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A sentença tem dois lados: de um, é conceituada uma peça processual marcada pelo formalismo,
lógica e coerência, na qual o magistrado se submete às normas e aos princípios processuais; por
outro, também há o compromisso com a promoção dos valores da equidade e justiça. A sentença
trabalhista, embora no aspecto formal se aproxime da sentença cível, também se orienta pelo
sentido teleológico do direito do trabalho, com o seu ideal de transformar a realidade e melhorar a
vida do trabalhador e de sua família, ressoando seus efeitos em todos os setores sociais, políticos e
econômicos.

No capítulo A sentença, da obra Direito processual do trabalho, base teórica desta Unidade de
Aprendizagem, você estudará sobre os requisitos essenciais e específicos da sentença trabalhista, o
procedimento para sua realização, como reconhecer os vícios e erros materiais e os casos em que é
possível encerrar o processo sem resolução do mérito (sentenças terminativas).

Boa leitura.
DIREITO
PROCESSUAL DO
TRABALHO
Sentença
Anna Carolina Gomes dos Reis

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Explicar os procedimentos e requisitos da sentença.


>> Identificar os erros materiais.
>> Descrever a extinção do processo sem resolução de mérito e o trânsito
em julgado.

Introdução
Neste capítulo, você vai estudar sobre as sentenças trabalhistas à luz da Con-
solidação das Leis do Trabalho (CLT) e do Código de Processo Civil (CPC). Você
também vai verificar o entendimento doutrinário e jurisprudencial sobre o tema.
Ainda, você vai estudar os vícios que podem ocorrer na sentença trabalhista,
como os casos de decisão citra petita (omissão), ultra petita e extra petita,
obscuridade, contradição ou erros materiais. Você também vai compreender
como as partes podem resolver tais situações.
Para concluir, você vai verificar as hipóteses de extinção do processo com
e sem resolução e os efeitos da coisa julgada formal e material. Você também
vai compreender os limites objetivos e subjetivos da sentença trabalhista e a
possibilidade de se propor novamente a ação trabalhista que outrora foi extinta.

Aspectos formais da sentença trabalhista


No processo judicial trabalhista, assim como nos demais processos judiciais,
o juiz se pronuncia por meio de sentenças, decisões interlocutórias e despa-
chos, que devem ser assinados e datados pelo magistrado. Veja a seguir um
breve conceito de cada uma dessas espécies de decisão.
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„„ Sentença: decisão que põe fim à fase de conhecimento ou execução,


podendo ou não resolver o mérito.
„„ Decisão interlocutória: todo pronunciamento judicial de natureza de-
cisória que não acarrete encerramento do processo.
„„ Despachos: todos os demais pronunciamentos do juiz praticados no
processo, de ofício ou a requerimento da parte para dar andamento
ao processo, com base no impulso oficial.

Neste capítulo, você vai estudar mais a fundo a sentença trabalhista e


como funciona o seu procedimento, assim como os requisitos previstos na
legislação trabalhista e no processo civil. A sentença é ato do juiz, em que este
submete a pretensão deduzida pela parte ao ordenamento jurídico vigente
e aos preceitos de justiça e equanimidade. Nas palavras do jurista Mauro
Schiavi (2018, p. 837), "a sentença, na perspectiva moderna, é o ato judicial
por meio do qual se opera o comando abstrato da lei às situações concretas,
que se realiza mediante uma atividade cognitiva, intelectiva e lógica do juiz,
como agente da jurisdição".
As sentenças podem ser classificadas de acordo com a pretensão deduzida
pela parte perante o juiz. Na divisão clássica, temos as sentenças declaratória,
constitutiva e condenatória, descritas a seguir.

„„ A sentença declaratória, como o próprio nome aponta, declara a exis-


tência ou inexistência de um direito, uma relação ou uma situação
jurídica, bem como a autenticidade ou a falsidade de um documento.
Esse tipo de sentença concede certeza à pretensão do réu. Toda sen-
tença guarda conteúdo declaratório.
„„ A sentença constitutiva é aquela que cria, modifica, conserva ou
extingue uma relação jurídica ou situação jurídica, provocando uma
alteração de ordem fática ou jurídica, como a sentença que reconhece
o vínculo de emprego.
„„ A sentença condenatória é aquela que impõe ao réu o cumprimento de
uma obrigação (de dar, fazer ou não fazer), ou seja, condena o réu a uma
prestação. Ela representa a grande maioria das sentenças trabalhis-
tas, que obrigam a reclamada a pagar horas extras, férias, diferenças
salariais etc.
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A prolação da sentença no procedimento trabalhista se orienta pela lei e


pelo livre convencimento do juiz, que se dá a partir dos elementos trazidos
pelas partes no curso do processo, em especial, todas as provas produzidas
de forma lícita. O magistrado pode determinar qualquer diligência necessária
ao esclarecimento de tais provas. Além disso, a sentença deve estar vinculada
aos pedidos formulados pelo autor do processo, fundamentada e redigida
de forma clara, precisa, obedecendo as regras processuais e materiais e ao
princípio da publicidade.
Do art. 832 da CLT, podemos extrair que a estrutura básica de qualquer
sentença trabalhista deverá conter: os nomes das partes, o resumo do pedido
e da defesa, a apreciação das provas, os fundamentos da decisão e a respec-
tiva conclusão. Assim, podemos dividir a sentença em três partes: relatório,
fundamentação e dispositivo (BRASIL, 1943).
O relatório é a primeira parte da sentença, em que o juiz indica as partes
do processo e expõe um resumo dos fatos de todos os pedidos, os atos
praticados pelas partes (contestação, impugnação, tentativas de concilia-
ção), o valor da causa e as provas que foram produzidas durante o processo.
A fundamentação é a parte em que o juiz explica quais são as bases jurídicas
e situacionais que vão validar a sua decisão — ou seja, é a legitimidade da
própria atividade jurisdicional.
Ao apresentar sua motivação, o magistrado deverá atentar para as se-
guintes regras:

„„ ao indicar artigos de leis, deve explicar sua relação com a causa ou a


questão decidida;
„„ deve empregar conceitos jurídicos determinados e explicar o motivo
concreto de sua incidência no caso;
„„ os motivos devem justificar, de forma específica, a decisão que será
dada;
„„ precisa enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes
de influir na sua conclusão;
„„ ao invocar precedente ou enunciado de súmula, deve identificar seus
fundamentos determinantes e demonstrar sua aplicação ao caso sob
julgamento;
„„ se deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente
invocado pela parte, deve demonstrar a existência de distinção no caso
em julgamento ou a superação do entendimento.
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No rito sumaríssimo, para possibilitar maior celeridade, há auto-


rização legal para que o juiz dispense o relatório ou se restrinja à
descrição das principais ocorrências no processo.

A terceira e última parte da sentença é o dispositivo, ou conclusão. Aqui,


de forma direta, é indicada pelo juiz a resposta do Estado para os pedidos
que lhe foram apresentados.
Na sentença trabalhista devem constar, de forma precisa, as verbas objeto
da condenação, o tipo e quais serão os parâmetros para liquidação, a data para
aplicação da correção, a responsabilidade acerca dos recolhimentos tributários
e previdenciários, apontando em quais parcelas incidirá a previdência, e, por
fim, qual será o prazo de cumprimento. Ressalta-se que, quando a decisão
concluir pela procedência do(s) pedido(s), a sentença determinará o prazo e
as condições para o seu cumprimento.
Registra-se que tanto as sentenças cognitivas quantos aquelas que ho-
mologam o acordo devem indicar a natureza jurídica das parcelas, inclusive o
limite de responsabilidade de cada parte pelo recolhimento das contribuições
previdenciárias. É interessante ressaltar também que a Lei nº 13.876, de 20 de
setembro de 2019, introduziu os §§ 3°-A e 3°-B, no artigo 832 da CLT, e esta-
beleceu maior rigor para a fixação de bases de cálculo para as contribuições
previdenciárias (BRASIL, 2019).
Todas as sentenças que defiram verbas trabalhistas devem determinar a
natureza jurídica de cada parcela, para que seja possível verificar a incidência
da contribuição previdenciária. Isso consolida o entendimento do Tribunal
Superior do Trabalho, por meio da Orientação Jurisprudencial (OJ) 376, da
Subseção I Especializada em Dissídios Individuais. A OJ 376 estabelece que
é devida a contribuição previdenciária sobre o valor do acordo celebrado
e homologado após o trânsito em julgado de decisão judicial, respeitada a
proporcionalidade de valores entre as parcelas de natureza salarial e inde-
nizatória deferidas na decisão condenatória e as parcelas objeto do acordo.
A discriminação da natureza das verbas não será necessária quando os pedidos
formulados pelo autor da ação tiverem natureza exclusivamente indenizatória
(BRASIL, 2005).
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A CLT, no art. 832, §3°-A, incisos I e II, estabelece o seguinte (BRASIL, 1988,
documento on-line):

§ 3°-A. Para os fins do § 3° deste artigo, salvo na hipótese de o pedido da ação


limitar-se expressamente ao reconhecimento de verbas de natureza exclusivamente
indenizatória, a parcela referente às verbas de natureza remuneratória não poderá
ter como base de cálculo valor inferior: (Incluído pela Lei nº 13.876, de 2019)
I - ao salário-mínimo, para as competências que integram o vínculo emprega-
tício reconhecido na decisão cognitiva ou homologatória; ou (Incluído pela Lei
nº 13.876, de 2019)
II - à diferença entre a remuneração reconhecida como devida na decisão cogni-
tiva ou homologatória e a efetivamente paga pelo empregador, cujo valor total
referente a cada competência não será inferior ao salário-mínimo. (Incluído pela
Lei nº 13.876, de 2019)

A CLT também dispõe em seu art. 832, §3°-B, que, caso haja piso salarial
da categoria definido por acordo ou convenção coletiva de trabalho, o seu
valor deverá ser utilizado como base de cálculo para os fins do pagamento das
verbas trabalhistas (BRASIL, 1988). Esses parâmetros tiveram como finalidade
impedir que as partes adotassem mecanismos para burlar a contribuição
previdenciária e respeitar o valor do salário-mínimo ou aquele fixado nos
instrumentos coletivos. O juiz deve também, de acordo com o art. 832, § 2º, da
CLT, fixar as custas processuais, que podem ser sobre um valor líquido ou sobre
um montante arbitrado com a finalidade de calcular as custas, mencionando
que devem ser pagas pela parte vencida (BRASIL, 1988).
Nos termos do art. 852 da CLT, quando a sentença é proferida na audi-
ência de instrução e julgamento, as partes devem ser cientificadas nessa
oportunidade. Se o juiz não proferir a sentença em audiência, o prazo para
recurso será contado da data em que a parte receber a intimação da sentença,
quando houver designação de audiência para tanto, ou da data em que foi
publicada a sentença. Atente-se que, caso o reclamado crie embaraços ao
recebimento da intimação ou não seja encontrado, a intimação será feita por
edital, inserto no jornal oficial ou no que publicar o expediente forense, ou,
na falta, afixado na sede da Junta ou Juízo. É o que se depreende da leitura
dos arts. 852 e 841, § 1º, da CLT (BRASIL, 1943).
Na prática, em virtude da quantidade de demandas e complexidade des-
sas causas, os juízes não proferem sentença em audiência. Alguns tribunais
apenas constam que as partes são intimadas por meio de publicação do
Diário Oficial ou diário eletrônico, quando representadas por advogado,
e pessoalmente por meio do correio ou oficial de Justiça, quando em exercício
do jus postulandi.
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Intimação da União

A União, segundo dispõe o art. 832, § 4º da CLT, sempre será intimada


das decisões homologatórias de acordos que contenham parcela remuneratória
ou indenizatória, facultada a interposição de recurso relativo aos tributos que
lhe forem devidos ou se discordar da natureza das verbas trabalhistas atribuídas
na sentença que homologa acordo (BRASIL, 1943).

Os vícios da sentença
A sentença proferida pelo magistrado deve estar em consonância com os
pedidos formulados pelo autor/reclamante, na petição inicial. Entretanto, é
possível que o juízo venha a responder de forma diferente — nesse caso, a
decisão judicial incorrerá em vícios. Esses vícios podem ser oriundos de decisão
citra petita (omissão), ultra petita ou extra petita, obscuridade, contradição
ou erros materiais.
A sentença citra petita acontece quando o juiz decide aquém do que foi
pedido e é considerada uma negativa de prestação jurisdicional. Contudo,
é importante mencionar que a decisão citra petita não significa decidir menos
do que o autor pedira — isso ocorre em pedidos parcialmente procedentes,
o que é perfeitamente possível, e muito comum, na sentença trabalhista.
A sentença citra petita é a omissão do juízo em se pronunciar sobre algo que
foi levado à sua apreciação, pois é dever do juiz proferir julgamento completo,
seja para acolher um pedido por inteiro, parcialmente ou simplesmente rejeitar
todas as pretensões do autor (LEITE, 2016).
O parágrafo único do art. 1.022 do CPC/2015 nos apresenta algumas hipó-
teses em que a decisão judicial é omissa, aplicável na sentença trabalhista.
São elas (BRASIL, 2015, documento on-line):

1. deixar de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos


repetitivos ou em incidente de assunção de competência aplicável ao
caso sob julgamento;
2. faltar algum requisito da sentença, como fundamentação, relatório,
natureza das verbas trabalhistas ou qualquer outra conduta descrita
no art. 489, § 1º do CPC.
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A sentença ultra petita é aquela que decide além do que foi pedido e,
por fim, a extra petita é aquela que decide fora do que foi pedido. Sobre a
sentenças citra petita (omissão), ultra petita e extra petita, Pamplona Filho
e Souza (2020, p. 934) expõem o seguinte:

Por severíssimas razões sistemáticas e político constitucionais, a norma da corre-


lação entre a tutela jurisdicional e a demanda desdobra-se (a) no veto a sentenças
que, no todo ou em parte, apoiem-se em elementos não constantes da demanda
proposta e (b) na exigência de que todos os elementos subjetivos e objetivos desta
sejam exauridos. Tanto são ilícitas as decisões extra ou ultra petita, que extravasam
os limites da demanda, quanto as decisões citra petita, que deixam sem resposta
ou solução alguma parcela desta.

Temos também os casos em que a sentença trabalhista pode apresentar


vícios por obscuridade ou contradição. A obscuridade é a falta de clareza da
decisão — basicamente é a sentença confusa, impossível de ser compreendida
em todos ou alguns pontos. Veja que toda decisão deve ser clara, de forma
que permita ser entendida pelas partes e pelos advogados. Esse fato deve ser
bem ponderado na seara trabalhista, pois é marcada pelo amplo uso do jus
postulandi. Espera-se que o trabalhador e o empregador ao menos consigam
identificar se perderam ou ganharam na ação trabalhista. Já a contradição é a
sentença que, dentro do seu próprio contexto, mostra-se incoerente, quando
a conclusão não se alinha com a fundamentação.
Para corrigir o vício de omissão, contradição ou obscuridade na sentença,
cabe à parte opor embargos de declaração e, se o juiz insistir na omissão,
deverá recorrer ao Tribunal para que a sentença seja anulada, determinando-se
que o processo retorne ao juízo da vara trabalhista para que sane a omissão.
Assim dispõe o artigo art. 897-A da CLT:

Caberão embargos de declaração da sentença ou acórdão, no prazo de cinco dias,


devendo seu julgamento ocorrer na primeira audiência ou sessão subsequente a
sua apresentação, registrado na certidão, admitido efeito modificativo da decisão
nos casos de omissão e contradição no julgado e manifesto equívoco no exame dos
pressupostos extrínsecos do recurso (BRASIL, 1943, documento on-line).

A adoção de teses contrárias às suscitadas pelo embargante, a não


aplicação de determinada norma ao caso concreto e a conclusão
contrária à prova dos autos, à doutrina ou à jurisprudência são insuficientes
para o provimento dos declaratórios.
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Por fim, é possível também que a sentença trabalhista possua erros ma-
teriais. Esses vícios são os equívocos ou a inexatidão da sentença, por erro
de digitação, troca de função da reclamante ou nomes das partes, ausência
de uma data ou assinatura. O erro material é nada mais que uma desatenção
do magistrado, algo que pode ocorrer com qualquer pessoa no exercício de
suas funções profissionais (NASCIMENTO, 2017). Os erros materiais poderão ser
corrigidos por meio dos embargos declaratórios e, conforme dispõe o § 1º do
art. 897-A da CLT, poderão ser corrigidos de ofício, ou seja, pelo próprio julgador,
ou a requerimento (simples petição) de qualquer das partes (BRASIL, 1943).

Sentenças trabalhistas de extinção e


a coisa julgada
A sentenças trabalhistas podem ser dadas tanto na fase cognitiva quanto
na fase executiva, assim como podem ou não resolver o mérito dos pedidos
formulados pela parte autora. A resolução do mérito ocorre quando o juiz:

„„ acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção;


„„ decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência
ou prescrição;
„„ homologar o reconhecimento da procedência do pedido formulado
na ação ou na reconvenção, a transação ou a renúncia à pretensão
formulada na ação ou na reconvenção.

Por outro lado, é possível que o juiz extinga o processo trabalhista sem
resolução do mérito, caso em que temos uma sentença terminativa. Esta
ocorrerá quando:

„„ for indeferida a inicial;


„„ o processo ficar parado durante mais de um ano por negligência das par-
tes — se o réu já tiver oferecido a contestação, a extinção do processo
por abandono da causa pelo autor depende de requerimento do réu;
„„ o autor da ação não promover os atos e as diligências que lhe incum-
birem, abandonando a causa por mais de 30 dias — neste caso, a parte
será intimada pessoalmente para suprir a falta no prazo de cinco dias e,
se não o fizer, além da extinção, o autor será condenado ao pagamento
das despesas e dos honorários de advogado, se houver;
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„„ for verificada a ausência de pressupostos de constituição e de desen-


volvimento válido e regular do processo;
„„ for reconhecida a existência de perempção, de litispendência ou de
coisa julgada;
„„ for verificada a ausência de legitimidade ou de interesse processual;
„„ for acolhida a alegação de existência de convenção de arbitragem ou
quando o juízo arbitral reconhecer sua competência;
„„ for homologada a desistência da ação — lembre-se de que a desistência
só pode ser apresentada até a sentença e, se já oferecida a contestação,
o autor não poderá, sem o consentimento do réu, desistir da ação;
„„ houver morte da parte e a ação for considerada intransmissível por
disposição legal.

Como regra, as ações que tiverem sentença terminativa poderão ser repro-
postas, desde que o autor sane o vício que fundamentou a decisão e pague
eventuais custas de tal processo.

Da coisa julgada
A sentença que julga total ou parcialmente o mérito da ação trabalhista tem
força de lei, nos limites dos decididos pelo magistrado ou tribunal (quando
houver modificação em sede de recurso). Podemos dizer que, por razões de
segurança jurídica, é necessário que, em algum momento, a decisão seja
estabilizada, ou seja, que ocorra a chamada coisa julgada.
A coisa julgada é direito fundamental previsto no art. 5º, XXXVI, da Cons-
tituição Federal. Em seu aspecto material, ocorre quando a sentença se torna
imutável e indiscutível quanto ao mérito; em seu aspecto formal, significa
que não é possível aviar qualquer recurso contra a decisão judicial (BRASIL,
1988). Nesse sentido, afirmam Pamplona e Souza (2020, p. 942):

A coisa julgada material é a eficácia da decisão que projeta efeitos fora da rela-
ção jurídica processual sub judice, pois aprecia o mérito da causa, acolhendo ou
rejeitando o pedido ou pedidos de forma definitiva. Já a coisa julgada formal é a
impossibilidade de alteração da decisão, por esgotados os recursos ou eles não
serem mais possíveis.

Sobre os limites subjetivos da coisa julgada, nos casos de dissídios indivi-


duais, a sentença vincula apenas as partes processuais e eventuais litisconsor-
tes, com algumas exceções, a exemplo dos herdeiros, caso alguma das partes
venha a falecer. Se for dissídio coletivo, em que são pedidos relacionados
10 Sentença

a direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos, a coisa julgada tem


efeitos erga omnes e ultra partes, para atingir as categorias profissionais e
econômicas representadas na ação.
Sobre os limites objetivos, estes são determinados segundo os pedidos,
são fixados pelo pedido da ação e, em regra, são imutáveis. Contudo, se a ação
versar sobre relações jurídicas que se prologam no tempo, como reintegração
do cargo e benefícios acidentários, é possível que a parte venha a pleitear
revisão do que foi decidido anteriormente.
Por fim, a legislação processual estabelece que não fazem coisa julgada
os fundamentos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte
dispositiva da sentença e a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento
da sentença.

Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência
da República, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicao.htm. Acesso em: 25 nov. 2020.
BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis
do Trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.
htm Acesso em: 12 nov. 2020.
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF:
Presidência da República, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 08 de nov. de 2020.
BRASIL. Lei nº 13.876, de 20 de setembro de 2019. Dispõe sobre honorários periciais em
ações em que o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) figure como parte e altera a
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de
maio de 1943, a Lei nº 5.010, de 30 de maio de 1966, e a Lei nº 8.213, de 24 de julho de
1991. Brasília, DF: Presidência da República, 2019. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13876.htm. Acesso em: 30 nov. 2020.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 376. Horas Extras. Limitação. Art. 59
Da Clt. Reflexos (conversão das Orientações Jurisprudenciais nºs 89 e 117 da SBDI-1).
Diário da Justiça, Brasília, DF, 25 abr. 2005.
LEITE, C. H. B. Curso de direito processual do trabalho. De acordo com o novo CPC –
Lei n. 13.105, de 16-3-2015. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
NASCIMENTO, A. M. Curso de Direito do Trabalho. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
PAMPLONA FILHO, R.; SOUZA, T. R. P. Curso de direito processual do trabalho. 2. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2020.
SCHIAVI, M. Manual de direito processual do trabalho. 15. ed. São Paulo: LTr, 2018.
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Leitura recomendada
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Orientações Jurisprudenciais. Disponível em:
https://www.tst.jus.br/ojs. Acesso em: 30 nov. 2020.

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