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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DO(A) JUÍZO SUBSTITUTO DA 2ª VF DE

ITAJAÍ

NÚMERO: 5010191-08.2022.4.04.7208
REQUERENTE(S): EDSON RENATO DIAS
REQUERIDO(S): UNIÃO

UNIÃO, pessoa jurídica de direito público, representado(a) pelo membro da


Advocacia-Geral da União infra assinado(a), vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, apresentar CONTESTAÇÃO à ação anulatória proposta pelo autor.

DOS FATOS

Cuida-se de Ação Anulatória oposta por EDSON RENATO DIAS


(648.581.209-10) visando obter declaração de nulidade das condenações a ele imposta por meio
do Acórdão 9091/2021, proferido pelo Tribunal de Contas da União, nos autos da fase externa
do processo de Tomada de Contas Especial (TC 006.352/2019-7), por meio do qual foram
julgadas irregulares as contas do autor, em razão da não comprovação da execução do objeto do
Convênio n.º 634/2008, firmado entre o Ministério do Turismo e o Município de Balneário
Camboriú/SC, cujo objeto era qualificar profissionais do setor de turismo para a melhoria da
qualidade no atendimento aos turistas do Município de Balneário Camboriú/SC, no período de
27/09/2010 a 15/12/2010.

No essencial, a parte autor alegou ocorrência da prescrição quinquenal pelo


suposto transcurso de mais de 10 (dez) anos entre a ocorrência da suposta irregularidade e a sua
citação no processo de Tomada de Contas Especial. Alega, outrossim, que somente na
instauração da Tomada de Contas teria havido o primeiro marco interruptivo da prescrição,
conforme art. 2º da Lei nº 9.783/1999.

Os argumentos da parte autor,a contudo, não se revestem de consistência


jurídica, como se passará a demonstrar na sequência.

DA AUSÊNCIA DE PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA


O autor alega a ocorrência de prescrição da pretensão punitiva da União, sob o
fundamento de que teriam transcorrido mais de 10 (dez) anos entre a ocorrência
da irregularidade e a sua citação no processo de Tomada de Contas Especial.

Razão não assiste ao autor.

De início, cabe trazer à baila a tese firmada pelo STF quando do julgamento
do RE 636.886:“É prescritível a pretensão de ressarcimento ao Erário fundada em decisão de
Tribunal de Contas”.

Não obstante a tese fixada pelo Supremo Tribunal Federal, não é possível
juridicamente a subsunção do presente caso concreto à tese firmada nesse referido RE.

Em que pese a abrangência semântica exalada pela literalidade da tese firmada,


é de se destacar que o caso concreto de que trata o RE nº 636.886 refere-se à fase de
execução da pretensão de ressarcimento fundada em Acórdão de Tribunal de Contas. Nesse
sentido, cite-se o seguinte trecho do Voto de lavra do Exmo. Ministro Alexandre de Moraes:

(...)
No caso dos autos, a execução fiscal fora ajuizada há bastante tempo e o despacho de arquivamento
provisório data de mais de cinco anos atrás, sem que até a presente data tenham sido encontrados
bens passíveis de constrição. Assim, estando os autos arquivados (sem baixa) há mais de cinco (05)
anos e não havendo, neste intervalo de tempo, notícia de qualquer diligência concreta efetuada pelo
exeqüente tendente a obter a satisfação de seu crédito, torna-se imperativo o reconhecimento da
prescrição intercorrente. E tal se dá porque, como bem afirmou o Juiz Élcio Pinheiro de Castro, no
Superior Tribunal de Justiça, em decisão proferida na AC nº 2000.70.09.000728-3/PR, publicada no DJ
de 21 de junho de 2000, Seção II, pág. 987, "(...) quando se verifica que, promovida a ação de cobrança, o
feito é arquivado por mais de cinco anos sem notícia da exeqüente ter promovido nos autos as diligências
necessárias ao andamento do processo, não há como afastar a incidência do disposto no art. 174, § único
do CTN, aplicável aos créditos tributários. Logo, caracterizada a inércia prolongada da Fazenda Pública,
que não promoveu os atos de efetiva execução, deve-se decretar a prescrição, com a extinção do feito,
compatibilizando-se a providência com aquele dispositivo do CTN, que é lei complementar. E não há que
se falar em impossibilidade de ofício da prescrição pelo juiz, mormente quando não é localizado o
devedor, do contrário estar-se-ia compactuando com uma execução por tempo indefinido, o que é
inadmissível em nosso ordenamento jurídico". (grifamos)

Portanto, os parâmetros de solução do caso concreto firmados no RE nº 636.886


têm o condão de servir de precedente para os processos de execução dos títulos executivos
extrajudiciais decorrentes dos acórdãos do Tribunal de Contas da União, e não para situações
que antecedem a prolação do aresto da Corte de Contas.

Do Acórdão do RE nº 636.886 a UNIÃO opôs embargos de declaração também


para definir essa questão do alcance do julgado, se apenas para a fase executiva ou também para
a anterior. E o fato foi examinado pelo Colegiado, notadamente para afastar a aplicabilidade da
tese fixada à fase administrativa, ou seja, aquela que antecede a formação do título com eficácia
executiva.

Ao rejeitar os embargos de declaração opostos pela UNIÃO, o Relator Ministro


Alexandre de Moraes acabou tecendo considerações nas quais deixou claro que a aplicação da
tese se restringe à fase posterior à formação do título executivo, ou seja, a prescrição objeto do
Tema 899 consiste na prescrição da pretensão executória de título executivo proveniente de
decisão do Tribunal de Contas da União da qual resulte imputação de débito ou multa:

[...]
Do mesmo modo, não há qualquer contradição a ser sanada no aresto embargado no que tange à fase
de aplicação do prazo prescricional. Ao referir-me ao procedimento administrativo no âmbito da Corte
de Contas, realizado com o fito de apurar a eventual ocorrência de irregularidade de que resulte dano
ao erário, e que culmina com a imputação de débito ao responsável, procurei demonstrar as razões
pelas quais é inaplicável a este processo o Tema 897, em que assentada a imprescritibilidade das ações
de ressarcimento ao erário fundadas na prática de ato de improbidade administrativa doloso.
[...]
Nenhuma consideração houve acerca do prazo para constituição do título executivo, até porque esse
não era o objeto da questão cuja repercussão geral foi reconhecida no Tema 899, que ficou adstrito,
como sobejamente já apontado, à fase posterior à formação do título.
Reitere-se: Após a conclusão da tomada de contas, com a apuração do débito imputado ao
jurisdicionado, a decisão do TCU formalizada em acórdão terá eficácia de título executivo e será
executada conforme o rito previsto na Lei de Execução Fiscal (Lei 6.830/1980), por enquadrar-se no
conceito de dívida ativa não tributária da União, conforme estatui o art. 39, § 2º, da Lei 4.320/1964.
Assim, são impertinentes as alegações do embargante no sentido de que devem ser esclarecidos o
regramento, bem como os marcos inicial, suspensivos e interruptivos do prazo de prescrição, aplicáveis
para o exercício da pretensão punitiva pelo TCU.

Da análise do teor do voto prevalente é possível afirmar que, em que pese


a rejeição dos embargos de declaração da UNIÃO pelo Supremo Tribunal, houve um maior
detalhamento da tese fixada, deixando claro que ela se restringe à fase posterior à formação do
título executivo.

Assim, o que decidido em sede de repercussão geral, no sentido da


prescritibilidade da pretensão de ressarcimento ao erário fundada em decisão do TCU, bem
como os seus efeitos vinculantes, restringe-se à fase posterior à formação do título
executivo.

Com relação a fase que antecede a formação do título executivo, entende-se


que a tese firmada pelo RE 636.886 deve ser integrada à luz do MS 32.201, precedente que
de maneira mais detida, até o momento, se debruçou sobre a sistemática prescricional
relativa à atuação do TCU.

Eis a ementa do MS 32.201:

“Ementa: Direito administrativo. Mandado de segurança. Multas aplicadas pelo TCU. Prescrição da
pretensão punitiva. Exame de legalidade.
1. A prescrição da pretensão punitiva do TCU é regulada integralmente pela Lei nº 9.873/1999, seja
em razão da interpretação correta e da aplicação direta desta lei, seja por analogia.
2. Inocorrência da extinção da pretensão punitiva no caso concreto, considerando-se os marcos
interruptivos da prescrição previstos em lei.
3. Os argumentos apresentados pelo impetrante não demonstraram qualquer ilegalidade nos fundamentos
utilizados pelo TCU para a imposição da multa.
4. Segurança denegada.”
(MS 32201, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 21/03/2017,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-173 DIVULG 04-08-2017 PUBLIC 07-08-2017)
Portanto, na ausência de norma legal específica que disciplinasse a prescrição
no processo de controle externo, fez-se necessária a utilização da analogia para suprir essa
lacuna, encontrando-se na Lei 9.783/1999 um sistema normativo mais compatível com as
atividades de imputação de responsabilidades levadas a efeito pelo TCU.

Observa-se que a Lei 9.783/1999 estabeleceu prazo genérico de 5 (cinco) anos


para exercício da pretensão punitiva:

Art. 1º Prescreve em cinco anos a ação punitiva da Administração Pública Federal, direta e indireta,
no exercício do poder de polícia, objetivando apurar infração à legislação em vigor, contados da data da
prática do ato ou, no caso de infração permanente ou continuada, do dia em que tiver cessado.
§ 1º Incide a prescrição no procedimento administrativo paralisado por mais de três anos, pendente de
julgamento ou despacho, cujos autos serão arquivados de ofício ou mediante requerimento da parte
interessada, sem prejuízo da apuração da responsabilidade funcional decorrente da paralisação, se for o
caso.
§ 2º Quando o fato objeto da ação punitiva da Administração também constituir crime, a prescrição reger-
se-á pelo prazo previsto na lei penal.

Além do mais, no roteiro consignado no voto do Relator do MS 32.201 ficou


patente que se devem ser observadas as causas interruptivas da prescrição consignadas na Lei
9.873/1999, as quais incidirão tantas vezes quanto presentes os suportes fáticos.

Aplicando igual lógica prescricional, nos autos do MS 36.067, cujo agravo


regimental foi apreciado pela 2ª Turma do STF, foram constatadas a ocorrência, pelo Exmo.
Ministro Ricardo Lewandowski, de cinco causas interruptivas no caso concreto, inclusive
ocorridas no âmbito do controle interno. Nesse sentido, vejamos a transcrição de trecho do
inteiro teor do acórdão lavrado na aludido mandamus:

7. Ora, adotando-se a tese exposta no MS 32.201, e considerando o termo a quo (30/12/1999),


constataríamos a incidência de cinco causas interruptivas do prazo prescricional:
a) relatório de auditoria em conjunto realizada pelo Denasus e pela Secretaria Federal de
Controle, lavrado em 06/07/2001, sendo este, certamente, um ato inequívoco que importou a apuração do
fato (art. 2º, II, da Lei n. 9.873/1999);
b) instauração de Tomada de Contas Especial pelo FNS, ocorrida em 05/10/2005, sendo este também,
certamente, um ato inequívoco que importou a apuração do fato (art. 2º, II, da Lei n. 9.873/1999);
c) a autuação da presente Tomada de Contas Especial no âmbito do Tribunal de Contas da
União, ocorrida em 12/08/2008, sendo este também, certamente, um ato inequívoco que importou a
apuração do fato (art. 2º, II, da Lei n. 9.873/1999);
d) o ato que ordenou a citação do responsável, ora impetrante, ocorrida em 12/07/2010 (art. 2º, I, da
Lei n. 9.873/1999); e
e) o exercício do poder punitivo ocorrido em 20/06/2012, data da prolação do Acórdão 1563/2012-
Plenário (art. 2º, III, da Lei n. 9.873/1999).
8.Como se vê, ainda que aplicadas as normas da Lei n. 9.873/1999, também não teria ocorrido a
prescrição da pretensão punitiva do TCU em relação ao impetrante.

Destaca-se que o aludido precedente aplicou causas interruptivas ocorridas


ainda no órgão repassador dos recursos federais ou no controle interno federal, reforçando a
premissa de que a tomada de contas especial é um processo único, com uma fase interna,
conduzida pelo órgão federal, e uma fase externa, de competência do TCU, caso infrutíferas as
medidas administrativas voltadas à recomposição do dano.

Assim, o art. 2º da Lei 9.873/1999 estabelece as causas interruptivas da


prescrição punitiva, consoante abaixo transcrito, já na redação conferida pela Lei 11.941/2009:

Art. 2º Interrompe-se a prescrição da ação punitiva:


I – pela notificação ou citação do indiciado ou acusado, inclusive por meio de edital;
II - por qualquer ato inequívoco, que importe apuração do fato;
III - pela decisão condenatória recorrível.
IV – por qualquer ato inequívoco que importe em manifestação expressa de tentativa de solução
conciliatória no âmbito interno da administração pública federal.”

Considerando todo o delineamento jurídico acima exposto, passemos,


agora, à averiguação da eventual ocorrência da prescrição da pretensão de ressarcimento
ao Erário.

De acordo com a fundamentação do acórdão impugnado, "Cuidam os autos de


tomada de contas especial instaurada pelo Ministério do Turismo em razão da não
comprovação da regular aplicação dos recursos repassados pela União, por meio do Convênio
634/2008 (Siafi 635843), firmado entre o Ministério do Turismo e o Município de
BalneárioCamboriú/SC, que tinha por objeto “qualificar profissionais do setor de turismo para
a melhoria daqualidade no atendimento aos turistas do Município de Balneário
Camboriú/SC”. Para a consecução do empreendimento foi previsto o aporte de R$ 185.280,00,
sendo R$148.224,00 à conta do concedente e o restante correspondente à contrapartida do
convenente. A avença teve vigência de 27/6/2008 a 31/12/2011, sendo que a União repassou a
integralidade dos recursos de sua alçada.".

O termo inicial para contagem do prazo prescricional corresponde a 29/02/2012,


data final para a entrega da prestação de contas.

Entretanto, não corre prescrição na fase de fiscalização preliminar (anterior à


futura e eventual TCE), que é o próprio exame das contas, porquanto não tem natureza
sancionatória e, consequentemente, não representa o exercício do poder punitivo
estatal. Há, nesse período, suspensão do curso do prazo da prescrição.

A par disso, o Relatório de Auditoria, lavrado pelo controle


interno em 04/07/2014, constitui, certamente, um ato inequívoco que importou a apuração do
fato (art. 2º, II, da Lei n. 9.873/1999) (fl. 1374/1386);

Também se pode considerar interrompida a prescrição pela notificação do autor


para ciência da reprovação das contas e pagamento da dívida - OFÍCIO N°
2931/2016/CGCV/SPOA/SE/MTurm em 22/07/2016. (art. 2º, I, da Lei 9.873/1999).
Nova interrupção ocorreu com o Relatório do Tomador de Contas Especial
- controle externo - em 02/03/2016, também um ato inequívoco que importou a apuração do
fato (art. 2º, II, da Lei 9.873/1999) e com o Relatório de Auditoria 1.206/2018, da
Controladoria Geral da União (peça 184) (art. 2º, II, da Lei n. 9.873/1999);

Também em 26/3/2019, com a autuação do presente processo de TCE, visando


a apuração de irregularidades.

Mais uma vez o prazo prescricional foi interrompido com as citação do


Sr.Edson Renato Dias, por meio dos OFÍCIO 9300/2020-TCU/Seproc, em 11/04/2020. (art. 2º,
I, da Lei 9.873/1999).

Também houve interrupção em 13/10/2020, com a prolação


do acórdão condenatório (11532/2020), nos termos do inciso III do art. 2º da Lei 9.873/1999.

Por fim, a última data relevante é a concretização da pretensão de ressarcimento


com o trânsito em julgado do acórdão condenatório em 09/10/2021, a partir da qual pode
haver execução judicial do julgado.

Observa-se que não transcorreu o prazo quinquenal entre quaisquer desses


intervalos de tempo. Logo, merece ser rechaçada a alegação do autor de que teria se operado, no
caso concreto, a prescrição da pretensão de ressarcimento ao Erário.

NÃO-CABIMENTO DA TUTELA DE URGÊNCIA ANTE O NÃO ATENDIMENTO DOS


REQUISITOS DO ART. 300 DO NOVO CPC E DE VEDAÇÃO LEGAL

Pelas razões expostas, o pedido de tutela de urgência formulado na inicial, já


deferido, máxima vênia, não merecia acolhimento, uma vez que não foram preenchidos os
requisitos do art. 300 do novo Código de Processo Civil para sua concessão, a saber, a
plausibilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

Consoante bem demonstrado nas presentes informações, não ocorreu a alegada


prescrição quinquenal.

Ademais, nenhum ato arbitrário ou ilegal foi praticado por este Tribunal, cuja
conduta se pautou na estrita observância aos diplomas legais aplicáveis e na jurisprudência
prevalecente sobre a matéria.

O segundo pressuposto para concessão da medida antecipatória, o perigo de


dano, também não está configurado. As razões invocadas pelo autor não permitem concluir que
sejam irreversíveis os efeitos da decisão do TCU ou que estejam em risco a eficácia das
prestações jurisdicionais defendidas na presente ação.
Ademais, o autor não indicou nenhum tipo de efetiva constrição patrimonial
advinda do manejo da ação de execução que, efetivamente, tenha imposto a cobrança dos
valores advindos do acórdão condenatório.

Importa ainda observar que o acórdão do TCU goza de presunção de


legitimidade e de veracidade, em razão do que caberia ao autor provar tratar-se de ato
manifestamente ilegal, o que não ocorreu até o momento.

Além disso, a pretensão autoral quanto à tutela de urgência há de ser rechaçada


também ante expressa vedação de concessão da medida antecipatória nessas circunstâncias,
contida no art. 1°, § 1°, da Lei n.º 8.437/1992, aplicável à espécie por força do art. 1º, caput, da
Lei n.º 9.494/1997.

Estipula o último dispositivo mencionado, ao disciplinar a aplicação de medida


antecipatória contra a Fazenda Pública e dar outras providências, que:

“Art. 1º Aplica-se à tutela antecipada prevista nos art. 273 e 461 do Código de Processo Civil 1 o disposto
nos arts. 5º e seu parágrafo único e 7º da Lei n.º 4.348, de 26 de junho de 1964, no art. 1º e seu parágrafo
4º da Lei n.º 5.021 de 9 de junho de 1966, e nos arts. 1º, 3º e 4º da Lei n.º 8.437, de 30 de junho de 1992.”

As Leis 4.348/1964 e 5.021/1966 foram revogadas pela Lei n.º 12.016/2009,


que assim dispôs relativamente aos dispositivos mencionados pela Lei n.º 9.494/1997:

“Art. 7º (...)
§ 2º Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a compensação de créditos tributários, a
entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a reclassificação ou equiparação de servidores
públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer natureza. ”

Por seu turno, o § 1º do art. 1º da Lei n.º 8.437/1992, que dispõe sobre a
concessão de medidas cautelares contra atos do Poder Público, preceitua que:

“Art. 1° (...)
§ 1° Não será cabível, no juízo de primeiro grau, medida cautelar inominada ou a sua liminar,
quando impugnado ato de autoridade sujeita, na via demandado de segurança, à competência
originária de Tribunal. ”

Esse dispositivo deve ser interpretado à luz do art. 102, inciso I, alínea “d”, da
Constituição Federal:

“Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda a Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
(...)
d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores, o mandado de
segurança e o habeas data contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e
do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio
Supremo Tribunal Federal; ”.
Deste modo, como o ato atacado provém do TCU, que está sujeito, na via do
mandado de segurança, à competência do STF, não é possível a concessão da tutela de urgência
no presente caso.

Essa é a posição pacífica do Superior Tribunal de Justiça, conforme decisão da


Corte Especial transcrita a seguir:

“AGRAVO REGIMENTAL EM RECLAMAÇÃO. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA POR JUIZ


FEDERAL EM AÇÃO ORDINÁRIA AJUIZADA CONTRA A UNIÃO.USURPAÇÃO DA
COMPETÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.INOCORRÊNCIA. 1. O Conselho da
Justiça Federal é órgão que funciona junto ao Superior Tribunal de Justiça e seus atos, como se tem
admitido, podem ser impugnados por meio de mandado de segurança impetrado originariamente perante
esta Corte, inexistindo, contudo, fundamento legal ou constitucional que autorize excluir da parte a via
processual eleita da ação ordinária.2. Embora competente para o julgamento da ação ordinária, o
magistrado sofre efetiva limitação no exercício do poder de cautela quando o ato impugnado é de
autoridade sujeita, na via de mandado segurança, à competência originária de tribunal, por força do artigo
1º, parágrafo 1º, da Lei nº 8.437/92, importando em efetiva usurpação da competência desta Corte,
impugnável por meio da Reclamação prevista no artigo 105, inciso I, alínea 'f', da Constituição Federal, o
deferimento de tutela antecipada pelo juízo de primeiro grau quando o ato impugnado é do Conselho da
Justiça Federal. Precedente da Corte Especial (Rcl nº 1.526/DF, Relator Ministro Carlos Alberto Menezes
Direito, in DJ 7/3/2005).3. Não usurpa, entretanto, a competência do Superior Tribunal de Justiça a
decisão de juiz de primeiro grau que, nos autos de ação ordinária ajuizada em face da União Federal,
defere a antecipação dos efeitos da tutela requerida para determinar a suspensão do desconto do imposto
de renda sobre os valores recebidos a título de auxílio-creche pelo autor, já confirmada por sentença,
impugnável por meio de recurso adequado, já interposto.4. Agravo regimental improvido.” (AgRg na Rcl
4.299/SP. Rel. Ministro Hamilton Carvalhido. Corte Especial. DJe 15/02/2011).

Conclui-se, portanto, que não é cabível a antecipação dos efeitos da tutela


pretendida na inicial dada a ausência dos requisitos do art. 300 do novo Código de Processo
Civil, bem assim em razão da expressa vedação contida no art. 1°, § 1°, da Lei n.º 8.437/1992,
aplicável à espécie por força do art. 1º, caput, da Lei n.º 9.494/1997, quanto à concessão pelo
juízo de primeiro grau de medida antecipatória quando é impugnado ato de autoridade sujeito à
competência originária de Tribunal, na via do mandado de segurança, como é o caso de decisões
do TCU, inseridas na competência originária do STF em razão do art. 102, inciso I, alínea 'd', da
Constituição Federal.

DOS PEDIDOS

Diante do exposto, a União requer a Vossa Excelência a revogação da tutela de


urgência deferida e o julgamento de improcedência dos pedidos formulados na presente ação.

Requer ainda a condenação da parte autora ao pagamento de honorários


advocatícios de sucumbência, fixados nos moldes do artigo 85 do CPC/2015, sobre o valor da
causa.

Nestes termos, pede deferimento.


Porto Alegre, 21 de outubro de 2022.

ANA PAULA KAISER


Advogada da União

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