Você está na página 1de 9

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 1ª VARA

FEDERAL DE CURITIBA – SEÇÃO JUDICIÁRIA DO PARANÁ.

Processo n.º 5068177-59.2022.4.04.7000/PR

DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM DO


ESTADO DO PARANÁ, já qualificado nos autos de procedimento comum em
epígrafe, movido pela CAMINHOS DO PARANÁ S.A., vem, respeitosamente a
presença de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 1.022, I e II, do Código de
Processo Civil, opor EMBARGOS DE DECLARAÇÃO (com pedido de efeitos
infringentes), em face da r. decisão de evento 53, entendendo que ocorreram
as hipóteses que justificam a sua utilização, na forma e termos que passa
expor:

Conforme se extrai dos autos, o d. Juízo ao analisar a


preliminar de coisa julgada arguida em contestação pelo DER/PR, assim
decidiu:

Contudo, na r. decisão residem contradições e


obscuridades quanto a (i) validade da decisão proferida pelo d. Juízo
Secretaria Unificada das Varas da Fazenda Pública - 2ª Vara, a (ii)
necessidade de declaração de nulidade da sentença proferida por aquele
Juízo, já trânsitada em julgado em 20 de março de 2023 e a (iii) procedência
parcial da demanda, que merecem ser sanadas.
Note-se, que não está suficientemente claro se a
sentença proferida pelo d. Juízo Secretaria Unificada das Varas da Fazenda
Pública - 2ª Vara foi anulada ou tão somente desconsiderada por este d.
Juízo, já que em tese, no próprio entendimento de Vossa Excelência, aquela
sentença estaria válida, e para afastar a ocorrência de coisa julgada,
necessária seria a decretação/afirmação da nulidade daquela sentença.

Frise-se, que aquela r. decisão transitou em julgado em


20 de março de 2023, senão vejamos:

Ou seja, que não se trata da existência de mero conflito


de competência entre duas ações idênticas em curso perante dois juízos.
Tendo-se em vista que, na presente demanda, o pedido foi julgado, cabendo a
interposição de recursos pelas partes, enquanto naquela, a sentença já
transitou em julgado, de modo que de conflito não mais se pode cuidar,
não cabendo a aplicação do artigo 64, § 4º, do CPC.

Portanto, mesmo que proferida por juízo absolutamente


incompetente, após a formação da coisa julgada o juízo incompetente se torna
competente. De modo que, para que seja desconstituída e/ou anulada a r.
decisão de mérito já transitada em julgado, deve a parte interessada apresentar
ação rescisória, nos moldes do artigo 966, II, do CPC ao tribunal
competente, conforme bem pontuado na própria sentença.

Assim, especificamente em relação a esta preliminar, o


aclaramento de Vossa Excelência se faz necessário em razão do r. decisum
apresentar proposições inconciliáveis quanto o (i) afastamento e rejeição da
preliminar da coisa julgada arguida, (ii) a validade ou não da sentença proferida
pelo d. Juízo da 2ª Secretaria Unificada das Varas da Fazenda Pública e (iii) a
existência ou não de decisão proferida por tribunal competente rescindindo a
referida sentença, de forma a permitir reapreciação de matéria alcançada pela
coisa julgada material, o que torna incerto o provimento jurisdicional de
procedência parcial do pedido.

Não é demais ressaltar, que uma vez presente a coisa


julgada material, esta deve prevalecer sobre a declaração de incompetência,
ainda que absoluta, em observância aos princípios da coisa julgada, da
segurança jurídica, da economia e celeridade processual.

Ora, inobstante o tema da cessação da eficácia da coisa


julgada seja complexo, já se encontra razoavelmente bem equacionado na
doutrina, na legislação e na jurisprudência da Corte Superior, senão vejamos:

"(...) o próprio juiz de ofício e, portanto, independentemente de provocação da


parte, pode denunciar a sua incompetência absoluta, devendo a parte alegá-la
na primeira oportunidade em que se manifesta nos autos, mercê de o vício
poder ser suscitado em qualquer tempo e grau de jurisdição antes de
transitar em julgado a decisão. Transitada esta, o vício ainda pode figurar
como causa petendi de ação rescisória; por isso, os atos decisórios do juízo
absolutamente incompetente são nulos (art. 113, § 2º c.c art. 485, inciso II, do
CPC), como, v.g., o que defere a liminar antecipatória". (FUX, Luiz. Curso de
Direito Processual Civil. 3ª ed., p. 102)

“RESCISÓRIA. PREVIDENCIÁRIO. COMPETÊNCIA. ARTIGO 966, INCISO II DO


CPC. DESISTÊNCIA DA AÇÃO.COMPETÊNCIA DELEGADA. OPÇÃO DA
PARTE AUTORA PELO AJUIZAMENTO NA JUSTIÇA ESTADUAL. APLICAÇÃO
DE NORMA CONSTITUCIONAL. IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO. 1. O artigo 966,
inciso II, do CPC prevê a hipótese de rescisão da decisão de mérito,
transitada em julgado, quando for proferida por juiz impedido ou
absolutamente incompetente. Dessa forma, somente a incompetência absoluta
torna o julgado rescindível. (...) Rescisória improcedente.”

“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. GRATIFICAÇÃO. LEI 11.722/95.
COISA JULGADA. RELATIVIZAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. 1. A relativização da
coisa julgada é medida excepcional dependente de previsão legal, como
ocorre na ação rescisória e revisão criminal, sendo vedado ao Poder Judiciário
conferir aumento aos servidores públicos com fundamento no princípio da
isonomia, máxime quando a majoração foi rejeitada em decisão transita (Súmula
339 do STF, in verbis: “Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função
legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob fundamento de
isonomia”. 2. In casu, houve decisão em controle difuso de constitucionalidade
onde esta Corte, quando do julgamento do RE 258.980 da Relatoria do Ministro
Ilmar Galvão, reconheceu a inconstitucionalidade dos arts. 2º e 7º da Lei
11.722/95 do Estado de São Paulo. 3. A decisão de inconstitucionalidade em
controle difuso não abarca outra pretensão recursal, nas hipóteses em que há
decisão de mérito com trânsito em julgado quando do reconhecimento da
inconstitucionalidade. 4. Agravo regimental improvido.”

Neste passo, impende destacar que a própria


Concessionária Caminhos do Paraná DEIXOU de incluir a União no polo
passivo do mandado de segurança impetrado por ela, o qual também
questionava a legalidade da Portaria n.º 003/2019, optando, assim pelo
ajuizamento da ação na Justiça Estadual.

Logo, resta claro que ante o insucesso da Caminhos do


Paraná em instância diferenciada, esta entendeu por incluir a União no polo
passivo desta demanda, renovando a apreciação do pedido, cuja decisão lá
proferida já se tornará soberanamente julgada.

Quanto a decisão do mérito, extrai-se o que segue:


Concessa máxima vênia, apesar dos contratos de
concessão do Anel de Integração do Paraná serem os pioneiros do país, os
vícios de interpretação e de legalidade que macularam os procedimentos não
devem anuviar aquele Poder que tem a função de julgar, de solucionar os
conflitos e, principalmente, de interpretar e aplicar a lei.

Em detida análise ao contrato de concessão n.º 74/97,


denota-se que não há margem para más interpretações quanto os a
inexecução contratual e procedimentos administrativos dele derivados.

Gize-se, que as próprias cláusulas contratuais seguem


uma ordem lógica e cronológica, não há clausulas espalhadas ou de difícil
interpretação, senão vejamos:
Note-se, que a Cláusula LIV impõe às partes o dever de
cumprir fielmente o Contrato, respondendo cada uma pelas consequências de
sua inexecução parcial ou total. A Cláusula LV trata sobre as hipóteses de
inexecução e rescisão, a Cláusula LVI dispõe sobre as causas justificadoras da
inexecução.

Por sua vez, a Cláusula LVII, traz as sanções que podem


ser aplicadas pelo DER/PR pela inexecução parcial ou total do Contrato, e
especificamente no item 10, desta Cláusula, resta claro que o dever do Diretor-
Geral do DER na emissão de ato graduando as infrações, segundo a sua
gravidade, fixando o valor da multa e delegando a sua aplicação, e neste caso,
considerando o prazo previsto, foi emitida a Portaria n.º 485/97-DER/DG.

Por consequência lógica, a Cláusula LVII tratou sobre o


Processo Administrativo de Aplicação de Penalidades, contendo nela, a ordem
cronológica para a execução dos procedimentos sancionatórios (passo-a-
passo).

Portanto, permissa vênia, denota-se que os pontos


destacados no mérito do r. decisum merecem ser esclarecidos, principalmente
quanto:
(i) ao estabelecimento das regras procedimentais
pela Portaria n.º 003/2019, sendo que seu artigo
14 apenas remete-se apenas remete a regra
disposta na Cláusula LVIII, não introduzindo
alterações ao contrato;
(ii) ao estabelecimento do critério de prévia intimação
para a solução de eventuais problemas, sendo que
inexiste ato normativo prevendo tal hipótese nos
autos;
(iii) a previsão de alteração/revisão do ato contido na
Portaria n.º 485/97-DER/DG, o que afasta qualquer
hipótese de aplicação do costume e de engessamento
da administração pública à continuidade da pratica de
atos viciados pela ilegalidade;
(iv) a previsão contida na Cláusula IV do Contrato de
Concessão, estabelecendo a prerrogativa do DER
alterar o contrato unilateralmente para melhor
adequação as finalidades do interesse público,
deixando claro a aplicação do princípio da
supremacia do interesse público sobre o particular.

Assim, considerando a existência de obscuridades e


contradição no r. decisum embargado que tornam o provimento jurisdicional
incerto e insuficientemente claro, o que implica em vícios que devem ser
supridos, requer-se o acolhimento pelos presentes declaratórios.

REQUERIMENTOS

Diante do exposto, requer se digne Vossa Excelência,


acolher os presentes embargos de declaração, atribuindo-lhes efeitos
infringentes, para sanar a obscuridade e contradição apontadas a fim de
esclarecer e aclarar o decisum de evento seq. 53.

Termos em que,
Pede e espera deferimento.
Curitiba, 15 de janeiro de 2024.

Você também pode gostar