)


Celso e Maria se casaram pelo regime da comunhão parcial de bens. Na constância do casamento, Celso
herdou um apartamento e comprou um sítio, enquanto Maria recebeu de doação uma fazenda e ganhou um
prêmio de loteria.
Com base nessas informações, em caso de divórcio, devem ser partilhados:
(A) o sítio e a fazenda;
(B) o apartamento e o prêmio de loteria;
(C) o apartamento e a fazenda;
(D) o sítio e o apartamento;
(E) o sítio e o prêmio de loteria.

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26. (FGV - PJ (MPE GO)/MPE GO/2022)
André identificou excelente oportunidade de negócio ao ver imóvel que estava sendo anunciado por preço infe-
rior a seu valor de mercado, tendo em vista o interesse do proprietário em se desfazer dele rapidamente. Não
desejando o imóvel para si, André firmou contrato para a aquisição do bem, mas fez dele constar cláusula que
lhe permitia, em até cinco dias, indicar qualquer outra pessoa para assumir a posição de comprador em seu
lugar, transmitindo-lhe todos os direitos e obrigações.
Tendo isso em vista, é correto afirmar que:
(A) a substituição de André se opera se, no prazo de cinco dias, o indicado aceitar assumir a posição contra-
tual, ainda que a comunicação ao vendedor ocorra depois disso;
(B) a aceitação do indicado pode ser formalizada por instrumento particular, ainda que o contrato de compra
e venda tenha sido celebrado por escritura pública;
(C) a substituição de André pelo indicado não terá efeitos retroativos, assumindo os direitos e obrigações
contratuais a partir da efetivação da substituição;
(D) se o terceiro indicado por André era insolvente no momento da nomeação, o contrato produzirá efeitos
somente entre os contratantes originários;
(E) se o indicado por André recusar a nomeação ou não manifestar sua aceitação dentro do prazo, o contrato
de compra e venda se resolverá de pleno direito.

27. (FGV - PJ (MPE GO)/MPE GO/2022)


Alcebíades veio a falecer em 2015, aos 70 anos de idade, depois de três anos separado de fato de sua espo-
sa Gertrudes, com quem se casara em 2005. Logo depois da separação, Alcebíades assumiu publicamente
relacionamento com Renata, e assim permaneceram de forma contínua e duradoura até sua morte. Um dos
filhos de Alcebíades, chamado Gabriel, morrera um ano antes dele, deixando duas filhas, Maria e Sofia, que
contavam com 10 e 12 anos de idade, respectivamente, quando da morte do avô. Alcebíades deixou ainda dois
filhos vivos, Pedro e Paulo, que desaprovavam o novo relacionamento do pai. Alcebíades cortara relações com
Pedro há um ano, pois o filho chegou a chamar Renata de interesseira em um jantar com toda a família. Paulo,
por sua vez, renunciou à herança assim que soube da morte do pai.
Considerando que Alcebíades não deixou testamento, é correto afirmar sobre sua sucessão que:
(A) Gertrudes tem direito a quota igual a que couber a cada um dos filhos, a despeito do concubinato com
Renata, pois mantinha-se o vínculo conjugal por ocasião da morte;
(B) Renata tem direito a metade do que couber aos filhos de Alcebíades, por não serem filhos comuns, no
que tange aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável;
(C) Sofia tem direito a quota igual a que couber a cada um dos filhos, pois tem direito de representar o pai
pré-morto, Gabriel, recebendo o que lhe caberia;
(D) Pedro está excluído da sucessão do pai, pois a ofensa contra a honra da companheira do pai, ainda que
não reconhecida judicialmente como crime, caracteriza causa de indignidade;
(E) os filhos de Paulo não podem herdar por representação do pai, renunciante, mas podem vir a herdar por
direito próprio, e por cabeça, se os demais herdeiros também renunciarem.

28. (FGV - PJ (MPE GO)/MPE GO/2022)


A moradia constitui direito fundamental como corolário do princípio da dignidade da pessoa humana. Lamen-
tavelmente, por falta de recursos ou por desconhecimento, são celebrados negócios que transferem a posse
física do imóvel sem observar a dimensão registral ou urbanística do ato. A necessidade de disciplinar a ocu-
pação do solo, por outro lado, emerge como dever derivado da proteção ambiental, da garantia de salubridade,
da segurança urbana e da obrigatoriedade de publicização do direito real. No conflito entre os valores, o Poder
Judiciário vem tentando uniformizar os entendimentos a respeito da matéria.
Em relação ao tema, é correto afirmar que:

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(A) o reconhecimento da usucapião extraordinária pressupõe o atendimento do requisito de exercício de
posse mansa, pacífica e sem oposição, pelo prazo determinado em lei, conforme a hipótese e a observância
do módulo estabelecido por lei municipal de acordo com as normas de parcelamento do solo urbano;
(B) a impossibilidade de publicidade do direito de propriedade com o registro imobiliário, por meio da abertura
de matrícula, impede o reconhecimento da declaração do direito de propriedade em sentença de usucapião;
(C) a pretensão de adjudicação compulsória não se sujeita a prazo prescricional, mas se extingue por meio
de usucapião exercida por terceiro;
(D) o direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao registro do compromisso de compra e venda
no cartório de registro de imóveis, mesmo quando não exercido em face do promitente vendedor;
(E) a inexistência de prova de quitação do preço, por requisito essencial à pretensão de adjudicação compul-
sória, importa na improcedência do pedido de adjudicação, sendo irrelevante o decurso do tempo suficiente
para fundamentar a prescrição de eventual débito ou a aquisição do domínio pelo instituto da usucapião.

29. (FGV - ADV (PREF PAULÍNIA)/PREF PAULÍNIA/CREAS/2021)


Júlio e José foram contratados para realizar a manutenção da casa de João, que pediu que eles tomassem
muito cuidado para nada quebrar, pois a casa fora construída com tijolos feitos com argilas especiais e que não
são mais encontrados nos dias atuais; que as janelas tinham vidros do século XVII e que as portas tinham sido
feitas com a última leva de madeira da extinta serraria de seu pai, que, inclusiva, assinou-as.
Com relação à mobilidade, à consuntibilidade e à fungibilidade, assinale a opção que indica como os tijolos,
os vidros das janelas e as portas podem ser classificados.
(A) Imóveis, inconsumíveis e infungíveis.
(B) Móveis, inconsumíveis e infungíveis.
(C) Móveis, consumíveis e infungíveis.
(D) Imóveis, inconsumíveis e fungíveis.
(E) Móveis, consumíveis e fungíveis.

30. (FGV - ADV (PREF PAULÍNIA)/PREF PAULÍNIA/CREAS/2021)


Marcos firmou contrato oneroso com a Administradora de Patrimônios Ltda., no qual cede a gestão do seu por-
tfólio de investimentos à empresa contratada, com pacto adjeto de constituição de renda vitalícia a seu sobrinho
Luiz, por instrumento particular.
Nesse ajuste, a Administradora de Benefícios Ltda. assume a condição de rendeira, Marcos, a qualidade de
rentista e Luiz, a de beneficiário. Por sua vez, Marcos reservou para si o direito de substituir Luiz, a qualquer
tempo, por outro beneficiário.
Considerando o arranjo exposto, assinale a afirmativa correta.
(A) Marcos pode, a qualquer momento, exigir que o rendeiro lhe preste garantia real, ou fidejussória.
(B) O contrato de constituição de renda não é válido, porque deveria ter sido firmado por escritura pública.
(C) O contrato de constituição de renda é nulo, por não se admitir o pacto vitalício.
(D) Marcos não poderia se reservar o direito de substituir o terceiro designado no contrato.
(E) O contrato reflete pacto sucessório, vedado pelo Código Civil.

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Gabarito

1 D
2 B
3 A
4 A
5 C
6 E
7 B
8 A
9 B
10 C
11 C
12 C
13 B
14 D
15 B
16 A
17 B
18 B
19 B
20 D
21 E
22 B
23 C
24 B
25 E
26 D
27 E
28 C
29 A
30 B

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