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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

CURSO DE DIREITO

Gabriel Silva de Oliveira - 11911DIR233

Mateus Reis - 11911DIR036


DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO II

9º Período - A

Avaliação II - Análise de Julgados e Questões

UBERLÂNDIA – MG

2023
1. Mediante busca no site oficial do Tribunal Superior do Trabalho, encontre
julgados de Recurso de Revista envolvendo um dos seguintes temas: (a) justa
causa, (b) dispensa discriminatória ou (c) doença ocupacional. Selecionada a
ementa do julgado, transcreva-a na avaliação, indicando corretamente o número
do processo, fonte oficial/data de publicação e órgão julgador (qual turma do
TST apreciou o apelo). Para o item, poderá ser conferida pontuação máxima de
4,0 pontos.

AGRAVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. EMPREGADO


DE EMPRESA PÚBLICA. MOTIVAÇÃO DO ATO DA DISPENSA. DISTINGUISHING .
AUSÊNCIA DE ADERÊNCIA ESTRITA AO TEMA Nº 1022 DA TABELA DE
REPERCUSSÃO GERAL DO STF. TRANSCENDÊNCIA NÃO DEMONSTRADA .

1. Não se desconhece que o Supremo Tribunal Federal decretou a suspensão do


processamento de todas as demandas pendentes de julgamento que tratem do debate
relativo à " dispensa imotivada de empregado de empresa pública e de sociedade de
economia mista admitido por concurso público " - Tema 1022 da Tabela de
Repercussão Geral.

2. No caso presente, entretanto, a Corte de origem expressamente assentou que " a


dispensa ocorreu com a necessária motivação do ato, conforme carta apresentada ao
autor, fundada no término do contrato com o cliente SESP, ao lado da inexistência de
vaga compatível com as funções do reclamante para sua realocação ".

3. Com suporte no exame de fatos e provas, o TRT registrou que "não há nos autos
prova de que outros empregados foram admitidos posteriormente à dispensa do
reclamante, para suprir demanda de idênticas atividades, atribuições e na mesma
localidade que eram desenvolvidas pelo autor ".

4. Nesse contexto, a par da ocorrência de distinguishing e da ausência de aderência


estrita em relação ao Tema 1022 da Tabela de Repercussão Geral, a argumentação do
autor, no sentido de que a justificativa da dispensa [extinção de ponto de trabalho e
falta de vaga] não procede, tendo em vista que " restou comprovado nos autos, que
houve diversas contratações de novos funcionários para a mesma vaga do Agravante

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", demandaria o reexame do conjunto fático-probatório, o que é vedado nesta via
recursal de natureza extraordinária, nos termos da Súmula 126 do TST.

Agravo a que se nega provimento.

https://jurisprudencia.tst.jus.br/#d860da2e036922b8151a160cca5f2c32

TST-Ag-AIRR - 985-04.2021.5.14.0006

Processo:Ag-AIRR - 10091-74.2021.5.03.0077

Orgão Judicante: 1ª Turma

Relator:Amaury Rodrigues Pinto Junior

Julgamento: 26/04/2023

Publicação: 03/05/2023

Tipo de Documento: Acordão

2. Aponte as questões processuais que podem ser extraídas do julgado acerca do


Recurso de Revista. Para o item, poderá ser conferida pontuação máxima de 8,0
pontos.

O recurso de revista é um recurso de natureza extraordinária e pode ser definido


como o meio pelo qual o Tribunal Superior do Trabalho pode exercer sua função de
uniformizar a jurisprudência trabalhista assim como reatar a norma violada.

Esse tipo de recurso, em específico, não objetiva revisitar o conteúdo fático


probatório do julgado recorrido, mas de forma exclusiva, busca a reanálise das
questões jurídicas dirimidas na segunda instância em face de acórdãos emitidos por
tribunais regionais no trâmite de recursos ordinários e agravos de petição, no curso de
reclamações individuais ou ações civis públicas.

Os pressupostos do Recurso de Revista estão elencados no art. 896 da CLT,


sendo eles:

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Art. 896 – Cabe Recurso de Revista para Turma do Tribunal Superior do
Trabalho das decisões proferidas em grau de recurso ordinário, em
dissídio individual, pelos Tribunais Regionais do Trabalho, quando:

a) derem ao mesmo dispositivo de lei federal interpretação diversa da


que lhe houver dado outro Tribunal Regional do Trabalho, no seu Pleno
ou Turma, ou a Seção de Dissídios Individuais do Tribunal Superior do
Trabalho, ou contrariarem súmula de jurisprudência uniforme dessa
Corte ou súmula vinculante do Supremo Tribunal Federal;

b) derem ao mesmo dispositivo de lei estadual, Convenção Coletiva de


Trabalho, Acordo Coletivo, sentença normativa ou regulamento
empresarial de observância obrigatória em área territorial que exceda a
jurisdição do Tribunal Regional prolator da decisão recorrida,
interpretação divergente, na forma da alínea a;

c) proferidas com violação literal de disposição de lei federal ou afronta


direta e literal à Constituição Federal.

No caso em tela, se tratando do Recurso de Revista em questão, este não


deveria prosperar, desse modo, a decisão do relator foi proferida corretamente. Após a
análise do caso, percebe-se que tal recurso não se enquadra nos requisitos elencados
no artigo 896-A, § 1° da CLT, assim, o Tribunal Superior do Trabalho não pode atuar,
pois as questões a serem exploradas não são novas e assim, não requerem fixação de
tese jurídica ou uniformização de jurisprudência, assim como não colidem com as
jurisprudências já sumuladas do TST ou do STF e ainda, não constituem controvérsia
de elevado valor ou à direito previsto da Constituição Federal.

Adentrando ao mérito e observando o disposto na norma explicitada acima,


tem-se que o referido tribunal já possui entendimento firmado de que “ainda que
existente norma interna da sociedade de economia mista estabelecendo limitação ao
direito potestativo de despedir, a sua privatização afasta o direito do empregado à
motivação do ato da dispensa, pois, sendo a empresa sucessora pessoa jurídica de
direito privado, não se submete aos princípios regentes da Administração Pública,
passando o empregado a se sujeitar à discricionariedade que o empregador privado
tem para operar a rescisão contratual.” Observa-se que a questão tratada no trecho

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constitui um entendimento firmado e não alguma das hipóteses elencadas no parágrafo
anterior, por isso, deve-se destacar mais uma vez que, sendo essas hipóteses
requisitos para admissibilidade do recurso de revista, o caso em tela não os
preenche, e por isso, acertada foi a decisão proferida, uma vez que o agravo de
instrumento, em sede de destrancamento de recursos no processo do trabalho,
não foi meio hábil para comprovar os requisitos de admissibilidade do recurso
de revista anteriormente interposto.

3. Pesquise dois autores que abordem o tema explorado no passo 1, indicando-os


no corpo do trabalho e ao final dele, em seção específica intitulada
“Referências”, nos termos da ABNT. Feita a citação dos autores, articule-a com
os termos do acórdão selecionado no passo 1. Para o item, poderá ser conferida
pontuação máxima de 8,0 pontos.

Em linguagem jurídico-trabalhista, entende-se por “justa causa” a falta grave


tipificada em lei, invocada e provada pelo contratante lesionado, que, pela
considerável extensão e nocividade, torna justificada e legitimada a ruptura
imediata do contrato de emprego, levando o sujeito lesionador à assunção de perdas
de natureza material e/ou imaterial.

Como uma verdadeira sanção material, a “justa causa” impõe ao operário,


quando sujeito causador da falta grave, sensíveis perdas patrimoniais, entre as quais
se destacam o instantâneo rompimento contratual sem qualquer aviso prévio, a
vedação ao saque do FGTS, o não recebimento da indenização de 40% sobre os
depósitos do FGTS, a perda das férias proporcionais e do décimo terceiro salário
proporcional, além da proibição de habilitação ao benefício do seguro-desemprego.
Nada impede, ademais, que o empregador ajuíze ação contra o empregado para
contra ele pretender até mesmo indenizações pelos prejuízos materiais e morais
eventualmente sofridos.

Por outro lado, a “justa causa” patronal, também conhecida como “despedida
indireta”, produzirá em favor do obreiro o direito de recebimento de todos os créditos
próprios de uma despedida sem justa causa. Entretanto, é muito comum que,

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associado à pretensão de caracterização da dispensa indireta, o trabalhador pretenda
indenizações por danos morais, sob o argumento de que a falta grave violou algum dos
seus patrimônios imateriais, entre os quais se destacam, pela reiteração nas lides
forenses, as infrações à sua imagem, honra, intimidade ou vida privada.

Cada país adota um tipo de sistema legislativo para tratar as justas causas
motivadoras da resolução contratual. Os sistemas podem ser: a) taxativo, enumerativo,
limitativo ou exaustivo: a lei enumera, limita e taxativamente indica quais os casos em
que cada uma das partes pode romper o contrato; b) exemplificativo ou enunciativo: a
lei é genérica no seu enunciado básico, não deixando de proporcionar alguns
exemplos elucidativos ao intérprete; c) genérico: a lei dispõe de modo amplo, de forma
mais abstrata e geral possível, não exemplificando nem limitando. O Brasil adotou o
sistema legislativo taxativo, pois todos os tipos constam expressamente na lei. Nem
todos os tipos estão no art. 482 da CLT, também há tipos em outros artigos da CLT e
em outras leis. Também se posicionam desta forma Dorval Lacerda, Arnaldo
Süssekind, Délio Maranhão, Rodrigues Pinto, Amauri Mascaro, Evaristo Moraes,
Maurício Godinho, Gabriel Saad e Orlando Gomes. Logo, os fatos a serem punidos
não podem extravasar os contornos fixados em lei, pois estes tipos são taxativos,
apesar de muito plásticos, pois permitem diversas interpretações. Não há justa causa
sem previsão legal.

Dessa forma, de acordo com o acórdão estudado, não se visualiza qualquer


situação que autorize, em tese, a aplicação da sanção da justa causa, em razão de
eventual excesso/ilícito cometido pelo empregado em sede trabalhista. Não obstante,
no que tange aos empregados públicos, cujo regime é celetista, mesmo que admitidos
por concurso público, a dispensa há de ser motivada. Isto é, não se faz necessário a
instauração de um processo administrativo disciplinar, tal como regido pela Lei
8112/90, porém, sua dispensa há de ser motivada, não podendo invocar razões das
quais não existem no caso concreto, sob pena de vinculação da motivação, sendo que
tal ato pode ser revertido se demonstrado a inexistência dos motivos da demissão.

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4. Apresente uma análise crítica e aprofundada que contraponha os estudos
relacionados ao Recurso de Revista com o acórdão selecionado,
posicionando-se em face das questões veiculadas na avaliação. Para o item,
poderá ser conferida pontuação máxima de 10,0 pontos.

De antemão, afirma-se que o recurso de revista, como todos os demais


recursos, tem por objeto aprimorar a excelência e a qualidade dos pronunciamentos
judiciais em geral e rechaçar os arbítrios e ilegalidades que eventualmente possam
ocorrer nas decisões proferidas pelos tribunais regionais. Mas é inegável que os
objetivos específicos da revista repousam na supremacia do direito nacional, cujo
conceito é mais amplo do que o de direito federal, em face do direito local ou regional.
Direito nacional é o que é aplicável em todo o território nacional, ultrapassando a
autonomia dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Direito federal é também
aplicável em todo o território nacional, mas a sua incidência vincula apenas a União e
seus entes descentralizados (v.g., autarquias, fundações, empresas públicas federais e
sociedades de economia mista com participação societária da União). Por exemplo, o
Código Civil é uma lei nacional. Já a Lei n. 8.112/90 (regime jurídico único dos
servidores públicos federais) é uma lei federal. Como bem observa Vantuil Abdala: o
nosso sistema processual é o do duplo grau de jurisdição. Nada impediria que o nosso
legislador tivesse adotado três ou quatro instâncias; mas não o fez; adotou apenas
duas instâncias ordinárias. Nós temos o juízo de primeiro grau e a instância recursal de
segundo grau, e o processo naturalmente deveria acabar aí. Inobstante, existe no
processo do trabalho o recurso para uma instância superior que se destina à proteção
do direito objetivo e não do direito subjetivo; à regularidade da aplicação da norma
jurídica, em primeiro lugar, e só em segundo plano o direito das partes; à uniformização
da jurisprudência e não à justiça do caso concreto. Naturalmente, sendo esta uma
instância extraordinária, e tendo este objetivo, para que o recurso possa ser conhecido
há de se respeitar estes pressupostos, ou seja, decisão que diverge de outra ou que
ofenda a lei. Enfim, o recurso de revista é uma modalidade recursal que objetiva
corrigir a decisão que violar a literalidade da lei ou da Constituição Federal e a
uniformizar a jurisprudência nacional concernente à aplicação dos princípios e regras
de direito objetivo (direito do trabalho, direito processual do trabalho, direito

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constitucional, direito civil, direito processual civil etc.) que guardem alguma vinculação
com a atividade jurisdicional da Justiça do Trabalho.

Ao longo do acórdão, é possível verificar questões amplamente discutidas na


doutrina como a demissão por justa causa, seu alcance e as suas limitações. Certo é
que, por mais que existam várias correntes doutrinárias, a legislação trabalhista deve
sempre ser respeitada, mas além disso, as normas devem ser sempre atualizadas de
modo a serem adequadas à realidade contemporânea, pois as relações de trabalho
estão em constante mutação, principalmente com os impactos tecnológicos da última
década e para além disso, as questões processuais devem ser mantidas com
integridade pois os procedimentos instaurados foram elaborados com a intenção de
garantir o acesso à justiça e respeito aos direitos das partes envolvidas.

Como é cediço, o ordenamento jurídico elencou hipóteses para incidência do


recurso de revista, já apontadas anteriormente na “Questão 2” e elencadas pela
exposição do artigo 896 da CLT. No acórdão apontado na “Questão 1”, a parte
agravante impetrou o agravo em razão da inadmissibilidade do seu recurso, o acórdão
não a concedeu razão e proferiu decisão negativa pois esse recurso deve ser admitido
quando é necessária a uniformização da jurisprudência trabalhista ou é preciso reatar
determinada norma violada. Entretanto, o litígio do caso em tela já fora julgado
anteriormente e assim, consolidou-se entendimento pelo tribunal, conhecimento este,
contrário ao alegado. Observa-se que existe uma clara limitação processual no tocante
à impetração do recurso de revista e assim deve ser, pois os princípios da celeridade
processual e da segurança jurídica devem ser respeitados, caso não existissem esses
entraves, as partes poderiam litigar por meio de procedimentos ainda mais extensos,
de maneira que esses atos praticados certamente iriam prejudicar os princípios citados
acima e de maneira indireta, limitar o acesso à justiça de muitos outros litigantes.

REFERÊNCIAS

Bomfim, Vólia Direito do trabalho / Vólia Bomfim Cassar. – 9.ª ed. rev. e atual. – Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2014.

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LACERDA, Dorval. A falta grave no direito do trabalho. Rio de Janeiro: Edições
Trabalhistas, 1976. LOUZÃ NETO, Mario Rodrigues. Doenças: alcoolismo. Setembro
2010.

Leite, Carlos Henrique Bezerra. - Curso de direito processual do trabalho / Carlos


Henrique Bezerra Leite. -19. ed. - São Paulo: Saraiva Educação, 2021.

Das relações de emprego no direito do trabalho, 1960. p. 27, apud SÜSSEKIND,


Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de
direito do trabalho. 21. ed. São Paulo: LTr, 2003.

SAAD, Eduardo Gabriel. Direito processual do trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2002.

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