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A sentença tem dois lados: de um, é conceituada uma peça processual marcada pelo formalismo,
lógica e coerência, na qual o magistrado se submete às normas e aos princípios processuais; por
outro, também há o compromisso com a promoção dos valores da equidade e justiça. A sentença
trabalhista, embora no aspecto formal se aproxime da sentença cível, também se orienta pelo
sentido teleológico do direito do trabalho, com o seu ideal de transformar a realidade e melhorar a
vida do trabalhador e de sua família, ressoando seus efeitos em todos os setores sociais, políticos e
econômicos.
No capítulo A sentença, da obra Direito processual do trabalho, base teórica desta Unidade de
Aprendizagem, você estudará sobre os requisitos essenciais e específicos da sentença trabalhista, o
procedimento para sua realização, como reconhecer os vícios e erros materiais e os casos em que é
possível encerrar o processo sem resolução do mérito (sentenças terminativas).
Boa leitura.
DIREITO
PROCESSUAL DO
TRABALHO
Sentença
Anna Carolina Gomes dos Reis
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar sobre as sentenças trabalhistas à luz da Con-
solidação das Leis do Trabalho (CLT) e do Código de Processo Civil (CPC). Você
também vai verificar o entendimento doutrinário e jurisprudencial sobre o tema.
Ainda, você vai estudar os vícios que podem ocorrer na sentença trabalhista,
como os casos de decisão citra petita (omissão), ultra petita e extra petita,
obscuridade, contradição ou erros materiais. Você também vai compreender
como as partes podem resolver tais situações.
Para concluir, você vai verificar as hipóteses de extinção do processo com
e sem resolução e os efeitos da coisa julgada formal e material. Você também
vai compreender os limites objetivos e subjetivos da sentença trabalhista e a
possibilidade de se propor novamente a ação trabalhista que outrora foi extinta.
A CLT, no art. 832, §3°-A, incisos I e II, estabelece o seguinte (BRASIL, 1988,
documento on-line):
A CLT também dispõe em seu art. 832, §3°-B, que, caso haja piso salarial
da categoria definido por acordo ou convenção coletiva de trabalho, o seu
valor deverá ser utilizado como base de cálculo para os fins do pagamento das
verbas trabalhistas (BRASIL, 1988). Esses parâmetros tiveram como finalidade
impedir que as partes adotassem mecanismos para burlar a contribuição
previdenciária e respeitar o valor do salário-mínimo ou aquele fixado nos
instrumentos coletivos. O juiz deve também, de acordo com o art. 832, § 2º, da
CLT, fixar as custas processuais, que podem ser sobre um valor líquido ou sobre
um montante arbitrado com a finalidade de calcular as custas, mencionando
que devem ser pagas pela parte vencida (BRASIL, 1988).
Nos termos do art. 852 da CLT, quando a sentença é proferida na audi-
ência de instrução e julgamento, as partes devem ser cientificadas nessa
oportunidade. Se o juiz não proferir a sentença em audiência, o prazo para
recurso será contado da data em que a parte receber a intimação da sentença,
quando houver designação de audiência para tanto, ou da data em que foi
publicada a sentença. Atente-se que, caso o reclamado crie embaraços ao
recebimento da intimação ou não seja encontrado, a intimação será feita por
edital, inserto no jornal oficial ou no que publicar o expediente forense, ou,
na falta, afixado na sede da Junta ou Juízo. É o que se depreende da leitura
dos arts. 852 e 841, § 1º, da CLT (BRASIL, 1943).
Na prática, em virtude da quantidade de demandas e complexidade des-
sas causas, os juízes não proferem sentença em audiência. Alguns tribunais
apenas constam que as partes são intimadas por meio de publicação do
Diário Oficial ou diário eletrônico, quando representadas por advogado,
e pessoalmente por meio do correio ou oficial de Justiça, quando em exercício
do jus postulandi.
6 Sentença
Intimação da União
Os vícios da sentença
A sentença proferida pelo magistrado deve estar em consonância com os
pedidos formulados pelo autor/reclamante, na petição inicial. Entretanto, é
possível que o juízo venha a responder de forma diferente — nesse caso, a
decisão judicial incorrerá em vícios. Esses vícios podem ser oriundos de decisão
citra petita (omissão), ultra petita ou extra petita, obscuridade, contradição
ou erros materiais.
A sentença citra petita acontece quando o juiz decide aquém do que foi
pedido e é considerada uma negativa de prestação jurisdicional. Contudo,
é importante mencionar que a decisão citra petita não significa decidir menos
do que o autor pedira — isso ocorre em pedidos parcialmente procedentes,
o que é perfeitamente possível, e muito comum, na sentença trabalhista.
A sentença citra petita é a omissão do juízo em se pronunciar sobre algo que
foi levado à sua apreciação, pois é dever do juiz proferir julgamento completo,
seja para acolher um pedido por inteiro, parcialmente ou simplesmente rejeitar
todas as pretensões do autor (LEITE, 2016).
O parágrafo único do art. 1.022 do CPC/2015 nos apresenta algumas hipó-
teses em que a decisão judicial é omissa, aplicável na sentença trabalhista.
São elas (BRASIL, 2015, documento on-line):
A sentença ultra petita é aquela que decide além do que foi pedido e,
por fim, a extra petita é aquela que decide fora do que foi pedido. Sobre a
sentenças citra petita (omissão), ultra petita e extra petita, Pamplona Filho
e Souza (2020, p. 934) expõem o seguinte:
Por fim, é possível também que a sentença trabalhista possua erros ma-
teriais. Esses vícios são os equívocos ou a inexatidão da sentença, por erro
de digitação, troca de função da reclamante ou nomes das partes, ausência
de uma data ou assinatura. O erro material é nada mais que uma desatenção
do magistrado, algo que pode ocorrer com qualquer pessoa no exercício de
suas funções profissionais (NASCIMENTO, 2017). Os erros materiais poderão ser
corrigidos por meio dos embargos declaratórios e, conforme dispõe o § 1º do
art. 897-A da CLT, poderão ser corrigidos de ofício, ou seja, pelo próprio julgador,
ou a requerimento (simples petição) de qualquer das partes (BRASIL, 1943).
Por outro lado, é possível que o juiz extinga o processo trabalhista sem
resolução do mérito, caso em que temos uma sentença terminativa. Esta
ocorrerá quando:
Como regra, as ações que tiverem sentença terminativa poderão ser repro-
postas, desde que o autor sane o vício que fundamentou a decisão e pague
eventuais custas de tal processo.
Da coisa julgada
A sentença que julga total ou parcialmente o mérito da ação trabalhista tem
força de lei, nos limites dos decididos pelo magistrado ou tribunal (quando
houver modificação em sede de recurso). Podemos dizer que, por razões de
segurança jurídica, é necessário que, em algum momento, a decisão seja
estabilizada, ou seja, que ocorra a chamada coisa julgada.
A coisa julgada é direito fundamental previsto no art. 5º, XXXVI, da Cons-
tituição Federal. Em seu aspecto material, ocorre quando a sentença se torna
imutável e indiscutível quanto ao mérito; em seu aspecto formal, significa
que não é possível aviar qualquer recurso contra a decisão judicial (BRASIL,
1988). Nesse sentido, afirmam Pamplona e Souza (2020, p. 942):
A coisa julgada material é a eficácia da decisão que projeta efeitos fora da rela-
ção jurídica processual sub judice, pois aprecia o mérito da causa, acolhendo ou
rejeitando o pedido ou pedidos de forma definitiva. Já a coisa julgada formal é a
impossibilidade de alteração da decisão, por esgotados os recursos ou eles não
serem mais possíveis.
Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência
da República, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicao.htm. Acesso em: 25 nov. 2020.
BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis
do Trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.
htm Acesso em: 12 nov. 2020.
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF:
Presidência da República, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 08 de nov. de 2020.
BRASIL. Lei nº 13.876, de 20 de setembro de 2019. Dispõe sobre honorários periciais em
ações em que o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) figure como parte e altera a
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de
maio de 1943, a Lei nº 5.010, de 30 de maio de 1966, e a Lei nº 8.213, de 24 de julho de
1991. Brasília, DF: Presidência da República, 2019. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13876.htm. Acesso em: 30 nov. 2020.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 376. Horas Extras. Limitação. Art. 59
Da Clt. Reflexos (conversão das Orientações Jurisprudenciais nºs 89 e 117 da SBDI-1).
Diário da Justiça, Brasília, DF, 25 abr. 2005.
LEITE, C. H. B. Curso de direito processual do trabalho. De acordo com o novo CPC –
Lei n. 13.105, de 16-3-2015. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
NASCIMENTO, A. M. Curso de Direito do Trabalho. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
PAMPLONA FILHO, R.; SOUZA, T. R. P. Curso de direito processual do trabalho. 2. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2020.
SCHIAVI, M. Manual de direito processual do trabalho. 15. ed. São Paulo: LTr, 2018.
Sentença 11
Leitura recomendada
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Orientações Jurisprudenciais. Disponível em:
https://www.tst.jus.br/ojs. Acesso em: 30 nov. 2020.